Contra a intervenção militar no RJ! Segurança se consegue com empregos decentes e qualidade de vida!

[Reproduzimos a seguir panfleto utilizado pelo Reagrupamento Revolucionário no Rio de Janeiro]

“Quantos mais vão precisar morrer”?

A intervenção militar no Rio de Janeiro cumpre dois objetivos principais: acalmar o empresariado local, que vem fazendo grande pressão por conta dos roubos de carga e assaltos, e tentar elevar a popularidade do governo golpista de Temer e sua gangue de corruptos, para ajudar nas urnas o candidato que eles escolherem para sucessão em outubro. Ou seja, nunca teve como objetivo atender aos interesses da população trabalhadora. Muito pelo contrário, os trabalhadores pobres das favelas e bairros do subúrbio – com destaque para os negros e negras – tem sofrido com a intensificação dos absurdos cotidianos como esculachos, ameaças e execuções (por “bala perdida” ou “achada”).

Sem dúvidas há um aumento da violência na cidade e na baixada, mas isso ocorre por conta da crise econômica e das contrarreformas, que tem gerado demissões, aumentado o custo de vida, reduzido salários e direitos e precarizado as condições de trabalho, empurrando muitos para a criminalidade em ato desesperado de sobrevivência (enquanto empresários e banqueiros seguem ganhando isenções e empréstimos milionários para manterem seus lucros). Obviamente isso não se resolve com repressão, pois há anos a polícia, braço armado dos patrões, age dessa forma e isso só faz piorar a vida dos trabalhadores pobres.

Além disso, a intervenção militar, assim como a criação de um Ministério de “Segurança Nacional”, posto nas mãos de um general, confere mais poder aos militares do que eles tiveram desde o fim da ditadura, abrindo enormes riscos aos direitos democráticos já fragilizados. O general Sérgio Etchegoyen, aliado chave de Temer e linha de frente na intervenção, já deixou claro que vê os movimentos sociais, que defendem os direitos do povo trabalhador, como inimigo a ser combatido.

É isso tudo que a vereadora Marielle Franco (PSOL) vinha denunciando: os responsáveis pela intervenção militar já deixaram claro que querem carta branca para matar quem eles bem entenderem, e os racistas assassinos de farda da PM tem ficado mais à vontade que nunca para realizarem suas matanças de praxe. Por mexer nesse vespeiro tentaram silenciar Marielle da forma mais brutal, mas milhares de vozes estão ecoando suas denúncias e sua luta contra a intervenção, no Rio, no Brasil, no exterior. Se antes já era urgente unificar os movimentos sociais, sindicatos e organizações da esquerda em um forte movimento contra os ataques de Temer e a intervenção militar, depois dessa execução que tenta calar as denúncias isso se tornou questão de vida ou morte, literalmente.

Chega de ilusões no Estado dos patrões e na ordem capitalista!

Uma tarefa imediata da classe trabalhadora do Rio de Janeiro e baixada é construir um espaço de mobilização com representações de todos esses setores, criando um instrumento de lutas enraizado na mobilização das bases e gerido democraticamente pela nossa classe. Um instrumento desses precisa tomar para si a tarefa de investigar de forma independente a execução de Marielle, pois é óbvio que os órgãos de repressão do Estado capitalista não são confiáveis para isso. Ele precisa também lançar uma jornada de lutas, que vá além das necessárias manifestações de rua e englobe greves, piquetes, ocupações de órgãos públicos, como forma de colocar contra a parede os patrões e seus lacaios nos governos municipal, estadual e federal. Pois só assim conseguiremos arrancar uma vitória verdadeira e duradoura, indo da exposição e punição dos executores de Marielle até o fim da intervenção militar e à reversão das contrarreformas de Temer e sua corja.

Isso não é uma tarefa fácil, pois vai contra a perspectiva de boa parte da esquerda, que desde o golpe que removeu Dilma do poder e demonstrou a serviço de quem e do que está o Estado, até o recente começo da “corrida eleitoral”, vinha focando em defender falsas soluções que não vão além da institucionalidade burguesa, como “eleições gerais” (conjunto do PSOL, MAIS, NOS, e mesmo o PSTU, que defendeu isso até março de 2017) ou “assembleia constituinte” (MRT/Esquerda Diário), para não mencionar os que acham que a solução era o “volta Dilma” e/ou “Lula 2018” (PT, PCdoB, PCO).

Ao contrário dessas perspectivas, nós do Reagrupamento Revolucionário encaramos que a tarefa mais fundamental dos socialistas é a denúncia sistemática do capitalismo e suas instituições, difundindo a mais profunda desconfiança nelas e construindo a noção fundamental de que são os trabalhadores que tem que governar, através da expropriação econômica e política da burguesia (uma revolução socialista). Por isso, temos defendido a formação de uma frente nacional de lutas, que acumule ações e forças para lançar uma greve geral por tempo indeterminado até que caiam todos os ataques. Uma frente no RJ contra a intervenção militar, mobilizadora e enraizada nas bases, seria um excelente embrião para esse instrumento. No interior de um espaço assim, defenderíamos a necessidade de extinção das forças repressoras do Estado burguês, o direito dos movimentos sociais à autodefesa e a luta por um governo revolucionário da classe trabalhadora. Já está mais do que na hora de pararmos de difundir ilusões no Estado dos patrões e na ordem capitalista, e nos chocarmos frontalmente contra ela. A execução de Marielle foi um “recado” para todos os lutadores e lutadoras e para a população pobre e negra. Nossa resposta tem que ser devastadora!