O 2º turno e o socialismo revolucionário

Outubro de 2022

Como já deixamos claro em outros materiais, nós do Reagrupamento Revolucionário não apoiaremos a candidatura de Lula. Encaramos que se trata de uma candidatura a serviço do capital, se distinguindo de Bolsonaro por apresentar outra proposta de gestão do Estado burguês (a “paz social” através do social-liberalismo), não por ser “defensor da democracia” e muito menos por poder garantir uma vida melhor para a classe trabalhadora, como alega boa parte dos apoiadores de Lula na esquerda socialista.

Os grandes problemas que afetam nossa classe (desemprego, extrema precarização dos trabalhos, perda de direitos, inflação, miséria) não serão resolvidos por um evental govenro Lula. Estamos em um cenário econômico de prolongada recessão internacional e, ao que tudo indica, rumando para mais um ciclo de piora dessa recessão. Nesse contexto, nem mesmo as políticas muito parciais e limitadas de inclusão social e redistribuição de renda dos governos Lula e do primeiro governo Dilma poderão ser implementadas. A palavra de ordem da burguesia segue sendo austeridade para os trabalhadores, como forma de recuperar as taxas de lucro do grande empresariado.

Não à toa, em meio ao segundo turno, já se fala abertamente em aprovar mais uma contrarreforma: a administrativa, que vai avassalar o funcionalismo público. Lula não só não se pronuncia sobre isso no momento em que Arthur Lira afirma que encaminhará a votação na Câmara em pouco tempo, como já afirmou durante o 1o turno, em reunião com empresários, que uma “reforma administrativa” é “necessária”. Encaramos que a energia que está sendo gasta pela esquerda socialista em “virar voto” deveria estar sendo colocada em uma forte resistência a mais esse ataque, bem como na luta pela recuperação dos direitos perdidos, pela ampliação dos empregos através da redução da jornada e no reajuste dos salários conforme a subida da inflação. Apenas mobilizando a classe trabalhadora é que garantiremos uma condição de vida mais digna, independente de quem vencer em 30 de outubro.

Tampouco devemos ficar apostando na lógica do “menos pior”, pois foi de concessão em concessão que chegamos no atual lamaçal de conservadorismo em que se encontra parte da classe trabalhadora. Nessa atual campanha, esse conservadorismo está sendo reforçado por setores progressistas e mesmo socialistas, com “denúncias” que atiçam o que há de pior nos trabalhadores, como a acusação de que Bolsonaro já cogitou a realização de um aborto junto a uma antiga esposa, como se isso fosse algo imoral (a legalização do abordo de forma gratuita e conforme a demanda das mulheres é um direito democrático básico e algo essencial para salvarmos milhares de vidas!).

Ademais, o bolsonarismo não será derrotado nas urnas. Mesmo se Bolsonaro perder a eleição, grupos reacionários de extrema-direita se fortaleceram nos últimos anos e seguirão atuando na sociedade, agora, inclusive, em grande parte armados. Um eventual governo Lula nada fará de significativo para esmagar esses grupos. Inclusive, as promessas que Lula não será capaz de cumprir e os acordos podres que inevitavelmente terá que fazer com o Centrão jogarão mais água no moinho desses grupos, aumentando sua capacidade de recrutar trabalhadores e pequeno-burgueses desiludidos, que ganharão ódio da falsa esquerda pelo que ela fará no governo, e isso irá respingar na verdadeira esquerda pelo seu apoio a Lula. Derrotar o bolsonarismo é mais uma tarefa que apenas a classe trabalhadora, organizada e mobilizada, pode cumprir, mas para isso a esquerda socialista deve estar dissociada do lulismo e do PT. Caso contrário, se queimará junto com eles aos olhos da classe trabalhadora.

Nós revolucionários não devemos lutar por uma amanhã “menos pior” nos marcos da sociedade capitalista. Devemos lutar é pela superação do capitalismo e da barbarização cada vez maior das nossas condições de vida. Não é possível construirmos uma consciência revolucionária junto à classe trabalhadora tentando convencê-la de que uma gestão de Lula a serviço do grande capital e ainda por cima durante uma recessão econômica trará uma melhora significativa. Menos ainda tentando convencer os trabalhadores a defenderem o regime em colapso da República de 88, apresentando a democracia burguesa (que não deixa de ser uma ditadura dos patrões) como a melhor coisa que podemos ter.

Precisamos de uma esquerda socialista que volte a defender a revolução como uma necessidade vital, de sobrevivência, da classe trabalhadora, e não que seja a ala esquerda do liberalismo social burguês. Uma esquerda socialista que entenda que uma revolução é uma tarefa para o nosso presente, não uma abstração bonita para um futuro que nunca chega. Revoluções não caem do céu, precisam ser construídas através de uma sistemática e paciente formação de consciência de classe entre os trabalhadores. Não se forma essa consciência disseminando ilusões na decadente democracia burguesa e em candidatos a serviço dos patrões. Isso só faz prolongar o sofrimento que o capitalismo nos impõe e rebaixa ainda mais o que é considerado o “menos pior”. Precisamos romper esse ciclo vicioso e colocar nossos esforços na unidade da classe para lutar e na divulgação de ideias pela superação do capitalismo!