Guerra civil síria, Estado Islâmico e a batalha por Kobane

Defender a Síria contra o imperialismo! Por um polo proletário independente!

Por Icaro Kaleb

[Este artigo foi originalmente escrito entre junho e julho de 2015. Devido a dificuldades internas, ele não pôde ser publicado e acabou se desatualizando parcialmente devido à rapidez dos acontecimentos na guerra civil síria. Não obstante, ele ainda responde a uma série de questões políticas que permanecem centrais nesse complexo conflito e também lida com as posições problemáticas de certas organizações que se reivindicam trotskistas. Por conta disso, decidimos publicá-lo em janeiro de 2016 acrescentando alguns comentários entre colchetes. Acréscimos e pequenas correções posteriores foram feitos em agosto de 2016.]

Durante os últimos anos, a população da Síria estava espremida entre uma ditadura de décadas, por um lado, e um conjunto de forças burguesas que queriam formar um novo regime nacional, por outro. Mais recentemente ela também tem se visto diante do avanço territorial dos fundamentalistas do Estado Islâmico e de ataques militares efetuados no país pelos Estados Unidos e outras potências imperialistas. Dedicamos esse texto a aprofundar algumas questões já abordadas há algum tempo, em nosso artigo de setembro 2012 (O Conflito Sírio e as Tarefas dos Revolucionários) e a atualizar certos aspectos, levando em conta esses novos acontecimentos.

Mais uma vez, frisamos aquilo que a maior parte da esquerda, inclusive muitos grupos que se reivindicam trotskistas, tem deixado de lado ao tratar da situação nesse país: a necessidade de uma linha de independência de classe diante das várias forças burguesas que no momento disputam o poder na região. Os marxistas não caem no mito de uma “revolução” supostamente incorporada e liderada pelos exércitos “rebeldes” que combatem o governo circunscritas aos interesses de frações da burguesia. Os rumos da guerra civil, embora não decididos mesmo depois de quase quatro anos, apontam a necessidade de formar um pólo da classe trabalhadora, oposto tanto ao governo Assad quanto às forças reacionárias que querem derrubá-lo para sua própria vantagem. De forma semelhante, o mesmo dilema da necessidade de independência de classe também está centralmente colocado na atual situação política em Kobane.

O caráter das principais forças em disputa na Síria

O regime Assad é um regime capitalista de partido único de duas décadas, que governa uma nação pobre confinada à ordem mundial do imperialismo. De todas as violações aos direitos humanos que aconteceram desde o começo da guerra, a maioria veio das mãos do governo sírio. Ele tem como aliado internacional a Rússia, com quem tem acordos comerciais relevantes. Da parte da classe trabalhadora, porém, tal regime ditatorial não merece nenhum apoio político.

Já a Coalizão Nacional Síria (CNS) tenta administrar as diferentes unidades do Exército Livre da Síria (ELS), que é um racha das forças armadas do país. Desde 2011, o ELS ganhou importantes posições no país, mas muitas foram perdidas de volta para Assad ou tomadas pelo Estado Islâmico. Em nosso artigo de 2012, nós explicamos a composição política e militar do CNS/ELS: as ligações dos seus componentes principais com os imperialistas e o seu programa burguês. Desde então, o ELS foi pouco a pouco dominado por forças de orientação religiosa (principalmente os líderes sunitas insatisfeitos com os aspectos seculares do regime alauita de Assad). O ELS também passou a operar junto com outras forças, tais quais a “Frente Islâmica” que se originou em 2014.

Apesar das ilusões na esquerda de que suas operações contra o regime Assad constituíam parte da “revolução síria”, deixamos claro naquele artigo que esses “rebeldes” não são uma força política que vá trazer conquistas para os trabalhadores sírios, menos ainda para as minorias nacionais do país.

Os Estados Unidos não conseguiram uma aliança duradoura com a maioria dos rebeldes, que não foram considerados “moderados” o suficiente. Washington tem tomado mais cuidado com seus aliados desde a desastrosa experiência na Líbia, onde muitas das armas enviadas acabaram caindo nas mãos de extremistas antiamericanos. Algumas unidades específicas do ELS, entretanto, receberam significativa ajuda militar dos Estados Unidos e, nesse momento, Obama já começou a treinar o seu próprio “grupo rebelde”, o qual deve ser denunciado enquanto uma tropa terrestre do imperialismo. Conforme noticiado:

Os EUA decidiram fornecer caminhões com metralhadora e rádios para chamar bombardeios aéreos a alguns rebeldes sírios moderados, disseram oficiais da Defesa. Mas não foi combinado o alcance de nenhum bombardeio – um reflexo das complexidades do campo de batalha na Síria.

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O plano chega enquanto os EUA preparam-se para começar a treinar rebeldes moderados, que estão travando uma luta em duas frentes contra os extremistas e o regime sírio. Oficiais da Defesa disseram que o treinamento vai começar em meados de março, na Jordânia, com um segundo acampamento previsto para abrir logo depois na Turquia.”

Os EUA darão a alguns rebeldes sírios a capacidade de chamar bombardeios, 17 de fevereiro de 2015.

Disponível em: http://tinyurl.com/kojxzx5

[Janeiro de 2016: a entrada da Rússia no conflito a partir de outubro 2015, incluindo tanto ataques aéreos como envio de grandes quantidades de tropas terrestres – inicialmente favorecendo Assad e posteriormente dando apoio logístico e militar também a certas forças rebeldes – complexificou o cenário. Atualmente, tudo aponta para a construção de um governo de transição que contemple os interesses econômicos tanto da Rússia quanto dos EUA, bastante distintos, é bom que se diga, dos interesses dos trabalhadores e do povo sírio.]

Outro competidor reacionário na guerra civil síria que tem ganhado força recentemente é o autodenominado Estado Islâmico da Síria e do Levante (EI). Ele era antes parte de uma mesma operação militar fundamentalista com o Al-Qaeda na Síria (Frente Al-Nusra). Foi a Frente Al-Nusra quem rompeu relações com EI no início de 2014, afirmando que eles eram “intransigentes demais”.

A essa altura, o EI já tinha tomado importantes posições no Iraque. Financiado largamente por barões do petróleo muçulmanos dos países que também estavam dando apoio aos rebeldes, os chamados “Amigos da Síria” (Turquia, Catar e Arábia Saudita), o EI se beneficiou de suas ligações com a oposição síria para obter armas e recrutar combatentes. Chegou ao poder em importantes cidades iraquianas como ponta de lança de uma revolta sunita contra o governo xiita apoiado pelos Estados Unidos. A partir de então, o EI controlava um território maior do que o Al-Qaeda jamais foi capaz. Muitas das cidades sob seu poder tem uma grande produção petrolífera, que o EI exporta para financiar seu esforço expansionista. Ele está em guerra contra o governo iraquiano (que recebe ajuda de tropas americanas no terreno) com a intenção de construir um “Califado” sob seu rígido controle. Por volta da mesma época, o EI reforçou suas posições na Síria e tomou províncias no desértico leste do país, e toda a região de fronteira entre o Iraque e a Síria. Ele tem lutado ao mesmo tempo contra Assad e forças oposicionistas, especialmente unidades do ELS.

O EI parece ser a mais bem treinada e equipada das forças de oposição ao governo. Cerca de 8 milhões de pessoas vivem nas cidades que ele controla nos dois países e o grupo conseguiu estabelecer um tipo de “economia de guerra” na qual a população fica dependente deles para obter comida e outras necessidades, o que até agora garantiu uma colaboração passiva com a sua ocupação. Eles tem perseguido severamente minorias não-muçulmanas (e mesmo alguns grupos muçulmanos) e se gabam a respeito de escravizar e vender mulheres de outras religiões, assim como de massacrar grupos de aldeões não-muçulmanos. O EI controla cerca de um terço do território sírio, onde impuseram a Lei Islâmica / Sharia.

Consideramos o Estado Islâmico uma forma de reação fundamentalista que busca eliminar mesmo os direitos políticos, sociais e seculares mais básicos do povo. Se o EI for vitorioso em todo o território sírio, isso significaria a queda de muitas minorias étnicas e religiosas em uma condição de escravidão, ou sua simples execução. Um partido revolucionário de trabalhadores na Síria buscaria defender o povo oprimido e organizar as massas trabalhadoras das cidades e do campo contra esses bandidos cruéis. A sua derrota é essencial para os trabalhadores. Porém, nosso chamado para derrotar o EI não muda nossa denúncia e oposição à intervenção aérea conduzida pelos Estados Unidos.

Os imperialistas não apresentam uma alternativa de melhoria de vida para o povo sírio e já foram capazes de ações dezenas de vezes mais bárbaros que as do EI. O crescimento do EI é, em última instância, um subproduto da sua desastrosa ocupação do Iraque, apenas para dar um exemplo. Enquanto o governo e a grande mídia americana expõem as crueldades do Estado Islâmico, escondem os atos de terror cometidos pelos seus aliados na Síria, que também incluem muitas atrocidades (sem mencionar o alto número de vítimas e ferimentos provocados pela morte que cai do céu na forma de bombardeios).

Nós não temos nenhuma pena pelas derrotas que os imperialistas sofrerem no Iraque e na Síria. Não nos esquecemos dos crimes cometidos pelos imperialistas no Iraque (incluindo as mortes de cerca de 120.000 civis iraquianos) e consideramos sua expulsão do Oriente Médio, assim como a derrota de suas “tropas terrestres”, como uma prioridade. Mas apesar do fato de que o EI tem sido o alvo dos bombardeios imperialistas, a sua conquista de cidades iraquianas e sírias com objetivo de estabelecer regimes de terror não é nenhuma forma de “luta anti-imperialista” e sim uma ação reacionária.

As “boas intenções” de Obama em bombardear o EI para supostamente salvar minorias na Síria são mentirosas. A intervenção americana tem o propósito único de garantir seu poder sobre o país. Qualquer um que duvide das intenções dos EUA (e de outras grandes potências) na Síria deveria olhar para os “grandes experimentos de democracia” que se tornaram a Líbia e o Iraque. Os bombardeios americanos tem a intenção de ganhar tempo e conter o EI (ao mesmo tempo em que o usa para cansar o regime Assad) enquanto Washington organiza melhor as forças leais a si no território sírio.

[Janeiro de 2016: Atualmente, esse parágrafo parece ter se desatualizado diante da aparente decisão dos EUA, França e Grã-Bretanha de destruir o EI, pressionados pelos bombardeios russos em defesa de Assad e pelo alarme mundial com relação aos fundamentalistas. Porém, na altura em que esse texto foi escrito, tudo indicava que a estratégia dos EUA girava em torno de “administrar” a situação, deixando o EI enfraquecer Assad e buscando fortalecer as posições dos rebeldes mais “moderados”.]

Além de levar em conta as ameaças dos imperialistas de um lado e do Estado Islâmico de outro, não se pode perder de vista que uma revolução proletária na Síria só pode vencer por cima do cadáver morto da brutal ditadura de Assad. O ditador e seu partido impuseram a ordem capitalista sobre a classe trabalhadora por décadas, com os mais brutais métodos. Seria prioritário organizar autodefesas entre os trabalhadores, especialmente das minorias perseguidas contra os vários exércitos em disputa, garantindo assim um polo politicamente independente das forças reacionárias que lutam pelo poder.

[Agosto de 2016: Todas as grandes forças envolvidas são inimigas dos interesses dos trabalhadores, mas nós reconhecemos que não tem o mesmo calibre. A Síria está em um pântano de confrontos entrelaçados e combinações de forças em constante mudança, de forma que não é fácil tomar uma posição tática militar em cada momento específico. Os revolucionários que estão distantes do terreno tem ainda mais dificuldade em seguir todos os eventos. Seria contraprodutivo emitir uma posição tática geral para todos os diferentes cenários e disputas que ocorrem na guerra. Há, porém, alguns princípios gerais que os marxistas devem seguir. O mais importante é que nos opomos à intervenção dos imperialistas e suas ‘tropas terrestres’ como uma prioridade. Isso significa que iríamos, em princípio, tomar o mesmo lado militar com o regime Assad ou grupos rebeldes jihadistas em ocasiões em que eles se confrontassem com forças imperialistas. Em segundo lugar, nos opomos aos avanços do EI e buscaríamos defender a classe trabalhadora e as minorias religiosas e étnicas oprimidas por seu ataque. Em terceiro, nos opomos a ambos os lados na guerra entre o regime de Assad e os rebeldes que não estão subordinados às potências imperialistas.]

A esquerda sem independência de classe

Os grupos na esquerda que afirmam defender a vitória de uma inexistente “revolução síria” contra Assad usam a ausência de um processo como esse como fachada para apoiar os esforços do Exército Livre da Síria. O argumento principal é de que muitas das unidades que nele participam não são subordinadas à Coalizão Nacional Síria. Seriam, em vez disso, forças populares emergindo das ruas e dos protestos da Primavera Árabe.

Essa é a posição, por exemplo, do Secretariado Unificado da Quarta Internacional (SU), cuja seção no Brasil é a corrente Insurgência, do PSOL. Em seu site internacional, foi publicada uma entrevista com um membro de um desses grupos aderentes do ELS e que se reivindicaria marxista. Quando foi perguntado sobre a cooperação com outras unidades do ELS, o combatente respondeu:

Existe cooperação e coordenação, mas de forma limitada. Por um lado por conta das diferentes visões e objetivos, ou disparidades entre posições devido à localização geográfica onde os camaradas estão lutando e a natureza das outras organizações. Por outro, essas organizações em geral não aceitam ninguém mais….”

Nossa falta de armas nos põe em uma situação de fraqueza”, 18 de janeiro de 2015.

Disponível em: http://tinyurl.com/nhjea3b

Não surpreende a dificuldade de coordenação com as outras unidades do ELS, já que muitas delas são lideradas por oficiais leais e subordinados ao CNS, e através deste aos seus patrões imperialistas. Isso para não mencionar aquelas unidades que mencionamos, que recebem treinamento e armas diretamente dos imperialistas. Isso sem esquecer os vários grupos islâmicos que também estão sob o teto do ELS.

O ELS é certamente um exército heterogêneo. Mas a pergunta que o site do SU não fez a esses combatentes, e que deveria ser o primeiro questionamento é: por que essa organização (que o SU considera “marxista revolucionária”) está trabalhando lado a lado com esses tipos? Por que eles, em vez disso, e já que afirmam representar a classe trabalhadora síria, não organizam uma brigada independente, oposta aos elementos que estão mancomunados com os imperialistas para vender o país caso consigam derrotar Assad?

De certa forma, o dilema desses combatentes é o mesmo dilema do SU e das demais correntes que apoiam os rebeldes contra Assad. Não querem defender uma posição proletária independente do CNS e do ELS e só veem possibilidade imediata de derrubar o regime junto com essas forças reacionárias. Por isso, abandonam qualquer pretensão de uma política marxista e passam a embelezar a natureza e o programa do ELS, ainda que criticando sua liderança.

Conclusão muito semelhante é compartilhada por outros grupos que dizem reivindicar o trotskismo, como aquela da morenista Unidade Internacional dos Trabalhadores, cuja seção brasileira é a corrente CST, do PSOL, com a qual polemizamos de forma mais extensa em artigo de outubro de 2012 (O Morenismo e a Posição da CST/UIT na Síria), ou como pela também morenista Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT – dirigida pelo PSTU brasileiro).

Apesar da aderência inevitável de elementos iludidos por uma ideologia pretensamente “democrática”, reafirmamos que o ELS é, como um todo, controlado por oficiais do CNS e outras forças burguesas. Não há nada para ser ganho para a classe trabalhadora ao ajudar esse exército. A não ser que o SU e outros grupos, como a UIT ou a LIT, acreditem em algum tipo de “dinâmica” mágica que vá colocar a classe trabalhadora no poder ou numa posição melhor no instante em que Assad cair pelas mãos dos rebeldes ou do imperialismo. Já vimos esse filme na Líbia, na Ucrânia e em muitas outras ocasiões em que tais grupos apoiaram o “movimento de massas” com uma liderança reacionária.

A questão curda e a batalha por Kobane

No cenário já complexo que é a guerra civil na Síria, as coisas ficam ainda mais densas ao levar em conta o elemento curdo. O Curdistão é a maior nação sem Estado no mundo. Estamos falando de cerca de 30 milhões de pessoas divididas pelo território da Turquia, Irã, Iraque, Armênia e uma pequena região no norte da Síria (Rojava). Tal ordem de coisas é um legado da prática de “dividir para dominar” do imperialismo britânico após a queda do Império Otomano.

Os marxistas defendem os direitos nacionais dos curdos, incluindo o direito à autodeterminação, ao uso do idioma em todas as esferas da vida e contra todas as formas de segregação. Mas isso não significa que consideramos a separação territorial das regiões curdas como uma “solução” para os problemas dos trabalhadores dessa nacionalidade. Tomaríamos o lado curdo em uma guerra pela independência ou por autonomia regional (incluindo o apoio militar) se esse for o desejo desse povo em qualquer momento.

Ao mesmo tempo, a separação nacional é, para os marxistas, um interesse subordinado à luta proletária. Há questões políticas de maior prioridade, como a independência de classe dos trabalhadores e a defesa das nações oprimidas contra os ataques imperialistas. Eis um exemplo ilustrativo. Em 2003, quando os EUA atacaram o Iraque, os líderes nacionalistas burgueses do Curdistão iraquiano apoiaram a invasão imperialista contra o regime de Saddam Hussein, em busca de promessas de maior autonomia regional.

Defendemos todo e qualquer ganho de autonomia para a população curda. Mas quando o Peshmerga (o exército dos curdos iraquianos) estava lutando sob comando do exército americano, não era uma força pela independência curda contra Bagdá, mas um braço do projeto imperialista de subjugar toda a região. Assim, nos oporíamos aos esforços dos capitalistas curdos para apoiar a invasão imperialista, ao mesmo tempo em que seguiríamos defendendo os direitos nacionais curdos.

Hoje, uma situação parecida ressurge no Iraque, com a coalizão liderada pelos EUA contra o Estado Islâmico. Os principais partidos políticos curdos no território iraquiano, KPD (Partido Democrático Curdo) e PUK (União Patriótica do Curdistão), apesar de sua suposta rivalidade, usam sua posição à frente do governo regional no norte do Iraque para apoiar os imperialistas.

Mas enquanto no Curdistão iraquiano a cena é dominada pelos capachos imperialistas, na Síria a força política mais influente entre a população curda é atualmente o Partido da União Democrática (PYD), que é o associado sírio do antes maoista Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que opera na Turquia. Em 2012, as tropas leais a Assad se retiraram completamente das regiões curdas, o território conhecido como Rojava. Não está claro se devido a limitações militares ou como uma tentativa demagógica de ganhar apoio dos curdos, ou ambos. E desde então Rojava basicamente ficou sob controle do PYD. Através de sua organização militar, as Unidades de Proteção Popular (YPG), o PYD entrou em confrontos com ambos o regime Assad e a oposição, em diferentes ocasiões. Mas desde que o avanço do Estado Islâmico no norte começou, o YPG tem entrado consistentemente em choque com ele.

As investidas do EI no território sírio colocaram-no em conflito com os curdos em julho de 2014 em Kobane (um dos três cantões sob o governo do PYD próximos da fronteira com a Turquia). Isso chamou atenção mundial e a resistência curda ganhou vasta simpatia, ficando conhecidos como os “revolucionários que enfrentam o Estado Islâmico”. O EI finalmente foi derrotado na região no começo de 2015 através de uma combinação da luta incansável dos curdos (que estiveram sempre em inferioridade técnica) e bombardeios imperialistas. Kobane ficou sitiada por meses, durante os quais muitos grupos na esquerda (especialmente alguns anarquistas) falavam de um caráter revolucionário da resistência curda.

O PYD é um partido fundado em 2003 por ativistas simpatizantes do PKK na Síria. Ele era considerado pelo governo sírio como um fator de instabilidade devido a seu apoio popular e por operações clandestinas nas regiões curdas. Sua principal fonte de orientação ideológica é o PKK, que foi criado em 1978 como um grupo maoista dedicado à resistência armada contra a opressão da população curda na Turquia e que tem uma longa história de resistência contra o governo.

Mas, aparentemente, o PKK não é mais um aderente do maoismo, com suas práticas stalinistas de perseguição a oposicionistas internos e um programa de “guerra popular” cambaleando entre um programa democrático burguês de “Nova Democracia” e a perspectiva de reproduzir um regime burocrático de economia estatizada, como a China de Mao. De acordo com muitos relatos, desde a prisão de Abdullah Ocalan (seu líder histórico) em 1999, o PKK tem passado por uma transformação programática rumo ao que é descrito pelo próprio Ocalan como “Confederalismo Democrático”. Esse é um ponto de vista inspirado por autores libertários e que busca a construção de “autogovernos populares” sem Estado, em cada localidade.

O PKK ainda é considerado pela OTAN e pelo governo turco como uma “organização terrorista” e os marxistas por todo o mundo tem o dever imperativo de defender o grupo contra todos os ataques vindo do brutal regime de Erdogan. Com exceção de alguns breves períodos de trégua (o último dos quais vem desde 2013), o PKK tem continuamente lutado contra o regime turco por autonomia para as regiões curdas. Mas embora seja difícil dizer quão consolidado é esse giro (é preciso lembrar que o PKK segue uma organização clandestina), ele parece ter mudado definitivamente a feição do grupo.

Para os trotskistas, os trabalhadores e camponeses precisam construir um poder baseado em suas próprias forças para esmagar a dominação militar, política e econômica da burguesia e impedir suas tentativas de retornar ao poder após uma insurreição vitoriosa. Esse autêntico “governo de trabalhadores” deve abranger todo o território e se basear em representantes eleitos democraticamente pelos proletários e camponeses (e revogáveis pelas assembleias que os elegeram). Essa é a fórmula capaz de equilibrar a natureza local da gestão democrática direta com os interesses de grande escala da classe trabalhadora em todas as áreas.

Por último, mas não menos importante, esse governo deve dar apoio internacionalista e suporte material e político aos proletários dos outros países nas lutas para derrotar as “suas” burguesias. O socialismo não pode ser alcançado em bases nacionais e, em última instância, nenhum governo de trabalhadores pode sobreviver isolado em um mundo dominado pelo imperialismo. O programa político do PKK/PYD parece passar por cima da necessidade de construir essa “ditadura proletária” baseada em uma economia coletivizada e no poderio militar centralizado dos trabalhadores.

Como foi mencionado, o PYD tem o controle militar da região de Rojava. Ele adotou uma “Carta do Contrato Social de Rojava” no início de 2014 e esse documento constitucional não faz nenhuma menção ao socialismo, controle coletivo dos meios de produção ou democracia operária. Trata-se de uma combinação confusa de participação comunitária e manutenção da propriedade privada. O artigo 41 assegura que “Todos tem o direito de possuir propriedades e a posse pessoal é garantida”, enquanto o artigo 42 diz que o sistema econômico busca “garantir a economia participativa enquanto promove a competição de acordo com o princípio da gestão democrática ‘A cada um de acordo com seu trabalho’.”

[Janeiro de 2016: Com a derrota do EI, o PYD se estabeleceu em uma região onde todos os partidos e governos burgueses haviam sido derrotados ou se retirado. Ele não é um partido burguês, mas um grupo originado na mobilização de trabalhadores e camponeses da região. As condições são as mais propícias para o estabelecimento de um governo proletário, com controle democrático dos trabalhadores e camponeses sobre os meios de produção, a política e o exército. No entanto, vemos que o PYD não tem clareza sobre a natureza do regime que ele quer construir. Embora tenha um discurso democrático, a manutenção da propriedade capitalista coloca limites claros de desigualdade e de democracia na sociedade. Diante do que aconteceu até o momento, parece que o governo do PYD não romperá com a burguesia de forma definitiva. Os lutadores da região devem lutar por uma direção revolucionária e combater as vacilações da atual.]

Durante e após a batalha contra o Estado Islâmico em Kobane, o PYD também propagou perigosas ilusões nas unidades Peshmerga do governo regional curdo no Iraque (das quais recebeu armas) e na intervenção aérea dos EUA. Eles soltaram uma declaração pública “agradecendo” a ambos por sua luta contra o EI, durante a qual o PYD deu aos EUA aconselhamento militar tático (onde realizar os bombardeios). Um líder do PYD, Saleh Muslim, expressou essa postura em várias declarações à imprensa:

De acordo com Muslim, a coalizão internacional ‘salvou as vidas de muitos civis’ na sua guerra contra o EI.… Ele também agradeceu à coalizão internacional liderada pelos EUA por apoiar os curdos em sua dificuldade e por ajudar as forças do YPG a resistirem ao grupo radical EI. ‘Tais operações reforçam a relação entre os curdos e os Estados que defendem a democracia e a paz’, concluiu Muslim.”

Curdos sírios instam coalizão liderada pelos EUA a intensificar os ataques contra o EI em Kobane”, 13 de outubro de 2014.

Disponível em: http://tinyurl.com/pkzaufb

Apesar disso, acreditamos que os marxistas deveriam defender Kobane contra o avanço dos reacionários fundamentalistas do EI. O que os trabalhadores e militantes com intenções revolucionárias em Rojava precisam urgentemente é de uma orientação política que seus líderes não tem a oferecer: a construção de um poder direto dos trabalhadores. Mais importante, é preciso garantir que não se desenvolvam expectativas ou ilusões no caráter dos governos burgueses do Curdistão iraquiano ou nos bombardeios americanos.

Os EUA tinham a intenção de conter o avanço do EI em Kobane (na fronteira com a Turquia) para os seus próprios propósitos reacionários, e não “ajudar” o povo curdo. Tampouco o governo americano está entre os defensores da “democracia e paz” no mundo. Não esqueçamos que Washington é um grande aliado do regime turco de Erdogan, que durante todo o tempo fez de tudo para impedir que o PYD recebesse ajuda das bases do PKK na Turquia. Não condenamos o PYD por ter conseguido armas de qualquer fonte que as estivesse oferecendo (desde que sem imposição de condições). E ele certamente tinha o direito de se beneficiar taticamente do fato de que o EI estava sendo alvo dos imperialistas, desde que tivesse clareza sobre a natureza dos bombardeios.

[Agosto de 2016: Desde janeiro de 2016, quando esse artigo foi publicado, esse curso do PYD se aprofundou. No começo do ano, ele cooperou com a força aérea dos EUA com o objetivo de se expandir para a região não-curda de Raqqa, um dos redutos do EI. Agora, está cooperando com Assad no cerco de Aleppo e com as forças imperialistas em Manbiji, cidades que estão sendo completamente destruídas, com alto número de perdas civis. Além disso, com o objetivo de empurrar o EI para longe de Rojava, o PYD uniu forças com vários outros partidos e organizações para formar as “Forças Democráticas Sírias”, uma coalizão militar na qual o YPG é a principal unidade, assim como um “Conselho Democrático Sírio”, uma entidade que diz lutar por uma “Síria federada, democrática e secular” – claramente uma posição de colaboração de classes. Se não fosse pela falta de confiança dos imperialistas no PYD, a FDS/CDS seria provavelmente um aliado bastante apropriado para eles no território sírio.]

O sectarismo de parte da esquerda em Kobane

Alguns grupos na esquerda se basearam nas posições oportunistas da liderança do PYD para justificar tomar o lado do Estado Islâmico (!!!) em Kobane. Esse é o caso da seita degenerada (mal) disfarçada de organização trotskista que é a Liga Espartaquista dos EUA. Em uma edição do seu jornal, eles expuseram suas razões:

Forças do governo iraquiano e peshmerga curdos no Iraque estão novamente conduzindo operações militares conjuntas com os EUA, como fizeram por anos sob a ocupação. Mais recentemente, nacionalistas curdos sírios também selaram uma aliança traiçoeira com os EUA na batalha por Kobane no norte da Síria, agindo como auxiliares de bombardeios dos imperialistas e coordenando movimentos militares como um todo. O fato de que todas essas forças são ‘tropas terrestres’ para a intervenção imperialista significa que os marxistas revolucionários [sic] tem seu lado militar com o EI quando ele atacar os imperialistas e seus agentes, incluindo os nacionalistas curdos sírios, o peshmerga, o governo de Bagdá e suas milícias xiitas.”

Abaixo a guerra dos EUA contra o EI!, 31 de outubro de 2014.

Disponível em: http://www.icl-fi.org/english/wv/1055/isis.html

Em sua investida para conquistar Kobane, o Estado Islâmico não estava lutando contra um reduto imperialista, já que não havia quaisquer tropas dos EUA no terreno. O YPG era a única força combatendo os fundamentalistas com armas nas mãos em Kobane e, apesar das posições vacilantes de sua direção, ele não pode ser seriamente considerado uma “tropa terrestre” dos imperialistas. O YPG resistiu ao cerco do EI em Kobane por muitos meses mesmo antes de os imperialistas se envolverem.

Os revolucionários devem criticar as ilusões propagadas por Muslim e pelo seu “agradecimento” cheio de ilusões à coalizão internacional. Mas o que está em questão para determinar que lado tomar em Kobane é se essas posições ou a colaboração militar tática com os imperialistas tornam o PYD uma força subordinada aos EUA em seus esforços para subjugar a Síria.

Acreditamos que o exército americano se aproveitou do conflito em Kobane para bombardear o EI, mas não tinha a pretensão de usar o PYD, que ele ainda considera uma organização terrorista, como uma alavanca para controlar o norte da Síria. Afinal, terminada a batalha, os EUA não foram capazes de ter qualquer controle real sobre Rojava. O PYD, por sua vez, estava se beneficiando dos bombardeios dos EUA, mas não está integrado e subordinado aos esforços militares dos imperialistas na região.

Portanto, a batalha por Kobane não consistiu em agentes dos EUA lutando contra o Estado Islâmico (como quer a Liga Espartaquista), mas sim uma força de resistência curda coordenada (mas não subordinada) com bombardeios americanos, lutando contra os reacionários fundamentalistas. Em tal luta, os revolucionários tinham um lado – com o PYD/YPG contra o EI, enquanto ao mesmo tempo diziam aos trabalhadores e militantes no Curdistão sírio a não confiar que os EUA ou o Peshmerga pudessem ser considerados, mesmo momentaneamente, seus “aliados”.

O que essa posição demonstra é que a Liga Espartaquista perdeu completamente seu senso de proporção (se é que tinha algum). A vitória do YPG em Rojava não é a mesma coisa que a vitória dos rebeldes na Líbia em 2011. Não se tratou de uma queda de governo orquestrada pelos imperialistas para colocar um fantoche em seu lugar. O resultado foi a manutenção no poder de um partido curdo com bases populares que havia subido ao poder como fruto da própria dinâmica da guerra civil. A resistência vitoriosa contra o EI foi um contraponto importante para evitar o avanço da reação fundamentalista.

[Agosto de 2016: Para reforçar essa declaração, na recente terceira rodada de reuniões de paz patrocinadas pelos imperialistas em Genebra, nenhum representante do PYD-Rojava foi convidado, devido à falta de confiança dos Estados Unidos neles, o que levou os representantes do Conselho Democrático Sírio a recusar os convites que receberam.]

Por resistências proletárias em meio à guerra civil

Diante do elemento de sectarismo religioso presente nas guerras que se desenrolam no Iraque e na Síria (envolvendo a rivalidade sunita/xiita) e o derramamento de sangue de ambos os lados, existe espaço para o surgimento de uma resistência não-sectária da classe trabalhadora contra esses crimes. Se acompanhada do impulso revolucionário de expulsar os imperialistas do Oriente Médio, impedir a vitória dos reacionários fundamentalistas e defender os curdos e outras minorias étnicas, essa posição tem potencial para desenvolver-se rapidamente entre os trabalhadores que não veem nenhuma alternativa entre os competidores pelo poder.

Não existe na Síria nenhum partido de massas da classe trabalhadora (nem mesmo reformista) devido a décadas de opressão do regime de Assad sobre o país. A única federação sindical legalizada é inteiramente submetida à estrutura de Estado controlada pelo Partido Socialista Árabe Baath (o partido do regime). Uma posição de contraste com as que estão postas pela guerra iria imediatamente ganhar simpatia da classe trabalhadora, mesmo se inicialmente representada apenas por um grupo pequeno de quadros programaticamente sólidos e dedicados. Entretanto, embelezar qualquer das forças principais da disputa só pode levar a desastres.

Ações de solidariedade operária sem fronteiras são uma pedra de toque do trotskismo e seriam essenciais para preparar os trabalhadores e camponeses sírios, iraquianos, turcos e curdos contra “suas” respectivas classes dominantes e as maquinações ferozes dos imperialismos. A única forma de assegurar uma paz de longo prazo na região é através de revoluções socialistas vitoriosas que ponham fim às rivalidades reacionárias entre clãs capitalistas competidores e sua constante dependência de alianças traiçoeiras com os imperialistas.

Além disso, é preciso começar o quanto antes a construção de um partido revolucionário dos trabalhadores na Síria. Junto a um programa socialista completo de controle operário sobre as principais indústrias e revolução agrária no campo, uma organização trotskista na Síria também defenderia um conjunto de demandas democráticas contra o regime e seus adversários reacionários. Isso demonstraria o desejo sem compromissos dos revolucionários em construir uma democracia proletária, em oposição às falsas promessas “democráticas” dos imperialistas.

Syrian Civil War, the Islamic State and the battle of Kobanî

Defend Syria against imperialism! For a position of class independence in the civil war!

By Icaro Kaleb

[This article was originally written between June and July 2015. Because of internal difficulties, it could not be published then and became partially outdated due to the speed of events in the Syrian civil war. Nevertheless, it still addresses a number of political issues that remain central in this complex conflict and also deals with the opportunist positions of ostensibly Trotskyist organizations. Thus, we decided to publish it in January 2016 adding some comments between brackets. Later additions and small corrections were made in August 2016.]

Over the last 4 years, the Syrian population has been engulfed in a civil war between a decades-long dictatorship, on one side, and a combination of bourgeois forces which want to form a new regime, on the other. Later, new elements were added to this already complex situation: the territorial advance of the fundamentalist organization Islamic State; the air strikes, bombings and overall imperialist intervention in the country, mainly by the United States military. We dedicate this text to deepen the debate on a few questions addressed some time ago, in our September 2012 article (The Syrian Conflict and the Tasks for Revolutionists, available in Portuguese) and update on certain aspects, taking into account these new developments.

We once again want to highlight a factor that most of the left, including many groups that claim to be Trotskyists, have left aside when dealing with the situation in Syria: the need for a position of class independence regarding the various bourgeois forces that currently struggle for power. Marxists do not buy the myth that Syria is going through a “revolution” supposedly led by “rebel” armies which fight the government, because these forces are submitted to the interests of various bourgeois fractions. The course of this civil war, though not resolved after four years, points to the need of an independent pole of the working class, opposed to both the Assad dictatorship and the reactionary forces that want to bring it down for their own reactionary interests. The same dilemma and the need for working class indenpendence is central to the political situation in Kobanî.

The character of the main contending forces in Syria

The Assad regime is a two-decade-long one-party capitalist regime, which rules over a poor nation, confined to the world imperialist order. The majority of the human rights violations that have occurred since the beginning of the civil war were committed by the Syrian government. It has Russia as its main international ally, with which it has relevant trade agreements. From the pov of the working class, however, this dictatorial regime deserves no political support.

The Syrian National Coalition (SNC) is the organized body trying to coalesce the different units of the Free Syrian Army (FSA), which is a split of the Syrian armed forces. Since 2011, the FSA has gained important positions in the country, but many were lost back to Assad or taken by the Islamic State. In our 2012 article, we explained the political and military composition of the SNC/FSA: the links of its main components with the imperialists and its bourgeois program. Since then, the FSA was gradually dominated by religiously-oriented forces (mainly Sunni leaders dissatisfied with the secular aspects of Assad’s Alawite regime). The FSA also started operating in alliance with other forces, such that the “Islamic Front”, which arose in 2014.

Despite the illusions of a big part of the international left that the FSA’s struggle against Assad’s regime is part of a “Syrian revolution”, we made it clear on such article that these “rebels” are not a political force capable of (or interested in) achieving gains neither for the Syrian workers nor to the country’s oppressed national minorities.

The United States failed to achieve a lasting alliance with most of the rebels, who were not considered enough “moderate”. Washington has been more careful in choosing its allies since the disastrous experience in Libya, where many of the weapons sent to the country ended falling into the hands of anti-American extremists. Some especific FSA units, however, received significant military aid from the United States and Obama has already begun to train his own “rebel group”, which must as well be denounced as a ground troop of imperialism. As reported:

The U.S. has decided to provide pickup trucks equipped with machine guns and radios for calling in U.S. airstrikes to some moderate Syrian rebels, defense officials said. But the scope of any bombing hasn’t been worked out – a reflection of the complexities of the battlefield in Syria.

The plan comes as the US prepares to begin training moderate rebels, who are waging a fight on two fronts against the extremists and the Syrian regime. Defense officials said that the training will start in mid-March, in Jordan, with a second camp scheduled to open soon after in Turkey.”

The United States will give some Syrian rebels the ability to call strikes, February 17, 2015. Available at http://tinyurl.com/kojxzx5

[January 2016: Russia’s entry into the conflict in October 2015, with air strikes and also by sending large amounts of ground forces – initially favoring Assad and later also extending logistical and military support to certain “rebel” forces against the Islamic State – complicated even more the scenario. Currently, everything points to a “solution” in a transitional government that contemplates the economic interests of both Russia and the U.S. – which, it must be said, are quite different from the interests of Syrian workers and the oppressed nationalities of the country.]

Another reactionary competitor in the Syrian civil war is the self-proclaimed Islamic State of Syria and the Levant (ISIS, over the previous name “Islamic State of Iraq and Syria”), which recently has gained strength. It was previously part of a same fundamentalist military operation with the Syrian Al-Qaeda (Al-Nusra Front). It was the Al-Nusra Front which broke relations with ISIS in early 2014, stating that they were “too intransigent”.

By then, ISIS had already taken over important areas of Iraq. Largely funded by Muslim oil barons from countries which are also supporting certain rebel groups – the so-called “Friends of Syria” (Turkey, Qatar and Saudi Arabia) – ISIS used its links with the Syrian opposition to obtain heavy weapons and recruit fighters. It came into power in important Iraqi cities as the spearhead of a Sunni revolt against the Shi’ite-led government backed by the United States. From then on, ISIS had under its control more territories than Al-Qaeda was ever capable of. Many of the towns and villages in its power have large oil production, which ISIS exports in order to finance its expansionist effort. ISIS is at war against the Iraqi government (which is helped by the United States’ troops on the ground) and plan to build a “Caliphate” under its strict control. Around the same time, ISIS strengthened their positions in Syria and took over provinces in the deserted East of the country, as well as the entire border region between Iraq and Syria. It has fought both Assad and opposition forces, especially FSA units.

ISIS seems to be the best trained and equipped of the oppositional forces. About 8 million people live in towns under its controls in both countries and the group was able to establish a kind of “war economy”, in which the population is dependent on the extremist group for food and other necessities. That has so far secured a passive collaboration with their occupation. They have persecuted several non-Muslim minorities (and even some Muslim groups) and frequently boast about their practices of enslaving and trading women of other religions, as well as the massacre of groups of non-Muslim villagers. ISIS currently controls about a third of the Syrian territory, where the Islamic law (Sharia) was imposed.

We consider the Islamic State a form of fundamentalist reaction that seeks to eliminate even the most basic political, social and secular rights. If ISIS achieves complete victory over the Syrian territory it would mean the fall of many ethnic and religious minorities into a state of slavery or their simple execution. A revolutionary workers’ party in Syria would seek to defend the oppressed people and organize the working masses of the cities and the countryside against these vicious thugs. Their defeat is essential for workers. But our call to defeat ISIS does not change our opposition and denunciation of U.S.-led air interventions in the country, even if they are said to be aimed at eliminating ISIS.

The imperialists cannot present a serious alternative to the Syrian people, and have already perpetrated actions tens of times more violent and vicious than those of ISIS. Ultimately, ISIS growth and development itself is a byproduct of the imperialists’ disastrous occupation of Iraq, just to give an example. While the U.S. mainstream media exposes the cruelty of the Islamic State, it hides the acts of terror committed by their own allies in Syria, Iraq, Libya, Saudi Arabia, which also include many atrocities (not to mention the high number of casualties and injuries caused by death falling from the sky in the form of bombs).

We have no pity for the defeats that the imperialists may suffer in Iraq and Syria (even from the hands of the Islamic State). We do not forget the crimes committed by the imperialists in Iraq (including the deaths of about 200,000 Iraqi civilians) and consider their expulsion from the Middle East, as well as the defeat of any of their “boots on the ground”, as the main priority. But despite the fact that ISIS has been the current target of imperialist bombings, its conquest of Iraqi and Syrian cities in order to establish terror regimes is no form of “anti-imperialist struggle”, but instead reactionary actions.

Obama’s “good intentions” in bombing ISIS to supposedly save minorities in Syria are nothing but lies. The U.S. intervention has the sole purpose of ensuring its grip on the country. Anyone who has doubts about the intentions of the U.S. (and other imperialist powers) in Syria should look at the “big experiments of democracy” that Libya and Iraq have become. The American bombings are intended to gain time and contain ISIS (while at the same time it also weakens Assad’s regime), as Washington tries to better organize the forces loyal to it on the ground.

[January 2016: Currently, this paragraph appears to have become outdated due to the apparent U.S., France and Britain decision to destroy ISIS, in part as a result of pressure put on them by Russian bombings in defense of Assad and partly because of the hue and cry over the fundamentalists’ expansion. However, at the time this text was written, it appeared that the U.S. strategy revolved around “managing the situation”, it is, let ISIS weaken Assad, while trying to strengthen the positions of the “moderate” rebels loyal to them.]

Besides taking into account the imperialist threat on one hand and the Islamic State on another, one cannot forget that a proletarian revolution in Syria can only triumph over the dead body of Assad’s brutal dictatorship. The dictator and his party imposed the capitalist order for decades, with the most brutal methods. The main priority would be organizing working-class defenses, especially among the persecuted national minorities, in order to fight the various armies struggling for power, thus ensuring the creation of a working class force, politically independent from the reactionary bourgeois competitors.

[August 2016: All the main players are enemies of working class’ interests, but we recognize they do not have the same caliber. Syria is in a quagmire of intertwined confrontations and ever-changing combinations of forces in which it is not always easy to take a tactical military position at each given moment. Revolutionaries who are far from the ground face extra difficulty in following all the events. It would be counterproductive to issue a general tactical position for all the different scenarios and disputes that occur in the war. There are, however, some general political principles that Marxists should follow. The most important is that we oppose the imperialists’ intervention and their “boots on the ground” as a priority. This means we would, in principle, militarily side with Assad’s regime or rebel jihadist groups on certain occasions in which they confront imperialist forces. Second, we oppose the advances of the Islamic State and would seek to defend the working class and the national and religious minorities under its attack. Third, we’d oppose both sides in the war between Assad’s regime and the rebels that are not subordinate to the imperialist powers.]

USec and the Morenoites: class collaboration on the battlefield

The groups on the left which claim to defend the victory of a non-existent “Syrian revolution” against Assad use this excuse as a cover to support the efforts of the Free Syrian Army. The main argument is that many of the units participating in it are not subordinate to the Syrian National Coalition. Instead, the FSA is seen by them as a coalition of popular forces emerging from the streets and the protests of the Arab Spring. That is the position, for example, of the United Secretariat of the Fourth International (USec). They published on their website an interview with a member of one of these FSA groups, who claims to be a Marxist. When asked about cooperation with other units of the FSA, this fighter said:

There is cooperation and coordination, but in a limited way, on the one hand because of divergent views and objectives, or disparities between positions due to the geographic location where comrades are fighting and the nature of other organizations. On the other hand, these organizations do not generally accept anyone else…”

–– “Our lack of weapons puts us in a position of weakness”, 18 January 2015. Available at: http://tinyurl.com/nhjea3b.

Such difficulty of coordination with other FSA units should be no surprise, since many of those are led by officials who are loyal and subordinate to the SNC and their reactionary friends. We shall not forget the various Islamic groups that are also under the FSA umbrella, not to mention those “rebel units” which received training and weapons directly from the imperialists and are their loyal allies on the ground.

The FSA is certainly a heterogeneous army. But the question that the USec’s website failed to ask these “Marxist” fighters, and that should have been the first question to be made, is: why this organization (which the USec considers to be “revolutionary Marxist”) is working side by side with those types? Since they claim to represent the Syrian working class, why don’t they, instead, organize a politically independent militia separated from the reactionary and pro-imperialist elements?

In a certain way, the dilemma of those fighters is the same dilemma of the USec and other groups which support the “rebels” against Assad. They do not want to defend an independent proletarian position, separated from the SNC and the FSA, as they only see immediate possibility of overthrowing Assad’s regime by holding hands with those bourgeois forces. They therefore abandon class independence and support the FSA, sugarcoating its nature and program, albeit criticizing its leadership.

A very similar conclusion is shared by other groups which also claim Trotskyism, as the Morenoite International Workers League (LIT-CI, led by the Brazilian PSTU) or the International Workers Unity (UIT-CI, led by the Argentinian Izquierda Socialista). See our previous polemic with the UIT in an October 2012 article available in Portuguese (Morenoism and the UIT’s Position in Syria).

Despite the existence of elements deluded by allegedly “democratic” politics in the FSA ranks, it is for most part controlled by SNC officials and other bourgeois forces. The victory of this army would result in no gain for the working class. It is as if the USec, LIT/IWL and UIT believed in some kind of magical “dynamic” that would put the working class in power, or at least in a better position, if Assad was overthrown by the SNC rebels. We have seen this movie in Libya, Ukraine and many other occasions, when such groups supported “mass movements” that had reactionary leaderships and purposes.

The Kurdish question and the battle for Kobanî

In the already complex scenario that is the Syrian civil war, things get even denser when taking into consideration the Kurdish element. Kurdistan is the largest stateless nation in the world. We’re talking about 30 million people split around Turkey, Iran, Iraq, Armenia and a small region in Northern Syria (Rojava). This is a legacy of British imperialism’s “divide and rule” politics after the fall of the Ottoman Empire.

Marxists must defend the Kurds’ national rights, including the right to self-determination, the use of their language in schools, public administration etc. and must be against any and all forms of segregation. But that does not mean that we consider a territorial separation of the Kurdish regions (or the creation of a Kurdish state) as a “solution” to the problems of the workers of that nationality. We certainly would take the Kurdish side in a war for independence or regional autonomy (including military support) if that is the expressed desire of this people.

But national separation is, for Marxists, an interest subordinated to the proletarian struggle. There are political issues of highest priority, such as the working class political independence and the defense of the oppressed nations under imperialist attack. Here is an illustrative example. In 2003, when the US attacked Iraq, the bourgeois nationalist leaders of Iraqi Kurdistan supported the imperialist invasion against the regime of Saddam Hussein, over promises of greater regional autonomy.

We would defend any autonomy obtained for the Kurdish population. But when the Peshmerga (the army of the Iraqi Kurds) was fighting under the U.S. command, it was not a force struggling for Kurdish independence against Baghdad, but an arm of the imperialist project to subjugate the entire region. Thus, we would oppose the efforts of Kurdish capitalists to support the imperialist invasion, while we would continue to defend the Kurds’ national rights.

Today, a similar situation emerges in Iraq, in face of the U.S.-led coalition against the Islamic State. The main Kurdish political parties in Iraq, KPD (Kurdish Democratic Party) and PUK (Kurdistan Patriotic Union), despite their alledged rivalry, are using their position at the head of the regional government in Northern Iraq to support the imperialists.

But while in Iraqi Kurdistan the scene is dominated by the imperialist stooges, in Syria the most influential political force among the Kurdish population is currently the Democratic Union Party (PYD), which is the Syrian associate of the once-Maoist Kurdistan Workers Party (PKK), which operates in Turkey. In 2012, Assad’s troops withdrew completely from the Kurdish regions, the territory known as Rojava. It is unclear whether this was due to military conditions or a demagogic attempt to gain the support of the Kurds, or a combination of both factors. Rojava has since come under control of the PYD. Through its military organization, the People’s Protection Units (YPG), the PYD clashed with both the Assad regime and the bourgeois opposition on different occasions. Since the Islamic State began advancing on Northern Syria, though, the YPG has focused their efforts in defeating the fundamentalists.

ISIS operations in Syria first clashed with the Kurds in July 2014, in Kobanî – one of the three cantons under the PYD government, near the border with Turkey. This drew worldwide attention and the Kurdish resistance has won wide sympathy, getting known as the “revolutionaries fighting the Islamic State”. ISIS was finally defeated in the region in early 2015, through a combination of the relentless struggle of the Kurds (who have always been in technical inferiority) and imperialist bombings against ISIS in the region. Kobanî was besieged for months, during which many groups on the left (especially some anarchists) spoke of a “revolutionary character” of the Kurdish resistance.

The PYD is a party founded in 2003 by PKK sympathizers in Syria. It was considered by the Syrian government as a factor of instability, due to its popular support and underground operations in the Kurdish regions. Its main source of ideological orientation is the PKK, which was established in 1978 as a Maoist group dedicated to armed resistance against the oppression of the Kurdish population in Turkey, and has a long history of resistance against the Turkish government.

But it seems that the PKK is no longer an adherent of Maoism and its Stalinist practice of persecution against internal oppositionists and a program of “people’s war” that wobbles between a bourgeois democratic program of “New Democracy” and the prospect of reproducing a bureaucratic state-economy regime like Mao’s China. According to many reports, since the arrest of Abdullah Ocalan (its historical leader) in 1999, the PKK has undergone a programmatic transformation towards what is described by Ocalan himself as “democratic confederalism” – which is inspired by libertarian authors and seeks to build stateless “popular self-governments” in small scale.

The PKK is still considered by NATO and the Turkish government as a “terrorist organization”, and Marxists around the world have the imperative duty to defend the group against all attacks from Erdogan’s brutal regime. Except for a few brief periods of truce (the latter of which dates from 2013), the PKK has continuously fought against the Turkish regime for autonomy for the Kurdish regions. But while it is hard to precisely say how consolidated is this programmatic shift (the PKK continues to be an underground organization), its seems to have definitely changed the group’s outlook.

Trotskyists believe that workers and peasants need a form of political power based on their own organizations in order to crush the bourgeoisie’s military, political and economic domination and prevent the capitalists’ attempts to return to power after a victorious uprising. This authentic “workers government” should cover the whole territory and be based on representatives democratically elected by the workers and peasants (and removable by the same assemblies that elected them). This is the only formula able to balance the local nature of direct democratic management with large-scale working class’ interests in all areas.

Last but not least, such government should give internationalist material and political aid to workers fighting in other countries to defeat “their” own bourgeoisie. Socialism cannot be achieved on a national scale and, ultimately, no workers government can survive isolated in a world dominated by imperialism. The political program of the PKK/PYD seems to ignore the necessity of building this “proletarian dictatorship” based on a collectivized economy and workers centralized military power.

As mentioned, the PYD has control of the Rojava region. In early 2014 it adopted a “Charter of Rojava’s Social Contract, and this constitutional document makes no mention of socialism, collective control of the means of production or workers’ democracy. Instead, it is a confusing combination of community participation and private property maintenance. Article 41 provides that “Everyone has the right to own property and personal ownership is guaranteed,” while Article 42 says that the economic system aims to “ensure participatory economy while promoting competition in accordance with the principle of democratic management ‘To each according to one’s work’.”

[January 2016: Following the defeat of ISIS, the PYD consolidated its power in a region where all bourgeois parties and governments were defeated or withdrew. The PYD is not a bourgeois party, but an organization based on the mobilization of workers and peasants of that region. The conditions are the most favorable for the establishment of a proletarian government, with workers and peasants’ democratic control over the means of production, the political system and the army. However, the PYD has no clarity about the nature of the regime it wants to build. Despite the PYD’s democratic preaching, the maintenance of capitalist property puts clear limits for further development, due to social inequality and lack of workers’ direct democracy. Given what has happened until now, it seems that the PYD will not break from the bourgeoisie in a definite way. Its ranks, as well as other workers and peasants fighters of the Rojava region, should strive for a revolutionary leadership and reject the PYD’s current vacillations and illusions of a “third way” between capitalism and workers’ power.]

During and after the battle against the Islamic State in Kobanî, the PYD also spread dangerous illusions in the Peshmerga units of the Kurdish regional government in Iraq (from which it received weapons) and in the U.S. air intervention. It released a public statement “thanking” them for their fight against ISIS, during which the PYD gave military tactical advice to the U.S. (like where to bomb). A PYD leader, Saleh Muslim, expressed this attitude in various statements to the press:

According to Muslim, the international coalition ‘has saved the lives of many civilians’ in its war against IS. […] He also thanked the international coalition led by the U.S. for supporting the Kurds in their misery and for helping the YPG forces to resist the IS radical group: ‘Such operations reinforce the relationship between Kurds and states that defend democracy and peace’, Muslim concluded.”

–– Syrian Kurds urge U.S.-led coalition to intensify anti-IS strikes in Kobanî, October 13, 2014. Available in: http://tinyurl.com/pkzaufb.

We believe that Marxists should have defended Kobanî against the advance of ISIS’s fundamentalist reactionaries. What Rojava’s workers and activists with revolutionary intentions urgently need, though, is a political orientation that their current leaders cannot offer. It is necessary to prevent the development of expectations and illusions in the character of the bourgeois government of Iraqi Kurdistan and the imperialist bombings.

The U.S. intended to contain ISIS’s advance in Kobanî for their own reactionary purposes, and not “help” the Kurdish people. The U.S. government is definetely not among the advocates of “democracy and peace” in the world. It should not be forgotten that Washington is a great ally of the Turkish regime of Erdogan, which did everything to prevent the PYD from receiving any help from the PKK bases in Turkey. We do not condemn the PYD for getting arms from any source that was offering them (provided that it did not mean making political concessions). And it certainly had the right to tactically benefit from the fact that ISIS was being targeted by the imperialists, provided it had clarity about the nature of the bombings.

[August 2016: Since January 2016, when we originally published this article, this course of the PYD has deepened. In the beginning of the year it cooperated with U.S. air forces with the aim of expanding into the non-Kurdish Raqqa region, one of ISIS’ main strongholds. Now it is cooperating with Assad in the siege of Aleppo and with imperialist forces in Manbiji, cities which are being completely destroyed, with high number of civil casualties. Besides that, in order to push ISIS away from Rojava, the PYD joined forces with several other parties and organizations when they formed the “Democratic Syrian Forces”, a military coalition in which the YPG was the main unit, as well as the “Syrian Democratic Council”, an entity that claims to be for a “federated, democratic and secular Syria” – a clearly class collaborationist move. If it wasn’t for the imperialists’ distrust in the PYD, the DSF/SDC would probably be a very suitable ally for them on the ground.]

Spartacist League: sectarianism on Kobanî

Pointing to the opportunistic positions of the PYD leadership, some groups on the left took the side of the Islamic State in Kobanî (!). This is the case of the degenerated sect (barely) disguised as Trotskyist organization that is the Spartacist League (SL) of the United States and its International Communist League (ICL). They explained their reasons for such an absurd position as follows:

[…] Iraqi government forces and Kurdish peshmerga in Iraq are again conducting joint military operations with the U.S., as they did for years under the occupation. More recently, Syrian Kurdish nationalists have also sealed a treacherous alliance with the U.S. in the battle over Kobani in northern Syria, acting as the imperialists’ bomb spotters and otherwise coordinating military movements. The fact that all these forces are ‘boots on the ground’ for imperialist intervention means that revolutionary Marxists have a military side with ISIS when it targets the imperialists and their proxies, including the Syrian Kurdish nationalists, the pesh merga, the Baghdad government and its Shi’ite militias.”

–– Down With U.S. War Against ISIS!, October 31, 2014. Available in: http://www.icl-fi.org/english/wv/1055/isis.html.

In its drive to conquer Kobanî, the Islamic State was not fighting an imperialist stronghold, since there were no U.S. troops on the ground, but to expand its power in the Kurdish areas. The YPG was the only force fighting the fundamentalists with weapons in their hands in Kobanî and, despite the vacillating position of its leadership, it could not be seriously considered as a U.S. “proxy”. The YPG resisted the siege of ISIS in Kobanî for several months even before the imperialists got involved.

Revolutionaries must criticize the illusions propagated by the PYD and its “thank you” full of illusions to the international imperialist coalition. But what was central to determine which side to take on Kobanî was whether these positions and the military tactical collaboration with the imperialists made the PYD a force subordinated to the United States in their efforts to subjugate Syria.

We believe that the U.S. military took advantage of the conflict in Kobanî to bomb and weaken ISIS. But it could not use the PYD, which it still considers a terrorist organization, as a tool to control Northern Syria. After the battle, the U.S. was not able to have any real control over Rojava. The PYD was benefiting from the imperialist bombardments, but was not integrated and subordinated to the military efforts of the imperialists in the region.

[August 2016: reinforcing that statement, at the recent third round of peace meetings sponsored by imperialists in Geneva, no PYD-Rojava representative was invited, due to the U.S. distrust in them, what led the Syrian Democratic Council representatives to withdraw the invitations they received.]

Therefore, the battle for Kobanî did not consist of U.S. agents fighting the Islamic State (as the Spartacist League pictures it), but of a Kurdish resistance force fighting the fundamentalist reactionaries, coordinated with (but not subordinated to) U.S. bombarments. In such a struggle, revolutionaries had a side: with the PYD/YPG against ISIS, while at the same time it was important to warn the Syrian and Kurdish workers and activists not to consider, even momentarily, that the U.S. or the Peshmerga could be their “allies”.

What this position demonstrates is that the Spartacist League has completely lost its sense of proportion (if it had any to begin with). The victory of the YPG in Rojava is not the same as the victory of the rebels in Libya in 2011. It was not a coup d’etat and military revolt orchestrated and coordinated by the imperialists to put a puppet regime in power. The result was the maintenance of a Kurdish party with plebeian roots, which had risen to power as a result of the complex civil war dynamics. The victorious resistance against ISIS was an important move to prevent the advance of fundamentalist reaction.

For proletarian defenses in the midst of the civil war and a workers revolutionary party!

In face of the religious sectarianism present in the ongoing civil wars in Iraq and Syria (involving Sunni / Shiite rivalry) and the bloodshed on both sides, there is room for the emergence of a non-sectarian resistance of the working class against these crimes. If accompanied by the revolutionary impulse to expel the imperialists from Middle East, prevent the victory of the fundamentalist reaction and defend the Kurds and other ethnic minorities, this position has the potential to develop rapidly among workers who see no alternative among the current forces competing for power.

Currently there is no mass party of the working class in Syria (not even a reformist one), due to Assad’s regime decade-long oppression. The only legalized union federation is entirely subject to the state structure and controlled by the Arab Socialist Ba’ath Party (the regime party). A position contrasting with those currently expressed in the civil war would immediately gain sympathy from the working class, even if initially represented only by a small group of politically solid and dedicated cadres. On the other hand, embellishing any of the major forces in this dispute can only lead to opportunist disaster.

Workers’ internationalist solidarity actions are a touchstone of Trotskyism and would be essential to prepare the Syrian, Iraqi, Turkish and Kurdish workers and peasants against “their” respective ruling classes and the vicious imperialist machinations. The only way to ensure long-term peace in the region is through victorious socialist revolutions that end with the reactionary capitalist competitors, clan rivalries and their constant dependence on treacherous alliances with the imperialists. The positive result would be the creation of a socialist federation of the Middle East.

Therefore, the construction of a revolutionary workers party in Syria is an urgent matter. With a full socialist program of workers’ control of major industries and agrarian revolution, a Trotskyist organization in Syria would also defend a set of democratic demands against the regime and its reactionary adversaries. This would demonstrate the uncompromising desire of revolutionaries to build a proletarian democracy, as opposed to the false promises of the “democratic” imperialists.

Panfleto distribuido no ato contra o aumento das tarifas de ônibus no Rio de Janeiro

Panfleto distribuído pelo Reagrupamento Revolucionário no ato contra o aumento das tarifas de ônibus no Rio de Janeiro no dia 08 de janeiro de 2016. Além de falar das passagens, o panfleto também discute o impeachment chamado contra Dilma Rousseff e os ataques realizados pelo governo e pela burguesia contra a classe trabalhadora no ano de 2015.
 

R$ 3,80 é um assalto! Tarifa zero em todos os meios de transporte para toda a região metropolitana! Expropriação das companhias de transporte sob controle de funcionários e usuários!

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Testamento de Leon Trotsky (fevereiro de 1940)

Seguindo nossa tradição, todo final de ano postamos um material histórico de estímulo à determinação e à vontade revolucionária de nossos militantes, leitores e simpatizantes. O presente texto é considerado o testamento de Leon Trotsky, que foi atacado por um agente stalinista no dia 20 de agosto de 1940, vindo a falecer no dia seguinte. Ele foi escrito alguns meses antes do ocorrido, quando Trotsky sentia que sua saúde estava se deteriorando. Aos 75 anos de sua morte, continua a ser um texto inspirador, de forte otimismo revolucionário. Esta versão foi copiada de marxists.org.


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James Cannon e o pablismo

Uma análise dos discursos de James P. Cannon
[Originalmente publicado em Workers Vanguard No. 28, de 14 de setembro de 1973. Traduzido para o português pelo Reagrupamento Revolucionário em novembro de 2015]
A publicação de discursos e cartas de James Cannon relativos à luta fracional ocorrida no SWP em 1952-1953 [Speeches to the Party. Nova York: Pathfinder Press, 1973], documentos anteriormente disponíveis apenas em velhos boletins internos SWP, é um evento político importante por duas razões. Em primeiro lugar, esses escritos destacam a enorme força de Cannon como um defensor dos princípios do programa trotskista durante tempos difíceis, tais como o desmoralizante período do macartismo. (Eles também revelam lacunas consideráveis ​​ em seu fracasso em lançar em tempo hábil uma luta fracional internacional contra o liquidacionismo pablista – o que também facilitou o caminho para a degeneração qualitativa do SWP dez anos depois). Em segundo lugar, a publicação pelo SWP dos documentos de Cannon de 1952-53 (juntamente com o seu livreto sobre a história da cisão com Pablo, a reimpressão de artigos Trotsky sobre o terrorismo publicados no The Militantetc.) neste momento, com as diferenças sobre a guerra de guerrilha ameaçando explodirem o pseudo-trotskista “Secretariado Unificado”, é claramente parte da preparação para um racha entre apoiadores da maioria europeia centrista e da minoria reformista liderada pelo SWP.

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O significado histórico da “Nova Democracia” maoista

E uma polêmica com o jornal A Nova Democracia
 

Marcio Torres e Rodolfo Kaleb, novembro de 2015

Em certo sentido o presente artigo e seu apêndice são complementos à nossa polêmica Qual revisionista veio primeiro: Kruschev ou Stalin?, de outubro de 2014. Sugerimos a leitura conjunta desses materiais.

 

O maoismo, seguindo sua herança stalinista, historicamente defendeu a realização de alianças políticas com setores da burguesia para supostamente defender interesses dos trabalhadores. A condução da terceira revolução chinesa, na qual o Partido Comunista Chinês liderado por Mao chegou ao poder, foi um episódio efêmero de rompimento político com a burguesia, na figura do partido nacionalista Kuomintang (KMT), uma aliança que havia sido proposta pelo Kremlin nos anos da segunda revolução chinesa (1925-27) e que foi retomada a partir do VII Congresso da Internacional Comunista, em 1935.

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On the Trotskyist Fraction’s centrist zigzags

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On the Trotskyist Fraction’s centrist zigzags

By Rodolfo Kaleb

November 2015

About two years ago we published a lengthy polemical article directed to the Trotskyist Fraction (Fracción Trotskista) [1], which is the international organization of the Argentinian PTS (Partido de los Trabajadores Socialistas). The polemic was about the task of building a revolutionary party and what we consider the Trotskyist Fraction’s centrist strategy on this issue: they try to approach opportunist groups of the “family of Trotskyism” with the aim of mixing with them inside common political blocs. This position is revealed by the TF’s constant appeals for programmatic unity addressed to various revisionist groups. On these occasions, the TF usually ignores or minimizes the many times the opportunist currents they are wooing rejected major Marxist principles such as class independence.

The Argentinian “Workers Left Front” (FIT)

As we discussed in that piece, the Argentinian Frente de Izquierda y de los Trabajadores (FIT – Workers Left Front) has been the main arena in which the PTS has tried to implement this position in recent years. The FIT is an electoral coalition among the PTS and two other organizations that claim the Trotskyist heritage – the Partido Obrero (PO) of Jorge Altamira and the Izquierda Socialista (IS – Argentinian section of the Morenoite Unidad Internacional de los Trabajadores).

The FIT is not a bloc of class collaboration, meaning it is not what Trotskyists usually call a “popular front” with bourgeois parties. Therefore, in certain cases, a critical electoral support to the FIT candidates would be a principled tactic. However, the FIT is not just a tactical electoral bloc with the purpose of allowing working class groups to participate in the bourgeois elections of Argentina. For us, it is clear that the PTS regards the FIT as a trampoline to build political unity with the other left groups in it, especially the Partido Obrero. On certain occasions, the TF recognizes this, but on others they deny it. The PTS is always putting pressure on the other groups to maintain their unity beyond the electoral period, it is, to form a permanent bloc. In that sense, the TF has repeatedly said that the FIT is a “revolutionary front” and an embryo to a revolutionary party.

Since we wrote our article, we’ve had many conversations with Trotskyist Fraction militants in Brazil about this topic. One of the answers we heard was that the intention of the PTS was not to merge with the opportunist groups, but that the FIT was simply a “united front”, a collaboration for practical purposes, especially to allow the groups to participate in the bourgeois elections under Argentina’s restrict electoral law. The same opinion was broadcast by the German section of the Trotskyist Fraction (RIO – Revolutionary Internationalist Organization):

Another important issue for the formation of the FIT is the question of electoral fronts as a temporary united front based on partial agreements in a concrete situation, as opposed to long-term projects that are based on more profound agreements in terms of program, strategy and practice. The FIT is by no means a project that has been designed in terms of a long-term alignment of the PTS with the PO, but on the concrete necessity of a united workers’ front against bourgeois repression.” (our emphasis)
The electoral campaign of the FIT in Argentina. July 27th, 2011
http://www.onesolutionrevolution.org/?p=757&language=en

However the PTS itself is now clearly denying that the FIT is a “united front”. As the FIT has recently undergone a harsh dispute involving the formation of the slate for presidential elections, the PTS wrote several articles to answer the PO’s leader assertion that the bloc was only a “united front”:

The FIT is a bloc of agitation among three parties that claim to be Trotskyists and defend a program of transitional demands, class independence and a workers’ government. This is not a ‘united front’, but a regroupment of left formations which claim to be revolutionary and are not yet big parties; and their objective is to agitate a common revolutionary program in electoral processes. The program of the FIT, more than the program of a ‘united front’, opens the way for debating the necessity of a revolutionary party, a proposal we have raised in many opportunities and which our allies have, unfortunately, systematically denied.” (our emphasis).
The Partido Obrero at the Luna Park and Jorge Altamira’s speech. November 9, 2014. http://www.laizquierdadiario.com/El-Partido-Obrero-en-el-Luna-Park-y-el-discurso-de-Jorge-Altamira (Spanish)

This statement, among many others put out by the PTS leadership, confirms what we have written (and what some Trotskyist Faction militants and even their German section failed to recognize). It is, that the PTS goal inside the FIT is to seek programmatic unity with blatantly opportunist parties.

Another (verbal) answer we frequently got was the recognition that “yes, the Trotskyist Fraction does issue calls for programmatic unity with opportunist groups” (what is evident just by reading the quote above). But, continues the answer, this would be just a “tactic” designed for the rank and file of these opportunist groups. The goal would be to show them that the PTS is not running away from the debate, that it’s not a sectarian group. If this were true, it would imply the TF does not actually intend to have unity with the revisionists, but that the TF only “says so” as a way of winning over the opportunists’ ranks.

We have a serious problem with this “explanation”. First of all, because it is dishonest. The Trotskyist Fraction’s supposed “tactic” – if it indeed is all that is – would consist of telling one thing to these ranks (that they desire unity with them) while actually having other intentions. Besides, if this is the truth, that would be a crappy “tactic” for the purpose of convincing these militants to join the TF. The TF often makes sharp correct criticisms of the PO and the Morenoites. However, these criticisms lose much of their value when, every now and then, the TF says that these opportunist groups “defend a program of transitional demands, class independence and a workers’ government” (as they supposedly do within the FIT).

It’s inevitable that most dedicated militants will remain in their current centrist organizations even if s/he concedes the existence of some errors, if these errors are considered somehow correctable in the long run. To win over the members of an opportunist group it is necessary to clearly expose their leaderships’ revisionist method. Revolutionaries must patiently explain to the ranks of these currents how the politics of their leaders can only lead the proletariat into defeats. Instead, the TF chooses to make these appeals for discussions and unity to the opportunists. As Trotsky wrote: “If a text book on physics contained only two lines on God as the first cause it would be my right to conclude the author is an obscurantist.” What are the Trotskyist Fraction’s many correct criticisms worth of when (in way more than two lines) they consider the opportunists capable of defending a “common revolutionary program” with the PTS?

How many times have these very same groups crossed class independence? Let’s not forget the various occasions in which the PO supported bourgeois platforms in the elections, the most noteworthy being their vote for Evo Morales’ 2006 campaign in Bolivia [2]. Or the time the Morenoites of Izquierda Socialista hailed NATO’s takeover of Libya in 2011 as a popular victory against dictator Muammar al-Gaddafi [3]. In 2012, the PO raised the perspective of a “left government” (led by SYRIZA) to rule over the bourgeois state in Greece and insisted this could be a solution to the political and economic crisis of this country [4]. The Morenoites, on their part, claimed the military coup against the Egyptian government in 2013 was a “victorious democratic revolution” [5]. The Trotskyist Fraction knows better, since they have criticized all these opportunist positions. So we can safely say that the TF’s statement that the PO and the IS (along with the PTS) defend “class independence” and “a workers government” is a centrist capitulation. It is centrist precisely because while on some occasions the opportunist groups are correctly criticized, these criticisms are intertwined with the TF’s occasional appeals for unity and the claim they raise a “revolutionary program”.

These appeals are not limited to an Argentinian context, but rather consist of the entire international perspective of the Trotskyist Fraction. See, for instance, the campaign initiated by the TF a couple of years ago “For a Movement for a Revolutionary Socialist International” (which seems to have been silently put aside). This campaign issued a Manifesto calling for the “regroupment” of a myriad of groups and tendencies around positions on the situation in Greece and the Arab Spring:

We are making this proposal especially to the comrades of the New Anti-capitalist Party (NPA) of France, both to those who, with us, make up Platform Z, and to those who are grouped together in Platform Y, who see that it is necessary to confront the policy of the majority leadership of the NPA… and to the comrades of the United Secretariat from other countries who are confronting the majority’s orientation of reproducing this type of bloc with reformists, and those who are resisting the line of subordination to SYRIZA in Greece; to the leaders and workers who constitute the left wing of the miners of Huanuni in Bolivia …; to the comrades of the Partido Obrero of Argentina and to the Coordinating Committee for the Re-foundation of the Fourth International, with whom we make up, in Argentina, the Front of the Left and the Workers, and with whom we have agreed on different actions in the national and international class struggle; and to all those organizations of the revolutionary Left, or of the workers’ and young people’s vanguard, that seek a road towards the revolution.”
For a Movement for a Revolutionary Socialist International – The Fourth International. August 20, 2013.
http://www.leftvoice.org/For-a-Movement-for-a-Revolutionary-Socialist-International-The-Fourth-International

It is clear that the groups and tendencies included in this appeal have political differences with the TF not only on the Arab Spring and on Greece but on many other questions as well. Some TF leaders think these appeals are some sort of “maneuver” while many ranks prefer to ignore the existence of such statements or buy the idea that they consist of “tactics” to win over the ranks of the opportunist organizations. Whatever is the reason for the appeals (if not itself the result of centrist confusion), they are a capitulation and a compromise with centrism that deeply undermines any serious attempt to defeat opportunism in the workers’ movement.

First the Brazilian PSTU, now the Partido Obrero…

Today the PTS is wooing and raising appeals for unity with the Partido Obrero of Argentina and the other groups in the FIT, which are considered to have a “common revolutionary program”. But until a few years ago, the Trotskyist Fraction had its attention devoted to the Brazilian Morenoites of the PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado). In 2006, for example, the TF published an “open letter the PSTU and the LIT” (LIT/IWL is the PSTU’s international organization). They wrote:

Our current, just like the LIT, has correctly criticized the turn to the right of most international groups that claim Trotskyism, a phenomenon you call ‘opportunist rendezvous’… Recently, the PO took steps in the same direction and voted for Evo Morales’ popular front in Bolivia, and later for Romano Prodi in Italy. We consider that, just like us, the comrades of the PSTU and the LIT had the merit of not committing any of these capitulations mentioned and it is based on these political agreements that we propose to open a national and international discussion.”
Open letter to the militants of the PSTU and the LIT. May 5, 2006.
http://www.palavraoperaria.org/E-necessaria-uma-politica-ofensiva-de-construcao-de-um-partido-revolucionario (Portuguese)

First of all, in 2013 the TF had apparently “forgotten” about these opportunist positions of the PO, since they then claimed to “have agreed” with them on “different actions in the national and international class struggle”. By the same token, in 2006 the TF had “forgotten” all the opportunist history of the Morenoites, including their support to “popular fronts” with the bourgeoisie, like the ones built around the Brazilian Workers Party, which the PSTU had voted for just a few years before [6].

The TF’s intentions “to open a national and international discussion” with the Morenoites was apparently frustrated by the PSTU’s own turn to the right in recent years, which involved their support to the overthrow of governments by right-wing sectors of the bourgeoisie as supposed “successful democratic revolutions”, including even processes led by the imperialist powers (Libya, Ukraine, twice in Egypt). If revolutionaries are supposed to be the “political memory” of the workers and warn them about treacherous reformist and opportunist leaders, in this case the TF couldn’t remember (or, what is even worse, pretended not to remember) their own writings.

Conclusion

All the attempts by the Trotskyist Fraction to justify their capitulation involve the idea that they’re actively struggling to build a mass revolutionary party as quickly as possible. All those who make criticisms to them on this issue are labeled “sectarians” who are not actively pursuing other left groups and will never build a party.

It is certainly important for revolutionaries to look for opportunities of fusion with other left-wing organizations. But there are some considerations to be made. In any attempt of fusion, there must be no “amnesty” towards the “weak spots” or centrist policies of the other groups, specially when they continue to apply the same politics as before. The history of the construction of the Fourth International gives us numerous examples of how to engage with young centrist organizations and win over their ranks (in some cases, the entire organizations) to a revolutionary perspective. To succeed in this, however, there must be no concessions of program, no illusions that any of these centrists can play a progressive role without a critical account and break from their previous politics. There is not even a whim of that from the groups to which the Trotskyist Fraction issue their appeals. Both the Brazilian PSTU and the Argentinian PO, for example, are consolidated centrist organizations, with decades of treacherous positions and methods. It is highly unlikely, to say the minimum, that these groups could be won as a whole to genuine Trotskyism. Even if this was possible, it certainly would not happen through the Trotskyist Fraction’s diplomatic approach of not mentioning shameful past positions of these groups when they issue their “open letters”. Their opportunism cannot be put under a rug. Debating it as much as possible is the only way to build a revolutionary party.

Just like most centrists wobble between an ostensibly revolutionary position and an openly opportunist one, so does the Trotskyist Fraction on regard to their position towards the revisionist groups of Trotskyism. Sometimes clear criticisms, sometimes a capitulation followed by a desire of unity. But the Fourth International won’t be rebuilt by “maneuvers” of any kind. Only a sharp and consistent criticism of opportunism can lead us to the rebirth of the world party of socialist revolution. As Trotsky once wrote about centrism:

… The new International cannot form itself in any other way than that of struggle against centrism. Ideological intransigence and flexible united front policy are, in these conditions, two weapons for attaining one and the same end.

The centrist, never sure of his position and his methods, regards with detestation the revolutionary principle: State that which is; it inclines to substituting, in the place of political principles, personal combinations and petty organizational diplomacy.

The centrist always remains in spiritual dependence upon right groupings, is induced to court the goodwill of the most moderate, to keep silent about their opportunist faults and to regild their actions before the workers.

… It is precisely on this plane that one must now deliver the principle blows at centrism. For carrying out this work with success it is essential to have one’s hands free, that means not only maintaining complete organic independence, but also critical intransigence concerning the most ‘left’ of the ramifications of centrism.”

Two Articles on Centrism, 1934.
http://www.marxists.org/archive/trotsky/1934/02/centrism.htm

NOTES

[1] Fração Trotskista e sua ruptura incompleta com o morenismo (May 2013).

[2] Read our critique of this position in PCO, Partido Obrero e as frentes populares (February 2013).

[3] Check La revolución árabe y el final de Kadafi, available in Spanish at: http://www.uit-ci.org/index.php/noticias-y-documentos/revolucion-arabe/43-la-revolucion-arabe-y-el-final-de-kadafi- To read a critique by Revolutionary Regroupment of a similar position taken by the PSTU/IWL, see: PSTU, Fração Trotskista e a defesa da Líbia contra o imperialismo (November 2011).

[4] Check La pulseada entre el FMI y Syriza, available in Spanish at http://www.po.org.ar/prensaObrera/1224/internacionales/la-pulseada-entre-el-fmi-y-syriza To read the critique published by the PTS, see: Los revolucionarios y la cuestión del “gobierno de izquierda”. Available in Spanish at: http://www.pts.org.ar/Los-revolucionarios-y-la-cuestion-del-gobierno-de-izquierda

[5] Check Egipto: la movilización revolucionaria derribó a Mursi!, available in Spanish at http://www.izquierdasocialista.org.ar/index.php/noticias/internacionales/112-egipto-la-movilizacion-revolucionaria-derribo-a-mursi To read a critique by Revolutionary Regroupment of a similar position taken by the PSTU/IWL, see: O golpe militar no Egito e a posição escandalosa do PSTU/LIT (October 2013).

[6] Check their statement at the time: PSTU chama voto em Lula (2002), available in Portuguese at http://www.pstu.org.br/node/3435 To read a critique by Revolutionary Regroupment of the Morenoites’ practice of supporting popular fronts, see: A Frente de Belém na lógica do morenismo (August 2012).

Declaração sobre Sam Trachtenberg

Informamos aos nossos leitores que rompemos relações com Sam Trachtenberg. Ele foi expulso do Reagrupamento Revolucionário (por voto unânime dos outros membros) por desrespeitar a democracia interna depois de, de forma autoritária, sorrateiramente mudar as senhas do web site e do e-mail da organização para impedir outros membros de usá-los, o que inclui postar nossos artigos.
 
Isso aconteceu em meio a uma disputa interna na qual Trachtenberg sordidamente tentou exercer controle sobre o restante da organização exigindo que não se publicassem artigos sem a SUA aprovação. Ele não estava conseguindo participar no processo de edição devido a uma difícil situação pessoal e de saúde. De acordo com ele, o Reagrupamento Revolucionário deveria, portanto, não publicar os artigos que já estavam escritos havia vários meses (mesmo que isso significasse tais artigos ficarem ultrapassados e oportunidades de intervenção fossem perdidas) porque ELE não podia participar da edição (processo no qual nós sempre buscamos democraticamente incluir todos os companheiros dentro de um cronograma razoável).
 
Depois de perceber que estava isolado em sua posição de que a sua contribuição pessoal era tão crítica que o grupo não poderia sobreviver sem ela, ele começou a lançar ataques contra os outros membros. Enquanto se recusava a realizar uma reunião na qual ficaria em minoria, Trachtenberg proferiu calúnias contra os membros do RR, incluindo de que o havíamos “torturado” – supostamente via e-mail, já que não houve contato pessoal e nem mesmo por telefone nesse período. É desnecessário dizer que isso é uma mentira (entre muitas que ele fabricou).
 
Queremos notificar o público de que o site “Regroupment.org”, o e-mail “Revolutionary_Regroupment@yahoo.com” e a caixa postal de Nova Iorque não mais representam ou falam em nome da nossa organização – somente de Sam Trachtenberg. Futuramente, escreveremos uma explicação e descrição elaborada do que aconteceu, assim como responderemos a quaisquer calúnias que Trachtenberg venha a levantar contra nossa organização.

Statement on Sam Trachtenberg

We inform our readers that we have broken relations with Sam Trachtenberg. He was expelled from Revolutionary Regroupment (by unanimous vote of the other members) for disrespecting internal democracy. In an authoritarian fashion, he sneakily changed the group’s website and email passwords to prevent other members from using it, especially posting our articles.

This happened amid an internal dispute in which Trachtenberg nastily tried to assert control over the rest of the group by demanding it not published articles without HIS previous approval. He was not able to participate in the editing process due to a difficult personal and health situation. According to him, Revolutionary Regroupment should therefore hold from publishing articles that had been written for several months (even if it meant such articles became outdated and opportunities of intervention were lost) because HE could not participate in editing (a process in which we have always sought to democratically include all comrades within a reasonable time schedule).

After he realized he was isolated in his position that his personal contribution was so critical that the group couldn’t survive without it, he started launching attacks against the other members. While refusing to hold a meeting in which he would be in minority, Trachtenberg threw several slanders against RR members, including that we have “tortured” him – supposedly via email, since there has been no personal or even phone communication in this period. It’s unnecessary to say this is a lie (among many he has fabricated).

We notify the public that the website “Regroupment.org”, the email “Revolutionary_Regroupment@yahoo.com” and the New York PO box no longer represent and/or speak on behalf of our organization – only of Sam Trachtenberg. We will write an elaborate explanation and description of what happened in the future, as well as answer any slanders Trachtenberg may raise against our organization.

Los va y ven centristas de la Fracción Trotskista

Los va y ven centristas de la Fracción Trotskista

Icaro Kaleb, noviembre del 2015

Hace aproximadamente dos años, publicamos una larga polémica con la Fracción Trotskista, organización internacional del PTS argentino [1]. Esa polémica trataba sobre la construcción del partido revolucionario y de lo que, para nosotros, consiste en la estrategia centrista de la Fracción Trotskista en ese terreno: apostar en la aproximación y en la amalgama con corrientes oportunistas de la “familia del trotskismo”. Esa postura se revela en sus publicaciones, a lo largo de los años, de recurrentes llamados de unidad a varios grupos revisionistas. En esas publicaciones de la FT, generalmente son ignoradas o minimizadas muchas veces en que esos grupos renegaron los principios del marxismo.

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Os vaivéns centristas da Fração Trotskista

Os vaivéns centristas da Fração Trotskista

Da FIT argentina ao #MRTnoPSOL 

Rodolfo Kaleb, novembro de 2015

Há cerca de dois anos, publicamos uma longa polêmica com a Fração Trotskista [1], organização internacional do PTS argentino e cuja seção no Brasil é o MRT (antiga LER-QI) [2]. Essa polêmica tratava da construção do partido revolucionário e do que, para nós, consiste na estratégia centrista da Fração Trotskista nesse terreno: apostar na aproximação e no amálgama com correntes oportunistas da “família do trotskismo”. Essa postura se revela nas suas publicações, ao longo dos anos, de recorrentes chamados de unidade endereçados a vários grupos revisionistas. Nessas publicações da FT, geralmente são ignoradas ou minimizadas as muitas vezes em que esses grupos renegaram a independência de classe e os princípios do marxismo.

Conforme discutimos a fundo em tal polêmica, a FIT (Frente de Esquerda e dos Trabalhadores) da Argentina tem sido o principal cenário para aplicação dessa política pelo PTS nos últimos anos. A FIT é uma coalizão eleitoral entre o PTS e duas outras organizações que reivindicam o trotskismo – o Partido Obrero (PO) e a Esquerda Socialista (IS – seção argentina da corrente morenista UIT). 

Reconhecemos que a FIT não é um bloco de colaboração de classes, se diferenciando, portanto de uma “frente popular” com partidos burgueses. Dessa forma, em casos específicos, o apoio eleitoral crítico à FIT seria válido. Por outro lado, ela também não é, diferentemente do que a FT afirma em certas ocasiões (e nega em outras), um mero bloco eleitoral com o propósito limitado de viabilizar candidaturas proletárias nas eleições burguesas. Porém, como demonstramos naquela polêmica, o PTS pretende da FIT um trampolim para a unidade política com as outras correntes, especialmente o Partido Obrero de Jorge Altamira. O PTS frequentemente pressiona os outros grupos para manter essa unidade para além das eleições, na forma de uma frente permanente. De forma emblemática, reiteradas vezes o PTS e o MRT afirmaram encarar a FIT como uma “frente revolucionária”, como um embrião de um partido revolucionário.

Desde que escrevemos nossa crítica, tivemos muitas conversas com militantes da Fração Trotskista  no Brasil (então organizados na LER-QI) sobre esse assunto. Uma resposta que comumente recebemos foi de que a intenção do PTS não era se aproximar dos grupos revisionistas, mas que a FIT era uma “frente única”, uma simples colaboração prática, com o objetivo de superar a legislação eleitoral restritiva da Argentina, e concorrer às eleições com uma chapa classista. Significativamente, essa posição já foi divulgada pela seção alemã da Fração Trotskista, conforme apontamos em nossa polêmica anterior:

Outra característica importante para a formação da FIT é a questão de frentes eleitorais como uma frente única temporária baseada em acordos parciais em uma situação concreta, em oposição a projetos de longo prazo, baseados em acordos mais profundos em termos de programa, estratégia e prática. A FIT não é de forma alguma um projeto que foi designado em termos de um alinhamento de longo prazo do PTS com o PO, mas sobre a necessidade concreta de uma frente única dos trabalhadores contra a repressão burguesa…”. [3]

Certamente que não haveria nada de errado com isso, não fossem as afirmações claras do próprio PTS de que a FIT não é isso. Recentemente, a FIT tem passado por uma dura divisão em relação à formação da chapa para as eleições presidenciais. Nesse contexto, aqui está uma resposta da liderança do PTS à afirmação de Altamira (PO), feita no fim do ano passado, de que a FIT era uma “frente única”:

A FIT é um bloco de agitação de três partidos que se reivindicam trotskistas que defendem um programa de reivindicações transitórias, a independência da classe e propõem um governo dos trabalhadores. Isso não é uma ‘frente única’, e sim um reagrupamento de formações de esquerda que se reivindicam revolucionárias que ainda não são partidos grandes e seu objetivo é agitar um programa revolucionário em comum nos processos eleitorais. O programa da FIT, mais que o de ‘frente única’, abre o caminho para o debate da necessidade de um partido revolucionário, proposta que temos feito em várias oportunidades e à qual os nossos aliados lamentavelmente tem se negado sistematicamente.” (nossa ênfase)

O Partido Obrero no Luna Park e o discurso de Jorge Altamira, 9 de novembro de 2014. Disponível em:

http://tinyurl.com/ofbu7tt


Essa declaração da liderança do PTS deixa explícito aquilo que dizíamos, e que alguns militantes da FT sempre negaram: que a atuação do PTS na FIT é buscar a unidade, uma aproximação política, com correntes reconhecidamente oportunistas.

Outra resposta (verbal) que recebemos à nossa polêmica foi o reconhecimento de que, sim, a Fração Trotskista faz convites para discussões de unidade a essas correntes oportunistas (o que fica evidente lendo a citação acima). Mas que isso nada mais seria que uma “tática” para incidir sobre a base desses grupos. Ou seja, o objetivo seria mostrar que o PTS não se recusa ao debate, que não é um grupo sectário. Isso implicaria que a FT não pretende, de fato, unidade com os grupos que corteja, mas que afirma isso somente como uma forma de disputar seus militantes.

Temos sérios problemas com essa “explicação”. Antes de tudo, porque ela é dissimulada. A “tática” da FT seria desonesta com a base das correntes oportunistas ao proclamar uma coisa (o desejo de aproximação ou discussão de unidade) tendo outro interesse por trás. Além do mais, se realmente fosse essa a intenção da Fração Trotskista, essa seria uma “tática” muito ruim para o propósito de convencer esses militantes. A FT faz muitas críticas acertadas às posições oportunistas do PO e dos morenistas da Esquerda Socialista. Porém, joga fora a sua consistência quando, volta e meia, considera que eles “defendem um programa de reivindicações transitórias, a independência da classe e propõem um governo dos trabalhadores” (como afirma que fazem na FIT).

Para ganhar a base de um grupo oportunista, é necessário demonstrar cabalmente os problemas incorrigíveis da sua direção. Afinal, todo militante dedicado permaneceria em sua organização (mesmo que nela visse problemas e erros) se considerasse que eles são solucionáveis. Deve-se explicar calmamente à base dessas correntes como a política de seus dirigentes conduz ou conduziria o proletariado a derrotas, e não fazer concessões ou chamados de unidade. Como disse Trotsky, “Se um livro de física contiver, ainda que fosse só duas linhas sobre Deus como a causa primeira, estaria no meu direito concluir que o autor é um obscurantista” [4]. De nada adiantam as críticas muitas vezes corretas que a Fração Trotskista faz a esses grupos oportunistas se ela afirma (em bem mais de duas linhas) que os três partidos da FIT (Partido Obrero e Esquerda Socialista, além do próprio PTS) defendem um “programa revolucionário em comum” e então demanda unidade política com os mesmos.


Quantas vezes esses grupos não cruzaram a independência de classe? Vem à mente as várias vezes em que o PO apoiou candidaturas burguesas nas eleições [5]. Ou quando a IS defendeu a vitória de uma “revolução” em unidade com a OTAN na Líbia em 2011 [6]. Em 2012, o PO levantou no contexto da Grécia a proposta de um “governo da esquerda” para assumir o Estado burguês [7]. E que dizer então dos morenistas, que viram uma “revolução vitoriosa” no Egito enquanto os militares subiam ao poder em 2013 [8]? A FT conhece muito bem todos esses exemplos, pois os criticou. Portanto, a sua afirmação de que esses partidos defendem a “independência de classe” e “propõem um governo dos trabalhadores”, é umacapitulação centrista. Centrista porque, não obstante criticar tais grupos em diferentes ocasiões, são quase que periódicos os chamados à construção de organizações “revolucionárias” junto com eles, seja no âmbito argentino, via PTS, seja internacional. Veja-se esse exemplo de chamado do PTS, de 2009:

Na Argentina, o PTS está chamando as correntes trotskistas que não adotaram a política de dissolver-se ou de aliar-se com setores da centro-esquerda (como o Partido Obrero e aquelas que, como a Esquerda Socialista e o MAS, nas últimas eleições nacionais formaram junto com o PTS o FITS) a abrir a discussão para avançar na construção de um partido comum marxista revolucionário, com centralismo democrático, que supõe a liberdade de tendências, e numa intervenção comum na luta de classes, que permita mediante a experiência e a discussão, superar a dispersão atual das forças que nos reivindicamos do marxismo revolucionário.”

Que partido para qual estratégia?, 23 de fevereiro de 2009. Disponível em:
http://tinyurl.com/nef63aa

Ou, ainda mais significativa, a campanha iniciada pela Fração Trotskista cerca dois anos atrás, em prol de um “Movimento por uma Internacional da Revolução Socialista” (a qual ela acabou abandonando silenciosamente após certo estardalhaço de alguns meses). Essa campanha partia de um manifesto onde se chamava ao “reagrupamento” uma série de grupos oportunistas sem qualquer consistência, baseando-se em posições bastante isoladas acerca de uma série de fenômenos importantes da luta de classes que então ocorriam mundo afora, em especial aqueles relacionados à “Primavera Árabe” e à luta de classes na Grécia:

Chamamos especialmente os companheiros do Novo Partido Anticapitalista (NPA) da França, tanto os que integram conosco a ‘Plataforma Z’ como aqueles que se agrupam na ‘Plataforma Y’ (…) e os companheiros do ex-Secretariado Unificado (SU) de outros países que enfrentam a orientação majoritária de generalizar este tipo de blocos com reformistas (…); os companheiros do Partido Obrero da Argentina e a Coordenação pela Refundação da Quarta Internacional (CRCI), com quem integramos na Argentina a Frente de Esquerda dos Trabalhadores (FIT) e temos coincidido em diversos fatos da luta de classes nacional e internacional; os grupos da esquerda trotskista grega que combatem a adaptação ao Syriza; e a todas aquelas organizações da esquerda revolucionária ou da vanguarda operária e juvenil que busquem o caminho à revolução.”

Manifesto por um Movimento por uma Internacional da Revolução Socialista, agosto de 2013. Disponível em:http://tinyurl.com/qetl3tn

Em todos esses casos, a Fração Trotskista dizia querer construir um partido conjunto com as organizações revisionistas do trotskismo. Para nós, diferente das duas supostas explicações que mencionamos acima para esses chamados de aproximação e de unidade, há uma terceira que realmente faz sentido.

Alguns dirigentes da FT parecem compreender essas propostas como um tipo de “manobra”. Porém, essa manobra não pode ter a intenção de disputar a base das correntes oportunistas, pois o efeito só poderia ser enfraquecer suas críticas diante desse público, conforme explicamos. Essa manobra se destina aos próprios dirigentes dos grupos oportunistas, com o objetivo de atrair essas correntes a uma aproximação. Daí o seu formato mais comum ser uma carta ou carta aberta, com a intenção de pressionar os dirigentes a debater o assunto. Por sua vez, muitos militantes da Fração Trotskista ou ignoram a existência desses chamados ou são convencidos pela desculpa de que se trata de “táticas” para disputar a base dos centristas.

Os líderes da FT estão errados em achar que podem manobrar ou influenciar os dirigentes de grupos oportunistas a uma fusão onde seu programa tenha alguma chance de prevalecer. Via de regra, esses dirigentes são muito pouco ingênuos e bastante experientes nesse tipo de jogada. Além disso, fazer essa aposta implica também acreditar na capacidade desses dirigentes de efetivamente assumir o programa do marxismo revolucionário, ainda que sob algum tipo de indução ou pressão, o que é uma ilusão. Como apontamos em nossa polêmica de dois anos atrás, essa era precisamente a expectativa dos velhos pablistas com relação aos stalinistas e reformistas, com a diferença de que a FT quer fazer isso com grupos da “família trotskista”.

Hoje o PO argentino, ontem o PSTU brasileiro

Se hoje em dia o PTS faz elogios e propostas de unidade ao PO/IS, enaltecendo a FIT enquanto um bloco com um “programa revolucionário em comum”, quase dez anos atrás a FT preferia fazer isso com os morenistas do PSTU brasileiro. Daí a “carta aberta aos militantes do PSTU e da LIT”, que eles publicaram em 2006: 

Nossa corrente, assim como a LIT, vem corretamente criticando o giro à direita da maioria das correntes do trotskismo internacional, fenômeno que vocês chamam de ‘vendaval oportunista’. (…) Recentemente, o PO dá passos no mesmo caminho e chama a votar na Frente Popular de Evo Morales na Bolívia, e depois, em Romano Prodi na Itália. Consideramos que, assim como nós, os companheiros do PSTU e da LIT tiveram o mérito de não cometer nenhuma dessas capitulações citadas e são esses acordos políticos que nos levam a propor abrir uma discussão nacional e internacional.”

Carta aberta aos militantes do PSTU e da LIT, 5 de maio de 2006. Disponível em:
http://tinyurl.com/opzzca6

Isso só mostra que não se trata de um fenômeno novo ou isolado. Em 2014, os companheiros da FT aparentemente haviam “se esquecido” dessas posições oportunistas do PO e afirmaram que ele defendia a independência de classe e um governo de trabalhadores. Em 2006, por sua vez, a antiga LER-QI “se esquecia” de toda a história oportunista do morenismo, seu apoio também recorrente a frentes populares com a burguesia, incluindo o PT brasileiro, que o PSTU havia apoiado eleitoralmente apenas quatro anos antes [9]. A então LER-QI via “acordos políticos que nos levam a propor abrir uma discussão nacional e internacional” com os morenistas.

Certamente as intenções da FT foram frustradas com o giro à direita no próprio PSTU, que nos últimos anos apoiou uma série de quedas de governo hegemonizadas por partidos burgueses ou pelo próprio imperialismo como supostas “revoluções democráticas vitoriosas” (Líbia, Ucrânia, duas vezes no Egito). Mas podemos seriamente esperar que esses chamados de unidade não voltarão a se repetir diante de um realinhamento político? Os revolucionários precisam ser a “memória política” da vanguarda proletária para orientá-las diante das armadilhas reformistas e oportunistas. Mas nesse caso, a FT não lembrava (ou melhor, fingia não lembrar – o que é ainda pior) do que eles próprios escreveram.

Há algo de novo na criação do MRT?

A recente transformação da LER-QI em MRT indicou uma intenção em realizar um giro de massas, dando um salto qualitativo em sua situação organizativa, a qual ainda era em grande parte a de um grupo de propaganda. Isso implicou também a transformação do site da organização num portal de notícias mais amplo, o Esquerda Diário[10]

Em seu congresso (julho passado), o MRT deu uma nova forma a esse giro através de sua decisão de pedir o ingresso no PSOL. Depois dos últimos resultados eleitorais do PSOL, o MRT considerou-o como “um partido que pode expressar crescentemente parte importante das tendências de massas que se desenvolverão à esquerda da crise do PT” [11]. Ao pedir sua entrada à direção do partido, o MRT fez algumas críticas ao rumo que ela tem tomado, apontando como tem sido incapaz de tirar vantagem do enorme desgaste do PT com a classe trabalhadora e outros setores populares, e expressando em seguida o desejo de tornar-se uma tendência interna com liberdade programática. A direção do PSOL recusou a entrada do MRT até esse momento, apontando que ela só poderia dar-se por aprovação do congresso partidário em 2016, o que o MRT denunciou como antidemocrático. Isso fez com que lançasse uma campanha pelas redes sociais com o slogan #MRTnoPSOL.

Não há nenhuma questão de princípios que impeça a entrada (temporária) de organizações que se reivindicam revolucionárias em partidos reformistas mais amplos, como uma tendência de esquerda. Os trotskistas europeus e americanos, por exemplo, realizaram nos anos 1930 um movimento (que ficou conhecido como “entrismo”) de adesão organizativa aos partidos socialdemocratas de massas, que recentemente haviam ganho muitos setores jovens e radicalizados da classe trabalhadora. Somos contra a crítica ultraesquerdista que considera qualquer tática dessa natureza como uma “traição” imediata.

Porém, é inegável que há entradas oportunistas, assim como revolucionárias. O objetivo dos trotskistas com táticas de entrada é polarizar um setor ao redor do programa revolucionário para posteriormente construir um partido marxista independente. Nisso, como sempre, é preciso plena independência programática do oportunismo. Um exemplo pela negativa é a atuação de muitas correntes da ala de esquerda do próprio PSOL (algumas das quais se reivindicam trotskistas). Apesar de criticarem os passos mais abusivos da direção desse partido em questões de falta de democracia interna e posturas oportunistas de colaboração de classe (dentre as quais está, mais recentemente, de querer fazer uma “frente de esquerda” com o PT/PCdoB e outros partidos burgueses [12] [ver o ADENDO ao final deste artigo para os fatos mais recentes]), acabam se adaptando a uma convivência com tal direção.

As principais correntes que compõem o “bloco de esquerda” do PSOL chamaram a votar na candidata do partido, Luciana Genro, mesmo sabendo que ela havia recebido financiamento de campanha de empresas. Também fazem elogios e uma verdadeira tietagem com figuras parlamentares como Marcelo Freixo, cujas posições políticas passam longe de qualquer ideal socialista. Veja-se o “apoio crítico” que Freixo deu ao projeto das UPP e a propaganda eleitoral que fez para Dilma no segundo turno das eleições em 2014.

O que surpreende na decisão do MRT de entrar no PSOL é porque se dá num momento em que nenhum setor combativo da juventude ou da classe trabalhadora brasileira caminha em direção a esse partido. Os movimentos de “entrismo” originais foram motivados por uma grande leva de militantes radicais (assim como de jovens e interessantes grupos centristas) que adentravam a socialdemocracia. Nenhum movimento desse tipo existe no PSOL brasileiro nesse momento.

O crescimento eleitoral (pouco expressivo) do PSOL foi o principal argumento usado pelo MRT para sua decisão. Mas esse resultado não implicou, nem necessariamente o fará, nenhuma perspectiva de crescimento qualitativo do seu corpo militante (em número e em radicalidade política), que é o que interessa para construção do partido. As correntes que se reivindicam “trotskistas” no PSOL estão adaptadas à direção do partido, conforme ficou patente com o seu respeito à disciplina partidária mesmo depois que o último congresso foi ganho com base em delegados eleitos fraudulentamente pela corrente majoritária de Randolfe Rodrigues.

Impressiona também a mudança de tom do MRT com relação ao PSOL. Em dezembro de 2013, a então LER-QI afirmava com bastante certeza que, embora pudesse crescer eleitoralmente, o PSOL só poderia aprofundar o seu eleitoralismo, que era “incapaz de romper com a tradição petista”: 

O PSTU faliu como alternativa revolucionária, e o PSOL…. nunca se colocou essa perspectiva. Quando dizemos que faliram, não quer dizer que não podem até vir a crescer (coisa que não se deu qualitativamente pós junho), por exemplo, capitalizando eleitoralmente (nas eleições burguesas, mas também nos sindicatos) a mudança da consciência das massas pós junho. Mas isso se dará aprofundando os problemas que aqui apontamos, pois não poderão resistir às pressões de adaptação, como se expressou em junho, pois fazem parte de uma tradição arraigada. (…) E seguirá sendo assim, pois são incapazes de romper com a tradição petista, o que só poderia se dar fazendo uma ruptura com sua própria tradição, marcada pelo sindicalismo e eleitoralismo.”

O PSOL e o PSTU não passaram a prova de junho, 11 de dezembro de 2013. Disponível em:http://tinyurl.com/obadk2y

Agora, parece que é fundamental que o PSOL “concentre forças” a favor da classe trabalhadora, o que é apresentado com uma aposta válida, na qual os revolucionários deveriam colocar esforços:

Para que a luta dos trabalhadores seja consequente, é necessário que o PSOL, com seus militantes e parlamentares, concentre forças a favor das lutas e da organização da classe trabalhadora e da juventude, abrindo portas para as organizações revolucionárias que queiram fazer parte dessa perspectiva.”

Manifesto do MRT em campanha pelo #MRTnoPSOL, 6 de agosto de 2015. Disponível em: http://tinyurl.com/og75csl 

É claro que não há como saber de antemão como será (caso seja concretizada) a atuação da tendência do MRT no PSOL. Mas com base na sua estratégia centrista de buscar unidade com correntes oportunistas, imaginamos que não se daria no sentido de polarizar um setor do partido contra a direção (e de forma independente do atual “bloco de esquerda”). Ao contrário, podemos prever chamados de unidade a certas correntes revisionistas da “família trotskista” da esquerda do partido, semelhantes aos que a Fração Trotskista já faz regularmente do lado de fora. Inclusive, uma das correntes do “bloco de esquerda” do PSOL é a morenista CST (Corrente Socialista dos Trabalhadores), organização irmã da IS argentina à qual o PTS já endereça os seus chamados.

Apesar do seu novo nome, o MRT brasileiro é herdeiro dessa política, já que nunca fez uma crítica à mesma, demonstrando claro alinhamento com a linha centrista da direção internacional da FT. Assim como todos os centristas que oscilam entre uma política pretensamente revolucionária e posições abertamente oportunistas, também a FT realiza vaivéns na sua posição em relação aos grupos revisionistas do trotskismo. Ora crítica acertada, ora capitulação e desejo de unidade. Mas não se pode reconstruir a Quarta Internacional com “manobras” desse tipo. Somente uma crítica certeira e consistente ao oportunismo pode avançar para a reconstrução do partido mundial da revolução socialista.

ADENDO

Desde que a versão preliminar deste artigo ficou pronta, o PSOL formou a “Frente Povo sem Medo”, em conjunto com o MTST e setores governistas do PT e do PCdoB, organizados na CUT, na CTB, na UNE, e em outros agrupamentos menores. O objetivo dessa frente seria o de enfrentar as medidas de austeridade do governo e a ameaça de impeachment que a direita está lançando contra ele, mas blindando Dilma e o PT, ao focar as críticas somente em Levy (como se fossem coisas diferentes!). Em resposta a esse giro à direita por parte do PSOL, o MRT deixou de lado a postura mais “branda” que vinha adotando e lançou duras críticas ao partido [13]. Ademais, parece ter removido de sua agitação cotidiana a campanha #MRTnoPsol, que vinha priorizando em sua atuação pública. Não podemos prever de antemão se o MRT irá manter o pedido de entrada no PSOL ou se presenciaremos um novo zigezague na orientação política dessa organização, mas está clara a confusão que gera a sua orientação estratégica que aqui criticamos.

NOTAS

[1] Fração Trotskista e sua ruptura incompleta com o morenismo (maio de 2013). Disponível em: http://tinyurl.com/nkbz9bl

[2] Nós do Reagrupamento Revolucionário possuímos com as companheiras e companheiros do MRT outras diferenças estratégicas que nos separam. Desde 2013, algumas de nossas diferenças políticas se aprofundaram ou se mantiveram, sobretudo com relação à política nos processos de guerra civil e intervenção imperialista no Oriente Médio e Norte da África (caso da Líbia e da Síria), onde observamos um abandono do princípio de defesa das nações oprimidas e uma aproximação com o oportunismo morenista de apoiar setores desse processo independentemente de seu conteúdo de classe. Veja Os rebeldes na Líbia e na Síria e a posição revolucionária (janeiro de 2014), disponível em http://tinyurl.com/oubqhar . E também em questões nacionais, como quando a então LER-QI chamou “voto crítico” no PSTU “onde este partido não estivesse coligado com o PSOL” (nacionalmente). Isso sendo que o PSTU estava coligado com o PSOL nos principais estados do país, inclusive em São Paulo e, no Rio Grande do Sul, onde era parte de uma campanha que recebeu dinheiro de financiamento capitalista. Veja Os comunistas e as eleições de 2014(setembro de 2014), disponível em: http://tinyurl.com/oh34asr .

[3] A campanha eleitoral da FIT na Argentina, 27 de julho de 2011, disponível em inglês em: http://tinyurl.com/no6ebjg

[4] De um arranhão ao perigo de gangrena (janeiro de 1940). Disponível em: http://tinyurl.com/pwue93x

[5] Conforme nossa crítica em PCO, Partido Obrero e as frentes populares (fevereiro de 2013). Disponível em:http://tinyurl.com/n9r9zbg

[6] La revolución árabe y el final de Kadafi. 

Disponível em: http://tinyurl.com/p8twb53 Para nossa crítica à posição semelhante tomada pelo PSTU brasileiro, ver PSTU, Fração Trotskista e a defesa da Líbia contra o imperialismo (novembro de 2011), disponível em:http://tinyurl.com/od7f3e5

[7] La pulseada entre el FMI y Syriza. Disponível em: http://tinyurl.com/ngbjezc Para a crítica publicada pelo PTS argentino, ver Los revolucionarios y la cuestión del “gobierno de izquierda”, disponível em: http://tinyurl.com/oao8toq

[8] Egipto: la movilización revolucionaria derribó a Mursi! Disponível em: http://tinyurl.com/pac6u7n Para nossa crítica à posição semelhante tomada pelo PSTU brasileiro, ver O golpe militar no Egito e a posição escandalosa do PSTU/LIT (outubro de 2013), disponível em:http://tinyurl.com/o6vjpnh

[9] PSTU chama voto em Lula (outubro de 2002). Disponível em: http://www.pstu.org.br/node/3435 Para uma crítica nossa à prática do morenismo e do PSTU em apoiar frentes populares, ver PSTU “justifica” seu bloco com PSOL e PCdoB (agosto de 2012), disponível em:http://tinyurl.com/qbau88k

[10] O MRT está claramente experimentando neste giro. Pouco antes da mudança de nome, havia dado um tom muito mais superficial aos materiais publicados em seu jornal Palavra Operária – um clássico erro em tentar atingir as massas reduzindo o programa, contra o qual Trotsky advertira seus camaradas franceses em 1935 (em um texto que recomendamos fortemente aos membros do MRT e do qual citamos abaixo um trecho). Depois, extinguiram o jornal impresso para lançar o portal de notícias online Esquerda Diário, tendo apenas recentemente voltado com uma versão impressa do Palavra Operária, dessa vez com um tom mais parecido com o original, com matérias se diferenciando de grupos adversários e fazendo polêmicas.

Mas, muito frequentemente, a impaciência revolucionária (que facilmente se transforma em impaciência oportunista) leva à seguinte conclusão: as massas não vem até nós porque nossas ideias são complicadas demais e nossas palavras de ordem avançadas demais – ou seja, deve-se jogar fora alguns entulhos. Basicamente, isso significa: nossas palavras de ordem devem corresponder não à situação objetiva, não à relação de classes analisada pelo método marxista, mas a observações subjetivas (e extremamente superficiais e inadequadas) sobre o que as “massas” podem e não podem aceitar. Mas quais massas? A massa não é homogênea. Ela se desenvolve. Ela sente a pressão dos eventos. Ela aceitará amanhã o que não aceita hoje. Nossos quadros vão desbravar o caminho com crescente sucesso para nossas ideias e palavras de ordem, as quais vão se mostrar corretas porque são confirmadas pela marcha dos eventos e não por observações subjetivas e pessoais.” (Leon Trotsky, O que é um jornal de massas? Novembro de 1935, disponível emhttp://tinyurl.com/pqou98n)

[11] Congresso do MRT aprova proposta de entrada no PSOL, 20 de julho de 2015, disponível em: http://tinyurl.com/q5466nb .

[12] Negociação avança e frente de esquerda é batizada de “Grupo Brasil”, 27 de junho de 2015, disponível em:http://folha.uol.com.br/#noticia/567616

[13] Uma Frente pra deixar Dilma e o PT sem medo, de 13 de outubro de 2015, disponível em:http://www.esquerdadiario.com.br/Uma-frente-pra-deixar-Dilma-e-o-PT-sem-medo

FCT: um ótimo exemplo de como NÃO construir um partido

A Frente Comunista dos Trabalhadores: um ótimo exemplo de como NÃO se deve construir um partido

Pedro Abreu, setembro de 2015

Recentemente, diversas pequenas correntes pretensamente revolucionárias da esquerda brasileira se uniram, depois de formar um “Comitê Paritário”, numa organização chamada Frente Comunista dos Trabalhadores (FCT). São elas a Liga Comunista, o blog Espaço Marxista, a Tendência Revolucionária (corrente interna do PSOL), o Coletivo Socialistas Livres [*]e os nossos velhos conhecidos do Coletivo Lenin [1]. A base política dessa unidade é expressa por seus membros mais ou menos da seguinte forma:

1) No segundo turno das eleições presidenciais defendemos o voto em Dilma para derrotar Aécio e a direita golpista, manipulados pelo imperialismo, e fizemos a crítica ao voto nulo sectário da esquerda (PSTU, PCO, PSOL, PCB, etc.). O voto na candidatura de Dilma no segundo turno não implicou em qualquer acordo com o programa burguês desta candidatura, nem qualquer apaziguamento de nosso combate contra seu governo neoliberal. O giro à direita no governo Dilma, produto da pressão golpista, já havia sido previsto por nós ainda durante a campanha. Nossa defesa heterodoxa do voto em Dilma segue a nossa política geral de combate ao golpismo pró-imperialista e se inspira na política dos bolcheviques de “apoiar a burguesia contra o tzarismo (na segunda fase das eleições ou nos empates eleitorais, por exemplo) e sem interromper a luta ideológica e política mais intransigente contra o partido camponês revolucionário burguês, os ‘socialistas revolucionários’, que eram denunciados como democratas pequeno-burgueses que falsamente se apresentavam como socialistas.” (Lenin, “Nenhum Compromisso?” em Esquerdismo: Doença Infantil do Comunismo, 1920).

2) A atual articulação golpista no Brasil é movida diretamente pelo imperialismo, no Brasil, como na Venezuela e Argentina, a exemplo dos golpes já impostos em outros países da América Latina, como Honduras e Paraguai). As experiências recentes “bem-sucedidas” ou parciais na Líbia, Síria, Ucrânia, demonstram que o imperialismo não se furta de recorrer ao armamento de mercenários, bandos fascistas e massacres sangrentos para impor seus objetivos. Trata-se de um contra-ataque para recuperar o terreno perdido após a crise de 2008 para o bloco capitalista Eurásico, nucleado a partir da expansão comercial da China e da Rússia. Trata-se de uma nova guerra fria que atravessa todos os atuais conflitos de envergaduras mundiais, como a reorientação da tática dos EUA em relação a Cuba, tentando simultaneamente cooptar a burocracia dirigente do Estado operário com o fim do bloqueio e acelerar a restauração capitalista.

3) Mesmo que a primeiro momento o Golpe de Estado não se apresente na forma de um golpe militar, mas como um “golpe parlamentar”, um impeachment articulado entre o Legislativo e o Judiciário para estrangular uma Dilma cada vez mais isolada, qualquer que seja sua forma inicial, o resultado do processo será de maior repressão militar e policial contra a esquerda em geral e a população trabalhadora e oprimida nacional, para derrotar qualquer foco de resistência à recolonização imperialista do Brasil.

Socialistas Livres ingressam no CP, 22 de março de 2015.
http://lcligacomunista.blogspot.com.br/2015/03/socialistas-livres-ingressam-no-cp.html

A FCT adotou o jornal que até então era da Liga Comunista – a Folha do Trabalhador. No entanto, os grupos mantiveram suas páginas na internet e publicações próprias. Nós do Reagrupamento Revolucionário não concordamos nem com a plataforma de união dessa nova organização e tampouco com o método usado para impulsionar tal unidade. Ambos oferecem um exemplo de como não proceder na luta pela construção de um partido revolucionário.

Uma “unidade” enganosa

Não é preciso ser nenhum grande observador para perceber que a esquerda mundial, em especial a que se reivindica revolucionária, está atomizada e isolada, com diversas pequenas organizações envoltas em polêmicas intermináveis, muitas com desonestidade e burocratismo. Nós do RR também reconhecemos esse cenário (e a necessidade de sair dele). Mas de qual forma? Para contribuir com o ressurgimento de uma organização revolucionária internacional em meio a muitas variantes oportunistas e centristas, é necessário defender intransigentemente um programa revolucionário coerente. Estamos de acordo com a tradição política do marxismo revolucionário que luta para construir o partido através da hegemonia do programa revolucionário na vanguarda, disputando-a politicamente com o revisionismo. Não desejamos uma “unidade” que esconda diferenças programáticas importantes, acordos que isentam de críticas os “aliados” reais ou desejados. O isolamento não é nenhuma virtude, mas tampouco o é uma “unidade” artificial, que é só o que esses métodos podem produzir.

O método empregado na construção da FCT não é novo. Já existiram inúmeros casos de organizações que se agruparam em torno de programas de “menor denominador comum” e invariavelmente esses blocos terminaram em fracasso [2]. Existem diversas táticas para a construção do partido, mas elas não devem nunca envolver negociações de programa ou se basear em alguns poucos pontos de conjuntura, que nada revelam do método e das perspectivas dos distintos grupos. Todas as organizações que compõem a FCT apresentam uma série de divergências. Vamos mencionar apenas algumas mais aparentes e graves, que mostram que não foi feito qualquer esforço de chegar a um acordo político mais profundo sobre importantes questões políticas.

A Tendência Revolucionária/PSOL foi (com razão) contrária ao voto em Dilma Rousseff no segundo turno [3], posição oposta à dos demais grupos da FCT. Isso não configuraria um “voto nulo sectário da esquerda” (conforme afirmou o Coletivo Socialistas Livres)? O Coletivo Socialistas Livres, diferentemente dos outros grupos da FCT, não defende o centralismo democrático [4]. Portanto, sequer existe um acordo sobre qual deve ser o formato da “organização”. O blog Espaço Marxista fala dos “esforços (antigos!) dos EUA no sentido de fazer soçobrar a Revolução Bolivariana” [5], mas essa “revolução” não é reconhecida pela Folha do Trabalhador e rejeitada pelos companheiros do Coletivo Lenin. Por meio dessa posição, seria possível deduzir que a FCT aposta tanto em uma revolução socialista contra o Estado burguês quanto na possibilidade de uma estratégia “bolivariana”. O Coletivo Lenin afirma ser contra a reivindicação de “melhores condições” para os policiais militares e civis, mas o Coletivo Socialistas Livres defende melhorias para os agentes armados do Estado burguês [6].

Como uma organização construída com base em tantas diferenças pode intervir com coesão nas lutas de classes? Por enquanto, o método da FCT tem sido o de colocar as divergências para debaixo do tapete. A FCT se reivindica enquanto uma “organização com tendências”. Mas obviamente não se tratam de tendências temporárias surgidas de divergências conjunturais. As “tendências” da FCT são a continuidade dos seus grupos formadores, cada um com sua coleção de posições políticas distintas entre si. Que diferença existe entre uma “unidade” aonde cada grupo possui posições próprias e a não-existência da unidade? De fato, a FCT é muito mais um “guarda-chuva” de organizações que mantém sua existência separada (algumas na mesma cidade!) para parecer um bloco de maior tamanho. A sua “unidade” baseada em alguns pontos não é suficiente para sustentar uma organização séria. Um documento interno publicado recentemente por alguns companheiros do Coletivo Lenin confirma esse diagnóstico:

A FCT está hoje presente em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Ceará. É uma organização com tendências.
      Esperamos ter deixado claro que a FCT não é uma organização. A mera existência desse documento prova que não pode haver organização enquanto as divergências não forem devidamente discutidas. E também sobre como funcionaria tal organização visto que as divergências não serão sanadas na base do convencimento.
 “A FCT possui mais de seis meses de existência. Internacionalmente, a FCT é seção do Comitê de Ligação pela IV Internacional, tendência internacional composta também pelo Socialist Fight britânico e pela Tendência Militante Bolchevique argentina com que as tendências da FCT passam a estabelecer relações fraternais.
     Há algo de “longe demais” neste trecho. A FCT, além de organização, é agora uma seção nacional de um Comitê que nunca tivemos qualquer contato antes da FCT. Relação de seção é algo muito sério que não pode ser simplesmente estabelecido com uma frente. A frente está aberta para qualquer militante ou organização que tenha acordo com os seus princípios mínimos, mas não está aberta para se tornar seção de outra organização. Além disso, o Coletivo Lenin não passou a estabelecer relações fraternais com quaisquer dessas organizações. Essa discussão não foi levantada dentro do CL. Relações fraternais, apesar do nome legal, exigem de fato, relações fraternais e não somente reconhecimento público. Pouco conhecemos do programa e atuação de tais organizações. E do que conhecemos, temos sérias discordâncias.

O que é e para onde vai a FCT?, 14 de agosto de 2015.
http://coletivolenin.blogspot.com.br/2015/08/o-que-e-e-pra-onde-vai-frente-comunista_14.html

Nós, enquanto revolucionários, defendemos a fusão com outras organizações sempre sobre marcos de programa bem claros e amplamente discutidos. Organizações devem se fundir quando as diferenças existentes entre elas não justificam que continuem existindo separadamente, podendo ser resolvidas ao longo do trabalho político conjunto. Esse claramente não é o caso do que acontece com a FCT, aonde o desejo de se agrupar, impulsionado por marcos programáticos insuficientes (e errados, como explicaremos a seguir), se sobrepõe à defesa coerente do programa marxista, ou de qualquer programa coerente, por sinal.

Um “programa” enganoso

Agora que já explicamos nossas diferenças com o método de construção de partido empregado pela FCT, vamos criticar os pontos de unidade desse agrupamento. Começaremos pelo voto crítico em Dilma Rousseff no 2º turno das eleições presidenciais de 2014. A premissa desse apoio é que a vitória eleitoral do PT/PMDB viria a conter profundos ataques à classe trabalhadora e aos setores oprimidos da população em geral. Será que é isso que verificamos desde então? Em um momento em que presenciamos a mais brutal onda de ataques aos direitos trabalhistas desde o golpe de 1964, acompanhada de profundos cortes nas políticas sociais (educação, saúde, transporte, moradia) nem a própria FCT é capaz de sustentar tal absurdo. Porém, mais uma vez utilizam o argumento do “golpismo” para explicar tal realidade, negando assim o inteiro comprometimento do PT (que tem protagonizado muitos desses ataques) com a agenda burguesa: “o giro à direita no governo Dilma, produto da pressão golpista, já havia sido previsto por nós ainda durante a campanha”. Mesmo que esse argumento de “causa externa” para os ataques do PT aos trabalhadores fosse válido, a reeleição de Dilma alterou alguma coisa, seja em termos dos ataques em si ou do fortalecimento dos direitistas? Valeu a pena orientar o proletariado a escolher essa candidatura? É impossível que se dê resposta afirmativa a essas perguntas.

Os imperialistas podem hipoteticamente preferir a direita no poder, mas não tem tido nenhum atrito significativo com o governo petista nos últimos 12 anos, e este tem cumprido bem os planos da burguesia. O que a FCT nunca explica é como o seu voto em Dilma impediu o fortalecimento dos direitistas. Desde sua eleição, tudo que o governo fez lançar ataques reacionários contra a classe trabalhadora e levar adiante um “ajuste” draconiano. Nada faz para evitar o crescimento desses setores, ao contrário: se aliou a boa parte deles (a começar pelo PMDB) para garantir a sua “governabilidade”. É senso comum achar que o “voto no PT” é derrotar a direita, mas os marxistas, que veem o conteúdo de classe de ambos os projetos sabem que isso nada mais é que um mito.

Para tentar justificar essa capitulação induzida pelo medo do crescimento da direita, a FCT faz um falso uso da literatura marxista. Cita Lenin quando ele lembrava aos “esquerdistas” alemães que os bolcheviques já haviam feito alguns blocos de colaboração prática com partidos camponeses, partidos oportunistas da classe trabalhadora e mesmo apoiado o partido da burguesia liberal (Cadetes) contra o czarismo no segundo turno eleitoral (em 1905!).

Esquecem que nesse período os bolcheviques e a maioria dos socialdemocratas de esquerda não tinham clareza sobre o caráter da revolução russa e previam uma revolução democrático-burguesa. Lembramos também que o marxismo apoiou condicionalmente a burguesia nas revoluções democráticas contra a reação monárquica ou feudalno século XIXEssa é precisamente a diferença. Onde, no Brasil de 2014 (!), estava a reação feudal ou monárquica? Ambos o bloco PT/PMDB e a oposição PSDB/DEM eram burgueses. A Quarta Internacional foi construída em cima da clareza de que não há mais revoluções democrático-burguesas na época imperialista e que as tarefas históricas “não resolvidas” (ou resolvidas de forma incompleta) tem de ser solucionadas pela revolução proletária. Por isso mesmo, Trotsky sempre denunciou o “apoio tático” a frentes populares ou quaisquer blocos burgueses como uma forma de encobrir capitulações [7]Tudo isso é esquecido pela FCT.

Intimamente relacionada com essa posição está a estimativa de que se aproxima um golpe de Estado contra o governo do PT. É inegável que a oposição de direita tem se fortalecido há mais de um ano. A sordidez das suas táticas e sua infiltração no Poder Judiciário e no Parlamento (ajudadas pelos “aliados” direitistas do PT) tornam possível uma tática de impeachment. Nesse momento, porém, a oposição está dividida entre pressionar o governo pelas medidas de “ajuste” que a burguesia brasileira precisa, e o “plano B” de forçar a saída da presidente. É evidente que essa seria uma jogada reacionária para o caso de o PT não conseguir cumprir bem o papel que a burguesia lhe confiou.

Porém, um impeachment é diferente de um golpe militar armado. Para este não existe conjuntura, uma vez que as cúpulas militares permanecem inativas e majoritariamente indiferentes a essa disputa [8]. A própria FCT muda a todo tempo sua caracterização: falava de “golpe de Estado” na época das eleições para depois falar de “golpe parlamentar” ou simplesmente de impeachment.Evidentemente, não fez um balanço público, que seria a atitude honesta. Isso demonstra que o essencial para a FCT não é uma análise acertada da conjuntura, mas sim justificar a sua política de frente com o PT em todos os casos. Inclusive nas eleições (que não são nem golpe, nem impeachment), o voto em Dilma “segue a nossa política geral de combate ao golpismo pró-imperialista” (como?). Nessa mesma linha, a FCT propõe uma “frente única anti-imperialista” mundial:

A presença de um núcleo burguês em contrapeso aos EUA [China e Rússia] potencializa lacunas em todo o sistema mundial, e objetivamente cria contradições que podem ser vantajosamente exploradas para a causa do proletariado internacional e todos os povos oprimidos sem por isso deixarmos de fazer a defesa intransigente da independência de classe e não depositarmos expectativas que qualquer fração da burguesia mundial possa realizar as tarefas históricas progressivas a serviço do progresso da humanidade. A FCT luta por uma frente única anti-imperialista unindo os BRICS, os bolivarianos, Estados operários remanescentes, o nacionalismo islâmico, o Irã, africanos e terceiro mundistas sempre que estiverem sob o ataque ou em contradição com o imperialismo.

Frente Comunista dos Trabalhadores: quem somos e pelo que lutamos, 16 de agosto de 2015
http://coletivolenin.blogspot.com.br/2015/08/frente-comunista-dos-trabalhadores-quem.html

Essa “frente única” (as aspas não são acidentais) é uma falácia. Primeiro porque a FCT é um pequeno grupo com alguns militantes. Não acontecerá nenhum acordo para fins práticos (frente única) entre qualquer dessas forças mundiais e a FCT. Isso não é impedimento, é claro, para tomar a defesa das nações oprimidas sob intervenção imperialista, por exemplo, ou combater um golpe de Estado na mesma fileira que forças burguesas que eventualmente também se oponham (e delas se delimitando politicamente).

Mas a proposta de “frente única” da FCT não aponta nenhum objetivo concreto, nem uma situação específica. Ela seria uma frente sem data, sem local, sem objetivo imediato, para “lutar contra o imperialismo” em geral, “unindo” uma série de governos burgueses. Apesar de dizer que não deposita expectativas, essa proposta ampla implica que a FCT espera que essas forças burguesas (BRICS, bolivarianos, nacionalismo islâmico, Irã, terceiro-mundistas etc. etc.) podem conduzir lutas “anti-imperialistas”. O blog Espaço Marxista chega a afirmar explicitamente que governos como o de Assad, na Síria, são “anti-imperialistas” [9]. A FCT como um todo espera se apoiar no “bloco capitalista Eurásico”, o qual imagina que irá se confrontar com o imperialismo americano, como uma oportunidade para avançar “a causa do proletariado e dos povos oprimidos”.

Qual postura a FCT indicaria para os revolucionários no Irã, na Síria, na Venezuela, na Rússia? Aparentemente que busquem formar frentes com as lideranças burguesas “sempre que estiverem sob o ataque ou em contradição com o imperialismo”. Mas e durante a maior parte do tempo (de fato 99% do tempo, ou talvez todo) em que essas forças estiverem conduzindo a política imperialista (e não resistindo a aspectos secundários da mesma)? O principal na declaração não é construir o partido, consolidar as forças proletárias, temperá-las na independência contra qualquer setor da burguesia. O elemento principal é formar a suposta “frente única anti-imperialista” unindo governos capitalistas. E para qual tarefa específica (além da suposição de que esses governos vão se enfrentar com o imperialismo)? Nunca somos informados de forma concreta. Porém, no caso brasileiro, já vimos como tal “frente única” se expressou em, por exemplo, dar apoio eleitoral ao PT.

A proposta da FCT transforma posições táticas circunstanciais, como a de eventualmente tomar o mesmo lado militar que essas forças para defender uma nação atacada pelo imperialismo ou lutar contra um golpe antidemocrático, em uma orientação estratégica de fazer bloco com setores burgueses. Algumas vezes, FCT revela sua capitulação na forma mais crua, como quando o seu Comitê de Ligação pela Quarta Internacional (CLQI) embelezou o exército pró-Rússia dos separatistas do leste da Ucrânia:

 A grande base trabalhadora dos exércitos de Donbass deseja o socialismo e as relações de propriedade nacionalizada que existiam nos dias da URSS, quando as condições de vida dos trabalhadores eram muito melhores e os oligarcas capitalistas não haviam tomado toda a riqueza coletiva do país, com o apoio de Yeltsin e dos EUA.

Ucrânia: O império contra-ataca, 21 de março de 2015.
http://lcligacomunista.blogspot.com.br/2015/03/ucrania-o-acordo-de-minsk-e-queda-de.html

Não temos informações diretas do fronte para fazer uma avaliação tão precisa do que a base do exército deseja (e duvidamos que a FCT tenha). Porém, sabemos que há uma poderosa influência pró-Rússia, assim como um enorme saudosismo nacionalista/stalinista nesse exército. Defendemos o direito da população de fala russa do leste da Ucrânia se separar, especialmente diante da poderosa russofobia desencadeada com a chegada de setores protofascistas ao poder depois do “EuroMaidan”. Esse é um direito democrático básico. Porém, não temos nenhuma ilusão em algum caráter “socialista” dos exércitos dessas Repúblicas, que estão politicamente alinhadas com o governo russo.

No quadro geral, todo o conteúdo político do “programa” da FCT é chamar uma “frente única” (recorrente e sem objetivos concretos) com setores da burguesia nacional e internacional (neles gerando expectativas). Seu objetivo político utópico é a consolidação de um bloco burguês “alternativo” a nível mundial.

A nova encarnação de um cadáver político

Todos que acompanham nossas publicações sabem da nossa origem. O Reagrupamento Revolucionário no Brasil surgiu de um racha do Coletivo Lenin em 2011. Vale a pena recontar essa história, especialmente quando fica claro o quanto nossos grupos se distanciaram desde então. O Coletivo Lenin surgiu em 2009 e adotou um programa baseado na tradição da Tendência Bolchevique Internacional (TBI), que ele considerava a melhor atualização do programa trotskista. Após uma longa e frustrante discussão com a TBI, que culminou com essa se revelando uma seita desonesta [10], o CL passou por um processo de disputa interna. A ala majoritária defendeu o abandono do programa original da organização e rejeitava elementos fundamentais do trotskismo. Uma tendência minoritária foi contra tal mudança. 

Essa minoria acabou rompendo com o Coletivo Lenin e fundindo com o RR estadunidense no mesmo ano, com o qual o CL havia antes estabelecido relações fraternais com base no seu programa. Assim teve origem nosso grupo no Brasil: somos aqueles que, reconhecendo a degeneração da TBI, continuamos a defender suas contribuições para o marxismo e seu programa revolucionário original, apesar do apodrecimento moral e político de sua liderança, que se tornou inútil para a construção de um partido revolucionário.[11]

O líder da então maioria do Coletivo Lenin entendeu a falência da TBI como a falência do trotskismo. Abriu mão de princípios que iam desde o combate consistente à colaboração de classes até a oposição ao revisionismo que destruiu a Quarta Internacional [12]. Tudo isso foi chamado de “cascas de banana sectárias do programa da TBI”. O grupo acabou adotando uma perspectiva segundo a qual existem diversas “estratégias revolucionárias” diferentes, sendo todas igualmente válidas. Concluíram que são várias as tradições e organizações “revolucionárias”, ainda que inteiramente dispares umas das outras. Por conta disso, o CL se tornou uma organização amorfa disposta a se aproximar, em busca de unidade política, de grupos supostamente “revolucionários” com o qual tinha ele próprio muitas diferenças (como tentou durante meses com o Espaço Socialista após nosso racha, discussões essas que foram silenciosamente abandonadas) [13].

A FCT nada mais é do que a última tentativa esdrúxula de “fusão” baseada nessa falsa perspectiva. A dura verdade é que o CL abandonou a construção de um partido revolucionário conforme o compreendiam Lenin e Trotsky. O medo do isolamento, de ser chamado de “sectário”, falou mais alto do que a consistência programática. Esse mesmo impulso que antes gritou contra nós e nos acusava de “dogmáticos” durante nossa luta fracional por clareza e coerência política, acabou levando o CL a se afundar na lama de um bloco oportunista da FCT.

Nem todos os membros do CL estão satisfeitos com a absorção do grupo pela FCT e percebem os efeitos liquidacionistas dessa ação, assim como criticam os pontos programáticos oportunistas dessa “Frente” [14]. Porém, esses companheiros seguem sustentando a presença do grupo na FCT como uma perspectiva válida. É necessário compreender a relação entre os rumos da organização após nosso racha em 2011 e a decisão do CL de adentrar a FCT. Essa entrada assinalou (mais uma vez) que o Coletivo Lenin já tinha esquecido o que é centralismo democrático, o que é frente única, o que é um partido de vanguarda… isto é, o que é leninismo!

Aos militantes honestos que existem no CL, não existe outra saída além daquela que nós do Reagrupamento Revolucionário já tomamos em 2011, que é sair desse barco afundando. Pode ser que o atual CL se dissolva na FCT, ou talvez essa unidade fajuta venha a ruir e cada organização vá para seu canto. Mas de um forma ou de outra, o Coletivo Lenin que foi fundado por militantes que romperam com o morenismo por ousar lutar pela construção de um partido revolucionário baseado no programa trotskista atualizado para nossos dias, este já deixou de existir há muito tempo.

NOTAS

[*] Apesar de estar escrito na página principal do site do Coletivo Socialistas Livres que este grupo é membro da FCT e o seu documento de adesão ao “Comitê Paritário” ter sido reproduzido pelos demais membros da Frente, o CSL não tem aparecido nas declarações públicas mais recentes, o que nos leva a questionar se ele ainda é membro. Porém, como o CSL já havia sido descrito na versão original deste artigo e não pudemos encontrar nenhuma declaração de qualquer dos lados informando ao público sua suposta retirada, preferimos manter a afirmação de que ele faz parte da Frente. Caso estejamos errados nessa suposição, a responsabilidade cabe à FCT de informar se o CSL não é mais membro e porquê.

[1] Para ler nossa carta de ruptura com o Coletivo Lenin: “Morre um embrião para a reconstrução da Quarta Internacional”.
http://rr4i.milharal.org/2011/07/16/carta-de-ruptura-com-o-coletivo-lenin/ 

[2] Nós recomendamos aos companheiros especialmente os artigos polêmicos de Trotsky contra a brevíssima “Internacional de Londres”. Eis um exemplo das suas contradições:

O “partido de unificação marxista” [espanhol] pertence à famosa associação de Londres dos “partidos socialistas revolucionários” (ex-IAG). A direção desta última encontra-se atualmente nas mãos de Fenner Brockway, secretário do Independent Labour Party [inglês]. Já dissemos que pese aos antiquados e previsivelmente incuráveis preconceitos pacifistas de Maxton e de outros, o ILP assumiu na questão da Sociedade das Nações e das sanções uma posição revolucionária honesta, e todos nós lemos com satisfação uma série de excelentes artigos a este respeito no New Leader. Nas últimas eleições parlamentares o Independent Labour Party recusou-se até mesmo a apoiar no plano eleitoral os trabalhistas justamente porque estes últimos sustentavam a Sociedade das Nações. Em si, esta recusa constituía um erro tático: ali onde o Independent Labour Party não tinha condições de apresentar seus próprios candidatos devia apoiar os trabalhistas contra os conservadores. Mas isto é, apesar de tudo, um pormenor. Em todo caso, não havia nenhuma possibilidade de um “programa comum” com os trabalhistas. Os internacionalistas deviam ligar o apoio eleitoral (aos trabalhistas) com a denúncia do modo como os social-patriotas britânicos rastejavam diante da Sociedade das Nações e das suas “sanções”. Nós nos permitimos formular a seguinte pergunta a Fenner Brockway: o que admite como correto a “internacional” da qual é secretário? A seção inglesa desta “Internacional” se recusa a dar um simples apoio eleitoral a candidatos operários, se eles são partidários da Sociedade das Nações. A seção espanhola conclui um bloco com partidos burgueses sobre um programa comum de apoio à Sociedade das Nações. Será possível ir mais longe no domínio das contradições, da confusão, da degeneração? Ainda não há guerra e as seções da “Internacional” de Londres tendem desde agora em direções diametralmente opostas. Até onde irão quando ocorrerem os acontecimentos decisivos?

A traição do “Partido Operário de Unificação Marxista”, 22 de janeiro de 1936.
https://www.marxists.org/portugues/trotsky/1936/01/22.htm

[3] Na declaração inicial de adesão do Coletivo Socialistas Livres ao então “Comitê Paritário”, publicado novamente pelo site da Liga Comunista, aparece uma nota de rodapé afirmando que “A RPR [nome anterior da TR] não chamou voto crítico em Dilma no segundo turno das eleições presidenciais de 2014”. Não há mais nenhuma indicação de como essa importante divergência seria resolvida. Ver também a declaração da TR “Agora é voto nulo!”
http://tendenciarevolucionaria.blogspot.com.br/2014/10/agora-e-voto-nulo.html 

[4] Na mesma declaração do Coletivo Socialistas Livres, está escrito que “A principal diferença entre o CP e o CSL, reside na questão do centralismo, o qual o CSL se opõe. Uma vez que o atual estágio de construção do CP se caracteriza por ser um Comitê não centralizado, esta diferença situa-se no campo teórico, ao qual buscaremos superar a partir da experiência comum e da confiança mútua.”

[5] Esse comentário sutil foi feito numa introdução (sem quaisquer críticas) à republicação de um texto da “Rede em defesa da humanidade”, que “Reafirma a solidariedade ao governo legitimamente eleito, o de Nicolas Maduro, bem como exorta a oposição a respeitar a constituição do país.”
http://espacomarxista.blogspot.com.br/2015/02/intelectuais-e-artistas-contra.html 

[6] Num texto de 2014, o CSL afirma: “Na segurança pública, o PSDB de Aécio Neves e Anastasia desconsiderou as reivindicações dos policiais civis e militares, impondo apenas metas e metas de mais produtividade, sem a contrapartida salarial aos que trabalham (…)”
https://socialistalivre.wordpress.com/2014/10/28/psdb-foi-derrotado-em-minas-gerais-e-nao-entendeu-o-porque-entao-eu-re-explico/ 

[7] Aqui estão alguns comentários de Trotsky sobre o “apoio tático” a blocos de colaboração de classes e também sobre a orientação eleitoral diante de uma “concorrência” entre partidos burgueses tradicionais e a “Frente Popular”:

A questão das questões atualmente é a Frente Popular. Os centristas de esquerda procuram apresentar esta questão como tática ou mesmo como uma manobra técnica, a fim de poder vender as suas mercadorias na sombra da Frente Popular. Na realidade, a Frente Popular é a questão principal da estratégia da classe operária nesta época. Também confere o melhor critério para diferenciar o menchevismo do bolchevismo.
A seção holandesa e a Internacional, julho de 1936.

Como não se concebe a democracia parlamentar na França sem os radicais, façamos com que os socialistas os sustenham, ordenemos aos comunistas que não incomodem o bloco Blum-Herriot se possível, façamos com que entrem, eles mesmos, no bloco. Nem distúrbios nem ameaças! Esta é a orientação do Kremlin (…) Se o partido de Herriot-Daladier tem raízes nas massas pequeno-burguesas e, em certa medida, até nos meios operários, é unicamente com o objetivo de enganá-los em benefício do regime capitalista. Os radicais são o partido democrático do imperialismo francês: qualquer outra definição é uma mentira (…). As próximas eleições parlamentares, qualquer que seja o resultado, não trarão, por si mesmas, mudanças sérias na situação: definitivamente, os eleitores estão obrigados a escolher entre um árbitro do tipo de Laval e um árbitro do tipo de Herriot-Daladier Mas como Herriot colaborou tranquilamente com Laval e Daladier apoiou ambos, a diferença que os separa, se medida com a escala dos problemas históricos colocados, é insignificante.
A França na Encruzilhada, março de 1936.
https://www.marxists.org/portugues/trotsky/1936/03/28.htm 

[8] Nós escrevemos uma polêmica direcionada ao PCO sobre a sua perspectiva alarmista de um golpe como forma de capitular ao PT. Ver “As capitulações do PCO ao governismo”.
http://reagrupamento-rr.blogspot.com.br/2014/07/as-capitulacoes-do-pco-ao-governismo.html

[9] “O que o imperialismo pretende é derrubar o regime anti-sionista e anti-imperialista de Assad, e para isso tem fomentado o mesmo ISIS que finge combater.”
http://espacomarxista.blogspot.com.br/2015/05/otan-treina-rebeldes-sirios.html 

[10] Ver “Coletivo Lenin rompe relações com a Tendência Bolchevique Internacional”
http://reagrupamento-rr.blogspot.com.br/2011/07/cl-rompe-relacoes-com-ibt-dezembro-de.html

[11] Ver “A Tendência Bolchevique Internacional ‘explica’ sua falência”
http://reagrupamento-rr.blogspot.com.br/2012/07/a-tendencia-bolchevique-internacional.html 

[12] Além da nossa carta de ruptura, na nota número 1, ver também “Revisando a história do trotskismo”.
http://reagrupamento-rr.blogspot.com.br/2011/10/polemica-com-o-coletivo-lenin-sobre.html 

[13] Ver “Balanço das discussões do Coletivo Lenin com o Espaço Socialista”
http://coletivolenin.blogspot.com.br/2012/04/balanco-das-discussoes-do-coletivo.html

[14] Ver especialmente a “Declaração da maioria do Coletivo Lenin ao Congresso da FCT”
http://coletivolenin.blogspot.com.br/2015/09/declaracao-da-maioria-do-cl-ao.html

Por uma greve unificada, combativa e aliada aos terceirizados! (panfleto)

Por uma greve unificada, combativa e aliada aos terceirizados!
Junho de 2015
O presente panfleto tem sido distribuído por militantes do Reagrupamento Revolucionário em atividades de greve da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na qual estudantes  e técnicos administrativos paralisaram suas atividades desde fins de maio.

Na assembleia do dia 28 de maio, cerca de mil e quinhentos estudantes aprovaram a deflagração de uma greve estudantil na UFRJ. Essa greve se soma a lutas que vem ocorrendo por todo o país, contra os ataques à educação pública que tem sido desferidos por Dilma/Levy e pela maioria dos governos estaduais e municipais, como parte do “ajuste fiscal” em prol dos empresários e patrões (os quais seguem lucrando cifras estonteantes). Apesar de muitos docentes da UFRJ (em especial aqueles que ganham volumosas somas com pesquisas e financiamentos privados) acharem que, mesmo com todos os ataques e cortes orçamentários, não há motivos para uma greve nas universidades, a mobilização nos Institutos Federais de Educação segue crescendo nacionalmente, com adesão de professores/estudantes/técnicos administrativos e se tornando um importante movimento de resistência e reivindicação.

Nesse contexto, a pauta aprovada por nossa assembleia é bastante avançada, pois integra os interesses dos estudantes aos dos trabalhadores, dentro e fora da universidade: nossa greve será não só em prol da usual exigência por mais verbas para educação pública, mas também para que essa verba seja investida no sentido de ampliar a entrada de estudantes advindos de famílias trabalhadoras, via aumento das cotas (uma insuficiente, mas importante brecha no filtro nefasto que é o vestibular/ENEM), e principalmente de garantir que eles possam permanecer na universidade, através de assistência estudantil ampla e de qualidade. A pauta inclui ainda a importante demanda defendida por nós do Reagrupamento Revolucionário [ver vídeo abaixo] em prol da incorporação dos trabalhadores terceirizados aos quadros de funcionários públicos da universidade, como a melhor forma de lhes garantir condições decentes em termos de direitos trabalhistas e salários.

Assembleia estudantil que aprovou a greve discente na UFRJ (28/mai)

Mas não podemos nos esquecer que essa greve que se inicia na sequência de uma importante mobilização que culminou na ocupação da Reitoria por oito dias e que chegou a paralisar boa parte dos cursos, em prol de assistência estudantil e pagamento dos terceirizados que estavam sem receber. E é central tirarmos as lições dessa luta recente para sermos vitoriosos, pois ao contrário do que tem dito os coletivos estudantis à frente do DCE, as conquistas obtidas foram muito parciais ou mesmo abstratas: muitos terceirizados seguem sem receber seu salário de meses anteriores e tantos outros tiveram o salário e os vales de abril descontados por conta dos dias em que se recusaram a irem trabalhar. Já as demandas dos estudantes foram respondidas com medidas muito limitadas e com promessas vagas, inclusive muito similares às promessas não cumpridas que a Reitoria já havia feito em 2011, quando também houve grande mobilização estudantil.
 
Além de promessas não significarem nada, nós do Reagrupamento Revolucionário encaramos que, enquanto tiver um trabalhador sequer sem receber nesta universidade, é essencial travarmos uma luta encarniçada em sua defesa. Por isso nós achamos que foi equivocado encerrar a ocupação naquele momento. E muitos estudantes demonstraram pensar o mesmo, conforme apontou a acirrada votação que decidiu pela desocupação (99 a favor, 96 contra). Muitos desses sentem na pele a necessidade de terem alojamento, bandejão e bolsas auxílio para poderem se manter na universidade, e por isso estiveram na linha de frente da luta e com toda razão ficaram revoltados com a posição recuada das correntes que dirigem o DCE, as quais fizeram coro pelo encerramento da ocupação.
 
Para atingirmos uma universidade que seja feita e frequentada pela classe trabalhadora e por seus filhos, e que esteja a serviço dos interesses de tal classe, em especial de seus setores mais precarizados, como os negros e as mulheres, devemos saber concatenar os esforços dos setores em luta e garantir uma postura combativa, promovendo as demandas que atinjam na raiz o projeto privatista e precarizador do governo para a educação. Todavia, durante a ocupação as correntes à frente do DCE se limitaram em torno das demandas mais imediatas, e não se esforçaram para garantir uma mobilização unificada, que realmente impusesse a suspensão das atividades acadêmicas e se aliasse organicamente aos trabalhadores da universidade. Elas sequer chamaram uma assembleia unificada quando alguns cursos começaram a parar [conforme apontamos naquele momento].
 
Na greve de 2012, essas correntes tiveram uma postura muito parecida, e por isso ela também não teve grandes vitórias concretas, tendo sido longa e fraca. Para que isso não se repita, é essencial que se faço aquilo que o DCE não fez na ocasião: construir comitês locais de greve em cada curso e campus, que sejam organicamente articulados com a greve dos técnicos administrativos e com a luta dos terceirizados, na forma de comitês unificados, compostos por delegados eleitos e revogáveis; ir além da imposição da suspensão do calendário acadêmico aos professores anti-greve e organizar boicotes e piquetes contra os que quiserem continuar suas atividades, como maneira fundamental de fortalecer o movimento e evitar retaliações e assédios; formar um comando nacional de greve também unificado, para que as negociações com o MEC tenham mais força. Esses são passos básicos para uma greve vitoriosa!
 
  • Por uma greve estudantil unificada com os demais setores, incluindo terceirizados! Por comitês locais de greve, comitês gerais unificados e por ações de boicote e piquete contra os professores que não respeitem a greve!
  • Impor à Reitoria o cumprimento das promessas de assistência! Não abandonar a luta em prol dos terceirizados e do imediato e integral pagamento de seus salários! Lutar para que os terceirizados sejam integrados à universidade em regime especial! 
  • Por uma universidade com livre acesso, à serviço da classe trabalhadora, de seus filhos e da população negra! Que os patrões paguem pela crise!

Veja a intervenção de um companheiro do Reagrupamento Revolucionário na assembleia que deflagrou a greve discente na UFRJ:

Crise na UFRJ: causas e propostas (panfleto)

Crise na UFRJ: causas e propostas

Reproduzimos a seguir (com pequenas correções), um panfleto distribuído por militantes do Reagrupamento Revolucionário durante ato que ocorreu no dia 21 de maio, durante sessão do Conselho Universitário da UFRJ (órgão máximo de deliberação dessa universidade). A pauta exclusiva da sessão eram as reivindicações do movimento estudantil em prol de assistência estudantil na UFRJ e a Reitoria encontrava-se ocupada havia 8 dias, tendo a ocupação sido encerrado ao final do dia 21 em votação bastante apertada.

 

Maio de 2015.
 

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Coletânea Marxismo & Emancipação da Mulher

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É com alegria que anunciamos a nossos leitores o lançamento de mais um livreto temático do Reagrupamento Revolucionário, este dedicado à temática da Emancipação da Mulher. Assim como nosso livreto sobre Questão Negra, que recentemente ganhou uma segunda edição revisada, trata-se de uma coletânea de materiais próprios e também históricos (produzidos por organizações cujo legado político reivindicamos), todos os quais abordam o assunto da opressão específica sofrida pelas mulheres sob o capitalismo desde um ponto de vista Marxista e, portanto, revolucionário. O material encontra-se disponível para download em formato PDF ou impresso com nossos militantes. Boa leitura! 

ÍNDICE: Sobre Marxismo e Feminismo (RR, 2009) As Mulheres e a Revolução Permanente (SL, 1974) A juventude do SWP (EUA) sobre a legalização do aborto (1958)Feminismo e Histeria Moral (TBI, 1986)Debate com o PSTU sobre as “delegacias da mulher” (RR, 2013)O Comunismo e a Família (Alexandra. Kollontai, 1920)O Termidor no Lar (Leon Trotsky, 1936)

Nova edição de “Marxismo & Questão Negra”

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Comunicamos aos nossos leitores a publicação de uma nova edição do nosso livreto Marxismo & Questão Negra. Esse é um dos materiais mais populares do Reagrupamento Revolucionário e integra o nosso esforço de resgate da centralidade do combate às opressões especiais (extra-econômicas) como parte integral e essencial da luta revolucionária. Essa 2ª edição contém correções pontuais na ortografia e diagramação e inclui uma nota extra no texto de abertura da coletânea, O Marxismo e a Questão Negra no Brasil. Tal nota dá conta de informar aos leitores a mudança operada pela LER-QI na linha com a qual polemizamos em uma seção desse artigo. No futuro próximo esperamos poder escrever mais elaboradamente acerca de tal mudança. Segue a nota e o link para o PDF da nova edição. Versões impressas podem ser obtidas com nossos militantes:

Pouco depois de termos publicado esse texto [maio de 2012], a LER-QI organizou discussões internas para reavaliar sua posição sobre a questão negra no Brasil. Não sabemos se nossa polêmica influiu de alguma forma, mas fato é que desde então houve uma clara mudança em sua linha pública sobre o assunto, que não mais trata os negros brasileiros como uma nação oprimida e se encontra hoje muito mais próxima do que defendemos aqui (ver Questão negra, marxismo e classe operária no Brasil, coletânea publicada pela LER-QI em 2013 como fruto de tais discussões). Cabe notar também que essa mudança não acompanhou uma autocrítica pública da posição anterior, o que teria sido o mais honesto a se fazer.

As Mulheres e a Revolução Permanente

As mulheres e a Revolução Permanente 

[Originalmente publicado em Workers Vanguard n.17, de março de 1973, pela então revolucionária Liga Espartaquista. Tradução para o português realizada pelo Reagrupamento Revolucionário a partir da versão em espanhol publicada em Spartacist Español n.16.]

Para os marxistas a emancipação da mulher em relação à opressão especial que sofre é um indicador preciso do grau em que uma sociedade foi capaz de se livrar da opressão social em geral. Esta interrelação foi formulada pela primeira vez pelo socialista utópico Fourier:

“A mudança de uma época histórica sempre pode ser determinada pelo progresso das mulheres rumo à liberdade, porque nas relações da mulher com o homem, do fraco com o forte, é mais evidente a vitória da natureza humana sobre a brutalidade. O grau de emancipação das mulheres é a medida natural da emancipação geral.” — Theorie des quatre mouvements, 1808.

Fourier foi parafraseado por Marx em A Sagrada Família (1845):

“A relação do homem com a mulher é a relação mais natural de um ser humano com o outro. Indica, portanto, em que medida o comportamento natural do homem se tornou humano, e em que medida sua essência humana se converteu em um essência natural pra ele, até que ponto sua natureza humana se converteu em natureza para ele.”

Marx repetiu o mesmo ponto 23 anos depois, de uma forma mais direta e sucinta, em uma carta a Kugelmann: “…o progresso social pode ser medido com exatidão pela posição social do belo sexo (as feias incluídas).”

Origens da família monogâmica
Uma das ironias da história é que a origem da opressão especial que a mulher sofre tem suas raízes em um dos primeiros avanços sociais: o desenvolvimento de tecnologia humana para além da luta diária pela subsistência mínima típica das sociedades caçadoras-coletoras. Com a introdução da criação de gado, forja de metais, tecelagem e, por último, a agricultura, a força de trabalho humana se tornou capaz de produzir um sobre-produto social substancial. Sob o impacto desses avanços tecnológicos, a instituição sob a qual o trabalho humano se reproduz, a família, passou por uma profunda transformação. Conforme Marx e Engels apontaram na Ideologia Alemã, a propagação da espécie engendrou a primeira divisão de trabalho, entre homens e mulheres. Por conta das funções procriativas das mulheres, a tarefa de ter e criar filhos, bem como as tarefas domésticas em geral caíram sobre elas. O âmbito doméstico era a esfera geral das atividades da mulher. Entretanto, o desenvolvimento das tecnologias, a domesticação dos animais (incluindo outros humanos, geralmente prisioneiros de guerra ou escravos) e da terra, bem como o desenvolvimento de ferramentas, teve lugar na esfera geral das atividades do homem, e foi ele que se apropriou da concomitante expansão da riqueza social. Assim, o advento da propriedade privada e a necessidade de transferir sua propriedade através da herança fez surgir as leis patriarcais da herança e da descendência. A família monogâmica se desenvolveu para garantir a paternidade das crianças, enquanto a reclusão da esposa se tornou uma incumbência para garantir sua fidelidade. Essa reclusão significava uma exclusão da vida pública e da reprodução social.

“A monogamia foi um grande progresso histórico, mas, ao mesmo tempo, iniciou, juntamente com a escravidão e as riquezas privadas, aquele período, que dura até nossos dias, no qual cada progresso é simultaneamente um retrocesso relativo, e o bem-estar e o desenvolvimento de uns se verificam às custas da dor e da repressão de outros.” — ENGELS, F. A origem da família, da propriedade privada e do Estado, 1884.

 
Antes do surgimento da propriedade privada e da família monogâmica, as armas, assim como as ferramentas de trabalho e a propriedade, eram propriedade comum. Todavia, com o desenvolvimento da propriedade privada e dos meios de produção e procriação, e a polarização da sociedade em classes econômicas, as armas foram monopolizadas por corpos de homens separados do resto da sociedade. Estes corpos armados de homens constituíram a essência do Estado. Apesar de parecer estar acima das classe, o Estado na realidade é o instrumento através do qual a classe economicamente dominante de cada época mantém sua hegemonia. O Estado antigo era o Estado dos escravistas, para manter submetidos os escravos; o Estado feudal era o órgão da nobreza para submeter camponeses, servos e peões; e o Estado “democrático” moderno é o instrumento da classe capitalista para manter seu domínio e capacidade de explorar os trabalhadores.
Em cada época, a família, tal qual o Estado, foi principalmente uma instituição para perpetuar a forma de propriedade dominante e a classe econômica dominante. Para o escravo, o servo e o escravo assalariado – isto é, para aquelas classes sociais desprovidas de propriedade a herdar ou defender – a família e a polícia são principalmente instituições de subjugação.
 
Limitações do programa burguês
Com a chegada do capitalismo industrial, a família entrou em um estado de dissolução relativa. Para baixar os salários, o capitalismo tratou de reduzir o custo de produção e reprodução da força de trabalho, integrando a família inteira no processo produtivo. Isso significou o desmantelamento da estrutura das guildas artesanais, no começo através da distribuição do “trabalho por peça” a famílias individuais, e logo depois através de sua concentração em zonas industriais e moradias de propriedade da empresa. Em países de desenvolvimento industrial tardio, como a Rússia czarista, as guildas e o desenvolvimento da indústria de trabalho em domicílio foram omitidos, e os servos atraídos diretamente a grandes e desoladas cidades patronais.
O retorno da mulher à produção social é a precondição para sua emancipação social, mas sob o capitalismo isso significou uma maior escravização e degradação da mulher, ao ser forçada a agregar a escravidão assalariada a sua escravidão doméstica. Incapazes e relutantes em oferecer substitutos sociais ao papel econômico da família, contudo, os capitalistas encorajaram as mulheres a retornarem para casa e para a cozinha, com propaganda conscientemente elaborada a favor da família e da religião. Dessa maneira, o capitalismo expandiu as forças produtivas e criou as bases tecnológicas para a socialização do trabalho doméstico e a substituição da família como unidade econômica, mas foi e segue sendo incapaz de alcançar essa substituição, da mesma maneira que criou as bases para a socialização internacional dos meios de produção, mas ainda não pôde eliminar as fronteiras nacionais.
Para a sua sobrevivência, o capitalismo depende das tradicionais e arcaicas instituições sociais da dominação de classe: a propriedade privada, a família monogâmica e o Estado nacional. Conforme as forças produtivas geradas pelo capitalismo crescem, pressionam contra os limites impostos pelas instituições sociais sobre as quais se baseia o sistema, e a classe capitalista se torna cada vez mais virulenta em seu afã por apoiar e reforçar instituições que se tornam cada vez mais reacionárias. A tendência das mulheres a saírem das fábricas e voltarem aos lares, respaldada pelos capitalistas, alcançou seu ponto culminante na campanha Nazista para a escravização da mulher, sob o slogan Kinder, Kirche, Küche – “crianças, igreja, cozinha”.
As revoluções burguesas dos séculos XVII e XVIII, que limparam as instituições feudais do caminho do desenvolvimento capitalista, substituíram as relações sociais baseadas sobre obrigações e privilégios por aquelas que se baseiam na igualdade contratual e, desse modo, tiveram um profundo efeito sobre a família. A igualdade de direitos entre os sexos foi defendida pelos partidários ideológicos mais radicais da revolução burguesa, especialmente com respeito à posse e à transmissão hereditária da propriedade. Mas, ainda que no marco da legalidade formal, a burguesia se assustou com as consequências da sua própria revolução e imediatamente buscou no passado medieval instituições arcaicas com as quais estabilizar seu domínio. Assim, a Revolução Francesa foi seguida por uma contrarrevolução política, um Termidor no qual os agentes da revolução burguesa, os pobres do campo e os sansculottes urbanos, foram deserdados. Em termos da família e da opressão especial à mulher, o Termidor forneceu o Código Napoleônico, o qual converteu a mulher em propriedade do seu marido, requerendo da mulher a obtenção de permissão do mesmo para, por exemplo, conseguir um passaporte, elaborar um testamento ou firmar um contrato.
De forma similar, a igualdade das nações proclamada pela revolução burguesa foi subordinada ao impulso dos países industrialmente avançados para submeter as nações menos desenvolvidas na luta por mercados e matérias primas. A interrelação entre a subordinação da igualdade dos sexos e da igualdade das nações é demonstrada graficamente pelo imperialismo francês. Quando Napoleão III considerou que um índice maior de nascimentos era essencial para fornecer trabalhadores e soldados à expansão do Império Francês, recorreu à Roma e conseguiu que o Papa redefinisse o começo da vida – substituindo o ponto de vista católico tradicional, segundo o qual a vida começa quando o feto pode sobreviver fora da mãe, pela posição atual, que sustenta que a vida se inicia imediatamente depois da concepção. Isso converteu o aborto de pecado venial em pecado mortal, e sob esta base Napoleão III redigiu a restritiva lei do aborto que existe na França atualmente [tal lei foi revogada em 1975 sob pressão da militância feminista, sendo o aborto atualmente legalizado no país].
 
As mulheres sob o capitalismo decadente
Assim, a burguesia nunca foi consistentemente democrática, mesmo quando estavam na ordem do dia as tarefas democráticas necessárias à consolidação de sua dominação. Na época do imperialismo, os países imperialistas tem um interesse ainda maior em suprimir as aspirações democráticas e nacionais das massas das colônias e semicolônias. Tivessem os poderes imperialistas na China apoiado a Rebelião de Taiping (na qual brigadas de mulheres armadas cumpriram um importante papel), uma nação moderna poderia ter surgido ali no século passado. Em vez disso, eles apoiaram os Manchus, dos quais já dependiam então para garantir estabilidade. A estrada rumo à submissão imperialista se pavimenta pelo reforço aos aspectos mais reacionários e repressivos da sociedade semifeudal, combinado com a penetração nesta sociedade do que há de mais avançado em termos de técnicas capitalistas.
A inabilidade das “burguesias nacionais” desses países coloniais em desmantelar o passado feudal e levar adiante uma revolução democrático-burguesa foi demonstrada de forma conclusiva no decorrer do último século. A burguesia nacional, geralmente recrutada diretamente da velha nobreza e que depende das relíquias do passado feudal para sobreviver (por exemplo, os latifúndios na América Latina), se desenvolveram como agentes corretores do imperialismo. As classes burguesas nativas no mundo colonial foram incapazes de se separem do entrelaçamento com a dominação imperialista por medo de colocaram em curso forças que as varreriam para fora do poder também – principalmente a luta anti capitalista dos trabalhadores, em aliança com o campesinato.
Analisando as tarefas de uma revolução na Rússia Czarista e as formas de alcançá-la, Trotsky formulou a teoria da revolução permanente. Ele concluiu que não só seria necessária uma liderança proletária para que se concretizassem as metas democrático-burguesas básicas da revolução – uma vez que a burguesia era incapaz de tomar um caminho revolucionário contra a autocracia – como também que o proletariado deveria estabelecer suas próprias metas socialistas, de forma imediata, caso se quisesse que a revolução fosse bem sucedida. Para que se desenraizassem a autocracia feudal e a dominação colonial, a classe trabalhadora teria que desenraizar a ordem burguesa que crescera com ela, e agora a escorava.
A questão da emancipação feminina no Terceiro Mundo continua a demonstrar a verdade das conclusões de Trotsky e das lições da Revolução Russa que ele antecipou. A igualdade de direitos para as mulheres é um direito democrático básico, declarado por todas as democracias e aceito como um objetivo de todos os movimentos de “libertação nacional”. No entanto, a opressão especial das mulheres se assenta sobre o próprio sistema de propriedade. Assim como a luta anticolonial que limita as suas metas ao estabelecimento de um Estado independente não é capaz de fornecer independência verdadeira ao domínio imperialista, também a “revolução” que é interrompida antes de derrubar o capitalismo se mostrou incapaz de erradicar a opressão das mulheres.
A luta pelo controle de Bangladesh fornece exemplos tão chocantes de comportamento imperialista desumano, que o controle completo da luta de “libertação nacional” contra o Paquistão, pelos igualmente reacionários rivais indianos é esquecido. No entanto, este fato impediu completamente a realização de todas as tarefas democráticas por esse movimento. Entre as vítimas dessa luta estavam 200.000 mulheres bengalis, que foram sistematicamente estupradas de forma coletiva por gangues do Exército paquistanês do oeste. Depois, as tropas do Marechal [Ayub] Khan rasparam as cabeças dessas mulheres, uma marca de desgraça na sociedade Bengali. As mulheres foram então libertadas, apenas para que fossem em seguida rejeitadas e massacradas por seus maridos, irmãos e pais, enquanto o Xeique [Ohmar Abdel] Rahman, fiel senescal da ex-feminista Indira Gandhi, chegava ao poder. O Estado que surgiu por trás das baionetas do exército indiano se mostrou tão pouco libertador para as mulheres de Bangladesh quanto o regime que perpetrou os bestiais estupros coletivos. A perseguição vingativa aos Biharis [habitantes do nordeste da Índia] sob o novo Estado está longe de servir de consolo.
 
Dois exemplos: a independência argelina…
 
Quando a “libertação nacional” não se limita a simplesmente substituir um suserano do imperialismo por outro, como em Bangladesh, mas resulta em um grau de independência política real dentro do contexto de dominação econômica – como na Argélia – a ausência de melhorias para as mulheres reflete a contínua incapacidade de realizar tarefas democráticas fundamentais da revolução para as massas. O Programa de Tripoli, manifesto básico da revolução argelina, prometeu vagamente igualdade formal, mas até mesmo a lei do novo regime impõe desigualdades sexuais para as mulheres, muitas das quais lutaram na FLN tanto como auxiliares quanto como comandantes. Por exemplo, a pena máxima para o adultério cometido por homens é de um ano, para as mulheres, dois. E a realidade é muito pior do que a letra da lei expressa – enquanto o casamento forçado agora é ilegal, todo ano até mesmo o governo é forçado a admitir que muitos suicídios acontecem para evitar casamentos forçados. Isto pode ser atribuído à dificuldade em superar as tradições, no entanto, a atitude do regime da Argélia é hostil para a superação da tradição. Boumedienne, presidente do Conselho “revolucionário” da Argélia, disse:

Nós dizemos ‘não’ a este tipo [ocidental] de evolução, pois a nossa sociedade é uma sociedade socialista e islâmica. Existe um problema aqui. Ele envolve o respeito à moralidade …. Porque vimos entre vários povos que foram recentemente libertados, aquela mulher que, uma vez livre, apressa-se a pensar em coisas que não é preciso citar aqui …. A evolução da mulher argelina e o gozo de seus direitos deve estar no âmbito da moralidade de nossa sociedade.”— 8 de março de 1966

E este discurso foi feito no Dia Internacional da Mulher! O discurso fez com que várias mulheres saíssem do local. Na Argélia “socialista”, onde todos os alunos recebem educação religiosa, as mulheres têm sido mantidas fora da política, geralmente fora do ensino superior e também sob o véu.
A sociedade argelina tem passado por algumas reformas democráticas, até mesmo reformas que atingem a família. Mas cada reforma é elaboradamente justificada somente após tortuoso debate religioso e tediosa reinterpretação do Corão.
 
O imperialismo moderno não se esqueceu de seu Rudyard Kipling [famoso escritor britânico, conhecido por sua apologia ao imperialismo inglês], não se esqueceu de como envolver-se no manto de uma “missão civilizadora”, especialmente em relação ao “sexo frágil” – afinal ele estupra tanto as mulheres quanto os recursos naturais das nações subjugadas. Imperialistas franceses, cujo Código Napoleônico até 1966 não permitia que uma mulher abrisse uma conta bancária ou assumisse um emprego sem a permissão de seu marido, desfilaram na Argélia como os defensores e libertadores das mulheres muçulmanas. Talvez a expressão mais ridícula dessa hipocrisia tenha sido a assim chamada “Batalha dos Véus”. Depois de 13 de maio de 1958, quando os colonos saquearam a sede do governador-geral, derrubando a Quarta República, uma mulher organizou o Movimento de Solidariedade Feminina, que fez desfilarem mulheres muçulmanas sem o véu, para que fossem feitos discursos elogiosos sobre como era bom ser liberada pela sociedade da “liberdade, igualdade e fraternidade” – o casamento completo do feminismo e do imperialismo! Em reação, o véu se tornou um símbolo da resistência ao imperialismo francês, tal como a família muçulmana, os costumes tradicionais etc. Assim, não só não se aboliram costumes seculares de escravidão doméstica e opressão, mas os símbolos desses costumes foram adorados pela “Revolução”! Assim Boumedienne diz “não” não apenas para a hipocrisia imperialista francesa, mas também para as conquistas fundamentais da Revolução Francesa.
A expressão mais articulada do nacionalismo terceiro-mundista que, como os Narodink russos, reduz o “socialismo” e a “revolução” a um resgate do feudalismo, pode ser encontrado naquele queridinho dos revolucionários dos cafés, Frantz Fanon, o ideólogo oficial da FLN argelina. Enquanto seu livro O ano cinco da revolução argelina é um testemunho da coragem e força da mulher revolucionária argelina – mostrando como o envolvimento na FLN revolucionou sua posição social – Fanon descobre sua força não na experiência libertadora da igualdade imposta pela vida de combatente, mas na tradição muçulmana patriarcal:

O que é verdade é que, em condições normais, uma interação deve existir entre a família e a sociedade em geral. O lar é a base da verdade da sociedade, mas a sociedade autentica e legitima a família. A estrutura colonial é a própria negação recíproca dessa justificação. A mulher argelina, ao impor tal restrição a si mesma, ao escolher uma forma de existência de âmbito limitado, estava aprofundando a sua consciência de luta e de preparação para o combate.”

Fanon está bastante certo ao afirmar que, depois de participar da luta de libertação nacional, a mulher argelina “não poderia colocar-se de volta em seu antigo estado de espírito e reviver seu comportamento do passado”. Mas para Fanon, como para os Narodinik, o atraso cultural e social das massas é em si uma fonte de sua capacidade revolucionária. Os Narodinik, os supremos pequeno-burgueses democratas radicais, negaram o caráter burguês da revolução democrática, ou seja, a revolução agrária, a independência nacional e os direitos democráticos, que constituíram os parâmetros de seu programa. Para eles, para Fanon e para o regime oficial argelino e seus diversos apologistas Stalinistas-Maoístas-Pablistas, esse regime é “socialista”, apesar de sua incapacidade de realizar até mesmo as tarefas democráticas básicas da revolução burguesa. O que emerge é um nacionalismo terceiro-mundista, profundamente antidemocrático, feudal e, neste caso, muçulmano fundamentalista.
e a Revolução Russa
 
Se a experiência argelina é a confirmação negativa da revolução permanente, a Revolução Bolchevique de 1917 foi tanto uma confirmação positiva quanto negativa. A Revolução Russa surgiu a partir da experiência cataclísmica de uma guerra mundial, em um país que, como os países coloniais, combinava o que havia de mais recente em tecnologia – indústrias que estavam inteiramente fundidas com o capital financeiro e, como tal, eram controladas em em última análise pelas Bolsas da Europa Ocidental – com as instituições medievais mais atrasadas. Ao mesmo tempo, a Rússia era a “prisão das nações”, ela própria uma potência imperialista com apetites expansionistas na Ásia Menor e nos Bálcãs. Dado o desenvolvimento burguês retardatário da Rússia, ela pulou aquela fase que nutre uma forte pequena-burguesia urbana com fortes instituições e ilusões democráticas. Quando a mulher radicalizada da intelligentsia entrou para a política, não o fez como uma feminista ou sufragista, mas como terrorista. De acordo com os relatórios do ministro czarista da Justiça, Conde Pahlen, das 620 pessoas convocadas perante os tribunais por atividades revolucionárias durante a década de 1870, 158 eram mulheres. O Comitê Central Executivo do Narodnaya Volya (“Vontade do Povo”), de 29 membros, em 1879, tinha dez mulheres. Um dos membros desse grupo, Sofya Perovskaya, dirigiu o assassinato de Alexandre II.
A atividade terrorista das mulheres de classe média radicalizadas foi o prelúdio para as combativas batalhas de classe das mulheres trabalhadoras da Rússia. Concentradas principalmente nas indústrias têxteis, elas estiveram na vanguarda das lutas grevistas de finais de 1890. Após a virada do século, feministas burguesas organizaram “Clubes Políticos de Mulheres” em São Petersburgo. No inverno de 1907-1908, os social-democratas russos organizaram a “Sociedade de Ajuda Mútua entre as Mulheres Trabalhadoras” e emitiram a publicação A Mulher Trabalhadora. Quando as feministas burguesas organizaram o primeiro Congresso Pan-Russo de Mulheres, em 1908, as “mulheres sociais-democratas foram representadas pelo seu próprio grupo de classe, com 45 mulheres. Depois de passar as suas próprias resoluções independentes em todas as questões, as mulheres trabalhadoras finalmente saíram deste congresso de ‘damas’” (A. Kollontai, Women Workers Struggle for Their Rights, 1918).
Uma das diferenças entre Bolcheviques e Mencheviques foi sobre a possibilidade de organizar um grupo de mulheres proletárias independente ou participar nos grupos feministas burgueses. Após a separação final entre os Bolcheviques e Mencheviques, em 1912, os Bolcheviques se distinguiram ao continuar a lutar para atrair mulheres proletárias para o movimento revolucionário. Os Bolcheviques retomaram a publicação de A Mulher Trabalhadora, em 1914, para o Dia Internacional da Mulher. Este feriado, que tinha se originado em 1908 no Lower East Side de Manhattan (Rutgers Square), por mulheres no ramo do comércio de agulhas, foi adotado pela Segunda Internacional, sob a liderança de Clara Zetkin, em 1911. Ele foi celebrado pela primeira vez na Rússia, por iniciativa das trabalhadoras têxteis de São Petersburgo em 1913 e comemorado de novo em 1914, complementado com reuniões de massa e da primeira aparição da bandeira vermelha em São Petersburgo. A próxima celebração foi em 1917 e marcou a abertura da Revolução Russa.
 
Os stalinistas, que tentam encaixar a Revolução Russa em seu esquema etapista, afirmam que a Revolução de Fevereiro foi a etapa democrático-burguesa da revolução. Apesar de a Revolução de Fevereiro ter sido burguesa na medida em que colocou a burguesia no poder, havia muito pouca democracia nisso, especialmente em relação à emancipação das mulheres. E expulsão da igreja e dos tribunais eclesiásticos para fora dos assuntos privados de casamento e divórcio só foi conseguido depois, pela ditadura do proletariado. Da mesma forma, foi somente após a Revolução Bolchevique que um esforço real foi feito para aliviar a escravidão doméstica de mulheres através da criação de enfermarias, creches, assistência à maternidade, refeitórios públicos e lavanderias.
 
A Revolução Bolchevique estabeleceu outro princípio básico da revolução permanente, a necessidade de liderança proletária sobre o movimento camponês. Enquanto a revolução agrária foi espontânea, a luta para convocar as mulheres camponesas para a vida pública e política completa não o foi. A mobilização política das mulheres camponesas exigiu os esforços corajosos e persistentes das mulheres do partido bolchevique, muitas das quais foram recrutadas nas fábricas têxteis de São Petersburgo, que estavam na vanguarda da luta de classes russa por três décadas antes da revolução. Organizadas em seções especiais do Partido Comunista dedicadas a ganhar as massas de mulheres oprimidas para a revolução, quadros partidários, muitas vezes disfarçadas em paranyas e eluchvons (a roupa velada usada pelas mulheres em territórios muçulmanos da União Soviética) iam levar a mensagem da revolução para as áreas mais atrasadas da Rússia. A fim de atingir as mulheres em tribos nômades, seções femininas do PC organizaram as Yurtas Vermelhas, grandes tendas que distribuíam propaganda médica e também política. Seus esforços culminaram na Primeira Conferência Pan-Russa das Mulheres Proletárias e Camponesas, em novembro de 1918, com a participação de 1.700 delegadas. Uma das participantes descreveu a conferência como segue:

“Em 1918, quando a guerra civil estava no auge, quando ainda tínhamos que lutar contra a fome, o frio e a devastação sem precedentes, quando ainda era necessário derrotar o inimigo em inúmeras frentes, nesse momento a conferência das mulheres proletárias e camponesas foi convocada. Centenas de mulheres labutadoras, das fábricas e aldeias mais remotas, tinham chegado a Moscou com suas denúncias, reclamações e dúvidas, com todos os seus cuidados, grandes e pequenos.”— F.W. Halle, Mulheres na Rússia Soviética (1933).

 
O Termidor reverte os ganhos das mulheres
 
Mas a União Soviética, um país economicamente atrasado, devastado pela intervenção imperialista e pela guerra civil, sitiado e cercado por potências capitalistas hostis, era incapaz de fornecer a base econômica para a construção do socialismo; só era possível “socializar a escassez”. Lenin e Trotsky perceberam que, assim como a revolução democrática deve evoluir para a revolução socialista se quer resolver as tarefas democráticas da revolução, também uma revolução socialista deve evoluir diretamente para a revolução mundial. A falha da revolução em se expandir levou à tomada do poder pela conservadora burocracia de Estado sob comando Stalin em 1923, o que converteu o isolamento da União Soviética de uma profunda derrota em uma “vitória” retórica, com a doutrina nacionalista, antimarxista de “socialismo em um só país”. Conforme Stalin consolidava seu poder, a nova casta dominante também exigia o renascimento da família monogâmica como o bastião desse “socialismo” em um país – assim como também foi um bastião da contrarrevolução fascista em países capitalistas.
A contrarrevolução política stalinista simplesmente fez correr ao contrário o filme da revolução na área dos direitos das mulheres. As seções de mulheres do partido foram liquidadas em 1929; a homossexualidade foi tornada crime em 1934; o aborto, que tinha sido legalizado em 1920, foi tornado ilegal em 1936; de 1935 a 1944, o divórcio foi se tornando cada vez mais caro e complicado; e em 1944, mesmo a educação mista foi abolida. Para conseguir aplicar essas medidas, Stalin confiou na influência conservadora do campesinato, que em geral foi o único a recebê-las positivamente.
É claro que em cada etapa os apologistas stalinistas encontrariam razões econômicas e sociais para cada uma das medidas contrarrevolucionárias de Stalin. Como Trotsky disse em A Revolução Traída, “Não se pode ‘abolir’ a família, deve-se substituí-la. A verdadeira emancipação das mulheres é irrealizável na base da ‘escassez socializada’”. Assim, mesmo o governo revolucionário de Lenin e Trotsky teve que enfrentar horrendos problemas, especialmente a respeito da família e a emancipação das mulheres. Por exemplo, em 1922, Krupskaya estimou que havia sete milhões de crianças sem abrigo, enquanto Lunacharsky, comissário da educação, estimou nove milhões. A adoção teve de ser ilegalizada em 1926 para impedir a exploração do trabalho infantil pelo campesinato! A “conquista” principal de Stalin foi transformar essas condições difíceis em uma racionalização para confiar todo o poder a uma panelinha conservadora contrarrevolucionária que se adaptou ao atraso para sobreviver.
 
As mulheres sob o Stalinismo terceiro-mundista
Na Iugoslávia, China, Vietnã do Norte e Cuba, lideranças pequeno-burguesas comandando exércitos baseados no campesinato conseguiram, por causa de circunstâncias históricas excepcionais, derrubar o capitalismo, apesar de seus programas “democráticos” completamente pró-capitalistas. Este fato por si só permitiu a estes países desempenhar um papel livre de subserviência política e econômica direta ao imperialismo; ou seja, lhes permitiu cumprir a tarefa básica da revolução anticolonial. Mas estas vitórias ocorreram como confrontos militares que foram perdidos pelas forças burguesas nativas e seus aliados imperialistas, apesar dos melhores esforços das lideranças “revolucionárias” para vender a luta em troca de uma “revolução” contida com segurança sob o capitalismo (como aconteceu na Argélia e situações semelhantes). O proletariado, vítima de derrotas anteriores, não possuía uma liderança e não conseguiu se desempenhar papel ativo na disputa para tomar o poder nessas revoluções.
Como consequência, o que surgiu não foi uma democracia proletária, mas regimes tão burocraticamente deformados como o que surgiu a partir da degeneração da revolução na União Soviética, ou seja, Estados operários deformados. Dentro desses regimes, mais uma vez a emancipação das mulheres é o indicador mais preciso da emancipação geral. Embora às mulheres tenha sido concedido a igualdade formal, nenhum esforço consistente e concentrado tem sido feito para libertá-las da escravidão doméstica. Enquanto as mulheres têm aumentado o seu acesso aos papéis socialmente produtivos, eles geralmente se restringem àquelas áreas que são uma simples extensão do trabalho doméstico, como a têxtil e de enfermagem. No Vietnã do Norte, depois de 26 anos de guerra, as mulheres ainda não são autorizadas a desempenhar um papel de combate no exército regular. E só as exigências da guerra obrigaram a burocracia do Vietnã do Norte a estabelecer berçários e creches. O controle da natalidade e aborto são legalizados e ilegalizados ao capricho da burocracia.
 
Politicamente, as mulheres não são mais nem menos marginalizadas do que seus maridos na ausência de democracia proletária. Na ausência de seções especiais do partido para as mulheres, não há veículos especiais para treinar e equipá-las a entrar no partido. O recrutamento de mulheres é geralmente feito através da exortação moral. A maioria das mulheres é desviada para Federação Democrática das Mulheres local, onde podem circular petições para a paz, justiça e igualdade. Na China, a Federação Democrática das Mulheres, que afirmou certa vez uma adesão de 70 milhões, foi dirigida pela esposa de Liu Shao-chi; por conta disso foi abolida pela Revolução Cultural!
Em países atrasados e coloniais, classes pequeno-burguesas oprimidas pelo feudalismo e pelo imperialismo, sobretudo o campesinato, são mais numerosos do que o proletariado. A fim de chegar ao poder, o proletariado deve mobilizar essas classes atrás dele na luta contra o imperialismo e pelos direitos democráticos básicos. No entanto, o proletariado é a única força consistentemente revolucionária e anticapitalista nesses países. A fim de derrubar o capitalismo e começar um caminho desobstruído para o socialismo, a revolução deve ser feita em termos do proletariado e do seu programa. A família como unidade econômica escravizando mulheres poderia, então, ser substituída através da socialização dos meios de produção e reprodução da força de trabalho. Mas uma revolução que repousa sobre o campesinato ou sobre uma fusão dos interesses dos camponeses e trabalhadores (ou seja, em um programa modificado de seção da pequena-burguesia) descobre que, para o campesinato, a família é a unidade econômica existente da agricultura de pequena escala, ao contrário das fábricas e indústrias socializadas dos trabalhadores. Ao contrário dos trabalhadores, os interesses de classe dos camponeses são baseados no aprofundamento da propriedade privada de pequenas parcelas, o que significa que conservam a estrutura familiar. Mas os camponeses são incapazes de reorganizar a sociedade. Sua influência conservadora só pode ser superada através da liderança dos trabalhadores.
Assim, a interrelação entre a questão da terra e da família é uma chave para a compreensão dos ziguezagues dos Estados operários degenerados e deformados. Pois a industrialização exige um excedente de alimentos; um excedente de alimentos requer mecanização; mecanização requer industrialização, etc. Como quebrar este ciclo vicioso? A Nova Política Econômica (NEP), a acumulação primitiva socialista (o imposto em espécie), persuasão e exemplo foram os métodos de Lenin e Trotsky. Decretos burocráticos, cujos parâmetros são apenas os precipícios da catástrofe, são o método do Stalinismo, que vai de Stalin e seu lema “kulaks, enriquecer-vos”, bem como da Nova Democracia de Mao, à coletivização forçada e ao Grande Salto Adiante. Durante o Grande Salto Adiante e a coletivização forçada de Stalin, as mulheres foram incentivadas a participar na produção social, e a família tendeu a ser subordinada. Mas estas medidas não correspondem ao ritmo real de desenvolvimento econômico, e nenhum substituto para a família como uma unidade econômica foi desenvolvido. Os regimes Stalinistas foram assim forçados a fortalecer a estrutura familiar como a única saída não revolucionária para o caos que haviam criado e para conciliar o campesinato enfurecido. O proletariado, precisamente a classe para quem a família não desempenha nenhum papel econômico, está destinado pela história a liderar a luta pela emancipação da mulher.
 
As mulheres e a Revolução Permanente
 
Embora a exploração de classe seja o eixo principal da luta social, não é a única forma de opressão social. Insensibilidade às formas especiais de opressão – nacional, racial, geracional, bem como sexual – é uma forma de oportunismo. Economismo, a ideologia dos burocratas sindicais e seus puxa-sacos, prospera em tal oportunismo. No entanto, a recusa de ver a natureza interligada da opressão especial e da luta de classes, a postular vias “alternativas” (por exemplo, o feminismo burguês) que não seja a luta de classes para lidar com a opressão especial, é ao mesmo tempo reacionário e utópico. Porque a questão da opressão das mulheres e da família é fundamental para a sociedade de classes, a solução só pode ser um desenraizamento global de propriedade capitalista e a preparação para uma sociedade comunista sem classes. Apenas um partido proletário internacional, consciente das suas tarefas e missão, pode proporcionar a liderança necessária para tal reviravolta.

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Polémica con la LIT sobre Palestina

¿Internacionalismo proletario o adaptación al nacionalismo burgués?

Rodolfo Kaleb y Marcio Torres, Enero del 2015

Recientemente nosotros del Reagrupamiento Revolucionario publicamos una declaración sobre la cuestión de Palestina y la masacre perpetrada por el régimen sionista de Israel contra la población de Gaza (Defender a los palestinos! Ninguna confianza en Hamas o Fatah!). En esta declaración, además de apuntar nuestra oposición en relación a los ataques israelitas y la defensa de Palestina de forma más general, también tejimos algunas breves críticas a algunas posiciones presentes en la izquierda que se reivindica revolucionaria. Esta frecuentemente defiende una política desorientadora y oportunista sobre las tareas concretas para llevar a la emancipación del pueblo palestino y a un gobierno de los trabajadores. De esa forma, queremos profundizar algunas de esas críticas, más específicamente las que se aplican a la Liga Internacional de los Trabajadores (LIT), cuyo principal partido es el PSTU brasileño.

Capitulación al programa y a los partidos nacionalistas burgueses 

Comúnmente, la LIT resume su programa para la lucha de clases en Palestina a través del slogan “Por una Palestina libre, laica y democrática” (también adhiriendo en ocasiones: “no racista”). No es al azar que esa síntesis de su posición no coloque en cuestión el carácter de clase de Palestina que almacenan. Analizando de cerca el contenido de ese slogan, vemos que se limita al programa original de la OLP (Organización por la Liberación de Palestina), como ya afirmó explícitamente.

“Sostenemos que la única solución es la vieja consigna de la OLP (la creación de una única Palestina laica, democrática y no racista, en la que convivan en paz árabes y judíos). Para lograrlo, es necesario destruir el Estado de Israel, principal causa del conflicto.”

Palestina-Israel: ¿son posibles “dos Estados”?, 30 diciembre, 2015.
http://litci.org/es/mundo/norteamerica/estados-unidos/palestina-israel-son-posibles-dos-estados/

Creada en 1964, la OLP comenzó como una coalición de fuerzas políticas variadas adoptando tácticas de guerrilla, reivindicando el fin del sionismo, el derecho de retorno de los palestinos expulsados de sus tierras y el retorno a la “Palestina histórica”, esto es, a las fronteras existentes antes de 1948 (La Posición Trotskista en Palestina, 1948 – en portugués). Como acontece con toda organización de masas sin una delimitación clasista, la OLP pasó rápidamente a atender fundamentalmente a los intereses de los sectores más favorecidos económicamente de la población palestina. Luego en los primeros años, el partido Fatah (Movimiento por la Liberación Nacional de Palestina), dirigido por Yasser Arafat, se tornó el liderazgo de la organización, lo que le confirió un carácter político nacionalista, sin ninguna pretensión de confrontar el capitalismo. Con el tiempo, ese programa llevó a su conclusión lógica: disposición a “negociar” los derechos de los palestinos en cambio de alguna estabilidad económica y política para los palestinos más prósperos. En la década de 1980, bajo la orientación del Fatah, la OLP aceptó negociar con Israel un “mini Estado” palestino, que se comprende como la Franja de Gaza y a Cisjordania, abandonando abiertamente las pretensiones de derrotar el control del Estado sionista sobre el territorio palestino y reconociendo la legitimidad de este.

¿Cuál fuerza política es capaz de construir una Palestina “laica, democrática y no racista”? Para los marxistas, sólo hay dos clases en la sociedad moderna que son capaces de realmente establecer su poder: La burguesía o los trabajadores. La camada bastante frágil de los empresarios palestinos ya demostró su completa bancarrota política al aceptar una “coexistencia” bajo el tacón de los sionistas. Cabe al proletariado de la región, en alianza con las masas campesinas pobres y los oprimidos por el capitalismo sionista, luchar contra ese régimen. Mas al organizarse como vanguardia de la lucha contra el sionismo, el proletariado no irá a limitarse al programa democrático de la pequeña-burguesía, sino que va a necesariamente, iniciar la construcción de su propio gobierno, establecido bajo las bases de expropiación de la propiedad burguesa, administración democrática de las empresas y armamento de los trabajadores.

Al reivindicar el programa original de la OLP, abandonado por el propio Fatah en razón de los intereses de clase burgueses y pequeños-burgueses que él representa, los dirigentes de la LIT “olvidan el detalle” de que una Palestina realmente “libre, soberana, democrática y no racista” sólo es posible bajo un régimen de democracia proletaria, y que eso jamás estuvo en el programa de la OLP, ni lo estará, pues va contra su compromiso de mantener el capitalismo. El resultado es que la LIT se pone en defensa de un programa pequeño-burgués. Muchos de sus materiales de propaganda ni siquiera ponen la tarea de construcción de un poder de los trabajadores, o ponen esa tarea de forma desplazada de la lucha (considerada prioritaria) por una Palestina “democrática” [1]. Bajo esa configuración, la Palestina “democrática” defendida por la LIT sería un régimen burgués para substituir Israel. Es en los propios partidos de la burguesía y de la pequeña-burguesía que la LIT busca un instrumento para realizar esa tarea. Por muchos años, la llamó para que la OLP liderase el pueblo palestino y le confirió apoyo político prácticamente acrítico. Mas como en los últimos años la capitulación de la OLP al sionismo quedó demasiado explícita, fue necesario buscar otra fuerza política de la cual se espera el objetivo utópico de la “Palestina libre” sin mención al carácter de clase.

En el 2007, en un artículo publicado en su sitio, el PSTU brasilero defendió la siguiente “alternativa”:

“En este momento es muy importante realizar un llamado a todos los que desean resistir a Israel y sus asociados. El Hamas precisa estar delante de ese llamado a todas las organizaciones de la resistencia palestina, de la izquierda y de las propias bases del Fatah, a romper con su corrupto presidente y repudiar su golpe. La paz sólo vendrá con la lucha intransigente y hasta el fin contra el Estado de Israel y la construcción de una Palestina soberana, laica, democrática y no racista, con el retorno de todos los refugiados.”

Hamas toma control de la Franja de Gaza, Julio del 2007 (originalmente en portugués)
http://www.pstu.org.br/jornal_materia.asp?id=7020&ida=2

El Hamas (Movimiento de Resistencia Islámica) surgió en el 1987 como una disidencia de la hermandad Musulmana, siendo un partido que defiende la construcción de un Estado teocrático islámico en Palestina. En el 2007, llegó al gobierno de la Franja de Gaza y hoy controla la mayoría de los asientos en el parlamento organizado por la Autoridad Nacional Palestina. El Hamas ganó bastante prestigio con las masas palestinas en razón de la capitulación gritante de la OLP al régimen sionista y, debido a la situación extrema de la Franja de Gaza, él frecuentemente toma medidas de resistencia contra Israel. Con todo, sus intereses nada tienen que ver con los del proletariado. No sólo él también sustenta el capitalismo, como también es abiertamente antidemocrático, siendo contra los derechos seculares de las mujeres de Palestina e igualando todos los trabajadores israelitas con los asesinos gobernantes de Israel.

Al llamar para que el Hamas “este adelante” de toda la resistencia palestina, la LIT confirió a ese partido nacionalista islámico el “derecho” de liderar a los trabajadores palestinos. Indirectamente, está abdicando de la lucha por un partido revolucionario para ganar el proletariado de la influencia nociva del nacionalismo islámico, diciendo inclusive que es el Hamas quien debe llamar a romper la base del Fatah. Además, ¿como es posible que los dirigentes de la LIT creyeran que el Hamas fuese capaz de llevar a cabo una lucha por un programa que él jamás tuvo, o aunque fuera posible que luchara por una Palestina “laica” (siendo defensores de la teocracia islámica), “libre y soberana” (siendo que están en frente de un gobierno capitalista en un mundo dominado por el capital imperialista); o aunque sea “democrática” (cuando son fanáticos religiosos profundamente misóginos y homofóbicos)? el resultado de una hegemonía del Hamas en la resistencia palestina contra Israel sería aprisionar las masas palestinas al nacionalismo islámico, alienar (todavía más) a los trabajadores israelitas de cualquier oposición al régimen sionista y garantizar que, de una forma o de otra, los intereses sucios de la burguesía serían asegurados. Ningún marxista digno del nombre podría sustentar tal posición.

La escandalosa caracterización del proletariado israelita

Si la palabra de orden de la LIT por una “Palestina libre, laica y democrática” es una clara limitación a un programa democrático-burgués, fruto de su capitulación al nacionalismo árabe capitalista, hay todavía otro aspecto de su política que también es un enorme obstáculo para cualquier perspectiva de revolución proletaria. Según la caracterización hecha por la LIT en el 2011:

“Y así como el Estado sionista no es un Estado normal, sino un enclave militar, tampoco lo es la clase obrera que vive allí. Al ser Israel un Estado artificial, basado en el robo y la superexplotación de los palestinos, la clase obrera judía en Israel es, también, parte de la ocupación. Recibe privilegios de la ocupación. Tiene un nivel de vida mejor del de los trabajadores árabes, exactamente porque recibe migajas derivadas de la explotación de éstos, y por los fondos que Israel recibe de EE.UU.”

“Ninguna clase obrera en el mundo, como ya decía Marx, lucha para empeorar su nivel de vida o para perder sus privilegios. Por eso, la clase obrera israelita no es (y no será) revolucionaria, ni siquiera reformista. Es, intrínsecamente, reaccionaria. Su bienestar depende de la continuidad y de la ampliación de la ocupación del territorio palestino, de su carácter de Estado policial. No se puede esperar de los trabajadores judíos un cambio de carácter del Estado sionista, para que éste deje de ser sionista, racista y expansionista.

Sobre el movimiento de los “indignados” en Israel. 22 septiembre, 2011.
http://litci.org/es/archive/sobre-el-movimiento-de-los-qindignadosq-en-israel/

Comencemos por la caracterización de Israel como un “enclave militar”. El régimen sionista ciertamente es financiado pesadamente por el imperialismo, pero la base de su existencia es también la exploración de los trabajadores israelitas y de las masas palestinas, de forma que no se trata de una mera instalación imperialista en el Oriente Medio. E Israel no es el único Estado que recibe insumos financieros y militares por ser un aliado fiel de las potencias imperialistas. Lo mismo se da con varios países árabes, como es el caso de Arabia Saudita, el cual las grandes potencias usan como marionetas locales para contrabalancear los gobiernos burgueses “inestables”, como Irán.

Además de eso, conforme afirmamos en nuestra ya mencionada declaración, “La población israelita no puede ser considerada simplemente como colonos en este momento de la historia. De cualquier manera, se desenvolvió en la región una nacionalidad de habla hebraica.” (Defender a los palestinos! Ninguna confianza en Hamas o Fatah!). Al borrar la existencia de esa nación (y su división en clases fundamentalmente antagónicas) la LIT reduce la contradicción fundamental de la sociedad israelita, no a la lucha entre burgueses y proletarios, pero a una lucha de ambos, los burgueses y proletarios israelitas contra el pueblo palestino (también aquí tomado en bloque, como si no hubiese contradicciones de clase).

Los marxistas no se oponen al derecho de que los judíos habiten en Palestina, ni a los derechos de aquellos que emigraron para allá. La oposición de los marxistas es al proyecto sionista, que defiende un Estado exclusivamente israelita, con un régimen que oprime las masas palestinas, segregándolas sistemáticamente a través de métodos jurídicos y militares. Correctamente, la Cuarta Internacional fue contra la fundación del Estado de Israel en 1948, al mismo tiempo en que buscaba ganar a los trabajadores israelitas contra el sionismo [2]. Es de un simplismo absurdo intentar reducir toda la sociedad israelita de hoy en día a un “enclave militar”. Eso secunda la división de esa sociedad en clases fundamentalmente antagónicas, poniendo en un mismo nivel los exploradores y los explorados.

En segundo lugar, aunque tenga mejores condiciones de vida del que la mayor parte de sus hermanos en los países vecinos del Oriente Medio, el proletariado israelita no es más privilegiado que los países imperialistas (en verdad, posee condiciones de vida bastante inferiores). Tanto su vida no es perfecta y harmónica, que en los últimos años hemos visto masivas protestas en defensa de más recursos públicos para servicios y políticas sociales como salud y educación – algo mucho más próximo de una consciencia reformadora que de una consciencia “intrínsecamente reaccionaria” [3]. La LIT se opone a esas protestas y, al menos en eso, existe la misma actitud de los burócratas sionistas que desean ver menguar y fracasar esa lucha.

El hecho de que la clase trabajadora en algunos países es privilegiada en comparación con la de otros, no cambia el hecho de que es de la clase proletaria que depende una revolución victoriosa (y especialmente la clase trabajadora de los países imperialistas, sin los cuales el socialismo no puede triunfar a nivel mundial). Esa desigualdad es un elemento estructural el cual los capitalistas se fían para dividir a la clase trabajadora en líneas nacionales, pero el trabajador israelita tiene mucho más ventajas en romper con “su” burguesía y buscar un poder en conjunto con las masas palestinas de que mantener su actual condición de clase dominada, explorada y oprimida.

Al contrario de los sionistas, los marxistas argumentan que el sionismo NO sirve para los intereses objetivos de la clase trabajadora israelita. El Estado de Israel, como Trotsky había previsto, que puede acabar siendo una “armadilla fatal” para los judíos que emigraron para allá. Los trabajadores judíos no se benefician de vivir bajo el capitalismo sionista, y su actual apoyo a “su” clase dominante, así como el apoyo que la clase trabajadora de muchos países presta a “sus” gobiernos, es una falsa consciencia que los revolucionarios deben buscar desenmascarar.

Al fin y al cabo, es de una total falta de coherencia que supuestos marxistas crean seriamente que los trabajadores tengan que perder (“empeorar su nivel de vida” o “perder sus privilegios”) al derrotar sus patrones y asumir el control de la riqueza producida por ellos. Ciertamente, de que los trabajadores israelitas jamás podrán ser convencidos es apoyar a partidos nacionalistas islámicos como el Hamas (y que el PSTU consideró en el 2007 que debería “estar adelante de los palestinos”) que son contra su derecho a existir como pueblo. Pero ellos tienen todas las razones objetivas para luchar lado a lado de las masas palestinas por la destrucción del régimen sionista y por una Palestina socialista de los trabajadores de todas las religiones y etnias (que es una tarea que la LIT relega a un futuro incierto). El que impide a los trabajadores israelitas de luchar por ese objetivo es su ceguera ante la ideología sionista y la ausencia de un partido revolucionario que defienda la unión internacionalista de los trabajadores de los dos pueblos contra sus verdaderos enemigos.

Esa escandalosa caracterización realizada por la LIT, hace que subestime completamente al proletariado israelita como un poderoso aliado en potencial de las masas palestinas en la lucha por su liberación. Tal postura de considerar que la clase trabajadora de Israel es “intrínsecamente reaccionaria” también significa el abandono de cualquier perspectiva realista de revolución socialista en la región, una vez que los trabajadores israelitas constituyen actualmente el mayor componente de la clase trabajadora.

Esa abstención ante el proletariado israelita es el lado reverso de su capitulación a los partidos nacionalistas árabes. Y tal capitulación es tan profunda que llega al extremo de defender y legitimar ataques reaccionarios indiscriminados contra la población israelita:

“Las organizaciones de la izquierda mundial deben responder claramente a las siguientes preguntas. ¿Estamos o no a favor de que la guerra actual se desarrolle hasta derrotar completamente al ejército sionista y destruir el Estado de Israel? ¿Estamos o no a favor de que aumenten y sean cada vez más efectivas las acciones de Hezbollah, Hamas o la Yihad Islámica contra la población del enclave colonial israelí, como ahora ocurre con los bombardeos sobre Haifa? ¿Estamos a favor o no de exigir a los gobiernos árabes, cualquiera que sea su característica, que intervengan en esta guerra para facilitar la destrucción del Estado de Israel?” (nuestra énfasis)

“En nuestra opinión quienes respondan negativamente han dejado de ser revolucionarios para ser, en palabras de Lenin, ‘meros pacifistas pequeño burgueses’. Por nuestra parte, reiteramos nuestra respuesta positiva (…)”

Por la destrucción del “estado gendarme” de Israel. 22/08, 2006
http://www.palestinalibre.org/articulo.php?a=2309

Dos cosas están amalgamadas aquí. Primero, la LIT parece referirse a la defensa de Palestina y de otras naciones oprimidas por Israel (como era el caso del Líbano, que estaba siendo atacado en el 2006), que es una tarea de todos los comunistas consecuentes. Es evidente que, por desear la derrota del Estado sionista por una revolución, los trabajadores se benefician del debilitamiento de Israel bajo los golpes de una nación subyugada por él, aunque no deban dar ningún milímetro de apoyo político a los nacionalistas burgueses. Pero a seguir, se reivindica el apoyo a actos de agresión contra la población de Israel (lo que incluiría ciertamente a su clase trabajadora). No hay nada de “leninista” en apoyar actos sanguinarios de odio étnico. La LIT menciona a Lenin (sin citar ningún texto suyo) afirmando que quien no apoya tales actos es un “pacifista pequeño-burgués”. Aunque no concuerden con métodos “terroristas”, los comunistas no condenan actos de violencia que tengan como punto a miembros de la burguesía, su ejército y su estructura de represión (como aquellos que realizan los Narodiniki rusos). Mas no hay nada de ventajoso para los trabajadores en reivindicar ataques, digamos, las residencias, escuelas o estaciones de tren en Israel, por grupos islámicos. Tales ataques son reaccionarios y sólo refuerzan el clima de odio comunal de la región, llegando principalmente a los trabajadores.

El hecho de que los dirigentes de la LIT prefieran ignorar los intereses comunes entre los explorados árabes y los explorados israelitas demuestra una total falta de fibra revolucionaria para defender el programa de la clase proletaria y una voluntad de “escoger la línea de menor resistencia”. La consciencia de clase atrasada de los trabajadores israelitas, gran parte de los cuales (contra sus intereses objetivos) defiende formas de ideología burguesa como el sionismo, hace pensar a tales revisionistas, un “refugio” en una popular ideología nacionalista árabe, también burguesa, pero más receptiva. Contra esa capitulación, los marxistas reiteran que su guerra contra el régimen sionista es una guerra de clase, a ser protagonizada por los trabajadores palestinos e israelitas (junto a las otras clases oprimidas y con apoyo de los proletarios del resto de Oriente Medio). La posición de los revolucionarios de defensa táctico-militar de los palestinos contra Israel, incluyendo apoyo táctico-militar a los partidos burgueses o pequeños-burgueses palestinos que resistan a los ataques sionistas, debe siempre venir acompañada de una denuncia implacable de la falsa política del nacionalismo burgués.

Nahuel Moreno y su fatalismo antimarxista

La capitulación de la LIT al programa del nacionalismo árabe (ya abandonado por sus propios representantes) y a los limites capitalistas de ese programa posee en su raíz las posiciones programáticas desarrolladas por Nahuel Moreno, el fallecido dirigente argentino fundador de esa organización. En 1982, en una polémica publicada en el Correo Internacional número 8 (septiembre de 1982), Nahuel Moreno discutió con un compañero de la sección chilena de la LIT, quien levantó críticas bastante pertinentes (aunque limitadas) a su política oportunista. El primer cuestionamiento levantado por el “compañero chileno” (cuyo nombre no es revelado) fue el siguiente:

“1. ¿Por qué levantamos como consigna central la de “Palestina laica, democrática y no racista” burguesa? ¿Por qué estamos por la construcción de un estado burgués en Palestina? Esto, entendiendo de que si surge un estado con esas características en lucha contra el sionismo y el imperialismo lo apoyamos pero no queda claro por qué hoy lo reivindicamos como nuestra consigna.”

“2. ¿No hacemos con esto una concesión a la ideología reaccionaria de la “revolución por etapas”, tan cara al stalinismo y a la pequeña burguesía? Si no nos equivocamos, ésta fue la consigna central del stalinismo y de la burguesía y pequeñoburguesía palestina hasta hace poco (como señala Correo Internacional 7). ¿No decimos lo mismo que el stalinismo cuando planteamos que este Estado burgués palestino servirá “como un paso en la lucha por el socialismo” (Declaración de la LIT)?”

Carta de un camarada chileno. Santiago, 31 de julio 1982.
https://www.marxists.org/espanol/moreno/pi1105.htm

De hecho, Moreno realizó una profunda revisión del marco programático del marxismo en la cuestión de la estrategia revolucionaria. Diferente del esfuerzo hecho por la Internacional Comunista y por la Cuarta Internacional para buscar una estrategia para la revolución proletaria mundial mismo en los países atrasados del capitalismo, donde era fundamental ganar el apoyo de los campesinos (que era mayoría de la población), Moreno se adaptó a la idea de que era necesario limitarse a un programa democrático-burgués en una “primera fase” de la revolución en todos los países del mundo. Él expuso abiertamente que era necesaria una “etapa”, que llamó de “revolución democrática”, en la lucha por la revolución socialista. Esto no es una lectura parcial, sino que es algo que Moreno afirmó abiertamente.

“Acá hay un problema político grave, tremendo, que toco al pasar ­si tenemos tiempo vamos a hacer un libro grande ­. Pareciera que el hecho de la contrarrevolución capitalista ha replanteado la necesidad de que tiene que haber una revolución democrática. Y que ignorar que lo que se plantea en los países adelantados donde hay regímenes contrarrevolucionarios también es una revolución democrática, es maximalismo, es tan grave como ignorar la revolución democrático-burguesa en los países atrasados. Esto es muy importante. No sé si es correcto o no. Si es correcto, hay que cambiar toda la formulación de las Tesis de la revolución permanente.”

ESCUELA DE CUADROS – ARGENTINA 1984. Teoría de la revolución.
https://www.marxists.org/espanol/moreno/1980s/1984esc/esc-2.htm

Tal postura altera la forma como se lida con los partidos burgueses y pequeños-burgueses. De enemigos de la revolución proletaria a los cuales no se puede dar ningún apoyo político y de los cuales se debe exponer a capitulación y las vacilaciones para ganar de sus bases los trabajadores conscientes, pasan a “líderes” de una “revolución democrática”, a los cuales los morenistas dan su apoyo. (Para leer otra crítica al concepto de “revolución democrática” morenista: “El golpe militar en  Egipto y la posición escandalosa de la LIT” octubre de 2013 – en portugués). Prosigue Moreno:

“Si es correcto, cambia toda nuestra estrategia con respecto a los partidos oportunistas, y en buena medida respecto a los partidos burgueses que se oponen al régimen contrarrevolucionario. Como un paso hacia la revolución socialista, nosotros estamos a favor de que venga un régimen burgués totalmente distinto.”

Este “etapismo” descarado, a disposición en orientar la lucha del proletariado en torno de tal “revolución democrática”, la cual jamás existió fuera de la imaginación fértil de Moreno y de sus seguidores [4], “cambia la estrategia con relación  a los partidos burgueses”. En su carta, el “compañero chileno” astutamente pregunta “¿Es nuestro método perseguir por la ‘izquierda’ a la pequeña burguesía e ir retomando los despojos de las consignas que ella desecha en el camino de su capitulación ante el imperialismo?”

Efectivamente, Moreno y la LIT renegaron la posición trotskista de que la lucha por la revolución proletaria debe estar en primer plano político inclusive en la defensa de una nación oprimida. Moreno y Cia. reniegan también que el sujeto político de esa revolución debe ser el partido de vanguardia del proletariado, armado con el programa bolchevique. Contrariando los enseñamientos fundamentales de la Teoría de la Revolución Permanente, prefieren depositar sus esperanzas en la falsa noción de una “revolución democrática” como la antesala de aquella, siendo esta supuestamente liderada por partidos oportunistas y también burgueses.

El método de Moreno por lo tanto no es el del marxismo, que es encontrar las formas de ganar el proletariado para el programa de la revolución socialista, haciéndolo romper con la ideología burguesa y con los partidos burgueses, pero sí, un método objetivista, para el cual no importa el actual liderazgo de las masas o su carácter de clase, se debe intentar “empujarla” para el camino de la “revolución democrática” (aun cuando esos partidos burgueses rechazan las demandas democráticas más básicas, como es el caso del Hamas). Ese es también el motivo de su abandono a la lucha para ganar al proletariado israelita ante el programa del marxismo, ya que este es mucho más políticamente atrasado. En su respuesta al “compañero chileno”, Moreno da una verdadera “aula” de su método objetivista:

“Si el propósito decisivo y fundamental es la destrucción del estado sionista, se trata de establecer cuales son las fuerzas objetivas que en este momento están embarcadas en esa tarea progresiva, historia; y cuáles las mejores consignas para apoyarlas y lograr que cumplan su cometido con el mayor entusiasmo y fuerza.”

“¿Acaso lo están haciendo los explotados y los discriminados sabras y sefaradíes de Israel? ¿ O son los trabajadores azquenazis? En este momento esas fuerzas son baluarte del estado sionista y no la vanguardia de su destrucción. La aristocracia obrera azquenazi, a través del Partido Laborista, esta con todo el sionismo. Los sabras y sefaradíes le dieron la base electoral a Begin y apoyan con entusiasmo sus planes de colonización de las tierras árabes.”

“Esto deja actualmente como único sector social en lucha permanente contra Israel al movimiento árabe y mahometano, a cuya vanguardia indiscutida están los palestinos, arrojados de su patria por los sionistas. Desde hace 34 años, cuando se construyó el estado racista, la forma de luchar por su destrucción es apoyar la justa guerra de los palestinos y musulmanes. No vemos otra, porque no hay otra fuerza en la realidad objetiva, que se enfrente, armas en la mano, contra el sionismo.”

POLEMICA SOBRE MEDIO ORIENTE, Septiembre de 1982.
https://www.marxists.org/espanol/moreno/pi1105.htm

El marxismo considera que la única clase consistentemente revolucionaria de la sociedad moderna es el proletariado. Los revolucionarios no se desesperan ante la actual consciencia atrasada de los trabajadores. En el Programa de Transición, Trotsky habló sobre la distancia entre las tareas históricas puestas para el proletariado y su nivel atrasado de consciencia para cumplirlas. Es preciso pacientemente construir poco a poco una consciencia revolucionaria en el seno de las luchas del proletariado. Mas lo que Moreno hizo, fue aceptar como “hecho consumado” el atraso de los trabajadores israelitas y que el liderazgo de la lucha contra el régimen sionista sería la burguesía árabe, en la figura de la OLP, ignorando completamente las traiciones realizadas por esa dirección, prometiendo “apoyarla”, adaptando para eso sus consignas y su programa. Ese método es mantenido hasta hoy por sus seguidores. Apoyar cualquier fuerza “objetiva” (o sea, con influencia de masas) en la lucha contra gobiernos enemigos del proletariado, independiente del programa, liderazgo y clase social que esta fuerza represente. Es evidente que la OLP jamás cumplió la esperanza de los morenistas. Al contrario, siguió su trayectoria esperada y cada vez se adaptó más a los intereses sionistas e imperialistas.

Otro cuestionamiento del “compañero chileno” fue: ¿Por qué no caracterizamos ni siquiera en el Boletín Interno a la OLP? ¿No es acaso una organización frentista controlada por la burguesía y pequeñoburguesía, con Arafat como expresión de esto? ¿No es una organización que ha dado sobradas muestras de capitulación –en abierta contradicción con el increíble heroísmo desplegado por el pueblo palestino?”. En su entusiasmo por embellecer a la OLP como liderazgo de su “revolución democrática”, Moreno rasgó completamente al marxismo.

“Ustedes caracterizan a la OLP como si fuera un partido político más. Para nosotros, representa la nacionalidad palestina como organización estatal sui generis laica, democrática y no racista, en guerra. Es casi un estado: es un frente único que abarca a todo el movimiento palestino en lucha por reconquistar su patria y volver a ser un estado. De hecho es un gobierno, reclamamos por su reconocimiento del mismo modo que lo hacíamos por el FSLN en Nicaragua. Es una nacionalidad organizada a la que le suprimieron la tierra: cuando la recupere volverá a ser nación. Es una nación sui generis.”

“Cuando ustedes desconocen esa función de la OLP, considerándola una simple fracción política de los palestinos, le otorgan un fundamento de ‘izquierda’ a la caracterización del imperialismo. También él la desconoce como organización nacional palestina, definiéndola como una corriente terrorista.”

Ídem.

Influenciado por la popularidad que entonces tenía la reivindicación de la OLP de ser algo como un “gobierno en el exilio” y legítimo representante de las masas palestinas, Moreno introdujo una categoría ajena al marxismo, de que un partido político puede representar a “una nación” como un todo, cada una de sus clases, del proletario y del campesino al gran capitalista. Rechazamos la amalgama morenista que aquellos que expusieron el carácter burgués del liderazgo de la OLP estaban “fundamentando la caracterización del imperialismo”. Trotsky combatió precisamente ese tipo de revisionismo básico contra Stalin y su caracterización de que el partido nacionalista Kuomintang era un “partido de cuatro clases” o de que los gobiernos burgueses del Frente Popular eran “gobiernos democráticos antifascistas”. En todas esas ocasiones, eran los estalinistas quienes defendían la colaboración con la burguesía disfrazándola de “representante de todas las clases democráticas”. Los marxistas no precisan inventar ese tipo de artimaña porque su compromiso es con la revolución del proletariado. Todavía que tácticamente puedan defender alianzas militares con los partidos burgueses de una nación oprimida, como es el caso de los palestinos,  reconocen en estos su carácter de clase. La caracterización de Moreno servía apenas para intentar blindar  a la OLP de críticas, y así pavimentar el camino de su traición a  las masas palestinas.

Tenemos aquí dos estrategias distintas: la del morenismo y la del marxismo revolucionario. El primero consiste en adaptar las palabras de orden y las consignas al objetivo de intentar “empujar” a los partidos nacionalistas burgueses para cumplir una “revolución democrática” cuyas demandas estos mismos rechazan, y que tendría como resultado esperado un Estado burgués. También considera al proletariado israelita de la región parte del mismo bloque que sus opresores y se posiciona contra las luchas de este. Ese esquema se muestra completamente falso cada vez que uno de los “líderes” de la supuesta “revolución democrática” traiciona a las masas palestinas. Ya el método del marxismo prevé correctamente que esas organizaciones burguesas van a, inevitablemente traicionar a las masas palestinas, y desea reunir estas bajo el liderazgo del proletariado, al mismo tiempo en que quiere dividir el “monolito” sionista en líneas de clase. Busca así unificar la lucha de los trabajadores israelitas y árabes en torno a sus intereses comunes de clase y de los derechos democráticos de los palestinos en la lucha por la revolución socialista, que construya un gobierno proletario que pueda encender la chispa de la revolución internacional. En ese momento, esta es la única vía verdaderamente realista para los que quieren luchar por el socialismo en Palestina.

Por una alianza internacionalista entre trabajadores árabes e israelitas!

El problema fundamental del proletariado en Palestina es la ausencia de un instrumento con influencia de masas que combata el Estado de Israel con los métodos y la bandera internacionalista de la clase trabajadora, el partido revolucionario conjunto de los trabajadores israelitas y palestinos que luche para poner un fin definitivo al terror sionista. Este objetivo sólo puede ser obtenido a través de la movilización de los trabajadores de las dos naciones en pro de la defensa de los palestinos y por demandas democráticas y transitorias que desenmascaren el monstruo sionista, así como los débiles gobernantes de la “Autoridad Palestina”.

Ante la inexistencia de tal partido, los revolucionarios no deben adaptarse a la consciencia actual de los trabajadores, ni a las variantes más “radicales” de los intereses burgueses, como el Hamas. Su papel es luchar contra las tendencias nacionalistas, socialdemócratas o stalinistas presentes en el seno de la clase trabajadora, reunir e entrenar una columna de cuadros para construir, cuando la oportunidad surja, su partido revolucionario.

Tal partido debe defender los derechos nacionales de los palestinos, incluyendo el derecho de retorno de aquellos palestinos que emigraron a la fuerza, bien como la expropiación y socialización de toda la riqueza producida por los trabajadores palestinos e israelitas y la utilización democrática, racional y planeada de esos recursos para mejorar radicalmente las condiciones de existencia de esos dos pueblos, a vivir de forma fraterna en una tierra compartida por hermanos de clase, sin odio religioso o étnico. Apenas un partido así será reconocido por los trabajadores de las dos naciones como verdaderamente suyo – y cargará la bandera de su próxima victoria.

NOTAS

[1] Por ejemplo, en ninguna de las declaraciones recientes del PSTU (Brasil) acerca de la cuestión palestina se habla de las tareas de una revolución socialista. Todas se limitan a lo programa de una “Palestina laica, democrática e no racista”:
Gaza: uma vitória palestina: http://www.pstu.org.br/node/20963
Os sinais da Terceira Intifadahttp://www.pstu.org.br/node/20864
Juventude Palestina, exemplo de força e resistência:  http://www.pstu.org.br/node/20864
Repudiamos a nova agressão de Israel aos Palestinos:
http://www.pstu.org.br/node/20864

[2] A posição trotskista na Palestina: Contra a Corrente (1948):
http://rr4i.milharal.org/2012/07/16/arquivo-historico-a-posicao-trotskista-na-palestina/

[3] Considerando el fuerte antisemitismo que existió entre los rusos al largo de generaciones de brutales opresores (de los zares a Stalin), es preocupantemente sospecho que el artículo que afirma la imposibilidad de los trabajadores israelitas sean “ni siquiera reformistas” tenga sido escrito justamente por la sección rusa de la LIT, el POI. Es necesario resaltar que, a pesar de esta posición ter su origen en el proprio Moreno (ver sección siguiente de esta polémica), el no ten sido utilizada de forma explicita en artículos y declaraciones del PSTU o de la LIT. Es necesario resaltar además que este tipo de afirmación justifica directamente la defensa que la LIT hace de las agresiones contra la populación israelita (ver crítica adelante).

[4] Solamente en los últimos años, los morenistas declararan “revoluciones democráticas victoriosas” en la intervención imperialista en Libia, que alzó al poder los “rebeldes” fundamentalistas, y también en el golpe militar contra el gobierno del Hermandad Musulmana en Egipto. Lea nuestras polémicas acerca de estas posiciones (en portugués):
De que lado da trincheira? http://rr4i.milharal.org/2011/11/17/polemica-com-o-pstu-e-com-a-ler-qi-sobre-a-libia/
O golpe militar no Egito e a posição escandalosa do PSTU/LIT. http://rr4i.milharal.org/2013/10/31/o-golpe-militar-no-egito-e-a-posicao-escandalosa-do-pstu-lit/

Polêmica com a LIT / PSTU sobre a Palestina

Internacionalismo proletário ou adaptação ao nacionalismo burguês?

Polêmica com a LIT / PSTU sobre a Palestina

  
Rodolfo Kaleb e Marcio Torres, janeiro de 2015
  
Recentemente nós do Reagrupamento Revolucionário publicamos uma declaração sobre a questão palestina e o massacre perpetrado pelo regime sionista de Israel contra a população de Gaza (Defender os palestinos! Nenhuma confiança no Hamas e no Fatah!, de agosto de 2014). [1] Nessa declaração, além de apontarmos nossa oposição em relação aos ataques israelenses e a defesa da Palestina de forma mais geral, também tecemos algumas breves críticas a algumas posições presentes na esquerda que se reivindica revolucionária. Esta frequentemente defende uma política desorientadora e oportunista sobre tarefas concretas para levar à emancipação do povo palestino e a um governo dos trabalhadores. Dessa forma, queremos aprofundar algumas dessas críticas, mais especificamente as que se aplicam ao Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) e à organização internacional por ele dirigida, a Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT).


Capitulação ao programa e aos partidos nacionalistas burgueses
  
Comumente, o PSTU/LIT resume seu programa para a luta de classes na Palestina através do slogan “Por uma Palestina livre, laica e democrática” (acrescentando, às vezes, também “não racista”). Não é acaso que essa síntese de sua posição não coloque em questão o caráter de classe da Palestina que almejam. Analisando de perto o conteúdo desse slogan, vemos que ele se limita ao programa original da OLP (Organização pela Libertação da Palestina), como o próprio PSTU já afirmou explicitamente:
  
 “Estamos juntos com as massas palestinas, libanesas e árabes na defesa da destruição do Estado de Israel. Contudo, diferentemente das correntes fundamentalistas islâmicas, fazemos esta defesa dentro da mesma perspectiva que existia na raiz da OLP: a criação de uma Palestina laica, democrática e não racista.”
  
― Pela destruição do “Estado policial” de Israel, de agosto de 2006. Ênfase nossa.
  
Criada em 1964, a OLP começou como uma coalização de forças políticas variadas adotando táticas de guerrilha, reivindicando o fim do sionismo, o direito de retorno dos palestinos expulsos de suas terras e o retorno à “Palestina histórica”, isto é, às fronteiras existentes antes de 1948. Como acontece com toda organização de massas sem uma delimitação classista, a OLP passou rapidamente a atender fundamentalmente aos interesses dos setores mais favorecidos economicamente da população palestina. Logo nos primeiros anos, o partido Fatah (Movimento pela Libertação Nacional da Palestina) dirigido por Yasser Arafat tornou-se a liderança da organização, o que lhe conferiu um caráter político nacionalista, sem nenhuma pretensão de confrontar o capitalismo. Com o tempo, esse programa levou à sua conclusão lógica: disposição a “negociar” os direitos dos palestinos em troca de alguma estabilidade econômica e política para os palestinos mais prósperos. Na década de 1980, sob a orientação do Fatah, a OLP aceitou negociar com Israel um “mini Estado” palestino, que compreendesse a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, abandonando abertamente as pretensões de derrotar o controle do Estado sionista sobre o território palestino e reconhecendo a legitimidade deste.
  
Qual força política é capaz de construir uma Palestina “laica, democrática e não racista”? Para os marxistas, só há duas classes na sociedade moderna que são capazes de realmente estabelecer seu poder: ou a burguesia ou os trabalhadores. A camada bastante frágil dos empresários palestinos já demonstrou sua completa bancarrota política ao aceitar uma “coexistência” sob o tacão dos sionistas. Cabe ao proletariado da região, em aliança com as massas camponesas pobres e os oprimidos pelo capitalismo sionista, lutar contra esse regime. Mas ao se organizar como vanguarda da luta contra o sionismo, o proletariado não irá se limitar ao programa democrático da pequena-burguesia. Ele vai necessariamente iniciar a construção do seu próprio governo, estabelecido sob as bases de expropriação da propriedade burguesa, administração democrática das empresas e armamento dos trabalhadores.
  
Ao reivindicar o programa original da OLP, abandonado pelo próprio Fatah em razão dos interesses de classe burgueses e pequeno-burgueses que ele representa, os dirigentes do PSTU “esquecem” o “detalhe” de que uma Palestina realmente “livre, soberana, democrática e não racista” só é possível sob um regime de democracia proletária, e que isso jamais esteve no programa da OLP e nem estará, pois vai contra seu compromisso de manter o capitalismo. O resultado é que o PSTU se coloca em defesa de um programa pequeno-burguês. Muitos dos seus materiais de propaganda sequer colocam a tarefa de construção de um poder dos trabalhadores [2], ou colocam essa tarefa de forma deslocada da luta (considerada prioritária) por uma Palestina “democrática”. Sob essa configuração, a Palestina “democrática” defendida pelo PSTU seria um regime burguês para substituir Israel. É nos próprios partidos da burguesia e da pequena-burguesia que o PSTU busca um instrumento para realizar essa tarefa. Por muitos anos, chamou para que a OLP liderasse o povo palestino e lhe conferiu apoio político praticamente acrítico. Mas como nos últimos anos a capitulação da OLP ao sionismo ficou explícita demais, foi necessário ao PSTU buscar outra força política da qual esperar o objetivo utópico da “Palestina livre” sem menção ao caráter de classe. Em 2007, em um artigo publicado em seu site, o PSTU defendeu a seguinte “alternativa”:
  
“Nesse momento é muito importante realizar um chamado a todos os que desejam resistir a Israel e seus parceiros. O Hamas precisa estar à frente desse chamado a todas as organizações da resistência palestina, da esquerda e das próprias bases do Fatah, a romper com seu corrupto presidente e repudiar seu golpe. A paz só virá com a luta intransigente e até o fim contra o Estado de Israel e a construção de uma Palestina soberana, laica, democrática e não racista, com retorno de todos os refugiados.”
  
― Hamas toma controle da Faixa de Gaza, julho de 2007. Disponível em:
  
O Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) surgiu em 1987 como uma dissidência da Irmandade Muçulmana, sendo um partido que defende a construção de um Estado teocrático islâmico na Palestina. Em 2007, no ano do artigo escrito pelo PSTU, ele chegou ao governo da Faixa de Gaza e hoje controla a maioria dos assentos no parlamento organizado pela Autoridade Nacional Palestina. O Hamas ganhou bastante prestígio com as massas palestinas em razão da capitulação gritante da OLP ao regime sionista e, devido à situação extrema da Faixa de Gaza, ele frequentemente toma medidas de resistência armada contra Israel. Contudo, seus interesses nada tem a ver com os do proletariado. Não só ele também sustenta o capitalismo, como também é abertamente antidemocrático, sendo contra os direitos seculares das mulheres da Palestina e igualando todos os trabalhadores israelenses com os assassinos governantes de Israel.
  
Ao chamar para que o Hamas “esteja à frente” de toda a resistência palestina, o PSTU conferiu a esse partido nacionalista islâmico o “direito” de liderar inclusive os trabalhadores palestinos. Indiretamente, está abdicando da luta por um partido revolucionário para ganhar o proletariado da influência nociva do nacionalismo islâmico, dizendo inclusive que é o Hamas que deve chamar a romper a base do Fatah. Além do mais, como é possível que os dirigentes do PSTU acreditem que o Hamas seja capaz de levar a cabo uma luta por um programa que ele jamais teve, ou mesmo que seja possível que seus membros lutem por uma Palestina “laica” (sendo defensores da teocracia islâmica), “livre e soberana” (sendo que estão à frente de um governo capitalista num mundo dominado pelo capital imperialista); ou mesmo “democrática” (quando são fanáticos religiosos profundamente misóginos e homofóbicos)? O resultado de uma hegemonia do Hamas na resistência palestina contra Israel seria aprisionar as massas palestinas ao nacionalismo islâmico, alienar (ainda mais) os trabalhadores israelenses de qualquer oposição ao regime sionista e garantir que, de uma forma ou de outra, os interesses sujos da burguesia seriam assegurados. Nenhum marxista digno do nome pode sustentar tal posição.
  
A escandalosa caracterização do proletariado israelense
  
Se a palavra de ordem do PSTU por uma “Palestina livre, laica e democrática” é uma clara limitação a um programa democrático burguês, fruto de sua capitulação ao nacionalismo árabe procapitalista, há ainda outro aspecto da sua política que também é um enorme obstáculo para qualquer perspectiva de revolução proletária. Segundo a caracterização feita pela LIT em 2011:
  
“Assim como o Estado sionista não é um Estado normal, mas sim um enclave militar, tampouco o é a classe operária que lá vive. Ao ser Israel um Estado artificial, baseado no roubo e superexploração dos palestinos, a classe operária judia em Israel é também parte da ocupação, ou seja, recebe privilégios da ocupação. Em outras palavras, tem um nível de vida melhor do que o dos trabalhadores árabes exatamente porque recebe migalhas derivadas da exploração destes, e pelo dinheiro que Israel recebe dos EUA.
  
“Nenhuma classe operária no mundo, como já dizia Marx, luta para piorar seu nível de vida ou para perder seus privilégios. Por isso a classe operária israelense não é (e nem será) revolucionária, sequer reformista. É intrinsecamente reacionária. Seu bem-estar depende da continuidade e da ampliação da ocupação do território palestino, de seu caráter de Estado policiesco. Não se pode esperar dos trabalhadores judeus uma mudança [de] caráter do Estado sionista, para que este deixe de ser racista e expansionista. Israel não pode ser reformado, só pode ser destruído.”
  
― Sobre o movimento dos “indignados” de Israel, Partido Operário Internacionalista (POI – Rússia), setembro de 2011. Ênfase nossa. Disponível em:
  
Comecemos pela caracterização de Israel como um “enclave militar”. O regime sionista certamente é financiado pesadamente pelo imperialismo, mas a base da sua existência é também a exploração dos trabalhadores israelenses e das massas palestinas, de forma que não se trata de uma mera instalação imperialista no Oriente Médio. E Israel não é o único Estado que recebe insumos financeiros e militares por ser um aliado fiel das potências imperialistas. O mesmo se dá com vários países árabes, como é o caso da Arábia Saudita, que as grandes potências usam como fantoches locais para contrabalancear os governos burgueses “instáveis”, como o Irã.
  
Além disso, conforme afirmamos em nossa já mencionada declaração, “A população israelense não pode ser considerada simplesmente como colonos nesse momento da história. Quer queira quer não, se desenvolveu na região uma nacionalidade de fala hebraica.” (Defender os palestinos! Nenhuma confiança no Hamas e no Fatah!de agosto de 2014). Ao apagar a existência dessa nação (e sua divisão em classes fundamentalmente antagônicas) a LIT reduz a contradição fundamental da sociedade israelense, não à luta entre burgueses e proletários, mas a uma luta de ambos os burgueses e proletários israelenses contra o povo palestino (também aqui tomado em bloco, como se não houvesse contradições de classe).
  
Os marxistas não se opõem ao direito dos judeus de habitar na Palestina, nem aos direitos daqueles que para lá emigraram. A oposição dos marxistas é ao projeto sionista, que defende um Estado exclusivamente israelense, com um regime teocrático e que oprima as massas palestinas, segregando-as sistematicamente através de métodos jurídicos e militares. Corretamente, a Quarta Internacional foi contra a fundação do Estado de Israel em 1948, ao mesmo tempo em que buscava ganhar os trabalhadores israelenses contra o sionismo [3]. É de um simplismo absurdo tentar reduzir toda a sociedade israelense de hoje em dia a um “enclave militar”. Isso secundariza a divisão dessa sociedade em classes fundamentalmente antagônicas, colocando em um mesmo patamar os exploradores e os explorados.
  
Em segundo lugar, embora tenha melhores condições de vida do que a maior parte dos seus irmãos nos países vizinhos do Oriente Médio, o proletariado israelense não é mais privilegiado do que aquele dos países imperialistas (na verdade, possui condições de vida bastante inferiores). Tanto sua vida não é perfeita e harmônica, que nos últimos anos temos visto massivos protestos em defesa de mais recursos públicos para serviços e políticas sociais como saúde e educação – algo muito mais próximo de uma consciência reformista do que de uma consciência “intrinsecamente reacionária” [4]. A LIT se opõe a esses protestos e, ao menos nisso, tem a mesma atitude dos dos burocratas sionistas que desejam ver tais lutas minguarem e fracassarem.
  
O fato de que a classe trabalhadora em alguns países é privilegiada em comparação com a de outros não muda o fato de que é da classe proletária que depende uma revolução vitoriosa (e especialmente a classe trabalhadora dos países imperialistas, sem os quais o socialismo não pode triunfar a nível mundial). Essa desigualdade é um elemento estrutural no qual os capitalistas se fiam para dividir a classe trabalhadora em linhas nacionais, mas o trabalhador israelense tem muito mais vantagens em romper com a “sua” burguesia e buscar um poder em conjunto com as massas palestinas do que manter sua atual condição de classe dominada, explorada e oprimida.
  
Ao contrário dos sionistas, os marxistas argumentam que o sionismo NÃO serve aos interesses objetivos da classe trabalhadora israelita. O Estado de Israel, como Trotsky havia previsto, pode acabar sendo uma “armadilha fatal” para os judeus que emigraram para lá. Os trabalhadores judeus não se beneficiam de viver sob o capitalismo sionista, e o seu atual apoio à “sua” classe dominante, assim como o apoio que a classe trabalhadora de muitos países presta aos “seus” governos, é uma falsa consciência que os revolucionários devem buscar desmascarar.
  
Ao fim e ao cabo, é de uma total falta de coerência que supostos marxistas acreditem seriamente que trabalhadores tem a perder (“piorar seu nível de vida” ou “perder seus privilégios”) ao derrotar seus patrões e assumir o controle da riqueza por eles produzida. Certamente, do que os trabalhadores israelenses jamais poderão ser convencidos é apoiar partidos nacionalistas islâmicos como o Hamas (e que o PSTU considerou em 2007 que deveria estar à frente dos palestinos) que são contra seu direito a existir enquanto povo. Mas eles têm todas as razões objetivas para lutar lado a lado das massas palestinas pela destruição do regime sionista e por uma Palestina socialista dos trabalhadores de todas as religiões e etnias (que é uma tarefa que o PSTU relega a um futuro incerto). O que impede os trabalhadores israelenses de lutar por esse objetivo é sua cegueira diante da ideologia sionista e a ausência de um partido revolucionário que defenda a união internacionalista dos trabalhadores dos dois povos contra seus verdadeiros inimigos.
  
Essa escandalosa caracterização realizada pela LIT, faz com que ela subestime completamente o proletariado israelense como um poderoso aliado em potencial das massas palestinas na luta por sua libertação. Tal postura de considerar que a classe trabalhadora de Israel é “intrinsecamente reacionária” também significa o abandono de qualquer perspectiva realista de revolução socialista na região, uma vez que os trabalhadores israelenses constituem atualmente o maior componente da classe trabalhadora.
  
Esse abstencionismo diante do proletariado israelense é o lado reverso da sua capitulação aos partidos nacionalistas árabes. E tal capitulação é tão profunda que chega ao extremo de defender e legitimar ataques reacionários indiscriminados contra a população israelense,
  
“As organizações da esquerda mundial devem responder claramente às seguintes perguntas: estamos a favor de que a atual guerra se desenvolva até derrotar completamente o exército sionista e o Estado de Israel? Estamos a favor de que as ações contra a população do enclave colonial israelense – por parte do Hizbollah, do Hamas e do Jihad Islâmica – aumentem e sejam cada vez mais efetivas? (…) Aqueles que responderem negativamente a estas questões deixaram de ser revolucionários para, nas palavras de Lênin, transformarem-se em ‘meros pacifistas pequeno-burgueses’. De nossa parte, reiteramos a resposta afirmativa a cada uma destas questões.
  
― Pela destruição do “Estado policial” de Israel, de agosto de 2006. Ênfase nossa.
  
Duas coisas estão amalgamadas nesse parágrafo. Primeiro, o PSTU parece se referir à defesa da Palestina e de outras nações oprimidas por Israel (como era o caso do Líbano, que estava sendo atacado em 2006), que é uma tarefa de todos os comunistas consequentes. É evidente que, por desejarem a derrota do Estado sionista por uma revolução, os trabalhadores se beneficiam do enfraquecimento de Israel sob os golpes de uma nação por ele subjugada, ainda que não devam dar nenhum milímetro de apoio político aos nacionalistas burgueses. Mas a seguir, o PSTU reivindica o apoio a atos de agressão contra a população de Israel (o que incluiria certamente a sua classe trabalhadora). Não há nada de “leninista” em apoiar atos sanguinários de ódio étnico. O PSTU menciona Lenin (sem citar nenhum texto seu) afirmando que quem não apoia tais atos é um “pacifista pequeno-burguês”. Ainda que não concordem com métodos “terroristas”, os comunistas não condenam atos de violência que tenham como alvo membros da burguesia, seu exército e sua estrutura de repressão (como aqueles que realizavam os Narodiniki russos). Mas nada há de vantajoso para os trabalhadores em reivindicar ataques, digamos, a residências, escolas ou estações de trem em Israel por grupos islâmicos. Tais ataques são reacionários e só reforçam o clima de ódio comunal da região, atingindo principalmente trabalhadores.
  
O fato de os dirigentes da LIT preferirem ignorar os interesses comuns entre os explorados árabes e os explorados israelenses demonstra uma total falta de fibra revolucionária para defender o programa da classe proletária e uma vontade de “escolher a linha de menor resistência”. A consciência de classe atrasada dos trabalhadores israelenses, grande parte dos quais (contra os seus interesses objetivos) defende formas de ideologia burguesa como o sionismo, faz tais revisionistas acharem um “refúgio” numa popular ideologia nacionalista árabe, também burguesa, porém mais receptiva. Contra essa capitulação, os marxistas reiteram que a sua guerra contra o regime sionista é uma guerra de classe, a ser protagonizada pelos trabalhadores palestinos e israelenses (junto às outras classes oprimidas e com apoio dos proletários do restante do Oriente Médio). A posição dos revolucionários de defesa tático-militar dos palestinos contra Israel, incluindo alianças tático-militares com os partidos burgueses ou pequeno-burgueses palestinos que resistem aos ataques sionistas, deve sempre vir acompanhada de uma denúncia implacável da falsa política do nacionalismo burguês.
  
Nahuel Moreno e seu fatalismo antimarxista
  
A capitulação da LIT ao programa do nacionalismo árabe (já abandonado por seus próprios representantes) e aos limites capitalistas desse programa possui em sua raiz as posições programáticas desenvolvidas por Nahuel Moreno, o falecido dirigente argentino fundador dessa organização. Em 1982, numa polêmica publicada em Correio Internacional número 8 (setembro de 1982), Nahuel Moreno discutiu com um companheiro da seção chilena da LIT, que levantou críticas bastante pertinentes (ainda que limitadas) à sua política oportunista. O primeiro questionamento levantado pelo “companheiro chileno” (cujo nome não é revelado) foi o seguinte:
  
 “1. Por que levantamos como consigna central a de ‘Palestina laica, democrática e não racista’ burguesa? Por que estamos pela construção de um Estado burguês na Palestina? Fica entendido que, se surgir um Estado com essas características na luta contra o sionismo e o imperialismo, o apoiamos, mas não está claro porque hoje a reivindicamos como nossa consigna”.
  
“2. Não fazemos com isso uma concessão à ideologia reacionária da ‘revolução por etapas’, tão cara ao estalinismo e à pequena-burguesia? Se não nos equivocamos, essa foi a consigna central do estalinismo e da burguesia e pequena-burguesia palestina até agora pouco (como assinala Correio Internacional 7). Não dizemos o mesmo que o estalinismo quando afirmamos que esse Estado burguês palestino servirá ‘como um passo na luta pelo socialismo’ (declaração da LIT)?”.
  
— “Carta de um camarada chileno” (espanhol). Disponível em:
  
De fato, Moreno realizou uma profunda revisão do arcabouço programático do marxismo na questão da estratégia revolucionária. Diferente do esforço feito pela Internacional Comunista e pela Quarta Internacional para buscar uma estratégia para a revolução proletária mundial mesmo nos países atrasados do capitalismo, onde era fundamental ganhar o apoio do campesinato (que era maioria da população), Moreno se adaptou à ideia de que era necessário se limitar a um programa democrático-burguês numa “primeira fase” da revolução em todos os países do mundo. Ele colocou abertamente que era necessária uma “etapa”, que chamou de “revolução democrática”, na luta pela revolução socialista. Isso não é uma leitura parcial, mas algo que Moreno afirmou abertamente:
  
“Aqui há um problema político grave, tremendo, que toco de passagem – se tivermos tempo, faremos um grande livro. Parece que o fato da contrarrevolução capitalista recolocou a necessidade de que haja uma revolução democrática. E ignorar que o que está acontecendo nos países adiantados, onde há regimes contrarrevolucionários, também é uma revolução democrática, é maximalismo, é tão grave quanto ignorar a revolução democrático-burguesa nos países atrasados. Isto é muito importante. Não sei se é correto ou não. Se é correto, é preciso mudar toda a formulação das Teses da Revolução Permanente.”
  
— Escola de Quadros, “Teoria da Revolução” (espanhol), 1984.
  
Tal postura altera a forma como se lida com os partidos burgueses e pequeno-burgueses. De inimigos da revolução proletária aos quais não se pode dar nenhum apoio político e dos quais se deve expor a capitulação e as vacilações para ganhar de suas bases os trabalhadores conscientes, eles passam a “líderes” de uma “revolução democrática”, aos quais os morenistas dão seu apoio. Prossegue Moreno:
  
“Se é correto, muda toda nossa estratégia com respeito aos partidos oportunistas e, em boa medida, com respeito aos partidos burgueses que se opõem ao regime contrarrevolucionário. Como um passo até a revolução socialista, nós estamos a favor que venha um regime burguês totalmente distinto.”
  
— Idem.
  
Este “etapismo” descarado, a disposição em orientar a luta do proletariado em torno de tal “revolução democrática”, a qual jamais existiu fora da imaginação fértil de Moreno e dos seus seguidores [5], “mudam a estratégia com relação aos partidos burgueses”. Na sua carta, o “companheiro chileno” astutamente pergunta: “O nosso método é seguir pela ‘esquerda’ a pequena-burguesia e ir retomando os restos das consignas que ela abandona no caminho de sua capitulação diante do imperialismo?”.
  
Efetivamente, Moreno e a LIT renegaram a posição trotskista de que a luta pela revolução proletária deve estar em primeiro plano político inclusive na defesa de uma nação oprimida. Moreno e Cia. renegam também que o sujeito político dessa revolução deve ser o partido de vanguarda do proletariado, armado com o programa bolchevique. Contrariando os ensinamentos fundamentais da Teoria da Revolução Permanente, preferem depositar suas esperanças na falsa noção de uma “revolução democrática” como a antessala daquela, sendo esta supostamente liderada por partidos oportunistas e mesmo burgueses.
  
O método de Moreno portanto não é o do marxismo, que é encontrar as formas de ganhar o proletariado para o programa da revolução socialista, fazendo-o romper com a ideologia burguesa e com os partidos burgueses, mas sim um método objetivista, para o qual não importa a atual liderança das massas ou seu caráter de classe, deve-se tentar “empurrá-la” para o caminho da “revolução democrática” (mesmo quando esses partidos burgueses rejeitam as demandas democráticas mais básicas, como é o caso do Hamas). Esse é também o motivo do seu abandono da luta para ganhar o proletariado israelense para o programa do marxismo, já que este é muito mais politicamente atrasado. Na sua resposta ao “companheiro chileno”, Moreno dá uma verdadeira “aula” do seu método objetivista:
  
“Se o propósito decisivo e fundamental é a destruição do Estado sionista, se trata de estabelecer quais são as forças objetivas que neste momento estão embarcadas nessa tarefa progressiva, histórica, e quais são as melhores consignas para apoiá-las e conseguir com que cumpram seu compromisso com o maior entusiasmo e força.”
  
“Acaso estão fazendo isso os explorados e discriminados sabras e sefarditas de Israel? Ou são os trabalhadores asquenazes? Nesse momento essas forças são o baluarte do Estado sionista e não a vanguarda da sua destruição. A aristocracia operária asquenaze, através do Partido Trabalhista, está em tudo com o sionismo. Os sabras e sefarditas deram a base eleitoral a Begin e apoiaram com entusiasmo seu plano de colonização das terras árabes.”
  
“Isso deixa atualmente como único setor social em luta permanente contra Israel o movimento árabe e maometano, em cuja vanguarda indiscutível estão os palestinos, expulsos de sua pátria pelos sionistas. Há 34 anos, quando se construiu o Estado racista, a forma de lutar pela sua destruição é apoiar a justa guerra dos palestinos e muçulmanos. Não vemos outra, porque não há outra força na realidade objetiva que se enfrente, de armas na mão, contra o sionismo.” (ênfase nossa).
  
— Polêmica sobre o Oriente Médio (espanhol). Disponível em:
  
O marxismo considera que a única classe consistentemente revolucionária da sociedade moderna é o proletariado. Os revolucionários não se desesperam diante da atual consciência atrasada dos trabalhadores. No Programa de Transição, Trotsky falou sobre a distância entre as tarefas históricas colocadas para o proletariado e o seu nível atrasado de consciência para cumpri-las. É preciso pacientemente construir aos poucos uma consciência revolucionária no seio das lutas do proletariado. Mas o que Moreno fez foi aceitar como “fato consumado” o atraso dos trabalhadores israelenses e que a liderança da luta contra o regime sionista seria a burguesia árabe, na figura da OLP, ignorando completamente as traições realizadas por essa direção, prometendo “apoiá-la”, adaptando para isso as suas consignas e o seu programa. Esse método é mantido até hoje pelos seus seguidores. Apoiar qualquer força “objetiva” (ou seja, com influência de massas) em luta contra governos inimigos do proletariado, independente do programa, liderança e classe social que esta força represente. É evidente que a OLP jamais cumpriu a esperança dos morenistas. Ao contrário, seguiu a sua trajetória esperada e cada vez se adaptou mais aos interesses sionistas e imperialistas.
  
Outro questionamento do “companheiro chileno” foi: “Por que sequer caracterizamos a OLP no Boletim Interno? Acaso não é uma organização frentista controlada pela burguesia e pequena-burguesia, com Arafat como expressão disso? Não é uma organização que já deu várias amostras de sua capitulação – em aberta contradição com o incrível heroísmo demonstrado pelo povo palestino?”. Em seu entusiasmo por embelezar a OLP como liderança de sua “revolução democrática”, Moreno rasgou completamente o marxismo:
  
“Vocês caracterizam a OLP como se fosse um partido político a mais. Para nós, representa a nacionalidade palestina como organização estatal sui generis laica, democrática e não racista, em guerra. É quase um Estado: é uma frente única que abarca todo o movimento palestino em luta para reconquistar sua pátria e voltar a ser um Estado. De fato, é um governo, exigimos o seu reconhecimento do mesmo modo como fazíamos pela FSLN na Nicarágua. É uma nacionalidade organizada à qual suprimiram a terra: quando a recuperar, voltará a ser nação. É uma nação sui generis.”
  
“Quando vocês não reconhecem essa função da OLP, considerando-a uma simples fração política dos palestinos, dão um fundamento ‘de esquerda’ à caracterização do imperialismo. Ele também não a reconhece como organização nacional palestina, definindo-a como uma corrente terrorista.”
  
— Idem.
  
Influenciado pela popularidade que então tinha a reivindicação da OLP de ser algo como um “governo no exílio” e legítimo representante das massas palestinas, Moreno introduziu uma categoria alheia ao marxismo, de que um partido político pode representar “uma nação” como um todo, cada uma de suas classes, do proletário e do camponês ao grande capitalista. Rejeitamos o amálgama morenista de que aqueles que expuseram o caráter burguês da liderança da OLP estavam “fundamentando a caracterização do imperialismo”. Trotsky combateu precisamente esse tipo de revisionismo básico contra Stalin e sua caracterização de que o partido nacionalista Kuomintang era um “partido de quatro classes” ou de que os governos burgueses de Frente Popular eram “governos democráticos antifascistas”. Em todas essas ocasiões, eram os estalinistas que defendiam a colaboração com a burguesia disfarçando-a de “representante de todas as classes democráticas”. Os marxistas não precisam inventar esse tipo de artimanha porque seu compromisso é com a revolução do proletariado. Ainda que taticamente possam defender alianças militares com os partidos burgueses de uma nação oprimida, como é o caso dos palestinos, reconhecem nestes o seu caráter de classe. A caracterização de Moreno servia apenas para tentar blindar a OLP de criticas, e assim pavimentar o caminho de sua traição das massas palestinas.
  
Temos aqui duas estratégias distintas: a do morenismo e a do marxismo revolucionário. O primeiro consiste em adaptar as palavras de ordem e as consignas ao objetivo de tentar “empurrar” os partidos nacionalistas burgueses para cumprir uma “revolução democrática” cujas demandas estes próprios rejeitam, e que teria como resultado esperado um Estado burguês. Também considera o proletariado israelense da região parte do mesmo bloco que seus opressores e se posiciona contra as lutas deste. Esse esquema se mostra completamente falso cada vez que um dos “líderes” da suposta “revolução democrática” trai as massas palestinas. Já o método do marxismo prevê corretamente que essas organizações burguesas vão inevitavelmente trair as massas palestinas, e deseja reunir estas sob a liderança do proletariado, ao mesmo tempo em que quer dividir o “monólito” sionista em linhas de classe. Busca assim unificar a luta dos trabalhadores israelenses e árabes em torno dos seus interesses comuns de classe e dos direitos democráticos dos palestinos na luta pela revolução socialista, que construa um governo proletário que possa acender a faísca da revolução internacional. Nesse momento, essa é a única via realmente realista para os que querem lutar pelo socialismo na Palestina.
  
Por uma aliança internacionalista entre trabalhadores árabes e israelenses!
  
O problema fundamental do proletariado na Palestina é a ausência de um instrumento com influência de massas que combata o Estado de Israel com os métodos e a bandeira internacionalista da classe trabalhadora, o partido revolucionário conjunto dos trabalhadores israelenses e palestinos que lute para pôr um fim definitivo ao terror sionista. Este objetivo só pode ser obtido através da mobilização dos trabalhadores das duas nações em prol da defesa dos palestinos e por demandas democráticas e transitórias que desmascarem o monstro sionista, assim como os débeis governantes da “Autoridade Palestina”.
  
Diante da inexistência de tal partido, os revolucionários não devem se adaptar à consciência atual dos trabalhadores, nem às variantes mais “radicais” dos interesses burgueses, como o Hamas. O seu papel é lutar contra as tendências nacionalistas, socialdemocratas ou stalinistas presentes no seio da classe trabalhadora, reunir e treinar uma coluna de quadros para construírem, quando a oportunidade surgir, o seu partido revolucionário.
  
Tal partido deve defender os direitos nacionais dos palestinos, incluindo o direito de retorno daqueles palestinos que emigraram à força, bem como a expropriação e socialização de toda a riqueza produzida pelos trabalhadores palestinos e israelenses e a utilização democrática, racional e planejada desses recursos para melhorar radicalmente as condições de existência desses dois povos, a viverem de forma fraterna em uma terra compartilhada por irmãos de classe, sem ódio religioso ou étnico. Apenas um partido assim será reconhecido pelos trabalhadores das duas nações como verdadeiramente seu – e carregará a bandeira da sua próxima vitória.
  
  
NOTAS
  
[1] Leia nossa declaração aqui.
[2] Veja, por exemplo, todas as declarações recentes publicadas pelo PSTU sobre a questão palestina. Nenhuma toca (sequer menciona) na questão das tarefas de uma revolução socialista, se limitando sempre ao programa da “Palestina laica, democrática e não racista”:
Gaza: uma vitória palestina: http://www.pstu.org.br/node/20963
Os sinais da Terceira Intifadahttp://www.pstu.org.br/node/20864
Juventude Palestina, exemplo de força e resistênciahttp://www.pstu.org.br/node/20864
Repudiamos a nova agressão de Israel aos Palestinos: http://www.pstu.org.br/node/20864
[3] A posição trotskista na Palestina: Contra a Corrente (1948):
[4] Tendo em vista o reacionário antissemitismo tão disseminado entre os russos por gerações de brutais opressores (dos Czares a Stalin), é preocupantemente suspeito que o artigo afirmando que os trabalhadores israelenses não podem ser “sequer reformistas” tenha sido escrito justamente pela seção russa da LIT, o POI. Cabe ressaltar que, apesar de essa posição ter sua origem em formulações do próprio Moreno, como demonstraremos na seção seguinte, ela não tem aparecido de forma explícita em artigos e declarações próprias do PSTU ou da direção da LIT. Cabe ressaltar ainda que esse tipo de afirmação justifica diretamente a defesa que a LIT faz de agressões contra a população israelense, como criticamos adiante.
[5] Somente nos últimos anos, tivemos dentre as “revoluções democráticas vitoriosas” propagandeadas pelos morenistas a intervenção imperialista sobre a Líbia que colocou os “rebeldes” no poder e o golpe militar contra o governo da Irmandade Muçulmana no Egito. Confira nossas polêmicas:
De que lado da trincheira?
O golpe militar no Egito e a posição escandalosa do PSTU/LIT:

Postagem de Ano Novo

Discurso Gravado para Conferência de Fundação da IV Internacional

Leon Trotsky (1938)

Seguindo a tradição, todo final de ano postamos um material histórico de estímulo à determinação e à vontade revolucionária de nossos militantes, leitores e simpatizantes. Este texto foi copiado de https://www.marxists.org/portugues/trotsky/1938/mes/discurso.htm 

Espero que desta vez a minha voz chegue para poder assim participar desta dupla celebração de vocês. Ambos acontecimentos, o décimo aniversário de nossa organização norte-americana e o congresso de fundação da Quarta Internacional, são incomparavelmente mais dignos da atenção dos operários que as gesticulações belicosas dos chefes totalitários, as intrigas diplomáticas ou os congressos pacifistas. Os dois fatos passarão a ser importantes marcos históricos.

É necessário notar que o surgimento do grupo norte-americano de bolcheviques leninistas, devido a valente iniciativa dos camaradas Cannon, Shachtman e Abern, não foi um fato isolado. Coincidiu aproximadamente com o começo do trabalho internacional sistemático da Oposição de Esquerda que surgiu na Rússia em 1923, mas a tarefa regular em escala internacional começou com o Sexto Congresso do Comintern. Sem que tivéssemos um encontro pessoal entre nós, chegamos a um acordo com os pioneiros norte-americanos da Quarta Internacional, antes de tudo, acerca da crítica ao programa da Internacional Comunista. E em 1928 começou o trabalho coletivo que, depois de dez anos, levou à elaboração do programa recentemente adotado em nossa conferência internacional. Temos direito a afirmar que nesta década fomos persistentes, pacientes e honestos. Os bolcheviques leninistas, os pioneiros internacionais, nossos camaradas de todo o mundo, buscavam o caminho da revolução, como genuínos marxistas, não em seus sentimentos e desejos, mas na análise da marcha objetiva dos acontecimentos. Sobretudo, guiava-nos a preocupação de não enganar aos demais nem a nós mesmos. Investigamos séria e honestamente e encontramos algumas coisas importantes. Os fatos confirmaram tanto nossas análises como nossos prognósticos. Ninguém pode negá-los. Agora é necessário permanecermos fiéis a nós mesmos e ao nosso programa. Não é fácil. As tarefas são tremendas, os inimigos inumeráveis…

Queridos amigos, não somos um partido igual aos outros. Nossa ambição não se limita a ter mais filiados, mais jornais, mais dinheiro, mais deputados. Tudo isso faz falta, mas não é mais que um meio. Nosso objetivo é a total libertação material e espiritual dos trabalhadores e dos explorados através da revolução socialista. Se nós não a fizermos, ninguém a preparará, nem a dirigirá.

As velhas internacionais – a Segunda, a Terceira, a de Amsterdã, podendo-se acrescentar também o Birô de Londres – estão completamente apodrecidas. Os grandes acontecimentos que vive a humanidade não deixarão pedra sobre pedra destas organizações que ainda sobrevivem. Só a Quarta Internacional olha com confiança o futuro. É o partido mundial da revolução socialista! Jamais houve um objetivo tão importante. Sobre cada um de nós recai uma tremenda responsabilidade histórica. O partido exige-nos uma entrega total e completa. Que os filisteus continuem buscando sua própria individualidade no vazio; para um revolucionário, doar-se inteiramente ao partido significa encontrar a si mesmo. Sim, nosso partido nos toma por inteiro. Mas, em compensação, nos dá a maior das felicidades, a consciência de participar da construção de um futuro melhor, de levar sobre nossas costas uma partícula do destino da humanidade e de não viver em vão. A fidelidade à causa dos trabalhadores exige-nos a mais alta fidelidade ao nosso partido internacional.

O partido, certamente, também pode se equivocar. Com o esforço comum corrigiremos os erros. Elementos poucos valiosos podem se infiltrar em suas fileiras. Com o esforço comum os eliminaremos. As milhares de pessoas que entrem amanhã em suas fileiras provavelmente careçam da educação necessária. Com o esforço comum, elevaremos seu nível revolucionário. Porém, nunca esqueçamos que nosso partido é agora a maior alavanca da história. Separados desta alavanca, cada um de nós não é nada. Com esta alavanca nas mãos, somos tudo. Não somos um partido como os outros. Não é à toa que a reação imperialista nos persegue furiosamente e a camarilha bonapartista de Moscou se previne com assassinos de aluguel.

Nossa jovem internacional já possui muitas vítimas. Na União Soviética se contam aos milhares. Na Espanha, às dezenas. Nos outros países, por unidades. Neste momento, nos lembramos de todos, com gratidão e amor. Seus espíritos continuam a luta conosco. Os carrascos, conduzidos por sua estupidez e cinismo, acreditam que seja possível atemorizar-nos. Enganam-se! Os golpes nos tornam mais fortes. A selvagem política de Stalin não é mais que uma política desesperada. Podem matar alguns soldados de nosso exército, mas não atemorizá-los. Amigos, repitamos novamente neste dia de celebração: não podem nos atemorizar. A camarilha do Kremlin precisou de dez anos para estrangular o Partido Bolchevique e transformar o primeiro Estado Operário em uma sinistra caricatura. A Terceira Internacional necessitou de dez anos para abandonar seu próprio programa, convertendo-se em um cadáver apodrecido. Dez anos! Só dez anos!

Permitam-me concluir com uma profecia: durante os próximos dez anos, o programa da Quarta Internacional se transformará no guia de milhões de pessoas, e estes milhões de revolucionários saberão como mover o céu e a terra.

Viva o Partido Socialista dos Trabalhadores dos Estados Unidos!
Viva a Quarta Internacional!
México, 1938

Reagrupamento Revolucionário N. 7

É com alegria que anunciamos a nossos leitores o lançamento de mais uma edição da revista Reagrupamento Revolucionário, agora com um novo visual. Disponível para download em formato PDF ou com nossos militantes. Boa leitura!

Reagrupamento Revolucionário n. 7

Ataque Israelí a Gaza

Llamamos la atención de nuestros lectores a nuestra declaración (ahora en español) publicada hace poco tiempo acerca del ataque Israelí a Gaza, que puede ser lida a:

Chamamos a atenção de nossos leitores para a declaração recém-publicada acerca da guerra de Israel contra Gaza e da questão palestina, disponível na nossa página em espanhol. Ela pode ser lida em: 

A repressão estatal e a esquerda

Lições da história da classe trabalhadora
A repressão estatal e a esquerda

Originalmente publicado pela então revolucionária Tendência Bolchevique Internacional, na revista 1917 No. 25, 2003. Traduzido para português a partir da versão online disponível em:
As agressivas guerras neocoloniais que estão sendo travadas pelo governo Bush são acompanhadas de uma grande reorganização e expansão da burocracia de segurança interna e intensificação da atividade da polícia política americana. A “guerra contra o terror” tem realizado grandes ataques contra os direitos democráticos e proteções constitucionais de todos os habitantes dos Estados Unidos, particularmente os imigrantes, os árabes-americanos e críticos do governo. Não é acaso que a Patrulha de Fronteira recentemente estabeleceu sua ronda na região de Detroit, lar de 350 mil árabes-americanos, a maior concentração do país.
Em um artigo de 15 de novembro de 2002 publicado no site de notícias Salon.com, Dave Lindorff relatou que a diretora adjunta do Centro pelos Direitos Constitucionais, Barbara Olshansky, havia descoberto seu nome em uma lista mantida pela “Administração de Segurança dos Transportes” (TSA), criada em seguida aos atentados de 11 de Setembro, como uma das pessoas sujeitas a investigação intensiva a qualquer momento em que tente viajar de avião. Não está claro quantos outros estão na mesma lista que Olshansky, mas as autoridades admitem que mantem outra lista de mil pessoas que são consideradas “ameaças à aviação” e não tem o direito de viajar de avião.
David Steigman da TSA, que contou ao Salon que as agências federais de segurança dos Estados Unidos (o Escritório Federal de Investigação [FBI], a Agência Central de Inteligência [CIA] e a Agência de Segurança Nacional [NSA]) fornecem nomes para a lista, admitiu que não há meios legais pelos quais fazer uma queixa. De acordo com Lindorff, por ora os agentes federais estão “mirando em padres, freiras idosas, operadores de campanha do Partido Verde, jornalistas de esquerda, ativistas de extrema direita e pessoas ligadas a grupos árabes ou árabes-americanos”.
A esquerda que se reivindica revolucionária, por mais frágil que seja, será automaticamente um alvo primário de todas as novas medidas policiais de Estado, enquanto um medo de terrorismo fabricado é usado como justificativa para perseguir qualquer um que se oponha à classe dominante americana. O fato de que a maior parte dos supostos marxistas nos Estados Unidos está correndo atrás de uma estratégia que combina clamores pacifistas com apelos para que os imperialistas se comportem de forma mais humana não vai lhes poupar dos olhares dos arquitetos de um Estado de exceção direitista.
O movimento marxista muitas vezes no passado confrontou a questão da repressão política em regimes democrático-burgueses. O direito das organizações socialistas de reivindicar visões revolucionárias, ganho através da luta de gerações anteriores de militantes, deve ser energicamente defendido hoje. A defesa bem sucedida do status legal e dos direitos democráticos da esquerda exige ao mesmo tempo coragem e inteligência tática. Em alguns casos, as organizações marxistas foram forçadas a fazer importantes mudanças na apresentação de suas ideias como resultado da repressão da burguesia.
Revolucionários russos contra a repressão czarista
O movimento revolucionário russo do fim do século XIX e começo do XX se desenvolveu sob um regime de constante repressão policial, e foi forçado a produzir muito de seus materiais literários na clandestinidade. Isso aumentou a sobrecarga organizativa, limitou a circulação de ideias e resultou na prisão de centenas de militantes envolvidos com a impressão, transporte e distribuição de publicações ilegais. Onde possível, os revolucionários tentavam publicar seus materiais de forma legal. Isso exigia certas adaptações terminológicas às sensibilidades da censura. O clássico de Georg Plekhanov, O desenvolvimento da visão monista da história, escrito em 1895 como polêmica direcionada aos populistas russos (Narodniks), foi escrito sob um pseudônimo (N. Beltov) e recebeu um título “intencionalmente desastrado” pelo autor para passar pelos censores czaristas, que proibiram trabalhos “materialistas” (ou seja, marxistas). As formulações defensivas empregadas por Plekhanov ao longo do livro permitiram sua publicação legal e garantiram uma distribuição mais ampla, mas não alteraram o conteúdo de seus argumentos.
No prefácio de Imperialismo, Estágio Superior do Capitalismo, Lenin chamou atenção:
“Esta brochura foi escrita tendo em conta a censura czarista. Por isso, não só me vi forçado a limitar-me estritamente a uma análise exclusivamente teórica, especificamente econômica, dos fatos, como também tive de formular as poucas observações políticas com a maior cautela, servindo-me de alusões, em uma linguagem alegórica, na língua de Esopo, essa maldita língua que o czarismo forçava todos os revolucionários a utilizar quando pegavam na pena para escrever alguma coisa destinada a publicações de tipo ‘legal’.
“(…) Para mostrar ao leitor, de forma que fosse ser aceito pela censura, o quão vergonhosamente mentirosos são os capitalistas e os socialchauvinistas que desertaram do seu campo (e a quem Kautsky se opõe tão inconsistentemente) sobre a questão das anexações, para poder mostrar quão vergonhosamente eles blindam as anexações dos seus capitalistas, eu fui obrigado a citar como exemplo – o Japão!”
A ala oportunista do movimento socialista russo, os mencheviques, que também haviam sido forçados à clandestinidade pela repressão policial, estavam inclinados a se adaptar politicamente às exigências da censura, e gradualmente abandonaram a atividade ilegal. Essa tendência foi caracterizada como “liquidacionismo” pelos bolcheviques, que mantiveram um aparato ilegal enquanto tentavam maximizar as oportunidades de atividade legal. Em um discurso feito em Nova York em novembro de 1942, quando o movimento trotskista americano estava enfrentando considerável repressão do governo, James P. Cannon descreveu como antes da Primeira Guerra Mundial os bolcheviques puderam eleger seis deputados à Duma (o pseudoparlamento do Czar) e publicavam vários jornais diários:
“O jornal diário dos bolcheviques era publicado no que podemos chamar de linguagem esopiana. (…) Eles se autointitulavam ‘democratas consistentes’. E o jornal não expunha a causa do partido bolchevique e não defendia o seu programa completo. Ele só o fazia por dedução. Era escrito em parábolas. Ele modificava a linguagem para passar pela censura czarista. Mas eles conseguiam faze-lo de maneira tão habilidosa que era através de tal jornal que o partido bolchevique se organizava. De forma que, quando chegou a hora, em condições mais favoráveis, e a chance de vir a público abertamente, os bolcheviques tinham previamente criado um amplo sentimento pelas suas ideias básicas entre os trabalhadores avançados de Moscou.
“Nessa época, entretanto, eles mantinham um partido clandestino. Eles não se confinaram a essa propaganda esopiana legal; isso era um suplemento do programa ilegal do partido. Nos círculos clandestinos do partido eles falavam abertamente sobre tudo, clarificavam seu programa e, através disso, eram capazes de manter o controle sobre a sua vasta rede de atividades legais.”
Sobre Trabalho Legal e Semilegal, 19 de novembro de 1942.
Algumas vezes os bolcheviques eram capazes enganar a censura publicando importantes declarações na forma de artigos de opinião assinados ao invés de decisões partidárias oficiais. Em outros casos, os jornais declaravam independência formal do partido. Em sua atividade legal, os bolcheviques só podiam transmitir partes do programa marxista, e geralmente escolhiam evitar temas que não fossem passar pela censura. Quando possível, eles tentavam encontrar outras formas de comentar sobre essas questões; quando não, eles permaneciam em silêncio ao invés de revisar ou deformar a posição marxista.
Marx, Engels e a socialdemocracia alemã
O Partido Socialdemocrata Alemão (SPD), a seção dirigente da Internacional Socialista (ou Segunda), com mais de um milhão de membros no início da Primeira Guerra Mundial em 1914, estavam consistentemente à direita dos bolcheviques russos. Uma marca do caráter não revolucionário do SPD era sua tendência em colocar a “defesa do partido” (e seus recursos) acima dos princípios marxistas. Rosa Luxemburgo, a líder da ala de esquerda, marxista, do SPD, era crítica à recusa do partido em levantar a palavra de ordem por uma república alemã, ou seja, a abolição da monarquia. Karl Kautsky, que era um colaborador de Frederick Engels e largamente considerado como um dos maiores expoentes do marxismo na Segunda Internacional, rejeitou a proposta de Luxemburgo de introduzir esse elemento no programa do partido sob o argumento de que era perigoso demais. Kautsky afirmou reivindicar a posição de Marx e Engels sobre essa questão:
“(…) O programa de Gotha [de 1875] não dizia nada sobre uma república, e Marx, apesar de muito condenar esse programa, considerou em sua carta que ele não iria exigir muito abertamente uma república (Neue Zeit, IX, 1, p. 573). Engels falou do mesmo assunto no que diz respeito ao programa de Erfurt [de 1891] (Neue Zeit, XX, 1, p. 11).
“Eu não tenho tempo de expor a você as bases que Marx, Engels, Bebel e Liebknecht consideraram sensatas. Basta dizer que isso que você quer é uma agitação inteiramente nova que até hoje tem sido rejeitada. Essa nova agitação, entretanto, é do tipo que nós não temos que nos meter a discutir abertamente (…). Nós não podemos e não iremos proceder dessa forma. Uma única pessoa, por maior que seja sua importância, não pode jogar fora um fato consumado a bel prazer e que pode ter consequências imprevisíveis para o partido.”
— Citado por Rosa Luxemburgo em Teoria e Prática (1910).
Luxemburgo respondeu que a agitação “inteiramente nova” era um chamado pelo sufrágio universal e uma república democrática, e que era dirigido contra a monarquia enquanto “cabeça visível da reação reinante”. Ela apontou que em sua crítica ao programa de Erfurt, Engels havia feito uma alusão ao “oportunismo que prevalece em grande parte da imprensa socialdemocrata”, e afirmou:
“Mas o fato de que não se pode nem mesmo levantar um programa partidário republicano na Alemanha prova quão colossal é a ilusão de que é possível, de forma amável, pacífica, instalar uma república – e não apenas uma república, mas a sociedade comunista.
“(…) De todos esses assuntos, não se pode falar muito no programa. Eu chamo a atenção para isso principalmente para caracterizar tanto a situação na Alemanha, onde não se pode falar dessas coisas, quanto a ilusão de que se pode transformar tal situação em uma sociedade comunista por meios legais.”
Idem.
Luxemburgo também citou o comentário de Marx na “Critica ao Programa de Gotha” de que se fosse impossível exigir abertamente uma república democrática na Alemanha, seria absurdo levantar outras demandas democráticas derivadas:
“Uma vez que não se está na situação (…) de exigir uma república democrática, como fizeram os programas operários franceses sob Luís Filipe e sob Luís Napoleão, também não se devia ter recorrido a evasivas… para exigir coisas que só têm sentido numa república democrática a um Estado que não é senão um despotismo militar com vigia policial, embelezado com formas parlamentares, mesclado de acréscimos feudais e já influenciado pela burguesia, além de burocraticamente regido, de forma a assegurar tal Estado dentro da barganha com a qual se imagina poder alcançar tais coisas ‘por meios legais’.”
A diferença entre a intransigência revolucionária de Luxemburgo e dos bolcheviques e o legalismo servil de Kautsky e dos marxistas “ortodoxos” do SPD prenunciaram a sua divergência sobre a “defesa da pátria” na Primeira Guerra Mundial, e suas respectivas respostas ao colapso das dinastias Romanov e Hohenzollern. Depois da queda do Czar, os bolcheviques, que haviam se recusado a apoiar o esforço de guerra imperial, ganharam a maioria dos conselhos de trabalhadores (sovietes) com base em um programa de acabar com a guerra, distribuir a terra ao campesinato e expropriar os capitalistas. Em 9 de novembro de 1918, o Kaiser foi forçado a abdicar como resultado da revolta dos trabalhadores e soldados alemães, que formaram conselhos revolucionários em todos os grandes centros do país. Luxemburgo e um pequeno grupo de revolucionários, que logo fundariam o Partido Comunista Alemão, propuseram o estabelecimento de um novo poder de Estado baseado em tais conselhos. Mas a liderança direitista do SPD, com o apoio do bloco centrista de Kautsky, formou um governo provisório, salvando dessa forma o Estado capitalista e desviando a revolução alemã.
Trotskistas na Segunda Guerra Mundial: ‘O socialismo vai a julgamento’
A questão da legalidade revolucionária foi posta de forma bastante aguda para o movimento trotskista durante a Segunda Guerra Mundial. Nos Estados Unidos, o Partido dos Trabalhadores Socialistas (SWP – a seção principal do movimento trotskista na época) antecipou que a entrada dos EUA na guerra seria acompanhada de uma severa repressão. James P. Cannon, o líder do partido, previu que “Durante a guerra, especialmente nos primeiros momentos, não haverá ninguém falando contra a guerra sem estar na prisão na hora seguinte. Não se poderá fazê-lo no jornal e nem em conversas privadas.” Ao norte da fronteira, no Canadá, a organização trotskista foi posta fora da lei praticamente junto com a declaração de guerra, em setembro de 1939. Pouco depois, um jovem trotskista, Frank Watson, foi preso quando ousou falar contra o massacre interimperialista em um palanque no centro de Toronto. Os camaradas de Watson fizeram o que puderam para divulgar o caso, mas ele foi rapidamente julgado e condenado e, depois de perder um recurso subsequente, foi mandado para a prisão por seis meses.
Em 15 de julho de 1941, 28 importantes membros do SWP e do combativo sindicato dos caminhoneiros de Minneapolis, que eles lideravam, foram indiciados pela justiça por violar o reacionário Smith Act, aprovado um ano antes, que proibia ideias “sediciosas”. Eles também foram acusados de conspiração para derrubar o governo pela lei de 1861. Em uma conferência extraordinária em outubro de 1941, o SWP aprovou a seguinte resolução como diretiva para os camaradas enfrentando julgamento:
“A política do partido ao se defender no tribunal, obrigatória para todos os membros do partido que estão sendo indiciados, deve estar à altura de nosso movimento e de nossa tradição; nenhuma tentativa de rebaixar ou fugir da nossa doutrina revolucionária, mas ao contrário, defende-la combativamente. Ao mesmo tempo, nós mantemos que temos o direito legal sob a Carta de Direitos, de propagar nossos princípios.”
Política da Defesa no Julgamento de Minneapolis
Durante seu julgamento, os acusados argumentaram que eles estavam sendo perseguidos por exercer seus direitos constitucionais de liberdade de expressão e de reunião. A defesa apresentou testemunho em uma variedade de questões, incluindo a expropriação da minoria capitalista, e a probabilidade de que durante a transição revolucionária do capitalismo para um regime socialista, a velha classe dominante tentaria iniciar ações de violência. A imprensa nacional prestou grande atenção aos procedimentos do julgamento, que segundo a visão de Cannon apresentaram:
“a oportunidade, pela primeira vez, de falar às massas – para as pessoas dos Estados Unidos. Nós agarramos essa oportunidade e fizemos dela o melhor que pudemos, e aplicamos na prática, sem nenhuma falha grave, os princípios básicos que haviam sido assimilados em um longo período preparatório.”
Cannon caracterizou o julgamento como “de longe o nosso maior sucesso de propaganda” e notou com orgulho que “mesmo os trabalhadores que discordam do nosso programa aprovaram e aplaudiram nossa conduta no tribunal como digna de pessoas que levam seus princípios a sério”. O partido publicou o testemunho de Cannon no julgamento e a declaração de encerramento do advogado de defesa do SWP, Albert Goldman (que também era um dos acusados) como livretos para uso na formação de novos recrutas.
Os quadros do SWP se recusaram a renunciar a seus princípios e fizeram uma defesa política de seu partido, enquanto ao mesmo tempo empregaram “formulações defensivas”. Em alguns pontos durante o testemunho, os acusados perderam oportunidades de tomar a ofensiva contra seus acusadores, mas no geral, a estratégia de defesa do SWP nesse julgamento oferece um modelo para os revolucionários.
A crítica de Grandizo Munis
Grandizo Munis, um trotskista espanhol exilado no México, criticou a forma com a qual se conduziram os acusados do SWP durante o julgamento; ele sentiu que eles perderam uma oportunidade de:
“responder às acusações políticas – de lutar contra a guerra, de defender o uso da força, a derrubada do governo pela força – quando era preciso ter aumentado o tom e virado a mesa, acusando o governo e a burguesia de uma conspiração reacionária; de uma violência permanente contra a maioria da população, uma violência física, econômica e moral; de lançar contra a população uma matança também com meios violentos para poder defender as sessenta famílias.”
Idem.
Cannon respondeu que uma distinção tinha de ser feita “entre ‘manobras’ que servem a um princípio e aquelas que o contradizem” e explicou:
“nós planejamos conduzir nossa defesa no tribunal não como uma defesa ‘criminal’, mas como uma ofensiva de propaganda. Sem desrespeitar tolamente ou provocar o júri, ou ajudar desnecessariamente a promotoria, era nosso objetivo usar o espaço do tribunal como um fórum para popularizar os princípios do nosso movimento. Nós vimos nessa segunda proposta nosso principal dever e oportunidade, e nunca sequer por um momento buscamos deixar com que considerações puramente legalistas tomassem precedência.”
Idem.
O testemunho de Cannon no julgamento foi uma excelente exposição da posição marxista com relação à violência. Em sua resposta a Munis, ele resumiu da seguinte forma suas colocações:
“(1) Os marxistas preferem uma transição pacífica. ‘A posição dos marxistas é que o método mais econômico e preferível, o método mais desejável de transformação social, por todos os meios, é que aconteça pacificamente’.
“(2) ‘É da opinião de todos os marxistas que ela será acompanhada de violência’.
“(3) Essa opinião ‘é baseada, como toda a doutrina marxista, em um estudo da história, das experiências históricas da humanidade nas numerosas mudanças de sociedade de uma forma para outra, as revoluções que as acompanharam, e a resistência que as classes ultrapassadas invariavelmente lançaram contra a nova ordem. Sua tentativa de se defenderem contra a nova ordem, ou de suprimir pela violência o movimento pela nova ordem levou a que todas as transformações sociais importantes até agora fossem acompanhadas de violência’.
“(4) A classe dominante sempre inicia a violência, ‘sempre a classe dominante, sempre a classe ultrapassada que não quer deixar o palco quando chega o seu momento. Elas querem se prender aos seus privilégios, reforça-los através de medidas violentas, contra a maioria ascendente e elas se adiantam contra a violência de massas da nova classe, que a história conduz para o poder’.
“(5) Essa é nossa previsão. Mas certamente nós não nos limitamos simplesmente a essa previsão. Nós vamos além e aconselhamos os trabalhadores a ter isso em mente e se prepararem para não permitir que a minoria reacionária ultrapassada frustre o desejo da maioria.”
Idem.
Como Cannon observou: “Isso é tudo que um marxista realmente precisa dizer sobre a questão da violência num tribunal capitalista… Isso diz a verdade, de acordo com os princípios, e protege a posição legal do partido”. Ele rejeitou a sugestão de Munis de que os réus deveriam ter levantado suas vozes para “chamar os trabalhadores a organizar sua própria violência contra a violência reacionária” como algo que não era nem necessário e nem aconselhável. Cannon citou Lenin e Trotsky sobre a vantagem de usar formulações defensivas, e explicou que seu testemunho tinha sido concebido “pensando no trabalhador não convencido”, que:
“de forma alguma espera ansiosamente por nosso chamado por uma ação violenta. Muito pelo contrário, ele ardentemente acredita na assim chamada democracia, e a primeira pergunta que fará, se tornar-se interessado no socialismo, será: ‘Por que não podemos consegui-lo pacificamente, através das urnas?’. É necessário explicar pacientemente a ele que, enquanto nós preferiríamos dessa fora, os patrões não irão permitir, que vão recorrer à violência contra a maioria, e que os trabalhadores devem se defender e também o seu direito de mudar as coisas. Nossa fórmula defensiva não é apenas inatacável… ela também é a melhor fórmula para uma propaganda efetiva.”
Idem.
Durante o interrogatório, o promotor perguntou a Cannon se a “Batalha de Bulls Run”, ocorrida em Minneapolis em maio de 1934, quando os grevistas enfrentaram milhares de policiais e agentes armados era “o trotskismo mostrando a cara”. Cannon respondeu: “Eu tenho muito orgulho do fato de que o trotskismo desempenhou um papel em influenciar os trabalhadores a se protegerem contra esse tipo de violência”. Os policiais e agentes tinham sido mobilizados para tirar os trabalhadores das ruas e “eles provaram uma dose do próprio veneno. Eu acho que os trabalhadores têm o direito de se defender. Se isso é traição, pode me acusar disso”.
Enquanto o papel dos trotskistas na vitória dos caminhoneiros de Minneapolis lhes conferiu uma base operária na cidade e resultou em um importante reagrupamento com o grupo centrista de esquerda de A. J. Muste, o American Workers Party, pequenos grupos revolucionários de propaganda raramente tem a oportunidade de demonstrar a superioridade de suas ideias liderando lutas de massa. Munis praticamente ignorou isso e desconsiderou a ênfase que os réus do SWP puseram em ganhar uma maioria para o socialismo através de educação e propaganda:
“Mas nós somos um partido de ação revolucionária – econômica, política e educativa – em essência e em potencial, porque nossa propaganda em si só pode tender à ação e somente através da ação nós conquistaremos a maioria dos explorados e iremos educá-los para tomarem o poder.”
Cannon respondeu:
“A burguesia sempre tentou pintar o comunismo como se fosse uma ‘conspiração criminosa’ para alienar os trabalhadores que são profundamente democráticos em seu sentimento. Isso novamente foi tentado no julgamento de Minneapolis. Era nosso dever fazer de tudo possível para refutar essa falsa interpretação e enfatizar a base democrática do nosso programa; não para acalmar aos nossos inimigos e perseguidores, como está sendo considerado, mas para revelar a verdade aos nossos amigos, os trabalhadores americanos.”
Idem.
Uma formulação fraca no testemunho de Cannon veio quando ele sugeriu que: “A razão pela qual nós não apoiamos a declaração de guerra das forças armadas americanas é porque nós não acreditamos que os capitalistas americanos possam derrotar Hitler e o fascismo”. Munis observou isso e apontou aonde levava esse raciocínio: “nós apoiaríamos se acreditássemos na possibilidade dessa derrota”. Cannon poderia ter melhor respondido a essa pergunta lembrando do entusiasmo com o qual grande parte da classe capitalista dos Estados Unidos comemorou a chegada de ambos Mussolini e Hitler ao poder como baluartes contra a expansão do bolchevismo.
Cannon não afirmou perfeição e comentou: “nós só fizemos o melhor que pudemos dentro dos estreitos limites prescritos pelo tribunal”. Ele defendeu de forma decidida a posição do SWP de recusar apoio fosse ao Eixo ou aos Aliados imperialistas, e em resposta a uma pergunta feita por Goldman sobre se a guerra era uma luta essencialmente entre a democracia e o fascismo, ele respondeu: “É absolutamente verdade que Hitler quer dominar o mundo, mas nós acreditamos que é igualmente verdade que o grupo dirigente dos capitalistas americanos tem a mesma ideia, e nós não estamos a favor de qualquer um deles”. Depois, durante o interrogatório pelo promotor, Cannon se solidarizou com a posição revolucionária da Quarta Internacional:
“Pergunta: Agora, em 9 de junho de 1940, o Socialist Appeal publicou o seguinte trecho do informe sobre o Manifesto da Quarta Internacional: ‘Independentemente do curso da guerra, nós cumpriremos a nossa tarefa básica, nós explicaremos aos trabalhadores o caráter irreconciliável entre os seus interesses e os interesses do capitalismo sedento de sangue; nós mobilizaremos os trabalhadores contra o imperialismo; nós propagaremos a unidade dos trabalhadores em todos os países beligerantes e neutros; nós chamaremos pela confraternização dos trabalhadores e soldados dentro de cada país, e de soldados com os soldados do lado oposto da trincheira; nós mobilizaremos as mulheres e a juventude contra a guerra; nós realizaremos uma preparação constante, persistente e incansável pela revolução – nas fábricas, nos campos, nas cidades, nos quartéis, no front e na frota.’ Você quer que os soldados façam isso, então?
“Resposta: Sim, eu acho que esse é um bom resumo da ideia, de que os soldados e todo o mundo faça isso. Essa é a forma de colocar um fim a essa matança.”
O socialismo vai a julgamento
A promotoria introduziu como evidência grandes quantidades das publicações do SWP, assim como escritos de Marx, Lenin e Trotsky. Em sua conclusão, Albert Goldman disse que, enquanto ele estava sentado ouvindo à promotoria no dia anterior:
“meus pensamentos foram muito longe. Eu me perguntei: pelo que estamos sendo julgados? Certos homens escreveram livros há muitos anos, e nós estamos sendo julgados porque esses homens tinham ideias e escreviam sobre elas. Nós estamos sendo julgados porque um homem chamado Marx viveu a maior parte dos seus dias na biblioteca do Museu Britânico, escavando estatísticas referentes a economia e política. Nós estamos sendo julgados porque esse homem, depois de ler uma enorme quantidade de estatísticas… formulou leis gerais – leis que ele acreditava, e nós também acreditamos, operarem no sistema social.”
— Em Defesa do Socialismo
Goldman também abordou a questão da “violência” sobre a qual a promotoria colocou uma pesada ênfase:
“Por toda a parte na sociedade, há violência de um tipo ou de outro, culminando com a mortífera violência que sacrifica milhões de seres humanos no altar da guerra. É essa violência que nós odiamos que nos leva a ser um movimento que tem como seu ideal a criação de um mundo livre de violência, onde os seres humanos irão cooperar na produção de bens para satisfazer suas necessidades, onde a paz e a segurança irão prevalecer.
“Nós, é claro, não somos pacifistas. Nós não concordamos com Gandhi que é errado três bilhões de pessoas na Índia usarem a violência para expulsar os opressores britânicos que afirmam estar lutando uma guerra por democracia. Por mais que nós odiemos a violência que existe hoje na sociedade, nós não vemos alternativa à necessidade de destruir a violência da minoria com a violência da maioria. Mas nos acusar de querer e de reivindicar a violência é nos acusar de querer algo que é revoltante à nossa própria natureza.”
— Idem.
A acusação de conspirar para derrubar o governo americano foi abandonada, mas em 8 de dezembro de 1941, no dia em que os Estados Unidos declararam guerra ao Japão, 18 dos acusados foram condenados pelo Smith Act por estimular a derrubada do governo, e sentenciados com penas que variaram de 12 a 16 meses de prisão.
Ninguém fica para trás!
O SWP imediatamente organizou um Comitê de Defesa dos Direitos Civis, que era presidido por James T. Farrell, um popular romancista e simpatizante do SWP, como John Dos Passos (outro autor famoso) e Carlo Tresca (um proeminente anarquista) como presidentes adjuntos. Outras figuras conhecidas que se somaram como apoiadores oficiais foram John Dewey, W. E. B. Dubois, Mary McCarthy, A. J. Muste, Adam Clayton Powell, Max Shachtman e Edmund Wilson. O Comitê de Defesa lançou uma vigorosa e efetiva campanha que ganhou apoio da União Americana pelas Liberdades Civis, da maior parte da esquerda organizada, e de mais de 100 órgãos sindicais locais e nacionais representando milhões de trabalhadores. O raivosamente antitrotskista Partido Comunista (PC), na época a maior e mais influente organização na esquerda, ficou praticamente sozinho aplaudindo a condenação do SWP. Ironicamente, o uso bem sucedido do Smith Act pelo governo contra os trotskistas garantiu o precedente para seu uso na perseguição seguinte a quadros do PC no começo de 1949. O SWP, para seu crédito, foi um dos poucos grupos no movimento dos trabalhadores a defender os estalinistas contra a caça às bruxas.
O Smith Act acabou sendo declarado inconstitucional e foi derrubado, assim como foram vários outros mecanismos usados pelos macarthistas. Uma vitória nessa luta foi conseguida através dos esforços do Workers Party de Max Shachtman, um grupo que ia cada vez mais à direita, que em 1948 lançou uma campanha legal questionando a sua inclusão na lista de organizações subversivas da Procuradoria Geral dos Estados Unidos. Demorou dez anos até os apoiadores de Shachtman serem finalmente bem sucedidos e, nesse meio tempo, eles tinham se transformado desde um grupo reivindicando o leninismo, em socialistas entusiastas do governo. Mas independente da sua trajetória política, a campanha do WP desempenhou um papel central na decisão final do Departamento de Justiça dos Estados unidos de acabar com sua infame lista.
Um caso mais recente envolveu a Liga Espartaquista (SL) em degeneração, que em 1981 entrou com um processo contra o Procurador-Geral do estado da Califórnia, o direitista George Deukmejian, por te-la incluído em uma lista de “grupos terroristas” feita em 1979. Rotular grupos de esquerda como “terrorista” cria uma atmosfera que pode conduzir à repressão geral de qualquer um que ouse mobilizar os trabalhadores e os oprimidos na defesa de seus interesses. A vigorosa resposta da Liga Espartaquista à injúria de Deukmejian foi apoiada por muitos defensores das liberdades civis e mesmo políticos negros do Partido Democrata. Eles criaram tanta agitação que em dezembro de 1981, o escritório do Procurador-Geral soltou uma retração formal de sua alegação. Essa foi uma pequena, mas significativa vitória para a Liga Espartaquista e todo o movimento dos trabalhadores.
A perseguição de opositores políticos de esquerda geralmente começa com uma maliciosa e deliberada falsificação de seus atos e objetivos. A intenção é isolar aqueles que são corajosos o suficiente para resistir às injustiças manifestas da ordem mundial imperialista retratando-os como loucos violentos ou terroristas. Em resposta às tentativas de conspirar contra quaisquer membros da esquerda e do movimento dos trabalhadores, é um dever de todos oferecer sua solidariedade ativa. Lembrando as palavras dos pioneiros do movimento operário americano, “Um ataque contra um é um ataque contra todos!”.

Portugal, a crise e a esquerda

Relato de um visitante 
Portugal, a crise e a esquerda

Um de nossos militantes visitou Portugal em setembro e produziu um relato político acerca da crise pela qual o país tem passado e a atual situação na esquerda. Compartilhamos a seguir uma versão de tal relato adaptada para o público. Marcio Torres, setembro de 2014. 

Portugal foi um dos países europeus mais afetados durante os primeiros anos da atual crise do sistema capitalista. No primeiro momento da crise, o governo colocou praticamente todos os seus recursos a serviço de salvar os grandes bancos privados, o que fez com que o Estado adquirisse uma enorme dívida pública, transferindo para os banqueiros dinheiro extraído (principalmente) da classe trabalhadora, através dos impostos. Agora, enquanto a burguesia está indo muito bem, os trabalhadores enfrentam uma série de ataques ao seu padrão de vida, conforme o governo tenta quitar sua dívida cortando o orçamento de serviços públicos como educação e saúde, demitindo funcionários, alterando as políticas previdenciárias (redução do valor das pensões e aumento do tempo até a aposentadoria) etc. Em síntese, as massas portuguesas passam atualmente pelo segundo ciclo da socialização do prejuízo da burguesia, ao passo que alguns grandes capitalistas foram salvos pelo Estado que eles comandam e utilizaram seu dinheiro para comprar os ativos daqueles que faliram (aumentado assim ainda mais a concentração e centralização de capitais que originalmente levou à crise). Tudo isso é o bem conhecido “pacote de austeridade” imposto pela chamada “Troika” (o Banco Central Europeu, a Comissão Europeia e o FMI).
 

Um dos principais reflexos da crise sobre a vida dos trabalhadores é a atual insuficiência de seus salários. Com um salário-mínimo de 485 Euros (do qual dependem 15,2% da população, de acordo com um documento recente do Ministério da Economia), os portugueses enfrentam uma alta de preços dos bens manufaturados (muitos dos quais importados dos grandes centros imperialistas) e até mesmo da comida. Em Lisboa, por exemplo, é difícil encontrar uma boa refeição por menos do que 5 Euros, o que torna comer na rua algo verdadeiramente proibitivo para o cidadão comum, já que ao longo de um mês consumiria mais da metade de um salário-mínimo (ou 280 Euros). Isso obviamente se reverte em uma intensificação da escravidão doméstica à qual muitas mulheres estão frequentemente submetidas.

Outros reflexos da crise podem ser facilmente vistos ao se ler qualquer jornal. Com o recente início do ano letivo, o tópico principal de todos os jornais nas últimas semanas foi a crise do sistema educacional. A edição de 9 de setembro do Metro anunciou uma enorme migração em massa de estudantes das escolas privadas para as públicas, devido à incapacidade dos pais de bancarem as mensalidades. E, apesar da média de 10 alunos por professor alegada pelos órgãos oficiais, a Federação Nacional de Educadores (FNE) afirma que esse dado é falso e que os professores no sistema público de ensino tem se deparado com uma sobrecarga de trabalho (comparada com os padrões anteriores), agravada ainda pelo fato dos professores terem que lidar com uma série de tarefas burocráticas que consomem uma parte razoável do seu tempo e que não possuem relação direta com seu trabalho dentro das salas de aula.

Obviamente, a deterioração das condições de trabalho não é um fenômeno que afeta apenas professores e educadores. Para citar mais um exemplo, muitas empresas privadas tem posto estagiários para cumprirem funções de funcionários plenos – o que é muito lucrativo para os patrões, uma vez que as bolsas desses estagiários são pagas pelo governo e eles não tem os mais básicos dos direitos trabalhistas. Caso questionem a situação, obviamente perderão seu emprego, o que é uma perspectiva tenebrosa para uma geração que tem se definido enquanto “precariada” a partir de diferentes movimentos de desempregados.

Outro tópico quente durante a semana em que estive no país foi a situação do “Novo Banco”. Ele foi criado como uma empresa estatal, após um dos maiores grupos financeiros portugueses, o Grupo Espírito Santo e seu banco, terem quebrado e o Estado ter comprado seus ativos. Após ter usado o dinheiro dos impostos extraídos da classe trabalhadora para salvar os proprietários do Grupo Espírito Santo, o governo agora discute a privatização do Novo Banco. Isso significa que, depois do governo ter limpado a bagunça dos executivos sedentos por lucros e de ter aumentado sua dívida pública ao fazê-lo, banco agora seria novamente posto sob controle desses mesmos parasitas – e muito provavelmente através de um preço baixo.

Todos esses problemas atrelados à crise vem se prolongando desde cerca 2009. Os recentes levantes políticos que tomaram o país nos últimos anos, respondendo a essa situação com massivos protestos de rua e várias greves, ainda ecoam nas ruas de Lisboa. Pode-se facilmente encontrar stencils com palavras de ordem radicais pelos muros da cidade, bem como placas de diferentes grupos políticos, que são bastante presentes na paisagem urbana.

O PC Português (PCP), outrora stalinista e agora abertamente reformista, recentemente pichou stencils nas entradas das principais estações de metrô, exigindo “Fim ao massacre na Palestina!”. Muitas de suas placas podem ser vistas em diferentes bairros, anunciando uma grande festa, realizada no início do mês pelo seu braço editorial, o Avante, que reuniu vários artistas progressistas. O Bloco de Esquerda – bem menor, fundado em 2009 como um partido multi-tendências ao estilo do NPA francês, através da dissolução da seção portuguesa do Secretariado Unificado (cuja seção brasileira é a Insurgência/PSOL) – periodicamente realiza distribuições massivas de seus boletins em alguns pontos de ônibus e estações de metrô mais centrais. Os números recentes desses boletins são principalmente dedicados a debater os efeitos em curso das políticas de austeridade que foram impostas pela União Europeia, e que foram alegremente aceitas pelos políticos portugueses mais conservadores. Também é fácil ver placas do pequeno MAS (Movimento Alternativa Socialista) – a seção portuguesa da LIT-CI (organização internacional do PSTU brasileiro), que recentemente rompeu com o Bloco de Esquerda – muitos dos quais dedicados à campanha do candidato que o grupo lançou nas recentes Eleições Europeias, sob o slogan “Abaixo o Euro”. Outro grupo bastante presente nas ruas de Lisboa, através de uma variedade de placas contra o Euro e também anunciando um “comício operário” que ocorreu em meados de setembro, é o maoísta PCTP (Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses), que tem murais elaborados pintados pelos muros da cidade.

Apesar da variedade de grupos de esquerda, o Partido Socialista foi o que mais cresceu devido à insatisfação popular com as políticas de austeridade. É fácil ver parlamentares do PS nos jornais televisivos e participando de programas de debates, confrontando com certa retórica radical os ministros de governo do CDS-PP e do PSD. Seu tom “radical”, entretanto, é de fato apenas retórica. O PS é um partido com certa influência de massas, mas cujo programa é burguês, e que opera dentro dos limites podres do capitalismo, não estando interessado em apresentar uma alternativa proletária aos pacotes de austeridade impostos pela UE.

Por outro lado, nenhum dos outros grupos mencionados apresenta uma verdadeira solução para os problemas do proletariado. O PCP, apesar de muito grande, é historicamente um grupo de colaboração de classe, que carrega várias traições em suas costas e que presidiu os vários governos provisórios que se seguiram à queda da ditadura nos anos 1970, governando juntamente com a burguesia. Seus enormes outdoors, distribuídos por Lisboa, o apresentam orgulhosamente como um partido “patriótico” (ver foto abaixo), tentando capitalizar a insatisfação com a UE da maneira mais fácil possível.

Os maoístas (cujo líder histórico e fundador deixou o grupo na década de 80, alegando que não havia mais sentido partidos e sindicatos e que a esquerda era “merda pura”, e ainda assim é convidado para reuniões do partido e atividades públicas), apesar da sua suposta ortodoxia revolucionária, defendem a herança podre do stalinismo, que nunca deve ser perdoado por trair vários processos revolucionários com as suas Frentes Populares traiçoeiras. Seguindo o manual de colaboração de classes maoísta, exigem como solução para a crise um “governo democrático e patriótico”, centrado no slogan pelo “retorno do Escudo” (moeda de Portugal antes do Euro).

Entre os (poucos) grupos que reivindicam a independência de classe, o Bloco de Esquerda é o único com mais visibilidade no momento. Mas suas políticas são bastante recuadas, ainda mais agora que as tendências mais radicais o deixaram (a morenista “Ruptura/FER” – agora denominada MAS – e o pequeno “Socialismo Revolucionário”, associado ao CWI de Peter Taaffe), deixando a maioria ligada ao Secretariado Unificado sem oposição. É importante notar que esta maioria, originada no mandelista PSR, não é mais organizada como uma tendência – agora aqueles que querem se manter associados ao SU tem que se filiar individualmente.

Embora tenha uma presença no movimento sindical e em outros setores mais amplos do movimento social, o BE é muito focado na política parlamentar. Em um boletim de junho, uma “Carta para a esquerda”, assinado pelos dois coordenadores nacionais, expressa uma grande decepção com os resultados obtidos pelos grupos de esquerda nas últimas Eleições Europeias, dando-lhe um peso completamente desproporcional em comparação com a importância que as massas em geral deram a ele (expresso em uma abstenção de cerca de 60%). Seu cretinismo parlamentar é tão profundo que ele nem sequer levantar mais algumas das demandas históricas mais elementares da esquerda radical. Em seu boletim mais recente (setembro/outubro), em vez de defender o não pagamento da dívida internacional portuguesa (um instrumento de dependência imposta por capitais imperialistas), o BE exige apenas uma “reestruturação imediata da dívida” (ou seja, que se certifique que Portugal pague a credores internacionais apenas uma taxa “justa”). Além disso, frente ao baixo salário mínimo, em um recente artigo em seu site eles propõem um mero aumento de 60 euros, em vez de apresentar uma luta por um salário mínimo vital, cujo aumento deva ser automaticamente atrelado ao aumento dos preços. Além disso, em alguns de seus cartazes espalhados por Lisboa o BE exige “Fora com o governo – respeitar a Constituição”. Pode-se perguntar se aqueles que desrespeitam as leis antioperárias e antiprotesto também devem ser chamados a “respeitar” a institucionalidade burguesa representada pela Constituição.

Outdoors de grupos de esquerda em Lisboa. Da esquerda para a direita: PCTP, PCP e Bloco de Esquerda. Clique para ampliar.

Afirmando representar “uma nova esquerda” contra a insuficiência da política desses grupos, o morenista MAS rompeu em 2012 com o BE. Mas de fato não tem nada de “novo”, uma vez que antes de entrar para o BE como a tendência “Ruptura/FER”, ele já existia havia um bom tempo. Na década de 1970, enquanto PRT, participou em protestos convocados pelo PS (com suprote da CIA), que se opunham pela direita aos governos provisórios do PCP/MFA – posição que rapidamente trocaram por uma caracterização do oficialista MFA (Movimento das Forças Armadas) como uma formação protossoviética e do governo como “Kerenskista” (de acordo com a terminologia revisionista de Moreno e sua “revolução democrática”) (ver La careta de izquierda de Moreno, em La Verdad Sobre Moreno, da então revolucionária Liga Espartaquista). Eles também já haviam antes composto um partido unitário com os mandelistas, dissolvendo-se em meados dos anos 70 para formar o PSR. Sua ruptura com o BE foi pela direita. Confirmando que eles realmente não representam nada de novo, ao invés dessa ruptura ter sido um afastamento à esquerda em relação ao cretinismo parlamentar sustentado pela maioria do Secretariado Unificado dentro do BE, o motivo da separação de 2012 foi que essa maioria se recusou a defender um governo conjunto com o reformista e orgulhosamente “patriótico” PCP! (veja a declaração do Comitê Executivo do MAS). O que podemos dizer destes “trotskistas”, para quem uma aliança eleitoral com reformistas ex-stalinistas é algo tão central e que, inclusive, propõem um governo conjunto com eles!? Além disso, de acordo com o pequeno grupo do CWI em Portugal, a recente campanha do MAS durante as Eleições Europeias foi totalmente centrada no lema “O Euro afunda o país” (mais “prisão para quem roubou e individou o país”, “fim dos privilégios dos políticos” e “salário mínimo de 600 Euros já”), sem fazer menção a capitalismo / socialismo – o que de fato se reflete nos cartazes de rua do grupo (veja a polêmica do CWI).

Algo digno de nota é a ausência considerável de fortes movimentos de jovens entre a esquerda portuguesa – com a importante exceção da cidade de Coimbra, em que a vida em geral está extremamente ligada à Universidade de Coimbra e, portanto, tem uma militância juvenil um tanto forte, relacionada com as causas dos estudantes. Essa ausência é compreensível, considerando-se que em 2013 o órgão governamental “Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida” afirmou que Portugal é sexto país com a população mais velha do mundo, sendo 42 a idade média de seus cidadãos. Além disso, desde o começo da atual crise muitos jovens deixaram o país em busca de melhores oportunidades de trabalho. A combatividade na esquerda é geralmente associada a uma presença forte de jovens entre suas fileiras – tanto que Lenin uma vez disse em tom jocoso que “todo revolucionário deveria ser fuzilado depois de passar dos 35 anos”. Portanto, este é certamente um fator (dentre outros) por trás da falta de combatividade na esquerda portuguesa que nos referimos acima.

Apesar da profunda crise pela qual o país está atravessando, a situação política não é o que deveria ser em termos de combatividade e lutas, já que os protestos em massa e as ondas de greves parecem ter refluído consideravelmente – e a esquerda local certamente tem sua parcela de responsabilidade nisso, por não estar à altura das tarefas políticas impostas pela crise. Isso claramente reforça a falta de confiança que classe trabalhadora tem em grupos e partidos que se reivindicam socialistas. Para encerrar este breve relato com uma anedota, na manhã no dia 11 de setembro os metroviários realizaram uma paralisação. Enquanto cerca de 4 mil trabalhadores (de acordo com o Diário Nacional) marcharam para a Assembleia da República (o Congresso português) exigindo um aumento salarial de 3%, muitos simplesmente se reuniram em frente das estações fechadas, à espera das 11h, quando os funcionários do metrô prometeram reabrir, permitindo que a rotina normal seguisse. Na noite do mesmo dia, no entanto, uma enorme multidão se reuniu no centro histórico de Lisboa para a 5ª edição da Vogue Fashion Night Out, um evento dedicado a estimular o consumo em lojas de rua, que é um “luxo” ao qual cada vez menos trabalhadores portugueses podem se dar. Esta cena absurdamente contraditória só reforça a necessidade urgente de lutar pela construção de um partido revolucionário, capaz de apresentar uma solução real para a crise do capitalismo e contra a “solução” de austeridade da Troika.

Qual revisionista veio primeiro: Kruschev ou Stalin?

Os maoístas de A Nova Democracia e o mito do “revisionismo moderno”
Qual revisionista veio primeiro: Kruschev ou Stalin?

Por Marcio Torres, outubro de 2014.

Nós do Reagrupamento Revolucionário publicamos recentemente um documento histórico da antiga seção brasileira da Quarta Internacional, o Partido Socialista Revolucionário. Na introdução que preparamos para tal material, afirmamos que A denúncia do PSR da política de colaboração de classes de Prestes coloca em cheque o balanço histórico que muitos stalinistas atuais fazem do PCB. Aqueles que imaginam alguma suposta integridade política do partido ao longo de sua história, ao se depararem com as críticas trotskistas feitas tanto pelo PSR quanto por seus predecessores, encontrarão sérias dificuldades em sustentar tal mito” (Dos arquivos do trotskismo brasileiro – o Partido Socialista Revolucionário, junho de 2014. Disponível em http://goo.gl/wixCce).

Das correntes que se reivindicam enquanto “herdeiras” do PCB, a maioria sequer faz questão de reivindicar um suposto passado revolucionário do partido (tamanha a sua degeneração) ou então não apresenta um balanço público coerente com o qual possamos dialogar (veja o APÊNDICE ao fim deste artigo). Dentre os stalinistas brasileiros, os que apresentam a análise mais elaborada acerca do passado do PCB são os maoístas agrupados em torno do jornal A Nova Democracia (AND) e que atuam em diferentes frentes políticas – a mais conhecida das quais é o Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR).

Os maoístas brasileiros dizem lutar para refundar um PCB “das origens”, supostamente detentor de uma trajetória coerente e revolucionária e que teria sido destruído em meados da década de 1950 pelo que chamam de “revisionismo moderno”. Através de suas publicações, eles apresentam de forma retrospectiva diversas críticas à direção do PCB no pós-Segunda Guerra, algumas das quais similares às realizadas pelos trotskistas brasileiros na época, como no artigo que publicamos em nosso Arquivo Histórico – fundamentalmente, a crítica do PSR à política pacifista e de colaboração de classes de “unidade nacional” com Vargas, em prol da “democracia” (burguesa) e do desenvolvimento do capitalismo “nacional”.

Para AND, foi apenas com o XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (1956), portanto após a morte de Stalin, que se consolidou uma linha pacifista e de conciliação de classes no seio do movimento comunista internacional, expressas em tais posições do PCB. O balanço que fazem do desenvolvimento do revisionismo sinteticamente encara que:

“O XX Congresso [do PCUS] aprovou teses sobre o término da guerra imperialista e o advento da transição pacífica ao socialismo. Apesar de o XX Congresso ter sido bem recebido por diferentes partidos comunistas onde o oportunismo estava cristalizado, quadros dirigentes e intermediários em todo o mundo saíram em defesa do Socialismo e de Stálin na maior luta ideológica da história.”

O desvio de direita no Partido Comunista do Brasil – Parte I. AND n. 17, de março de 2004.

Em relação ao Brasil, encaram que a “Declaração de Março de 1958” foi a responsável pela degeneração definitiva do PCB. Os maoístas apontam que:

“as siglas PCdoB e PCB, bem como outras como PCR, PCML, PPS, PSB, isso para não falar do leque de organizações trotskistas, fundem-se num programa único, cujos fundamentos estão expressos e desenhados na ‘Declaração de Março de 1958’, primeira síntese do revisionismo kruschevista e contemporâneo em nosso país. Toda decrepitude que atingiram essas diferentes siglas que se reivindicam comunistas, socialistas e revolucionárias e cuja expressão maior e mais evidente é o papel desempenhado pelo PCdoB, nada mais é do que a concretização, em seus últimos termos, da declaração acima referida”.

— Décadas do predomínio do revisionismo e a necessidade do partido marxista-leninista. AND n. 88, de abril de 2012.

Os autointitulados “antirrevisionistas” reivindicam (criticamente) a batalha interna de quadros do PCB, como João Amazonas, Pedro Pomar e Maurício Grabois e sua ruptura de 1962, que originou o PCdoB, afirmando o caráter “revisionista” da política adotada pelo PCB desde então:

“Um abismo separava comunistas e revisionistas desde a preparação do V Congresso do PCB, realizado em 1960, onde os revisionistas encabeçados por Prestes saem vitoriosos consagrando as teses oportunistas e contrarrevolucionárias, sob o manto kruschevista do anti-stalinismo. O Partido Comunista passa a pregar o colaboracionismo aberto com a burguesia, num servilismo nunca antes visto em sua história.

— O desvio de direita no Partido Comunista do Brasil – Parte I. AND N. 17, de março de 2014.

Entretanto, os maoístas omitem a ligação entre as posições oportunistas do PCB e de outros Partidos Comunistas e aquelas adotadas na mesma época (assim como em todo o período precedente) pela liderança de Stalin e pelo Partido Comunista da União Soviética por ele liderado, como se estes estivessem em mundos completamente diferentes.

Essa leitura falsa é feita para encaixar com a análise que o maoísmo fez da história da União Soviética, segundo a qual foi apenas a partir do XX Congresso do PCUS e da publicação do Relatório Kruschev que o “revisionismo” teria vencido a suposta “ortodoxia”, levado ao abandono dos princípios revolucionários e provocado a restauração do capitalismo na URSS (que teria se tornado um país “social-imperialista” como num passe de mágica).

A linha formulada pela burocracia russa teria então sido difundida ao redor do mundo, transformando o que os maoístas chamam de “movimento comunista internacional” (a Internacional Comunista já havia sido dissolvida por ordem do próprio Stalin) em um mero braço da diplomacia externa “revisionista” da URSS. Dessa forma, a política dos partidos comunistas teria se tornado uma moeda de troca nas negociações traiçoeiras do Kremlin com a burguesia imperialista e suas sucursais nacionais.

Mas para os trotskistas, defensores dos princípios marxistas que desde 1924 já se colocavam de forma organizada em oposição à deturpação do bolchevismo pela direção do PCUS e pela Internacional Comunista estalinizada, as posições kruschevistas pós-XX Congresso não foram nenhuma novidade. Na verdade, elas possuem uma ligação íntima com as posições formuladas por Stalin e seus seguidores.

Para os maoístas de AND, seria fatal reconhecer a verdadeira origem de tal “revisionismo”. De acordo com sua caracterização, apenas nas décadas de 1950-60 o PCB havia se desviado definitivamente do caminho revolucionário que supostamente vinha seguindo. Isso os faz enxergar na fundação do PCdoB o resgate (parcial) do “PCB das origens”, a partir da crítica ao “revisionismo kruschevista”. Entretanto, se fossem coerentes com suas críticas às posições-chave dos “revisionistas”, perceberiam que a maior parte das posições que criticam em Kruschev (pacifismo e disposição em coexistir com o imperialismo, conciliação de classes, adaptação à democracia burguesa, etc.) são uma continuidade direta das posições desenvolvidas por Stalin. Ao defender o legado deste, precisam incorrer em falsificações e silêncios gravíssimos – caso contrário, seriam forçados a reconhecer que o stalinismo é que é um revisionismo em relação às posições Bolcheviques.

Stalin: pai e precursor do “revisionismo moderno”

Os maoístas dizem combater a tese kruschevista da “coexistência pacífica” da URSS com o imperialismo, conforme delineada no XX Congresso do PCUS. Essa tese defende que:

“Para fortalecer a paz em todo o mundo teria uma importância enorme o estabelecimento de firmes relações de amizade entre as duas maiores potências: a União Soviética e os Estados Unidos da América. Consideramos que, se as relações entre a URSS e os Estados Unidos se baseassem nos conhecidos cinco princípios da coexistência pacífica, isso teria uma importância enorme para toda a humanidade e, como é natural, seria tão benéfico para o povo dos Estados Unidos como para os povos da URSS e dos demais países. Estes princípios — respeito mútuo da integridade territorial e da soberania, não-agressão, não-ingerência nos assuntos internos de outros países, igualdade e vantagens mútuas, coexistência pacífica e colaboração econômica — são hoje compartilhados e apoiados por uns vinte países.”

N.S. Kruschev, Informe sobre a Atividade do CC do PCUS ao XX Congresso do Partido, março-junho de 1956.

Mas não é verdade, como defendem tão apaixonadamente os supostos “antirrevisionistas”, que essa tese contrarrevolucionária da “coexistência pacífica” entre a URSS e as potências imperialistas tenha sido criação de Kruschev. Vejamos, por exemplo, duas reveladoras entrevistas concedidas pelo suposto “grande dirigente comunista Josef Stalin” (conforme o chama AND) após o término da Segunda Guerra Mundial.

Em dezembro de 1946, o jornalista Elliott Roosevelt entrevistou Stalin no Kremlin. Entre as doze perguntas feitas, consta a seguinte, seguida de uma resposta que os maoístas de AND deveriam caracterizar como intrinsecamente “revisionista” caso fossem coerentes em seu balanço da história do movimento comunista:

“Entrevistador: Você acredita que é possível para uma democracia como a dos Estados Unidos conviver neste mundo de forma pacífica lado a lado com uma forma comunista de governo como a da União Soviética, e sem tentativas de qualquer uma das partes em interferir com os assuntos políticos internos da outra?
“Stalin: Sim, é claro. Isso não é apenas possível. É também sábio e inteiramente dentro das possibilidades de concretização. Nos momentos mais enérgicos da guerra, as diferenças nas formas de governo não impediram as nossas duas nações de se unirem e exterminarem nossos adversários. É ainda mais possível continuar essa relação em tempos de paz.

— Entrevista com Elliott Roosevelt, 21 de dezembro de 1946. Tradução e grifo nossos.

Em outra ocasião, no ano de 1947, o jornalista Harold Strasser perguntou a Stalin se era possível que os sistemas dos EUA e da URSS, um “com o Partido Comunista e sua economia planejada e propriedade coletiva socializada” e o outro “com seu mercado livre e com capitalismo privado regulado”, pudessem “existir juntos no mesmo mundo moderno, em harmonia um com o outro”. Ao que Stalin respondeu de forma bem direta:

É claro que eles podem. A diferença entre eles não é importante para a questão da cooperação. Os sistemas da Alemanha e dos Estados Unidos são os mesmos, mas a guerra eclodiu entre eles. Os sistemas da URSS e dos EUA são diferentes, mas nós não travamos uma guerra entre nós, e a URSS não propõe algo assim. Se eles puderam cooperar durante a guerra, porque eles não podem fazê-lo hoje, sob a paz, dado o desejo por cooperação? […]”.

— Entrevista com Harold Stassen, 09 de abril de 1947. Tradução e grifo nossos.

Portanto, para aquele a quem AND considera um expoente da ortodoxia revolucionária era não só possível, como desejável, que as conquistas da Revolução de Outubro (a coletivização dos meios de produção e a supressão da anarquia de mercado via planejamento) convivessem de forma harmônica e pacífica com a escravidão assalariada, a “democracia” dos ricos e a penúria e sofrimento de milhões de proletários ao redor de todo o globo. Lenin tinha uma visão bastante diferente sobre a possibilidade de coexistência do regime soviético com o imperialismo. Em 1920, ele escreveu:

“Nós passamos agora da arena da guerra para a arena da paz e nós não nos esquecemos de que a guerra virá novamente. Enquanto o capitalismo e o socialismo permanecerem lado a lado, nós não podemos viver pacificamente – um ou o outro vencerá no final. Um obituário será lido ou sobre a morte do capitalismo mundial ou sobre a morte da República Soviética. No atual momento, nós temos apenas uma pausa na guerra!”

— Escritos, Vol. XVII. 27 de novembro de 1920. Grifo nosso.

Não à toa, a Internacional Comunista fora dissolvida em 1943 pelos carrascos stalinistas. Não porque ela “cumprira seu papel” ou porque “a maior complexidade e diversidade da situação política e das tarefas em cada país já não correspondiam aos métodos e formas existentes”, como afirmam os maoístas (Vitória sobre o nazi-fascismo, Conferência da Mantiqueira e as ilusões constitucionais, AND N. 82, outubro de 2011). O motivo foi que a existência de um instrumento internacional que antes amedrontara todos os burgueses da face da terra (ainda que depois de ser corrompido pela burocracia stalinista) se colocava enquanto verdadeiro empecilho para a política externa diplomática do Kremlin.

Conforme demonstram as declarações de Stalin, seu representante-mor, os burocratas soviéticos estavam mais preocupados em tentar garantir a manutenção de seus privilégios via conciliação com as potências imperialistas do que interessados na emancipação das classes oprimidas pelo capital. E ainda assim, esses senhores possuíam a pachorra de se reivindicarem “herdeiros” dos Bolcheviques que, durante os primeiros anos da república dos soviets, estavam dispostos a colocar em risco até mesmo a conquista do poder na Rússia caso isso permitisse expandir mundialmente a revolução proletária.

Foi essa linha pacifistaa nível internacional frente ao inimigo imperialista, formulada pelo próprio Stalin, que determinou a linha da ala prestista do PCB, caracterizada pela AND enquanto “revisionista”. Essa ala nada mais estava fazendo do que defendendo uma expressão nacional do pacifismo e da colaboração de classes propagado pela diplomacia externa de Moscou.

Colaboracionismo aberto com a burguesia

Um dos mais infames pontos da Declaração de Março de 1958 do PCB, criticada pela AND, é a “Frente única e a luta por um governo nacionalista e democrático” em aliança com a burguesia brasileira para supostamente combater o imperialismo:

“O proletariado e a burguesia se aliam em torno do objetivo comum de lutar por um desenvolvimento independente e progressista contra o imperialismo norte-americano. Embora explorado pela burguesia, é do interesse do proletariado aliar-se a ela, uma vez que sofre mais do atraso do país e da exploração imperialista do que do desenvolvimento capitalista. Entretanto, marchando unidos para atingir um objetivo comum, a burguesia e o proletariado possuem também interesses contraditórios.
(…)
“Um governo nacionalista e democrático pode ser conquistado pela frente única nos quadros do regime vigente e aplicar uma política externa de independência e de paz, assegurar o desenvolvimento independente e progressista da economia nacional, tomar medidas em favor do bem-estar das massas, garantir as liberdades democráticas.”

— Declaração sobre a Política do PCB, março de 1958.

Como já havíamos apontado em nossa introdução ao artigo dos trotskistas brasileiros do PSR, os maoístas dizem combater a política de “união nacional” das supostas “forças progressistas”, o que implica uma aliança com a burguesia nacional (a qual na realidade não é capaz de nenhum desenvolvimento “progressivo” para os trabalhadores e camponeses):

“Com a Declaração de Março de 1958, ficará clara a unidade entre as posições de Barata e de Prestes. Barata [membro do Comitê Central do PCB] defendia a necessidade de ‘lutar para dar à nossa Pátria um governo nacionalista, democrático e progressista, que seja a expressão das forças integrantes de um amplo movimento patriótico’. Na Declaração de Março de 1958, esta questão aparece da seguinte forma: ‘A derrota da política do imperialismo norte-americano e de seus agentes internos abrirá caminho para a solução de todos os demais problemas da revolução nacional e democrática no Brasil’. Isto para estabelecer um ‘governo nacionalista e democrático’ através da conquista de espaços, da luta pacífica e das eleições.”

— A cisão de 1962 e a luta pelo partido marxista-leninista. AND n. 84, de dezembro de 2011.

Mas os stalinistas começaram a propor governos de colaboração com a burguesia muito antes de 1956 (ou 1958) e do suposto advento do “revisionismo moderno”. Essa é a essência da política de “Frente Popular” desenvolvida pelos partidos da Internacional Comunista depois do flerte esquerdista do “Terceiro Período” (1929-34). Enquanto na época do “Terceiro Período” os stalinistas insistentemente se recusaram a qualquer tipo de unidade na luta com outras organizações do movimento operário (a teoria de que os partidos socialdemocratas eram “social-fascistas”), depois do choque da chegada de Hitler ao poder na Alemanha, a Cominternpassou a pregar a subordinação do movimento operário à democracia burguesa, priorizando a tentativa de alianças com setores burgueses para combater o fascismo – um verdadeiro giro de 180º.

O documento lido por Gregori Dimitrov e aprovado pelo VII Congresso da Internacional Comunista estalinizada (1935) o demonstra muito bem, ao defender que era uma prioridade para os Partidos Comunistas formar alianças políticas entre o movimento operário e partidos burgueses populistas, apontando que “Sob certas condições, nós podemos e nós devemos focar nossos esforços na tarefa de trazer esses partidos e organizações, ou certas partes deles, para o lado da frente popular antifascista, apesar da sua liderança burguesa. (Grifo nosso). Dimitrov também reivindicou o desejo de apoiar um “governo democrático e progressista” (burguês) na França:

“E se na França o movimento antifascista levar à formação de um governo que irá travar uma verdadeira guerra contra o fascismo francês – não em palavras, mas em atos – e que irá carregar o programa das demandas da Frente Popular antifascista, os Comunistas, ao mesmo tempo em que permanecerão os adversários irreconciliáveis de todo governo burguês e defensores de um governo soviético, irão, não obstante, em face ao crescente perigo fascista, estar preparados para apoiar tal governo.”

— Relatório Principal ao VII Congresso da Internacional Comunista, Gregori Dimitrov, 2 de agosto de 1935. Grifo nosso.

Assim, quando Prestes e seus aliados no Comitê Central do PCB defenderam a aliança com Vargas e os setores supostamente “progressistas” da burguesia brasileira (conforme denunciado no artigo do PSR que reproduzimos), eles nada mais estavam fazendo do que sendo coerentes com a linha “antifascista” e “pró-democracia” (burguesa) delineada pela IC em seu último congresso, bem como com a declaração de Stalin no pós-guerra, de que era tempo de “convivência pacífica e harmônica” com o capitalismo.

Mas o relatório de Dimitrov foi apenas uma declaração tímida da disposição dos stalinistas em sustentar a ordem burguesa. Vejamos esse discurso do dirigente do Partido Comunista Espanhol, José Dias, proferido ao CC de tal partido em meio à situação revolucionária no país e publicado em 1937 no órgão da Internacional Comunista – portanto, aprovado e endossado por sua liderança supostamente revolucionária. Nele, Dias defende a renúncia à ditadura do proletariado e à expropriação revolucionária da burguesia e latifundiários, em nome de uma luta “ampla” em prol da democracia burguesa parlamentar e em unidade com os patrões “progressistas”, colocando assim limites definidos à luta e classes no Estado Espanhol:

“Estamos vivendo na Espanha um estágio de desenvolvimento da revolução democrática, cuja vitória exige a participação de todas as forças antifascistas e esses ensaios [de ‘socialização’ de fábricas e terras] só podem servir para assustar e afastar essas forças. (…) Estas posições anteriores explicam como o fato de não se haver compreendido claramente o caráter de nossa luta está levando organizações e partidos simpáticos ao nosso a adotarem atitudes extremistas que em nada beneficiam a causa do povo, pois ao invés de nos levar rapidamente à vitória, entorpecem grandemente a conquista desta. A estas posições erradas correspondem esses ensaios prematuros de ‘socialização’ e ‘coletivização’.”
(…)
“Hoje, quando há um governo de Frente Popular, em que estão representadas todas as forças que lutam contra o fascismo, isto não é aconselhável, mas contraproducente. Agora, deve-se coordenar e intensificar rapidamente a produção, sob uma única direção, para abastecer toda a frente e a retaguarda. Persistir agora nesses ensaios vai contra os interesses que se disse defender. Lançar-se a esses ensaios prematuros de ‘socialização’ e de ‘coletivização’, quando ainda não está decidida a guerra, em momentos em que o inimigo interior, ajudado pelo fascismo exterior, ataca fortemente nossas posições e põem em perigo a sorte de nosso país, é absurdo e equivale a converter-se em cúmplice do inimigo. Tais ensaios revelam a incompreensão do caráter da nossa luta, que é a luta em defesa da república democrática, na qual podem convergir todas as forças populares, inteiramente necessárias para se ganhar a guerra.

— Por la unidad, hacia la victoria. Valença, 05-08 de março de 1937. Tradução e grifo nossos.

Tais forças “populares” incluiriam os empresários e advogados do Partido Liberal no governo de coalizão burguês. Temos aqui um exemplo de como a Internacional Comunista de 1935 (dirigida pelo PCUS de Stalin) endossou a supressão da luta de classes em seu grau mais elevado, quando trabalhadores e camponeses armados lutavam pela expropriação da burguesia, em troca de um “governo de unidade nacional” (Frente Popular) com setores da burguesia. É preciso lembrar que, apesar da disposição de colaborar dos stalinistas, a maior parte da burguesia espanhola se aliou com os fascistas. A maior traição que um partido supostamente “comunista” pode realizar em uma época de revolução socialista, que é conciliar com os interesses da burguesia – a ponto de estar em um governo “unitário” com ela – tem suas origens não em Kruschev ou em “desvios” de Prestes, mas na própria política difundida pela Comintern de Stalin.

Artimanha maoísta: colocar toda a culpa nos capatazes de Stalin

Como a história não se submete às demandas políticas de A Nova Democracia, eles são forçados a reconhecer que posições oportunistas já existiam no seio do movimento comunista anteriormente ao XX Congresso do PCUS. No Brasil, elas teriam se expressado, por exemplo, na forma de um “liquidacionismo” à época da Conferência da Mantiqueira (1943), responsável por refundar o PCB após este ter sido desarticulado pela repressão varguista posterior a 1935.

Segundo a leitura dos maoístas, nessa época “o PCB é tomado pela falsa ideia de que, com a situação de vitória sobre o fascismo e a atmosfera democrática criada com o fim da guerra, abrira-se a possibilidade para uma transição pacífica no mundo” e, assim, sua “nova direção cairá nas ilusões constitucionais e lançará a palavra de ordem ‘Constituinte com Vargas’” (posição essa que apenas os trotskistas brasileiros do PSR combateram na época). Da mesma forma, os maoístas apontam que:

“O balanço superficial de 1935, tomado como um erro de tipo golpista, e a entrada do Brasil na guerra levam a direção do PCB a mudar a caracterização do governo Vargas, passando a considerá-lo um representante da ala ‘progressista’ da burguesia nacional, sendo um aliado da classe operária e cabendo ao partido apoiar setores progressistas no governo através da política de ‘União Nacional’.”

— Vitória sobre o nazi-fascismo, Conferência da Mantiqueira e as ilusões constitucionais. AND N. 82, outubro de 2011.

Internacionalmente, os maoístas encaram que esse revisionismo vinha se mostrando em diversos dirigentes dos Partidos Comunistas pelo mundo. Dão particular destaque ao dirigente do Partido Comunista dos Estados Unidos de 1934 até 1945, Earl Browder, ao dizer que “Nele já estavam contidos os principais elementos do revisionismo moderno, que logo foi desenvolvido por Tito na Iugoslávia, Togliatti na Itália, Thorez na França, sendo finalmente sistematizado por Kruschev no XX Congresso do PCUS, em 1956”.

É inegável o papel cumprido por Browder na liderança do PC americano. Ele propôs uma “transição pacífica” do capitalismo ao socialismo, defendeu a supressão de greves contra o governo americano que fossem atrapalhar o esforço de guerra imperialista, apoiou o governo Roosevelt, defendeu as tropas americanas na guerra contra outras potências (como o Japão), dissolveu o partido numa frente de cunho pacifista etc. Mas AND tenta apagar a responsabilidade de Stalin, como se todas essas posições tivessem sido invenção de Browder. A crítica feita a Prestes e a Browder, por exemplo, parece ignorar o fato de que estes eram representantes da Internacional Comunista controlada pelo dirigente soviético. Vejamos um exemplo da crítica feita por ANDa Prestes e ao PCB nos anos 1940:

“Já em 1944 o PCB substitui a consigna revolucionária de 1935 de ‘Todo poder à ANL’ pela oportunista de ‘União Nacional na Paz e na Guerra’. A mesma de Browder, logo substituída por ‘União Nacional para a Democracia e o Progresso’.”

— Vitória sobre o nazi-fascismo, Conferência da Mantiqueira e as ilusões constitucionais. AND N. 82, outubro de 2011. Grifo nosso.

Agora comparemos as palavras de ordem de Prestes e de Browder com aquela defendida por Stalin no mesmo ano. Em novembro de 1944, quando a guerra estava acabando na Europa, Stalin teve uma conversa particular com o líder do PC Francês, Thorez (outro dirigente que é acusado por AND de ser um “precursor” do revisionismo) na qual o aconselhou a “encontrar aliados” na burguesia francesa (sobretudo na figura do Partido Radical) para “fortalecer a democracia na França” e reconstruir o país em bases capitalistas:

“Deve haver uma plataforma para a organização política. Essa plataforma deve incluir a recuperação da indústria, dar trabalho aos desempregados, a defesa da democracia e a punição daqueles que tentem sufocar a democracia.”

“Então o camarada Stalin diz que não é útil chamar tal bloco de ‘frente’. Nesse caso, o nome poderia lembrar a burguesia da ‘frente popular’. Deve-se achar outro nome. Talvez pudesse se chamar ‘Movimento para Fortalecer a Democracia na França’. Se alguém disser ‘Movimento de Luta pela Democracia’, eles poderiam responder que já existe uma democracia na França, que há uma República etc. Talvez fosse melhor chama-lo de ‘Movimento pela Reconstrução de uma França Forte e pelo Fortalecimento da Democracia’. Esse nome certamente é um pouco longo, mas os comunistas franceses podem eles próprios achar um nome melhor. O camarada Stalin explica que ele está apenas dando uma ideia, mas que os comunistas franceses podem achar as formas concretas da realização da plataforma desse movimento. Diz o camarada Stalin que se deve incluir acima de tudo a reconstrução econômica do país e a consolidação da democracia. A plataforma deveria ser explicada nesse quadro.”

Notas de uma conversa de J.V. Stalin com o Secretário Geral do CC do Partido Comunista Francês camarada Thorez, 19 de novembro de 1944. Tradução e grifo nossos.

A semelhança entre as tarefas colocadas por Stalin e por seus capatazes nacionais não era mera coincidência. É verdade que as posições pacifistas de Prestes estavam em consonância com aquelas de Browder, mas não é menos verdade que as posições deste, assim como as de Thorez, Togliatti e Cia. estavam alinhadas com as instruções do próprio Stalin. Isso faz cair por terra o mito maoísta de que existiu um movimento revisionista no interior dos Partidos Comunistas sem que Stalin nada tivesse a ver com isso!

Além disso, uma série de pontas permanece solta na versão maoísta dos fatos. Por exemplo, à época em que teria se expressado “pela primeira vez” o “revisionismo moderno” de Browder, a Internacional Comunista ainda existia. Acaso houve alguma batalha interna entre uma ala supostamente “marxista-leninista” alinhada ao “grande dirigente comunista Josef Stalin” (conforme o chama AND) e esse revisionismo propagado por Browder e outros?

A resposta é não. Browder só perdeu seu posto de dirigente do PC americano após o fim da guerra (1945), quando o governo norte-americano começou a “caça às bruxas” e rompeu assim a lua de mel firmada pelos stalinistas durante o conflito mundial. Diante dos conflitos internos que envolveram o PC americano em 1945, foi vantajoso para a liderança da Comintern colocar sobre Browder a culpa por todos os oportunismos e erros, como uma forma de blindar a sua própria política de colaboracionismo. Mas em 1940-44, enquanto Browder realizava acordos com o governo americano para impedir que ocorressem greves operárias contra o “aliado” imperialista da URSS, e dava apoio eleitoral a Roosevelt, Browder contava com o pleno apoio da liderança soviética.

A própria dissolução organizativa do Partido Comunista realizada por Browder em 1944, na forma de uma “Associação Política Comunista” com o objetivo de deixar claro para a classe dominante americana que eles não seriam um problema, teve como precedente a dissolução (no ano anterior) da Comintern, feita com a mesma intenção. Uma vez removido da liderança, Browder foi substituído por William Foster, escolhido por ser um antigo dirigente comunista e fiel seguidor da linha de Stalin. Como forma de deixar claro para uma ala esquerda do PC que a mudança na direção não implicava nenhuma mudança de linha política, Foster publicou um artigo na revista do partido onde afirmava:

“De acordo com esses camaradas, nós estamos em via de (ou deveríamos fazer isso), denunciar a guerra contra o Japão como imperialista, condenar as decisões [da Conferência] de Teerã como inatingíveis, abandonar a palavra de ordem pela unidade nacional [com o governo Roosevelt], chamar por um governo operário-camponês, desistir do compromisso de não fazer greve durante a guerra (…), levantar a questão do socialismo como um assunto imediato, e adotar de forma geral uma política de classe contra classe (…) Nosso partido, até onde sei, não irá seguir por um curso esquerdista como esse.

— Citado em O Mito do “Revisionismo Browderista”, Workers Vanguard No. 129, 15 de outubro de 1976. Originalmente publicado em Political Affairs, setembro de 1945. Tradução e ênfase nossas.

De forma que, ou Stalin deu plena sustentação e autoridade a esses líderes oportunistas, precisamente porque estes seguiam a política que era ordenada desde Moscou, ou então o dirigente soviético era um fantoche ingênuo que não tinha a menor ideia do que se passava na política dos Partidos Comunistas pelo mundo. Somente alguém disposto a acreditar em contos de fadas poderia escolher a segunda alternativa.

No artigo do PSR que recentemente reproduzimos, os trotskistas brasileiros criticam de forma bem direta a política de paz com o imperialismo, e mostram como ela era ditada desde Moscou por Stalin e sua camarilha. Esse artigo data de muitos anos antes da ruptura de Grabois, Pomar e Cia. reivindicada pelos maoístas e, conforme os trotskistas brasileiros de então apontaram, tal política não era invenção da “ala prestista” do PCB, mas baseada na ideia absurda de “desenvolvimento pacífico” após a derrota das potências fascistas. Prestes e Cia. apenas seguiam à risca a política de Moscou:

“O falso radicalismo pequeno-burguês do chefe do P.C.B. não consegue sequer mascarar o abandono total do marxismo pelo antigo capitão da ‘Coluna Prestes’. As fontes de sua linha geral são visíveis. A orientação ‘tático-estratégica’ do P.C.B. emana da afirmativa de Stalin de que ‘terminou o período de guerra, e começou o período do desenvolvimento (!) pacífico’. Essa constatação do mágico do Kremlin bastou para que seus satélites no mundo todo se apressassem em lançar ao desvão das coisas imprestáveis até mesmo a fraseologia pseudorrevolucionária.”

O momento político e a posição do Partido Socialista Revolucionário, julho de 1945. Originalmente publicado no Diário Carioca. Ênfase adicionada.

As origens do revisionismo no velho PCB

Muitas das posições criticadas pelos maoístas de AND na política do PCB após a Segunda Guerra – fundamentalmente, de uma aliança com a burguesia e da defesa de um período de desenvolvimento capitalista antes de se lutar pelo socialismo – tanto não eram um “novo revisionismo” em relação ao período anterior, como desde cedo se expressaram no programa do partido.

Os primeiros anos do PCB foram marcados por uma grande heterogeneidade interna, fruto das origens de muitos de seus militantes no anarquismo e também da ausência de um movimento marxista prévio (diferentemente, portanto, de muitos países europeus que tiveram partidos socialdemocratas revolucionários). Não tardou, entretanto, para se consolidar um grupo dirigente já influenciado pelo stalinismo.

Data de 1924 o primeiro documento de fôlego do PCB que buscou analisar a realidade brasileira e traçar uma estratégia para os revolucionários.  Agrarismo e Industrialismo: Ensaio marxista-leninista sobre a revolta de São Paulo e a guerra de classes no Brasil, escrito por Octávio Brandão e endossado pelo então dirigente Astrogildo Pereira continha uma lógica dualista totalmente estranha à dialética marxista, opondo campo e cidade, “agrário” e “moderno”, para defender uma política de aliança com setores supostamente “progressivos” da burguesia brasileira, junto aos quais se promoveria a “revolução democrático-burguesa” no país. Com isso, visava-se instalar um longo período de desenvolvimento capitalista que desse cabo do “caráter feudal” da economia nacional, apenas ao fim do qual seria então possível uma revolução de caráter socialista.

Tal documento, não obstante seu autor ter caído em desgraça dentro do partido alguns anos depois por conta de picuinhas intraburocráticas, assentou as bases para a estratégia etapista e a lógica dualista que marcaria profundamente as posteriores lideranças do partido (mais afinadas com o stalinismo propagado desde Moscou) e também uma série de intelectuais brasileiros. Apesar de seus ziguezagues, que acompanhavam as mudanças de linha da Comintern, o PCB desde esse momento se pautou fundamentalmente por essa estratégia etapista. Nem mesmo após o golpe de 1º de abril de 1964, que recebeu amplo apoio político e logístico da burguesia industrial brasileira, o PCB abandonou seu intento de fazer tal aliança, buscando negar a realidade que teimava em confrontar seus esquemas teóricos vulgares.

Para a intelectualidade crítica do país, levou cerca de quase quatro décadas para romper definitivamente com o dualismo emanado pelas análises do PCB. Entretanto, data de 1931 a crítica dos primeiros trotskistas a esse documento, escrita por Mario Pedrosa e Lívio Xavier sob o título Esboço de uma análise da situação econômica e social do Brasil. Ou seja, logo cedo o Partido Comunista foi tomado pela linha etapista, cada vez mais alinhada com a política de colaboração de classes da Comintern de Stalin, e contra qual foram os trotskistas os primeiras a se insurgirem – primeiro como “fração externa”, depois como organização adversária. (Para mais acerca da história desses primeiros trotskistas brasileiros e as transformações pelas quais passaram suas organizações, ver a já mencionada introdução que escrevemos ao artigo do PSR por nós recuperado).

Os maoístas consideram acertada a política do PCB de impulsionar a Aliança Nacional Libertadora, e discordam da “autocrítica” feita pelo partido nos anos seguintes. Mas a ANL que os maoístas reivindicam tão ardentemente era uma frente ampla entre o PCB e intelectuais [e tenentistas], que abertamente almejava angariar apoio da suposta burguesia nacional que seria oposta ao latifúndio e ao imperialismo – e que, na realidade, nunca existiu. Além do caráter extremamente prematuro da tentativa de tomada do poder, o programa que estes defendiam sequer colocava a perspectiva de um poder da classe trabalhadora. O PCB apresentava a ANL enquanto uma frente “antifascista” e “pró-democrática” capaz de congregar os interesses da massa dos trabalhadores com “parte da burguesia nacional não vendida ao imperialismo”:

“Esta é a tarefa gigantesca da Aliança Nacional Libertadora, que [se] apresenta aos olhos de todo o Brasil, como a única organização realmente nacional, única organização onde os verdadeiros interesses do povo de cada Estado coincidem com os idênticos objetivos que congregam, em todo o Brasil, de norte ao sul, de este a oeste, os lutadores contra o imperialismo e os trabalhadores de todo o país, juntamente com a parte da burguesia nacional, não vendida ao imperialismo, serão capazes de, através de um governo popular revolucionário anti-imperialista, acabar com esse regionalismo, com a desigualdade monstruosa que a dominação dos fazendeiros e imperialistas impôs ao país.”

— Manifesto da Aliança Nacional Libertadora, 5 de julho de 1935.

Não à toa, seu programa se limita a conclamar a “nacionalização dos serviços públicos mais importantes” e apenas das empresas imperialistas “que não se subordinem às leis do governo popular revolucionário” (com a participação da burguesia) – ou seja, a propriedade privada dos meios de produção da burguesia nacional permaneceria intacta. Conforme afirmaram à época os trotskistas brasileiros, muito mais lúcidos do que os tardios críticos maoístas de AND:

“Pretender, ao contrário, como a Aliança Nacional Libertadora, pretender lutar contra o imperialismo sem lutar contra a burguesia nacional, pretender extinguir o imperialismo no território nacional sem abolir a propriedade privada, sem transformá-la em propriedade socialista, é caminhar para um fracasso certo ou, apenas, favorecer o imperialismo de uma potência em detrimento de outras.”

— A luta contra o imperialismo. A Luta de Classe, n. 22, abril de 1935. Citado em “Os trotskistas frente à Aliança Nacional Libertadora e aos levantes militares de 1935”, Cadernos AEL, v. 12, n. 22/23, de 2005.

Portanto, aquilo que os maoístas de AND acusam tardiamente de “revisionismo moderno” na política traidora do PCB do pós-guerra nada mais era do que um aprofundamento lógico à direita das posições anteriores, de aliança com a classe dominante brasileira, que estavam em consonância com o verdadeiro revisionismo: aquele propagado pela vulgata que o stalinismo fizera do marxismo, defendendo uma estratégia etapista e colaboracionista de classes.

Conclusão

O balanço realizado pelos maoístas de AND, em consonância com aquele de tantos outros stalinistas supostamente “antirrevisionistas”, não passa de uma leitura histórica falsificadora, que busca esconder as políticas traiçoeiras de Stalin se utilizando do espantalho do chamado “revisionismo moderno” para jogar toda a responsabilidade pelo oportunismo do movimento comunista em Kruschev ou em capangas menores.

Enquanto é verdade que Kruschev defendeu de forma mais descarada a “transição pacífica ao socialismo”, demonstramos de forma clara que Stalin e seus asseclas desde meados dos anos 1920 introduziram nos Partidos Comunistas as práticas de contenção da luta de classes ao nível da “democracia” formal para manter aliança com setores burgueses, nutriram ilusões na possibilidade de coexistência do Estado operário degenerado soviético com o imperialismo por tempo indeterminado (“socialismo em um só país”) e pregaram a colaboração com governos burgueses, vistos como possíveis “aliados” do proletariado. Tais baluartes foram responsáveis pela traição de muitas situações potencialmente revolucionárias (principalmente na Revolução Espanhola, assim como na França, Itália e Grécia do pós-guerra), tendo se mostrado muito úteis em impedir uma luta efetiva pela revolução proletária. Essas posições não podem ser coerentemente combatidas e superadas sem um rompimento e uma denúncia aberta do “grande organizador de derrotas” (como Trotsky certa vez chamou Stalin).

Apesar de muitos elementos da política de colaboração de classes se fazerem presentes em grupos oportunistas que se reivindicam “trotskistas”, os Bolcheviques-Leninistas autênticos sempre combateram a colaboração com o inimigo de classe do proletariado. É a tradição da Quarta Internacional (antes de sua destruição pelos revisionistas nos anos 1950) se oporao “colaboracionismo aberto com a burguesia” e à ideia de que pode haver “alas progressivas” das burguesias nacionais. Diferente da degenerada tradição stalinista, a história do Bolchevismo-Leninismo é marcada por uma profunda coerência revolucionária, que deve ser estudada e absorvida por todos aqueles que tem interesse em um mundo radicalmente diferente e na luta pelo comunismo.

***
APÊNDICE
Breve comentário sobre alguns herdeiros do stalinismo no Brasil

O atual PCB foi refundado em 1992 como um pequeno grupo, depois que um antigo dirigente do partido, Roberto Freire, transformou a antiga estrutura na sigla eleitoral direitista PPS. O atual PCB tem se afastado progressivamente de certos aspectos do seu passado stalinista. No seu XI Congresso (1996), por exemplo, o partido finalmente colocou no papel que o caráter da revolução brasileira é socialista, e não democrático-burguesa, como defendeu por quase toda a sua existência, e vem reiterando tal constatação de forma cada vez mais vigorosa a cada novo congresso realizado, conforme pode ser visto lendo-se as respectivas resoluções políticas (disponíveis no site da Fundação Dinarco Reis – http://pcb.org.br/fdr) – especialmente aquelas adotadas pelo XIV Congresso (2009). O fato de essa constatação estar em contradição com posições do partido de apoio a governos populistas burgueses, como o venezuelano, é um assunto que pretendemos tratar em outra ocasião.

O interessante é que o PCB atual ainda luta para produzir um balanço coerente acerca dos ziguezagues do “Partidão” em seus 92 anos de existência. Muitas vezes, critica-se uma linha passada errada, de caráter etapista e colaboracionista de classes, mas tende-se a reduzir o erro à “incompetência política” do Comitê Central da época tratada, e não ao programa stalinista propagado pela burocracia do Kremlin, que orientou tal organização por muitas e muitas décadas. Exemplo recente é a “autocrítica” em relação à posição do PCB ante o golpe de 1964, na qual se critica os erros da direção do partido à época, sem estabelecer nenhuma relação política com a orientação stalinista que seguia o “Partidão” (O PCB e o golpe de 1964, de 1 de abril de 2014. Disponível em http://goo.gl/FOQ53F).

O PCdoB, por ter adotado de vez o caminho da sustentação do capitalismo, obviamente não está nem um pouco preocupado em buscar defender algum passado supostamente “marxista-leninista” do PCB. Seus parlamentares atualmente estão envolvidos em negociatas com o que há de mais podre da burguesia brasileira e o partido se dedica diretamente à administração do Estado, tendo levado às últimas consequências a lógica colaboracionista de classes e a aliança com a burguesia.

Já o atual PCR, até onde sabemos, não possui um balanço histórico mais elaborado sobre a história do PCB (ao menos público). Mas ele se coloca como herdeiro da ruptura “antirrevisionista” de 1962, capitaneada por militantes como João Amazonas, Pedro Pomar e Maurício Grabois, que levou à fundação do PCdoB. Mais importante, se entende enquanto a continuação do PCR fundado em 1966, a partir de uma ruptura o PCdoB liderada por Manoel Lisboa com base em críticas ao regime e à política do PCdoB e da defesa de que o centro da revolução brasileira estava no Nordeste.

O antigo PCR acabou sendo desarticulado pela repressão estatal no início dos anos 1970. O grupo atual que reivindica seu nome e sua história surgiu em 1995, como cisão do nacionalista Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) e, apesar de raramente discutir questões ideológicas mais profundas, reivindica também o período pré-1958 do PCB, quando começam a ecoar no partido as posições adotadas pelo XX Congresso do PCUS. Também defendem o alinhamento com o PC Chinês nesse período, mas depois da chegada de Deng Xiaoping ao poder na República Popular da China, passaram a reivindicar a linha do Partido do Trabalho da Albânia, liderado por Enver Hoxha. Para uma polêmica com a linha geral de tal organização, sugerimos a leitura do relato do camarada Pedro Abreu (Da experiência com o Estalinismo à escolha pelo Trotskismo, de novembro de 2013. Disponível em http://goo.gl/sDCaGD).

Por sua vez, os maoístas de AND também reivindicam, ainda que criticamente, a ruptura que levou à fundação do PCdoB em 1962 e do antigo PCR. Também se originaram na mesma ruptura com o MR-8 na década de 1990. Entretanto, enquanto que o atual PCR seguiu a orientação de Hoxha, os maoístas de AND se pautam pelas formulações da “Fração Vermelha” do Partido Comunista do Peru (o grupo “Sendero Luminoso”) na figura de seu líder histórico, “Presidente Gonzalo”. Este teria sido responsável por sintetizar os supostos “gigantescos aportes do Presidente Mao como maoísmo, como nova, terceira e superior etapa do desenvolvimento do marxismo”, dando origem ao que chamam esdruxulamente de “marxismo-leninismo-maoísmo-Pensamento Gonzalo” (120 anos do nascimento do Presidente Mao Tse-tung, Núcleo de Estudos do Marxismo-leninismo-maoísmo, AND N. 124, de janeiro de 2014).

Venezuela: Estado y Revolución

Por una Federación Socialista de América Latina!

Venezuela: Estado y Revolución

[Traduccion de 1917 No. 28, 2006. Copiado de http://www.bolshevik.org/espanol/Venezuela.html ]

América Latina tiene la diferencia de ingresos más amplia del mundo, con más de un centenar de millones de personas forzadas a sobrevivir a duras penas con menos de dos dólares al día, según los “Indicadores de Desarrollo del Mundo” emitido por el Banco Mundial en el 2005. La austeridad y los programas de privatización dictados por el FMI han asolado la región durante décadas. “Ninguna otra región en desarrollo se [ha] movido más rápido para vender las empresas estatales”, escribió Newsweek (5 de julio de 2005), señalando que: “A finales de la década de 1990, América Latina representaba el 55 por ciento del total de ingresos provenientes de la privatización a través del mundo en desarrollo…..”.

La campaña de los financieros imperialistas para limitar el “sector estatal” y privatizar los servicios públicos de agua, electricidad y gas se racionaliza con afirmaciones cínicas de que la pobreza extrema de la región requiere un aumento en la penetración del capital extranjero. De hecho, las recetas de austeridad del FMI, destinadas a crear oportunidades de inversión lucrativas para las empresas imperialistas, han llevado a la disminución de los niveles de vida dondequiera que se han impuesto.

“El neoliberalismo” ha encendido la resistencia popular masiva en toda América del Sur. En junio de 2005, Bolivia se tambaleó al borde de la guerra civil cuando las masas protestaron en demanda de la retracción de la privatización de 1996 del petróleo y de los depósitos de gas del país. Pero el opositor de más estatura del “Consenso de Washington” es el carismático presidente de Venezuela, Hugo Chávez, cuya administración ha buscado la movilización de millones de trabajadores y campesinos pobres bajo la bandera de una “Revolución Bolivariana”. Los Bolivarianos, llamados así por Simón Bolívar, el líder de la rebelión del siglo 19 contra el colonialismo español, han sido blanco de una campaña sostenida de intimidación y subversión, hasta ahora sin un éxito espectacular, de la clase dominante venezolana en colaboración con las diversas agencias de su jefe supremo norteamericano.

Muchos izquierdistas están entusiasmados con las charlas del líder venezolano de “ir más allá del capitalismo” y de construir el “socialismo del siglo 21.” Ellos esperan fervientemente que Chávez sea capaz de utilizar su posición en la cúspide del Estado venezolano para dar un golpe demoledor a las fuerzas de la reacción, e impulsar a Venezuela hacia una nueva dirección revolucionaria. Pero esto es una ilusión peligrosa, pues, como observó Carlos Marx después de la derrota de la Comuna de París en 1871, “la clase obrera no puede simplemente apoderarse de la maquinaria estatal [capitalista] ya hecha, y manejarla para sus propios fines.”

Algunos “marxistas” activos en el movimiento obrero de Venezuela han abandonado este axioma fundamental. Los seguidores de Ted Grant y Alan Woods en el Comité para una Internacional Marxista (CMI, también conocido como la Tendencia Marxista Internacional) han denunciado a los “sectarios” y “formalistas”, que “constantemente se refieren a definiciones y a citas de los clásicos marxistas (“Debemos aplastar el viejo estado “, etc), que en sus manos se transforman de declaraciones científicas en clichés vacíos o en conjuros religiosos” (Marxist.com, 4 de mayo de 2004). El CMI ciertamente no puede ser acusado de adherirse—religiosamente o de otra manera—a los principios fundamentales del Marxismo. Pero esto no cambia el hecho de que la revolución socialista en Venezuela, como en cualquier otra parte, requiere la destrucción del estado burgués y su sustitución por instituciones comprometidas con la defensa del poder de los trabajadores.

Clase y Estado en Venezuela

La sociedad venezolana ha sido moldeada por su relación con el coloso imperialista del norte. El descubrimiento de enormes reservas de petróleo durante la primera guerra mundial, en los albores de la edad del automóvil, incrementó enormemente la importancia estratégica de Venezuela, y hoy es el quinto mayor exportador de petróleo del mundo. El petróleo representa aproximadamente un tercio del producto interno bruto del país (PIB) y más del 80 por ciento del total de sus ingresos por exportaciones. Como resultado del auge petrolero de la década del 1970, Venezuela es hoy una sociedad muy urbanizada, con el 87 por ciento de su población viviendo en pueblos y ciudades. La mitad de la fuerza laboral está empleada en la economía “no oficial” concentrada en las extensas barriadas pobres, mientras que la agricultura contribuye sólo en un seis por ciento al PIB. Dos tercios de los alimentos del país tienen que ser importados.

El 1 º de enero de 1976, el gobierno de Carlos Andrés Pérez nacionalizó la industria petrolera de Venezuela y creó la empresa de propiedad estatal Petróleos de Venezuela Sociedad Anónima (PDVSA). Esto aumentó la asignación de los ingresos del petróleo al gobierno, pero la dirección de estas instalaciones petroleras recientemente nacionalizadas no cambió, y, en consecuencia, las grandes empresas petroleras internacionales continuaron obteniendo crudo venezolano con un descuento sustancial. En la década de 1980, PDVSA comenzó a adquirir activos en el exterior en la refinación, la distribución y la comercialización, incluida la cadena de gasolineras Citgo en los EE.UU. En la década de 1990, la industria petrolera de Venezuela se abrió de nuevo a los inversionistas extranjeros. Hoy día, alrededor de una cuarta parte de la producción es controlada por las empresas extranjeras (Venezuelan Politics in the Chávez Era (La política venezolana en la era de Chávez), Steve Ellner y Daniel Hellinger, ed., 2003).

Otra recurso de control imperialista es la deuda externa del país, que, según el “Informe sobre el Desarrollo Mundial,” del 2005 emitido por el Banco Mundial, fue de más de $32,5 mil millones en 2002 (aproximadamente un tercio de la renta nacional bruta). Gran parte de esto fue acumulado en el decenio de 1970:

“La deuda externa aumentó de $ 1,2 mil millones en 1973 a $ 11 mil millones en 1978. Sumas astronómica fueron devoradas por los proyectos faraónicos. Se hicieron tratos multimillonarios violando la ley y la constitución. Una gran cantidad de dinero se utilizó para alimentar redes clientelares y beneficiar esencialmente al capital financiero, cuyos principales representantes ocupaban importantes cargos en el aparato estatal. “

—Frédéric Lévêque, Red de Información y Solidaridad con América Latina (RISAL), 17 de mayo de 2004

Los “oligarcas” venezolanos, cuya situación social y poder político se basa en sus propiedades en la industria, el transporte, la banca y los medios de comunicación, están unidos por mil hilos a los centros del capital financiero imperial. Sus primos rurales, los grandes propietarios de tierras, dominan el campo. Seth DeLong, un investigador principal del Consejo sobre Asuntos del Hemisferio, con sede en Washington, estima que, pese la reforma agraria de 1960, hoy “aproximadamente del 75 al 80% de la tierra en manos de la propiedad privada es poseída por el 5% de los propietarios” (Venezuelanalysis.com, 25 de febrero de 2005). El parasitismo de la minúscula clase dominante de piel clara de Venezuela se ha racionalizado tradicionalmente por el racismo—la supuesta superioridad de los “europeos” sobre las masas de negros, indios y mestizos—y santificado por los reaccionarios oscurantistas de la Iglesia Católica.

Del ‘Caracazo’ a la ‘Revolución Bolivariana’

Una combinación de la caída de los precios del petróleo y del rápido aumento de la deuda produjo una grave crisis fiscal en el decenio de 1980, provocando al gobierno de Carlos Andrés Pérez a responder con la austeridad y “ajustes estructurales” dictados por el FMI. El primer paso fue el de liberalizar los precios de los combustibles. En la mañana del 27 de febrero de 1989, cuando la gente al ir al trabajo descubrió que el precio del pasaje de los autobuses urbanos se había duplicado de la noche a la mañana, explotó en ira:

“Los autobuses fueron volteados y quemados, pero esto fue sólo la etapa inicial de la revuelta. En cuestión de horas la rebelión se generalizó, desarrollándose el pillaje y la destrucción de tiendas y supermercados. Pandillas de jóvenes de los suburbios, pobres y enojados, invadieron el centro comercial de Caracas y se trasladaron a las zonas residenciales privilegiadas de los ricos en las laderas del Monte Avila, cerca del centro de la ciudad. Los disturbios y el saqueo continuaron sin control durante toda la noche y el día siguiente. Se convirtió en una poderosa y prolongada rebelión—que fue llamada el Caracazo—a la que rápidamente siguieron días de brutal represión militar.”

In the Shadow of the Liberator (A la Sombra del Libertador), Richard Gott, 2000

El ejército abatió unas 3,000 personas, pero no pudo sofocar los disturbios. A partir de ese momento los mecanismos tradicionales de control social comenzaron a deteriorarse. De repente formaciones nacionalistas de izquierda, como el Movimiento al Socialismo (MAS) y La Causa Radical (ambas ramas del Partido Comunista de Venezuela), comenzaron a crecer rápidamente. La disidencia popular encontró su expresión incluso en el cuerpo de oficiales de Venezuela cuando, en febrero de 1992, un grupo de oficiales en torno al Coronel Hugo Rafael Chávez Frías hizo un fallido intento por derrocar a Pérez y anular su agenda “neoliberal”. Nueve meses más tarde intentaron, y fallaron, de nuevo. Chávez fue a la cárcel prometiendo a sus partidarios que su proyecto estaba retenido sólo “por ahora”.

En 1994, cuando Rafael Caldera Rodríguez, que antes había estado en el poder de 1969 a 1974, fue reelegido presidente, de inmediato revirtió algunas de las medidas menos populares de Pérez, nacionalizó algunos bancos insolventes e indultó a Chávez. Las credenciales de Caldera como populista se resaltaron aún más, cuando a un representante del MAS se le dio un cargo en el Gobierno. Sin embargo, el nuevo gobierno no pudo darle un vuelco a la economía, y en abril de 1996, Caldera estuvo de acuerdo con otro programa de ajuste estructural del FMI. Entre 1993 y 1999 los salarios reales cayeron en picada, la tasa de sindicalización se redujo a la mitad (a sólo 13,5 por ciento), el desempleo se duplicó (de 6,3 a 14,9 por ciento) y la economía “informal” se expandió. Según el Banco Mundial:

“[El] porcentaje de venezolanos que viven en la pobreza (ingresos del hogar de menos de 2 dólares al día) ha aumentado del 32,2 por ciento en 1991 al 48,5 por ciento en el 2000. Del mismo modo, la proporción de los que viven en la extrema pobreza—menos de 1 dólar diario—pasó del 11,8 por ciento al 23,5 por ciento. “—”Venezuela, Resumen del País”, Banco Mundial, agosto de 2004

A medida que los pobres eran cada vez más pobres, la riqueza de los ricos crecía a un ritmo constante: “La cuota de ingresos de la población más pobre, el 40%, se redujo del 19,1 por ciento en 1981 al 14,7 por ciento en 1997, mientras que la del decilio más rico aumentó del 21,8 al 32,8 por ciento”(Venezuelan Politics in the Chávez Era (La política venezolana en la era de Chávez), Steve Ellner y Daniel Hellinger, ed., 2003).

En marzo de 1994, tan pronto como salió de la cárcel, Chávez comenzó a organizar una alianza de “militares y civiles”, el Movimiento Quinta República (MVR), que participó en el “Polo Patriótico”, un bloque de partidos que se comprometieron a liberar a Venezuela de la corrupción y la servidumbre neocolonial. Como candidato presidencial del Polo Patriótico en las elecciones de diciembre de 1998, Chávez recibió el 56 por ciento de la votación:

“Chávez fue elegido a finales de 1998 sobre la base de tres promesas: primero, desbaratar el sistema político anterior de Venezuela, conocido como “puntofijismo”, llamado así por la localidad, Punto Fijo, lugar en el cual los demócrata cristianos (Copei) y los socialdemócratas (Acción Democrática) firmaron un acuerdo para limitar el sistema político de Venezuela a una competencia entre estos dos partidos. Segundo, Chávez prometió acabar con la corrupción. Y en tercer lugar, Chávez se comprometió a aliviar la pobreza en Venezuela.”

—Gregory Wilpert, Venezuelanalysis.com 11 de noviembre de 2003

Pocos meses después de ser electo, la propuesta de Chávez de convocar una asamblea constituyente ganó por abrumadora mayoría. Sus partidarios barrieron en las elecciones de la asamblea de julio de 1999, donde procedieron a redactar una nueva constitución en la que se declaró a Venezuela como un “Estado democrático y social de derecho y de justicia.” Cuando este documento fue ratificado por el 70 por ciento de los votantes en el referéndum de Diciembre de 1999, nació la nueva “República Bolivariana de Venezuela”. Siete meses más tarde, en julio de 2000, Chávez fue elegido como su primer presidente.

Las relaciones eran tensas entre los puntofijistas y los Bolivarianos dentro del aparato estatal. Los que habían servido en el antiguo régimen no confiaban en Chávez, que no parecía estar interesado en absoluto en utilizar su posición para lograr ventajas personales (una característica que muchos de su círculo no comparten). Muchos veteranos se preocupaban de que las denuncias Bolivarianas de la pobreza y la “globalización” pudieran agitar a las masas empobrecidas. Ellos se sintieron alarmados cuando Chávez asignó a los mandos militares leales la supervisión de la administración pública:

“Los militares están por todas partes,” me explicó un alto asesor económico. ‘A veces parece como si hubiera un proyecto secreto que no conoces. Es realmente un partido militar. En algunos de los ministerios, se dá el caso de un doble poder.’”

—Gott, op.cit. 

Washington sospechaba igualmente de las intenciones Bolivarianas. Para tranquilizar a los imperialistas, el gobierno se comprometió a no tocar las inversiones extranjeras, a pesar de que, según Gott, Chávez trató de evitar la responsabilidad personal por esta medida estando fuera del país cuando se anunció la misma.

A pesar de las vehementes denuncias del “neoliberalismo”, el gobierno bolivariano propuso privatizar las empresas de propiedad estatal de la electricidad y del aluminio, mientras conservaba el control de PDVSA. En su discurso inaugural, Chávez detalló el plan económico de su gobierno:

“Nuestro proyecto no es ni estatista ni neoliberal; estamos explorando el terreno intermedio, donde la mano invisible del mercado se une con la mano visible del estado: tanto estado como sea necesario, y tanto mercado como sea posible.”

Ibíd.

Si bien continuó proclamando su compromiso con la justicia social, el gobierno venezolano prosiguió realizando los pagos programados de su deuda externa y, en un evidente intento de tranquilizar a los reaccionarios, Chávez volvió a nombrar a Maritza Izaguirre como ministra de finanzas—a pesar de que, bajo la administración de Caldera, ella introdujo muchas de las medidas impopulares denunciadas por los Bolivarianos.

Pero, a pesar de las políticas económicas conservadoras del gobierno, su base popular fue fortalecida con la convicción de que el presidente estaba de su lado. En noviembre de 2001, la tensión entre los Bolivarianos y los puntofijistas alcanzó un punto crítico cuando Chávez, en un intento de apuntalar su popularidad que se deterioraba, impulsó a través de 49 decretos el cumplimiento de algunas de sus anteriores promesas. Uno de estos limitaba el control extranjero de la industria petrolera y duplicaba las regalías debidas al gobierno. La oposición de derecha respondió acelerando sus planes de derrocar al régimen.

Mientras que unos pocos capitalistas venezolanos trataron de llegar a un modus vivendi con Chávez, la mayor parte de la burguesía, y gran parte de la pequeña burguesía, eran hostiles en forma virulenta. La vendida burocracia sindical de la Confederación de Trabajadores de Venezuela (CTV), explotando demagógicamente algunas legítimas quejas de su base, tomó partido del lado de la patronal en contra de Chávez. Algunos de los más corruptos y cínicos elementos de la izquierda, en particular los degenerados estalinistas del antiguo grupo de la Bandera Roja a favor de los albaneses, también lanzaron su apoyo en favor a la oposición pro-imperialista “democrática”. El 10 de diciembre de 2001, la CTV, con el apoyo de Fedecámaras (la asociación de empleadores) y la dirección de PDVSA, llevó a cabo una huelga de un día para protestar contra los decretos emitidos por Chávez el mes anterior. Chávez respondió en febrero de 2002 despidiendo a los principales directores de PDVSA, un acto que desencadenó un golpe respaldado por Estados Unidos dos meses más tarde.

La Fundación Nacional para la Democracia (NED) de EE.UU., que canalizó los fondos de la CIA a la contra nicaragüense en la década de 1980, había estado durante mucho tiempo financiando la burocracia de la CTV a través de la AFL-CIO perversamente titulada “Centro Americano para la Solidaridad Laboral Internacional” (ACILS, alias “Centro de Solidaridad”), encarnación contemporánea del infame Instituto Americano para el Desarrollo del Sindicalismo Libre. Entre 1997 y 2002, la NED le aportó oficialmente a ACILS 700,000 dólares para la subversión en Venezuela (Monthly Review, mayo de 2005). No fue casual que el presupuesto de la NED en Venezuela se cuadruplicó en el período inmediatamente antes del golpe de abril de 2002. Entre otras cosas, patrocinó una conferencia de los burócratas de la CTV, funcionarios de Fedecámaras y miembros de la jerarquía católica en Marzo de 2002 para discutir las perspectivas y las prioridades del futuro del país.

Golpe de Abril de 2002: Fabricado en los EE.UU.

El 11 de abril de 2002, elementos de los militares venezolanos detuvieron a Chávez, y el jefe de Fedecámaras Pedro Carmona se proclamó a sí mismo Jefe de Estado. Carmona inmediatamente anuló la Constitución, disolvió el parlamento, suspendió la Corte Suprema de Justicia, revocó la totalidad de los decretos de Chávez y comenzó a recoger a los principales Bolivarianos. Con consumado cinismo anunció: “Todo el mundo sentirá que existe mucha libertad, pluralismo y respeto por el estado de derecho” (Associated Press, 12 de abril de 2002). Carmona recibió el apoyo de los medios, de gran parte de los intelectuales y del cuerpo de oficiales, de la Iglesia Católica y, por supuesto, de los grandes capitalistas y terratenientes. Su régimen fue inmediatamente reconocido por Washington, Madrid, y el FMI, pero ningún gobierno de América Latina tuvo el deseo de apoyar el derrocamiento, orquestado por los EE.UU., de un gobierno electo de la región. Nunca hubo dudas serias acerca de la participación de Norteamérica:

“Las [v]isitas de los venezolanos que tramaban el golpe, incluido el propio Carmona, comenzaron, dicen las fuentes,’hace varios meses’, y continuaron hasta semanas antes del golpe del pasado fin de semana. Los visitantes fueron recibidos en la Casa Blanca por el hombre al que el Presidente George Bush le dio la tarea de ser su político clave para América Latina, Otto Reich.

“Reich es un Cubano Americano del ala derecha que, bajo el mando de Reagan, dirigió la Oficina de Diplomacia Pública. Esta oficina, en teoría, rendía cuentas al Departamento de Estado, pero las investigaciones del Congreso demostraron que Reich le rendía cuentas directamente al Asistente para la Seguridad Nacional de Reagan, Coronel Oliver North, en la Casa Blanca. “

Observer (Londres), 21 de abril de 2002

El ex oficial de la inteligencia naval de EE.UU. Wayne Madsen informó:

“‘La primera vez que oí hablar del teniente coronel James Rogers (el agregado militar asistente, trabajando ahora en la embajada de los EE.UU. en Caracas) iba para allá el pasado mes de junio para preparar el terreno,’ dijo ayer el Señor Madsen, un analista de inteligencia. “Algunos de nuestros agentes anti-narcóticos también participaron”.

“Él dijo que la marina se encontraba en la zona para realizar operaciones que no tenían relación con el golpe, pero que entendía que habían asistido con inteligencia de trasmisiones mientras éste se llevaba a cabo.

“El Señor Madsen también dijo que la marina ayudó apoyando a los militares venezolanos con la interferencia de comunicaciones, centrándose en las comunicaciones desde y hacia las misiones diplomáticas pertenecientes a Cuba, Libia, Irán e Iraq—los cuatro países que habían expresado su apoyo al Sr. Chávez- en Caracas.”

Guardian (Londres), 29 de abril de 2002

Aunque Carmona se mantuvo en el poder durante menos de 48 horas, encontró tiempo para reunirse con el embajador español y con el de EE.UU. El golpe fracasó cuando cientos de miles de partidarios de Chávez se concentraron en los exteriores del palacio presidencial de Miraflores para exigir su reposición, mientras que varios cientos de soldados leales, que se habían escondido en el sótano después de haber sido avisados del golpe, reaparecieron para detener a Carmona.

Algunos altos oficiales, que inicialmente habían estado junto a los golpistas, estaban tan consternados por las acciones dictatoriales del jefe de Fedecámaras durante su primer día en el cargo que le retiraron su apoyo. Esto puede explicar por qué, tan pronto como regresó, de inmediato Chávez trató de abrir un “diálogo” con sus enemigos de derecha, dio marcha atrás sobre algunas propuestas de reformas y anunció que mantendría en su lugar a la dirección de PDVSA. En lugar de calmarse, los derechistas vieron estas propuestas como un signo de debilidad y se inició una huelga nacional/cierre patronal para derrocar al gobierno de Chávez en diciembre de 2002. El cierre patronal contó con el apoyo de todos los grandes capitalistas y una minoría de trabajadores. El mismo infligió graves daños económicos, pero se vino debajo de spués de un par de meses. Esta vez Chávez fue menos conciliador, y de inmediato despidió a 18,000 de los participantes (incluidos los jefes de PDVSA).

La mayoría de la clase trabajadora y varios sindicatos importantes se opusieron activamente al cierre patronal:

“… en el proceso de recuperación de PDVSA, hubo muchas experiencias del control de los trabajadores, en particular en las refinerías de El Ilenadero de Yagüa, Puerto La Cruz y El Palito. En esta última, decenas de trabajadores trabajaron día y noche para contrarrestar el sabotaje económico. Y fue también la presión de los trabajadores la que obligó a […] Ferrari a abrir y distribuir gasolina.

“Experimentos similares tuvieron lugar en otras ramas de la industria. En medio del cierre patronal, los trabajadores ocuparon las empresas exigiendo su reapertura y el control directo de la producción por los trabajadores. Este fue el caso de Texdala, una fábrica textil en Maracay, y del Central Carora, un ingenio azucarero en el estado de Lara.

—Frédéric Lévêque, RISAL, 5 de junio de 2003

Tras el fracaso del cierre patronal, la oposición de derecha, que según el National Catholic Reporter (2 de abril de 2004) estaba recibiendo un millón de dólares al año de los EE.UU. para luchar contra Chávez, comenzó a recolectar firmas para un referendo revocatorio presidencial. La votación, que finalmente se celebró el 15 de agosto de 2004, le dió un golpe devastador a la oposición. Una eminente secuaz de los imperialistas, Maria Corina Machado (dirigente de Súmate, el grupo que encabezó la campaña de revocación) se enfrenta ahora a cargos criminales por el uso ilegal de fondos extranjeros para tratar de influir en el resultado del referendo. Como dando un aviso a Caracas, Machado fue invitada a la Casa Blanca en mayo de 2005 por George W. Bush.

La decisiva victoria de Chávez en el referéndum debilitó dramáticamente a la oposición. La posterior victoria de los candidatos a favor de Chávez en las elecciones regionales del 2004 llevó a la designación de una mayoría chavistaen el Tribunal Supremo. Con la derecha en retirada, Chávez giró hacia la izquierda, al menos retóricamente, y en enero de 2005 en el Foro Social Mundial en Porto Alegre, declaró que de ahora en adelante su gobierno seguiría un programa “socialista”.

Muchos izquierdistas respaldaron a Chávez en el referéndum revocatorio sobre la base de que sus opositores eran reaccionarios. Pero votar “no” a las nuevas elecciones presidenciales equivalió a dar apoyo político al actual gobierno burgués, algo que los marxistas nunca pueden hacer. En esas circunstancias, sin ninguna posibilidad de expresar una clara alternativa proletaria, lo mejor que los trabajadores venezolanos con conciencia de clase pudieron hacer fue echar a perder sus papeletas de votación, a la vez que dejaron claro que estaban dispuestos a defender a Chávez, con las armas en la mano, contra cualquier ataque extralegal de la derecha o de sus padrinos imperialistas.

Reforma Social y ‘El Movimiento’

El gobierno de Chávez ha puesto en marcha una serie de significativos nuevos programas sociales (llamados “misiones”) que están prestando una importante asistencia a millones de pobres de Venezuela. La Misión Mercal estableció una cadena de supermercados para vender productos a precios subvencionados. La Misión Robinson, un programa de alfabetización en masa, ya ha enseñado a más de un millón de personas pobres a leer y escribir. La Misión Ribas ayuda a los que nunca se graduaron de la escuela secundaria a reanudar sus estudios, mientras que la Misión Sucre ofrece becas para estudiantes pobres para asistir a la universidad. La Misión Vuelvan Caras es un programa de capacitación a través del cual los graduados de la Misión Ribas y otros pueden aprender las habilidades necesarias para lograr empleos productivos, decentes.

El objetivo de la Misión Barrio Adentro es el de crear un sistema de atención de salud libre y universal. Ya 20,000 cubanos profesionales de la medicina han creado clínicas que proporcionan servicios de salud y de atención dental gratuitos para los pobres de las zonas urbanas y rurales. A cambio, Venezuela le está vendiendo petróleo a Cuba a precios muy por debajo de los del mercado internacional. La Misión Barrio Adentro II, iniciada en junio de 2005, está construyendo hospitales, así como instalaciones para los diagnósticos y la rehabilitación. Chávez ha anunciado planes para la Misión Barrio Adentro III, a fin de organizar la adquisición de modernos equipos médicos. En virtud de la Misión Milagro, Venezuela está enviando miles de pacientes, que de otro modo no podrían costearlo, a Cuba para ser operados.

Las misiones Bolivarianas, que son muy populares, han ayudado a sacar a millones de venezolanos pobres hacia la actividad política a través de su insistencia en la participación de la “base”. Gran parte de esto ha tenido lugar a través de los “Círculos Bolivarianos”, agrupaciones locales de entre siete y diez personas que ayudan a la inscripción de las personas en las “misiones” y, a continuación, las apoyan y supervisan su progreso. Los Círculos Bolivarianos, que tienen una relación cuasi independiente del Estado y que cuando alcanzaron su máximo alegaban tener dos millones de miembros activos, están decreciendo y son sustituidas por otras redes organizativas.

En febrero de 2002 el gobierno anunció que emitiría títulos de tierra a los habitantes de los barrios populares organizados en los comités por la tierra de entre 100 y 200 familias. Estos comités de tierras urbanas se han convertido en un pilar central de la “Revolución Bolivariana”:

“La reforma del suelo urbano está funcionando como un catalizador para la movilización de los barrios de Venezuela, a raíz del fracaso de los Círculos Bolivarianos… Ha llevado a la movilización de más de 5,000 comités por la tierra, lo que representa una población total de más de 5 millones de venezolanos, o el 20% de la población. Esto hace que los comités urbanos por la tierra sean el mayor movimiento social organizado de Venezuela.

—Gregory Wilpert, Venezuelanalysis.com 12 de septiembre de 2005

El gobierno también ha creado instituciones financieras en pequeña escala (por ejemplo, el Banco de la Mujer y el Banco del Pueblo) para proporcionar crédito barato a las pequeñas empresas y las cooperativas. La Unión Nacional de Amas de Casa, que se inició en 2003, es otro participante clave en los planes de “desarrollo endógeno”:

“’También tenemos gente que enseñan a las mujeres cómo desarrollar las cooperativas en las pequeñas empresas y el trabajo comunitario, ‘[Explicó Lizarde Prada, líder de Unión de Amas de Casa]. ‘Por ejemplo, si usted vive en un determinado barrio y tiene la materia prima, tales como el banano, puede usarla para una dulcería y utilizar el transporte local para su negocio. Todo esto va a generar más trabajo local.’ Hay diferentes cooperativas afiliadas a la Unión de Amas de Casa, algunas participan de la confección y distribución de alimentos, otras tienen que ver con textiles y confecciones”.

—Benjamin Dangl, ZNet, 27 de abril de 2005

Si bien mejora de la vida para muchos de los más pobres, este tipo de iniciativas ni siquiera comienza a abordar las raíces de la desigualdad social en el orden mundial imperialista. Chávez ha comenzado recientemente a hablar del “socialismo del siglo 21 “, pero las medidas propuestas hasta el momento no parecen ir mucho más allá del “Programa de Transición Económica” de 1999-2000, que prevé el desarrollo de “una economía humanista, autoadministrada y competitiva”, para el que:

“El telón de fondo es la organización social de la producción en la que el mercado, como mecanismo fundamental para la asignación de recursos y factores, incorpora formas organizativas complementarias de propiedad privada que, al igual que las cooperativas y las asociaciones estratégicas de consumidores y productores, fomentan una diversificación dinámica de la producción y añaden valor”.

Hay una contradicción profunda y fundamental entre los intereses de los que poseen y controlan los resortes económicos fundamentales—la burguesía venezolana y sus patrones imperialistas—y la masa de la población. En algunas circunstancias, a los capitalistas puede obligárseles a hacer concesiones; pero, siempre y cuando el estado burgués siga intacto, los beneficios de los trabajadores pueden ser fácilmente abolidos cuando la relación de las fuerzas cambia.

Límites de la Política Agraria Bolivariana

La supuesta “guerra contra el latifundio” ilustra los límites del experimento Bolivariano. Entre los 49 decretos que Chávez promulgó en noviembre de 2001, uno que particularmente enfureció a los oligarcas fue la creación del Instituto Nacional de Tierras (Instituto Nacional de Tierras, INTI), que se encargaría de poner en práctica una modesta reforma agraria. La ley impone un impuesto suplementario sobre las tierras donde más del 80 por ciento estén sin trabajar, y permite la expropiación, con indemnización completa—de tierras ociosas de “alta calidad de más de 100 hectáreas o de tierras de menor calidad de más de 5,000 hectáreas” (New Left Review, mayo-junio de 2003). Las tierras expropiadas se suponía que fueran entregadas a las cooperativas de campesinos. La reforma tenía el propósito de satisfacer el hambre de tierras de los campesinos pobres, modernizar el campo y aumentar la producción agrícola, promoviendo de este modo la “soberanía alimentaria” en Venezuela. Ricaurte Leonete, el jefe del INTI, señaló que no se trataba de una medida anti-capitalista: “Nuestros terratenientes no son ni siquiera capitalistas. Los capitalistas hacen uso de sus tierras… En Europa el capitalismo se deshizo de este tipo de comportamiento parasitario hace mucho tiempo” (citado en Le Monde Diplomatique, octubre de 2003).

Sin embargo, a pesar de los ataques retóricos ocasionales en contra de los hacendados parásitos, el régimen no tocó ninguna posesión de fincas por más de tres años. Mientras tanto, más de 100 dirigentes campesinos han sido asesinados por bandas armadas que trabajan en favor de los grandes propietarios de tierras. En algunos casos, las autoridades locales Bolivarianas están del lado de las élites rurales:

“Una cosa es cuando el enemigo es un gobernador de la oposición—como en los estados de Yaracuy, Apure y Carabobo—o un político del antiguo régimen. Sin embargo, en enero de 2002, en El Robal (Estado Cojedes), fue Jhonny Yánez Rangel, el que soltó los perros. El había sido electo como miembro del Movimiento Quinta República (MVR, el partido del presidente). ‘Él expulsó a los campesinos, y destruyó sus ranchos y sus equipos. Todo se perdió,’ dice Vásquez [un campesino sin tierra], enfurecido todavía con lo que pasó. ‘¿Cómo puede un gobernador revolucionario actuar en contra de la revolución?”

Le Monde Diplomatique, octubre de 2003 

En enero de 2005, cuando el gobierno tenía menos deseos de concertar con los reaccionarios, Rangel envió a 200 soldados de la Guardia Nacional a la finca de 32,000 acres El Charcote (propiedad del multimillonario británico Lord Vestey) donde varios centenares de campesinos sin tierra habían estado ocupándola ilegalmente durante años. ElWashington Post (14 de enero de 2005) se aprovechó de esto inmediatamente, titulándolo un “asalto a la propiedad privada” que probaba que Chávez “está socavando los cimientos de la democracia y la libre empresa.” Los medios de comunicación europeos lo trataron menos histéricamente. La BBC describió el anuncio de Chávez de que se aceleraba la reforma agraria como “más reducida de lo que muchos esperaban”, y la Radio de los Países Bajos señaló:

“Aunque el Presidente Hugo Chávez, una vez habló de una ‘guerra contra las fincas’, el gobierno ahora evita cuidadosamente usar la palabra ‘confiscación’. Dice que se trata simplemente de ‘recuperar’ la tierra que, aunque siempre ha sido un ‘bien público’, fue dudosamente ‘ocupada’ por propietarios privados y empresas.”

—Radio Netherlands 15 de marzo de 2005

La discrepancia entre el fuerte discurso sobre “la guerra a los latifundios”, y las tímidas medidas realmente adoptadas se hace más evidente por los últimos intentos del régimen de “coordinar” con los propietarios de tierras para llegar a acuerdos negociados y por su resistencia a apoyar las ocupaciones campesinas. A pesar de toda su retórica radical, Chávez está muy consciente de que una verdadera revolución agraria que desarraigue a los grandes propietarios de tierra, también amenaza inevitablemente a la propiedad capitalista en las ciudades. En los últimos años, con el fin de apaciguar a los pobres del campo sin ofender a los ricos terratenientes, el régimen ha estado parcelando las tierras de propiedad estatal, entregando más de dos millones de hectáreas a 130,000 familias y cooperativas agrícolas. Al hacer esto, la acción del gobierno incrementa la influencia del mercado capitalista y mantiene la influencia de los grandes terratenientes.

Chávez y los trabajadores sindicalizados

El gobierno de Chávez ha aumentado el salario mínimo en varias ocasiones—incluyendo un alza del 26 por ciento en mayo de 2005 (aproximadamente igual a la tasa anual de inflación) —y al mismo tiempo ha hecho más difícil para los empleadores el despido de los trabajadores. Estas medidas, que son aplicables sólo a la mitad de la fuerza de trabajo que está empleada por la economía “oficial”, han hecho más fácil la sindicalización de los trabajadores.

Cuando Chávez llegó al poder, la principal federación sindical era la muy burocratizada CTV, que estaba tradicionalmente integrada estrechamente con la Acción Democrática, autodescrita como “socialdemócrata”, que sostenía al régimen puntofijista. En marzo de 2000, Chávez declaró ilegal una huelga de los trabajadores de PDVSA por mejores salarios y condiciones de trabajo, y exigió que se eligiera una nueva directiva del sindicato antes de que las negociaciones pudieran continuar. Para no cumplimentar esto, los que encabezaban el sindicato suspendieron la acción. Sin embargo, siete meses más tarde, en octubre, 30,000 trabajadores del petróleo se declararon en huelga de nuevo, y después de cuatro días le arrancaron un aumento del 60 por ciento del pago a la dirección de PDVSA. Esta vez el gobierno no trató de intervenir, ya que los sindicatos que representan a más de un millón de empleados del sector público declararon su intención de ir a la huelga en solidaridad (BBC News Online, 15 de octubre de 2000).

En 2001, en un intento por romper el dominio de la burocracia de la CTV, el gobierno decretó que todos los sindicatos habían de celebrar elecciones de inmediato. Aunque la intervención de Chávez en el movimiento sindical fue popular con muchos trabajadores frustrados por los lideres corruptos de la CTV, los marxistas, como cuestión de principio, se oponen a cualquier intromisión del gobierno capitalista en los sindicatos. Aquellos que confían en el estado burgués para luchar contra la corrupción sólo debilitan al movimiento obrero. Cuando los burócratas de la CTV lograron ganar la votación, los partidarios de Chávez se separaron y fundaron la Unión Nacional de Trabajadores (UNT) en abril de 2003. Desde entonces, la UNT ha crecido rápidamente, y actualmente representa a la gran mayoría de los trabajadores del sector público y la mitad de los que están en el sector privado.

Esos izquierdistas que quieren ver a Chávez como un revolucionario socialista han sido alentados por la reciente nacionalización de varias empresas. Alan Woods, dirigente del Comité por una Internacional Marxista, declaró:

“El hecho de que el Presidente Chávez ha hecho declaraciones públicas a favor del socialismo es una indicación más clara de hacia donde se mueve la Revolución Bolivariana. La nacionalización de Venepal, y ahora también de CNV, confirma esta dirección. Aquellas personas que nos criticaban por apuntar que la revolución bolivariana tendría que tomar el camino socialista o fracasar, han demostrado estar completamente equivocados.”

—Marxist.com 10 de junio de 2005

La nacionalización en Enero de 2005, de la fábrica de papel de Venepal (que había entrado en bancarrota como consecuencia de la participación de su propietario en la “huelga general” de los jefes en el 2002-2003) sólo se produjo después de que varios cientos de trabajadores, en respuesta a su cierre en septiembre de 2004, ocuparon el molino y reanudaron la producción. Chávez no pretendía que esto representara un paso hacia el socialismo: “La expropiación de Venepal es una excepción, no una medida política, ni gubernamental. No vamos a tomar la tierra, si es suya es suya. Pero la empresa que esté cerrada y abandonada, vamos a ir por ella. Por todas ellas” (Venezuelanalysis.com, 20 de enero de 2005). Sólo en diciembre de 2004, luego de que la empresa se había declarado oficialmente en bancarrota, fue que el gobierno la nacionalizó, y sólo después de pagar a los propietarios el valor total de la misma en el mercado. En abril de 2005 el gobierno también se hizo cargo de la Constructora Nacional de Válvulas (CNV), que también había sido cerrada por su propietario (el ex presidente de PDVSA Andrés Sosa Pietri). En este caso también, las autoridades Bolivarianas actuaron sólo después de que unos 60 ex empleados de CNV ocuparon la fábrica.

El gobierno ha anunciado planes para la conversión de otras empresas en quiebra, así como algunas empresas privadas “co-dirigidas” por los empleados, en Empresas de Producción Social (EPS):

“Ejemplos de empresas que deben convertirse en EPS son Cadafe (la compañía eléctrica), Hidroven (la compañía de agua), el Metro, Conviasa (la aerolínea estatal). La empresa petrolera PDVSA propiedad del estado es una empresa que ya ha hecho la transición de empresa capitalista a empresa de producción social,” dijo Chávez….

“Las expropiaciones para hacer avanzar este programa, sin embargo, serían sólo un último recurso. En primer lugar se intentará llegar a acuerdos con los actuales propietarios de las empresas, para que éstas se reabran como empresas de producción social con apoyo gubernamental. Se podrá llegar a acuerdos, ‘siempre y cuando los propietarios estén dispuestos a mejorar la empresa, a promover la participación de los trabajadores, e involucrarlos en la distribución de los productos, así como para que sean partícipes de los beneficios [de la empresa]’, dijo Chávez.”

—Venezuelanalysis.com, 18 de julio de 2005

A pesar de los deseos ilusorios de algunos izquierdistas, la realidad de la “gestión conjunta” de los trabajadores con los empresarios no tiene nada que ver con el socialismo:

“Los trabajadores de Cadafe, la empresa estatal de electricidad que proporciona el 60 por ciento de la electricidad en Venezuela, empezó a impulsar la cogestión poco después que Chávez fue elegido en 1998. En 2002, poco después del golpe de abril, Cadafe comenzó oficialmente la transición a la cogestión. Pero tres años después, el rol de los trabajadores en el proceso de toma de decisiones todavía está limitado a dos asientos en un comité de cinco miembros—que no es más que un grupo que puede hacer recomendaciones al presidente de la empresa, pero éste no está en la obligación de hacer caso de ellas. Después de dar a la gerencia estatal la oportunidad de poner en práctica una verdadera cogestión, los trabajadores de Cadafe, encabezados por la federación sindical Fetraelec, organizaron una serie de protestas expresando su impaciencia. Es una estrategia difícil, porque la mayoría de estos trabajadores son firmes partidarios del Presidente Chávez, pero sus protestas están dirigidas necesariamente contra el Ministerio de Energía—la entidad estatal encargada de Cadafe”.

Monthly Review, junio de 2005 

El mejor ejemplo de una historia de cogestión “exitosa” es el caso de Alcasa, un complejo de aluminio de propiedad estatal ubicado en la ciudad industrial de Puerto Ordaz, donde los consejos departamentales están autorizados a discutir el “presupuesto participativo” de la empresa. En abril de 2005, los 2,700 empleados de la planta tuvieron la oportunidad de elegir a dos de los cinco directores de la empresa. El presidente de Alcasa, Carlos Lanz, un ex líder guerrillero, sugirió: “Este es un caso en que los trabajadores controlan la fábrica y por eso es un paso hacia el socialismo del siglo XXI” (BBC News Online, 17 de agosto de 2005). En realidad, esta es simplemente una manera de aumentar la productividad acelerando el ritmo, algo por lo que siempre abogará la gerencia:

“‘Los directores y los trabajadores están gestionando este negocio juntos’,dijo [el trabajador de Alcasa, Pedro] Gómez, por encima del ruido retumbante de carretillas elevadoras y el zumbido de los ventiladores industriales, goteándole el sudor por el rostro debido al calor de la plataforma de colada. ‘Es para nosotros una nueva motivación para trabajar duro.’”

—New York Times, 3 de agosto de 2005

La dirigencia sindical Bolivariana está feliz en replantear el “socialismo” para que se corresponda con la política de cogestión del régimen. Las dos principales consignas de la UNT para el 1ro. de mayo de 2005 eran: “La cogestión es revolución” y “Los trabajadores venezolanos están construyendo el socialismo Bolivariano” (Green Left Weekly, 11 de mayo de 2005). Una visión del “socialismo” como una economía de mercado descentralizada en la que los trabajadores pueden consultar conjuntamente con la gerencia las decisiones y en el que el estado proporciona amplios programas sociales, pueden ser fuente de inspiración para muchos venezolanos, pero la idea de crear un capitalismo con conciencia social, humano y dirigido por los trabajadores es una fantasía pequeño burguesa irrealizable.

El camino hacia el seudo socialismo bolivariano comienza con una financiación pública para salvar a los capitalistas que han llevado a sus empresas a la quiebra, y continúa, si todo va bien, con la transformación de los empleados en pequeños propietarios-operadores:

“Alexix Ornevo, ex miembro de la junta directiva del ahora desaparecido sindicato de Venepal y actual miembro de la Dirección de Invepal [el nuevo nombre de la nacionalizada Venepal], señaló que, dado que ya no tenían jefes, ya no necesitan un sindicato, puesto que los trabajadores estaban ahora agrupados en una cooperativa (Covimpa) para hacer funcionar la empresa. Y como una cooperativa, Ornevo se apresuró a señalar, obtuvieron varios beneficios, entre ellos la desgravación constitucional para no pagar impuestos. También, gracias a la Constitución Bolívariana de 1999, Covimpa—que en la actualidad es propietaria del 49 por ciento de las acciones de Invepal—tiene derecho por ley a incrementar su participación hasta el 95 por ciento.”

Monthly Review, junio de 2005

Las cooperativas que sobreviven y prosperan eventualmente conseguirán suficientes acciones en el mercado para sacar a sus competidores fuera del negocio. En ese momento, ellos querrán la oportunidad de ampliar sus operaciones mediante la absorción y la reorganización de las cooperativas menos rentables, y sin duda, esperarán recibir una parte de los futuros ingresos como retribución a su experiencia. Los miembros de las cooperativas más exitosas podrían darse cuenta que la gestión de sus diversos negocios les deja poco tiempo para trabajar. Con el paso del tiempo, una parte cada vez mayor de sus ingresos vendrá de los dividendos (beneficio basado en las acciones). Esto no es socialismo, por supuesto, sino capitalismo, aunque durante un tiempo se disfrace bajo la ilusión de un capitalismo venezolano único, armonioso y compasivo. El auténtico socialismo comienza con la expropiación de la clase capitalista en su conjunto, la destrucción del aparato represivo del Estado y la creación de nuevas instituciones económicas basadas en el principio de la planificación y la cooperación, no de la competencia impulsada por las ganancias.

Bonaparte Bolivariano

Si bien Chávez ha derrotado a la oposición en cada enfrentamiento político hasta la fecha (y en la actualidad cuenta con el apoyo de una clara mayoría de la población), los capitalistas retienen la posesión de los principales medios de producción, comunicación y transporte; el aparato estatal sigue estando esencialmente intacto, y están conscientes de que en cualquier confrontación importante pueden contar con el apoyo de otros regímenes burgueses en la región, respaldados por la superpotencia imperialista del norte. La ambivalencia demostrada por los militares venezolanos hasta la fecha es atribuible, al menos en parte, al hecho de que hay más oficiales provenientes de las capas sociales más humildes que en el resto de América Latina.

Incluso los partidarios de Chávez están escépticos acerca de su confuso discurso nacional izquierdista, de “menos capitalismo y más socialismo” (ZNet, 10 de abril de 2005) como si fueran dos puntos de un continuo, determinados por el porcentaje de la economía que es de propiedad pública. En realidad se trata de dos órdenes sociales mutuamente antagónicos separados por una revolución o contrarrevolución, es decir, la guerra civil. En una encuesta de opinión realizada en 2005 por una empresa que no se considera simpatizante de Chávez, se encontró que más del 70 por ciento de los venezolanos manifestaron una amplia aprobación al presidente y un 35 por ciento dijeron que ellos querían que el gobierno estableciera el socialismo, mientras que otro diez por ciento estaba indeciso. Sin embargo, menos del 20 por ciento de los partidarios de Chávez estima que estará en condiciones de construir una sociedad socialista (Venezuelanalysis.com, 3 de mayo de 2005).

Chávez se ha afanado en alabar a “Jesucristo, uno de los mayores revolucionarios… el verdadero Cristo, el Redentor de los pobres” (ZNet, 10 de abril de 2005). En julio de 2005, el líder bolivariano afirmó: “En la historia de Venezuela nunca ha habido un gobierno que ha estado más cerca de los principios del cristianismo que éste” (Vheadline.com, el 14 de julio de 2005). De hecho, el “principio” fundamental del gobierno de Chávez es elbonapartismo—un término que indica un gobierno “fuerte” que parece flotar por encima de los conflictos de las clases sociales en competencia, pero que en realidad se balancea precariamente entre ellas.

Con el fin de mantener un espacio para maniobrar, Chávez, en ocasiones, ha encontrado conveniente prescindir de la “democracia participativa”, que se supone caracteriza a la revolución bolivariana:

“En respuesta a la creciente movilización exigiendo elecciones primarias para los candidatos regionales [dentro de la coalición chavista], la posición de Chávez ha sido una sorpresa para muchos. El mes pasado, declaró “Ya hemos anunciado los candidatos, y estos son los candidatos. Los que no desean la unidad pueden unirse a los escuálidos (la oposición).” Sin embargo, dado que todos esos candidatos fueron designados por un comité nacional dominado por el partido gobernante, el Movimiento V República (MVR), el resultado ha sido una fuerte oposición en muchas comunidades que están exigiendo que el gobierno actúe de conformidad con su retórica participativa.”

—Venezuelanalysis.com, 17 de octubre de 2004

Los candidatos para las elecciones a la Asamblea Nacional de diciembre de 2005, de la coalición “Grupo para el Cambio” pro-Chávez, también fueron elegidos por el “Comando Táctico Nacional”, en lugar de serlo por el nivel local.

El comportamiento bonapartista de Chávez parece derivarse de un deseo de mejorar las condiciones de los pobres y los oprimidos sin violar la propiedad capitalista. Sin embargo, los intereses fundamentales del proletariado y la burguesía están irreconciliablemente contrapuestos, y a pesar de su retórica socialista, Chávez está muy consciente de que su poder proviene de su cargo de jefe de un estado capitalista. Él tal vez desee no tener que comportarse tan autocráticamente, pero él no puede confiar en la base Bolivariana para tomar las decisiones importantes ya que son susceptibles de alterar el delicado equilibrio que está tratando de lograr.

Los imperialistas europeos, que en general son más sofisticados acerca de cosas como la “Revolución Bolivariana” que los “born again (renacidos)”, dentro y alrededor de la Casa Blanca, no están particularmente alarmados por los acontecimientos en Caracas. Durante una visita a Europa en octubre de 2005, Chávez se reunió con el primer ministro de Italia Silvio Berlusconi, del ala derecha, el cual le dijo más tarde al periódico italiano La Reppublica que el líder bolivariano es un “hombre pragmático”, con el cual es posible hacer negocios. “Es cierto que existen las distancias ideológicas [con los EE.UU.], pero al final, las relaciones comerciales son buenas. Lo conozco [a Chávez] hace tiempo. También tengo buenas relaciones con él”, destacó Berlusconi (Venezuelanalysis.com, 18 de octubre de 2005). El actual jefe de Fedecámaras, José Luis Betancourt, también ha optado por poner la otra mejilla, al menos en público, declarando: “la inversión conjunta pública y privada es la única manera de desarrollar este país de una manera armoniosa” (Venezuelanalysis.com, 26 De octubre de 2005). El representante de los patrones aparentemente “tuvo una respuesta favorable a la declaración de Chávez de que los derechos de propiedad serían respetados durante el desarrollo de Venezuela” (Ibídem).

La inmensa mayoría de la clase gobernante venezolana todavía odia a Chávez con pasión. Ellos están acostumbrados a disfrutar de los lazos íntimos, personales y financieros, con los políticos gobernantes del país, y se sienten incómodos al tener a un bonapartista que habla sobre cosas de izquierda, a cargo de su estado. Sin embargo, la relativa independencia de Chávez de la burguesía, le permite servir mejor a los intereses del capital venezolano, una paradoja, que él explicó en una “Mesa Redonda sobre Macro Negocios”, que tuvo lugar en Caracas el pasado mes de julio, donde participaron funcionarios de gobierno y empresarios de Venezuela y de Norteamérica:

“Venezuela, y dije esto antes de convertirme en presidente de Venezuela, es una especie de—diríamos en el ’95, ’97—Venezuela es una especie de bomba (tic tac! tic tac!). Vamos a empezar a desactivar el mecanismo de la bomba. Y hoy, no es que esté totalmente desactivada, pero estoy seguro de que es mucho menos probable que esta bomba explote hoy, que frente a lo que había desde 1985, 88, 89—entonces explotó. Los 90 hasta el 98, pobreza, desigualdad.”

—”Discurso del Presidente Chávez a los representantes de negocios venezolanos y norteamericanos,” Venezuelanalysis.com 6 de julio de 2005

Además de contrastar fuertemente con la retórica socialista sobre el capitalismo como “barbarie”, las palabras de Chávez sobre la “desactivación” de las contradicciones sociales se encuentran en el centro de todo el proyecto bolivariano. Con sus promesas irrealizables de promover simultáneamente los intereses de los pobres y el de las pirañas financieras imperialistas a través de una forma de desarrollo “endógeno” más inclusivo y socialmente responsable, Chávez, involuntariamente, sin duda, está ayudando a sentar las bases para que las fuerzas de derecha, cuando resurjan en el futuro, se cobren una venganza sangrienta.

‘Anti-Imperialismo’ Bolivariano

La implacable hostilidad de Washington hacia el gobierno bolivariano es una refutación de las pretensiones de la administración Bush de ser el campeón de la “democracia” y la “libertad”, para los pueblos de la tierra sumidos en la oscuridad. Aunque a regañadientes describen los repetidos triunfos electorales de los ‘chavistas’ como “técnicamente legales”, los funcionarios de EE.UU. advierten que Chávez representa “un nuevo tipo de autoritarismo” y se quejan de que él no gobierna “democráticamente”, es decir, que se niega a recibir órdenes de Washington.

Chávez ha condenado las invasiones de los EE.UU. a Afganistán e Irak; fustigó al FMI y al Área de Libre Comercio de las Américas y se hizo amigo de Fidel Castro. El Banco Central de Venezuela recientemente ha empezado a convertir la mayor parte de sus reservas de divisas de dólares a Euros (Venezuelanalysis.com, 5 de octubre), y Chávez ha insinuado que podría un día decidir iniciar poner precio a las exportaciones de petróleo en Euros también. Todo esto lo ha hecho ser la actual bestia negra de la máquina de propaganda imperialista americana, y, por tanto, el destinatario natural de un asesinato fatwa por parte del intolerable teocrático e incondicional partidario de Bush, Pat Robertson. Cuando las protestas masivas en Bolivia alcanzaron dimensiones prerrevolucionarias, en junio de 2005, el Subsecretario de Estado para Asuntos del Hemisferio Occidental de los EE.UU., Roger Noriega, sabía a quien culpar: “El perfil de Chávez en Bolivia ha sido muy evidente desde el comienzo” (Miami Herald, 8 de junio de 2005). Fidel Castro, el tradicional fantasma de América Latina para los ilusorios fanáticos anti-comunistas, en tono de broma se quejó ante Chávez: “Me estoy dando cuenta de que su amistad está perjudicando mi imagen” (Reuters, 30 de abril de 2005).

La nefasta aventura americana en Irak ha hecho que sea menos probable un asalto militar inmediato a Venezuela, pero sin duda, la planificación está en proceso. La ayuda masiva de EE.UU. ha triplicado el tamaño de las fuerzas armadas de Colombia en los últimos años, proporcionando a Washington un sustituto confiable en la región. Cuando Chávez anunció planes para una ampliación modesta de la milicia popular, y compró 100,000 fusiles AK-47 y 40 helicópteros a Rusia, la administración Bush graznó que estaba poniendo en peligro la paz de la región. El Secretario de Defensa de EE.UU., Donald Rumsfeld, cínicamente preguntó: “¿Dónde demonios está [la amenaza] que Venezuela ve, que hace que desee tener todas esas armas?” (BBC News Online, 1 de julio de 2005).

A pesar de los intentos de diversificar sus mercados, Venezuela sigue dependiendo de las ventas a los EE.UU., que alcanzan aproximadamente los dos tercios de sus ingresos por exportación de petróleo, como los Bolivarianos han sugerido, es una razón más que suficiente para llegar a un acuerdo con los EE.UU. En el período posterior al golpe de abril de 2002, un exasperado Chávez declaró: “Conmigo en el poder el abastecimiento de petróleo a los EE.UU. está asegurado. Si apoyan los esfuerzos encaminados a obligarme a salir del poder habrá una guerra civil y el petróleo se interrumpirá” (ZNet, 10 de septiembre de 2002). En la Mesa Redonda de julio de 2005, Chávez habla de que tiene “amigos en ambos partidos” de la clase gobernante de Norteamérica. La oratoria demagógica anti-imperialista que tanto había entusiasmado a sus admiradores de izquierda en Porto Alegre fue puesta a un lado, a favor de un llamado a sus “queridos amigos de negocios de América del Norte” por la “paz”, la “comprensión”, la “transparencia” y la “verdadera integración”. Lejos de pedir “trascender el capitalismo” a través del socialismo Bolivariano, el máximo líder venezolano hiló fantasías acerca de la auto-reforma pacífica del imperialismo a través de una especie de impuesto Tobin, que podría “crear un fondo que permita a los gobiernos y a la sociedad forjar una alianza histórica para la supervivencia de la especie humana “(Venezuelanalysis.com, 6 de julio de 2005).

La expansión de los programas sociales bajo la “Revolución Bolivariana” ha sido pagada por el astronómico aumento de los precios internacionales del petróleo. Cuando Chávez asumió el poder en 1998, el petróleo se vendía aproximadamente a $12 el barril—en 2005 iba por $60. Bajo el gobierno de Chávez, el impuesto sobre ingresos pagado por las empresas petroleras extranjeras ha aumentado de un 1 por ciento nominal a un 16,6 por ciento (New York Times, 5 de julio de 2005). Sin embargo, si los ingresos del gobierno han aumentado, la deuda pública de Venezuela también ha aumentado, en gran parte como resultado de una política deliberada de subvencionar extravagantemente a los bancos de Venezuela:

“’Pero lo que hace que esto sea realmente una locura’, estima [Oscar] García [Mendoza, presidente del Banco Venezolano de Crédito], ‘es que el gobierno esté depositando todos sus ingresos del petróleo a un 5 por ciento en los mismos bancos, a los cuales les solicita préstamos al 14 por ciento. Es una manera muy fácil de hacer dinero para los banqueros. Esa es la razón por la que digo que esto es un gobierno para los ricos’.”

—Christian Parenti, “Hugo Chávez y Petro Populismo”, La Nación, 11 de abril de 2005

Parece ser que los chavistas se imaginan que se reducirá la subordinación de América Latina a los EE.UU. si se amplía el comercio regional y la cooperación económica. Hasta la fecha, Cuba es el único país que ha mostrado entusiasmo por la propuesta de Chávez llamada “Alternativa Bolivariana para las Américas” que competiría con el Área de Libre Comercio de las Américas, dominada por los EE.UU. Pero la lógica de tratar de incluir otros regímenes capitalistas en un proyecto de solidaridad Bolivariano se mostró claramente en agosto de 2005, cuando Chávez se ofreció a apoyar al gobierno de Ecuador en contra de los trabajadores que, exigiendo un aumento de las inversiones y más puestos de trabajo, llevó a la detención de las exportaciones de petróleo del país. Socavando la ventaja de los trabajadores, el gobierno de Chávez anunció: “Venezuela cubrirá los compromisos [de exportación de petróleo] que el gobierno de Ecuador [sic] no ha podido cumplir en estos días. Ellos no tendrán que pagar ni un centavo” (Reuters, 21 de agosto de 2005).

El Marxismo y el Estado en Venezuela

Esta vergonzosa acción de romper una huelga fue pasada por alto sin comentarios por parte de muchos de los admiradores internacionales de Chávez, incluidos los del Comité para una Internacional Marxista, que en papeles es el defensor de la independencia política de la clase obrera de la burguesía y, al menos en teoría, abogan por la creación de un partido leninista de vanguardia para llevar a cabo el programa de Trotsky de la revolución permanente. Pero, para el CMI, nada de esto parece aplicarse en Venezuela.

Los marxistas no desacreditan las medidas aplicadas por el gobierno de Chávez que mejora las vidas de los pobres y desposeídos—pero tampoco llegamos a la conclusión de que los principios fundamentales del socialismo ya no se aplican. Capitalistas y trabajadores tienen intereses materiales contrapuestos en Venezuela, lo mismo que en el resto del mundo. Ninguna alquimia Bolivariana puede transformar un instrumento construido para defender y promover la explotación capitalista—el estado burgués—en una agencia de liberación social.

El CMI afirma que Chávez ha “llevado a cabo una purga parcial del estado” (Marxist.com, 20 de mayo de 2004). Alan Woods incluso ha afirmado que los intentos bonapartistas de Chávez de mediar entre los trabajadores y los patronos significa que “el estado en Venezuela ya no está controlado por la burguesía” (Marxist.com, 4 de mayo de 2004). Al tiempo que concede que Chávez encabeza uno burgués, y aún advirtiendo que el estado representa una amenaza para la “revolución” aún no consolidada, la solución de Woods es proponer “la necesidad de eliminar a todos los conservadores” aún escondidos en el aparato (Marxist.com, 20 de mayo de 2004). En un “informe de testigos oculares desde el corazón de la revolución”, un defensor del CMI describió intensamente la titánica lucha revolucionaria supuestamente en marcha dentro de la maquinaria capitalista estatal de Venezuela:

“A pesar de que las estructuras del Estado venezolano siguen siendo capitalistas, esto no significa que dentro de él no haya una feroz lucha que tiene lugar entre los revolucionarios y los sectores que piensan que la revolución ha ido demasiado lejos. Hay una enorme división entre los reformistas y los revolucionarios en el palacio de Miraflores, los ministerios y en todo tipo de oficinas públicas. En algunos ministerios, la izquierda es fuerte, como por ejemplo en el Ministerio del Trabajo. Cristina Iglesias está en realidad trabajando codo con codo con la UNT, a fin de hacer frente a las prácticas anti- trabajadores de los jefes, tratando de impulsar la participación de los trabajadores en los sindicatos y tratando de aprovechar más las medidas de co-administración”.

—Marxist.com, 7 de septiembre de 2005

Aquí, en toda su desnudez, está la debilitante receta reformista de Eduard Bernstein de que los trabajadores pueden tomar en forma pacífica del estado capitalista y transformarlo gradualmente de un aparato de opresión en un instrumento de liberación.

Según el CMI, “Chávez, en general, ha hecho un cambio hacia la izquierda, que los marxistas revolucionarios debemos apoyar e impulsar” (Marxist.com, 19 de mayo de 2004). Los que critican a Chávez, o sus jactancias en el CMI, son despedidos como “sectarios”, que no alcanzan a comprender “la relación dialéctica entre Chávez y las masas”:

“Nuestra actitud hacia Chávez en todo momento ha sido una de apoyo crítico. Es decir, apoyaremos a Chávez en la medida en que golpee al imperialismo y la oligarquía, pero vamos a criticarlo cuando vacile o haga concesiones al imperialismo y la oligarquía”.

—Alan Woods, Marxist.com, 23 de julio de 2004

Esta es precisamente la fórmula empleada por Stalin, Kamenev y el resto de los bolcheviques de derecha tocante al Gobierno Provisional de la Rusia burguesa tras el derrocamiento del zar en febrero de 1917. En su histórica “Tesis de Abril,” Lenin rechazó enfáticamente este enfoque e insistió en una política de oposición dura a cualquiergobierno capitalista, por “progresista” que sea. Esta posición, que era la base política de la victoriosa revolución obrera en octubre de 1917, se consideró como una locura sectaria por los representantes de todos los matices de oportunismo dentro del movimiento socialista ruso, todos ellos tenían una estrategia, como la del CMI de hoy, que no era más que presionar al gobierno capitalista “izquierdista” y esperar a que se desarrollara la “dinámica revolucionaria”.

El CMI ve a Chávez como un iniciador del cambio revolucionario cuyas audaces acciones han provocado la movilización de la clase obrera. Según Woods, tan pronto como “la clase obrera entra en el ámbito de la lucha, adquiere una dinámica y un movimiento propio” (Marxist.com, 21 de enero de 2005). Al fijar sus esperanzas en Chávez como el gestor de un proceso histórico inevitable, el CMI renuncia a la responsabilidad de combatir las ilusiones pequeño burguesas divulgadas por los chavistas dentro de la clase trabajadora:

“Chávez y sus seguidores se apoyan en las masas para propinar golpes a la oligarquía y el imperialismo. Originalmente no tenían una perspectiva socialista, sino sólo la idea de eliminar la corrupción y de modernizar a Venezuela. Querían una sociedad más limpia, más justa e igualitaria, pero pensaron que esto era posible lograrlo sin romper las barreras del capitalismo. Pero inmediatamente esto los llevó a conflictos con la burguesía y el imperialismo. Las masas tomaron las calles y le imprimieron una dinámica diferente al proceso. El movimiento de masas estimuló a Chávez y este a su vez alentó a este movimiento hacia una dirección revolucionaria.”

—Alan Woods, Marxist.com, 20 de Mayo de 2004

El presidente venezolano ha tomado nota de sus cortesanos del CMI, e incluso invitó a un par de ellos a que aparecieran en “Aló Presidente”, su programa de televisión semanal. El CMI orgullosamente informó de que Woods y otro camarada del CMI “fueron colocados en la primera fila, en un lugar destacado, directamente frente al Presidente” y que “en el transcurso del programa, Hugo Chávez, mencionó a Alan al menos tres veces” (Marxist.com, 19 de abril de 2004).

Por supuesto que es agradable tener tiempo de emisión, pero V.I. Lenin tuvo una pobre opinión de los seudo-sofisticados en la Segunda Internacional, que pasaron su tiempo bebiendo junto a los ministros del gabinete y otros burgueses importantes mientras que enseñaban a los trabajadores a esperar pacientemente el inexorable funcionamiento de un cuasi automático proceso histórico de entrega del socialismo. La seguridad que Woods trasmite a sus seguidores de que, “tarde o temprano las masas estarán conscientes del significado real de sus actos” (Marxist.com, 21 de enero de 2005) no vale mucho. ¿Qué propósito tiene una organización socialista, si no es la de hacer que las masas tengan conciencia política? La tarea de los revolucionarios es la de ayudar a los trabajadores a comprender la realidad social y de actuar en su propio interés—como una “clase para sí”—en lugar de seguir siendo una “clase en sí” confundida por la ideología burguesa.

¿Revolución o Contrarrevolución?

Los pobres y los trabajadores de Venezuela han manifestado en reiteradas ocasiones su disposición a hacer lo que sea necesario para salir de la pobreza y la desesperación en las que el capitalismo los ha confinado. La tarea de los marxistas es la de ganar a los elementos más avanzados políticamente para que entiendan la necesidad de expropiar a los capitalistas como clase, y comenzar la reconstrucción de la sociedad sobre una base socialista. Un primer paso necesario en este camino es el rechazo de cualquier noción de reconciliación o de compromiso estratégico con los explotadores.

Las cosas no van a quedarse como están en Venezuela. No habrá una lenta y continuada deriva hacia el socialismo. El coloso imperialista se ha quemado los dedos en Irak y está predispuesto a emprender nuevas aventuras militares a gran escala en América Latina. Sus sustitutos colombianos parecen, por el momento, tener sus manos llenas. Y la derecha venezolana, después de haber perdido tres rondas consecutivas con los Bolivarianos, se está reagrupando y lamiéndose sus heridas. Pero la burguesía mantiene el control de todas las palancas esenciales de la economía, así como de los medios de comunicación, y es sólo una cuestión de tiempo antes de que una vez más vaya a la ofensiva.

Para contrarrestar la amenaza de un golpe de estado de derecha tipo Pinochet o Franco, los trabajadores venezolanos tienen necesidad de organizarse a través de una red de representantes electos en todas las fábricas, refinerías, minas y otros lugares de trabajo. Un sistema de coordinación nacional de los consejos de los trabajadores constituiría un mecanismo para ejercer el control sobre la producción y distribución de las necesidades indispensables para la vida, para la movilización de las capas más oprimidas de la sociedad, y para contrarrestar eficazmente cualquier intento por parte de los capitalistas y sus matones de reafirmar sus prerrogativas a través de una represión brutal.

Lo que se necesita hoy en Venezuela es un liderazgo político dentro del movimiento obrero que esté comprometido con la lucha por el poder—un partido leninista de vanguardia arraigado en el proletariado, capaz de polarizar el movimiento bolivariano en sus componentes de clase y, por tanto, preparar a la clase trabajadora para el inevitable enfrentamiento con la burguesía. Algunos izquierdistas esperan que el gobierno de Chávez siga el camino del movimiento 26 de Julio de Fidel Castro, que se inició con una formación liberal radical, pero, que después de dirigir una lucha que acabó con el estado capitalista existente, terminó expropiando a la burguesía y creando una economía de mando centralizado. La creación de un estado de trabajadores distorsionado a 90 millas de la costa de Florida, fue producto de la implacable e inflexible hostilidad de los capitalistas de Cuba y de su patrón imperial, pero sólo fue posible debido a la existencia del degradado estado de trabajadores soviéticos como contrapeso global al imperialismo.

La situación en Caracas en el 2006 es totalmente diferente a la de La Habana en 1960—la Unión Soviética ya no existe, y el estado venezolano sigue intacto. Chávez ha purgado algunos de los elementos que son particularmente hostiles a su régimen, pero él no ha tocado, y no lo hará, el núcleo esencial del estado burgués. El experimento “Bolivariano” sólo puede ser un interludio temporal. Hay sólo dos caminos, en la Venezuela de hoy—o la clase trabajadora sigue adelante y expropia a la burguesía (liquidándola así como clase) o los capitalistas aplastarán al proletariado. No hay ninguna opción de centro, ni “tercera vía”. No habrá alivio para el dolor y el sufrimiento de las masas de América Latina, siempre que los medios de producción sigan en manos de una pequeña minoría, como señaló Leon Trotsky, el gran revolucionario ruso, hace más de 70 años:

“Sud y Centroamérica sólo podrán liquidar el atraso y la esclavitud uniendo sus estados en una única y poderosa federación. Pero no será la atrasada burguesía sudamericana, agencia totalmente venal del imperialismo extranjero, quien cumplirá esta tarea, sino el joven proletariado sudamericano, llamado a dirigir a las masas oprimidas. Por lo tanto, la consigna que debe guiar la lucha contra la violencia y las intrigas del imperialismo mundial y contra la sangrienta dominación de las camarillas compradoras nativas es Por los estados unidos soviéticos de Sud y Centroamérica.

—“La Guerra y la Cuarta Internacional”, 10 de Junio de 1934

Eleições 2014

Os comunistas e as eleições de 2014

Pedro Abreu, setembro de 2014

Estamos nas vésperas das eleições burguesas no Brasil. A televisão, o rádio, os jornais, a internet e as ruas são tomadas por propaganda de diversos candidatos, todos prometendo ser a salvação do povo. Como revolucionários não temos ilusões nas possibilidades de reformar a democracia dos ricos ou tornar o capitalismo mais humano. Politicamente, nós do Reagrupamento Revolucionárionos encontramos em oposição ao governo de colaboração de classes encabeçado pelo Partido dos Trabalhadores (PT), mas também vamos além, nos colocando em irredutível oposição ao Estado dos patrões, que é uma ditadura de classe da burguesia contra os trabalhadores e pobres. Defendemos portanto a derrubada desse estado pela classe trabalhadora, organizada em volta de um partido revolucionário. 

Por outro lado, não somos cegos perante as possibilidades de propaganda que o parlamento e as eleições burguesas oferecem aos revolucionários. Candidatos revolucionários são capazes de aumentar em muito a visibilidade do programa que defendem e expor a causa revolucionária às massas trabalhadoras. Se eleitos para cargos no legislativo, são capazes de usar os seus mandatos para apoiar as lutas do proletariado, além de gozar de contínua visibilidade, que pode e deve ser revertido para a construção do partido entre as massas.

Infelizmente o Reagrupamento Revolucionário ainda é pequeno demais para investir em uma campanha eleitoral própria. Portanto, no presente momento, nosso foco é intervir nesse processo através de polêmicas com as demais forças na esquerda, a fim de expor suas contradições e dialogar com a vanguarda a partir de um programa revolucionário. 

PSTU, PSOL e independência de classe 

Um fenômeno que se repete em toda eleição é a colaboração de classes dentro da esquerda. O Grupo Zaffari, quinta maior cadeia de supermercados do Brasil, “doou” R$ 30 mil para a campanha de Roberto Robaina a governador do Rio Grande do Sul e R$15 mil a campanha à presidência de Luciana Genro, ambos da corrente MES do PSOL(que corriqueiramente recebe doações eleitorais do tipo). Essa verba, apesar de pequena se comparada às grandes candidaturas, é apenas uma expressão da disposição do PSOL de governar em colaboração com os patrões, o que desmente o discurso de sua candidata a presidente. Além disso, em diversos outros estados, correntes do PSOL – principalmente como a Unidade Socialista de Ivan Valente, que dirige o partido nacionalmente – se aliaram a partidos burgueses (DEM, PV, PSDB, PMN), como a candidatura de Heloísa Helena em Alagoas, que tem apoio tucano.

Quem paga a banda escolhe a música, e se corporações doam dinheiro para uma campanha, é porque estão fazendo um investimentoe esperam ter seus interesses defendidos. Como marxistas, acreditamos que não se pode conciliar os interesses dos trabalhadores com os dos patrões e repudiamos qualquer candidatura que não possua independência financeira e organizativa (e, portanto, política) em relação à burguesia. Para nós isso é o mais básico dos critérios e, como a candidatura de Genro e de outras correntes locais do PSOL não são capazes de respeitá-lo, sequer vale a pena (ao menos na presente declaração) entrar nos pormenores dos programas limitados e reformistas que defendem.

Como nós, o PSTUtambém denunciou essa posição sem princípios de Genro e do PSOL:

“As eleições começaram e o PSOL recebeu R$ 50 mil do Grupo Zaffari. Esse valor financia diretamente a campanha à presidência de Luciana Genro (R$ 15.000,00) e a campanha a governador de Roberto Robaina no Rio Grande do Sul (R$ 30.000,00). Tragicamente, essa não é uma história nova. O PT trilhou esse caminho e vimos no que deu. O PT começou aceitando dinheiro da burguesia e com o tempo foi se adaptando e mudando o discurso até mudar de lado.
“O PSTU não aceita recursos de empresas porque queremos manter nosso compromisso com os trabalhadores e a nossa independência em relação aos patrões. Só assim a campanha eleitoral da esquerda socialista poderá cumprir a sua tarefa de contribuir para o avanço da luta da nossa classe para acabar com toda forma de exploração e opressão dos trabalhadores e trabalhadoras.”
PSOL-RS recebe R$ 50 mil do Grupo Zaffari. Disponível em:
http://www.pstu.org.br/node/20882 

Mas os centristas não se preocupam com a coerência. No mesmo texto aonde atacam a colaboração de classes do PSOL, admitem:

“O PSTU e o PSOL fecharam um acordo eleitoral no Rio Grande do Sul formando a Frente de Esquerda nas eleições do estado. Estivemos nas ruas apoiando as mobilizações de junho de 2013 e, mesmo com nossas diferenças programáticas, fechamos um acordo para construir uma alternativa de oposição de esquerda ao governo Tarso Genro (PT) baseada na formação de uma candidatura independente, dos trabalhadores e que representasse, nas eleições, as pautas levadas para as ruas e não resolvidas em junho.”

De fato o PSTU e o PSOL ainda estão coligados no Rio Grande do Sul, mesmo após a fingida surpresa em relação às doações recebidas pela chapa. Assim, ao contrário do que dizem os morenistas do PSTU, essa candidatura não é nem independente e nem dos trabalhadores, portanto é incapaz de representar as pautas das lutas de junho e do proletariado em geral. Dessa forma, o PSTU repete a vergonhosa participação em uma chapa de colaboração de classes, como já havia feito em 2012 em Belém, tudo em prol de uma aliança programática com correntes reformistas e de uma política de oportunismo eleitoreiro [1].

Diferentemente do PSOL, que possui várias correntes distintas (apesar de o grosso delas chamar voto no colaboracionismo de Genro) o PSTU é um partido centralizado, portando não podemos encarar essa “frente de esquerda” que recebe dinheiro de patrão como um caso isolado de um diretório regional do partido ou de uma corrente em específico. Se o PSTU está disposto a participar de uma frente como essa, legitimando e efetivamente auxiliando a colaboração de classes do MES/PSOL, não podemos oferecer qualquer apoio aos candidatos desse partido nessas eleições em nenhum lugar do país. Fazer isso seria legitimar sua traição à independência de classe. 

Apoiaríamos em certas circunstâncias a campanha do PSTU nestas eleições apenas mediante um rompimento seu com as candidaturas do PSOL. Dessa forma, ainda que não de maneira revolucionária, a campanha do PSTU mereceria um voto de protesto dos trabalhadores contra os patrões. Mas nas atuais condições, esse partido sequer defende a independência de classe de forma coerente. Nós do RR, portanto, não apoiaremos nem essa candidatura e nem a candidatura de Luciana Genro ou qualquer outra candidatura que tenha participação da burguesia. 

A posição eleitoral incoerente da LER 

ALER (Liga Estratégia Revolucionária), apesar de fazer críticas muito semelhantes às nossas ao oportunismo do PSTU, não leva tais críticas às últimas consequências, e declarou voto nas candidaturas desse partido onde não estiver coligado com o PSOL (ou com o PCB) [2]. Rejeitamos o argumento “técnico” levantado pela LER, de que deve-se votar no PSTU nas partes do país em que ele não está coligado com o PSOL sob a premissa de que o único motivo para não se votar no PSTU no Rio Grande do Sul ou em São Paulo é o risco de que os votos possam ir para candidatos do PSOL (devido à legislação eleitoral brasileira sobre as coalizões partidárias) e que, onde não é o caso, apoia-se uma candidatura dos trabalhadores. Nessas eleições, o PSTU não representa uma candidatura independente dos trabalhadores, uma vez que suas alianças em SP, RS e outros estados partem da direção nacional que centraliza o partido como um todo.

Adicionando mais incoerência à sua posição, a LER alega que não é possível um voto crítico em outras candidaturas da esquerda como a do PCO, por conta de suas constantes capitulações ao governismo, nem no PCB, por ter participado de uma chapa de colaboração de classes no Macapá em 2012 e por apoiar Assad na Síria. Deve-se perguntar o que torna o PSTU melhor que tais partidos, uma vez que em 2012 também participou de uma chapa colaboracionista em Belém e está repetindo a dose atualmente. Além disso, ao longo de toda a “Primavera Árabe”, o PSTU tem apoiado grupos pró-imperialistas, tendo chegado ao absurdo de defender uma “unidade de ação” com os bombardeios da OTAN na Líbia e de apoiar os rebeldes que configuraram então as tropas terrestres do imperialismo no país. Os critérios da LER claramente não se sustentam e sua posição parece muito mais guiada pelo hábito de se aproximar de grupos centristas maiores [3]. A tática de voto crítico foi usada pela Quarta Internacional e pela Internacional Comunista como uma forma de se aproximar da base de um partido reformista ou centrista apontando a armadilha de seu programa de colaboração de classes e (caso este tivesse chances de ser eleito) denunciando a traição que cometeriam uma vez no poder. Mas um critério fundamental para um “voto crítico” era que os grupos os quais se estava apoiando não estivessem em aliança com a burguesia e que suas campanhas tivessem um caráter de classe proletário, mesmo que distorcido por suas políticas oportunistas. Se a LER fosse coerente com esses critérios, não apoiaria a candidatura do PSTU nas atuais eleições. 

As campanhas do PCB e do PCO 

Consideramos que um voto nas candidaturas de Mauro Iasi (PCB)ou deRui Pimenta (PCO)à presidência não vai contra os princípios da independência de classe, diferente das candidaturas do PSTU e do PSOL.Apesar de seus oportunismos na arena da luta de classes, esses dois partidos têm feito campanhas que se pautam por um discurso classista e pela denúncia do capitalismo, expressando assim, mesmo que distorcidamente, os interesses da sua base social sem estarem envolvidos com frentes que recebem dinheiro de empresas ou que apoiam candidatos burgueses(segundo checamos, as alianças regionais do PCB com o PSOL são com correntes que não estão envolvidas nas chapas colaboracionistas do MES e da US). Apesar de não ser contra os princípios, nós não estamos empenhados numa campanha de voto crítico por essas candidaturas porque sua falta de peso e consequente viabilidade faz com que sejam muito mais ferramentas de propaganda e recrutamento para seus grupos específicos do que um potencial voto de classe mais amplo.Por esse motivo, também não consideramos um erro votar nulo nestas eleições.

Apesar de reconhecermos o caráter classista independente dessas candidaturas e concordarmos com alguns elementos de seus programas, não estamos em nenhum momento dando um voto de confiança nessas organizações. De fato ambos os partidos já cometeram inúmeros oportunismos no passado. Sua momentânea independência de classe não é fruto de coerência revolucionária e sim proveniente do fato que ambos são partidos sem expressão e pequena inserção orgânica na classe trabalhadora, situação essa que torna mais difícil a formação de alianças, sejam essas com outras organizações operárias ou com partidos burgueses.

O PCB tem dado um giro à esquerda nesses últimos anos, tendo abandonando parte da herança podre do estalinismo e atraído militantes muito diferentes entre si, incluindo até mesmos defensores do trotskismo. Mas está longe de possuir um programa correto. Esse partido mantém o costume da colaboração de classes, praticada através do apoio a vários governos burgueses ditos “progressistas”na América Latina, como o governo venezuelano de Nicolas Maduro e o governo Evo Morales.Sua campanha também vacilaentre uma chamada pelo socialismo e outrapelo conceito abstrato e sem de caráter de classe de “poder popular”, que segundo mostra seu apoio ao governo venezuelano, poderia significar um governo burguês com um discurso “radical”. Outroexemplo gritante dos ziguezagues oportunistas do PCB foi o seu voto em Dilma no segundo turno de 2010. [4]. 

O PCO por sua vez, conforme já denunciamos [5], é uma organização caricata que passou os últimos meses anunciando a vinda de um suposto golpe de Estado por parte da direita reacionária e minimizando a responsabilidade do PT nos seus ataques aos trabalhadores. Nessa linha de pensamento, chegaram a afirmar que o PT não governa de fato o país e acusar a direita, em aliança com o PSOL e o PSTU, de ter sido a grande responsável pela derrota da seleção brasileira na Copa do Mundo futebol de 2014! Como era de se esperar sua campanha tenta atacar o capitalismo sem atacar o PT, partido que administra o capitalismo no Brasil faz 12 anos. 

Segundo turno e a conversa do “mal menor” 

Realisticamente falando, nenhuma candidatura na esquerda tem chances reais de ganhar as eleições ou mesmo ir para um segundo turno. Os únicos três candidatos com chances de vencer são:

  1. Dilma Rousseff do Partido dos Trabalhadores – PT, atual presidente, representante da frente de colaboração de classes que hoje governa o país em prol do grande capital e do imperialismo. É responsável por inúmeros atentados contra a classe trabalhadora, como a repressão violenta às greves operárias que sacudiram o país nos últimos anos (COMPERJ, Pecém, Jirau, etc.), às manifestações de Junho de 2013 e à greve de 2012 das Universidades Federais. Entregou o Pré-Sal às potências imperialistas e todo seu governo é marcado pela condução de políticas no interesse dos grandes capitalistas, dando continuidade aos ataques da gestão Lula, que implementou a contrarreforma da previdência e a contrarreforma universitária, além de ter facilitado a precarização do trabalho através leis que incentivam a terceirização e manter o “tripé neoliberal” da era FHC (câmbio flutuante, superavit primário alto e regime de metas de inflação).
  2. Aécio Neves do Partido da Social-Democracia Brasileira – PSDB, representando uma ala direita da burguesia brasileira, prega um neoliberalismo ao estilo do governo FHC, sem as migalhas do “social liberalismo” petista. Ganhou notoriedade após a apreensão de um helicóptero lotado de cocaína, ligado a um de seus principais aliados em Minas e por construir um aeroporto para valorizar as terras pertencentes a sua família nesse estado.
  3. Marina Silva do Partido Socialista Brasileiro – PSB, ao qual se filiou porque não conseguiu fundar seu partido “Rede Sustentabilidade” e foi alçada à atual posição com a morte do ex-candidato Eduardo Campos. Está angariando o voto de muitos trabalhadores frustrados com o governo do PT com seu discurso de “nova política”, mas além de ser uma figura ligada à bancada evangélica e contra os direitos dos LGBT e das mulheres, tem toda a sua campanha financiada e coordenada por grandes bancos e empresas. Em total contraste com seu discurso, as empresas que a financiam e muitos de seus secretários de campanha defendem o agronegócio violento e nada sustentável.

Diante desse quadro, muitos na esquerda defenderão que os trabalhadores votem em Dilma, temendo a famigerada “volta da direita”. Deve-se lembrar a esses companheiros que o governo Dilma foi o que mais matou índios desde a ditadura, que fez menos reforma agrária até que o governo de FHC, que editou o “AI5 da Copa”, armou as guardas municipais para que sejam mais eficazes na sua função de reprimir o proletariado, sobretudo os trabalhadores negros informais e que fez tantos outros ataques aos trabalhadores. [7]Uma grande parte da direita está inserida neste governo, de forma que é até cômico falar da “volta da direita”, quando o PT está no poder com Sarney, Collor, Maluf etc.

O governo do PT não ficou atrás da direita: sua contrarreforma da previdência e o leilão do Pré-Sal são apenas exemplos de 12 anos de um governo que tira do trabalhador para dar ao patrão. Até as ditas “conquistas” da classe trabalhadora durante o governo petista, como o Bolsa Família, nada mais são que parte do seu projeto neoliberal, que necessita que o proletariado tenha uma renda mínima para consumir e continuar perpetuamente endividado.

Essencialmente, os fatores que supostamente tornam o PT um “mal menor” não devem ser entendidos sequer como um compromisso em “humanizar” o capitalismo através da fórmula fracassada de “Governo Popular e Democrático” (ocupar o Executivo e pressionar o Legislativo a partir da mobilização dos movimentos sociais). A gestão petista realizou algumas reformas (muito parciais e limitadas), mas que são apenas uma forma mais eficaz de gerir o capitalismo, evitando gerar caos social e resistência combativa em grande escala – ao que se combina ainda o seu controle burocrático sobre os sindicatos e demais organismos de luta.

O que alguns enxergam como um “reformismo” do PT é, na verdade, um programa de ataques em longo prazo, que visa destruir os serviços públicos e atacar as condições de vida da classe trabalhadora a partir de uma política de “contenção” da luta de classes, fazendo algumas concessões em curto prazo. Basta ver o caso da contrarreforma universitária: no curto prazo, o governo abriu as portas do ensino superior a uma parcela dos estudantes pobres, via expansão das vagas nas universidades públicas, bolsas nas privadas e cotas raciais (todas essas completamente aquém da demanda e sem que esses estudantes tenham os recursos para uma educação de qualidade). Mas em longo prazo, o mesmo governo destrói a educação pública, favorecendo os grandes monopólios que mercantilizam o ensino através da transferência de gigantescos recursos públicos – sendo ambos processos partes integrantes de um mesmo projeto liberal, mais “sofisticado” e “cauteloso” que aquele dos tucanos – e justamente por isso, capaz de melhor atender aos interesses de classe da burguesia e do imperialismo.

Essas eleições estão vendo o desgaste total da política do PT, cujas “melhorias” extremamente limitadas começam a encontrar uma crescente insatisfação popular, que está tendo como um de seus efeitos colaterais lançar muitos trabalhadores nos braços da direita “renovada” de Marina Silva, que nesse momento aparece empatada com Dilma nas pesquisas de intenção de voto no segundo turno. A saída para essa situação está não no “voto útil” em Dilma, mas no aprofundamento das greves e mobilizações populares que não pararam de ocorrer no país desde o ano passado e que precisam ser orientadas por uma política combativa sem ilusões no governo e sem conciliação. Apenas assim será possível quebrar as ilusões em supostas vias alternativas que servem apenas ao interesses burgueses, ao mesmo tempo em que se combate os brutais ataques da gestão petista. O destino dos trabalhadores não será resolvido nas urnas, mas nas greves e nas ruas.Para o marxismo, o Estado burguês nada mais é que um gestor dos negócios dos patrões. Somente a luta dos trabalhadores produz vitórias reais e não a boa vontade da burguesia ou de seus governos! Dessa corja que polui nossas televisões a cada eleição o proletariado só pode esperar falsas promessas.

Como revolucionários, não buscaremos um “mal menor” no segundo turno nas eleições. Os três principais candidatos são representantes da burguesia e, portanto, não merecem nem um único grama de apoio. A única coisa que chamamos os trabalhadores a darem para essa corja é a promessa de que o seu governo será combatido pelo proletariado. Não legitimamos a ilusão da democracia burguesa falando para os trabalhadores votarem no carrasco menos cruel e por isso pregamos o voto nulonum possível segundo turno, acompanhado de muita mobilização e luta contra os patrões e seus diferentes candidatos a gestores dos futuros ataques a nossa classe. 

NOTAS

[1] Ver nossa crítica em A frente de Belém na lógica do morenismo, disponível em:
http://rr4i.milharal.org/2012/08/25/a-frente-de-belem-psol-pstu-pcdob-na-logica-do-morenismo/ 

[2]Ver Nenhum voto na conciliação entre trabalhadores e patrões, disponível em:
http://www.ler-qi.org/Nenhum-voto-na-conciliacao-entre-trabalhadores-e-patroes 
[3]Ver Fração Trotskista (LER-QI) e sua ruptura incompleta com o morenismo, disponível em:
http://rr4i.milharal.org/2013/05/28/ft-ler-qi-e-sua-ruptura-incompleta-com-o-morenismo/ 
[5] Ver nossa polêmica em Da histeria golpista à Copa do Mundo, disponível em:
http://rr4i.milharal.org/2014/07/17/as-capitulacoes-do-pco-ao-governismo/. 
[6]Todos esses dados podem ser confirmados nos seguintes materiais. 
Assassinatos de indígenas no Brasil crescem 269% nos governos Dilma e Lula, disponível em:
http://www.portaldomeioambiente.org.br/denuncia/7272-assassinatos-de-indigenas-no-brasil-crescem-269-nos-governos-dilma-e-lula
Omissão do governo é a maior causa da violência contra os indígenas no Brasil, disponível em:

http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&action=read&id=7627 
Número de índios assassinados aumenta 168% nos governos Lula e Dilma, aponta jornal, disponível em:
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/06/08/numero-de-indios-assassinados-aumenta-168-nos-governos-lula-e-dilma-aponta-jornal.htm 
Com Dilma, reforma agrária cai em 2011 e tem a pior marca desde Fernando Henrique, disponível em:
http://oglobo.globo.com/brasil/com-dilma-reforma-agraria-cai-em-2011-tem-pior-marca-desde-fernando-henrique-7206885 
CUIDADO! PERIGO! O que são o AI-5 da Copa e o Plano de “Garantia da Lei de Ordem”,disponível em:
http://capitalismoemdesencanto.wordpress.com/2014/01/30/cuidado-perigo-o-que-sao-o-ai-5-da-copa-e-o-plano-de-garantia-da-lei-de-ordem/ 
Sancionada lei que permite porte de arma de fogo por guardas municipais, disponível em:
http://www.conjur.com.br/2014-ago-12/lei-permite-porte-arma-fogo-guarda-municipal

23 anos do Golpe de Agosto

Hoje, dia 20 de agosto de 2014, é o aniversário de 23 anos da tentativa de golpe perpetuada por parte da burocracia soviética, encabeçada pelo grupo que viria a ser chamado posteriormente de “Gangue dos Oito”, contra o então premier Mikhail Gorbachev. Nós do Reagrupamento Revolucionário (RR) nos mantemos fiéis a posição que herdamos da, então revolucionária, Tendência Bolchevique Internacional (TBI), de apoio militar a esse movimento da burocracia. Enquanto bolcheviques-leninistas defensores das teorias formuladas por Leon Trotsky, defendemos tal posição não por que temos qualquer ilusão nos parasitas estalinistas que orquestraram o fracassado golpe, mas por uma questão de defesa da URSS e das suas formas de propriedade coletivas, que naquele momento estavam sob ataque mortal das forças que desejavam restaurar o capitalismo e a ditadura da burguesia. Além disso, nós somos, enquanto trotskistas, pela derrubada da burocracia estalinista, mas o papel de derrubar essa corja é da classe operária e não da restauração capitalista. Tendo em vista a data, publicamos as seguintes traduções de textos da TBI que tratam sobre a agonia e a morte da URSS: Revolução Mundial Sim, “Socialismo de Mercado” Não – Perestroika: Uma Caixa de Pandora (quarto trimestre de 1989) e Carta para o Grupo Internacionalista – Os stalinistas e a contrarrevolução (9 de setembro de 2004). Também chamamos a atenção para a seguinte polêmica escrita pelo camarada Samuel Trachtenberg, militante do RR, direcionada à Liga pelo Partido Revolucionário (LRP), sobre os eventos decisivos da destruição do Estado operário degenerado soviético: Uma Explicação Marxista sobre o Fim da URSS – As “Revisões de Teoria Básica” da Liga pelo Partido Revolucionário (LRP) (07 de julho de 2011)

Israel’s War on Gaza

We call our readers’ attention to the recently published statement on Israel’s war on Gaza and the Palestinian question, available at our English page. It can be read at:
 


Chamamos a atenção de nossos leitores para a declaração recém-publicada acerca da guerra de Israel contra Gaza e da questão palestina, disponível na nossa página em inglês. Ela pode ser lida em: http://rr4i.milharal.org/2014/08/11/defender-os-palestinos-nenhuma-confianca-no-hamas-e-no-fatah/

Defender os palestinos! Nenhuma confiança no Hamas e no Fatah!

Ataque de Israel contra Gaza:
Defender os palestinos! Nenhuma confiança no Hamas e no Fatah!

Agosto de 2014
Algumas pequenas modificações foram realizadas em 13/08/14

Nas últimas semanas, uma série de novos ataques de Israel contra a Faixa de Gaza já levou ao assassinato, por bombardeios e até mesmo através de uma investida terrestre, de cerca de dois milhares de palestinos, sendo na maior parte civis e incluindo um número alto de crianças. Também tem se verificado uma brutal repressão aos protestos de solidariedade que vem ocorrendo na Cisjordânia. Os trabalhadores conscientes de todo o mundo tem o interesse em frear mais essa manifestação da barbárie capitalista. Apoiado pelo governo Obama e sob a vista grossa da Organização das Nações Unidas, o assassino Estado de Israel, dirigido por Benjamin Netanyahu, segue realizando uma carnificina cruel contra uma população indefesa.

As duas principais forças políticas atualmente existentes entre a população palestina são os partidos Fatah e Hamas. Apesar das diferenças históricas entre os métodos por eles defendidos, ambos representam a mesma classe social: a burguesia palestina. Isso significa que, além de não apresentarem uma estratégia que atenda aos interesses históricos das massas palestinas (sua emancipação do capitalismo e de todas as formas de opressão que ele engendra), esses partidos são ainda capazes de rifar a luta pelos direitos nacionais do povo palestino em troca de seus interesses de classe.

Limpeza étnica: bombadeios sobre Gaza tem
assassinado principalmente civis e crianças. (ummid.com)
Isso fica claro se analisado o histórico da Organização para Liberação da Palestina (OLP). Fundada em 1964 defendendo uma tática guerrilheira como forma de retomar as fronteiras anteriores a 1948, já na década de 1970 sob a liderança de Yasser Arafat e do Fatah, havia recuado em seus propósitos iniciais e aceitado a proposta de criação de um “mini Estado” que compreendesse a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, ficando assim cercado por territórios dominados por Israel e totalmente à mercê do racista projeto sionista. Já o Hamas, enquanto está atualmente forçado a uma posição mais militante de desafio à beligerância de Israel, também não defende os interesses das massas palestinas. Não se deve esquecer o seu fundamentalismo islâmico, que inclui ataques aos direitos democráticos seculares dos palestinos, ataques às mulheres e aos LGBT.

Além de serem incapazes de lançar um chamado aos trabalhadores judeus para que abandonem o sionismo e se mobilizem pela defesa das massas palestinas, cuja força combinada é capaz de por fim ao atual massacre, ambos os grupos apoiam a manutenção do capitalismo em qualquer Estado do qual estejam à frente. Dessa forma, não pode haver nenhuma confiança nesses partidos enquanto portadores de um projeto de emancipação do povo palestino.

A libertação palestina deve se dar em torno de um programa anticapitalista, em oposição ao fundamentalismo religioso e a toda e qualquer forma de opressão. Todavia, quando tais partidos resistirem às assassinas investidas militares sionistas contra os palestinos, nós somos pela sua defesa militar contra Israel. Mas deve ficar claro que isso não implica nenhum tipo de apoio político a esses partidos – diferente, portanto, de muitos grupos de esquerda que capitulam politicamente ao Hamas ou ao nacionalismo árabe.

Além das tarefas imediatas colocadas pelos revolucionários na região palestina, é fundamental também que no resto do mundo se organizem grandes campanhas de solidariedade internacionalista, fundamentadas nos históricos métodos de luta do proletariado. Em uma economia cada vez mais globalizada, greves e as ações de massa dos trabalhadores em outros países podem desferir importantes golpes na burguesia israelense e seus aliados imperialistas, fortalecendo assim a resistência dos palestinos.

É fundamental também mobilizar o proletariado israelense!

Um erro comum da esquerda, além da capitulação a grupos como o Hamas, é ignorar (ou mesmo negar) a importância de se mobilizar também o proletariado de fala hebraica na luta contra o projeto sionista e por uma revolução socialista na região. A recorrente alegação de que toda a população hebraica de Israel é um “enclave militar imperialista” (ou mesmo de que é uma “força de ocupação”) ignora a complexa situação de interpenetração de dois povos em um mesmo território e o fato de Israel ser uma sociedade dividida em classes, cujo Estado não representa os interesses objetivos do proletariado de fala hebraica.

A população israelense não pode ser considerada simplesmente como colonos nesse momento da história. Quer queira quer não, se desenvolveu na região uma nacionalidade de fala hebraica. Os trabalhadores judeus, dos quais as massas palestinas necessitarão em última instância do apoio para conquistar a vitória, podem ser convencidos a se aliar aos seus irmãos e irmãs palestinos contra o Estado sionista porque possuem com estes interesses de classe comuns. Negar os seus direitos nacionais apenas os lança nas mãos dos sionistas.

Nessas últimas semanas de massacre contra os palestinos, milhares de jovens israelenses tem protagonizado uma corajosa campanha de boicote ao alistamento militar obrigatório, em um claro desafio à política sionista  ao mesmo tempo em que diferentes setores da população israelense tem tomado as ruas de grandes cidades, como Tel Aviv, em massivos protestos contra a limpeza étnica que está acontecendo em Gaza. Isso demonstra o potencial do proletariado israelense para derrotar o projeto sionista desde o interior de Israel, defendendo os direitos nacionais do povo palestino.

Por um partido revolucionário binacional que lute por uma Federação Socialista no Oriente Médio!

Muitos na esquerda defendem uma “Palestina laica, democrática e soberana”, sem menção ao caráter de classe, que significa a subordinação da luta dos trabalhadores à construção de um Estado burguês no território. Ao contrário, desde uma perspectiva classista e internacionalista, declaramos que somos pela formação de um partido revolucionário binacional, composto por trabalhadores árabes palestinos e israelenses judeus (além de outras minorias étnicas e religiosas oprimidas pelos sionistas, como os drusos e etíopes), que exproprie a burguesia da região, tornando possível uma convivência fraterna entre os dois povos sem que um oprima o outro.

Esse partido revolucionário teria a tarefa fundamental de defender o povo palestino e combater as ilusões geradas pelo nacionalismo árabe. Ao mesmo tempo, deve travar uma luta desde o interior de Israel, unificando trabalhadores judeus e árabes contra o chauvinismo racista do projeto sionista, que sistematicamente nega os direitos básicos dos palestinos. Para nós, essas lutas encontram sua conclusão lógica e necessária na expropriação da burguesia da região, através da destruição de Israel e da derrota política dos projetos nacionalistas árabes, e na construção de um Estado operário.

No presente momento, conforme a resolução desse conflito nacional através de uma revolução socialista não está colocada de imediato na consciência do proletariado da região, e conforme os trabalhadores palestinos, por si sós, não são capazes de destruir o Estado de Israel, romper suas ilusões no nacionalismo burguês e ganhar o apoio dos trabalhadores judeus para uma perspectiva internacionalista não é uma opção, mas uma necessidade fundamental. Uma medida central para permitir essa união, quebrando as desconfianças e medos sistematicamente incutidos nesses proletários ao longo de tantos anos (com vistas a mantê-los divididos) é o reconhecimento do direito de ambos à autodeterminação, dentro de fronteiras democraticamente redesenhadas, se assim for desejado. Ao mesmo tempo em que um partido revolucionário na região defenderia tal medida, ele deve reivindicar prioritariamente a construção de um único Estado operário binacional, nos marcos do qual os dois povos possam avançar na construção de uma sociedade socialista livre de desigualdades nacionais e de classe.

Leia também:
A Posição Trotskista na Palestina
Contra a Corrente
Liga Comunista Revolucionária da Palestina, maio de 1948

Liga pelo Partido Revolucionário (LRP) sobre a revolução na Palestina e em Israel

Agosto de 2009

DEFENDER A LOS PALESTINOS! NINGUNA CONFIANZA EN HAMAS O FATAH!

Defender a los palestinos! Ninguna confianza en Hamas o Fatah!

Ataque israelí a Gaza

Agosto de 2014

En las últimas semanas, una serie de nuevos ataques por parte de Israel contra la Franja de Gaza ha llevado a la muerte, por los bombardeos e incluso por un asalto terrestre, de cerca de dos mil palestinos, en su mayoría civiles e incluyendo un gran número de niños. También se ha observado una brutal represión de las protestas de solidaridad que ha estado ocurriendo en Cisjordania. Obreros con conciencia de todo el mundo tienen el mayor interés en la reducción de esta manifestación de la barbarie capitalista. Con el respaldo de la administración de Obama y bajo los oídos sordos de las Naciones Unidas, el Estado asesino de Israel, encabezado por Benjamín Netanyahu, continúa realizando un cruel ataque contra una población indefensa. Las dos principales fuerzas políticas existentes en la actualidad entre los palestinos son los partidos Fatah y Hamas. A pesar de las diferencias históricas entre los métodos defendidos por ellos, ambos representan la misma clase social: la burguesía palestina. Esto significa que, además de no contar con una estrategia que responde a los intereses históricos de las masas palestinas (su emancipación del capitalismo y de todas las formas de opresión que engendra), estos partidos son todavía capaces de rifar la lucha por los derechos nacionales del pueblo palestino a cambio de sus intereses de clase.

Esto es claro cuando se analiza la historia de la Organización para la Liberación de Palestina (OLP). Fundada en 1964 abogando por una táctica de guerrillas como una forma de reanudar fronteras anteriores a 1948, ya en la década de 1970 bajo el liderazgo de Yasser Arafat y Fatah, se había retirado a su propósito original y aceptó la propuesta de crear un “mini Estado” que comprendía la Franja de Gaza y Cisjordania, con ello rodeado de zonas dominadas por Israel y totalmente a merced del proyecto sionista racista. Ya el Hamas, que actualmente está forzado a una posición más militante para desafiar la beligerancia israelí, también no defiende los intereses de las masas palestinas. No hay que olvidar su fundamentalismo islámico, que ha incluidos los ataques contra los derechos democráticos seculares de los palestinos, los ataques contra las mujeres y LGBT.

Además de que no son capaces de lanzar un llamado a los trabajadores judíos a que abandonen al sionismo y luchen en defensa de las masas palestinas, cuya fuerza combinada es capaz de poner fin a la masacre actual, ambos grupos apoyan el mantenimiento del capitalismo en cualquiera de los Estados que están por delante. Por lo tanto, no puede haber confianza en estos partidos como titulares de un proyecto de emancipación del pueblo palestino.

La liberación de Palestina debe producirse en torno a un programa anticapitalista, en oposición al fundamentalismo religioso y todas las formas de opresión. Sin embargo, cuando estos partidos resistan a los asaltos militares asesinos sionistas contra los palestinos, nosotros estamos a favor de su defensa militar contra Israel. Pero debe quedar claro que esto no implica ningún tipo de apoyo político para estos partidos – a diferencia de muchos grupos de izquierda que capitulan políticamente al Hamas o al nacionalismo árabe.

Más allá de las tareas inmediatas planteadas por los revolucionarios en la región palestina, también es esencial que en el resto del mundo se organicen grandes campañas de solidaridad internacionalista, basado en métodos históricos de lucha del proletariado. En una economía cada vez más globalizada, huelgas y acciones de masas de los trabajadores de otros países pueden ofrecer importantes golpes a la burguesía israelí y sus aliados imperialistas, reforzando de esta manera la resistencia palestina.

También es esencial movilizar al proletariado israelí!

Un error común de la izquierda, más allá de la capitulación a grupos como Hamas, es ignorar (o negar) la importancia de movilizar también al proletariado que habla hebreo en la lucha contra el proyecto sionista y de la revolución socialista en la región. La recurrente alegación de que toda la población judía de Israel es un “enclave militar imperialista” (o mismo que se trata de una “fuerza de ocupación”) ignora la compleja situación de la interpenetración de dos pueblos en el mismo territorio y el hecho de que Israel es una sociedad dividida en clases, cuyo estado no representa los intereses objetivos del proletariado hebreo.

La población israelí no puede ser considerada simplemente como colonos en este momento de la historia. De todo modo, se desarrolló en la región de una nacionalidad de lengua hebrea. Trabajadores judíos, de las cuales las masas palestinas, en última instancia, necesitan el apoyo para el triunfo, pueden ser convencidos de aliarse con sus hermanos y hermanas palestinos contra el Estado sionista tienen con estos intereses de clase comunes. Negar sus derechos nacionales sólo los arroja en manos de los sionistas.

En estas últimas semanas de masacre contra los palestinos, miles de jóvenes israelíes han protagonizado una valiente campaña para boicotear el servicio militar obligatorio, en un claro desafío a la política sionista de exterminio de los palestinos, mientras que los diferentes sectores de la población israelí, han salido a las calles de las principales ciudades, como Tel Aviv, en protestas masivas contra la limpieza étnica que está pasando en Gaza. Esto demuestra el potencial del proletariado judío para derrotar el proyecto sionista desde el interior de Israel, en la defensa de los derechos nacionales del pueblo palestino, especialmente si tiene por delante una vanguardia organizada en un partido revolucionario.

Por un partido revolucionario binacional que lucha por una Federación Socialista del Medio Oriente!

Muchos en la izquierda abogan por una “Palestina laica, democrática y soberana”, sin mencionar el carácter de clase, lo que significa la subordinación de la lucha de los trabajadores a la construcción de un estado burgués en el territorio. Por el contrario, desde una perspectiva clasista e internacionalista, declaramos que somos por la formación de un partido revolucionario binacional, compuesto de los trabajadores árabes palestinos y judíos israelíes (y otras minorías étnicas y religiosas oprimidas por los sionistas, como los drusos y etíopes), que expropie a la burguesía de la región, lo que hace posible una convivencia fraterna entre los dos pueblos en que nadie oprime a otro.

Esto partido revolucionario tendría la tarea fundamental de defender el pueblo palestino y combatir las ilusiones generadas por el nacionalismo árabe. Al mismo tiempo, debe librar una lucha desde el interior de Israel, uniendo a los trabajadores judíos y árabes contra el chovinismo racista del proyecto sionista, que niega sistemáticamente los derechos fundamentales de los palestinos. Para nosotros, estas luchas tienen su conclusión lógica y necesaria en la expropiación de la burguesía en la región, a través de la destrucción de Israel y de la derrota política de los proyectos nacionalistas árabes, y en la construcción de un Estado obrero.

Actualmente, de acuerdo con la resolución de conflictos a través de una revolución socialista nacional que no se coloca inmediatamente en la conciencia del proletariado en la región, y conforme los trabajadores palestinos, por sí solos, no son capaces de destruir el Estado de Israel, romper sus ilusiones en el nacionalismo burgués y ganar el apoyo de los trabajadores judíos a una perspectiva internacionalista no es una opción, sino una necesidad fundamental. Una medida fundamental para permitir esta unión, romper las sospechas y temores sistemáticamente inculcados en estos proletarios durante muchos años (con el fin de mantenerlos divididos) es el reconocimiento del derecho a la libre determinación de los dos, dentro de los límites democráticos redibujados, si así se desea. Al mismo tiempo que un partido revolucionario en la región defendería dicha acción, él debe reivindicar principalmente a la construcción de un único Estado obrero binacional, hitos en el que los dos pueblos puedan avanzar en la construcción de una sociedad socialista libre de desigualdades nacionales y de clase.

DEFEND THE PALESTINIANS! NO CONFIDENCE IN HAMAS AND FATAH!

Defend the Palestinians! No Confidence in Hamas and Fatah!

Israel’s War on Gaza

August 2014

Over the past few weeks Israel’s one-sided war against the Palestinian population of the Gaza Strip has, with a combination of bombings and ground troops, led to the deaths of nearly 2000 Palestinians, many of them children. Solidarity protests in the West Bank have also faced repression. It is in the class interests of the international proletariat to put a stop to this latest round of capitalist barbarism. With the full backing of the Obama administration and an implicit green light from the United Nations, the Israeli state has continued its murderous attack against a helpless population.

Despite some historical differences separating them, both Hamas and Fatah, the two political forces currently wielding mass influence amongst Palestinians, represent bourgeois class interests rather than the genuine interests of the oppressed Palestinian masses. Their class position means that in addition to opposing emancipation from capitalism and all the forms of oppression it engenders, they are simultaneously also able to betray the struggle for Palestinian national rights which they claim to represent.

Founded in 1964 as a group employing guerilla tactics with the aim of re-establishing a Palestinian state based on pre-1948 borders, already by the 1970’s the PLO, under Fatah’s and Yasser Arafat’s leadership, had retreated to accepting a “mini-state” based on the West Bank and Gaza, which, logistically, could only leave the populations there militarily surrounded by and at the total mercy of the racist Zionist state. Due to Israeli belligerence, Hamas is currently forced into taking a more militant posture. But its reactionary Islamic fundamentalist politics, which includes opposition to secular democratic rights as well as the rights of women and LGBT, means it too is opposed to the interests of the Palestinian masses.

Along with being incapable of appealing to the class interests of Israeli Jewish workers to abandon Zionism and come to the defense of their Palestinian brothers and sisters, whose combined strength would be capable of ending this massacre, both groups are also politically dedicated to running a capitalist society under any state they rule. Neither deserves the political support of Palestinians fighting to end their oppression.

Palestinians can therefore only achieve victory with a political program aimed at overthrowing capitalism, rather than under the leadership of forces devoted to bourgeois nationalism or religious fundamentalism. However we are not neutral when these forces are resisting the murderous Zionist attacks against the Palestinian population, we are formilitarily siding with them against the Israeli state. But unlike many leftist groups with deep illusions in Hamas and Arab Nationalism, we do not extend them any political support.

Along with the tasks posed before revolutionaries in the Palestinian region, it is also crucial to win international solidarity. In an increasingly globalized economy, strikes and other class struggle actions by workers in other countries can deliver major blows to the Israeli bourgeoisie and its imperialist supporters, strengthening the Palestinians ability to resist.

It is Necessary to Win Solidarity from Israeli Workers!

A common mistake by many groups on the left (beyond capitulating politically to Hamas), is to either ignore or deny the necessity of organizing the Hebrew speaking Israeli workers in a common struggle for socialist revolution in the region. The claim that the entire Israeli Jewish population is one big “imperialist military enclave” or “occupying force” ignores the complex situation of the interpenetration of two peoples  in the same territory and the fact that Israel is a class divided society, whose bourgeois state does not represent the interests of the Israeli Jewish working class.

Also, at this point in history, it is simply no longer possible to view Israelis as nothing more than colonial settlers. Willy-nilly, they have over time developed in the region as a Hebrew speaking nation. Israeli Jewish workers can be convinced to unite with Palestinians because it is ultimately in their class interests to do so. Denying them their national rights can only throw them back into the hands of the Zionists.

In the recent weeks of the attacks, many thousands of Israelis have resisted the military draft in opposition to the Israeli states murders in Gaza, at the same time as mass protests have occurred in cities such as Tel-Aviv. These are demonstrations of the potential of the Jewish proletariat, under the leadership of a revolutionary vanguard party, to defend the Palestinians national rights and defeat the Zionist state from within.

Build a Bi-national Revolutionary Party! For a Socialist Federation of the Middle East!

Many groups on the left call for a “secular democratic and sovereign Palestine”, without mention of such a state’s class character. In practice this can only lead to subordinating working class political independence towards the goal of the construction of a bourgeois state in the territory. As proletarian internationalists, we are for building a bi-national revolutionary party composed of Palestinian Arabs and Israeli Jewish workers (as well as other ethnic and religious groups living in the area) which expropriates the bourgeoisie in the region, making possible a fraternal co-existence between the two peoples where no one oppresses the other.

As the Palestinians, by themselves, cannot overthrow the Zionist state, being able to win the Israeli Jewish workers to an internationalist perspective is not an option but a necessity. An important measure to allow this union and help overcome the deep fears and suspicions systematically instilled in both groups over all these years would be the recognition of the right to self-determination for both groups within democratically redrawn boundaries, if that should be desired. At the same time that a revolutionary party would defend such a measure if it is necessary to move forward, it itself would advocate and struggle to build a single bi-national workers state, within whose framework the two people can build a socialist society together, free of both class and national inequalities.

As capitulações do PCO ao governismo

Da histeria golpista à Copa do Mundo

As capitulações do PCO ao governismo

Rodolfo Kaleb, julho de 2014

O Partido da Causa Operária (PCO) busca para si uma identidade de defensor de uma política revolucionária. Embora algumas vezes esse grupo faça críticas corretas a tendências oportunistas, essa autoimagem não passa de uma farsa, conforme demonstramos em uma polêmica escrita no ano passado, na qual expusemos sua capitulação de longa data às candidaturas eleitorais do PT, assim como seu paralelo nas formulações do Partido Obrero argentino, com o qual o PCO manteve relações por muitos anos. [1]

Tanto no Brasil, em relação às candidaturas formadas pelo PT a partir do fim da década de 1980, quanto internacionalmente (como, por exemplo, em relação à campanha de Evo Morales na Bolívia em 2005), o PCO possui um histórico nada “ortodoxo” de apoio velado a candidaturas burguesas. Dessa forma, ele se distancia drasticamente da posição revolucionária diante de um dos elementos essenciais do marxismo revolucionário de nossa época (e que Trotsky considerou a “questão das questões”), que é a necessidade de uma oposição intransigente ao papel da colaboração de classes em desarmar politicamente o proletariado para um enfrentamento com a classe dominante.


Recentemente, o PCO tem cometido capitulações e feito caracterizações oportunistas (e nada sutis) sobre o PT e o papel desse partido na luta de classes, do gênero:

Aqueles que atacam o governo fazendo coro com a direita está [sic] apenas contribuindo com a própria direita, semeando a confusão e desorientando as fileiras proletárias. A colaboração com a direita, nosso inimigo de classe, é o pior erro que um partido de esquerda pode cometer. É preciso compreender que o PT não é o inimigo, mas um obstáculo a ser superado pela classe operária na luta contra seus verdadeiros inimigos, os grandes capitalistas, os banqueiros e o imperialismo.”

O inimigo é a direita, o problema é o PT, 27 de agosto de 2013. Ênfase nossa. Disponível em:

O PCO está correto em denunciar aqueles que não diferenciam as denúncias pela esquerda dos discursos reacionários contra o PT (do tipo “contra a corrupção”) e aplaudem as investidas direitistas contra o governo como se representassem alguma vantagem para os trabalhadores.

Mas ao mesmo tempo, comete uma gritante capitulação ao dizer que o PT “não é o inimigo” e que apenas atrapalha a luta contra a oposição de direita – que seria (esta sim) “nosso inimigo de classe”. Isso cumpriria um nefasto papel de desorientar e confundir as fileiras proletárias se o PCO tivesse alguma influência relevante no cenário atual.

Se o inimigo do proletariado é a classe burguesa, “os grandes capitalistas, os banqueiros e o imperialismo”, então o governo do PT certamente é também um inimigo, pois congrega todos estes em seu seio, atuando como o escolhido da vez para melhor gerir e viabilizar seus interesses. Outro artigo do PCO afirma que o PT é de “esquerda” e “nacionalista”:

“Alguns chegam a contestar o caráter de esquerda do próprio PT, se ele não estaria completamente integrado ao sistema e seria já um partido da grande burguesia e do imperialismo. Que isso não é assim pode ser visto no fato de que o PT não apenas participa do bloco de países nacionalistas latino-americanos, como lidera o mesmo, a exemplo do Foro de São Paulo.”

― Editorial O PT e a direita, 24 de julho de 2013. Disponível em:

É verdade que o governo do PT e a oposição de direita são duas forças burguesas diferentes, que possuem conflitos entre si e não devem ser confundidas. Mas isso não quer dizer que ambos não incluam o que há de mais podre da burguesia e sejam absolutamente submissos aos imperialismos. O PCO pinta o PT com matizes que não tem nenhuma correspondência com a realidade – e ainda aproveita para estender tais cores aos pares latino-americanos.

O suposto caráter “nacionalista” do PT e a ideia de que ele “não estaria completamente integrado ao sistema” nada tem a ver com o governo que reúne Collor e José Sarney um governo liderado por um partido que está há mais de uma década no poder como ponta de lança das investidas contra a classe trabalhadora, mantendo o país submisso ao capital internacional.

Em relação ao governo do PT, sequer pode ser invocado o “nacionalismo” dotado de certo teor de contradições com o imperialismo, ainda que extremamente parciais, pois esse é um dos governos mais entreguistas que o país já teve. O PT não só não expropriou nenhuma empresa internacional, como alguns caudilhos latino-americanos fizeram no passado para criar uma imagem de “anti-imperialistas”, como, ao contrário, tem entregado de bandeja ao imperialismo as valiosas reservas naturais do país (como o pré-sal), rivalizando de perto com seus predecessores tucanos! [2]

É óbvio para qualquer militante sério que tanto a oposição de direita quanto o governo do PT são inimigos. Ambos reprimem o movimento dos trabalhadores, realizam ataques sociais contra a população e mantém o país submisso ao imperialismo, como o PCO sabe muito bem. Táticas diferentes podem e devem ser utilizadas no combate a essas duas forças, devido ao fato de que o governo, por exemplo, possui um controle burocrático sobre muitas organizações sindicais e populares. Ou seja, as formas de desmascará-los podem ser até diferentes, mas ambos buscam realizar exatamente os mesmos ataques contra a classe trabalhadora e devem ser considerados inimigos mortais do proletariado.

Nem por um minuto devemos perder de vista que o PT não é apenas um “obstáculo” burocrático, mas sim núcleo de um governo burguês, que tem feito os maiores ataques contra os movimentos sociais e a esquerda na última década. Ao dizer que o PT “não é o inimigo” e que retém um caráter “de esquerda” e que não está “completamente integrado ao sistema”, o PCO está minimizando o papel daquele como principal agente da burguesia brasileira (e indiretamente do imperialismo) nos últimos 12 anos.

O PCO e o alarmismo sobre um golpe da direita

As caracterizações embelezadas do PCO sobre o governo petista têm sido acompanhadas de uma análise nada sóbria do atual momento político nacional, e revelam toda uma histeria impressionista (e oportunista) dos líderes do grupo. Em meio às jornadas de lutas de 2013, vários grupos expressaram uma posição assustada de que havia um risco de golpe armado pela direita burguesa e outros setores reacionários. Na análise que publicamos na época acerca do ascenso de junho, nós já explicamos nossa posição sobre essa questão [3].

Era central naquele momento não ceder ao alarmismo e sim intervir com uma política classista em oposição tanto aos elementos da direita que se infiltraram nos protestos como também aos governistas. Entretanto, na contramão do bom senso, o PCO foi a corrente que mais insistiu na perspectiva de que a situação apontava para um golpe. Segundo tal partido:

“A ação de grupos de extrema-direita contra partidos de esquerda nas manifestações após a repressão do dia 13 de junho, a investida da direita contra o governo do PT e as tentativas de golpes ou golpes efetivos na América Latina e agora no Egito levantaram a discussão sobre a possibilidade de um golpe de Estado no Brasil. O PCO afirmou claramente que a situação aponta nesse sentido, enquanto as organizações da esquerda pequeno-burguesa insistem em que não há essa possibilidade.”

Sobre o golpe de estado no Brasil, 28 de julho de 2013. Disponível em:

Os revolucionários não aceitam o conto da carochinha de que vivemos em uma época inteiramente distinta do recente passado ditatorial, como apregoam os diferentes setores que apoiaram a transição controlada ao regime democrático-burguês – desde aqueles que contribuíram ativamente com a ditadura durante o período anterior à “distensão”, quanto os dirigentes do PT, que de combatentes contra a ditadura passaram hoje a gestores do Estado burguês brasileiro.

Muitos dos aparatos de repressão da ditadura continuam operando sob outra fachada. Os torturadores e generais ficaram impunes e seus herdeiros seguem em postos de comando. A ditadura de classe da burguesia se manteve sob uma forma “democrática”, fortalecida com os enormes ganhos de certas frações burguesas beneficiadas pelo golpe. Os ataques aos mais básicos direitos são constantes nas favelas e a repressão ilegal contra os direitos democráticos de manifestação, recorrentes. Além disso, desde uma perspectiva histórica, nada garante que as classes dominantes rejeitarão um novo golpe caso encarem necessário – afinal, já o fizeram mais de uma vez no século passado.

Mas a definição da ação política dos revolucionários deve se basear em análises concretas, não em meras suposições ou cenários hipotéticos, desligados de cuidadosa observação e intervenção que os sustentem. Uma tentativa de golpe contra o governo do PT só ocorreria caso esse governo não fosse mais capaz de manter domesticada a enorme força do proletariado brasileiro e uma situação de radicalidade da classe trabalhadora se avizinhasse, gerando grande instabilidade política e econômica para a burguesia. Nesse caso, alas estratégicas da burguesia romperiam com o governo do PT e importantes dirigentes das forças armadas se colocariam abertamente em uma postura de desafio ou insubordinação a este.

Não há dúvidas de que há elementos da burguesia que desejam uma ditadura, mas esse é um tipo de regime extremamente custoso (em muitos aspectos) para o conjunto dos capitalistas, ao qual eles só recorrem quando a democracia burguesa não é lhes parece ser mais capaz de assegurar a ordem. O que determina se ocorrerão tentativas de estabelecer um regime ditatorial é quão sentida é essa necessidade pela burguesia e quão apoio ela possui das classes médias.

Tanto movimentações em direção a uma saída golpista quanto uma postura significativamente insubordinada por parte de cúpulas militares estiveram ausentes no último período. Os setores reacionários que apregoam abertamente a necessidade de uma “intervenção militar” permanecem pateticamente isolados. Efetivamente, o governo do PT segue tendo apoio da maior parte da classe dominante e também das potências imperialistas. Por exemplo, no encontro realizado por Dilma com prefeitos das capitais e governadores em 24 de junho, no auge das manifestações de 2013, a presidente recebeu apoio de todos os presentes, inclusive os representantes da oposição de direita [4].

Esse foi um importante “voto de confiança” da maior parte da burguesia no governo do PT. Ao mesmo tempo, não houve até o momento nenhuma manifestação por parte de chefes das Forças Armadas de insatisfação ou rompimento com o governo. Um golpe não surge da vontade subjetiva de alguns reacionários: é um processo de polarização de forças de classe com interesses claros. Até o momento, esse movimento simplesmente não existiu. O grosso da classe dominante segue confiando ao governo do PT a tarefa de manter a ordem capitalista.

Levantar frequentemente o risco de um golpe quando isso não corresponde a uma realidade concreta desorienta a classe trabalhadora e desvia sua atenção das questões que estão de fato colocadas na ordem do dia. Um golpe de Estado não deve ser compreendido como algum tipo de processo sempre prestes a acontecer, mas sim como uma conjuntura na qual a classe trabalhadora deve adotar táticas de preparação para ações de resistência diante do primeiro sinal de ação dos golpistas. [5]

Agitar cotidianamente esse fantasma sem que haja justificação é, no mínimo, mostrar despreocupação sobre as tarefas imediatas do proletariado. Embora tenha crescido em função da onda de protestos de 2013, a ladainha dos líderes do PCO data de antes. Desde fins de 2012, o grupo já avaliava que o julgamento do mensalão era o prelúdio de um golpe contra o PT.

“Ao conjugar o julgamento do ‘mensalão’, as denúncias de corrupção que procuram insistentemente envolver Lula e a própria presidenta Dilma Rousseff em um novo julgamento político, e a movimentação no Supremo para forçar a mão e tomar para si o poder de decidir sobre o Legislativo eleito pelo voto popular, somos levados à pergunta: o quê, na atual situação, nos separa de um golpe de Estado?

A ditadura do judiciário e a posição dos trabalhadores, 15 de dezembro de 2012. Ênfase nossa. Disponível em:

Não pode haver dúvida sobre a intenção da oposição de direita no julgamento do mensalão de enfraquecer a gestão do PT e preparar terreno para seu retorno ao governo, aproveitando-se de um escândalo de corrupção muito semelhante ao que ela própria sempre realizou por trás dos panos. Mas seu interesse naquele momento era principalmente eleitoral, não golpista. Queria ganhar vantagem sobre seu principal concorrente eleitoral e por esse motivo armou todo o teatro. Confundir essa disputa sórdida com uma investida golpista exige um tanto de miopia política.

De novembro de 2012 para cá, não houve nenhum movimento significativo de polarização de setores da burguesia em prol da derrubada armada do governo petista. A forma com a qual os líderes do PCO falam sobre golpe de Estado lembra um pouco a história infantil Pedrinho e o Lobo. O partido levanta tão indefinidamente esse risco que já perdeu a noção sobre o significado de tal afirmação. Essa sempre foi uma mania difundida pelos petistas ou advogados do petismo (dos quais cada vez mais o PCO se aproxima): de que um golpe estaria sempre na ordem do dia, porque o PT jamais seria aceito pela classe dominante.

O PCO e os movimentos contra as injustiças da Copa

Recentemente, a capitulação do PCO ao governismo tem ganhado outras cores. Enquanto nas favelas do Rio de Janeiro moradores revoltados com a brutal repressão cotidiana dos aliados locais de Dilma e do PT se revoltavam aos gritos de “Não vai ter Copa”, o PCO se perguntava “o que os trabalhadores têm a ganhar” com uma campanha contra os ataques deste governo às vésperas do início do evento. O PCO se colocou contra protestos realizados nas maiores capitais do Brasil contra as agressões dos governos envolvendo a preparação da Copa do Mundo de futebol porque, supostamente, eles estariam auxiliando uma “campanha golpista da direita”:

O movimento operário e estudantil deve lutar por objetivos reais e não passar um semestre inteiro, até o início da Copa, atrás desta campanha vazia que não contém reivindicação nenhuma, além de ataques direitistas ao governo do PT. Enquanto o PCO denuncia essa campanha como golpista, a esquerda pequeno-burguesa diz que se trata de uma ‘teoria da conspiração’…”.

Campanha contra a Copa: o que os trabalhadores têm a ganhar?, 4 de fevereiro de 2014. Ênfase nossa. Disponível em:

Para aqueles interessados em enxergar a realidade sem o intermédio das lentes do oportunismo, é um tanto quanto óbvio que, ao levantar esse grito, muitos trabalhadores e jovens estavam desabafando sua indignação com sua situação material – que lhes impossibilita acesso a moradia, saúde, transporte e educação de qualidade, ao passo em que o governo brasileiro estava mais interessado em financiar empresários da construção civil, do turismo e especuladores.

Os comunistas não tem nenhum interesse em se colocar contra o esporte futebol, nem tampouco contra os eventos esportivos. É evidente para qualquer um que as campanhas, denúncias e palavras de ordem contra “a Copa” são uma expressão da insatisfação dos trabalhadores e oprimidos sobre a desigualdade social brutalmente revelada diante das remoções, ataques e repressão para que um punhado de ricos lucrasse com esse evento. Além de acusar as manifestações de “golpistas”, o PCO tentou passar a impressão de que os protestos não tinham objetivo político, pois seriam “contra um evento esportivo”.

Certamente há limitação em tal “desabafo” e a necessidade dos revolucionários disputarem tal indignação, visando canalizá-la para um programa revolucionário de enfrentamento ao capitalismo e seus governos. Mas isso não impedia que os comunistas participassem de movimentos e protestos que levantassem tais demandas num claro questionamento aos ataques da FIFA e do PT contra a população. Para o PCO, entretanto, fazer isso seria cerrar fileiras com a direita golpista, facilitando sua suposta empreitada em curso. Curiosamente, é o PCO que repete muitos argumentos do governismo. Um deles é dizer que não seria justo reclamar das injustiças envolvendo a Copa do Mundo depois de que muitas das remoções, ataques, precarizações do trabalho já tivessem sido realizadas:

“Esta esquerda tomou os argumentos dados pela direita, cínica, de que a Copa do Mundo não deveria ser prioridade de um país atrasado e com tantos problemas, que o evento custa muito aos cofres públicos e aumentou a exploração dos trabalhadores envolvidos nas obras e diretamente no evento. Esta campanha, no entanto, foi levantada depois que a maior parte dos gastos já havia sido feita e as obras concluídas, de forma a ser uma reivindicação na prática inócua e que politicamente servia apenas para a campanha eleitoral, da direita.”

Não é só contra a Copa, é contra o Brasil, 7 de julho de 2014. Disponível em:

Mesmo o título do artigo citado acima já mostra até que ponto o PCO comprou o discurso governista, tanto no futebol quanto na política [6]. Isso é um exemplo de como a linha do PCO funciona como uma delirante (e frágil) retórica para justificar sua capitulação ao governo do PT. Se os trabalhadores quiserem travar novas grandes lutas em 2014 e colocar o governo contra a parede, é bom estarem cientes que não poderão contar com o PCO. Este poderá muito bem estar do outro lado da barricada afirmando que não se deve enfrentar este governo dos patrões sob o risco de “fortalecer a direita”. O PCO parece querer enfrentar os efeitos do capitalismo no Brasil sem colocar em perigo a estabilidade do PT.

Conclusão

Tanto no seu alarmismo sobre a suposta iminência de um golpe da direita quanto na sua hostilidade injustificada aos protestos contra os ataques da burguesia antes e durante a Copa do Mundo, o PCO revelou que receia um enfrentamento dos oprimidos que ponha em cheque o Partido dos Trabalhadores, e que pudesse enfraquecê-lo eleitoralmente e possivelmente causar sua derrota no próximo pleito. Os trabalhadores não tem nada a perder ao denunciar amplamente a responsabilidade direta do PT nas prisões arbitrárias, na repressão de greves e protestos às vésperas e durante a Copa, assim como nas condições de trabalho precárias que levaram à morte de quase uma dezena de operários na construção dos estádios.

É preciso mencionar que a histeria do PCO acerca de um hipotético golpe reacionário em muito se assemelha à clássica posição stalinista frente a governos de colaboração de classes. Diante de grandes mobilizações de massas contra governos burgueses supostamente “progressivos” apoiados pelos stalinistas, estes logo sacavam de sua cartola uma retórica alarmista. Se os trabalhadores fizessem greves e saíssem às ruas, iriam desestabilizar o governo “progressivo” e abririam espaço para a reação de direita. Os trabalhadores, portanto, não deveriam buscar um enfrentamento destemido com o governo de turno, sob o risco de “fortalecer a reação”.

O PCO já anunciou suas candidaturas para as eleições de 2014, mas o que fará o partido no caso de um segundo turno, o qual geralmente evoca em muitos o pânico de que o PT seja derrotado e faz com votem “contra a direita” (ou seja, na coalizão governista)? Repetirá as ocasiões no passado em que apoiou eleitoralmente as candidaturas burguesas do PT, ou será constrangido a não fazê-lo para manter as suas aparências? Não é possível adivinhar o que passará na cabeça dos dirigentes do PCO, que certamente acreditam que podem tomar posições esdrúxulas sem qualquer resistência dos membros de seu grupo.

O embelezamento do PT como um partido “de esquerda”, a afirmação de que “não é o inimigo” da classe trabalhadora e o pânico de que este seja derrubado a qualquer momento porque não estaria “integrado ao sistema”, assim como as acusações de que aqueles que participam num movimento contra os ataques sociais do governo durante a Copa estão “colaborando com a direita”, tudo isso conduz logicamente ao passo seguinte dessa capitulação vergonhosa. De uma forma ou de outra, todo o discurso recente do PCO aponta para a gradual transformação desse grupo em uma pata de apoio “de extrema esquerda” do petismo. Para aqueles que se dedicam à tarefa fundamental da construção de um partido revolucionário no Brasil, o PCO nada tem a oferecer.

NOTAS

[1] Para nossa polêmica com o PCO, conferir PCO, Altamirismo (Partido Obrero) e as frentes populares, de fevereiro de 2013. Disponível em:
http://reagrupamento-rr.blogspot.com.br/2013/02/pco-altamirismo-e-as-frentes-populares_21.html
[2] É bom ressaltar que mesmo que o governo do PT fosse “nacionalista”, seria um absurdo usar essa classificação na forma de elogio velado ou eufemismo, como faz o PCO. Ao longo da história da luta de classes, partidos nacionalistas tem desviado a classe trabalhadora da luta para chegar ao poder e sempre defendem os interesses capitalistas, ainda que sob alguma coloração radical. Uma vez no poder, eles sempre mantem a classe trabalhadora política e organizativamente paralisada diante de golpes direitistas motivados pela sua retórica (retórica essa que não é usada pelo PT) ou pequenas reformas. O objetivo do nacionalismo nos países atrasados não é derrubar as relações capitalistas, mas sim limitar o poder do imperialismo (enquanto colabora com este no quadro geral) em favor de setores da burguesia nacional em tais relações.

[3] Revolta de Massas no Brasil, de 23 de junho de 2013, disponível em:

[4] Governadores e prefeitos apoiam proposta de 5 pactos de Dilma, de 24 de junho de 2013. Disponível em:

[5] Essa análise do PCO é tão deslocada da realidade que o próprio partido não a leva tão a serio. No último período, não fez nenhum tipo de agitação sistemática para que os sindicatos e universidades onde possui inserção preparassem formas de resistência preventivas contra o suposto golpe. De certa forma, esse é o reconhecimento implícito de que o próprio grupo não acredita fielmente que se aproxime uma investida golpista.

[6] Quando a versão final deste artigo já se encontrava pronta, nós fomos brindados pelo chilique oportunista do dirigente do PCO, Rui Costa Pimenta, diante da derrota da equipe brasileira de futebol na Copa do Mundo. O fato de que o time brasileiro foi derrotado por uma grande diferença de gols fez com que o PCO lançasse sobre a “esquerda pequeno-burguesa” que protestou contra as injustiças da Copa do Mundo (são citados PSOL, PSTU e “grupos menores do mesmo quilate”) a culpa em ajudar a direita para conseguir a derrota do Brasil na partida. O PCO não fornece nenhuma explicação de como isso teria acontecido, mas este e outros artigos publicados em sequência ao jogo estão cheios de remorso pela derrota:

“O povo brasileiro que torceu pela seleção brasileira com todo o coração está sofrendo desta mesma humilhação. Há os chacais, como a direita, que querem agora tirar proveito desta humilhação e desmoralização. Há os pequeno-burgueses de esquerda e de direita que vão festejar a tristeza do povo e a sua humilhação. É o seu ofício, por isso, merecem o justo desprezo do povo. O ódio é reservado à burguesia.”

‘Eles’ conseguiram… e agora?, 8 de julho de 2014. Disponível em:

Entretanto, enquanto o PCO estava preocupado com a “humilhação” envolvendo a derrota do time brasileiro num campeonato de futebol e os possíveis efeitos eleitorais disso, o PT tem imposto verdadeiras humilhações aos trabalhadores e oprimidos em todo o último período relacionado à Copa do Mundo. O PCO tratou com desprezo os protestos que buscaram combater tais ataques sob o suposto risco de “fortalecer a direita”. Os revolucionários afirmam que humilhação de verdade são as prisões realizadas pelos aliados de Dilma, as mortes dos trabalhadores negros nas favelas que os seus “companheiros” Paes e Pezão tem feito quase cotidianamente no Rio de Janeiro, escondidos sob os holofotes do “espetáculo”, e tudo o mais que este governo assassino prepara para os trabalhadores (quase sempre em plena sintonia com seus consortes da direita).

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Desde Punta del Este…

Castro en busca de la distensión hemisférica

Traducido de Workers Vanguard No. 141, 21 de enero de 1977. Esta versión fue impresa en Spartacist en español No. 07, junio de 1979

De todos los mitos acerca de la Cuba castrista, el más difundido es seguramente el de una política exterior supuestamente revolucionaria. Los “tercermundistas” de la “Nueva Izquierda” norteamericana se pusieron de acuerdo con liberales de guerra fría y conservadores macartistas en que La Habana exportaba la guerra de guerrillas a toda América Latina. Cuando se les presenta la evidencia de la represión ejercida sobre toda oposición socialista en Cuba, los “fidelistas” argumentan que esas son pequeñeces en comparación con la “titánica” batalla librada por Castro contra el imperialismo yanqui a escala continental. ¡Simplemente acuérdense de la heroica misión del “Che” en Bolivia! ¡Piensen en cómo Radio Habana, emitiendo todas las noches desde el “Primer Territorio Libre de América”, mantiene vivos los ánimos de miles de militantes sometidos a la más salvaje represión!

Entre los que se reclaman del trotskismo, esta creencia en un compromiso internacionalista de la dirección cubana fue una de las bases sobre las que se formó el “Secretariado Unificado de la Cuarta Internacional” (SU), el cual proclamaba en su documento de fundación:

“La revolución cubana asestó un golpe a la política de colaboración de clases del estalinismo en América Latina y otros países coloniales. Nuevas corrientes, que se desarrollan bajo la influencia de la victoria en Cuba, están buscando a tientas el camino al socialismo revolucionario…”

― “Por la pronta reunificación del movimiento trotskista mundial”, marzo de 1963.

La perspectiva del Secretariado Unificado para América Latina fue “la introducción de conceptos trotskistas dentro de esta nueva tendencia castrista” (“Dinámica actual de la revolución mundial”, documento aprobado en el congreso de fundación del SU en junio de 1963).

En los últimos años, sin embargo, la imagen heroica de la Revolución Cubana ha comenzado a deslustrarse, y muchos de los entusiasmados castristas de ayer se han desencantado con su “jefe máximo”. Particularmente inquietante ha sido su afición a coquetear con los generales nacionalistas, desde la junta peruana hasta Torrijos en Panamá, y el apoyo explícito que le da Castro a la política brezhnevista de “coexistencia pacífica” con el imperialismo. A comienzos de los 70 se puso de moda dentro de ciertos círculos de “extrema izquierda” el sostener el “criterio personal” de que algo se había torcido en Cuba: el burocratismo se estaba afianzando y se había verificado un “giro a la derecha” en la política exterior de Castro.

No había unanimidad acerca de cuándo se produjo el supuesto giro. Algunos lo identificaban con la partida de Guevara de Cuba, o si no con su asesinato en Bolivia, haciéndolo pasar por un “guerrillero heroico”, la conciencia de izquierda de la revolución. Otros se inclinaban por ubicarlo en la época del apoyo de Castro a la invasión rusa de Checoslovaquia en 1968, un acto que golpeó fuertemente a muchos fidelistas latinoamericanos que anteriormente vieron en el castrismo una alternativa de izquierda al estalinismo moscovita. Pero lo que tienen en común las varias explicaciones del “giro a la derecha” es el deseo de no comprometerse con las últimas jugadas internacionales de Cuba y a la vez no romper fundamentalmente con el castrismo.

Luego, a finales de 1976, vino el envío de varios miles de soldados y oficiales cubanos a Angola a rescatar al asediado MPLA del golpe de mano imperialista encabezado por Sudáfrica. El presidente norteamericano Ford calificó hipócritamente a Castro de “bandolero internacional”. En EE.UU., los partidarios de S. Marcy trataron de resucitar un movimiento antiguerra pequeñoburgués alrededor del apoyo político al MPLA y el elogio de “la valiente ayuda” prestada por Cuba a los movimientos de liberación en todo el mundo (Workers World, 30 de enero de 1976). En Europa Livio Maitan, uno de los líderes del seudotrotskista SU, fanfarroneó que “el compromiso decisivo de Cuba con una batalla crucial antiimperialista tiene pocos precedentes en la historia de décadas pasadas…” (Inprecor, 18 de marzo de 1976).

Maitan aprovechó la ocasión para fustigar a los detractores de Castro y a los vacilantes anónimos:

“Durante algún tiempo se habló mucho de los deseos de Cuba por alcanzar un compromiso con los Estados Unidos, y algunos, cayendo en un apresurado impresionismo, concluyeron que los dirigentes cubanos estaban dispuestos a pagar un precio muy alto por ese compromiso. Ahora, al contrario, está claro que no estaban dispuestos a pagar el precio de renunciar a su valiente actitud de solidaridad internacional… La intervención en Angola lo confirma meridianamente… cualesquiera hayan sido las particulares razones tácticas de la intervención, ella constituye un testimonio ejemplar de internacionalismo revolucionario”.

Pero este “internacionalismo revolucionario” estaba subordinado al proyecto de política exterior del Kremlin, que en ningún momento dejó de ser el de la distensión global. En efecto, a la vez que las tropas cubanas luchaban en Angola contra las fuerzas financiadas por la CIA, en La Habana los ciudadanos aprobaban una nueva constitución ¡que introducía la “coexistencia pacífica” en la ley fundamental del país!

Ha habido, por supuesto, cierto zigzagueo en la política exterior cubana. Al comienzo de los 60 Castro se dedicó a una búsqueda sin perspectivas del apoyo diplomático de los regímenes nacionalistas-burgueses de Latinoamérica a la vez que, de cuando en cuando, ofrecía concertar un modus vivendi con el Tío Sam. En el período “heroico” de 1965-67, la política fidelista hacia América Latina se concentró en promover el guerrillerismo y fustigar a ciertos partidos comunistas latinoamericanos por sus ilusiones en una “vía pacífica”. A partir de entonces, La Habana ha estrechado sus ligazones con Moscú. Pero a pesar de la sucesión periódica de cambios cuantitativos, desde la consolidación del estado obrero deformado cubano a finales de 1960, el régimen de Castro ha seguido una vía nacionalista basada en la ilusión estalinista de poder construir el socialismo en una sola isla al solicitarle al imperialismo un tratamiento tolerante.

Punta del Este

Todos aquellos que suspiran por los días en que Guevara estaba en la cúspide del poder en La Habana deben recordar que fue el mismo “Che”, y no otro, quien encabezó la delegación cubana a la conferencia de Punta del Este (Uruguay) en 1961, donde el régimen castrista hizo su primera oferta de una coexistencia pacífica hemisférica al imperialismo norteamericano. La conferencia había sido convocada para lanzar la “Alianza para el Progreso” del presidente estadounidense Kennedy, cuyo propósito era aislar a Cuba y contrarrestar las posibilidades revolucionarias en América Latina con unos cuantos millones de dólares de limosnas provenientes del bolsillo imperialista.

Se recuerda perfectamente la ardiente intervención de dos horas de Guevara en las sesiones de agosto de 1961, advirtiendo que la ayuda norteamericana vendría atada con cadenas. Lo que frecuentemente se olvida es que finalizó con una oferta de distensión:

“No podemos prometer que no exportaremos nuestro ejemplo, como nos lo piden los Estados Unidos, porque un ejemplo es cuestión de espíritu y un elemento espiritual puede cruzar las fronteras. Pero nosotros garantizaremos que no habrá envío de armas cubanas para ser usadas en la lucha de ningún país latinoamericano.”

― citado en John Gerassi, The Great Fear in Latin America (1965).

No hay duda de que la oferta era sincera. Después de la conferencia, en una “reunión social imprevista” en Montevideo con el consejero de Kennedy, Richard Goodwin, Guevara propuso conversaciones Cuba-EE.UU. sobre el reembolso de los intereses norteamericanos expropiados, a cambio de la terminación del embargo comercial.

Los trotskistas no nos oponemos a los esfuerzos cubanos por romper el bloqueo económico impuesto por los Estados Unidos. Por el contrario, defendemos el derecho de Cuba a sostener relaciones comerciales con todo país, desde la Unión Soviética y los demás estados obreros deformados hasta las dictaduras burguesas reaccionarias, tal como la España franquista, con el fin de prevenir la asfixia económica. La Rusia revolucionaria de Lenin concluyó acuerdos comerciales con Inglaterra y Alemania sin de ninguna forma restringir las actividades de la Internacional Comunista. Como escribió Trotsky:

“La idea básica de la política exterior de los Soviets era que los acuerdos comerciales, diplomáticos y militares del Estado soviético con los imperialistas, acuerdos inevitables, en ningún caso debían frenar o debilitar la acción del proletariado en los países capitalistas interesados; pues la salud del Estado obrero no está asegurada, más que por el desarrollo de la revolución mundial.”

La revolución traicionada (1936)

Pero la Cuba de Castro no ha construido una Internacional Comunista, y en numerosas ocasiones ha exhortado al proletariado a limitar su lucha contra los regímenes burgueses que mantienen relaciones diplomáticas con La Habana.

A comienzos de los años 60, esta política se reflejó en el apoyo de Cuba al presidente brasileño Janio Quadros y a su sucesor Joao Goulart. Como escribió el académico filocastrista James Petras:

“Entre 1959 y 1962 la dirección cubana respaldó a una amplia gama de fuerzas políticas latinoamericanas. Desde movimientos izquierdistas hasta fuerzas nacionalistas moderadas incluyendo a personajes como Quadros de Brasil.”

En Latin America: Reform or Revolution? (1968)

En los primeros meses de 1961 los periódicos cubanos elogiaron al presidente brasileño por haber condenado la invasión de Playa Girón organizada por los EE.UU.; y en agosto, cuando Guevara estaba de regreso a Cuba después de la conferencia de Punta del Este, Quadros le otorgó al líder cubano la máxima condecoración del gobierno brasileño, la Cruz del Sur. Esto enfureció a políticos opositores pro-norteamericanos y a mandos militares quienes amenazaron derrocar a Quadros, quien, en consecuencia, huyó del país. Castro aclamó a Quadros como “uno de los más acérrimos defensores de la autodeterminación.”

¿Quién era, en realidad, este gran “progresista”? Quadros era un conservador excéntrico, partidario del gobierno honesto y la moneda dura. El periodista procubano Gerassi sintetizó la política de este político “indómito”:

“Pisoteó así a los sindicatos, envió tropas federales a los rincones hambrientos del Noreste a aplastar las manifestaciones de protesta, encarceló a los estudiantes desobedientes, restringió el crédito, acabó con la mayoría de los subsidios federales, despidió a los empleados gubernamentales ‘ociosos’ y devaluó el cruzeiro casi hasta nivelarlo con su valor en el mercado de divisas.”

Op. cit.

En este caso el régimen de Castro no pudo afianzar las relaciones debido a que el gobierno de Quadros cayó tan repentinamente.

Quadros fue reemplazado por su vicepresidente, Goulart, quien siguió una ruta prudente entre izquierda y derecha; política exterior relativamente independiente y entrega total a los terratenientes e industriales en los asuntos domésticos. Siendo él mismo un latifundista millonario; Goulart dirigía el Partido del Trabajo Brasileño (PTB) populista-burgués y necesitaba cultivar una imagen de izquierda para poder aparecer como el aliado de los movimientos obrero y campesino, entonces en pleno auge. Su fama de “amigo firme” de Cuba le ayudaba a llevar a cabo este juego demagógico.

Para mantener relaciones de estado a estado no hay que fomentar ilusiones en “terratenientes progresistas”. La dirección internacionalista de un estado obrero revolucionario trataría de impulsar y ayudar a los movimientos de protesta de los explotados para que se convirtieran en una poderosa ofensiva contra el dominio capitalista. En esos años, ciertamente, se presentaron oportunidades revolucionarias en Brasil, donde un vasto y multiforme movimiento campesino estalló en el Noreste, dirigido por el Partido Comunista, sacerdotes católicos y sobre todo por el político socialista pro-cubano Francisco Julião.

Castro se mantenía en permanente contacto con este movimiento a través de Julião, cuyos viajes a Cuba eran tan frecuentes que algunos de sus opositores hablaban de un “expreso” entre La Habana y el Noreste del Brasil. Pero la política que Julião infundía al movimiento campesino difícilmente podría llamarse revolucionaria. Rehusó extenderlo a las plantaciones de la costa para ligarse con el movimiento de los trabajadores agrícolas y el proletariado urbano; además, políticamente su influencia descansaba en una alianza con el gobernador de Pernambuco, Miguel Arraes, quien pertenecía al mismo PTB de Goulart. Es altamente significativo lo que escribió un antiguo dirigente de las ligas campesinas del Noreste acerca de la frustración de los planes de actividad guerrillera (a los que se oponía Julião):

“Parece que entre otros factores, la existencia de relaciones diplomáticas amistosas entre los gobiernos de Cuba y Brasil estuvo íntimamente relacionada con el fracaso del esquema militar de las Ligas Campesinas. El sostener estas relaciones diplomáticas impedía a los cubanos apoyar abiertamente las actividades guerrilleras de la Liga. Aún más, algunos elementos cubanos aconsejaron a las Ligas acercarse más a los presidentes Quadros y Goulart.”

― Clodomiro Moraes, “Peasant Leagues in Brazil”, en Rodolfo Stavenhagen, Agrarian Problems and Peasant Movements in Latin America (1970)

En cuanto al renombre izquierdista de Goulart ―asiduamente difundido por los EE.UU. que, ahora es sabido, estaba preparando una intervención masiva de la marina y del ejército en Brasil, a la escala de la efectuada en Santo Domingo un año después― su medida más “radical” fue una reforma agraria anunciada dos semanas antes de ser echado de la presidencia. Este tímido decreto, nunca llevado a la práctica, tan solo proclamaba el reparto de las grandes haciendas “adyacentes a carreteras, ferrocarriles y embalses” (¡!), recompensando a los propietarios con bonos del gobierno (Goulart, Discurso ante una manifestación obrera en Rio de Janeiro, 13 de enero de 1964; citado en Hispanic-American Report,. mayo de 1964).

La distensión frustrada

Brasil fue el más notable de los intentos de Castro de formar alianzas políticas con gobiernos y personajes nacionalistas-burgueses con pose de izquierdistas. Cuba también mantuvo estrechas relaciones con el primer ministro de Guyana Cheddi Jagan, cuyo Partido Progresista del Pueblo fue derrumbado mediante un paro ―orquestado por la CIA― realizado por partidarios negros del adversario de Jagan, Forbes Burnham. Otro dirigente burgués predilecto de Castro fue el ex-ministro ecuatoriano Manuel Araujo, quien fue destituido por el demagógico presidente Velasco Ibarra después de una campaña ―también instigada por la CIA― de manifestaciones estudiantiles en contra de la política pro-cubana de Araujo.

Buen ejemplo de la política exterior de Cuba durante este período fue la reacción de Castro ante la expulsión de Cuba de la OEA en enero de 1962. Es de fama mundial su “Segunda Declaración de La Habana”, en que Castro calificaba a la OEA como un auténtico “ministerio yanqui de colonias”, declaraba que en América Latina “la burguesía nacional es incapaz de conducir la lucha antifeudal y antiimperialista”, y denunciaba a aquellos que hablaban de derrocar a la clase dominante por medios legales.

Menos remarcado fue el que Castro se pronunció así mismo en favor de la unidad con “los estratos más progresistas de la burguesía nacional”. Lo que esto significaba en la práctica se pudo ver en el “desafío” de Castro a la OEA: una “Asamblea de los Pueblos” celebrada simultáneamente con la nueva reunión de Punta del Este y convocada por diez destacados políticos “progresistas” latinoamericanos, incluyendo al ex presidente mexicano Lázaro Cárdenas, al futuro presidente chileno Salvador Allende, a Julião y Araujo.

La cosecha que recogió Castro con este intento de apoyarse en “las capas más progresistas de la burguesía nacional” fue por cierto muy pobre. Una vez más Brasil fue el arquetipo: durante la “crisis de los misiles” en octubre de 1962, el gobierno de Goulart votó en la OEA apoyando el bloqueo naval norteamericano como un acto de “legítima autodefensa”. Aún el cuñado “izquierdista” de Goulart, Leonel Brizola, gobernador del estado de Rio Grande do Sul, condenó el envío de proyectiles rusos al régimen de Castro como un intento de “aprovecharse de la lucha del pueblo cubano” y manifestó su oposición a “la transformación de Cuba en satélite de la Unión Soviética” (citado en Hispanic-American Report, enero de 1963).

El 31 de marzo de 1964 Goulart, el “amigo firme” de Cuba, fue derrocado por un golpe militar obviamente planeado y ejecutado en estrecha cooperación con Washington. Castro no se pronunció públicamente sobre el golpe reaccionario sino hasta el 1° de mayo, y, peor todavía, dos días después de su realización el dirigente cubano renovaba a los EE.UU. sus ofrecimientos de la distensión. La ocasión la propició una entrevista en que Castro elogió sin críticas un discurso pronunciado el 25 de marzo por el senador J. W. Fullbright acerca de “los mitos y realidades de la política exterior de los EE.UU.” Castro dijo en su comentario:

“El senador Fullbright dijo que Cuba podía ser tolerada como algo desagradable… pero que no representaba un peligro para los Estados Unidos. Esto es esencialmente correcto pero podría añadirse que Cuba será mucho menos desagradable en la medida en que sea respetada y dejada en paz.”

New York Times, 3 de abril de 1964

Guevara también elogió el discurso del “corajudo” presidente del comité de relaciones exteriores del senado norteamericano (quien durante la crisis de los misiles de 1962 había exigido la invasión de la isla).

¿Qué fue exactamente lo que Fullbright dijo que tanto sobresaltó a sus colegas y encendió los corazones de Castro y Guevara? Hizo un llamado a “una franca reevaluación de nuestra política cubana”, declarando que “la política de aislamiento es un error” y pidiendo que el embargo comercial fuera abandonado. Sin embargo, el senador añadió:

“El comunismo cubano sí representa una amenaza grave para los otros países latinoamericanos, pero esta amenaza puede manejarse por medio del uso resuelto y vigoroso de los mecanismos establecidos en el sistema interamericano contra todo acto de agresión.”

New York Times, 26 de marzo de 1964

Quadros, Goulart, Jagan y Araujo ya habían pasado por la amarga experiencia de esos “mecanismos establecidos” pero, aparentemente, ¡Castro y el “Che” no se habían percatado de su funcionamiento!

En otra entrevista pocos meses después Castro fue aún más lejos, reiterando la oferta de Guevara en Punta del Este de retirar la ayuda material a los revolucionarios latinoamericanos a cambio del cese por parte de EE.UU. de los intentos de derrocar al gobierno cubano:

“Si ellos [EE.UU.] están dispuestos a convivir con nosotros de acuerdo con las normas, nos sentiríamos en la misma obligación…. Si Cuba financiase una revolución contra un gobierno que la respeta, estaría violando las normas.”

New York Times, 6 de julio de 1964

El periodista informaba que Castro estaba dispuesto a terminar con el suministro de armas y la ayuda económica a los insurgentes pro-cubanos, añadiendo que “fuentes comunistas europeas afirman que tal ayuda ha sido suspendida enteramente o casi enteramente desde el comienzo del año.”

Y aquellos que tratan de contrastar al “revolucionario” Guevara con el “claudicante” Castro deberían consultar la intervención del “Che” ante la Asamblea General de las Naciones Unidas en diciembre de 1964, donde afirmó que para Cuba el problema central por el que la ONU debería preocuparse era “la coexistencia pacífica entre estados con diferentes sistemas sociales y económicos”. Lamentaba el hecho de que el imperialismo norteamericano, mientras se mostraba capaz de coexistir con la Unión Soviética, no pudiera sacar sus manos de los estados más pequeños de América Latina. “Actualmente, la clase de coexistencia pacífica a que aspiramos se ha mostrado, en muchos aspectos, imposible de materializarse” (Obras escogidas de Ernesto Guevara [1969]).

Guerrillerismo estalinista versus insurrección obrera

Pero los repetidos ruegos de Castro para lograr un modus vivendi con el imperialismo yanqui fueron bruscamente rechazados. Los gobernantes de los EE.UU. siguieron tratando al Caribe como un “lago norteamericano” y estuvieron de acuerdo con el sabihondo anticomunista profesional Theodore Draper en que, “si hay un lugar en el mundo en que el comunismo puede ser ‘reversible’, es el caso de Cuba” (Castroism: Theory and Practice [1965]). Rechazado por el Departamento de Estado y viendo sus “amigos” burgueses de Latinoamérica derribados uno a uno por golpes inspirados por la CIA, el régimen cubano dio un medio giro a la izquierda pero sin modificar su política nacionalista fundamental, característica de todos los regímenes estalinistas.

Durante 1965 se iniciaron luchas guerrilleras rurales de orientación castrista en Colombia (enero) y el Perú (junio). En Guatemala, Luis Augusto Turcios Lima se separó del frente guerrillero MR-13 (Movimiento Revolucionario 13 de Noviembre) de Yon Sosa para formar las FAR (Fuerzas Armadas Revolucionarias), con un programa guevarista y estrechos vínculos con Cuba. También en 1965 las Fuerzas Armadas de Liberación Nacional (FALN) de Venezuela dirigidas por Douglas Bravo se rebelaron contra el intento de la dirección del PC de suspender acciones guerrilleras. Anteriormente, varias decenas de grupos pro-cubanos habían surgido a lo largo y ancho de América Latina, generalmente sin vínculos con La Habana, mientras la defensa teórica del modelo cubano hecha por Guevara (“Cuba: ¿caso excepcional o vanguardia en la lucha contra el colonialismo?” y La Guerra de guerrillas: un método) permanecía en el terreno de la exhortación intelectual. Entonces, en cambio, existía toda una serie de países con sus “ejércitos” guerrilleros castristas más o menos reconocidos, cuyo éxito o fracaso comprometería directamente la suerte internacional del régimen cubano.

Retrospectivamente, varios “castristas críticos” han situado en 1965 el comienzo de un período heroico en la política exterior de Cuba. El castrismo surgía como antagonista de izquierda de los PC pro-Moscú. Régis Debray, vocero autorizado de los dirigentes cubanos, denunciaba la “franca hostilidad hacia la lucha armada presentada por las direcciones de varios partidos comunistas latinoamericanos (Perú, Colombia, Argentina, Chile, Brasil)” (“América Latina: la marcha larga”) y criticaba explícitamente al Vigésimo Congreso del PC de la Unión Soviética que “condujo a los partidos comunistas hacia la vía de la ‘democracia nacional’, del ‘frente único, con la burguesía’” (“Problemas de la estrategia revolucionaria en América Latina” [1967]).

Si bien es cierto que el período 1965-68 vio, hasta cierto punto, una política exterior más militante por parte del régimen de Castro ―resultado de su aislamiento diplomático en Latinoamérica― no hubo ningún cambio fundamental en su estrecha orientación nacionalista. Por un lado, Cuba siempre se sometió a las orientaciones de Moscú. En enero de 1964 Castro emitió en Moscú un comunicado conjunto con Kruschev, elogiando et tratado contra los ensayos nucleares y condenando “el fraccionalismo y el sectarismo en las filas de los partidos comunistas y obreros” (claro bofetón a China). De nuevo en marzo de 1965 Castro previno indirectamente a China contra “peleas bizantinas” (eso después de la participación de Cuba en la reunión organizada por Kruschev en Moscú para “excluir” a China del “campo socialista”); y en enero de 1966, en vísperas del Congreso Tricontinental en La Habana, Castro condenó dramáticamente a China por reducir a la mitad los envíos de arroz a Cuba.

Por otra parte, por lo menos al comienzo, ciertos PC pro-Moscú siguieron haciendo cautelosas referencias a (y limitadas aplicaciones de) la “lucha armada”. Una reunión de partidos comunistas latinoamericanos efectuada en La Habana a finales de 1964 acordó “ayudar activamente” a los combatientes de Venezuela, Guatemala y demás países; y muchos de los participantes en la reunión de la Tricontinental eran partidos estalinistas línea Moscú. Esto no debería sorprender, ya que el mismo Stalin difícilmente puede clasificarse como pacifista. En efecto, prácticamente la totalidad de los grupos guerrilleros pro-cubanos en un momento u otro tuvieron (o buscaron) relaciones con el PC “oficial” de su país. Las FALN venezolanas estuvieron originalmente subordinadas a un comando político dominado por el PC; las FAR guatemaltecas eran dirigidas por un miembro del comité central del partido pro-Moscú y mantuvieron vínculos formales con él hasta 1967; y el ELN (Ejército de Liberación Nacional) de Colombia buscó, durante sus primeros meses de existencia, formar un comando militar unificado con el grupo guerrillero del PC, las FARC (véase Richard Gott, Guerrilla Movements in Latin América [1972]).

Igualmente importante para formarse un juicio sobre la fase “izquierdista” de Castro a mediados de los años 60 es el hecho de que el régimen cubano no levantó un dedo para respaldar las auténticas luchas de masas contra el imperialismo norteamericano y la reacción nacional. Un caso típico fue la protesta estudiantil que en enero de 1964 se desató en Panamá contra el control norteamericano de la zona del canal. Como informaba una fuente académica anticomunista (de quien era de esperarse que viera la subversión castrista detrás de cada manifestación): “La reacción [de Castro] ante los desórdenes se limitó al anuncio de que su gobierno estaba dispuesto a crear, en compañía de las otras naciones latinoamericanas, un fondo común para ayudar a los panameños” (Andrés Suárez. Cuba: Castroism and Communism, 1959-1966).

Una lucha aún más explosiva, en la cual el régimen cubano pudo haber dado contenido real al llamado de Guevara a crear “dos, tres, muchos Vietnam” en Latinoamérica, fue el levantamiento en Santo Domingo en abril y mayo de 1965. Aunque éste se realizó bajo un liderazgo burgués ―el PRD (Partido Revolucionario Dominicano) de Juan Bosch― las fuerzas “constitucionalistas” estaban formadas por miles de trabajadores urbanos y por un sector del ejército que se había rebelado contra los altos mandos reaccionarios. Las masas estaban hirviendo con sus anhelos de barrer cualquier vestigio o cómplice de la odiada dictadura trujillista (prácticamente todo el aparato del estado y la mayor parte de la amorfa burguesía); las posibilidades revolucionarias estaban a la vista.

Los gobernantes imperialistas de EE.UU., desde luego justificaron la invasión de los “marines” con el pretexto de que el levantamiento era una conjura castrista. El FBI presentó su famosa lista de “57 cabecillas comunistas” muchos de los cuales estaban muertos, fuera del país o en la cárcel. En realidad, lo que sucedió fue todo lo contrario. Como señalábamos en ese entonces, “La dirección cubana: y su principal representante, Fidel Castro, no fueron capaces de dar una ayuda eficaz a la sublevación dominicana” (Spartacist, septiembre-octubre de 1966). Este juicio es confirmado por Suárez:

“El 28 de abril los mismos ‘imperialistas’ que estaban bombardeando a Vietnam desembarcaron en Santo Domingo. El destino le estaba dando (a Castro) la oportunidad de enseñarle a los soviéticos y los chinos cómo cumplir con ‘el internacionalismo proletario’. Pero no hizo nada.”

Arquivo Histórico: Aos 45 anos da Revolta de Stonewall

Aos 45 anos da Revolta de Stonewall, publicamos em nosso Arquivo Histórico três artigos que lidam com as questões de liberdade sexual e do combate à opressão de gênero aos LGBTTs desde a perspectiva revolucionária do marxismo. Eles foram escritos pela Liga Espartaquista e por sua sucessora programática, a Tendência Bolchevique Internacional – grupo do qual o Reagrupamento Revolucionário se originou. Boa leitura! 

Os Maoístas e o seu preconceito malicioso (1974)
Feminismo e Histeria Moral (1986)
Apenas o Socialismo Pode Emancipar as Lésbicas e os Gays! (1992)

Uma contribuição à história do trotskismo brasileiro

Dos arquivos do trotskismo brasileiro
O Partido Socialista Revolucionário (PSR)
Por Marcio Leandro Torres, junho de 2014
 
Temos a alegria de adicionar ao nosso Arquivo Histórico um artigo do extinto Partido Socialista Revolucionário (O momento político e a posição do Partido Socialista Revolucionário, de agosto de 1945) e com isso atuarmos no sentido de contribuir com a recuperação de parte da história do trotskismo brasileiro – em grande medida esquecida ou negligenciada pelos grupos atuais que reivindicam nossa tradição.

PSR: encontro de duas gerações revolucionárias

 
O PSR foi fundado em 1939 e existiu até o começo da década de 1950. Durante esses anos, ele foi a seção brasileira da Quarta Internacional. A origem do PSR remonta às primeiras gerações de trotskistas brasileiros, que se organizaram em 1929 (apenas sete anos após a fundação do Partido Comunista do Brasil) com o nome de “Grupo Comunista Lenine” e que posteriormente formariam a Liga Comunista Internacionalista (LCI, seção brasileira da Oposição de Esquerda Internacional).
 
O PC brasileiro, fundado em 1922, era um partido extremamente heterogêneo em seus primeiros anos. Muitos de seus fundadores possuíam origens anarquistas e não só não haviam rompido por completo com tal tradição, como possuíam uma formação muito deficitária (afinal, grande parte das obras de Marx e Engels sequer estava disponível no país). Assim, sua unidade política era frágil (basicamente reduzida à simpatia pela Revolução Bolchevique) e logo alguns anos depois já se expressariam entre alguns de seus quadros dirigentes aspectos da vulgarização stalinista do marxismo, com seu programa etapista. Essa fragilidade inicial do PCB explica, em grande parte, o porquê de ter levado tão pouco tempo para surgir um núcleo trotskista em seu interior, em oposição ao rumo stalinista da direção – sem perdermos de vista, claro, a batalha travada pela Oposição de Esquerda Internacional, que se esforçava nessa época por alcançar as jovens seções da Internacional Comunista e que encontrou em dirigentes como Mario Pedrosa, Lívio Xavier, Fúlvio Abramo, João Pimenta e Aristide Lobo a ponte para ser ouvida entre a militância do PCB.
 
A repressão do regime Vargas contra a vanguarda do movimento operário, entretanto, não poupou os primeiros trotskistas brasileiros. Após alguns anos de trabalho realizado através do GCL e da LCI (1929-1935), essa primeira geração acabou se dispersando a força. Foi então que, em 1936, em uma tentativa de reorganizar as forças trotskistas dispersas pela repressão do Estado, membros da antiga célula do Rio de Janeiro da LCI se reagruparam e fundaram o POL – Partido Operário Leninista. Três anos depois, o POL se fundiu com uma ruptura do PCB originada em 1937 na seção regional de São Paulo e liderada por Hermínio Sacchetta – expulso do partido sob acusações de “trotskismo” e de promover lutas fracionais, ao liderar uma batalha interna contra a política da “Frente Popular” do Comitê Central e da Comintern. Tal ruptura, que contou com adesão de boa parte do Comitê Regional de São Paulo, deu origem à “Dissidência Pró-Reagrupamento da Vanguarda Revolucionária” que progressivamente aderiu aos pontos principais do programa trotskista. Assim, em 1939 foi possível a fusão do grupo de Sacchetta com o POL e sua adesão à recém-fundada Quarta Internacional.
 
Os atritos de Sacchetta com a linha oficial do PCB (ditada diretamente por Moscou) vinham desde meados de 1934 e tinham muito a ver com o trabalho desenvolvido então pelos trotskistas brasileiros. Nesse ano, a LCI impulsionou uma firme campanha em prol de uma Frente Única Antifascista entre as organizações operárias, com o objetivo de derrotar nas ruas a fascista Ação Integralista Brasileira (AIB), que vinha então em um crescente. Na época, o PCB se opunha a conformar uma frente única com qualquer outro grupo, preferindo uma campanha “anti-guerra” politicamente estéril – posição que advinha da orientação ultraesquerdista que a burocracia soviética então seguia (durante o assim chamado “Terceiro Período”), igualando correntes reformistas do movimento operário com o fascismo sob o argumento de que ambas se pautavam pela manutenção do capitalismo (a tese do “social-fascismo”).
 
Entretanto, diferentemente da Alemanha, onde a política criminosa do PC stalinista permitiu a vitória nazista sem nenhuma resistência significativa do proletariado, o fascismo verde e amarelo recebeu uma firme resposta de classe ainda no seu nascimento. Apesar do abstencionismo do PCB, os trotskistas conseguiram promover uma série de comícios e reuniões antifascistas – em especial na cidade de São Paulo. Seu aliado principal nessa luta foi a tendência anarcossindicalista que então dirigia a FOSP (Frente Operária de São Paulo, uma alternativa à federação sindical dirigida pelo PCB – a Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil).
 
Página do “Diário Carioca” contendo o artigo resgatado pelo RR

No dia 7 de outubro de 1934, a Frente Única Antifascista se preparou para sua maior investida contra a ABI: um ataque ao comício organizado na Praça da Sé, onde discursaria o dirigente fascista Plínio Salgado. Compreendendo a importância fundamental da iniciativa, principalmente depois da vitória de Hitler na Alemanha, Sacchetta usou sua posição de dirigente regional do PCB para fazer com que a militância do partido em São Paulo, rompendo com ordens expressas do Comitê Central, engrossasse as fileiras do contra-ato antifascista no último instante. A resistência operária foi heroica. Enquanto colunas de trabalhadores armados de porretes se dirigiram para a praça, cercando o comício fascista, outros tantos militantes se posicionaram nas janelas de algumas sedes de sindicatos localizados em prédios próximos e abriram fogo contra a escória reacionária. No desespero, os fascistas correram para todos os lados, arrancando seus uniformes verdes para que não fossem perseguidos pelos trabalhadores que os atacavam. O evento entrou para as manchetes de jornais e para os anais da história como “A Revoada dos Galinhas Verdes” – mas custou a Sacchetta seu posto de dirigente e seu prestígio entre a liderança do PCB. Certamente, tal evento foi fundamental para seu afastamento do stalinismo e sua progressiva aproximação com o trotskismo – da qual outros companheiros seus fizeram parte, como a conhecida feminista Patrícia Galvão, a “Pagu”.

Dessa forma, a fundação do PSR foi fruto do encontro de duas gerações de revolucionários: uma primeira que remontava à gênese da tradição trotskista no Brasil, construída a partir da luta contra as formulações teóricas do Comitê Central do PCB e da Terceira Internacional stalinista, e que então era representada pelo POL; e uma segunda, liderada por Sacchetta e fruto de um rompimento progressivo de setores da regional de São Paulo do PCB no fim dos anos 1930.

O cenário brasileiro no pós-guerra e o stalinismo
 
No momento em que foi publicado o artigo do PSR que reproduzimos, o país passava por um importante processo político: a completa ruína do “Estado Novo”, um aprofundamento ditatorial da experiência bonapartista instalada em início dos anos 1930, sob a liderança do caudilho latifundiário Getúlio Vargas. Seguindo a política (herdada da recém-dissolvida Comintern) de aliança com os “campos progressivos” da burguesia, desde a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial o PCB vinha dando apoio ao governo – mesmo esse tendo prendido e torturado diversos de seus quadros, incluindo seu Secretário Geral, Luís Carlos Prestes. Com o enfraquecimento da ditadura, o Comitê Central do PCB defendeu a criminosa política de uma transição constitucional que não removesse Vargas do poder, aliando-se ao assim chamado “queremismo” – movimento em prol de uma Assembleia Constituinte com Vargas no poder. Essa política foi duramente criticada pelo PSR no artigo que se segue.
 
Ao criticar a linha do PCB, o artigo do PSR dialoga diretamente com artigos e discursos de Prestes, principal dirigente e figura pública do partido à época. Seu discurso no Estádio Pacaembu (São Paulo), proferido em 15 de julho de 1945, pode ser encontrado transcrito em http://www.marxists.org/portugues/prestes/1945/07/15.htm. Já seu discurso no Estádio São Januário (Rio de Janeiro), proferido em 23 de maio de 1945, pode ser encontrado em http://www.marxists.org/portugues/prestes/1945/05/23.htm. Ambos são citados em determinados momentos do artigo do PSR e são muito reveladores da política defendida então pelos stalinistas brasileiros.
 
Além das duras críticas feitas à política de colaboração de classes do PCB, o artigo em questão possui alguns outros méritos, como uma delimitação e análise das forças políticas de então segundo critérios internacionalistas e de classe, demonstrando a relação das frações da classe dominante com o imperialismo. No plano nacional, veicula uma denúncia classista das forças políticas que se apresentavam então para o pleito eleitoral. O PSR também não poupa críticas à burocracia stalinista em Moscou, corretamente caracterizada como uma degenerescência parasitária que punha em risco a existência do Estado Operário soviético através de sua política de “coexistência pacífica” com o imperialismo.
 
Outra característica interessante do artigo é a firmeza com a qual o PSR trata a questão religiosa, deixando clara a incompatibilidade entre ideologias obscurantistas e o marxismo, ao criticar a perspectiva do PCB de negligenciar essa questão – algo comum em boa parte da esquerda brasileira atual, tendo em vista as dificuldades apresentadas pela existência de uma classe trabalhadora consideravelmente religiosa.
 
Quaisquer que sejam as fraquezas do artigo que possamos detectar em retrospectiva, a adesão do PSR a perspectiva trotskista permitiu a tal grupo manter o quadro geral de uma linha revolucionária frente ao período do pós-guerra. E, conforme tal artigo demonstra tão bem, eles se encontravam em nítido contraste com os stalinistas.
 
A denúncia do PSR da política de colaboração de classes do PCB coloca em cheque o balanço histórico que muitos stalinistas atuais fazem do PCB. Aqueles que imaginam alguma suposta integridade política do partido ao longo de sua história, ao se depararem com as críticas trotskistas feitas tanto pelo PSR quanto por seus predecessores, encontrarão sérias dificuldades em sustentar tal mito.
 
Já uma série de stalinistas “ortodoxos” que se opõem à linha do PC soviético após seu XX Congresso (1956), encarando-o a partir de então como “revisionista”, tentam fugir do fato de que o oportunismo dos partidos comunistas pelo mundo teve sua raiz nas décadas de orientação de Stalin e da burocracia soviética desde meados da década de 1920. Além de não ter representado um rompimento consistente com as práticas burocráticas e colaboracionistas, tais correntes como os maoístas agrupados em torno do jornal “A Nova Democracia”, o atual PCR e alguns elementos isolados do atual PCB buscam jogar toda a culpa pelos erros e traições oportunistas que já não podiam esconder nas costas de alguns funcionários menores, sem jamais reconhecer no “grande organizador de derrotas” (Stalin) e em seus asseclas a causa das políticas criminosas seguidas pelos partidos comunistas oficiais. Para sustentar essa farsa, precisam fazer cambalhotas incríveis.
 
Atualmente os maoístas do jornal “A Nova Democracia”, por exemplo, fazem críticas à política do PCB no pós-guerra que são (inadvertidamente?) muito parecidas com aquelas expressas no artigo do PSR que reproduzimos aqui. Eles condenam o pacifismo do PCB e sua colaboração de classes, por apoiarem Vargas e defenderem uma transição prolongada e pacífica ao socialismo. Entretanto, não só fazem tais críticas muitas décadas depois, a posteriori (enquanto somente os trotskistas combateram esse oportunismo à época), como não são capazes de ligar tais posições ao stalinismo de forma geral, já que permanecem defendendo o legado podre de Stalin. Encaram que estas posições criminosas do PCB teriam sido “desvios browderistas” (Earl Browder foi um dirigente direitista do PC americano que foi feito de bode expiatório), e não teriam nenhuma conexão com as posições defendidas por Stalin e pelo governo soviético no pós-guerra, os quais “A Nova Democracia” segue considerando que eram “revolucionários”:
 
“O balanço superficial de 1935, tomado como um erro de tipo golpista, e a entrada do Brasil na guerra levam a direção do PCB a mudar a caracterização do governo Vargas, passando a considerá-lo um representante da ala ‘progressista’ da burguesia nacional, sendo um aliado da classe operária e cabendo ao partido apoiar setores progressistas no governo através da política de ‘União Nacional’. É de suma importância destacar desde já que esta tese da existência de ‘setores progressistas no governo’, devendo então os revolucionários ‘apoiar tal governo’, é a enfermidade que se tornou crônica no movimento popular e de esquerda no país, manifestando-se quase que como ato contínuo na vida do partido comunista, de suas frações e da ‘esquerda’ brasileira, no período mais recente e dias atuais. A influência do browderismo como reformismo fica evidente quando, com o PCB já na legalidade, Prestes, em seu famoso discurso no estádio de São Januário, no Rio de Janeiro, afirma: ‘Antes da guerra, nós, comunistas, lutávamos contra a democracia burguesa aliada dos senhores feudais mais reacionários e submissa ao capital estrangeiro colonizador, opressor, explorador e imperialista. Hoje, o problema é outro, a democracia burguesa volta-se para a esquerda’.”
 
Vitória sobre o nazi-fascismo, Conferência da Mantiqueira e as ilusões constitucionais. AND n. 82, de outubro de 2011. Disponível em:
 
Ao contrário do que crê “A Nova Democracia”, tais posições tem suas raízes no próprio Stalin e na liderança da Internacional Comunista stalinista, cuja política do “socialismo num só país” e posteriormente da “frente popular” conduziam à contenção da luta de classes em prol de uma unidade com partidos burgueses embelezados como “antifascistas”, “democráticos”, “progressivos”, “nacional-revolucionários” etc. etc. Isso é demonstrado pelo artigo do PSR através do paralelo traçado entre a política do PCB e a de Stalin, que também deu pleno estímulo na época à política traidora dos Partidos Comunistas europeus, como o francês e o italiano, em seu apoio aos fracos governos imperialistas “democráticos” estabelecidos após a derrota do nazismo. Achar que a política do PCB em 1945 estava de alguma forma em desacordo aos desígnios da liderança soviética é uma tentativa de falsificação com o objetivo claro de sustentar o mito de que o revisionismo só teria dominado o movimento comunista após a morte de Stalin. Os burocratas stalinistas sempre se utilizaram da tática de jogar toda a culpa por erros e oportunismos que já não podiam ser escondidos em burocratas locais, para se livrarem da sua responsabilidade, como fizeram com Browder nos EUA. Estamos diante de uma tentativa moderna (a posteriori) de fazer o mesmo.
 
As dificuldades e o fim da trajetória do PSR
 
Apesar do conteúdo correto do programa exposto no artigo do PSR em questão, ainda se sabe pouco a respeito das posições do partido em outras situações, o que impede a realização de um balanço crítico mais completo de sua história nesta nossa modesta contribuição. A maior parte das seções da Quarta Internacional na América Latina à época eram marcada por uma série de fragilidades políticas e organizativas e o PSR não escapou a esses problemas e dificuldades.
 
Existem algumas pistas, por exemplo, que indicam algumas de suas fragilidades já durante a Segunda Guerra Mundial. Mario Pedrosa, veterano trotskista que esteve presente desde a fundação do GCL e se tornou uma importante liderança local e internacional (chegando a ocupar um assento no Comitê Executivo Internacional da Quarta, após representar as seções latino-americanas em seu congresso de fundação), havia se alinhado à fração Burnham-Shachtman em 1940, com sua proposta de abandono da defensa revolucionária da URSS após o pacto Hitler-Stalin. Pedrosa não só tentara influenciar o PSR em torno dessa posição, como parece ter feito o possível para dificultar a comunicação do partido com a Internacional após deixar suas fileiras – momento a partir do qual Sacchetta se tornou seu principal dirigente. Conforme um relatório apresentado na Conferência de Emergência da Quarta Internacional, em 1940, pelo seu Departamento Latino Americano:
 
“O movimento pela Quarta Internacional no Brasil é um dos mais antigos no continente; ele foi organizado em torno de 1930-31. Desde sua formação, ele passou por diversas crises políticas e organizativas. Politicamente, ele tem sido um dos grupos mais ativos; mas devido à sua falta de uma liderança firme e estável, sua vida política assume uma forma desorganizada e se traduz, frequentemente, em crises organizativas. A ‘virada francesa’ [política de ‘entrismo’ em movimentos reformistas em meados dos anos 1930] acarretou em sua completa desorganização e levou um grande tempo para isso ser revertido. No momento, de acordo com as informações disponíveis, o grupo brasileiro apoia a posição dos desertores do SWP [fração Burnham-Shachtman]. Ele se constitui sob o nome de Partido Socialista Revolucionário. De acordo com um informe do Camarada Smith, ele possui cerca de cinquenta membros. Nós não temos relações diretas com eles, devido ao fato de Lebrun [Mario Pedrosa], seu representante, que desertou a Quarta Internacional, continuamente se recusar a nos entregar seu endereço.”
 
Relatório à Conferência de Emergência da Quarta Internacional pelo Departamento Latino-Americano. Aprovado em 19-26 de maio de 1940. Disponível, em inglês, em:
 
Nesse sentido, a mesma Conferência adotou uma declaração desautorizando Pedrosa e outros membros do Comitê Executivo Internacional alinhados a Shachtman a seguirem falando em nome da Quarta Internacional. Esse documento menciona uma carta enviada pelo PSR à maioria do Comitê, no qual o partido reafirma (até segunda ordem) sua centralização frente ao programa da Quarta em relação à defesa da URSS, mas informa da existência de sérias divergências internas quanto à situação – o que demonstra que Pedrosa foi capaz de influenciar parte de seus membros:
 
“É importante mencionar que Lebrun [Mario Pedrosa] e Cia. já não representam absolutamente nada entre as fileiras da Quarta Internacional. (…) A autoridade de Lebrun residia sobre o mandato que lhe foi conferido pelo Congresso Mundial [1938], enquanto representante das seções latino-americanas. Todas as seções latino-americanas, até onde sabemos, se expressaram a favor da manutenção da posição de defesa incondicional [da URSS], isto é, de permanecerem leais às decisões do primeiro congresso mundial e aos princípios da Quarta Internacional. Até mesmo sua própria seção, a brasileira, em uma carta mencionada na declaração [da maioria do Comitê Executivo Internacional], se declarou pronta para continuar defendendo o slogan de defesa incondicional até que uma decisão internacional seja atingida, apesar de existir entre suas fileiras uma forte tendência derrotista. (…)”
 
Declaração Suplementar do Comitê Executivo Internacional. Aprovado em 19-26 de maio de 1940. Disponível, em inglês, em:
 
Os historiadores do movimento operário brasileiro ainda não desenvolveram pesquisas acerca do PSR que sejam tão aprofundadas em termos de informações e documentação quanto as produzidas sobre as organizações que o antecederam – em especial a LCI. Entretanto, sabe-se que ele angariou o apoio de importantes personalidades – como a já citada Pagu, que rompeu com o PCB para se juntar aos trotskistas (sua carta de ruptura pode ser lida em http://www.ler-qi.org/Carta-de-uma-militante) – além de terem passado por suas fileiras algumas figuras que se tornariam intelectuais marxistas de relevo nos anos seguintes – como Florestan Fernandes e Maurício Tragtenberg.
 
Devido à atual insuficiência das informações disponíveis, ainda não se sabe com exatidão o que levou ao seu fim. É certo que o PSR passou por duros momentos de isolamento internacional após a ruptura de Mario Pedrosa, apesar de ter retomado contato no começo dos anos 1950. Em um documento aprovado pelo Terceiro Congresso da Quarta Internacional (1951), “Latin America: Problems and Tasks”, é mencionada a “seção reorganizada” do Brasil. Além das dificuldades em manter comunicações com o Secretariado Internacional após a saída de Pedrosa, o PSR parece ter passado por uma crise sem volta quando da ruptura entre pablistas e anti-pablistas na Quarta Internacional entre 1952-53.
 
Alguns anos depois (por volta de 1956), parte de seus membros, como Sacchetta e Tragtenberg, fundariam a Liga Socialista Independente, organização frequentemente caracterizada por historiadores como “luxemburguista”, da qual também fizeram parte conhecidas figuras, como Paul Singer e Michael Löwy (atual dirigente do Secretariado Unificado). Em 1952, era fundado no país um novo grupo reivindicando-se trotskista – o Partido Operário Revolucionário, sob coordenação de Juan Posadas, então dirigente do Birô Latino Americano da Quarta Internacional. Esse, entretanto, já é outra página da história do trotskismo brasileiro, que teve lugar já sob o manto do revisionismo pablista.
 
Conclusão
 
O artigo do PSR foi originalmente publicado em 1945 sob a epígrafe “A pedidos”, no Diário Carioca – um periódico de grande circulação do Rio de Janeiro e que na época fazia oposição ao governo de Getúlio Vargas. Em suas oficinas, certamente trabalhavam alguns militantes do partido, seguindo a tradição do trotskismo brasileiro de ter forte inserção entre os trabalhadores gráficos e jornalistas. Não podemos saber ao certo, mas é possível que sua publicação tenha sido fruto de pressão da União dos Trabalhadores Gráficos, dirigida pelo PSR tanto no Rio quanto em São Paulo.
 
Ele se encontra na edição número 5.263, de 12 de agosto, sob o título “O momento político e a posição do Partido Socialista Revolucionário”. Sua transcrição e atualização ortográfica foi realizada pelo Reagrupamento Revolucionário a partir de um exemplar disponível no acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Ao que nos parece, tal artigo encontrava-se esquecido, pois não encontramos referências a ele mesmo em pesquisas de historiadores especializados no movimento trotskista brasileiro.
 
Cabe ressaltar que existe uma tradução de tal artigo para o inglês disponível já há alguns anos na Encyclopedia of Trotskyism Online (https://www.marxists.org/history/etol/). Essa versão foi originalmente publicada em abril de 1946 em Fourth International (revista teórica do SWP norte-americano), v. 7, n. 4, sob o título “The Political Situation in Brazil”, com algumas modificações em relação à versão original em português.
 
Sem a pretensão de termos esgotado as questões que cercam a existência do PSR, fica a nossa modesta contribuição à história do movimento operário brasileiro e à memória dos nossos antepassados programáticos, dos quais podemos tirar importantes lições para nossas lutas presentes.
 
ALGUMAS INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
 
ABRAMO, F. e KAREPOVS, D. Na contracorrente da História – Documentos da Liga Comunista Internacionalista (1930-1933). São Paulo: Brasiliense, 1987.
 
ALMEIDA, Miguel Tavares de. “Os trotskistas frente à Aliança Nacional Libertadora e aos levantes militares de 1935” in Cadernos AEL: trotskismo (v. 12, nº. 22/23). Campinas: Unicamp/IFCH/AEL, 2005, p. 83-117.
 
CASTRO, Ricardo Figueiredo de. “Os intelectuais trotskistas nos anos 30” in REIS FILHO, Daniel Aarão (org.). Intelectuais, história e poder (séculos XIX e XX). Rio de Janeiro: 7 letras, 2000, p. 137-152.
 
FERREIRA, Pedro Roberto. “O Brasil dos trotskistas (1930-1960)” in Cadernos AEL: trotskismo (v. 12, nº. 22/23). Campinas: Unicamp/IFCH/AEL, 2005, p. 11-58.
 
NETO, José Castilho M. Solidão Revolucionária – Mário Pedrosa e as origens do trotskismo no Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.

Arquivo Histórico: o pós-guerra e o estalinismo no Brasil

“A pedidos”
O momento político e a posição do Partido Socialista Revolucionário
 
Originalmente publicado no Diário Carioca, n. 5.263, de 12 de agosto de 1945. Para a introdução do Reagrupamento Revolucionário a este documento, leia Dos arquivos do trotskismo brasileiro – O Partido Socialista Revolucionário, de junho de 2014.
 
O povo brasileiro mal começa a afastar as sombras trevosas da longa noite do Estado Novo. Compelida por fatores de ordem interna e, sobretudo, por motivos de ordem internacional, a ditadura aparentemente capitulou. Estão marcadas para 2 de dezembro do ano em curso as eleições presidenciais e para as Câmaras.
Num desentorpecimento moroso, porém progressivo, todas as camadas populares principiam a mobilizar-se para o pleito eleitoral, deixando, contudo, entrever ainda certo desinteresse e ceticismo. O vírus totalitário, inoculado pela camarilha pré-fascista de Getúlio Vargas, não logrou, todavia, eliminar de vez a consciência política das massas populares do Brasil. Dia a dia, afloram para a vida partidária ativa novos setores.
 
O proletariado brasileiro, de tão gloriosas tradições de luta e alvo mais golpeado pela fúria totalitária do getulismo, que o sangrou pela miséria crescente e o paralisou com recursos terroristas e de demagogia social, demonstra – embora ainda confuso sobre o itinerário a empreender – decisão de retomar seu curso histórico interrompido pelo golpe de 10 de novembro [de 1937].
 
As forças políticas em campo
 
Agrupamentos políticos de várias colorações ideológicas, representando interesses econômicos os mais diversos, começam a proliferar por todo o país. Deles, três correntes principais, pelo seu valor quantitativo, ocupam o cenário brasileiro: duas disputam a presidência da República e representações parlamentares e a terceira declara-se, antes de mais nada, pela convocação da Assembleia Nacional Constituinte.
 
Agrupam-se em torno da legenda do Partido Social Democrático, os adeptos francos e aparentes do general Gaspar Dutra, ministro da Guerra, considerado candidato situacionista à presidência da República [ao final, foi Dutra o candidato eleito]. Não obstante a sua heterogeneidade, dado o caráter de nossa economia e a imaturidade histórica da classe burguesa brasileiras, as forças que integram a corrente dutrista representam o que de mais nitidamente reacionário há entre os detentores dos meios de produção no Brasil. Reúnem-se sob a bandeira do P.S.D. o industrialismo e o grande comércio nacional em sua expressão mais acabada (os Sres. Roberto Simonsen, Matarazzo, Euvaldo Lodi, Gastão Vidigal, Brasilio Machado Neto, etc.) – o grupo industrialista de tendências abertamente protecionistas e com ligações mais estreitas com o imperialismo inglês.
 
Aparentemente, todo o aparelho estatal, através das interventorias [modelo implementado por Vargas para controlar os governos estaduais], forma igualmente ao lado do general Gaspar Dutra.
 
Bem mais heterogênea pelo seu conteúdo econômico-social que a primeira facção, a “União Democrática Nacional” constitui um amálgama da burguesia rural (PRP [Partido Republicano Paulista], PRM [Partido Republicano Mineiro], com os Sres. João Sampaio, Julio Prestes, Alberto Whately, Artur Bernardes, etc.), e das classes médias remanescentes do “tenentismo” (como Jurací Magalhães, José Américo, Manuel Rabelo, Virgilio de Melo Franco, Miguel Costa, Eliezer Magalhães, etc.), comércio médio e setores da pequena burguesia urbana de tendências radicais no campo das reformas sociais: União Democrática Socialista, Movimento Libertador, Intelectuais franco-atiradores, etc. – a chamada “esquerda democrática”, de inclinações socializantes. Mal grado a presença “circunstancial” de fortes núcleos de latifundiários, o conteúdo econômico-social desse agrupamento determina e revela, como traço dominante em sua expressão programática, tendência liberal tanto no campo econômica, manifestada pelo não-intervencionismo estatal e pelo livre-cambismo, como no plano político, expressa pela concessão de liberdades públicas e democracia operária (liberdade sindical e direito de greve). Na esfera internacional mantém laços mais chagados com o imperialismo norte-americano, principal consumidor de nossos produtos agro-pecuários e matérias primas – fornecendo, em troca ao Brasil, capitais e produtos mecano-faturados.
 
Extremamente mais complexa que as duas correntes anteriores, apresenta-se a que se poderia denominar “prestista-queremista”. Muito embora esteja bem distante de possuir “unidade orgânica absoluta”, engloba tendências que, com “objetivos próprios”, visam centralmente, por mais que o procurem dissimular, o afastamento das eleições presidenciais. Seus chefes manifestos são Luis Carlos Prestes, líder do stalinismo no Brasil, e o ditador Getúlio Vargas. Se as molas internas da posição de Prestes encontram sua explicação mais em fatores internacionais que nacionais (manobras da diplomacia de Stalin, para conseguir-se governos “amigos”, relações de comércio, etc.), a posição de “apaziguadores” dos dirigentes do Partido Comunista do Brasil, que lutam pela “ordem” e pela solução “pacífica e unitária” da crise brasileira, com a mão estendida a uma imaginária “burguesia progressista”, finca raízes por mais estranho que possa parecer – na mesma base bonapartista da ditadura pré-fascista de Getúlio Vargas. Como até há pouco a ditadura se situava “acima” dos grupos políticos beligerantes para manter a “ordem” e proteger a propriedade, pretendendo desempenhar papel de árbitro, assim, agora, Prestes e seus seguidores ex-comunistas abandonam, totalmente, o campo da luta de classes, em busca de um “desenvolvimento pacífico da humanidade” por eles idealizado – e abandonam, igualmente o internacionalismo, como inútil, em face da “cooperação crescente das grandes potências”. Com sua posição de equidistância das candidaturas e com o seu semi-alheiamento da luta presidencial, reivindicando em primeiro lugar a convocação da Assembleia Constituinte, “com Vargas e comparsas ainda no poder”, Prestes revela o caráter bonapartista de sua política e efetiva “na prática”, um bloco do PCB com os remanescentes do Estado Novo.
 
Não é por mera casualidade que a posição de Prestes hoje se confunde quase inteiramente com o bonapartismo pré-fascista de Getúlio Vargas. A ideologia termidoriana de Stalin, que promoveu a degenerescência do Estado Operário Russo, projeta-se sobre todas as antigas seções da defunta III Internacional. Daí a razão de Prestes levar os ex-comunistas do Brasil, com algumas exceções, a essa posição de nacional reformismo bonapartista, condensada no programa lido em São Januário e preterido, com acentuada nota demagógica, para “todo o povo” de São Paulo no Pacaembu. O bonapartismo prestista, com sua obsessão “anti-golpista” e “apaziguadora”, recorre ao mesmo arsenal da demagogia social de que lançou mão Getúlio para justificar o golpe de 1937, visando defender a dominação de classe da burguesia contra a agitação eleitoral de seus próprios partidos políticos. Se, com essa posição, leva água ao moinho da ditadura que, como aparelho estatal, tudo tentará fazer para sobreviver, é verdade, também, que Prestes tem objetivos próprios nacionais-reformistas, que procura realizar com a participação de sua tendência “num governo de confiança nacional”. Na órbita externa esse governo atenderia às aspirações de sobrevivência da casta burocrática que domina a Rússia, hoje em acentuada regressão nacionalista, promovida pelos senhores do Kremlin.
 
As razões porque, não obstante essa criminosa política de colaboração de classes, o PC do Brasil vem conquistando certo prestígio de massas, residem no profundo atraso político de certos setores do proletariado brasileiro, entravado em sua formação ideológica nestes últimos quinze anos, pela linha nefasta da defunta III Internacional e pela demagogia totalitária do Estado Novo; de outra parte porque mais do que comunismo, as camadas pequeno-burguesas e largos setores “plebeus” vêem em Prestes o radicalismo democrático do antigo prestismo da Coluna [Prestes-Maia, principal destacamento do ‘tenentismo”], que se confunde com suas limitadas aspirações de hoje.
 
Pouco difere a base de massas do “queremismo” [setor que defendia a permanência de Vargas na Presidência] da de Prestes. Com exclusão do setor do prestismo que acompanha Prestes por nele entender estar o símbolo do comunismo, trabalhadores e intelectuais que antes da libertação do chefe do PC do B. seguiam Getúlio Vargas com o apoio dissimulado que hoje os stalinistas emprestam ao “queremismo”, se integram praticamente numa só corrente “prestista-queremista”, que pode desaguar num “golpe branco”, tomando a forma de “governo de confiança nacional”.
 
Os discursos – plataforma de Prestes
 
Mesmo ao mais bisonho dos marxistas, àquele cujo conhecimento da doutrina de Marx e Engels não vai, ainda, além do “ABC do Comunismo”, as teses defendidas por Prestes em seus discursos devem ter soado como as teorias de Paracelso a um discípulo de Saddy ou Ashton.
 
Seria ultrajante aos próprios “socialistas humanitários” do século XVIII estabelecer-se um paralelo analógico entre suas ideias e as do “líder nacional”.
 
O falso radicalismo pequeno-burguês do chefe do P.C.B. não consegue sequer mascarar o abandono total do marxismo pelo antigo capitão da “Coluna Prestes”. As fontes de sua linha geral são visíveis. A orientação “tático-estratégica” do P.C.B. emana da afirmativa de Stalin de que “terminou o período de guerra, e começou o período do desenvolvimento (!) pacífico”. Essa constatação do mágico do Kremlin bastou para que seus satélites no mundo todo se apressassem em lançar ao desvão das coisas imprestáveis até mesmo a fraseologia pseudorrevolucionária.

Para Prestes, a crise brasileira só encontrará solução justa através de uma União Nacional pela “colaboração sincera (!) e leal (!) de todos os verdadeiros (!) patriotas, sem distinção de categoria social, ideologias políticas e credos religiosos”. E, agora a justificação “teórica”, pela natureza dos problemas brasileiros que “são problemas da revolução democrático-burguesa”: a solução desses problemas “interessa, sem dúvida, ao proletariado, que em países como o nosso sofre muito menos da exploração capitalista do que da insuficiência do desenvolvimento capitalista.” A extensão dessas ideias de colaboração de classes ao domínio internacional, leva o orador de Pacaembu a dividir o capital financeiro, isto é, o imperialismo, em colonizador e benéfico. Torna-se evidente, pois, que com tal ordem de ideias, que nem mesmo encontram amparo nos mais servis reformistas da II Internacional, o Sr. Luiz Carlos Prestes se atole no pântano da colaboração com a ditadura, a qual dá “apoio franco, aberto e decidido” na sua “marcha para a democracia e enquanto assim proceder”, porque a “prática verdadeira (!) e sincera (!) da democracia é coisa das mais necessárias em nossas terras”.
 
Dos arroubos líricos de Prestes sobre União Nacional, verdadeira democracia, capital estrangeiro benéfico, partido comunista de todos (céticos, agnósticos, ateus, católicos, etc.), o proletariado consciente, formado na escola do marxismo, só pode ser levado a uma conclusão: o chefe do P.C.B., mais do que um revisionista da teoria revolucionária de Marx, Engels, Lenin e Trotsky, é um renegado do socialismo. Não cabe aqui justificar com textos dos mestres do socialismo científico o que afirmamos. Basta para isso a simples leitura do “Manifesto Comunista” de 1848, ou então do “Imperialismo, última etapa do capitalismo” e “O Estado e a Revolução” de Lenin.
 
O idólatra da “ordem” e da “solução efetiva, sem maiores choques e atritos, dos graves problemas econômicos e sociais da hora que atravessamos” finge ignorar que na sociedade capitalista a “ordem” sempre significa a submissão do proletariado à classe dominante e que as soluções “sem maiores choques e atritos não podem deixar de ser senão as soluções impostas pelos detentores das fábricas e das terras aos seus escravos assalariados. Suas declarações místicas em torno da democracia nada tem a ver com o conceito marxista desse regime, em que a “escravidão assalariada é o quinhão do povo”.
 
Prestes ignora, ou finge ignorar, que os leninistas, sempre que lutam pela república democrática, o fazem apenas porque nela veem a melhor forma de governo sob o sistema capitalista, sem perder de vistas que esse regime é o que mais meios proporciona ao proletariado para este atingir o socialismo, e que jamais constitui para a classe avançada um fim em si.
 
A União Nacional “de todos os verdadeiros (!) patriotas sem distinção de categoria social, ideologias políticas e credos religiosos”, preconizada pelo “caudilho”, é a hipertrofia colaboracionista de tática de Frente Popular, de tão trágicas consequências para o proletariado espanhol e francês. Mais do que a Frente Popular, a União Nacional apaga de vez as delimitações de classes no Estado burguês, o que quer dizer, subordina sem restrições o proletariado ao aparelho burocrático-policial da dominação capitalista. União Nacional implica abandono da luta de classe, que redunda, na prática, na entrega dos trabalhadores de punhos e pés atados aos donos das fábricas e das terras.
 
O apelo aos “verdadeiros patriotas” feito pelo “guia” dos stalinistas, não pode ser dirigido às massas operárias urbanas e rurais. Só quando o proletariado se apodera do Estado é que passa a ter uma pátria a defender. Surge nele, então, o sentimento de patriotismo revolucionário, que não deve ser confundido com o nacionalismo chauvinista da burocracia soviética. Por ora, pertencem às classes dominantes os “verdadeiros patriotas” do Brasil.
 
O Partido Comunista apresenta-se hoje como partido de “todos”. Nisso, também, o pensamento de Prestes não se eleva um milímetro de um vulgar “populismo”, agravado pelo caráter da época em que ressurge. Igualmente, a esse respeito, de nada valem ao líder do P.C. os ensinamentos do leninismo sobre a natureza do “partido do proletariado” – organização rigorosamente da classe operária, estruturada por uma ideologia materialista e ateia. Como não podia deixar de ser, a mentalidade pequeno-burguesa e colaboracionista do chefe projeta-se no plano organizatório, plasmando uma contrafação de partido comunista, que se esboroaria ao primeiro choque decisivo que viesse a travar com a burguesia.
 
Não é de outro teor a consistência das ideias econômicas de Prestes, na “política prática”. Quando não contorna as questões que mais afligem o proletariado, como a carestia da vida, o pauperismo, as condições de trabalho, indicando “soluções” genéricas que não podem ser entendidas pelas massas trabalhadoras, ou se abre em desbragada demagogia nociva à classe operária, ou descamba para fórmulas primárias, rejeitadas como inócuas até pelos economistas burgueses.
 
Desconhecendo ou fingindo desconhecer a lei do desenvolvimento desigual do capitalismo na esfera nacional e internacional para afagar a sua idealizada burguesia “progressista” industrial, poupa esta voraz devoradora de “lucros extraordinários”, desfechando o furor de sua crítica sobre os latifundiários. Sem dúvida, está no primeiro plano das transformações radicais porque deve passar o Brasil a questão da distribuição das terras. Porém, não nos moldes indicados pelo “chefe nacional”. Se a experiência revolucionária mostra que em determinadas condições o problema agrário pode e deve ser apresentado no plano da “legalidade burguesa”, isto não significa que deva ser desfigurado, por contingências de adaptação ao Estado capitalista em seus objetivos finais: “a revolução agrária”. Se não se pretende disseminar confusão na mente das massas trabalhadoras rurais, deve-se, dentro dos quadros do regime burguês, desfraldar a reivindicação de confisco das propriedades territoriais que passem de certa extensão, variável segundo as regiões.
 
Ainda assim, a expropriação, sem indenização, das grandes glebas, não pode apresentar-se desvinculada de outras medidas de caráter revolucionário como o controle operário da produção.
 
Reivindicações dessa ordem não são, porém, lançadas arbitrariamente. Impõem-se condicionadas por determinada conjuntura econômico-política, quando a relação das forças sociais começa a manifestar-se favorável ao proletariado.
 
No entanto, o obsessivo menchevismo nacional-reformista de Prestes o leva a reduzir a questão agrária brasileira ao problema da criação de “mercados internos”, para o desenvolvimento da sua idealizada burguesia “progressista”… Desprezando as fecundas experiências das lutas camponesas da história, e, impelido por seu entranhado oportunismo, o lendário capitão apresenta, para um dos mais vitais problemas brasileiros, uma solução utópica e reacionária.
 
As vociferações de Prestes contra os “trotskistas”
 
A doutrina de Prestes nada tem, pois, de comum com o marxismo leninismo. As consequências de sua renúncia teriam efeitos bem menos nocivos se o famoso capitão o confessasse de público. Não o faz, porém. E, assim, se torna um mistificador do proletariado.
 
Para mascarar a capitulação diante da burguesia, e o jogo combinado que trava com a ditadura, o líder stalinista cobre de insultos todos quantos lhe denunciam o oportunismo. Os marxistas revolucionários, que qualificam com o termo próprio a política colaboracionista do P.C.B: Traição. E os intelectuais de esquerda e a oposição “liberal”, que lhe exprobram o apoio ao ditador Getúlio Vargas e ao Estado Novo.
 
O orador da “festa” do Pacaembu, com a imprudência do mentiroso consciente, envolve sob o mesmo rótulo de trotskistas os socialistas revolucionários – discípulos de Lenin e Trotsky – e a esquerda da pequena burguesia, que nada tem de comum com o marxismo. E as críticas às suas palavras, “ordeiras e seguras”, às suas posições falsas, que deram novo alento à ditadura, o “caudilho” as chama de “provocações a serviço do fascismo”. A “canalha trotskista”, para esse “Füher” semicolonial, não são unicamente os marxistas da mesma escola de Lenin e Trotsky, que, fiéis à teoria dos chefes do bolchevismo, não procuram ludibriar o proletariado com colaboração de classes e patriotismo pequeno-burguês; que apontam às massas populares o caminho da luta sem quartel contra a ditadura getuliana e todas as demais formas de despotismo; que não veem na burguesia brasileira nenhuma fração “democrático-progressista”; que não dissimulam seu objetivo final, o comunismo, através da ditadura do proletariado, apoiado no semiproletariado rural e no campesinato pobre, e que declaram abertamente, sem rebuços, que só pela via da luta de classes e de internacionalismo o proletariado poderá minorar esta miséria presente e, quando as condições econômico-politico-sociais o permitirem, libertar-se definitivamente dos grilhões da escravidão capitalista. Para Prestes, a “canalha trotskista” abrange, igualmente, os intelectuais da pequena burguesia socialista que, embora anti-trotskista, lutam honestamente contra o ditador Vargas e seus comparsas e por uma democracia formal.
 
Lançando num mesmo saco marxistas revolucionários – que se orgulham de ter tido em suas fileiras um militante proletário da envergadura de Leon Trotsky, cujo papel histórico e ensinamentos marxistas as vociferações caluniosas jamais lograrão destruir – e pequenos burgueses radicais ou liberais oposicionistas, dedicados a desmantelar a ditadura burocrático-policial do usurpador do [Palácio do] Catete, o chefe do P.C.B. visa atemorizar a estes últimos, forçando-os a silenciar a crítica a seu oportunismo desastroso. Nisso, também, Prestes se utiliza dos métodos de seu “aliado” de hoje que, até há pouco, chamava de comunistas a quantos ousassem se opor à totalização do Brasil.
 
Berre, pois, o Sr. Luiz Carlos Prestes, contra os “trotskistas”, que a ditadura e a burguesia em conjunto se alegrarão.
 
A posição dos socialistas revolucionários
 
Os marxistas revolucionários rejeitam como falsa e de traição deliberada a perspectiva do “desenvolvimento pacífico” da sociedade, iniciado, seguindo Prestes e seu mestre, com a derrota militar do fascismo.
 
Aos ex-comunistas de defunta III Internacional com seus Stalin, Togliatti, Browder, Galagher e consortes, coube, desta vez, ao fim de uma segunda chacina imperialista, descobrir o processo de “adaptação do capitalismo” que os Bernstein, Briand, Millerand, e companhia anunciaram quando se encerrou a matança de 1914-18.
 
Os reformistas de nossos dias, em sua volúpia “apaziguadora”, estão se precipitando. A destruição dos bandidos nazi-fascistas não só, nem remotamente, tem algo que ver com a abolição dos antagonismos entre o proletariado e a burguesia, como em nada reduzirá as contradições de interesses entre os vários grupos imperialistas.
 
Que não se deixe iludir a classe operária, com a vitória dos trabalhistas ingleses [Labour Party] ou com a participação dos comunistas de “fachada” nos governos burgueses de coalizão. A burguesia sabe defender-se. Ela concede com a mão esquerda o que pretende tomar, em dobro, com a direita. A participação dos falsos esquerdistas no poder é o “consolo” dado pelo capitalismo ao proletariado e às massas populares, que saem mais miseráveis do que nunca desta guerra. É, também, o recurso de que se servem as classes dominantes, a fim de evitar “explosões” revolucionárias.
 
Os reformistas da defunta III Internacional, em sua ânsia conservadora, de “soluções pacificas e unitárias”, se antecipam, com suas teses de “desenvolvimento pacífico”, a uma pouco provável nova estabilização relativa do sistema capitalista. Mas, com seu descarado e cínico oportunismo, “de fato, para ela concorrem”. Pregam a “paz social”. Sufocam os movimentos grevistas e insurrecionais. Promovem ou endossam todos os novos acordos imperialistas.
 
Esses valetes do capitalismo, representados no Brasil por Prestes, poderão desempenhar, provisoriamente, como já sucedeu em outras situações históricas, o papel de médico-de-cabeceira do moribundo. Contudo, o efeito de sua terapêutica é precário. Porque o doente agonizante não tem mais salvação.
 
As duras e terríveis derrotas impostas ao proletariado mundial pelas classes dominantes, nestes últimos vintes anos, “em consequência das traições de sua antiga vanguarda – a III Internacional”, não podem deixar de fazer sentir suas consequências nos dias presentes. Mas, em virtude de sua própria missão histórica, o proletariado tem limitadas possibilidades de recuperação.
 
Com esta guerra, a burguesia mundial não deu solução a um só de seus problemas, ao contrário, agravou-os extremamente. As massas populares europeias, empobrecidas ou esfomeadas, já se defrontam com o inverno, em condições da economia do Velho Mundo mortalmente desorganizada. As reações anti-capitalistas da classe operária, agora ainda inseguras e confusas, poderão assumir, sob a direção da nova vanguarda que se cristaliza – a “IV Internacional” – proporções tais, que autorizem o inicio de novo ciclo de revoluções proletárias pela instauração do “Socialismo”.
 
Contudo, se sólidas perspectivas há nesse rumo, as massas trabalhadoras e sua legítima vanguarda – os marxistas revolucionários – ainda se encontram distantes dele.
 
No Brasil, é hora de batalhas defensivas de retaguarda, “contra a miséria crescente e pela democracia operária”.
 
No curso de escaramuças de classe pela “reconquista e fortalecimento dos sindicatos”, hora sob controle de uma burocracia corrupta a serviço do Ministério do Trabalho e da polícia; de arremetidas por aumento de salário mínimo, como base, e por uma escala móvel dos salários; por melhores condições de trabalho, pela constituição e direito de existência legal dos “Comitês de fábricas, fazendas e quartéis”; pela organização e manutenção de seus “partidos” e “jornais proletários”, a classe operária readquirirá e ampliará a confiança em suas próprias forças, desenvolverá sua consciência de classe, delimitando, com rigor e precisão, seu próprio campo e o de seus inimigos.
 
Esse plano de lutas parciais, posto em execução, rearticulará as forças operárias, unificará suas fileiras, forjará o exército do trabalho para as “batalhas decisivas da vanguarda”, contra o “Capitalismo” e pelo “Socialismo”.
 
O proletariado não deve deixar-se envolver pela embriaguez eleitoral. O voto, que, para os reformistas e oportunistas de quaisquer colorações, constitui a panaceia para todos os males sociais, para a classe operária não passa de um instrumento acessório de luta política. Pode e “deve” ser utilizado como recurso auxiliar, particularmente na conjuntura econômico-política em que se encontra o Brasil. Mas deve ser exercido como outra “afirmação” de consciência de classe.
 
As sereias eleitoreiras de todos os agrupamentos se voltarão agora, com redobrada hipocrisia e novas e sedutoras promessas, para as massas populares, requestando-lhes os votos.
 
Pusemos à mostra o conteúdo político, econômico e social das três mais poderosas correntes que se apresentam, “legalmente” para disputa das urnas:
 
O “Partido Social Democrático”, utlrarreacionário, efetivamente continuador legal do Estado Novo, e aglutinador do que há de mais conscientemente contrarrevolucionário do fascismo e semi-fascimo brasileiros, até às oligarquias do passado.
 
A “União Democrática Nacional”, popularizando as oposições liberais, em conjunto “conservadora”, com tinturas democráticas, que lhe são emprestadas pela “ala esquerda” formada pelo radicalismo pequeno-burguês.
 
O “prestismo-queremismo”, de composição mais popular pelo predomínio nele do Partido Comunista do Brasil, que especula com os anseios socialistas do proletariado, mas que, “na prática”, se situa mais “à direita” que as oposições burguesas, prestando-se ao jogo da ditadura em seus esforços de sobrevivência, quer por um possível “golpe branco”, quer pela indicação não menos possível do nome do ditador às eleições presidenciais.
 
Esse quadro político é, ainda, passível de recomposição. Representa, porém, em suas linhas gerais, as tendências dominantes da situação brasileira.
 
Nenhuma destas candidaturas à presidência da Republica, pelas suas origens de classe e pelas forças sociais que as plasmaram, deve merecer a confiança do proletariado urbano e rural, do campesinato semiproletário e pobre. Mais do que o pleito presidencial, que não obstante, “pode” constituir uma etapa, o que interessa ao povo brasileiro, “em seu conjunto”, é a convocação de uma “Assembleia Constituinte”, eleita por sufrágio universal, direto e secreto.
 
Nenhuma fé supersticiosa nutrimos pelas “virtudes” das eleições burguesas, como, também, quase nada pode esperar o proletariado de parlamentos constituídos dentro dos quadros do Estado Capitalista. Todavia enquanto as relações das forças sociais se mostrarem desfavoráveis às massas operárias, não lhes é permitido substituir, no poder a burguesia historicamente já falida, desta deve arrancar a maior soma de liberdades democráticas, a fim de se organizar livremente e se educar revolucionariamente. É só nesse sentido que lutamos por eleições livres, e por uma Assembleia Nacional Constituinte, em que a voz do proletariado de vanguarda possa se fazer ouvir.
 
Frente única da ação
 
Em sua luta pela conquista de “democracia operária” (liberdade de associação sindical e partidária, liberdade de imprensa para os trabalhadores, etc.) o “Partido Socialista Revolucionário” declara-se disposto a marchar em frente única com todas as forças democráticas e socialistas do campo pequeno-burguês, bem como, “através de atos concretos”, com a oposição liberal voltada “agora” contra o Estado Novo, principal inimigo, na presente etapa da democracia proletária, por que os marxistas revolucionários lutam dentro do regime burguês.
 
Essa frente única “dinâmica de ação”, não implica no compromisso de renunciarem os socialistas revolucionários à sua autonomia organizatória e à crítica de ideologia de seus aliados “circunstanciais” e deve manifestar-se, desde já, em atos concretos pela conquista das aspirações mais sentidas pelas massas populares. No plano eleitoral, pode atingir a forma de um acordo técnico, para conjugação de forças socialistas e radicais, sob uma legenda comum.
 
Os socialistas revolucionários declaram-se dispostos a lutar, ombro a ombro, com quantos o estejam “efetivamente” também, contra as manobras ditatoriais visando impedir as eleições, o que, “de fato”,  redundaria na restauração das formas terroristas do governo com que o Estado Novo se sustentou até princípios de 1945.
 
Reivindicações imediatas
 
Entendemos que, como “objetivos imediatos”, o proletariado e as massas populares têm à sua frente as seguintes tarefas:
 
1º) Derrubada do Estado Novo e consequente abolição da “Constituição” de 1937, com todos os seus apêndices. Convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, eleita por sufrágio universal, direto e secreto, extensivo a todos os maiores de 18 anos, aos praças e aos analfabetos.
 
2º) Liberdade de associação político-partidária sindical e cultural; liberdade de imprensa. Reconhecimento de existência legal dos organismos de locais de trabalho (comitês, grupos sindicais, seções partidárias, etc.).
 
3º) Irrestrito direito de greve.
 
4º) Elevação dos salários mínimos em 50% com a incorporação do abono e adoção da escala móvel de salários em correlação aos artigos de consumo. O salário, com o mínimo estritamente assegurado, segue, assim, o movimento dos preços.
 
5º) Supressão do Tribunal de Segurança e dissolução das polícias políticas e especiais.
 
6º) Escala móvel de horas de trabalho, “sem redução dos salários de oito horas”, tendo em vista as perspectivas de desemprego em futuro próximo. Seguro contra o desemprego.
 
7º) Melhora da legislação trabalhista e consequente revogação de todas as leis fascistas nesse domínio. Extensão de legislação trabalhista aos trabalhadores rurais.
 
8º) Melhora das pensões e aposentadorias, assegurando-se aos aposentados e beneficiários o recebimento integral dos salários, que devem acompanhar o movimento da escala móvel. Unificação dos Institutos e Caixas [previdenciários] e entrega da direção aos trabalhadores.
 
9º) Abolição dos impostos indiretos e confiscação dos lucros extraordinários, como uma das formas de luta “efetiva” contra a crescente carestia da vida.
 
A tarefa estratégica dos socialistas revolucionários não consiste em reformar o capitalismo, mas em suprimi-lo. Torna-se evidente, pois, que as reivindicações acima capituladas não constituem nosso “programa de transição”, já dado a público, e muito menos nosso programa máximo. Representam um corpo de aspirações “mínimas” e imediatas do proletariado e das massas populares, para cuja conquista no todo ou em parte o P.S.R. chama a classe operária à luta e as organizações socialistas e populares “à frente única de ação”.
 
Todo movimento reivindicatório ativo, na hora que passa, transforma-se em golpes acertados contra a ditadura e seus sustentáculos.
 
Tanto mais asseguradas estarão as eleições quanto mais o proletariado e as demais camadas do povo nelas interessadas se mobilizarem em ações concretas contra o Estado Novo e pelos seus interesses mais imperiosos.
 
Rio de Janeiro, julho de 1945.
 
O Comitê Central do Partido Socialista Revolucionário.

(Seção Brasileira da Quarta Internacional)

Portugal: the crisis and the left

An eyewitness report

Portugal: the crisis and the left

Marcio Torres, September 2014.

An appeal for help translating articles: this article was translated to English by non-native speakers and we apologize for any misspelling and other errors it may contain. Revolutionary Regroupment has an internationalist perspective of growing around the globe and we want to make more of our political literature available in English and other languages. If you want to help us in this internationalist goal by translating our articles or providing support to improve our translations, please contact us at reagrupamento.revolucionario@gmail.com Thank you!

Introduction: one of our members visited Portugal in September 2014 and wrote an internal report about the crisis in the country and also the Portuguese left. We decided to publish a slightly edited version adapted to the public.

[The Crisis]

Portugal was one of the European countries that was most affected by the first years of the world’s capitalist crisis. At first, the Portuguese government, which is led by a coalition of the [bourgeois parties] PSD [Social Democratic Party] and CDS-PP [Popular Party] spent almost all of the country’s savings to bail out the big private banks, creating an enormous debt. The bourgeois state gave the money extracted mainly from the working class families to bank owners. Now, while the bourgeoisie is doing better, the workers are facing several attacks on their living standards, as the government tries to solve its debt by cutting the budget on public services like education and health care, laying-off public workers, changing the rules of Social Security to reduce payments and require more working time before retirement etc. All this is known as “austerity package” and is imposed by the so-called “Troika” (the European Central Bank, the European Commission and the International Monetary Fund). To sum-up, the Portuguese masses are going through the second stage of the capitalists’ plan to deal with the “socialization” of the crisis. Some big capitalists were saved by the state and then used this money to buy the assets of capitalists who weren’t bailed out and went bankrupt, increasing the concentration of capital that had led to the crisis in the first place.

One of the most serious consequences of the crisis on workers’ lives is the insufficiency of their salary. With a 585 Euros national minimum wage (on which 15.2% of the population depend, according to a recent document from the Economy Ministry), the Portuguese have to face high prices for manufactured goods (most of them imported from large imperialist centers) and even food. In Lisbon, for example, it is hard to find a good meal for less than 5 Euros, which makes really prohibitive for the average worker to eat outside home, since in a month it would cost more than half the minimum wage (280 Euros). This obviously leads to an intensification of the domestic slavery which women are submitted to.

Other consequences of the crisis are easily noticeable by taking a look at any newspaper. With the beginning of the school year, the main topic on the news for the last weeks has been the crisis of the educational system. The September 9 issue of Metro announced a huge mass migration from private schools to the public ones, due the impossible situation faced by many parents and which makes it difficult to pay for the high tuition. Although the government officers claim the existence of a comfortable 10 students per teacher ratio in public schools, the national teacher’s union claims that this is false data and that teachers in public schools are facing an overload of work (compared to the previous standards), aggravated by the fact that teachers have to do many bureaucratic tasks that take a great part of their time.

Obviously, the deterioration of working conditions is not affecting only teachers and education workers. To raise one more example, many private companies have been assigning young trainees to do the job of a regular worker – which is very profitable for the bosses, since the trainees’ scholarships are paid by the state and that the former have not even the most basic labor rights. If they protest, they will obviously lose their jobs, which is a fearsome scenario for a youth which has been defining itself as the “precariada[precarious]. This word became popular in the several struggles of the unemployed that sprouted during the last few years.

Another hot topic during the first weeks of September was the situation of the “New Bank”. It was created as a state-owned company after one of the biggest Portuguese financial groups, the “Grupo Espírito Santo”, and its bank went bankrupt and its main assets were bought by the state. After using public funds to save the owners of the Grupo Espírito Santo, the government is now talking about privatizing the New Bank. This means that, after the government spent a huge sum of money to clean up the mess of the profit-hunger CEO’s and increased the public debt by doing so, the bank will be put again in the hands of those parasites – and will most probably be sold at a very a low price.

All these issues have been going on since 2009. The recent political upheavals that took place in Portugal as a protest to this situation, with massive street demos and several general strikes, still echoes in the streets of Lisbon. One can easily see stencils of radical slogans throughout the city, as well as big placards of different left groups, which call a lot of attention on the urban landscape.

The once Stalinist and now simply reformist Portuguese CP (PCP) recently ink-sprayed the entrance of the subway stations, demanding an “End with the massacre in Palestine”. Many of their placards can also be seen in different neighborhoods, announcing the big fest held in the beginning of the month by their publishing branch, Avante, which gathered many progressive artists. The much smaller Bloco de Esquerda [Left Bloc, BE] is an NPA-like multitendency party created in 1999 after the dissolution of USec‘s [United Secretariat of the Fourth International] Portuguese section. They periodically distribute their free bulletin at bus stops and subway stations. The recent issues of that bulletin are mainly dedicated to debating the ongoing effects of the austerity politics imposed by the EU, which were gladly accepted by conservative Portuguese parties. It is also easy to spot placards of the small Morenoite MAS [Socialist Alternative Movement, associated with late Nahuel Moreno], the Portuguese section of the [International Workers League] LIT-CI, which recently split from the Bloco de Esquerda. The posters by the MAS were mainly devoted to their candidate, who participated in the recent elections to the European Parliament, and whose main slogan was “No to the Euro”. Another group that had a variety of placards on the streets of Lisbon against the Euro and that were also announcing a “labor rally” which was held in mid-September was the Maoist PCTP [Portuguese Workers’ Communist Party], which is famous for their elaborated paintings on street walls.

Despite the variety of left groups, the Socialist Party (PS) is the one which has grown the most due to the popular dissatisfaction with the austerity policies. It’s easy to see Socialist MP’s on TV news and taking part in debate shows confronting the PSD and CDS-PP Government Ministers with a somewhat radical rhetoric. This “radical” character, though, is indeed limited to their speeches. The PS is a party with a somewhat mass influence, but its program is thoroughly bourgeois. It is a tool to maintain the workers within the rotten boundaries of capitalism and prevent any working class alternative to the austerity package imposed by the EU.

[The Left]

It is noteworthy that among the mentioned left groups, none presents a revolutionary solution to the workers’ problems. The PCP, although very big, is historically a class collaborationist group, responsible for several betrayals and which has presided over various provisional governments after the fall of the Portuguese dictatorship back in the 1970s. They had no problems in governing with the bourgeoisie. In their huge outdoors spread around Lisbon the CP proudly presents itself as a “patriotic” party as a way to profit from the dissatisfaction with the EU in the easiest possible way.

The Maoists, whose historical leader and founder left the group in the 1980s claiming that there was no more point for parties and unions and that the left was “pure shit” (but is still invited for the party’s rallies and public activities), despite their supposed “revolutionary orthodoxy”, claim the same rotten heritage of Stalinism, which should never be forgiven for betraying several revolutionary situations with their treacherous Popular Fronts. Following the Maoist guide book of class collaboration, the PCTP demands a “democratic and patriotic government” as a solution to the crisis, and raises the slogan for the “return of the Escudo” [Portugal’s currency before Euro].

Apart from the CP, the Bloco de Esquerda is the group that draws more attention at the moment. But its politics are very moderate, specially now that some left-wing tendencies left the bloc: the Morenoite “Ruptura/FER”, which formed the MAS, and the small “Socialismo Revolucionário”, associated with [Peter Taaffe’s] CWI. Now, the reformist majority is practically unopposed. This majority has its origins in the dissolution of the Mandelite PSR [Partido Socialista Revolucionário] in 1999, which created the BE [in a fusion with a then Maoist group and a group of former CP members]. The BE is hardly “Trotskyist” in any sense, not even in a purely formal one. Even the Mandelite grouping formally dissolved and those who want to be closely associated with the USec [in Portugal] have to apply for membership as individuals.

Although it has some union work and organizes some social sectors, the BE is too focused on electoral politics. On a June 2014 bulletin, a “Letter to the Left”, signed by its two national coordinators, expressed a huge disappointment with the results obtained by the entire left on the recent European Elections, assigning to that process a disproportional weight if compared to the little importance the Portuguese masses gave to it, expressed in an abstention of around 60%. The BE’s parliamentary cretinism is so deep that the bloc dropped historical demands of the radical left in order to gain “credibility”. In its most recent bulletin (September/October 2014), instead of demanding the canceling of the Portuguese international debt, which is an instrument of dependence imposed by imperialist powers, the BE demands only an “immediate restructuring of the debt” (that is, to make sure Portugal pays only a “fair” tax to its international creditors). Also, in face of the low national minimum wage, instead of putting forward a struggle for a minimum wage sufficient to put-up with the needs of a working class family, with further increases according to the elevation of prices, the BE merely proposes a 60 Euros raise.  Plus, in some of their placards spread around Lisbon, the BE demands “Down with the government – Respect the Constitution”. One could ask if those who disrespect anti-labor and anti-protest laws should also be called upon to “respect” the bourgeois law in the Constitution.

Left groups’ placards on a Lisbon square (click to enlarge). From left to right: “DOWN WITH THE EURO! Down with the Coelho/Portas national-betrayal government! Back with the Escudo! Hail the democratic and patriotic unity government!” (PCTP); “Jobs, rights, sovereignty. For left wing and patriotic politics! The people’s strength for a Portugal with future.” (PCP); “Save the education and defend the health care – tax the fortunes” (Bloco de Esquerda).

Claiming to represent “a new left alternative” against the insufficiency of the other groups, the Morenoite MAS [Socialist Alternative Movement] split from the BE in 2012. But there’s nothing “new” about it, since before joining the BE as the “Ruptura/FER” tendency, they already existed since the middle 1970s as the PRT [Partido Revolucionário dos Trabalhadores], which participated in the CIA-backed demos led by the PS [Socialist Party] against the PCP/MFA provisional governments – a position which they rapidly swapped for a characterization of the MFA as a proto-soviet formation and of the government as “Kerenskyite” (according to Moreno’s revisionist “democratic revolution” terminology) [see Moreno’s Left Face, written by the then revolutionary Spartacist League and republished in Moreno’s Truth Kit]. Also, the [immediate reason for the] Morenoites’ split from the BE was from the right, confirming that they indeed have nothing new to offer. Instead of being a left-wing split away from the BE‘s parliamentary cretinism, the reason for the 2012 split was that the Morenoites opposed the BE being against entering a government with the reformist and proudly “patriotic” PCP! [See the 2012 statement by the MAS Executive Committee]. What can we say of these “Trotskyists” who propose electoral lash-ups with the formerly Stalinist reformists [to run the bourgeois state]!? According to the tiny CWI group in Portugal, the MAS recent campaign in the European Elections was entirely centered around the slogansNo to the Euro”, “Jail those who ruined the country”, “End the politicians’ privileges” and “600 Euro national minimum wage now”, without even a mention to the necessity of a revolution to smash capitalism – an absence which is reflected in their street placards [see the CWI polemic].

Something worth mentioning is the absence of powerful youth struggles among the Portuguese left – with the important exception of the city of Coimbra, whose life is closely linked to the Coimbra University and, therefore, has a somewhat strong youth militancy engaged in students issues. That is comprehensible since in 2013 the National Ethics Council for the Sciences of Life stated that Portugal is the 6th country with the eldest population in the world, 42 being the average age of one of its citizens. Since the 2008 crisis, many young people have left the country in search for better job opportunities. Militancy and radicalization in the left are generally associated with an important element of youth among its ranks – so much that Lenin once jokily said that “every revolutionary should be shot after passing the age of 35”. Therefore, this is certainly a factor (among others) behind the lack of radicalization in the Portuguese left that we referred to.

Despite the deep crisis that the country is going through, the political situation is not as intense as it should be in terms of militancy and struggles, since the mass protests and strikes seem to have wavered. The crisis of revolutionary leadership certainly plays a role in it, since no group on the left was able to build a revolutionary movement against the effects of the economic crisis. This situation, on its turn, reinforces the workers’ lack of trust on ostensibly socialist organizations.

To end this short report with an anecdote, in the morning of September 11th the subway workers held a 1-day strike. Around 4 thousand workers (according to the Diário Nacional) marched to the Republic Assembly (the Portuguese Congress) demanding a 3% salary raise, but many others simply gathered in front of the closed stations, waiting until 11am, when the subway employees promised to reopen, allowing the normal routine to be carriedon. At the night of the same day, an enormous crowd gathered at the historical center of Lisbon for the 5th edition of “Vogue’s Fashion Night Out”, an event to stimulate shopping at street stores – a luxury that fewer and fewer Portuguese workers can afford. This absurdly contradictory scene only reinforces the urgent need of a struggle to build a revolutionary party capable of defeating the Troika’s austerity “solution” and putting forward a revolutionary perspective to the crisis of capitalism.

Compare y Contraste

Compare y Contraste

LCI vs. TBI sobre el estalinismo y el defencismo soviético

[Primero publicado en línea el 10 de enero de 2004. Copiado de http://www.bolshevik.org/espanol/CompareYContraste_esp.html ]

A continuación mostramos una selección de citas de las publicaciones de la Tendencia Bolchevique Internacional (TBI, incluyendo la Tendencia Externa de la Tendencia Espartacista Internacional, predecesora de la TBI) y de la Liga Comunista Internacional (LCI, incluyendo la Tendencia Espartacista Internacional, predecesora de la LCI) subrayando las diferencias entre las dos organizaciones en cuanto a sus posiciones respecto al estalinismo y a la defensa de los estados obreros deformados y degenerados. El texto completo de muchos de estos artículos pueden encontrarse en www.bolshevik.org.

1980s: ¿’Victoria militar’ o ‘Vitorear’ el ejército soviético en Afganistán?”

LCI

En una de las primeras polémicas contra la Tendencia Externa de entonces, señalamos: “Si la Tendencia Externa fuera más honesta, admitiera que aborreció el hecho que vitorearamos la intervención del Ejército Rojo Soviético en Afganistán” (ver “The ‘External Tendency’: From Cream Puffs to Food Poisoning,” WVNo. 349, 2 de marzo de 1984). Cuatro años más tarde, ellos por fin, abiertamente denunciaron y renunciaron a nuestro llamado de, “¡Viva el Ejército Rojo en Afganistán!”, arguyendo que éste no era una consigna trotskista, porque le decía a los obreros que confiaran en los estalinistas, que tuvieran fe en los estalinistas, que aclamaran a los estalinistas.”

Por el contrario, nuestra buena acogida a la intervención del ejército soviético estuvo basada en el reconocimiento que, cualesquiera que fueran las intenciones de los burócratas mercenarios del Kremlin, esta acción militar daba la posibilidad de extender los logros de la Revolución de Octubre a Afganistán. Muchos soldados soviéticos pensaban que estaban cumpliendo su deber internacionalista al luchar por la derrota de las fuerzas reaccionarias islámicas financiadas por el imperialismo. Pero, ese internacionalismo hubiera sido verídico, sólo si se hubiera realizado, como señalamos, una revolución política para expulsar a los estalinistas del Kremlin y retornar al programa internacionalista proletario del Partido Bolchevique de Lenin y Trotstky.

—“The International Bolshevik Tendency—What is it?” [1995]

TBI

El problema con la consigna “Viva el Ejército Rojo en Afganistán” es que ésta no hace ninguna distinción entre el apoyo político y el militar. El ejército soviético (que no ha sido llamado ‘Ejército Rojo’ desde 1946) es el brazo militar de la burocracia del Kremlin. Las políticas del ejército son las de la burocracia. Por tanto, su papel es contradictorio, al igual que el de la burocracia. Mientras que el Ejército Ruso defienda a la Unión Soviética del imperialismo (y éste fue realmente su propósito al ir contra Afganistán), nosotros estamos militarmente de su lado. Si arrasa con las opresoras estructuras sociales y las reemplaza por la propiedad colectiva en las áreas bajo su control (y esto era incuestionablemente una posibilidad de la intervención rusa), nosotros apoyaríamos tales medidas. Pero apoyar al ejército soviético sin crítica alguna (por ejemplo, “aclamarlo”) podría ponernos en la posición de tener que pedir perdón por los estalinistas, cuando se acomoden al status quo social o emprendan una cobarde retirada. Y, sin que nadie se sorprenda, esto es exactamente lo que ellos han hecho en Afganistán.

…la Liga Espartacista propuso esta intencionada formulación ante la onda de antisovietismo que estaba barriendo a América. Aunque su intención puede considerarse loable, no hay forma de evitar el hecho de que la consigna, tomada literalmente y por si sola, es un apoyo político incondicional al papel soviético en Afganistán.

…El llamado a la “Victoria Militar del Ejército Soviético” se correspondió con la situación concreta en Afganistán porque nos colocó decididamente del lado soviético del frente de batalla sin asumir ninguna responsabilidad por las traiciones estalinistas.

1917 No. 5 [Invierno 1988-1989]

1981: Solidarnosc contra el deformado estado de los trabajadores en Polonia

LCI

Desde su concepción, la Tendencia Bolchevique afirmó tener muchas posiciones en común con nosotros. Por ejemplo, ellos también enarbolaron la configna “¡Alto a la Contrarrevolución de Solidarnosc en Polonia!” Pero cuando el tema de detener a Solidarnosc se planteó con mayor urgencia, ellos se volvieron locos ante nuestro planteamiento de apoyar la intervención aunque los estalinistas del Kremlin, con sus métodos brutales y estúpidas, se decidieran por una intervención militar y que de antemano asumíamos la responsabilidad por cualesquiera idioteces y atrocidades que pudieran cometer. La posición trotskista de defensa militar incondicional a los deformados y degenerados estados de los trabajadores queria decir eso exactamente, sin condiciones. Para la Tendencia Bolchevique, esto fue simplemente una prueba más de nuestra supuesta “estalinofilia”.

— “The International Bolshevik Tendency—What is it? [1995]

TBI

Este párrafo es una distorsión estalinofílica de la posición trotskista de defensa militar incondicional a los burocratizados estados de los trabajadores. Como señalamos en el ETB [Bulletin of the External Tendency of the iSt] No. 1:

“Los trotskistas dan apoyo militar incondicional a los regímenes estalinistas que luchan contra la contrarrevolución interna (por ejemplo, Solidarnosc), o contra fuerzas capitalistas externas (por ejemplo, Finlandia, 1940). Y es por completo diferente a brindar apoyo político a los estalinistas. Nosotros no asumimos ninguna responsabilidad por los crímenes de los estalinistas contra el pueblo trabajador – ya sea durante la defensa militar de las formas de propiedad proletaria u otras. El apoyo militar se brinda a pesar de estos crímenes.”

La disposición de la Liga Espartacista de “de antemano asumir la responsabilidad por cualesquiera idioteces y atrocidades, que ellos (los estalinistas) pudieran cometer” es precisamente lo contrario a la posición propuesta por León Trotski en el contexto de la defensa de la URSS contra el nazismo alemán en la Segunda Guerra Mundial:

“Mientras que con las armas en la mano ellos asestan golpes a Hitler, los bolcheviques leninistas realizan al mismo tiempo propaganda revolucionaria contra Stalin, preparando su derrocamiento en la próxima, y quizás muy cercana, etapa.

“Este tipo de “defensa de la URSS” naturalmente diferirá, tanto como el cielo difiere de la tierra, de la defensa oficial que ahora está resumida en la consigna: ‘¡Por la Madre Patria! ¡Por Stalin!’ Nuestra defensa de la URSS responde a la consigna ‘¡Por el socialismo! ¡Por la Revolución Mundial! ¡Contra Stalin!”

En defensa del marxismo (los subrayados son del original)

La consigna ¡Contra Stalin! significó que, en vez de “asumir la responsabilidad” por los crímenes de los burócratas contra la clase trabajadora, la IV Internacional se opuso las atrocidades cometidas por Stalin y la casta que él representaba.

— “ICL vs. IBT,” Trotskyist Bulletin No. 5 [febrero de 1996]

1983: Derribo del avión de espionaje KAL 007

LCI

Si el gobierno de la Unión Soviética sabía que el avión que intrusionaba su espacio aéreo (Líneas Aéreas Coreanas, vuelo No. 007) era en realidad un vuelo comercial de pasajeros con más de 200 civiles inocentes a bordo, y a pesar del potencial daño militar de una misión aparentemente de espionaje, aún así deliberadamente destruyeron el avión y sus ocupantes, entonces, parafraseando a los franceses, el acto de derribarlo hubiera sido peor que una atrocidad bárbara…

Workers Vanguard No. 337, 9 de septiembre de 1983

TBI

Nosotros decimos que la defensa de la Unión Soviética incluye la defensa del espacio aéreo soviético. La pérdida de vidas de civiles inocentes fue realmente lamentable, pero la única “barbaridad atroz” cometida fue la de los maestros espías americanos y de Corea del Sur, quienes utilizaron a esas desafortunadas personas como rehenes involuntarios.

ET Bulletin No. 2, enero de 1984 (reimpreso en Trotskyist Bulletin No. 1).

1984: Sobre Yuri Andropov

LCI

Él intentó refrenar los peores excesos de la burocracia.
Él intentó aumentar la productividad de las masas soviéticas.
Él no cometió ninguna traición manifiesta a favor del imperialismo.
Él no era amigo de la libertad.

—Andrópov, en Libro de Memorias, Workers Vanguard No. 348, 17 de febrero de 1984

TBI

El que Andrópov no haya cometido “ninguna traición manifiesta a favor del imperialismo” puede atribuirse, sin temor a equivocarse, al poco tiempo que duró en el cargo. Ciertamente, él no envió más MIGs a Nicaragua o AK-47 a los izquierdistas salvadoreños que su predecesor. Es verdad que quiso elevar la productividad, y eso qué, también la quisieron aumentar Stalin, Khrushchev y Brezhnev. (En cualquier caso, los trotskistas miran con escepticismo cualquier proyecto de elevar la productividad trazado por la burocracia, ya que éstos, generalmente, van contra la clase obrera. ¡Trotski no apoyó el Stakhanovismo!). Cualquier burócrata de alto rango sensato estará interesado en frenar ‘los peores excesos de la burocracia’ para incrementar la eficiencia, la seguridad y la estabilidad del régimen que dirige. Vuestra pequeña homilía a favor de Andropov se centra en sus intenciones subjetivas más que la inevitabilidad objetiva, e incluso la necesidad, de la existencia de corrupción e ineficiencia en una economía planificada dirigida por el orden burocrático y la policia secreta.

— “Reply to comrade Samuels,” 22 de abril de 1984, ET Bulletin No. 3, mayo de 1984 (reimpreso en el Trotskyist Bulletin No. 1).

LCI

Vuestra comparación de Andrópov con Stalin y Beria, los asesinos de decenas de miles de comunistas y oficiales del Ejército Rojo, es una obscena amalgama digna de las páginas de Comentario. Toda la carrera política de Andrópov se desarrolló durante un período de mayor tranquilidad doméstica. Al hacerlo a él personalmente responsable de los crímenes masivos psicopatológicos de Stalin es concecuencia de utilizar la misma metodología que considera a la burocracia como una masa reaccionaria homogénea y contrarrevolucionaria hasta la médula, es decir, una nueva clase explotadora.

— “Letter to External Tendency from Reuben Samuels,” 3 de enero de 1984, Workers Vanguard No. 348, 17 de febrero de 1984 (reimpreso en Trotskyist Bulletin No. 1)

TBI

El eje de su argumento al final deviene en su afirmación, profundamente revisionista, que es “obsceno” comparar a Yuri Andrópov con Joseph Stalin. Ustedes dicen que esto es digno de Comentario. Pero debemos entender que esta afirmación significa que ustedes piensan que:

a)En un cierto sentido Andrópov está más cerca del leninismo que sus predecesores, y/o

b)De cierta forma, él es menos representativo de la casta burocrática, que estranguló la dominación política de la clase obrera en la Unión Soviética y/o

c)La casta que él representaba, sufrió una transformación esencial desde la época de Stalin a ahora.

Cualquiera de estas posiciones puede ser sostenida por Pravda o por el Daily World, pero decididamente no caben en un periódico que dice ser trostkista.

— “Reply to comrade Samuels,” 22 de abril de 1984, ET Bulletin No. 3, mayo de 1984 (reimpreso en el Trotskyist Bulletin No. 1).

LCI

El trostkismo nos brinda una visión mundial coherente, en la que se refleja el carácter contradictorio de la burocracia estalinista. Su afirmación de que: “en el nivel más general, Andrópov y los burócratas que él representa están contrapuestos a todo aquello por lo que Trotski luchó”, es unidialéctica y se aleja mucho del trotskismo.

— “Letter to External Tendency from Reuben Samuels,” 3 de enero de 1984, Workers Vanguard No. 348, 17 de febrero de 1984 (reimpreso en Trotskyist Bulletin No. 1)

TBI

Para Trotski, a diferencia de para vuestra amable persona, el eje de la contradicción dialéctica en la sociedad soviética no está dentro de la burocracia (el enérgico Andrópov contra el perezoso Brezhnev), sino entre la oligarquía bonapartista y la estructura social de dónde se deriva su parásita existencia. Esto naturalmente condiciona la actitud trotskista hacia la relación entre la defensa de la Unión Soviética y el derrocamiento de la burocracia estalinista. Es responsabilidad de los revolucionarios defender a la Unión Soviética a pesar de la dominación de Yuri Andrópov y su casta –—¡pero no en su nombre!

— “Reply to comrade Samuels,” 22 de abril de 1984, ET Bulletin No. 3, mayo de 1984 (reimpreso en el Trotskyist Bulletin No. 1).

1986: “El principal desperfecto” del Challenger

LCI

Lo que sentimos por los astronautas no es ni más ni menos que lo que sentimos por cualquier persona que muera en circunstancias trágicas, tal como los pobres nueve salvadoreños que murieron por un fuego en un apartamento del distrito federal de Washington hace dos días. 

Workers Vanguard, No.397, 14 de febrero de 1986

TBI

Sin embargo, la cobertura que vimos, no nos deja ninguna duda de que aquellos “nueve pobres salvadoreños” eran refugiados de la desesperada pobreza de su patria (y casi con certeza de los escuadrones de la muerte de la derecha). La afirmación de WVs de que no siente más simpatía por estas personas que por el grupo de “reaganautas” que perecieron tratando de fraguar un eslabón más en el intento del imperialismo estadounidense de alcanzar la posibilidad de infringir el primer golpe contra la Unión Soviética, demuestra que la Liga ex-Trotskista-Espartacista ya no es capaz de distinguir la línea de clase.

1917 No. 2, verano 1986

LCI

Aquellos que murieron (a bordo del Challenger) fueron víctima del impulso guerrerista antisoviético del imperialismo, al igual que los más de 200 marines muertos en Beirut o los pasajeros del avión de espionaje KAL 007.

Workers Vanguard, No. 397, 14 de febrero de 18986

TBI

Lo que tenemos aquí es un intento de amalgamar tres situaciones muy diferentes utilizando un poco de manipulación política.

Los pasajeros del KAL-007 fueron víctimas inocentes, a diferencia de los “especialistas de la misión” a bordo del Challenger, ellos fueron enviados a la muerte en un vuelo de espionaje deliberado y provocador, diseñado para disparar la red de defensa aérea soviética. A pesar de su postura como defensores de la URSS, llegado el momento de tomar posiciones, la Liga de los Espartacistas vaciló…

La otra cara de evadir la cuestión rusa, es el patriotismo social. Los más de 200 marines norteamericanos, que murieron en el bombardeo a los cuarteles en 1983 en Beirut, eran mercenarios imperialistas que estaban estableciendo una cabeza de playa para la presencia militar de Estados Unidos en el Medio Oriente. Los revolucionarios se oponen incondicionalmente a la intervención imperialista en cualquier parte del “tercer mundo” y claman por la eliminación de las gendarmerías coloniales por todos los medios posibles. ¡No lo hizo así la Liga Espartacista la que después del bombardeo a los cuarteles, clamó por la salvación de los sobrevivientes!

1917 No. 2, verano de 1986

1989: Stalinismo y Conciencia

LCI

La falsa identificación del estalinismo con el bolchevismo proveyó a Stalin de dedicados agentes políticos en todo el mundo; solamente Stalin y quizás una media docena de sus cómplices (los cuales cambiaron con el transcurso del tiempo) sabían lo que se traían entre manos.

— “International Communist League Launched,” Workers Vanguard No. 479, 9 de junio de 1989

***

Ya no es posible que un Stalin y una media docena de sus cómplices conscientes utilicen los partidos “monolíticos” como instrumentos de traición colaboracionista de clase en aras de la “construcción del socialismo.”

—Ibid.

TBI

Al igual que la burocracia sindical en las sociedades burguesas, la ideología de la oligarquía soviética tiene su base material en su deseo de proteger su propia posición social privilegiada. Trotski estimó, en un artículo del 13 de enero de 1938, “que la burocracia devora no menos de la mitad del fondo nacional de consumo”. Él afirmó que “los grandes aristócratas, los estratos más altos de la burocracia, viven como los millonarios norteamericanos” (énfasis añadido). Cuando él habló de los más altos estratos de la burocracia, es evidente que no se estaba refiriendo a la camarilla personal de Stalin. En junio de 1937 Trotski señaló:

“Aún desde el punto de vista de la “venganza”, los golpes terroristas no brindan satisfacción. ¿Qué sentido tiene condenar a una docena de burócratas de alto nivel comparado con la cantidad y el alcance de los crímenes cometidos por la burocracia?”

Trotski nunca consideró que los erráticos zig-zags políticos de la burocracia estalinista, sus crímenes y sus traiciones, estuvieran pre-determinados siguiendo algun designio conocido solamente por “Stalin y su media docena de cómplices conscientes”. El reciente “descubrimiento” de la Liga Espartacista de que, aparte de un núcleo interno de estalinistas “conscientes”, el resto de la casta burocrática, así como de sus agentes internacionales, eran rehenes o peones inconscientes, tiene más en común con la denuncia auto-justificante de Khrushchov del “culto de Stalin a la personalidad”, que con el análisis materialista de Trotski de la burocracia soviética.

Desde el punto de vista histórico, ninguno de los conservadores y arribistas burócratas, incluyendo a Stalin, estaban totalmente conscientes de lo que estaban haciendo…

Con la criminal tontería del “Tercer Período”, la burocracia soviética, sin intención de hacerlo, facilitó la victoria de Hitler. En forma similar, los oligarcas del Kremlin demostraron ser el mejor aliado de los nacionalistas en la Guerra Civil Española, aunque no buscaran deliberadamente entregar la victoria a Franco. La purga asesina de Stalin del cuerpo de oficiales del Ejército Rojo, y su irracional confianza en las promesas de Hitler, sentó las bases para la catástrofe militar del verano de 1941. Pero una vez más, ésta no fue su intención.

Resulta risible imaginar que, aparte de una siniestra media docena de cómplices que “sabían de qué se trataba”, el resto de los ‘engranajes’ de la máquina de terror burocrática que exterminó físicamente a decenas de miles de revolucionarios, fueran simplemente “dedicados agentes políticos” que defendían lo que ellos equivocadamente tomaron por leninismo. Esta ciertamente no fue la opinión de Trotski…

¿Por tanto, por qué, en primer lugar, están los espartacistas súbitamente dando impulso a esta noción? ¿Es ésta una metáfora de Robertson para la vida en la Liga Espartacista (LE)? Quizás, pero también puede tener un propósito inmediato más práctico: facilitarle a los estalinistas desafectos sentirse como en casa en la Liga Comunista Internacional (LCI).

1917, No. 7, invierno de 1990

1989-90: La contrarrevolución capitalista en la República Democrática Alemana (RDA)

LCI

En el fondo, la posición de la Tendencia Bolchevique Internacional (TBI) reflejó un completo derrotismo sobre la capacidad de lucha de la clase obrera soviética. Ellos tenían idéntica postura hacia la creciente Revolución política en el antiguo deformado estado de los trabajadores en la República Democrática Alemana que siguió al colapso del muro de Berlín, es decir, ellos declararon que no había posibilidad alguna de una revolución política proletaria. Consecuentemente, denunciaron a la Liga Comunista Internacional (LCI) por movilizar nuestros recursos fuertemente e internacionalmente para intervenir, con un programa revolucionario trotskista en los sucesos del antiguo estado de los trabajadores de la República Democrática Alemana de 1989 a 1990.

— “The International Bolshevik Tendency—What is it?” [1995]

TBI

Aquí la Liga Comunista Internacional emplea una de sus técnicas de polémica favoritas, atribuyendo una posición a un oponente y entonces atacando su propia invención. Nosotros ciertamente no dijimos que fuera imposible una revolución política proletaria en la República Democrática Alemana, sino simplemente que, al contrario de lo que afirmaba la Liga Internacional de los Comunistas, ésta no había comenzado. “A la luz de los resultados posteriores” ha sido la Liga Internacional de los Comunistas, no nosotros, la que ha tenido que ajustar su posición. Es fácil entender por qué la Liga Internacional de los Comunistas preferiría correr un manto de silencio sobre su posición “optimista” respecto a la revolución política proletaria de la República Democrática Alemana.

— “ICL vs. IBT”, Trotskyist Bulletin No. 5 [febrero de 1996]

***

Con su perspectiva de una “comunidad por tratado” entre la RDA y la RFA, el Primer Ministro Modrow había enviado una señal de que estaba dispuesto a capitular ante el imperialismo de Alemania Occidental cuando se formó el nuevo gobierno el 17 de noviembre de 1989. Las concesiones que él ofreció, sin embargo, no dieron a la burocracia, su anticipado respiro, sino solamente brindaron mayor ímpetu a los contrarrevolucionarios. La derecha ganó en la base, mientras prevalecía la confusión entre los trabajadores más políticamente conscientes, que confiaron en los “honestos y reformados” estalinistas. Esta es la razón por la cual el régimen de Modrow eraespecialmente peligroso, y por qué era imperativo prevenir a los trabajadores contra él.

…La Liga Comunista Internacional (LCI) evitó la confrontación aguda con el régimen de Modrow. En su temor al aislamiento, vieron este tipo de confrontación como inoportuna, ya que todas las tendencias en el partido estalinista apoyaron a Modrow hasta el final. Tal confrontación hubiera puesto en peligro la política de la LCI de “Unidad con la SED.”

En este período, la LCI no se focalizó en atacar a Modrow como un vendido a quien los trabajadores tenían que apartar en defensa de la RDA. En vez de esto, ellos lo criticaron solamente de pasada…

1917 No. 10 [tercer trimestre de 1991]

1990: La demostración de Treptow

LCI

La Liga Trotskista Alemana y el Grupo Espartacista jugaron un papel clave al iniciar las acciones del frente unido en Treptow. Nuestros voceros llamaron a la creación de milicias de trabajadores y a crear soviets de trabajadores y de soldados para detener a los nazis y evitar que la revolución política fuera convertida en una contrarrevolución social. Nosotros advertimos que la social democracia era el instrumento para liquidar a la RDA. Nosotros señalamos que la batalla por el gobierno de los soviets obreros en la RDA, podría inspirar a los trabajadores en la Unión Soviética, el blanco principal del imperialismo, a tomar el mismo camino.

Workers Vanguard No. 495, 9 de febrero de 1990

TBI

En el llamado de la TLD a realizar la demostración no había absolutamente ninguna critica de la decisión de capitulación del SED-PDS, (SED, el partido estalinista que gobernaba la RDA, cambió su nombre por el de Partido del Socialismo Democrático en diciembre de 1989) y ni una sola palabra acerca de que Modrow se inclinara ante el imperialismo de la RFA y el nacionalismo alemán. Pero fueron estas políticas las que inicialmente envalentonaron a los nazis, quienes realizaron los ataques (en el memorial de la guerra).

En su discurso en la demostración de Treptow, la camarada Dahlhaus de la TLD/SpAD explico la línea “SED-Unity” en su totalidad: “Nuestra [¡!] economía está obsoleta y desgastada. La dictadura del Partido SED ha demostrado que es incompetente [¡!] para luchar contra esto.” (Arprekor No. 15, 4 de enero de 1990). Este planteamiento, junto con el de “el monopolio del poder del SED ha sido derrocado” fue todo lo que se dijo acerca de las políticas de los estalinistas. (Ibid.). En el discurso de Dahalhaus solamente el SED de Honecker, del cual los manifestantes no querían ni oir hablar, fue mencionado. Pero, no fueron atacadas las ilusiones en un SED-PDS “reformado”.

…vale la pena mencionar a Treptow nuevamente. Una invitación al SDP/SPD (Social-demócratas) para participar en la demostración masiva contra los fascistas era indispensable. Había que separar a los obreros del SPD. Una forma de elevar la conciencia de clase de la base del SPD hubiera sido desafiar a su dirección a tomar una posición antesde que la demostración tuviese lugar. Cuando Vogel, Boehme, Meckel y compañía (los líderes del SDP/SPD) iniciaron el clamor burgués contra los demostradores después del 3 de enero, la movilización antifascista, naturalmente, tuvo que ser defendida de estos truhanes del SPD. Los revolucionarios tenían que tratar de ganar a los obreros del SDP y a las ramificaciones de este partido para apoyar su defensa… La Liga Comunista Internacional (LCI), por el contrario, se negó a atraer al SDP a una acción unida, y justificó esto una semana más tarde sobre la base de que la SDP “no tenía base alguna de masas proletarias” (Arprekor No. 18, 12 de enero de 1990)….El TLD (SpAD) deliberadamente intentó implicar solamente al SED en la demostración de Treptow. (Para los robertsonistas) obviamente los obreros del SDP/SPD eran parte de las “masas reaccionarias”, y el TLD tenía incluso la osadía de citar los escritos de Trotski contra el fascismo como base para ello. (Arprekor No. 16, 8 de enero de 1990).”

1917 No. 10 [tercer trimestre de 1991]

1991: Contrarrevolución capitalista en la Unión Soviética

LCI

El pueblo trabajador de la Unión Soviética, y ciertamente los trabajadores de todo el mundo, ha sufrido un desastre sin paralelo cuyas consecuencias devastadoras se están sintiendo ahora. El creciente ascenso de Boris Yeltsin, quien se autopropone como el hombre de Bush, librándose del fallido golpe organizado por los antiguos ayudantes de Mijaíl Gorbachov, ha desatado una marea contrarrevolucionaria a través de la tierra de la Revolución de Octubre.

-—Workers Vanguard No. 533, 30 de agosto de 1991

***

El “bando de los ocho” no sólo no movilizó al proletariado, sino que ordenaron a todos a permanecer en el trabajo.

El “bando de los ocho” fue incapaz de arrasar con Yeltsin con su patética excusa de golpe de estado porque el suyo era un “golpe de perestroika”; los golpistas no quisieron desatar las fuerzas que pudieron haber derrotado a los contrarrevolucionarios más extremistas porque eso los podía llevar a una guerra civil si los yeltsinistas ripostaban con fuerza.

Workers Hammer No. 127, Enero/febrero 1992

***

El 7 de noviembre (1992) marcó el Aniversario 75 de la Revolución Bolchevique. Pero el estado de los trabajadores erigido por el poder bolchevique, no sobrevivió a los 75 años. El período de contrarrevolución abierta iniciado por el contragolpe pro-imperialista de Boris Yeltsin en agosto de 1991 ha culminado, en ausencia de una resistencia masiva de la clase obrera, en la creación de un estado burgués, aunque éste sea frágil y reversible.

Workers Vanguard No. 564, 27 November 1992

***

Los hechos de agosto de 1991 (el ‘golpe’ y el ‘contragolpe’) parecen haber sido decisivos para la dirección del desarrollo en la Unión Soviética, pero solamente aquellos que están bajo la influencia de la ideología capitalista o de sus prerequisitos materiales pudieran haber aventurado esta conclusión en aquel momento.

Workers Vanguard No. 564, 27 November 1992

***

Los hechos de agosto de 1991, que motivaron el ascenso de las fuerzas de abierta restauración capitalista en en la Unión Soviética, marcaron un punto de giro en la historia del mundo contemporáneo.

Spartacist, No. 47-48, Invierno de 1992-93

***

Los intentos de la Tendencia Bolchevique Internacional de ocultar su derrotismo en agosto de 1991 mediante la declaración de apoyo militar a los conspiradores golpistas estalinistas, lo cual fue una posición burlesca ya que los conspiradores golpistas, que estaban tan decididos a acometer la restauración capitalista como Yeltsin, no estaban dispuestos a realizar la movilización política y militar necesaria para organizar una seria oposición. De cualquier manera, la posición de la Tendencia Bolchevique de que ‘todo terminó, si se hubiera propagado por la Unión Soviética en ese momento, sólo pudiera haber provocado la desmoralización y parálisis de cualquier oposición proletaria incipiente a la toma de posesión de Yeltsin.

— “The International Bolshevik Tendency—What is it?” [1995]

TBI

Nosotros tomamos partido en agosto de 1991, a favor de los estalinistas y contra los yeltsinistas. La Liga Espartacista, que pretendió ser el Partido de la Revolución Rusa, no apoyó la victoria de ninguno de los dos, lo que equivale a mantenerse neutral. La Liga Espartacista se incómoda con esta caracterización, pero la lógica política de ésta, se refleja en su declaración:

“…el apoyo militar a los conspiradores golpistas estalinistas [es] una posición burlesca, ya que los conspiradores golpistas, que estaban tan decididos a acometer la restauración capitalista como Yeltsin, no estaban dispuestos a realizar la movilización política y militar necesaria para organizar una seria oposición”. (Énfasis añadido) 

Todas las contradicciones de la posición de la Liga Espartacista están contenidas en el pasaje citado más arriba. En realidad, los yanayevistas eran los que ‘estaban tan decididos a acometer la restauración capitalista como Yeltsin’, entonces ¿por qué le importaba a los trotskistas si ellos estaban dispuestos o no a realizar una movilización política y militar? Si los burócratas estalinistas (incluyendo a los cabecillas del KGB y a los militares) estaban ‘tan decididos a acometer la restauración capitalista’ como los amigos de la CIA reunidos alrededor de Yeltsin en la Casa Blanca Rusa, entonces sí que no habría habido nada importante en juego en agosto de 1991. Sin embargo, si uno afirma que Yanayev y sus seguidores ‘estaban tan decididos a acometer la restauración capitalista’ como Yeltsin, entonces es evidente que en algún momento anterior al 19 de agosto de 1991, la burocracia del Partido Comunista de la Unión Soviética había sido transformada en una formación contrarrevolucionaria, de arriba abajo y hasta la médula.

Si el triunfo del bando de Yeltsin fue solamente la victoria de un bando de contrarrevolucionarios sobre los otros, si para el 19 de agosto de 1991 la contrarrevolución social ya había tenido lugar, entonces el golpe y el contragolpe fueron meras disputas sobre el botín. Sin embargo, tal posición entraría en conflicto con la igualmente absurda afirmación de la Liga Espartacista que Yeltsin, el líder histórico de la contrarrevolución capitalista, presidió un estado obrero durante más de un año hasta que, en algún momento no revelado de la segunda mitad de 1992, Jim Robertson decidió que “estaba claro que la clase obrera no iba a actuar contra Yeltsin”. Si el exitoso contragolpe de Yeltsin abrió las “compuertas de la contrarrevolución”, como afirmó WV entonces, la Liga Espartacista debió haber tomado partido. (Ver las extensas polémicas sobre esta cuestión en 1917 Nos. 11 y 12)

— “ICL vs. IBT”, Trotskyist Bulletin No. 5 [febrero de 1996]

***

Todo no se ha perdido para la clase obrera de la Unión Soviética. Los gobiernos pro-capitalistas que se han encaramado en el trono son aún extremadamente frágiles, y no han consolidado aún sus propios aparatos de represión estatal. La mayor parte de la economía está aún en manos estatales, y los yeltsinistas enfrentan la formidable tarea de restaurar el capitalismo sin el apoyo de una clase capitalista propia. La resistencia obrera a los inminenetes ataques a sus derechos y a su bienestar implicará, por tanto, una defensa de una gran parte de los componentes del status quo socio-económico. Los regímenes burgueses embrionario que se forman ahora en la ex-URSS pueden ser echados a un lado mucho más fácilmente que en los estados capitalistas maduros.

Nada de esto, sin embargo, puede cambiar el hecho de que los trabajadores serán forzados ahora a luchar en un terreno fundamentalmente alterado en su contra. Ellos aún no se han constituido en una fuerza política independiente, y están aún extremadamente desorientados. El aparato estalinista, que tenía un interés objetivo en mantener la propiedad colectiva, ha sido destruido. Es poco probable que los estalinistas se sigan resistiendo, puesto que ya han reprobado un decisivo test político, y aquellos cuadros oficiales que intentaron resistir fueron obligados a jubilarse, están encarcelados, o muertos. Resumiendo, el mayor obstáculo organizado a la consolidación de un estado burgués ha sido efectivamente eliminado. Antes del golpe, la resistencia masiva de la clase obrera a la privatización, hubiera desmoronado la burocracia estalinista y sus defensores armados. Ahora, los obreros en su lucha para revertir el impulso hacia la restauración tendrán que enfrentar “cuerpos de hombres armados” dedicados a cumplir los objetivos de los capitalistas occidentales y de sus aliados internos. Este incipiente poder estatal debe ser desmoronado y destruido por los trabajadores.

— “Counterrevolution Triumphs in USSR”, septiembre de 1991, planteamiento de la TBI, reimpresos en 1917 No. 11 [Tercer Trimestre 1992]

***

La pregunta crítica no es ¿cuándo se consolidó el nuevo estado burgués ruso (todavía está sólo parcialmente consolidado), sino más bien, cuándo fue que esto ocurrió? A diferencia de la LRCI, la Liga Internacional de los Comunistas nunca ha aseverado que hubiara una dualidad de poderes en la ex-URSS con posterioridad al golpe. Tampoco han rebatido que el aparato de gobierno posterior a agosto no estaba comprometido ni con la propiedad burguesa, ni con la colectiva. Si se excluyen estas dos posibilidades, sólo hay una respuesta: el estado burgués se instauró con la victoria de Yeltsin en agosto de 1991.

1917 No. 12 [1993]

Arquivo Histórico: Dia Internacional da Mulher Trabalhadora

Em homenagem a todas as trabalhadoras, publicamos neste Dia Internacional da Mulher Trabalhadora dois artigos de interesse histórico para os defensores dos direitos da mulheres que se reivindicam ou se interessam pela tradição trotskista.

O primeiro é um artigo escrito em 1954 por Evelyn Reed, importante revolucionária norte-americana, ativista em prol dos direitos das mulheres e dirigente do Partido dos Trabalhadores Socialistas (SWP/EUA). O outro foi escrito pela então revolucionária Liga Espartaquista dos EUA em 1975, em seu periódico Women and Revolution (“A mulher e a Revolução”), e traduzido para o português pelo Reagrupamento Revolucionário. Boa leitura!

Dia Internacional da Mulher Um Feriado Proletário (W&R, 1975)

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