Unidade sim, mas para lutar! Nada de blocos políticos de colaboração de classes!
Reproduzimos a seguir panfleto que vem sendo distribuído em atividades diversas por militantes do Reagrupamento Revolucionário desde o início de maio de 2018. [Levemente editado em 21/05/2018, sem alterações de conteúdo]
Apenas a mobilização da classe trabalhadora pode reverter as derrotas e frear os ataques. Foto: manifestação de 28 de abril em São Paulo.
Desde o golpe que tirou o PT do governo para aprofundar as medidas de austeridade, a classe trabalhadora brasileira tem sofrido uma avalanche de derrotas. Em 28 de abril de 2017, os trabalhadores mostraram sua disposição à luta, ao atenderem com força o chamado de greve nacional. Foi a maior paralisação desde 1989. Não era o que esperavam o PT, PCdoB e seus satélites, que, mesmo com o golpe e a perseguição a Lula, estão em uma rota suicida para evitar mobilizações que assustem os patrões. Adiaram ao máximo a convocação de um segundo dia de greve nacional e, quando ela finalmente ocorreu, se retiraram na última hora, aceitando a “reforma trabalhista” em troca da promessa de manutenção do imposto sindical. Nesse meio tempo, usaram toda sua força para desviar a indignação proletária com impotentes “marchas à Brasília” e em inofensivos showmícios pelas “diretas já”. Nisso, contaram com a colaboração vergonhosa de praticamente toda a esquerda dita socialista, que colocou os métodos da luta de classes em segundo plano.
Mesmo antes do golpe, nós do Reagrupamento Revolucionário temos feito agitação por uma frente nacional de lutas da classe trabalhadora (em outras palavras, uma frente única proletária), que unifique e expanda as lutas, organizando uma forte resposta aos ataques da burguesia e seus lacaios no Estado capitalista. Uma frente assim encontraria forte oposição da burocracia que hoje dirige as maiores organizações que dizem representar os interesses dos trabalhadores (CUT, CTB, Força Sindical etc.), pois essa burocracia é uma aristocracia mercenária, que usa suas posições de liderança para se engraçar com os patrões e/ou se eleger, “subindo na vida”.
Mas fica cada vez mais claro que a política imobilista do PT e cia. está gerando forte tensão em suas bases, que exigem alguma forma de resistência aos ataques violentos da burguesia. Um exemplo significativo foi quando a multidão que estava em São Bernardo em solidariedade à Lula tentou impedir na marra que ele se entregasse à Polícia Federal. Portanto, há espaço fértil para que uma esquerda revolucionária dê o pontapé na formação de uma frente dessas e consiga separar, pela força do exemplo, setores cada vez maiores de trabalhadores da burocracia pró colaboração de classes, conforme a frente assuma lutas de várias categorias e movimentos sociais.
Mas não é o que, na prática, avalia o grosso da esquerda dita socialista. Diante de novos fatos políticos alarmantes – a execução da vereadora do PSOL Marielle Franco e o atentado à caravana de Lula no sul, num contexto perigosíssimo de intervenção militar no Rio de Janeiro – várias organizações passaram a bradar por uma unidade com o PT e aliados “em defesa da democracia”. Com isso, se fortaleceu uma rota que já vinha sendo traçada pela direção do PSOL, de aliança política com o PT, PCdoB (como na forma das Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo) e, na esteira disso, até mesmo com os partidos burgueses PDT e PSB, expressa no “Manifesto pela Reconstrução do Brasil”, assinado pelas fundações desses partidos; pela falta de demarcação classista entre a plataforma VAMOS e Guilherme Boulos com as gestões petistas; e na recente “Frente Ampla pela Democracia, Soberania Nacional e Direitos do Povo Brasileiro”, que incluiu também PCB e o hoje “lulista combativo” PCO.
Para justificar essa aliança “pró-democracia”, muitos têm falado em uma ascensão fascista. Mas diante do avanço do autoritarismo do Estado e dos movimentos de extrema-direita (que não consideramos que sejam majoritariamente fascistas nesse momento), necessitamos de uma frente única que seja um instrumento de mobilização do proletariado, usando de métodos como manifestações de rua, autodefesas, ocupações e greves. Nada parecido com o ato eleitoreiro com o qual o PT lançou as candidaturas de Lula, Celso Amorim e Lindenberg Farias no Circo Voador, travestido de “ato em defesa da democracia”. Mesmo com o crescimento de uma direita violenta que tem no PT seu alvo principal, é ridículo ainda ter ilusões de que a direção petista vá dar um “giro à esquerda” e mobilizar a classe trabalhadora contra a burguesia com a qual desesperadamente quer reatar. O que o PT e cia. querem é retornar ao poder via eleições, e para isso tem atuado sistematicamente no sentido de transformar toda e qualquer mobilização potencial em ganho eleitoral.
Diante disso, a postura de alguns grupos socialistas do PSOL – as correntes MAIS/NOS, LSR, Insurgência – e de organizações como PCB tem sido não a de denunciar essas jogadas do PT e seus aliados, mas de lhes dar cobertura pela ‘esquerda’, aderindo com entusiasmo a blocos políticos que acabam reforçando as ilusões de que é possível derrubar a austeridade por meio de plebiscitos e eleições, e de que seria possível resolver as contradições sociais entre os trabalhadores e patrões por dentro do Estado burguês. Com isso, acabam mais uma vez reforçando ilusões na institucionalidade burguesa, como já haviam feito ao focarem na agitação por “direitas já” e/ou “eleições gerais”, “assembleia constituinte” etc. Por outro lado, o PSTU (que até março de 2017 também defendia “eleições gerais”) insiste em não enxergar nenhum avanço da direita e segue vendo com indiferença, ou até com bons olhos, a seletiva “prisão dos corruptos” da Lava Jato, que reforça a Polícia Federal e o Judiciário burguês, tal como fizeram diante do golpe e da prisão de Lula.
Ao contrário dessas perspectivas, nós do Reagrupamento Revolucionário encaramos que a tarefa mais fundamental dos socialistas revolucionários é a denúncia sistemática do capitalismo e das instituições da burguesia, construindo desde já e de forma insistente a noção fundamental de que são os trabalhadores que tem que governar, através da expropriação econômica e política da burguesia. Também insistimos na urgência de uma frente nacional de lutas, que acumule ações e forças para lançar uma greve geral por tempo indeterminado como a única forma possível de derrotar os ataques da burguesia. No interior de um espaço assim, defenderíamos a necessidade de extinção das forças repressoras do Estado burguês, o direito dos movimentos sociais à autodefesa e a luta por um governo revolucionário da classe trabalhadora, além de demandas democráticas e sociais. Já está mais do que na hora de pararmos de difundir ilusões no Estado dos patrões e na ordem capitalista, e nos chocarmos frontalmente contra ela!