Leninismo, Frentes Únicas e Blocos de Propaganda

Um importante debate teórico

Leninismo, Frentes Únicas e Blocos de Propaganda

Por Marcio Torres – Setembro de 2010, pelo  extinto Coletivo Lenin

Introdução

O presente texto é parte de um documento de discussão interna que foi adaptado para publicação. O mesmo se baseia em duas obras de extrema importância para a compreensão dos princípios políticos presentes na teoria leninista a respeito das organizações. Tais obras foram produzidas por duas organizações situadas no campo do espartaquismo, uma ala do trotskismo surgida da Tendência Revolucionária (RT) do norte-americano Partido Socialista dos Trabalhadores (SWP). Ao romperem com tal partido, que durante muito tempo foi a principal sessão da Quarta Internacional, forjada pelo veterano James P. Cannon com auxílio direto de Leon Trotsky, os militantes da RT fundaram a Liga Espartaquista (SL) e, posteriormente, a tendência Espartaquista internacional (iST), hoje em dia chamada de Liga Comunista Internacional (ICL). Tanto o processo de degeneração do SWP, quando da própria Liga Espartaquista, são discutidos em nosso texto Pela refundação da Quarta Internacional!, publicado na revista  Revolução Permanente nº3 e disponível em nosso site (www.coletivolenin.org). Um dos textos em questão foi produzido pela própria Liga Espartaquista durante os anos 1970, enquanto esta ainda era uma organização revolucionária. Já o outro foi escrito no final dos anos 1980 pela antiga seção neozelandesa da iSt, após esta rachar. Mais tarde, tal organização viria a se tornar seção da Tendência Bolchevique Internacional (IBT), organização que formalmente reivindica a tradição espartaquista e com a qual mantivemos relações durante alguns anos.

Uma breve definição de leninismo

Baseados na obra de Joseph Seymour da Liga Espartaquista (SL), Lenin e o Partido de Vanguarda (1978)[1], bem como nos relatos históricos a respeito da história da tendência Bolchevique do Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR), posteriormente, Partido Comunista da União Soviética (PCUS), podemos entender o leninismo enquanto uma vertente do marxismo possuidora de um determinado programa. Porém, tal programa se constituiu através de um longo processo de maturação, marcado por sucessivas superações e mudanças a partir do contexto específico do enfrentamento entre Bolcheviques e Mencheviques.

Apesar do surgimento da tendência Bolchevique datar de 1903, quando do II Congresso do POSDR, a consolidação definitiva do que veio a se chamar “leninismo” se deu apenas em 1914, quando Vladimir Lenin, em conjunto com Grigori Zinoviev, desenvolveu uma nova teoria a respeito das bases sociais do oportunismo expresso por diversas tendências da Social Democracia, que viria a se materializar de forma mais avassaladora através do social-chauvinismo, ou como Lenin mais frequentemente o chamou, “social-patriotismo”. Ambas as nomenclaturas foram utilizadas para conceituar o apoio da maioria das seções da II Internacional às suas “próprias” burguesias nacionais ante a guerra imperialista que eclodia.

A partir de seus novos estudos, Lenin e seus aliados mais próximos compreenderam que a consolidação do oportunismo enquanto programa político é decorrente do desenvolvimento do capitalismo em sua etapa imperialista, que através de uma acumulação em maior nível de capital por parte de diversos países faz surgir uma camada do proletariado mais favorecida materialmente e, portanto, “aburguesada”, a aristocracia operária. Tal camada, por possuir condições melhores que o resto do proletariado, tende a se apegar mais facilmente a projetos reformistas, uma vez que sua realidade material não põe a revolução como uma necessidade vinculada à sua própria sobrevivência.

Antes de tais conclusões, porém, o consenso à cerca do oportunismo existente nas fileiras da Social Democracia era de que este se tratava de um “companheiro de viagem” do proletariado, externo a tal classe, sendo mero resquício histórico de frações radicalizadas da pequena-burguesia da época das revoluções burguesas e que, portanto, seria superado pelo desenvolvimento da classe trabalhadora, através do desenvolvimento do próprio capitalismo enquanto modo de produção. Consequentemente, bolcheviques e mencheviques acusavam-se mutuamente de não pertencerem à classe trabalhadora, de serem algo como “intelectuais radicais”, e não parte orgânica do proletariado, cada um reivindicando para si o título de “organização proletária”.

A partir do momento em que tal compreensão à cerca das origens sociais do oportunismo se alteram radicalmente, Lenin compreende que o desenvolvimento do capitalismo tende a fortalecer, e não a extinguir as tendências oportunistas, e que estas estão no seio do proletariado, não sendo externas ao mesmo como antes se acreditava (vale observar que, antes de 1914, apenas Rosa Luxemburgo se afastava da concepção clássica da II Internacional à cerca das origens sociais do oportunismo). A partir das novas conclusões citadas, tornou-se clara a necessidade de uma ruptura organizacional com tais tendências, como forma de garantir o enfrentamento entre estas e os revolucionários perante a disputa pela consciência da classe trabalhadora. É então que o racha entre Bolcheviques e Mencheviques assume um caráter programático, e não meramente organizacional. Passa-se a entender como fundamental a destruição das tendências oportunistas através de um enfrentamento aberto entre estas e os revolucionários, enfrentamento este que pressupõe total independência política e, consequentemente, também material, por parte dos revolucionários, os quais só têm a ganhar com a clarificação programática ante o proletariado.

Esta prerrogativa básica do leninismo “maduro”, a total independência e clareza política como pressuposto para a disputa pela consciência do proletariado, opôs os Bolcheviques pela primeira vez ao tipo de partido Social Democrata, o chamado “partido de toda a classe”, que reunia em seu seio não só a tendência revolucionária (muitas vezes responsável pela fundação do partido e estabelecimento do programa formal deste), mas também aqueles “companheiros de viagem” que seriam jogados para escanteio com o desenrolar do desenvolvimento capitalista.

A tal prerrogativa soma-se outro princípio anterior a 1914: o entendimento da necessidade de um partido de vanguarda, composto por quadros bem-treinados que representem um verdadeiro “exército de revolucionários” e cujo objetivo maior fosse a disputa programática pela consciência da classe trabalhadora, uma vez que as lutas sindicais e econômicas, por si só, não levariam o proletariado a passar da consciência de classe “em si”, para uma consciência de classe “para si”, como os chamados economicistas defendiam.[2]

Como pode-se perceber, ambos princípios são intrinsecamente ligados, a despeito do fato de terem sido desenvolvidos em épocas e condições extremamente diferentes. Se o oportunismo é decorrente do próprio desenvolvimento capitalista e, portanto, não representa uma tendência temporária, e se a revolução depende de um processo de disputa e formação de consciência, e não de um simples acúmulo de experiência a partir de lutas econômicas, é fácil compreender a necessidade não só da disputa metódica pela consciência da classe trabalhadora, como também o enfrentamento aberto e firme contra toda e qualquer tendência que busque levar o proletariado a defender projetos não-revolucionários. É fácil compreender, portanto, a necessidade de um partido independente e voltado majoritariamente pela disputa da consciência, ou seja, de um partido leninista (ao que se soma as peculiaridades necessárias a tal partido, resumidas na máxima do centralismo democrático de total centralidade na ação e total liberdade de discussão interna).

A tática de Frente Única

O sucesso da Revolução de Outubro foi a prova derradeira da superioridade programática do leninismo, que se manteve firme no campo do marxismo ante o advento da Primeira Guerra Mundial em 1914 e foi capaz de dirigir o proletariado russo à primeira revolução socialista triunfante (não sem anos de árdua disputa programática e experiência prática). Após a ruptura definitiva com a Social Democracia, o leninismo se consolidou enquanto uma nova tendência programática que deu continuidade ao marxismo. Tal consolidação assumiu também caráter internacional, criando uma organização inspirada nos princípios anteriormente discutidos e na experiência dos Bolcheviques. E tal tendência entrou para a História como comunismo e se materializou através da criação da III Internacional, um partido mundial para levar a cabo a revolução socialista.

Como discute o texto Construindo o Partido Revolucionário e Táticas de Frente Única, de Bill Logan do Grupo Revolução Permanente (PRG/IBT)[3] a III Internacional, porém, surgiu em condições muito adversas às da tendência Bolchevique. A nova organização que materializava a continuidade do marxismo se via diante de um gigante forjado através de anos de trabalho contínuo no seio da classe trabalhadora, que mesmo havendo traído esta, ainda consistia em uma tendência hegemônica: a Social Democracia. Como forma de se construir, as seções nacionais da jovem Internacional Comunista, como passou a ser conhecida, precisaram inovar nas maneiras de disputar a consciência da classe trabalhadora. E a resposta para tal dilema foi a tática de Frente Única, formulada formalmente nas teses para seu III Congresso Mundial e que consiste em uma aliança na ação com as tendências não-revolucionárias do movimento operário, com o objetivo de jogar as bases contra as lideranças e mostrar a superioridade do programa comunista. Obviamente, para que tal tática atinja seus objetivos é necessária uma total clareza e independência programática entre as diversas tendências que conformam tal aliança, algo que muitas vezes só interessa aos revolucionários. A tática de Frente Única foi a maior responsável pelo bem-sucedido e vertiginoso crescimento da jovem Internacional, aliada, é claro, ao prestígio dos comunistas enquanto aqueles que, pela primeira vez na História, expropriaram a burguesia de seu poder econômico e político e não foram derrotados por forças contra-revolucionárias. O emprego da mesma, entretanto, não se deu sem resistência advinda de dentro das próprias fileiras comunistas.

A maior expressão da resistência a tal tática foram os chamados “comunistas de esquerda”, aos quais Lenin chegou a dedicar um livro inteiro (Esquerdismo – doença infantil do comunismo, de 1920). Tal tendência representava a dificuldade de alguns de, após assimilar a necessidade de uma total ruptura com a Social Democracia como pressuposto para o sucesso do projeto revolucionário, se verem confrontados com argumentos que defendiam a necessidade de aliança com esta como forma de se fazer crescer as fileiras comunistas. O que os “esquerdistas” não compreenderam, entretanto, foi a diferença entre ruptura programática e aliança estritamente na ação, que pressupõe o confronto aberto entre variados programas como maneira de dar resultados para os revolucionários. Em Esquerdismo… Lenin ressalta o papel de novas táticas em cumprir um segundo passo essencial para o movimento comunista internacional, que após ter congregado e treinado a vanguarda do proletariado, deveria lançar mão de recursos capazes de atrair suas bases.

A Frente Única Estratégica

Da mesma forma que houve uma reação à esquerda dentro das fileiras comunistas à tática da Frente Única, houve também uma reação à direita. Se os sectários “esquerdistas” se negavam a empregar tal tática, outra tendências abraçaram-na com tanto vigor e entusiasmo que a esvaziaram por completo de sua utilidade revolucionária. Tal tendência, que passou a enxergar na tática de Frente Única um princípio indispensável para a revolução, nada mais era do que uma forma de centrismo. Como forma de “compensar” a pouca influência dos revolucionários ante a classe trabalhadora, algo típico na maior parte de sua existência, os centristas buscam se dissolver em grupos maiores, que defendam um programa relativamente avançado, na esperança de que tal ato de união programática de forças possa contribuir para o avanço da consciência do proletariado. Assim, transformam a Frente Única de uma tática em algo estratégico e alteram radicalmente sua forma, que de uma aliança pontual em torno de demandas específicas, se torna um bloco de propaganda baseado em um programa (que obviamente não será revolucionário, mas sempre uma variante mais ou menos avançada do reformismo).

Acontece que diluir o programa revolucionário em um Bloco de Propaganda/Frente Única Estratégica é justamente negar os princípios do leninismo e encarar que outras tendências programáticas além da revolucionária podem cumprir um papel positivo no desenvolvimento da consciência de classe do proletariado. É, portanto, uma reedição dos princípios kautskystas da II Internacional de reunir em uma só organização (seja esta um Partido ou uma Frente) a multiplicidade programática existente no movimento operário, o que necessariamente exige uma aliança baseada no menor denominador comum. Ao rebaixar seu programa para manter a unidade dentro de um Bloco de Propaganda, os revolucionários nada mais fazem do que prestar um serviço não-pago aos reformistas, jogando nas trevas a perspectiva de uma revolução socialista.

A Frente Única Estratégica eleitoral

Uma variante facilmente detectável da FUE é a aliança de diversas organizações em torno de um programa eleitoral. Quando um agrupamento de tendências se lança em uma eleição (seja burguesa ou sindical), este necessariamente precisa explicitar um programa, o que torna nítido seu papel enquanto um Bloco de Propaganda programática. É o caso claro de coligações eleitorais (como a Frente de Esquerda) ou de chapas sindicais (para quais exemplos não faltam). Para que uma tendência revolucionária construa um agrupamento desse tipo, ela necessariamente terá que rebaixar seu programa e defender um menor denominador comum, em prol da estabilidade deste agrupamento.

Entretanto, há sempre os casos em que uma tendência pode vir a quebrar o centralismo programático de uma FUE eleitoral, defendendo seu programa na íntegra. Porém, tal tática é não só desonesta como nada frutífera, pois, de qualquer forma, o resto do agrupamento estará reivindicando um programa rebaixado em nome de tal tendência e, além disso, através de uma tática como essa fica claro o oportunismo de integrar uma FUE e não concordar com seu programa, o que pode facilmente levar à desintegração desta ou a uma total perda de coerência programática entre seus elementos.

A Frente Única Estratégica na ação

Existe, entretanto, um tipo de FUE mais comum e mais difícil de se detectar: são os casos em que uma Frente Única na ação assume um programa, tornando-se assim uma FUE. Nesses casos, o programa pode não vir à tona e, assim, permanecer dissolvido por trás das demandas concretas dessa FU. A única maneira, portanto, de se diferenciar uma FU na ação de uma FUE é analisando suas demandas e a possibilidade destas serem defendidas por uma multiplicidade de programas, do mais reformista ao revolucionário propriamente dito. Essa é a característica fundamental de uma FU. Já uma FUE se baseia em demandas que necessitam, para que sua defesa seja coerente e consequente, de um programa, ou seja, de uma estratégia. Adentrar uma formação desse tipo é, portanto, utilizar a tendência revolucionária como meio de fortalecer uma estratégia alheia à sua. É, portanto, assumir a característica básica do centrismo: o liquidacionismo programático.

Colaterais Programáticas: uma variação da F.U. Estratégica?

Após o que foi exposto aqui, pode-se concluir que uma Colateral Programática constitui um tipo específico de FUE, uma vez que sua coesão se dá em torno de uma série de demandas objetivas alicerçadas em um programa. As Colaterais são uma das formas mais comuns de uma tendência se construir organizativamente a partir da ação direta no movimento de massas. Representam um agrupamento que expressa o programa de tal tendência a nível setorial (ou seja, a materialização das demandas às quais leva a aplicação do programa em dado setor do movimento de massas).

Assim, se uma Colateral Programática nada mais é do que um Bloco de Propaganda a nível setorial cujas portas estão abertas àqueles que concordem com suas posições, sendo, portanto, uma FUE, significa que é anti-principista utilizar tal tática? A resposta para tal pergunta é “não”. Uma Colateral não representa um agrupamento de tendências diferentes unidas em torno de um programa, mas sim uma tática de construção que visa organizar os elementos mais avançados do movimento de massas em torno da tendência revolucionária com o claro objetivo de recrutá-los para esta. Portanto, uma tendência revolucionária construir uma Colateral não resulta em nenhuma quebra de princípios, desde que não haja uma aliança programática com outras tendências, o que levará necessariamente a um rebaixamento oportunista e liquidacionista do programa revolucionário. Uma Colateral deve, assim, se limitar à aliança entre a tendência revolucionária e indivíduos independentes que possuam acordo com seu programa setorial.

Conclusão: como lidar com uma FUE?

Após expor os princípios nos quais nos baseamos, responderemos a uma pergunta central: como uma tendência revolucionária deve lidar com os diversos tipos de FUE sem que haja uma quebra de princípios? Quanto à FUEs centralizadas (como coligações eleitorais e chapas sindicais), está claro que os revolucionários não devem compô-las, o que não significaria um entrismo, mas sim um rebaixamento de seu programa. Lembramos que a tática de entrismo, utilizada largamente nos primeiros momentos da construção da IV Internacional, pressupõe a liberdade de se defender o programa revolucionário, única forma da tática ser bem sucedida e causar um racha programático na organização que está sofrendo entrismo. Ou seja, apesar de pressupor um abandono temporário de certa independência organizativa, é central para o sucesso da tática de entrismo a manutenção do programa revolucionário e sua defesa intransigente.

Já quanto às FUEs que não demandam centralismo, deve-se tomar mais cuidado. A não participação em seus fóruns pode muitas vezes constituir um ato de formalismo sectário, caso a tendência revolucionária se negue a deles participar baseada em uma “falta de acordo programático”. Ao mesmo tempo, a perspectiva de construir e compor a FUE não passa de um ato centrista e liquidacionista. A partir de uma análise de cada caso particular, deve-se avaliar a produtividade de se disputar os componentes da FUE, porém sem jamais compó-la nem se comprometer com a defesa de seu programa. Isso pressupõe nunca endossar ou utilizar materiais do agrupamento em questão, sempre criticar o oportunismo das correntes que o compõe e nunca se responsabilizar por suas ações ou declarações.

Lembramos, por último, que é tarefa dos revolucionários lutar até o fim pela clarificação e limitação das FUs que estes compõem às suas demandas pontuais, jamais permitindo que outras tendências sejam capazes de exceder a aliança na ação que a FU pressupõe e a transformem em algo mais amplo, com um programa definido. Ou seja, cabe aos revolucionários, e muitas vezes só a estes, lutar até o fim para que uma FU não se torne uma FUE e leve ao surgimento de obstáculos para a árdua tarefa de se disputar a consciência da classe trabalhadora para o programa marxista.

[1] SEYMOUR, Joseph. Lenin e o Partido de Vanguarda. Publicado originalmente em 1978 pela Liga Espartaquista dos EUA (SL) e disponível em português no site do Coletivo Lenin.

[2] Para uma visão mais abrangente das polêmicas levantado por Lenin em 1903 contra os economicistas e Mencheviques sobre o papel do partido e como este deveria se organizar, confira Em defesa do leninismo!, publicado na revista  Revolução Permanente nº2 e disponível em nosso site.

[3] LOGAN, Bill. Construindo o Partido Revolucionário e Táticas de Frente Única. Publicado originalmente em 1989 pelo Grupo Revolução Permanente da Nova Zelandia (PRG) e em processo de tradução pelo Coletivo Lenin.

CARTA DE RUPTURA CON LA TENDENCIA BOLCHEVIQUE INTERNACIONAL

Carta de ruptura con la Tendencia Bolchevique Internacional

El camino hacia fuera de Rileyville

 Samuel Trachtenberg, 25 de septiembre de 2008

Esta carta de rompimiento no debe ser ninguna sorpresa para ustedes. En cuanto ya he tenido problemas y he hecho críticas dirigidas a la dirección de la Tendencia Bolchevique Internacional (TBI) en los años anteriores, por más de un año he venido chocando de frente contra ella constantemente en torno al desenvolvimiento presente y futuro de la TBI y su interminable remanente de camarillas, intrigas, maniobras y métodos desleales, a través de los cuales la Troika(Tom Riley, Bill Logan y Adaire Hannah) vino manteniendo su control sobre el grupo todos estos años.

Sigo convencido de la necesidad y de la posibilidad de derrumbar la sociedad capitalista, pero esa posibilidad sólo puede alcanzarse a través del reagrupamiento de los subjetivamente revolucionarios por el mundo en una base programáticamente saludable por la reconstrucción de la Cuarta Internacional. Por más formalmente correcto que el programa escrito pueda estar de momento, la Historia ha mostrado que el tipo de organización en la que la TBI se transformó – un grupo estático, estancado, dominado por una dirigencia maquiavélica profundamente enraizada – jamás va a poder ganar camaradas más jóvenes, crecer o desarrollarse y, de este modo, prestar un pequeño papel en este proceso. Nosotros perdimos a los camaradas argentinos principalmente por estas razones, y es apenas una cuestión de tiempo hasta que los actuales simpatizantes latinoamericanos del grupo descubran esto mismo por sus propios medios. Daniel De Leon, uno de los pioneros del marxismo en los EE.UU., también era muy “ortodoxo” en su tiempo, pero él conducía una secta rígida híper-centralizada y autoritaria cuya contribución fue principalmente literaria. No es un acaso que pocos en la historia del SLP (el grupo de De Leon) participaron en la fundación del PC/EE.UU.

Bajo esta luz, tal vez la situación de la sección neocelandesa sea la más instructiva. De un punto en el que era el grupo más grande que reivindicaba el trotskismo en el país, se retrajo hacia cuatro gerontes semi-activos. Yo sospecho que la razón de esto fue que su reputación era tal, que la mayoría de los activistas de Nueva Zelanda no querían permanecer ni a diez metros de distancia de ellos. La reputación de Logan y Hannah como líderes de la Spartacist League, combinada con su aparente fracaso en romper con sus viejas prácticas (expresas en sus sesiones de desmoralización y persecución hacia Peter De Waal [1]), son ampliamente conocidas en los círculos de izquierda de Nueva Zelanda y debatidos en varios grupos de discusión en la Web. Aunque inicialmente había protestas entre los miembros cuando estos incidentes ocurrían, los líderes fueron capaces de seguir al frente. Además, el mantenimiento de su capacidad de repetir el tratamiento atroz contra otros críticos – concuérdese o no con sus críticas – estableció un patrón ruin bajo el cual el grupo aún vive en la actualidad. Yo sugiero fuertemente a los camaradas que lean los documentos sobre la persecución de la célula del Área de la Bahía de San Francisco (Bay Area [2]). No es preciso ser un admirador de Gerald Smith o Fred Ferguson para quedar perturbado por la manera, típica de un Zinoviev, con la cual los líderes lidiaron con ellos. Trotsky trataba tales diferencias de una forma radicalmente distinta, como cualquiera lo puede ver leyendo La crisis de la sección francesa, donde cuestiones semejantes de una prensa “popular” mantenida dentro de la disciplina estaban en controversia.

Aunque algunos de estos casos han ocurrido mismo antes de volverme miembro, yo puedo decir que la TBI es hoy un grupo radicalmente diferente de aquel en el que entré en 1994. Hasta 1998, cuando ocurrió su última lucha fraccional, la TBI era todavía un grupo lleno de debates y disputas de línea política. En la conferencia de América del Norte, en la cual participé después de unirme al grupo, Riley y Logan aún estaban en minoría en muchas cuestiones. No obstante, han pasado ya 10 años desde la última lucha fraccional en el seno de la TBI con los seguidores de Jim Creegan y con Ian Donovan.

Fue así como el grupo vió la cuestión en el pasado, cuando aquello sucedió con la Spartacist League (la organización que la precedió):

“En el mundo de sombras que, cada vez más, constituye la vida interna de la SL/EE.UU., la dirigencia ocasionalmente siente la necesidad de responder a las dudas, preguntas y críticas que nunca fueron explícitamente articuladas por nadie, pero que sin embargo acechan las mentes de muchos. Seymour agitó un artículo llamado ‘El camarada Robertson y la Tendencia Espartaquista’ en el cual él trata la espinosa cuestión de por qué la última lucha fraccional en la SL ocurrió en 1968. Seymour dice que ‘en una organización homogénea, las luchas fraccionales ocurren casi siempre cuando modificaciones en las circunstancias objetivas exigen un cambio fundamental en la línea política y en las perspectivas organizativas’. (SL IDB No 30, P. 44). Él usa el ejemplo del Partido Bolchevique, que ‘claramente no era ni una secta, ni una organización personalista. En cada viraje de importancia, Lenin encontraba resistencia u oposición abierta entre los miembros de la dirigencia’. El hecho de que no es el caso en la SL/EE.UU. hace más de diez (hoy catorce) años, explica Seymour:

‘está condicionado por el hecho de la ausencia de circunstancias objetivas que exigen cambios mayores, o innovaciones en la línea política, o virajes organizativos no anticipados.’

‘Nuestra tendencia existe en un cuadro organizativo limitado a hacer propaganda de la visión de mundo así como del programa trotskista […] la SL/EE.UU. nunca desafió seriamente, ni mismo de manera episódica, el liderazgo burocrático de la clase trabajadora’.

“Muy bien entonces, todas las luchas fraccionales en la Tendencia Espartaquista Internacional esperan el día en el que la organización gane una base de masas en la clase trabajadora”.

Declaración de la Tendencia Externa (1982)

Sin embargo, cuando expuse esta cuestión (junto con varias otras similares), los camaradas dieron la misma respuesta que Seymour, combinada con una grosera campaña para convencerme de que mis críticas provenían de “problemas mentales”. A pesar de poseer un historial de depresión, yo no presento ningún cuadro de insania y soy perfectamente capaz de reconocer la realidad y los intentos de los líderes de usar conmigo los mismos mecanismos que fueron usados con otros críticos. Ian Donovan, que levantó críticas políticamente inaceptables sobre la cuestión del Frente Popular fue tratado de una forma semejante. Después de dejar nuestro grupo, cuando los líderes anunciaron de forma antidemocrática que las diferencias con él no serían discutidas por un período de dos a cuatro años hasta la próxima conferencia, la TBI respondió con falsas insinuaciones externas (y afirmaciones explícitas internas) que la evaluación de Ian sobre lo que había sucedido era un producto de una “enfermedad mental”. Con todo, su evaluación era precisa. Y aunque Ian tenía antecedentes de ataques de ira (en tratamiento), él tampoco era un insano.

Uno de los corruptos seguidores de la dirigencia de la TBI, Jason Wright, tiene él propio una historia en su organización anterior, la RWL de los EE.UU., que realizó una campaña para convencerlo de que sus críticas correctas contra ella eran un producto de “enfermedad mental” [3]. Como él puede mirarse en el espejo hoy siendo cómplice de una campaña semejante, no lo sé. El termo para ese tipo de práctica es “gaslighting” e yo pediría a los camaradas que hiciesen una busca en Google sobre eso. El hecho de que Bill Logan, un “profesional” de salud mental, usó sus credenciales para esos propósitos asquerosos aumenta la corrupción involucrada.

El incidente que finalmente me forzó a encarar la cuestión de frente sucedió hace dos semanas. Recibí un e-mail de Tom Riley diciéndome que lo telefonease. Como yo ya estaba bastante irritado con la más reciente provocación del Comité Ejecutivo Internacional de intentar hacerme perder la calma, le dije que nos comunicásemos por correo electrónico, ya que estaba demasiado estresado por el momento y que no quería más problemas innecesariamente. La respuesta de Tom fue informarme que yo no hacía las reglas y que él sí; que yo estaba bajo disciplina; y que debía telefonearlo. Yo respondí que aquello debería estar involucrando alguna cuestión de seguridad y que no podía ser discutido vía e-mail, ya que por el contrario, aquella exigencia no tenía nada que ver con ninguna disciplina operacional legítima y sería un ejercicio para establecer obediencia psicológica como los que la Spartacist League acostumbraba hacer. Él respondió continuando su exigencia que yo le telefonease. Cuando lo llamé por teléfono, me informó que cuando él, el señor – “líder” – hacedor-de-la-lluvia me dijese para telefonear, era mejor que lo telefonease; y procedió arrogantemente informándome que yo no debería sorprenderme si en un futuro no muy distante, me viese “forzado a salir del grupo”, acto seguido de una de sus asquerosas carcajadas. Ya hubiera sido su intención provocarme para que me vaya, iniciar intimidaciones burocráticas o, más probablemente, una declaración de intención futura hecha en un momento de descontrolada arrogancia burocrática; esto me forzó a confrontar personalmente el hecho de que, si tal asqueroso abusador podía ser el líder incuestionado e indiscutido de un grupo, eso significaba que ese grupo no tenía futuro revolucionario. Por fin la cuestión era una tal que podría tener sido debatida por correo electrónico. Riley informó que “no pensó eso”.

Yo valorizo profundamente las contribuciones históricas pasadas de la TBI, y buscaría continuar su trabajo. No obstante, una continuación no es una repetición; y el grupo que otros y yo formaremos tendrá el cuidado de no repetir sus errores. Los compañeros pueden leer más en el sitio www.regroupment.org que luego estará disponible en la Web.

Hago un llamado a los otros miembros de la TBI para que se unan a mí, ya que no creo que el liderazgo de la TBI  sea reformable a esta altura del partido, ni creo que la necesaria insurrección  de los miembros de base que el grupo precisa sea posible en una coyuntura histórica como la nuestra. Esto, en general, debiera ocurrir como un reflejo de la creciente lucha de clases en la sociedad, así como la pacificación de los cuadros de la TBI refleja el difícil período que la TBI viene sufriendo en sus 27 años de incapacidad para romper una existencia marginalizada. Por todo esto, a aquellos que discuerden, yo los invito a que hagan una tentativa de reforma. Si ustedes tienen éxito antes que la rutina destruya un programa formalmente correcto, yo y los que se junten conmigo estaremos listos para unir nuestras fuerzas a ustedes. Mas, probablemente, los líderes irán marginalizándolos con sus incesantes maniobras y campañas, combinadas con una represión organizativa hasta que ustedes abandonen la organización, desmoralizados y fallidos como Jim Robertson – el líder de la Spartacist League quien instruyó a los líderes de la TBI en sus técnicas – acostumbraba decir explícitamente que era la forma de lidiar con los oposicionistas.

Aquellos que, como yo, intenten y continúen determinados a ser revolucionarios, están invitados a entrar en contacto con el nuevo grupo en el cual voy a participar, y de cuyo futuro tengo confianza.

Samuel Trachtenberg

PS: Al tiempo que el nuevo grupo hará foco en polémicas, este no será tan estrecho en su enfoque como la TBI. Yo no formaré una “tendencia externa”. Mientras que tal orientación tenía sentido para un partido de masas envuelto en un combate diario, como la Internacional Comunista, esta no lo tiene para un grupo puramente literario con menos de 40 personas alrededor del mundo. Dicha orientación ya era impropia para un grupo como la SL, y la TBI nunca logró salir de este foco limitado. Yo escribiré polémicas con la TBI cuando la necesidad surgir y, con certeza, iré a responder a cualquier acusación. Un análisis histórico más amplio que el que se presenta en esta carta se verá en breve.

Apéndices (en Inglés) 

[1] El caso Peter de Wall, “Publicar y ser condenado” y La discusión entre la TBI e la Liga Comunista Internacional.

[2] El Centralismo Burocrático en la TBI, del Communist Workers Groups.

[3] Carta de ruptura con la Revolutionary Workers League, por Jason Wright (circa 1998).

Apéndices (en portugués)

[1] O Caso de Peter de Waal

“Esta manera de proceder es típica de la asquerosa tradición de la Cominterm a medida que la influencia del estalinismo la llevaba a la degeneración. Si éste fuera el único problema, aún sería necesario luchar contra el pablismo hasta el final para salvar a la Cuarta Internacional de la corrupción interna.”

“Carta abierta a los trotskistas de todo el mundo”

16 de noviembre, 1953

***

“Su aseveración unilateral que: “los regímenes son el producto de las políticas definitivas, programas definitivos” es un argumento el cual Roberston y sus seguidores llevaron por años. Ellos proclamaban que su brutal, deshonesta y cínica conducta interna solamente podría ser tomada como una evidencia de un mal régimen, si en las páginas de la prensa del grupo había evidencia de revisionismo en la cuestión Rusa, la cuestión nacional, etc. En el caso del grupo Espartaquista, el culto y la altamente burocratizada evolución de su propio régimen interno, es en sí mismo un abandono programático del Trotskismo, preparando la salida de una serie de otras cuestiones programáticas desde la tradición revolucionaria de la organización. Nosotros hemos documentados una buena cantidad de las cuestiones más revisionistas del liderazgo de Roberston, desde su defensa social-patriótica de los Marinos de los EEUU en Líbano hasta vivando a Andropov, el carnicero estalinista de la Revolución Húngara.”

“Carta de la Tendencia Bolchevique al Poder Obrero”. 

Mayo 5 de 1988

El culto a la virgen María

El culto a la virgen María

Publicado por primera vez en Women and Revolution No. 15, verano de 1977. Traducido en Espartaco No. 35 junio de 2012. Copiado de  http://www.icl-fi.org/espanol/eo/35/virginmary.html

Los marxistas vemos en la religión contemporánea —en la que el miedo y la degradación conforman una liturgia que vuelve a los creyentes estúpidos e impotentes ante la divinidad de sus opresores— algo odioso. Entendemos, sin embargo, que lo que sostiene la filiación religiosa en la era científica no es tanto la convicción intelectual como la opresión social. Así pues, si bien el espíritu anticlerical que animaba el vivo deseo de Voltaire de “ahorcar al último rey…con las tripas del último cura” puede ser sincero e incluso justificado, semejante “guerra contra dios” no trasciende el idealismo pequeñoburgués. La religión desaparecerá sólo cuando haya sido destruida la sociedad que la hace necesaria.

Las revoluciones burguesas establecieron el principio de la separación entre la iglesia y el estado, pero, como señaló Marx, esto no produjo la libertad respecto de la religión. Tampoco el declive de la vitalidad de la religión organizada ha eliminado el sentimiento religioso.

Si bien en Estados Unidos nunca ha existido una religión de estado, la vinculación del prejuicio religioso con los movimientos nativistas de derecha es bien conocida, y el patriotismo, la religiosidad y la prosperidad han constituido a través del tiempo la trinidad de la política imperial estadounidense. Hoy entre 30 y 40 millones de estadounidenses se consideran a sí mismos “cristianos renacidos”, para no hablar de las sectas más tradicionales ni mucho menos del miserable misticismo que sirve de basurero para los despojos de la Nueva Izquierda que aún buscan adquirir la liberación personal a bajo costo.

El tono mojigato de la última campaña presidencial, y el hecho de que el santísimo Jimmy Carter (quien dice consultar las decisiones importantes con su hermana curandera) se alzara con la victoria, apuntan no tanto a un resurgimiento religioso serio como a la pasividad desesperante que se cierne sobre la clase obrera estadounidense. Una muestra de la relación que guarda la conversión religiosa con la derrota política es el crecimiento de la secta de los Musulmanes Negros, que lucra con la desesperanza y el cinismo que se apoderaron de los negros tras los fracasos políticos y la destrucción física del movimiento negro de los años sesenta.

No es sorprendente que las mujeres sean con frecuencia las devotas más fervientes de la religión. Aisladas de la producción y lucha sociales dentro de los sofocantes confines de la familia, las mujeres han sido en general las principales víctimas de los “gendarmes en sotana” y también sus más confiables instrumentos.

El mito de la virgen madre de dios

El libro de Marina Warner, Alone of All Her Sex, intenta explorar el mito religioso que más explícitamente se ha dirigido a moldear y deformar la conciencia femenina: el mito de la madre virgen de dios. Los rituales y complejidades de la teología católica son más comunes y mejor conocidos en Europa y los países latinos que en EE.UU., pero esa imagen en particular ciertamente está relacionada con estereotipos y modelos más generales de “la mujer ideal”.

¡Y vaya que ha sido un mito poderoso! Dante y Botticelli encontraron inspiración en él; las agujas y campanarios de Notre Dame y Chartres se edificaron supuestamente para celebrarlo; e incluso Isabel I de Inglaterra —que no era de las que dejan que los escrúpulos religiosos interfieran con los asuntos de estado— se permitió envolverse en la imaginería de la “Reina Virgen”.

Desde luego, el mito del dios/redentor nacido de una virgen no es exclusivo del cristianismo, sino que tiene raíces en las leyendas antiguas. El poema de William Butler Yeats, “Leda y el cisne” (1923) revive el encuentro mítico entre el dios Zeus y la mortal Leda:

“Un golpe súbito: bate las alas

sobre la chica hasta sentir sus muslos

bajo las patas, y le muerde el cuello

hasta que el seno inerme es ya su seno.

¿Cómo zafarse en su terror la mano

de la emplumada gloria entre los muslos?

¿Y cómo el cuerpo asido en blanco júbilo

puede ignorar el corazón ajeno?

Temblor del espinazo que concibe

el muro profanado y el saqueo,

la muerte del Atrida.

     Bajo el trance,

y sometida por la sangre etérea,

¿sumó la chica ciencia a ese poder

que abría ya su pico indiferente?”

Al describir el modo en que el culto a la madre virgen se extendió por Europa Occidental, Warner intenta explorar lo que plantea como una paradoja: “el que, en la celebración misma de la mujer humana perfecta, tanto lo humano como lo femenino sean sutilmente denigrados”. Unas 300 páginas después, presenta la siguiente hipótesis concluyente:

“La virgen María no es el arquetipo innato de la naturaleza femenina, el sueño encarnado; es un instrumento de la discusión dinámica de parte de la Iglesia Católica respecto a la estructura de la sociedad, presentado como un código de inspiración divina. Esta discusión cambia, según las contingencias…

“Gracias a su flexibilidad y su maña, la Iglesia Católica puede lograr adaptarla a las nuevas circunstancias de igualdad sexual, pero lo más probable es que la Virgen se convierta en leyenda… La leyenda de la virgen perdurará en todo su esplendor y lirismo, pero se habrá vaciado de contenido moral y por lo tanto habrá perdido los poderes reales que actualmente tiene para curar y para dañar”.

Sin embargo, lo que daña no es el mito, sino la realidad que éste mistifica, y no es mediante la renovación del mito como se va a “curar” a la mujer de su opresión. Marx y Engels citaron favorablemente el lema que encabezaba el semanario del republicano francés Loustalot:

“Los grandes nos parecen grandes

sólo porque estamos de rodillas.

¡Pongámonos de pie!”

Sin embargo, añadieron: “Pero para ponerse de pie no basta con levantarse mentalmente, y dejar que sobre la cabeza real y sensible penda el yugo real y sensible, que no podemos destruir por arte de magia a fuerza de ideas”.

Fundamentos del cristianismo

El cristianismo comenzó como la ideología de las masas judías pobres bajo el Imperio Romano. Dado que las relaciones económicas no permitían que la riqueza se multiplicara mediante el desarrollo de las fuerzas productivas, la única manera en que las clases poseedoras de Roma podían sostener su riqueza era mediante el continuo y siempre expansivo saqueo de las áreas conquistadas. El costo extremadamente bajo del trabajo esclavo que se obtenía de ese modo era lo único que hacía que las empresas a gran escala (generalmente agrarias y a veces mineras) fueran relativamente rentables en comparación con las de los pequeños campesinos. La riqueza acumulada a través del saqueo se destinaba básicamente al consumo, a la búsqueda de diversiones.

La causa fundamental de la decadencia del Imperio Romano fue la contradicción, inherente al creciente dispendio de las clases poseedoras, entre el aumento del valor excedente, por un lado, y el carácter estático del modo de producción, por el otro. Y es también en esta contradicción donde deben buscarse las raíces del cristianismo primitivo. Abraham Leon escribió:

“Pero aunque sea evidente que la mayoría de los judíos desempeña un papel comercial en el imperio romano, no debe creerse por ello que todos sean ricos comerciantes o empresarios; por el contrario, la mayoría de los judíos se compone realmente de personas de humilde condición, de las que una parte obtiene sus medios de vida, directa o indirectamente, del comercio: buhoneros, descargadores, artesanos, etc…. Esta multitud humilde es la primera a quien golpea la decadencia del imperio romano y la que más sufre por las exacciones. Concentrada en grandes masas en las ciudades, posee mayor capacidad de resistencia que los campesinos dispersos por la campiña; también es mucho más consciente de sus intereses.

“En las capas pobres de las grandes ciudades de la Diáspora es donde se expande el cristianismo… En la medida en que a las insurrecciones judías siguen insurrecciones de capas populares no judaicas, la religión comunista judía se extiende rápidamente entre las multitudes paganas”.

Como ideología de protesta por parte de los desposeídos y los indefensos, el cristianismo encarnó un vehemente sentimiento antiplutocrático. En el evangelio según Lucas, por ejemplo, se lee:

“Bienaventurados los pobres, porque vuestro es el Reino de Dios. Bienaventurados los que tenéis hambre ahora, porque seréis saciados… Pero ¡ay de vosotros, los ricos!, porque habéis recibido vuestro consuelo. ¡Ay de vosotros, los que ahora estáis hartos!, porque tendréis hambre”.

La epístola de Santiago es igualmente explícita:

“¡Vamos ahora, oh ricos! Llorad y aullad por las miserias que os esperan… Vuestro oro y plata están enmohecidos; y su moho testificará contra vosotros, y devorará del todo vuestras carnes como fuego”.

El “comunismo” del cristianismo primitivo no se basaba, ni podía basarse, en la comunalización de la capacidad productiva de la sociedad, sino en la comunalización del consumo: “comunismo por medio del saqueo al opulento”, como decía Karl Kautsky. Pero, conforme el cristianismo se extendió, sus líderes se esforzaron por mellar su filo antiplutocrático.

El proceso por el cual pasó la iglesia no se debió fundamentalmente a la codicia y la ambición personal de sus funcionarios; no fue simplemente una herramienta para engañar y despojar a las masas. El cristianismo se volvió la religión oficial del Imperio Romano bajo Constantino, al mismo tiempo en que la decadencia del imperio, basada en el parasitismo y el bandolerismo, llevaba a las reformas de Diocleciano y Constantino, las cuales intentaron apoyarlo en una economía natural. Como religión de la clase de los grandes propietarios en el origen de la economía feudal europea, el fuego antiplutocrático que el cristianismo tenía originalmente quedó reservado a los mercaderes y usureros.

Secularización y celibato

Warner plantea un vínculo interesante entre la creciente riqueza de la iglesia y su santificación del celibato (las escrituras mismas no mencionan jamás la “inmaculada concepción” y plantean muchas dudas sobre la virginidad de María). Bajo la ley romana, una mujer tenía derecho a heredar riqueza y disponer de ella de manera independiente a partir de cierta edad. Entre las familias romanas, era común criar a los hijos varones en la vieja religión y a las hijas en la nueva; además, en la época de la decadencia romana solía ocurrir que las familias se extinguieran por la línea masculina. Así, la vocación del celibato (que implicaba no tener herederos) para las cristianas vírgenes y viudas sin hijos resultaba de lo más rentable para la iglesia. Fue pues, según Warner, como parte del creciente poder secular de la iglesia que el culto a la virgen alcanzó prominencia por primera vez.

Agustín, que vivió en el siglo V, trazó una conexión explícita y literal entre el acto sexual y el pecado original: Cristo nació de una virgen porque sólo así pudo evitar contaminarse del pecado original. La percepción de la virginidad como un estado inherentemente santo y la identificación de la pureza espiritual con la abstinencia sexual siguen dominando la doctrina de la iglesia hasta la fecha.

La imagen de la madre de dios —prácticamente ignorada durante los primeros cuatro siglos del cristianismo— no era la humilde y sumisa chica de la anunciación, sino la triunfante reina del cielo, una imagen que también servía para simbolizar la ventaja de la iglesia sobre otros gobernantes temporales a lo largo de Europa y el imperio Bizantino. Esta imagen de María como reina del cielo se mantuvo esencialmente inalterada, excepto quizá por la creciente opulencia de su indumentaria, por muchos siglos, prestándole la autoridad de la sanción divina al concepto de monarquía.

Parte del tributo económico considerado digno de una reina —y la separación entre lo temporal y lo divino fue convenientemente oscurecida— puede verse en la extraordinaria ola de adulación que fue el pretexto para la construcción de 80 catedrales en Francia en un solo siglo.

La ley feudal francesa de los siglos XII y XIII permitía que las mujeres poseyeran rangos y propiedades por derecho propio; y en una sociedad donde la adquisición de tierra era una necesidad constante y urgente, las herederas podían llegar a tener un inmenso poder: Leonor de Aquitania (1122-1204) es la más célebre de ellas. Pero la consolidación de Francia y otros territorios como estados-nación entró en conflicto con las tendencias centrífugas de los patrones feudales de herencia. Con el tiempo, las mujeres perdieron muchos de los derechos económicos de los que habían gozado.

Parte de la batalla por la consolidación nacional de Francia se libró como una guerra santa por parte del papa y los señores feudales del norte de Francia por subyugar el sur, campo de cultivo de la popular herejía cátara. Ésta, una forma ascética del maniqueísmo, permitía la entrada de la mujer al clero y sostenía que el sexo casual y la sodomía eran menos reprensibles que el matrimonio, el cual había poblado el pestilente universo. El sur de Francia también era la patria de la poesía provenzal de los trovadores, que exaltaba el amor adúltero. Por ende, desde muchos puntos de vista, tanto los herejes como los trovadores eran anatema para la iglesia y para la dinastía de los Capeto en el norte. Las batallas que se libraron en el sur a partir del siglo XIII acabaron con medio millón de personas.

Fue la generación de la nieta de Leonor de Aquitania, Blanca de Castilla, la que, alentada por la iglesia y el estado, empezó a enfocar su ardor en María como virgen. Esta “nueva” María asumió gran parte del carácter y la función del personaje original de la poesía provenzal, pero sin la celebración del hedonismo y la permisibilidad. Todavía se le reconocía como una reina poderosa, pero solamente, según se enfatizaba, por gracia de su hijo, y no por derecho propio. Se le retrataba como la encarnación de la hermosura y el ardor divino, pero sobre todo, de la castidad.

Como señala Warner, el estatus especial que obtuvo la madre virgen de dios tenía como reverso el igualmente especial desprecio a la mujer ordinaria, no virginal, que se consideraba, como Eva, la “oportunidad del pecado”, una tentadora que distraía al hombre de dios para conducirlo a una perdición eterna.

Recoger las flores de la vida

El libro de Warner es una mezcla frecuentemente desenfocada de investigación histórica y sociológica con nostalgia y autoanálisis. Y es franca respecto a su ambivalencia:

“No puedo entrar en una iglesia sin que me duela toda la seguridad y belleza de la salvación a la que renuncié. Recuerdo cuando visité Notre Dame en París y, de pie en medio de la nave, comencé a llorar de rabia por ese viejo amor y su perdurable capacidad de conmoverme”.

No habiendo saldado satisfactoriamente las cuentas de su propia experiencia con el oscurantismo religioso, Warner explica el dominio de la iglesia sobre los creyentes en términos meramente sicológicos e ideológicos.

Ciertamente hay que reconocerle a la iglesia el “genio…con que se adueña de la psique de sus fieles”, como dice la reseña del Village Voice. De hecho, en los países donde la iglesia católica ha sido una influencia cultural y política dominante, ha lesionado y distorsionado hasta tal punto la psique de las masas, que incluso los manifestantes políticamente motivados han caído en orgías de anticlericalismo torcido. Por ejemplo, en 1909, cuando el gobierno español intentó movilizar a los reservistas para defender sus colonias marroquíes, la población respondió con una huelga general y una frenética protesta de cinco días que incluyó el desenterrar cadáveres de monjas y el bailar con ellos por las calles.

Al mismo tiempo, históricamente la iglesia ha impuesto la manipulación sicológica mediante una coerción altamente efectiva, tanto física como social. Cuando, en los primeros seis meses de la Guerra Civil Española, los obreros y campesinos quemaron 160 iglesias hasta los cimientos, no sólo estaban protestando contra la opresión sicológica, sino también contra una poderosa institución estatal fanáticamente comprometida con la preservación de la monarquía y con la reacción.

Al final, Warner rechaza al eunuco femenino de la iglesia católica, si bien con una extraña ambivalencia feminista:

“Si bien la Virgen María no puede ser un modelo para la Mujer Nueva, es mejor tener una diosa que no tenerla, pues el encorbatado mundo masculino de la religión protestante se parece demasiado a un club de caballeros en el que no se admiten damas salvo los días especiales”.

Y así, al final, la cuestión de la mitología religiosa sigue consistiendo en la deprimente elección entre una fantasía perniciosa y una realidad yerma y estéril.

Los marxistas insistimos en que éstas no son las únicas alternativas. La crítica marxista de la religión desmitifica la fantasía religiosa y demuestra que fue el hombre quien creó a los dioses y diosas, y no al revés, pero no para que las masas trabajadoras se vean privadas del consuelo, por pequeño que sea, que esas fantasías puedan aportar en un mundo cruel, sino para remplazar esas pobres ilusiones con una realidad mucho más rica y satisfactoria. Marx lo expresó con la mayor elocuencia:

“La miseria religiosa es, por una parte, la expresión de la miseria real, y por otra parte, la protesta contra la miseria real. La religión es el suspiro de la criatura agobiada por la desgracia, el alma de un mundo sin corazón, el espíritu de una época sin espíritu. Es el opio del pueblo.

“…Exigir que se renuncie a las ilusiones concernientes a nuestra propia situación, es exigir que se renuncie a una situación que necesita de ilusiones. La crítica de la religión es pues, en germen, la crítica de este valle de lágrimas, en el que la religión es una simple aureola.

“La crítica ha deshojado las flores imaginarias que cubrían la cadena de la religión, no para hacerla prosaica y desoladora, sino para que el hombre las sacuda y recoja las flores de la vida”.

IBT Exchange With ICL On ‘Revolutionary Regroupment’

IBT Exchange With ICL

On ‘Revolutionary Regroupment’

[Reprinted fom 1917 #30 2008.Originally posted online at http://www.bolshevik.org/1917/no30/no30-Rev_Regroupment.html ]

On 3 November 2007, the International Bolshevik Tendency (IBT) held a public meeting in Toronto to commemorate the 90th anniversary of the October Revolution. Guest speaker Bryan Palmer, James P. Cannon’s biographer, addressed a crowd of 60 on the topic of “The Russian Revolution and the North American Left.” Among those in attendance were supporters of the New Democratic Party, Socialist Action, Socialist Equality Party, Socialist Project, and the Trotskyist League (TL—aka “Spartacists”), as well as a representative of Upping the Anti, a semi-anarchist publication.

During the discussion period, several Spartacist speakers disputed the idea that any significant revolutionary re-groupment is possible today. Tynan M., declared, “in the 1960s through to the 1990s, we Spartacists pursued regroupments with organizations around the world claiming to be Trotskyist…but what we discovered was that we were the only organization in the world that stood on the program and principles of Trotskyism.” John Masters, the TL’s senior figure, added:

“The possibility of regrouping the genuine revolutionary forces in the period roughly 1919 to 1921 was decisively shaped by a huge epochal victory for the proletariat—the Bolshevik Revolution of 1917. There have been other epochal or major events which, while not of the same scale, have posed the possibility of major regroupment of genuine revolutionary forces. For example, May ‘68 in France shook the left. In a different way, the Khrushchev revelations and the Hungarian Revolution of 1956 shook big parts of the left. There were possibilities, things opened there. But let’s face it: the destruction of the Soviet Union in 1991 is what shaped the current period and it is a disastrous defeat that has produced demoralization, disillusionment, heavily into the working class. And I’m sorry, ‘fragmented’ isn’t the point: the vast majority of the left, including self-professed Marxists, supported counterrevolution. There is no basis for any substantive revolutionary regroupment there. That’s not to say there isn’t a basis for winning individuals or even small groupings here or there. But what we are faced with in this period I think is a very different task—it is fundamentally upholding the principles of revolutionary Marxism, including learning the lessons of history and not pretending to blur over things….” 

While comrade Masters is quite right that epochal victories are usually required before massive political realignments occur within the workers’ movement, some very important regroupments have taken place in periods of generally rightward motion. The handful of socialists of the “Zimmerwald Left,” who met in September 1915 in Switzerland to raise the banner of proletarian internationalism in the midst of a barbaric world war, took a very important step on the road to a new, revolutionary socialist international. In the aftermath of the Nazi victory in 1933—one of the most severe defeats ever suffered by the international working class—Leon Trotsky actively sought to regroup the best militants from various small splits from social democracy and the Stalinized Communist International. During the McCarthyite 1950s in the United States, the then-Trotskyist Socialist Workers Party made a small, but significant, regroupment when a few young revolutionaries (including James Robertson, Shane Mage and Tim Wohlforth) broke with Max Shachtman’s rightward-moving Independent Socialist League.

There is abundant evidence that millions of people around the world are eager to fight capitalist oppression. Some of them join various ostensibly socialist organizations. The job of revolutionaries is to win the best militants to the program of genuine Marxism, i.e., Trotskyism.

Comrade Samuel Trachtenberg, speaking for the IBT, responded to Masters as follows:

  

“I think that the political perspective put forward by the comrades of the Trotskyist League today is one that you will find they have been putting forward in their newspapers for the last several years. And I would argue that it is an extremely demoralizing and pessimistic perspective. It boils down to arguing that, with the collapse of the Soviet Union, the so-called post-Soviet era that they are talking about, what we have seen is not just a huge defeat for the working class, which it certainly was, but a defeat of the working class so monumental that no class struggle, no real progress of any sort—whether a call for a general strike in France last year, whether we see uprisings by workers in Bolivia or Mexico, or fighting to build a revolutionary party through revolutionary regroupment— is possible. Nothing is possible in the so-called post-Soviet era, according to them, but [to] uphold the Trotskyist tradition in their own bunker. As they put it, they themselves have developed a ‘bunker mentality’ in reaction to the so-called post-Soviet era.

  

 “So what do you do? Well, it seems that the argument that is being made today [is] that revolutionary regroupment was possible because of the victory of the Russian Revolution. Well, we don’t have the Russian Revolution around at this moment, so what do you do? Well, you wait for another Russian Revolution to occur. But guess what? We cannot have another revolution in the United States, Canada or anywhere else without a revolutionary party. And you cannot have a revolutionary party hiding out in their bunker abstractly upholding the tradition in isolation from the class struggle and from the rest of the left.

“In terms of how do you build a revolutionary party and what the Bolsheviks did for 20 years before the revolution—well, the Marxist movement at that point did something similar, I would argue, to what we are doing at the moment. [Georgy] Plekhanov, in a period when Marxists were extremely small and tiny and did not have the capacity to go out and organize the masses and mass struggles, put out publications, polemics and critiques of the populists, Narodniks, anarchists and other left socialist trends within Russia at that moment. (Trotsky himself was recruited from the populists.) And I would argue that is something we can do today. Because within groups like the International Socialists, within groups like the Communist Party of Canada, even within groups like the Trotskyist League, even there, you will find people, comrades, who are subjectively revolutionary—who really are interested in a revolution—but are stuck in a bad organization with bad politics and bad program.”

On Federal Troops in Little Rock

On Federal Troops in Little Rock

by Richard Fraser

[Reposted from http://www.marxists.org/history/etol/document/icl-spartacists/prs3-fraser/13LittleRock.html ]

Attachment to Socialist Workers Party Club Executive [Political Committee] Minutes No. 18, 5 November 1957. On 10 October 1957 Fraser wrote this letter from Seattle, Washington to the SWP Political Committee, protesting the Militant’s call for federal troops to Little Rock, Arkansas.

The editorial on the action by the Federal government in sending troops to Little Rock, published on the front page of the Militant of September 20th, brings the dispute over this question into sharp focus.

This episode has posed the fundamental question point-blank: shall the struggle in the South be waged in abject dependence upon the government, or independently by the masses?

The entire Negro community of Little Rock, numbering 25,000, was poised and ready for action. Their eagerness to participate in the struggle at times overflowed in dramatic eruptions, as testified to by the Negro press. Moreover, this mass eagerness occurred within a favorable relationship of forces.

The Negro middle class leaders refused the masses any part in the struggle, demanding that they cease aspiring to act and to accept a passive role meekly. Having betrayed the masses’ desire for action, the leadership appealed instead to the government to solve the crisis.

The demand for Federal Troops to the South is revealed in action, not as an adjunct to but as a substitute for the organized action of the masses and is counterposed directly to it.

The editorial sees in this situation a “Valuable Precedent”— “For the use of federal troops in Little Rock constitutes a precedent for the Negro people that the capitalist politicians—much as they will squirm and try to weasel out of—will never be able to get away from. At each crucial stage in the fight for the enforcement of the rights they now possess on paper, the Negro people will be in a position to demand federal intervention if they need it….”

If they need it? Who is to determine if they need it? The editors of the Militant seem quite willing to take the word of the middle class leadership whether the Negro people need Federal soldiers—and this leadership will continue to prefer governmental action to mass action, as has been their tradition.

This perspective for the struggle is justified by the Militant in the following manner: “The resulting political pressure…can blow the Republican-Democratic political monopoly sky high.” Such a formula provides a political justification for continued dependence on the government and for perpetuation of the policy of no organization of the masses.

Spokesmen for the P.C. convention resolution have repeatedly claimed that one of its central points was the question of mass action vs. dependence on the government. The editorial in question, however, illustrates the contradictory character of the resolution which at one and the same time calls for a class struggle policy in the Negro movement, but also endorses parts of the consciously collaborationist and anti-revolutionary program of the middle class leadership.

A eleição de Barack Obama e a questão racial nos EUA

A eleição de Barack Obama e a questão racial nos EUA

Escrito pelo antigo Coletivo Comunista Internacionalista (CCI), organização predecessora do extinto Coletivo LeninPublicado no Jornal Hora de Lutar nº07, de dezembro de 2008.

Muito já foi escrito sobre a eleição de Obama na esquerda internacional. A maioria das correntes (no Brasil, principalmente o PCdoB e o PT) têm dito que ele representa uma promessa de mudança, que pode ser um novo Roosevelt, etc.

Ou seja, “se esquecem” que o Partido Democrata, do qual ele faz parte, é um partido imperialista, que fez os maiores cortes de postos de trabalho dos últimos 20 anos sob o Governo Clinton. Que apoiou as guerras de rapina contra o Afeganistão e o Iraque. Que tem controlado a central sindical estadunidense, a AFL-CIO, em colaboração com a CIA, para impedir qualquer expressão independente da classe trabalhadora. Nesse sentido, Obama não será diferente, por exemplo, do que foi Bill Clinton em seu governo.

Obama e a questão racial nos EUA

Ao mesmo tempo, alguns setores, que tradicionalmente ignoram a opressão específica sofrida pelos negros, simplesmente não conseguem entender o significado, para este setor e para a classe trabalhadora norte-americana em geral, deste fenômeno político. Aqui, isso é bem claro no caso da LBI.

Logicamente, é muito positivo que tenha diminuído o nível da hostilidade entre os trabalhadores brancos, negros e latinos nos EUA. Na verdade, estas divisões raciais e nacionais são o maior obstáculo para o avanço do movimento operário no centro do capitalismo. E explicam porque nunca houve um partido operário de massas nos EUA.

O racismo, assim como o machismo, a homofobia e a xenofobia se alimentam uns aos outros, forjando uma consciência reacionária. Por isso, são usados por demagogos ou burgueses, para nos dividir e esmagar o movimento.

A nação americana foi fundada em bases escravistas. A economia de plantagem (latifúndio monocultor para exportação) de algodão, no Sul do país, foi o motor da economia do país no começo do século XIX. Após a industrialização no Norte, isso levou a uma série de conflitos, que levaram à segunda Revolução Americana, a Guerra Civil de 1861-1865.

O motivo desta guerra não foi o “humanismo” de Abraham Lincoln e dos Republicanos. Na verdade, o capitalismo em crescimento era incompatível com o trabalho escravo, porque uma população que não recebesse salários não poderia ser um mercado consumidor. Por isso, o Norte, e em particular, os seus dirigentes, cumpriram objetivamente um papel revolucionário. A  Internacional os apoiou, enviando uma saudação a Lincoln, dizendo que “o trabalhador não pode ser livre na pele branca se continuar escravo na pele negra”.

Mas o capitalismo se aproveita de qualquer elemento opressivo pré-capitalista para aumentar a super-exploração e a divisão na nossa classe. Não é por acaso que o fim do racismo, exige, então, uma intervenção em todos os ramos de produção, o que não pode ser feito sem uma economia planificada. Por isso, ao mesmo tempo em que os escravos foram libertos, se criou uma série de leis racistas, conhecidas como “Leis Jim Crow”, segregando legalmente os negros no trabalho, na moradia, no transporte, proibindo o direito ao voto, etc.

Foi contra este estado de coisas que o Movimento Pelos Direitos Civis lutou, nos anos 1960. Seus dirigentes, como a NAACP, o SNCC, a CORE, a SCLC (de Martin Luther King) eram reformistas. Para eles, o problema se reduzia a acabar com a discriminação legal e integrar os negros na sociedade capitalista. Por isso, eram chamados de integracionistas.

Na ala mais radical do movimento, que se fortaleceu em 1968, a partir do assassinato de Martin Luther King, o objetivo era criar um Estado onde os negros pudessem se auto-determinar. Esta era a política dos Panteras Negras, dos Muçulmanos Negros e de Malcolm X.

A dinâmica do movimento

Assim, os setores principais eram:

  • o principal, geralmente ligado à Igreja Batista, que reivindicava apenas o fim da legislação racista;
  • os Muçulmanos Negros, que defendiam um Estado Negro, mas eram machistas e viam os brancos como inimigos e até mesmo não-humanos, sendo então um grupo muito reacionário. Malcolm X começou sua trajetória neste grupo, depois tendo se tornando marxista em 1965. Os Muçulmanos Negros deram origem ao grupo de Farrakhan, Nação do Islã, que existe até hoje;
  • um nacionalismo culturalista, que considerava que o caminho era uma volta às “raízes africanas”, o Escravos Unidos. Eles são os precursores do culturalismo de hoje no movimento negro.
  • a ala mais identificada com o marxismo, que eram os Panteras Negras. Os Panteras Negras eram muito influenciados pelos movimentos de libertação nacional do Terceiro Mundo. Por isso, tinham uma política foquista de guerrilha urbana, e entendiam que os negros americanos eram parte do Terceiro Mundo. Por isso, formaram um partido só de negros, não baseado na classe operária e sim na juventude das periferias e defendiam a independência dos negros, através de um plebiscito supervisionado pela ONU.

Para nós, portanto, os Panteras Negras eram um agrupamento que se aproximava do marxismo revolucionário, mas retendo muitos elementos do reformismo dos movimentos de libertação nacional (que não eram anticapitalistas). Ou seja, eram centristas.

Com o aumento do ascenso das massas, a política da burguesia foi “ceder os anéis pra não perder os dedos”. Por isso, foram criadas as “ações afirmativas”, ou seja, cotas para negros no mercado de trabalho, nas universidades, inclusão de programas para negros na saúde e educação.

As ações afirmativas cooptaram a maioria do movimento com uma promessa de “integração” no sistema. Na verdade, só serviram para uma minoria, enquanto a grande massa dos negros teve que continuar aturando a opressão cotidiana. É uma ironia que o movimento negro brasileiro (num país onde os negros são maioria), em vez de lutar por uma sociedade socialista, que resolva a questão negra através de um governo direto dos trabalhadores (como existia nos quilombos) exigem as mesmas migalhas oferecidas num país com 10% de negros.

Em outro artigo, vamos discutir com mais calma o papel da opressão do negro na formação social do Brasil, sua história e seu papel na Revolução Brasileira.

Logicamente, isso não nos impede de defender as ações afirmativas, quando estiverem sob ameaças de racistas, como a Rede Globo e a Revista Veja, porque estes setores não têm autoridade nenhuma para definir qual é a melhor política para os negros! Mas é engraçado que a política “revolucionária” de cotas nas federais, defendida pelo PT, o PCdoB, o PSTU e a LER tenha sido adotada na maior tranquilidade pelo governo Lula semana passada (20/11)!

Qual era a melhor política?

Na Terceira Internacional, o marxismo tentou formular um programa revolucionário para a questão negra, adaptado à época das revoluções socialistas. Este programa foi a defesa da auto-determinação dos negros no sul dos EUA, onde tinham um peso econômico decisivo, formulada em seu Congresso de 1923. Ou seja, a criação de um Estado negro, o mesmo programa de Malcolm X e dos Panteras Negras, nos anos 1960.

O próprio Trotsky defendeu este programa, principalmente em seu texto “Nacionalismo Negro”, contra um setor do SWP (a seção norte-americana da IV Internacional, encabeçado por figuras como James P. Cannon e C. L. R. James).

Isso era baseado na ideia de que os negros eram um outro povo e que, por isso, deveria se tornar independente. Na verdade, isso se baseia numa compreensão errada do conceito de nação no marxismo, ou seja: uma unidade de cultura, território, economia e língua. Esta formulação foi feita pelo jovem Stalin, em sua obra O Marxismo e a Questão Nacional.

Como os negros americanos não têm essas características em comum (apenas a cultura), eles não chegam a formar uma nação. Um movimento dos negros americanos para formar um país independente jogaria trabalhadores contra trabalhadores, e não poderia criar um Estado viável, porque ele não teria território específico nem independência econômica.

Assim, a forma mais correta de descrever a situação deste setor é com o conceito de “casta racial”, o mesmo que se aplica aos judeus no capitalismo. A diferença é que, geralmente, os judeus pertencem às camadas médias, e os negros, à classe trabalhadora.

Este conceito de casta racial da classe operária foi criado pelos marxistas americanos Richard e Clara Fraser, em 1954. Eles eram militantes do SWP americano quando esse ainda era um partido revolucionário. Tanto que, já nos anos 1960, quando o SWP passou defender posições pelegas, eles expulsaram o casal e passaram a defender o Estado negro.

A corrente da qual viemos, o espartaquismo, surgiu em 1962, lutando contra o abandono de uma série de posições revolucionárias pelo SWP, entre elas na questão negra. Então, ela passou a militar no movimento pelos direitos civis, tendo criado o primeiro núcleo marxista revolucionário no Sul dos EUA, e tendo vários militantes presos. Mais tarde, passou a organizar, nos sindicatos, autodefesas armadas contra os ataques da Ku Klux Klan e do Partido Nazista.

Esta tese do Estado negro, que aparentemente é muito radical, na verdade, acaba levando à adesão às posições da minúscula pequena burguesia negra. Ao contrário, o correto é integrar os setores brancos, negros e latinos da classe, na luta pelo socialismo. É impossível acabar com o racismo sem mudar o sistema. Por isso, defendemos um integracionismo, mas bem diferente do de Luther King. Defendemos o integracionismo revolucionário. Ou seja, negros e brancos só poderão estar integrados com igualdade numa sociedade socialista.

Conclusão

Enfim, nada disso poderá ser feito pela eleição de Obama. Aliás, ele mesmo fez questão de colocar a questão racial em segundo plano, e se afastar dos Democratas e outros militantes negros (como Jesse Jackson), mesmo tendo sido ameaçado de morte por neonazistas no final da campanha. Isso tudo para ganhar a classe média branca.

O seu papel, na verdade, é canalizar as aspirações dos trabalhadores, principalmente dos negros e latinos (que são uma casta racial com um papel semelhante ao dos negros nos EUA) para a via institucional, num momento de uma grave crise econômica. Com medo da “volta dos Republicanos”, muitos sindicatos e entidades de massas vão ficar ainda mais presos ao Partido Democrata.

Nos EUA, a questão negra está ligada à questão dos imigrantes, principalmente latinos. Eles passaram, desde os anos 1960, a ter um peso qualitativo na economia. O espanhol passou a ser a segunda língua dos EUA, sendo a mais falada em algumas cidades. Desde as greves de trabalhadores rurais chicanos, dirigidas por Cesar Sandino, e dos Boinas Marrons (inspirados nos Panteras Negras), esta luta se inscreve no centro das tarefas da terceira revolução americana.

Não é possível discutir nesse texto a relação entre a luta dos imigrantes e dos negros nos EUA. Embora haja diferenças (principalmente porque a burguesia tenta usar os latinos “ilegais” para furar e contestar alguns direitos dos negros, inclusive trabalhistas), ambas formam o grosso da tarefa de unir a classe operária do país na luta pelo poder. Por isso, a questão negra e a questão imigrante são igualmente estratégicas (sem esquecer a questão da mulher, estratégica em TODOS os países).

A grande tarefa dos comunistas nos EUA é a criação de um Partido dos Trabalhadores, para abolir o capitalismo e criar um governo operário. Este partido deve ser composto por uma maioria de negros, mulheres e latinos. E deve ter um programa transitório, ou seja, anticapitalista, para intervir nas lutas parciais e nos sindicatos.

Felizmente, existe uma corrente lutando para construir um partido assim nos EUA. A Tendência Bolchevique, grupo americano da TBI, que representa a continuidade do marxismo revolucionário no país, luta pelo integracionismo revolucionário e pela refundação da Quarta Internacional, o único partido capaz de dirigir esta tarefa.

Qual deve ser a política dos revolucionários na Venezuela?

Direita promove mais uma jornada de lutas contra o “chavismo”

Qual deve ser a política dos revolucionários na Venezuela?

Escrito pelo antigo Coletivo Comunista Internacionalista (CCI), organização predecessora do extinto Coletivo Lenin  – Junho de 2008

A situação política na Venezuela tem despertado reações de fúria por parte da direita e confusão por parte da esquerda.

Desde que assumiu o governo, Hugo Chávez tem feito duros discursos atacando os Estados Unidos e tem enfrentado a resistência da direita venezuelana e mundial.

Até hoje, a Venezuela foi o único país da América Latina a conseguir, através da mobilização dos trabalhadores, reverter um golpe militar orquestrado pelos Estados Unidos. Entretanto, mesmo após a demissão de alguns generais, ainda há militares golpistas no exército. Chávez tenta enfraquecer esse setor reformando as forças armadas e, ao mesmo tempo, organiza milícias para resistir em armas caso aconteça uma nova tentativa de golpe. Paralelamente a isso, os Círculos Bolivarianos tentam manter os moradores das favelas e periferias convencidos da necessidade de defender a constituição e o governo. Isso seria um “escudo humano” capaz de prevenir novas tentativas de golpes e intimidar mobilizações da direita.

Diante desse processo, muitos ativistas sinceros acreditam que Chávez esteja realmente construindo o socialismo.

Nós, revolucionários, não acreditamos que o socialismo possa ser construído através de reformas constitucionais. Pelo contrário, o socialismo só se constrói pela via revolucionária colocando abaixo os poderes do Estado: Executivo, Legislativo, Judiciário, Forças Armadas e Polícias. No lugar dos poderes da burguesia deve ser construído um Estado operário baseado na democracia operária, ou seja, todo o poder nas mãos dos organismos de deliberação construídos pela própria classe trabalhadora e protegido pelas milícias revolucionárias dos trabalhadores. Por isso, não cremos que o chavismo seja o caminho para o socialismo.

Por outro lado, não podemos deixar de admitir que o governo Chávez tem enfrentado uma feroz oposição da direita. Na Venezuela, a redução da jornada de trabalho sem redução dos salários, possibilitou a criação de mais de 150 mil novos empregos. A não renovação da concessão da RCTV representou um golpe em um setor da imprensa que é tão ou mais podre que a Rede Globo no Brasil. Reconhecemos: devemos lutar para manter e ampliar essas conquistas. Porém, não podemos ter ilusões de que medidas como essas podem prescindir a revolução proletária e, sozinhas, conduzir a Venezuela ao socialismo. O que está em jogo na Venezuela não é socialismo ou capitalismo, mas a arrogância da direita golpista que não é capaz de tolerar nenhuma conquista dos trabalhadores.

Desde a fracassada tentativa de golpe em abril de 2002, a direita mais reacionária passou a buscar a “via democrática” para assumir diretamente o controle da Venezuela. Por isso, a organização com tendências de direita chamada Bandera Roja convocou recentes mobilizações estudantis contra o governo. É algo parecido com as manifestações que o “Movimento Cansei” tentou fazer no Brasil.

A principal bandeira dessas mobilizações é a vitória do “NÃO” no referendo de 2 de dezembro. Dizem que caso o “SIM” seja vitorioso, a Venezuela se transformará em uma ditadura, pois seria possível a reeleição indefinida de Chávez. Curiosamente, muitos outros países permitem a reeleição indefinida e, nem por isso, são chamados de ditaduras. Na verdade, o que a direita venezuelana não tolera é que, além dessa medida, a reforma constitucional visa acabar com a autonomia do Banco Central e proclamar o prosseguimento das nacionalizações nos setores da energia e do petróleo.

Tudo isso tem deixado a esquerda mundial muito confusa. Alguns, equivocadamente, acreditam que Chávez seja o caminho para o socialismo. Outros, no afã de denunciar que Chavéz não pode construir o socialismo, acabam fazendo um oposição tão vazia de conteúdo político que acaba por reproduzir os mesmos argumentos da direita golpista venezuelana.

No caso das recentes mobilizações da direita contra o governo, algumas correntes de esquerda, inclusive no Brasil, fizeram declarações de apoio aos atos contra o governo. Esquecem que estão manifestando apoio ao setor golpista e reacionário da Venezuela.

Nós do CCI, ao contrário, dizemos que não temos nenhuma confiança no governo Chávez. Porém quem deve fazer oposição a ele é o movimento operário e socialista, e não a direita. Temos levantado a palavra de ordem “Oposição Revolucionária ao governo Chávez”. Isso significa que a oposição de ser feita pelos revolucionários apoiados no movimento operário.

Afirmamos que a direita golpista não tem moral pra atacar governo nenhum e muito menos o governo Chávez. Por isso, nessas mobilizações, nos alinhamos com aqueles que militam para destruí-las, pois são manifestações reacionárias e golpistas.

Além disso, repudiamos com veemência a atitude de algumas organizações, como o PSTU, que tem apoiado essas manifestações e orientado sua seção na Venezuela a participar delas. Esse é um desvio grave, pois significa estar na trincheira do inimigo. Torna-se mais grave ainda na medida em que essas mobilizações têm terminado em confrontos armados. No Brasil, se houvesse uma mobilização do “Cansei” contra o governo Lula e a Central Única dos Trabalhadores se confrontasse com tal movimento, estaríamos na trincheira da CUT (que é uma organização de trabalhadores) contra a direita reacionária. Na Venezuela o sectarismo do PSTU tem levado esse partido a estar na trincheira do Bandera Roja. Esse é um erro muito grave, pois ultrapassa as fronteiras de classe.

Fazer oposição revolucionária ao governo Chávez significa, sem dar o mínimo apoio a esse governo, não ser sectário e fazer unidade de ação com ele para derrotar a direita e todos os seus movimentos. Aproveitando as mobilizações dos trabalhadores e moradores de favelas contra a direita, os revolucionários na Venezuela devem exigir, através dos métodos de luta próprios da classe operária, a expropriação sem indenização de todas as empresas venezuelanas, a nacionalização total das energias e o controle operário sobre a PDVSA. Sem dúvida alguma, essa pauta se chocaria com os golpistas e também com o próprio Chávez. Toda essa luta estaria a serviço da construção de um Partido Revolucionário de Trabalhadores na Venezuela como parte da batalha pela reconstrução da Quarta Internacional e por um governo direto dos trabalhadores venezuelanos.

Uma oposição como essa seria uma poderosa ferramenta capaz de destruir as ilusões daqueles que acreditam ser Chávez o caminho para o socialismo.

O sectarismo, por sua vez, em situações de confronto aberto, como na Venezuela, terminam mostrando sua outra face: o oportunismo e a colaboração com a direita. Aqueles que se colocam contra o governo Chávez, mas reproduzem os ataques da direita, conseguirão apenas ajudar o setor mais reacionário e, depois disso, serem rechaçados pelo movimento operário. E, quando isso acontecer, de nada adiantará montar um aparato próprio para dizer que a direção da classe está em disputa, pois a política acontece no mundo real e não no mundo dos factóides.

Scottsboro

Scottsboro

by James P. Cannnon

[First printed in The Militant,  April 9, 1932. Copied from http://www.marxists.org/archive/cannon/works/1932/apr/scott.htm ]

The Scottsboro case reveals American capitalism in one of its most hideous aspects, and offers to the Communists an exceptional opportunity to deal the whole system a mighty, world-resounding blow. The deliberately planned assassination of the unfortunate Negro children is notice to the entire world that imperialist America, this pretended pacifist and friend of justice, is in fact a monster. The endeavor to thwart its bloody designs in the present case calls out the deepest and best human instincts.

The words solidarity and justice acquire fresh values, they become new again in the struggle for the liberation of the helpless young Negro boys who await their fate in the Alabama jail. It is hard to think of a cause that could appeal more strongly to the hearts of the workers and all the oppressed than that of these obscure and friendless symbols of a doubly persecuted race and class.

From the revolutionary standpoint, the struggle, of course, goes far beyond the immediate objectives of the court appeals. To save the lives of the intended victims and restore their liberty is indeed our aim; but the only hope of accomplishing this is to set a really immense movement into motion. And such an achievement could have great implications for the strengthening of the Communist influence over the workers and the Negro masses. All of this is bound up together with the concrete fight for the freedom of the prisoners. To separate the one from the other, as the liberal and Socialist snivelers try to do, would only make the sacrifice of the prisoners doubly certain.

The problem consists primarily in the mobilization of the white workers for the fight. In our opinion it is incorrect to view the Scottsboro case as a “Negro issue”; it is wrong to direct the main agitation toward the Negro people and concrete organizational work around them, including their churches and lodges. Such a tactic will not be able to arouse a movement of the necessary breadth and power. And, moreover, it will fail even to make the desired impression on the Negro people.

There is no doubt that the Negro masses burn with indignation at the Scottsboro outrage and suffer their own thousandfold wrongs again in sympathy with the prisoners. But along with that, they cannot help being conscious of their position as a hopeless racial minority. What they need to inspire them for struggle is the prospect, or at least the hope, of victory. Direct agitation alone will never suffice for this. The sight of a significant movement of white workers fighting on their side is the agitator that will really move the Negroes and make them accessible to the Communist organizers of that movement.

The central problem of the Scottsboro defense movement is the organization of the white workers for the fight. Once a good start is made along this line, the enlistment of huge Negro contingents in the common struggle will be a comparatively simple matter. In this question, as in every important undertaking in the class struggle, the trade union movement exhibits its decisive importance. The trade unions ought to be alive at this moment with Communist agitation on the Scottsboro case. Here is an unexampled opportunity to explain to the organized workers the necessity of solidarity with their Black brothers, and to dramatize the argument with the monstrous story of Scottsboro.

Assuming a Communist Party that knows how to work in the trade unions, a big response can be expected from this agitation. The sympathies of the organized workers can be quickly crystallized into a network of conferences. The movement of the unions in this direction will give a tremendous impetus to the propaganda among the Negroes; they will join in the movement with enthusiasm and hope. The concrete demonstrations of white and Negro solidarity, ominously foreshadowing their coming union in the revolution, will impress the judicial hirelings more than a thousand lawyer’s briefs; will make them pause and weigh the possible consequences of their murders. The Communists, as the organizers and leaders of the unprecedented demonstration, as the loyal and capable champions of the most oppressed and persecuted, will gain an enormous prestige.

In such a perspective there is nothing fantastic. It assumes merely an active Communist Party which understands the essence of the Negro question, which applies the tactic of the united front, and which has not isolated itself from the trade union movement. Even in the present situation the deficiencies can be made up by a timely correction of policy. The best way to serve the Scottsboro case is to press for this

Appendix:

Darrow and the Scottsboro Case

by James P. Cannon

[First printed in The Militant, January 16, 1932. Copied from http://www.marxists.org/archive/cannon/works/1932/jan/scott.htm ]

The withdrawal of Clarence Darrow and Arthur Garfield Hays from all participation in the legal side of the Scottsboro case has called forth a chorus of praise from the bourgeois press. Darrow didn’t like the agi tational methods of the International Labor Defense. “You can’t mix politics with a law case,” he said. He would take pan in the legal defense only on the condition that the ILD keep out. The withdrawal of the fa mous lawyer on these grounds affords the brass-check newspapers -whose attention was drawn to the Scottsboro case by the stormy agita tion of the ILD—another occasion to point a moral about the harmful effects of “Communist interference” on behalf of any victim of bourgeois justice. Liberal snivellers and muddleheaded workers, whose thinking is done for them by the ruling class, are echoing this judgment.

Such arguments are not worthy of a moment’s consideration. The ILD was absolutely right in rejecting the presumptuous demands of Darrow and Hays, and the Scottsboro prisoners showed wisdom in supporting the stand of their defense organization. Any other course would have signified an end to the fight to organize the protest of the masses against the legal lynching; and with that would have ended any real hope to save the boys and restore their freedom.

There are people, of course—and too many of them—who hold a contrary view. But they are the credulous ones, who have faith in the justice and fairness of the class courts. We rejoice at the blow that has been dealt to this servile and treacherous philosophy. It is true that the lawyers in question are celebrated in their trade. But from our point of view, that fact only invests the calling of their bluff with a greater sig nificance and merits for it a warm approval.

“You can’t mix politics with a law case”—that is a reactionary lie. It is father to the poisonous doctrine that a labor case is a purely legal re lation between the lawyer and client and the court. It was under that sign with the same Darrow in the leading role that the McNamaras and Schmidt and Kaplan were sacrificed, and the labor movement was dealt a blow from which it has not yet recovered. It was the influence of this idea over the Sacco-Vanzetti Defense Committee which paralyzed the protest mass movement at every step and thereby contributed to the final tragic outcome. Not to the courts alone, and not primarily there, but to the masses must the appeal of the persecuted of class and race be taken. There is the power and there is the justice. The affair of Darrow, the Scottsboro prisoners, and the ILD will help to inculcate this lesson.

Venezuela e a esquerda

O marxismo e a “Revolução Bolivariana”

Venezuela e a esquerda

[Originalmente publicado pela então revolucionária Tendência Bolchevique Internacional (IBT), em 1917, n. 30, de abril 2008. A tradução para o português foi realizada pelo Reagrupamento Revolucionário em maio de 2017, a partir da versão disponível em http://www.bolshevik.org/1917/no30/no30-Venezuela.html]

Em janeiro de 2007, pouco depois de ganhar a reeleição, o presidente venezuelano Hugo Chávez declarou: “Estamos caminhando em direção a uma república socialista da Venezuela” (Guardian [Londres], 10 de janeiro de 2007). A Assembleia Nacional então aprovou uma “lei habilitante”, concedendo ao presidente autoridade para emitir decretos. Em dezembro de 2007, Chávez sofreu um grande revés quando seu plano para emendar a constituição do país em uma direção “socialista” foi derrotado em um referendo nacional. Desde então, Chávez prometeu desacelerar o ritmo da mudança, mas a chamada “Revolução Bolivariana”, que mobilizou milhões de trabalhadores e de pessoas pobres e estimulou muitas das organizações ostensivamente “marxistas” do mundo, sempre defendeu a preservação da propriedade capitalista.

Hugo Chávez, que foi eleito presidente da Venezuela pela primeira vez em dezembro de 1998, lidera um aparato de Estado organicamente vinculado à defesa da ordem social capitalista. Sua defesa do “socialismo” reflete uma distância da oligarquia burguesa dominante que lhe permite conter a agitação plebeia das massas, que periodicamente abalou a sociedade venezuelana. Chávez não é o primeiro “homem forte” de esquerda a chegar ao poder em uma neocolônia. Quando foi assassinado em agosto de 1940, Leon Trotsky, o grande revolucionário russo, vinha trabalhando em um artigo que tratava desse fenômeno:

“O governo dos países atrasados, ou seja, coloniais ou semicoloniais, assume, no seu conjunto, um caráter bonapartista ou semibonapartista. Diferem entre si porque enquanto alguns tratam de se orientar para a democracia, buscando o apoio de operários e camponeses, outros implantam uma rígida ditadura policial-militar. Isso determina também a sorte dos sindicatos: ou estão sob tutela do estado ou estão sujeitos a uma cruel perseguição. Essa tutela corresponde a duas tarefas antagônicas às quais o estado deve encarar: em primeiro lugar atrair a classe operária para assim ganhar um ponto de apoio para a resistência às pretensões excessivas por parte do imperialismo, e ao mesmo tempo, disciplinar os mesmos operários colocando-os sob o controle de uma burocracia.”

Os Sindicatos na Época da Decadência Imperialista, 1940.

https://www.marxists.org/portugues/trotsky/1940/mes/sindicato.htm

O recém-derrotado pacote de reformas constitucionais foi anunciado por Chávez como um caminho “dirigido diretamente para o socialismo” (Economist, 16 de agosto de 2007). A oposição de direita e seus mentores imperialistas denunciaram o “comunismo de estilo cubano” e alegaram que a proposta de remover os limites do mandato presidencial provou que Chávez pretendia ser “presidente vitalício”.

Algumas das emendas constitucionais propostas, como reduzir a semana de trabalho, estender a cobertura de pensões e proibir a discriminação com base no estado de saúde ou orientação sexual, eram apoiáveis. É significativo que não existisse uma proposta para descriminalizar o aborto, cujo acesso permanece severamente restringido. Já outras “reformas” eram antidemocráticas – incluindo a supressão de um limite de 180 dias sobre as declarações presidenciais de “estado de emergência” e elevando o número de assinaturas necessárias para um referendo revocatório de 20 a 30% do eleitorado. Outra alteração garantia a propriedade capitalista. Tomado como um todo, o pacote de reformas constitucionais não era apoiável.

Um voto de “sim” no referendo era um endosso ao tipo de reformismo bonapartista de Chávez. Contudo, os oponentes mais mortíferos dos trabalhadores e dos oprimidos se mobilizaram pesadamente para um “não”. Nessa situação, a tática apropriada para os revolucionários era defender o voto nulo, como uma expressão de hostilidade à oposição imperialista e de nenhum apoio político ao regime burguês bolivariano.

Milhões de venezuelanos que haviam apoiado anteriormente Chávez chegaram a essa conclusão e se recusaram a votar. Alguns podem ter sido desencorajados pela chamativa deserção do general Raúl Isaías Baduel, que tinha desempenhado um papel fundamental na restauração de Chávez após o golpe reacionário de abril de 2002. Outros foram sem dúvidas afetados pela campanha de sabotagem de baixa intensidade realizada por elementos de direita. Mas parece que a maioria dos trabalhadores que ficaram em casa fizeram isso porque suspeitavam das “reformas” políticas antidemocráticas e do compromisso de Chávez em defender as prerrogativas dos grandes capitalistas.

Alan Woods, líder da Tendência Marxista Internacional (IMT), cuja seção venezuelana é a Corrente Marxista Revolucionária (CMR [atualmente, em 2017, é uma corrente interna do PSUV, que publica o jornal Lucha de Classes]) [no Brasil, é a Esquerda Marxista], defendeu “completar a Revolução” com “um voto maciço de ‘sim’ no referendo” (marxist.com, 20 de novembro 2007). Woods estava animado com propostas que permitiriam ao presidente criar novas jurisdições políticas sub-nacionais para contornar governos estaduais controlados por forças hostis.

Chávez também havia proposto várias instituições de base com um poder de decisão limitado. A peça central seria uma expansão maciça dos “conselhos comunais”, compostos por entre 200 e 400 famílias em áreas urbanas. Em janeiro de 2007, Chávez anunciou que os vários mil conselhos comunais já existentes iriam receber 5 bilhões de financiamento governamental, 1.5 bilhões a mais do que no ano anterior. Os conselhos, que tendem a ter um caráter bastante plebeu, incorporam uma variedade de organismos previamente existentes:

“Os Círculos Bolivarianos, os Comitês de Planejamento Público Local, as UBEs [Unidades de Batalha Eleitoral] e os CTUs [Comitês de Terra Urbanos] foram todos veículos de mobilização e participação populares que floresceram em vários graus no início e meados dos anos 2000, conforme a revolução bolivariana se desenvolveu. Mas eles parecem ter sido substituídos ou subsumidos pela ascensão dos conselhos comunais, que se tornaram as estruturas predominantes para o poder popular na Venezuela no momento.”

— venezuelanalysis.com, 10 de outubro de 2007.

A sugestão de Chávez, de que os conselhos comunais poderiam formar o núcleo de um novo aparato de Estado, encantou muitos de seus admiradores “marxistas”, embora seja geralmente reconhecido que eles não são órgãos genuínos do poder proletário. A seção neozelandesa da Tendência Socialista Internacional (IST), por exemplo, que afirma que há “um cenário de poder dual na Venezuela”, admite que “esses conselhos não são os mesmos que os sovietes operários da Rússia de 1917” (Venezuela’s deepening revolution & international socialist coordination, 1º de maio de 2007).

O grupo inglês Workers Power, que na edição de fevereiro de 2007 de seu jornal observou que os conselhos comunais “não têm a independência de classe dos organismos de tipo soviético e não são a fonte do poder estatal, mas uma criação ‘participativa’ e subordinada a ele”, posteriormente realizou um giro na sua posição:

“… a grande milícia popular parcialmente armada, os novos conselhos comunais, a minoria de fábricas sob algum grau de controle dos trabalhadores, as cooperativas, mostram que existem importantes elementos de poder dual entre as novas organizações de trabalhadores e as instituições do Estado capitalista. Um período revolucionário começou, mas a revolução, que é a derrubada deste Estado, ainda não ocorreu. “

Workers Power, setembro de 2007.

A avaliação inicial do Workers Power estava mais próxima do alvo. Longe de criar uma situação de “poder dual”, ou de prefigurar uma república socialista, os conselhos comunais são formações policlassistas cuja função principal é fortalecer o bonapartismo bolivariano, vinculando as massas populares ao Estado capitalista através da presidência.

“Socialismo” bolivariano: cooperativas e co-gestão

Os partidários esquerdistas de Chávez estão inclinados a interpretar a expansão das microempresas cooperativas e do setor estatal como evidência do surgimento da propriedade “socialista”. Quando Chávez assumiu o cargo, havia menos de mil cooperativas; hoje existem dezenas de milhares, empregando centenas de milhares de pessoas anteriormente excluídas do setor formal da economia. O governo fornece capital inicial sob a forma de empréstimos e encoraja redes “endógenas” com outras cooperativas e as quase independentes “missões” sociais bolivarianas apoiadas pelo governo. Os resultados foram mistos:

“A experiência mostrou como é difícil decretar tais mudanças experimentais na vida das pessoas a partir de cima. O governo calculou o número de cooperativas em 2006 em 140.000, mas este ano o Ministério da Economia Popular anunciou que contava apenas com 74.000. Pior ainda, um censo mais recente indicou apenas 48.000. Muitas cooperativas nunca se ergueram de fato, e em outros casos, os membros da cooperativa embolsaram o dinheiro que receberam de empréstimos ou os adiantamentos para contratos. Um deputado pró-Chávez admitiu: ‘Até agora, ninguém pode dizer que o programa cooperativo tenha sido bem-sucedido. Na verdade, há pouco para mostrar considerando todo o dinheiro que foi gasto’.”

— venezuelanalysis.com, 28 de agosto de 2007.

Muitas cooperativas falharam, enquanto que as que conseguiram o fizeram como pequenas empresas capitalistas que descobriram como lucrar. Os trabalhadores cooperativos, como “proprietários” de microempresas marginalmente viáveis, muitas vezes ganham menos do que o salário mínimo. Algumas grandes empresas optaram por terceirizar o trabalho para as cooperativas em vez de expandir sua força de trabalho sindicalizada.

No campo, o governo distribuiu quase dois milhões de hectares de terras estatais a mais de 150.000 camponeses pobres, que em muitos casos pertencem a cooperativas agrícolas. Mais de 300 mil hectares de terras “subutilizadas” de propriedade privada também foram retomadas, enquanto os grandes proprietários que usam suas terras “produtivamente” não foram tocados (venezuelanalysis.com, 26 de março de 2007).

Trabalhadores em algumas cooperativas urbanas estão envolvidos em “co-gestão” de suas empresas com os proprietários ou burocratas do governo. Alguns esquerdistas interpretaram isso como uma forma de “controle dos trabalhadores sobre a indústria”, o que não é verdade. O controle genuíno dos trabalhadores é caracterizado pela dualidade de poder no local de trabalho, e não pela colaboração de classe institucionalizada. Ela tende a se desenvolver em situações pré-revolucionárias e constitui o que Trotsky chamou de “escola para a economia planejada”.

Dois dos exemplos mais célebres de empresas “nacionalizadas” sob gestão conjunta na Venezuela são a Invepal e Inveval – empresas privadas cujos proprietários participaram do locaute patronal de dezembro de 2002 a janeiro de 2003 contra Chávez. Centenas de empresas fecharam devido ao locaute e centenas de milhares de trabalhadores foram jogados na rua como resultado, mas poucas empresas foram tomadas pelo Estado. A Invepal (então conhecido como Venepal) devia salários a seus trabalhadores, enquanto Inveval (então conhecido como Constructora Nacional de Válvulas) declarou falência. Em 2005, o governo concordou em comprar as instalações após os trabalhadores terem ocupado as instalações exigindo nacionalização.

Na Inveval, uma fábrica de válvulas dependente de contratos com a petrolífera estatal Petróleos de Venezuela Sociedad Anónima (PDVSA), a cooperativa de empregados tem 49 por cento de participação e um conselho de fábrica eleito por uma assembleia de trabalhadores executa a operação. No entanto, a empresa, que operava com apenas 10% de capacidade em 2007, permanece sujeita às flutuações do mercado. Um fator nisso foi a decisão da PDVSA de renegar as transações assinadas (venezuelanalysis.com, 27 de julho de 2007).

Em fevereiro de 2006, os trabalhadores da Inveval lançaram a Frente Revolucionária dos Trabalhadores de Fábricas Co-gerenciadas e Ocupadas (FRETECO), que inclui representantes de uma dúzia de outras empresas. O projeto recebeu pouco apoio da liderança do Sindicato Nacional de Trabalhadores (UNT – a principal federação sindical) e é ainda mais prejudicado pela lealdade política de seus líderes ao governo. A IMT relatou uma reunião da FRETECO em outubro de 2006, presidida pelo apoiador da CMR, Jorge Paredes:

“O encontro foi oficialmente aberto às 18h por Jorge Paredes, trabalhador e presidente da Inveval, que acolheu todos os presentes. Entre os convidados estavam representantes do Ministério do Trabalho, Julio Barba, do Ministério da Indústria Leve e do Comércio, bem como a ex-ministra do Meio Ambiente, Ana Elisa Osoria, que expressaram um vivo interesse na luta dos trabalhadores das fábricas ocupadas”.

— marxist.com, 17 de outubro de 2006.

A reunião concluiu “com todos os trabalhadores e convidados cantando o hino nacional venezuelano”.

A Invepal é uma fábrica de papel no estado de Carabobo, onde o governo também entregou uma participação de 49 por cento para a cooperativa de funcionários. O experimento de co-gestão ficou feio quando se contratou trabalho por fora na planta da empresa em Maracay:

“Sob requisição do governo para que se provasse capaz de gerir a empresa, o presidente recentemente eleito utilizou  gerência contratada, que procedeu então à contratação de trabalhadores cujas condições eram muito piores do que a dos ‘trabalhadores-proprietários’. Os protestos maciços dentro da fábrica na reação a isso resultaram em demissões igualmente massivas: 120 trabalhadores foram demitidos em novembro de 2005. Eles ainda estão mantendo barricadas 11 meses depois.”

— venezuelanalysis.com, 25 de outubro de 2006.

Em fevereiro de 2005, as assembleias de trabalhadores foram autorizadas a eleger administradores da empresa de alumínio estatal Alcasa, embora o presidente da empresa fosse nomeado por Chávez. Os trabalhadores aparentemente decepcionaram seus benfeitores bolivarianos. O porta-voz “revolucionário” de Alcasa, Alcides Rivero, queixou-se recentemente de “uma cultura onde os trabalhadores só trabalhavam para conseguir dinheiro” (venezuelanalysis.com, 30 de outubro de 2007).

A situação na empresa estatal “co-gerida” Cadafe é ainda mais tensa. De acordo com um observador, existem:

“… experiências amargas na luta pela co-gestão, como na indústria de eletricidade. Não era que os trabalhadores de eletricidade já não quisessem co-gerir, mas que não mais defendiam isso ‘por causa da enorme luta que tiveram contra a administração da [empresa estatal] Cadafe. A gestão de Cadafe fez o tudo o possível para sabotar e derrotar movimentos pela co-gestão. Se você vai à maioria dos trabalhadores no setor elétrico e sequer menciona a palavra co-gestão, já os fazem sentir um calafrio na espinha’. [Federico] Fuentes disse que os trabalhadores ainda levantam o conceito de participação dos trabalhadores, mas não mais falam em co-gestão especificamente.”

Green Left Weekly, 2 de agosto de 2007.

No entanto, mesmo essas experiências limitadas com co-gerenciamento são exceções à regra. Chávez ameaçou rapidamente assumir a Siderúrgica do Orinoco, uma das maiores siderúrgicas da América Latina, que havia despedido milhares de trabalhadores quando foi privatizada em 1998. Em maio de 2007, quando os trabalhadores que exigiam a re-nacionalização bloqueavam a entrada, a administração da Sidor respondeu oferecendo aumentar a produção de tubulação metálica para o mercado interno. Chávez aceitou a proposta e concordou em permitir que o Grupo Argentino Techint e seus parceiros mantivessem sua participação de 60% na empresa. No início deste ano, 14 mil trabalhadores permanentes e contratados da Sidor entraram em greve por um aumento do salário e pelo pagamento de contribuições de pensão pendentes. O Ministério do Trabalho, talvez em reconhecimento da cooperação anterior da empresa, interveio com um pedido para que os trabalhadores reduzissem suas demandas pela metade (venezuelanalysis.com, 2 de fevereiro).

Chávez também se recusou a nacionalizar a Sanitarios Maracay, uma fábrica de cerâmica que os trabalhadores ocuparam por seis semanas no início de 2006 e, em seguida, novamente no final do ano, quando o proprietário decidiu fechar a fábrica. Os trabalhadores responderam elegendo um conselho de fábrica para manter a empresa em funcionamento. Em abril de 2007, os trabalhadores de Sanitarios foram atacados pela polícia e pelas forças da guarda nacional a caminho de um comício de FRETECO em Caracas. Vinte e uma pessoas foram presas e 14 feridas por tiroteio. Um mês depois, 3.000 trabalhadores da UNT no estado de Aragua fizeram uma greve de um dia para protestar contra este absurdo.

Em agosto de 2007, Humberto López, ex-líder da UNT na Sanitarios, liderou um grupo de funcionários e supervisores da empresa que tomaram a fábrica e depuseram o conselho de fábrica. Eles fizeram um acordo com o proprietário, sob os auspícios do Ministério do Trabalho, que devolveu a fábrica em troca de um acordo para pagar salários devidos aos trabalhadores. Um sistema de co-gestão foi introduzido com uma comissão de 13: três do Ministério do Trabalho e cinco representantes dos trabalhadores e do proprietário (venezuelanalysis.com, 18 de agosto de 2007).

A CANTV, principal empresa de telecomunicações da Venezuela e maior empresa privada, que havia sido privatizada em 1991, foi comprada de volta por US$ 1,3 bilhão. O governo também “nacionalizou” a elétrica de Caracas, Electricidad de Caracas, fazendo com que a PDVSA adquirisse os 82% pertencentes à AES Inc. de Arlington, Virgínia, por US$ 739 milhões.

“Re-nacionalizando” o petróleo da Venezuela

A indústria petrolífera venezuelana foi nacionalizada em 1976, mas na década de 1990 os direitos lucrativos de exploração e produção foram entregues às multinacionais do petróleo. No âmbito dos “Contratos de Serviços Operacionais” (OSAs), as companhias estrangeiras de petróleo não compravam e vendiam petróleo, mas simplesmente atuavam como “contratadas” prestando “serviços” à PDVSA (que manteve a propriedade nominal do petróleo). De acordo com Rafael Ramirez, ministro da Energia da Venezuela, as “taxas” pagas a essas “contratadas” apenas por acaso estavam ligadas aos preços mundiais do petróleo, e as empresas consequentemente evitavam pagar a alíquota de 50% sobre os lucros do petróleo.

Chávez encerrou esse acordo ao converter os OSAs em “empreendimentos mistos”, nos quais a PDVSA detém participação majoritária. As taxas de royalty foram aumentadas e muitas ex “contratantes” foram cobradas os impostos não pagos. Apesar de alguns resmungos, a maioria das multinacionais estrangeiras ao fim concordou com os novos termos.

Transformar os OSA em “empresas mistas” foi apenas o primeiro passo no que Chávez chamou de “re-nacionalização” do petróleo venezuelano. No dia 1º de maio de 2007, o presidente anunciou a “re-nacionalização” do que se pensa ser centenas de bilhões de barris de petróleo extra-pesado na região do Orinoco. A francesa Total, a norueguesa Statoil, a Chevron e a British Petroleum concordaram em vender parte da sua participação na Faixa do Orinoco para a PDVSA, enquanto os conglomerados norte-americanos ExxonMobil e ConocoPhilips, que resistiram à aquisição, tiveram seus investimentos expropriados (estimados em US$750 milhões e US$4,5 bilhões). Eles apelaram para o Centro Internacional para a Resolução de Disputas de Investimento (ICSID), uma agência do Banco Mundial imperialista. Em fevereiro, a ExxonMobil obteve ordens judiciais temporárias congelando US$12 bilhões em ativos da PDVSA na Grã-Bretanha e Holanda, aguardando a decisão do ICSID (venezuelanalysis.com, 8 de fevereiro).

A maioria das multinacionais decidiu acompanhar a “re-nacionalização”, porque elas podem colher lucros enormes. Para diversificar a participação estrangeira no desenvolvimento dos recursos do petróleo cru pesado do Cinturão do Orinoco, o governo conseguiu investimentos do Brasil, China, Irã e Rússia. O regime de Chávez deixou claro que favorece a propriedade estrangeira de uma parcela significativa de sua indústria de petróleo, enquanto a PDVSA mantém o controle majoritário e os impostos e royalties ​​são pagos.

Enquanto os marxistas defendem certamente o direito de cada neo-colônia de controlar seus recursos naturais, a “re-nacionalização” de Chávez, que compensou amplamente as “grandes” do petróleo, dificilmente constitui um golpe contra o capitalismo internacional. Não há nada inerentemente “anti-imperialista” sobre companhias petrolíferas nacionalizadas, como observou o New York Times (10 de abril de 2007):

“Durante as últimas décadas, o controle das reservas globais de petróleo passou de empresas privadas para companhias petrolíferas nacionais como a Petróleos de Venezuela [PDVSA]. De acordo com um novo estudo da Universidade Rice, 77% dos 1.148 trilhões de barris de reservas comprovadas estão nas mãos das empresas nacionais; 14 das 20 maiores empresas produtoras de petróleo são controladas pelo Estado”.

O tom “anti-imperialista” das políticas petrolíferas de Chávez deriva em grande parte da tentativa de reduzir a dependência do mercado norte-americano, que atualmente absorve a metade das exportações de petróleo da Venezuela. Em uma era de oferta de petróleo cada vez menor e incerto, a estimativa da Venezuela de 300 bilhões de barris de petróleo leve e pesado é um prêmio significativo. É possível que os cálculos atuais possam subestimar consideravelmente as reservas do país. O jornalista investigativo Greg Palast afirma que um relatório interno do Departamento de Energia dos EUA sugere que a Venezuela possua realmente 1,36 trilhões de barris de petróleo (znet.com, 24 de maio de 2006). Se isso for verdade, tornaria a Venezuela a principal fonte de petróleo do planeta e aumentaria sua importância estratégica.

Washington está preocupado com a crescente influência da Venezuela na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, que, como Chávez, está no topo da lista de inimigos do imperialismo norte-americano, juntou-se ao líder bolivariano para culpar o aumento dos preços do petróleo no enfraquecimento do dólar norte-americano (New York Times, 19 de novembro de 2007). Em setembro de 2007, Chávez ordenou à PDVSA “converter suas contas de investimento de dólares em euros e moedas asiáticas” (New York Times, 30 de novembro de 2007). O Irã há muito faz campanha para a OPEP começar a precificar o petróleo em euros, em vez de dólares, movimento que aceleraria consideravelmente a deterioração da posição internacional dos EUA.

Fugindo do cerco do Tio Sam

O sucesso de Chávez em afrouxar o cerco de Washington pode ser atribuído a três fatores: aumento dos preços do petróleo, que tanto encheu os cofres do governo e reforçou a importância geoestratégica da Venezuela; a relativa independência do regime em relação aos elementos da burguesia nacional mais alinhados com Washington; e a diminuição da capacidade de intervenção dos militares norte-americanos na América Latina, estando atolados no Iraque.

Em maio de 2007, a Venezuela anunciou sua intenção de se retirar do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, dois mecanismos-chave do controle imperial dos EUA no hemisfério. A influência do FMI na América Latina diminuiu dramaticamente recentemente:

“Os empréstimos do FMI na área caíram para US$ 50 milhões, ou menos de 1% de seu portfólio global, em comparação com 80% em 2005.

“A carteira mundial do credor internacional caiu para US$11,8 bilhões de um pico de US$81 bilhões em 2004, e uma única nação, a Turquia, agora responde por cerca de 75%”.

— miamihHerald.com, 1 de março de 2007.

Em agosto de 2007, Chávez anunciou que a Venezuela compraria US$1 bilhão em títulos da Argentina:

“Com a Argentina querendo diversificar suas fontes de financiamento após a inadimplência de 2001, Chávez entrou em cena, comprando títulos que somam US$4,7 bilhões antes da última compra. Com sua ajuda, ‘a Argentina está se libertando do Drácula, está quebrando as correntes do FMI’, disse Chávez.”

Economist, 9 de agosto de 2007

Chávez desempenhou um papel fundamental no lançamento do Banco do Sul para substituir o FMI, com um fundo de US$7 bilhões para promover infraestrutura regional, bem como pesquisa e desenvolvimento. O Banco do Sul foi oficialmente lançado em dezembro de 2007, em uma cerimônia de assinatura em Buenos Aires, na qual participaram representantes da Argentina, Bolívia, Brasil, Equador, Paraguai, Uruguai e Venezuela. A Associated Press (9 de dezembro de 2007) informou que Augusto de la Torre, economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina, afirmou que “esta nova iniciativa não é percebida como um concorrente”, mas isso é claramente o que Chávez pretende.

O Banco do Sul e a compra de títulos argentinos pela Venezuela complementam a “Alternativa Bolivariana para as Américas” (ALBA), uma iniciativa para promover a cooperação latino-americana lançada em 2004 por Chávez e Fidel Castro para competir com o projeto da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Através da ALBA, Cuba presta serviços médicos a centenas de milhares de venezuelanos em troca de petróleo. Em abril de 2006, o recém-eleito presidente da Bolívia, Evo Morales, decidiu se juntar à ALBA:

“Morales disse que a Venezuela prometeu uma ajuda total de US$2 bilhões (ou mais de 20% do PIB da Bolívia) desde que assumiu o poder. A Venezuela comprou US$100 milhões de títulos do governo boliviano; também deu um empréstimo para a agricultura, e 5.000 bolsas para bolivianos para estudarem na Venezuela.

“Em abril, Morales assinou um ‘Tratado de Comércio dos Povos’ com Chávez e Fidel Castro, o presidente comunista cubano. Nesse sentido, a Venezuela deve trocar 200 mil barris por mês de combustível diesel subsidiado por 200 mil toneladas anuais de soja boliviana. Médicos e professores cubanos, provavelmente pagos pela Venezuela, já começaram a trabalhar em programas de saúde e alfabetização na Bolívia; Cuba também está doando equipamentos médicos.

“‘Só em Cuba e na Venezuela podemos encontrar apoio incondicional’, disse recentemente o Sr. Morales. Ele reclamou de ‘chantagem e ameaças’ de ‘outros países’. Essa parece ser uma referência aos Estados Unidos, que tem ligado grande parte da sua ajuda à sua ‘guerra contra as drogas’ e à erradicação da coca.”

Economist, 8 de julho de 2006.

Pouco depois de assumir o cargo de presidente da Nicarágua, em janeiro de 2007, o líder sandinista Daniel Ortega anunciou que seu país também se associaria à ALBA. Em poucas semanas, a Venezuela tinha:

“… já concordado em perdoar mais de US$30 milhões em dívidas nicaraguenses, fornecer mais de duas dúzias de usinas para aliviar a escassez de eletricidade e abrir um escritório do banco de desenvolvimento da Venezuela em Manágua para oferecer empréstimos a juros baixos para pequenas empresas”.

New York Times, 24 de fevereiro de 2007.

Em abril de 2007, na cúpula da ALBA em Caracas, foram desenvolvidos planos para promover a saúde, a educação e o desenvolvimento econômico na região:

“Chávez também propôs a ideia da construção de uma usina petroquímica no Haiti, juntamente com uma refinaria de petróleo para refinar o petróleo enviado da Venezuela. Ele também propôs a construção de refinarias na Nicarágua, Equador, Bolívia, Dominica e Cuba. Chávez também disse que seu governo planeja vender as sete refinarias que possui nos Estados Unidos e construir uma nova rede de refinarias na América Latina.”

— venezuelanalysis.com, 30 de abril de 2007.

Caracas e Buenos Aires

“… concordaram em construir uma fábrica na Argentina que transformará o gás natural líquido da Venezuela em gás utilizável. A usina vai permitir que a Venezuela envie gás líquido para a Argentina por navio, uma mudança de estratégia de Chávez, conforme desandaram as discussões para um gasoduto da Venezuela via Brasil.

“A usina de conversão de gás seria um projeto conjunto entre a petrolífera estatal venezuelana, a Petroleos de Venezuela e a empresa estatal argentina Enarsa”.

New York Times, 7 de agosto de 2007.

A Venezuela também busca fortalecer os laços econômicos com a Rússia. O ministro russo das Relações Exteriores, Sergey Larov, disse que a estatal Gazprom estava estudando a possibilidade de formar uma empresa conjunta com a PDVSA para realizar projetos de gás natural e petróleo, enquanto o vice-presidente russo, Alexander Zhukov, enfatizou as perspectivas potenciais na construção do Gasoduto do Sul:

“Este projeto, promovido pelo presidente da Venezuela, seria a construção de um gasoduto de 10 mil quilômetros de extensão da Venezuela para a Amazônia brasileira e para o sul até a Argentina. Seu custo estimado seria de cerca de US$23 bilhões e transportaria 150 milhões de metros cúbicos de gás venezuelano por dia do Mar do Caribe para a Argentina.”

— venezuelanalysis.com, 23 de outubro de 2007.

Em 2006, a Venezuela, a Síria e o Irã assinaram um acordo “para construir uma refinaria de petróleo de US$1,5 bilhões na Síria” (New York Times, 2 de novembro de 2006). Em julho de 2007, os governos iraniano e venezuelano começaram a construção de uma usina petroquímica de US $ 700 milhões perto de Teerã, com planos para instalações idênticas na Venezuela. Uma empresa conjunta de automóveis, Venirauto, já está no negócio. As primeiras 300 unidades saíram da linha de montagem em Caracas em julho de 2007, embora o plano seja produzir 25 mil carros anualmente até 2010:

“A empresa Venirauto, que é 51% iraniana e 49% venezuelana, está produzindo dois modelos diferentes. O primeiro modelo, o Turpial a um preço de Bs. 17 milhões (US$7.906), é um sedan de 4 portas baseado no antigo modelo Kia Pride. O segundo é o Centauro, a um preço de Bs. 23 milhões (US$11.069), e é baseado no Peugeot 405, dado que a empresa francesa é o principal fornecedor de motores e tecnologia para a empresa iraniana.”

— venezuelanalysis.com, 10 de julho de 2007.

Venezuela e Irã assinaram acordos no valor de aproximadamente US $ 17 bilhões, uma colaboração que Chávez celebrou ao nomear grotescamente o iraniano Ahmadinejad como “um dos maiores combatentes anti-imperialistas” (Associated Press, 28 de setembro de 2007).

A Venezuela também fortaleceu os laços com os líderes burocráticos do Estado operário deformado chinês:

“As ligações da China com a Venezuela são agora mais fortes na América Latina. Além dos US $ 1,5 bilhão já comprometidos com a Venezuela, a joint venture Orinoco [entre a PDVSA e a China National Petroleum Corp] poderia exigir investimentos adicionais de US $ 3 bilhões a 4 bilhões, tornando a Venezuela, de longe, a maior receptora de investimentos chineses na região.”

— economist.com, 10 de abril de 2007.

Em agosto de 2006, Pequim assinou um acordo com Caracas que projeta elevar as importações de petróleo da Venezuela para um milhão de barris por dia até 2012. (Os EUA atualmente importam mais de um milhão de barris por dia da República Bolivariana.) A China também ofereceu fornecer petroleiros e ajudar a Venezuela a construir novas plataformas de perfuração. Em novembro de 2007, os dois países concordaram em doar um fundo de desenvolvimento conjunto com US $ 6 bilhões, dois terços fornecidos pelo Banco Chinês de Desenvolvimento e um terço pela Venezuela (venezuelanalysis.com, 7 de novembro de 2007).

O imperialismo ianque se arrepia

Toda esta atividade alarmou ainda mais um establishment de política externa norte-americano já preocupado com a erosão da influência na América Latina:

“A Casa Branca ficou indignada quando o Chile e o México, representantes da América Latina no Conselho de Segurança da ONU em 2003 e dois dos mais próximos aliados de Washington na região, se opuseram a uma resolução que endossava a invasão do Iraque. De fato, dos 34 países da América Latina e do Caribe, apenas sete apoiaram a guerra. Seis deles (Costa Rica, República Dominicana, El Salvador, Honduras, Nicarágua e Panamá) estavam envolvidos em negociações comerciais com os Estados Unidos na época. E a sétima, a Colômbia, recebe mais de US $ 600 milhões por ano em ajuda militar dos EUA”.

Foreign Affairs, janeiro / fevereiro de 2006.

A América Latina continua a ser um mercado extremamente importante para os EUA, que exporta mais de US $ 100 bilhões por ano para o México e outros US $ 50 bilhões para o resto da região. As declarações francas de Chávez sobre o imperialismo norte-americano e a busca pelo seu regime de autonomia regional não foram bem recebidas em Washington. A secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, caracterizou Chávez como “um dos homens mais perigosos do mundo” (Independent [Londres], 16 de maio de 2006). Um documento da Estratégia de Segurança Nacional dos EUA de março de 2006 reclamava: “Na Venezuela, um demagogo inundado de dinheiro do petróleo está minando a democracia e buscando desestabilizar a região” (citado em The Progressive, 24 de setembro de 2006).

Chávez respondeu a essas ameaças com uma modesta expansão do exército venezuelano. Em janeiro de 2007, o Pentágono calculou que a Venezuela gastou mais de US $ 4 bilhões em armas nos dois anos anteriores (New York Times, 25 de fevereiro de 2007). Em 2006, quando os EUA suspenderam as vendas de armas para a Venezuela e bloquearam a aquisição de aeronaves militares da Espanha e do Brasil ao negar as licenças de exportação para os componentes fabricados nos Estados Unidos, Chávez voltou-se para a Rússia, comprando cinco submarinos, além de “24 aviões russos de ataque de dois lugares Sukhoi-30, 34 helicópteros e 100.000 Kalashnikovs” (Guardian, 15 de junho de 2007).

George W. Bush, sob cuja gestão o governo norte-americano orquestrou o fracassado golpe de abril de 2002 contra o líder bolivariano eleito democraticamente, expressou hipocritamente sua preocupação com o “enfraquecimento das instituições democráticas” na Venezuela (New York Times, 1 de fevereiro de 2007). As várias agências da “democracia” norte-americana – incluindo o National Endowment for Democracy, o Instituto Republicano Internacional e o Instituto Nacional Democrático – deram apoio financeiro e técnico à oposição pró-imperialista da Venezuela. Em 2006, a Associated Press revelou que só a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) distribuiu mais de US $ 26 milhões na Venezuela desde 2002 para “fortalecer a democracia”. Eva Golinger, autor do livro Bush vs Chávez: Washington’s War Against Venezuela (“A Guerra de Washington contra a Venezuela”) relatou:

“O trabalho da USAID e do seu OTI [Office of Transition Initiatives] na Venezuela levou a um aprofundamento da subversão contrarrevolucionária no país. Até junho de 2007, mais de 360 ​​’bolsas’ foram concedidas a organizações sociais, partidos políticos, comunidades e projetos políticos na Venezuela, por meio de Development Alternatives Inc. (DAI), uma empresa contratada pela USAID, que abriu um escritório no El Rosal, em Caracas, em junho de 2002. Do centro de Caracas, a DAI / USAID destinou mais de US $ 11.575.509 a estes 360 grupos e projetos na Venezuela, no âmbito do programa ‘Venezuela: Iniciativas para a Construção da Confiança’ (VICC). A maioria dos programas financiados pela DAI concentra-se (segundo os seus materiais) no ‘diálogo político, debate público, participação dos cidadãos e formação e capacitação dos líderes democráticos’.”

—Venezuelanalysis.com, 12 de setembro de 2007.

A bonança da burguesia bolivariana

Enquanto muitos dos grandes capitalistas venezuelanos criticam Chávez, outros estão mais impressionados com o fato de que seus negócios estão crescendo sob o presidente “socialista”. O presidente do Clube de Caracas, Fernando Zozaya, perguntado sobre a visão bolivariana de Chávez, respondeu: “Digamos que seja um tipo muito especial de socialismo” (Guardian, 13 de novembro de 2006). José Guerra, ex-pesquisador-chefe do Banco Central da Venezuela, foi menos atrevido: “O capitalismo apoiado pelo Estado não está apenas sobrevivendo sob Chávez”, disse ele. “Está prosperando” (New York Times, 3 de dezembro de 2006). Um importante porta-voz do capitalismo americano fez uma observação semelhante:

“Empresas locais e estrangeiras estão arrecadando mais dinheiro do que nunca na Venezuela. O comércio bilateral entre os EUA e a Venezuela nunca foi maior. A Venezuela exportou mais de US $ 42 bilhões para os EUA no ano passado, incluindo 1 milhão de barris de óleo por dia, e importou US $ 9 bilhões em bens americanos, um aumento de 41% em relação a 2005.”

BusinessWeek, 25 de junho de 2007

O PIB da Venezuela, que era de US $ 117,1 bilhões em 2000, cresceu para US $ 181,9 bilhões em 2006 (World Development Indicators database, Banco Mundial, abril de 2007). Baixas taxas de juros e alta inflação levaram a empréstimos maciços e um boom financeiro:

“Os lucros cresceram 33 por cento no ano passado, liderados por aumentos de mais de 100 por cento nos empréstimos com cartão de crédito e 143 por cento no crédito automóvel, de acordo com a Softline Consulting, uma empresa de análise financeira daqui. A contribuição das indústrias bancária e de seguros para o produto interno bruto subiu 37 por cento em 2006, disse o banco central.

“O mercado parecia atraente o suficiente há dois anos atrás que o Stanford Financial Group de Houston colocou o risco político em segundo plano para abrir uma dúzia de filiais aqui. Agora, remodelando sua torre de escritórios no bairro comercial de El Rosal, em Caracas, o banco viu sua receita na Venezuela crescer quatro vezes e sua carteira de crédito quase triplicou no ano passado.”

New York Times, 15 de junho de 2007.

Os membros da chamada “boliburguesia” – empresários com conexões governamentais e contratos públicos – não se alarmam com a fala de Chávez de “transcender o capitalismo”. O diretor da Associação de Bancos da Venezuela, Francisco Aristeguieta, que parece bastante satisfeito com o status quo, observou: “Chávez está dizendo que é o trabalho de todos nós que a Venezuela prossiga” (New York Times, 7 de maio de 2007). Chávez assegurou periodicamente a seus aliados burgueses que: “Não temos nenhum plano para eliminar a oligarquia, a burguesia venezuelana. Demonstramos isso o suficiente em mais de oito anos” (Venezuelanalysis.com, 4 de junho de 2007).

A principal federação patronal, Fedecámaras, perdeu sua filial no estado de Bolívar por sua oposição às reformas constitucionais propostas pelo regime (Venezuelanalysis.com, 27 de novembro de 2007). Alejandro Uzcátegui, dos Empresários para a Venezuela (Empreven), uma associação pró-Chávez, opinou: “Achamos que o presidente Hugo Chávez fez um bom trabalho” (WashingtonPost.com, 3 de dezembro de 2006). Empreven é parte da Confederação de Empresários Socialistas da Venezuela (Conseven), uma federação empresarial pró-governamental estabelecida em maio de 2007. Seu líder, José Agustín Campos (ex-líder da Ação Democrática, um dos dois partidos pró-imperialistas que compartilhavam o poder antes de Chávez ser eleito), explicou que a Conseven “viverá em harmonia” com as empresas co-geridas e cooperativas bolivarianas (El Universal [Caracas], 6 de maio de 2007).

Gustavo Cisneros, o bilionário dono da rede de televisão Venevision, que apoiou o golpe de abril de 2002, mudou de ideia quando o ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, arranjou para ele se encontrar com Chávez na véspera do referendo revocatório presidencial de 2004:

“Na reunião, de acordo com Cisneros, Chávez comparou seus programas sociais com os de Franklin D. Roosevelt.

“Em comentários recentes sobre o encontro, o presidente disse que Cisneros, cujas outras empresas vão de cervejarias à equipe de beisebol de Leones em Caracas, entendeu que poderia coexistir com a transformação socialista inspirada na sociedade que Chávez diz querer”.

New York Times, 5 de julho de 2007.

O jornalista britânico John Pilger observou perspicazmente:

“Em Washington, o antigo esquadrão da morte Iran-Contra, de volta ao poder sob Bush, teme as pontes econômicas que Chávez está construindo na região, como o uso das receitas petrolíferas da Venezuela para acabar com a escravidão do FMI. Que ele mantenha uma economia neoliberal, descrita pelo banqueiro americano como ‘a inveja do mundo bancário’ raramente é levantada como crítica válida de suas reformas limitadas. Hoje em dia, é claro, qualquer verdadeira reforma é exótica.”

Guardian, 17 de agosto de 2007.

As políticas redistributivas do governo bolivariano, e a economia venezuelana em expansão, significaram o aumento do padrão de vida para a maioria dos venezuelanos. O desemprego foi reduzido pela metade desde que Chávez tomou posse, e agora oficialmente está em 7%, com a maioria da força de trabalho presentemente empregada na economia “formal” (em oposição à subterrânea). Os programas sociais também se expandiram consideravelmente:

“Os gastos sociais serão significativamente aumentados em 2008, para 46% do orçamento nacional, contra 41% em 2007. Isso inclui um aumento no financiamento das missões sociais do governo Chávez, que receberá um total de Bs. 5,5 trilhões (US $ 2,5 bilhões), um aumento de quase 62 por cento em relação ao nível de 2007. Estas missões sociais incluem o programa nacional de saúde Barrio Adentro e os programas de alfabetização e educação Robinson, Rivas, Che e Sucre, entre muitos outros.”

—Venezuelanalysis.com, 20 de outubro de 2007.

De acordo com estatísticas do governo, a taxa de pobreza entre as famílias venezuelanas caiu de 42,8 por cento em 1999 para 33,9 por cento em 2006, enquanto a “extrema pobreza” caiu de 16,6 por cento para 10,6 por cento (Instituto Nacional de Estatística, setembro de 2006).

Recentemente, no entanto, os salários têm caído para trás a inflação, que está correndo atualmente em 20 por cento ao ano, e alguns alimentos básicos têm sido escassos. A tentativa dos bolivarianos de diminuir os custos de vida, apelando para que os capitalistas sejam bons cidadãos, ao mesmo tempo que congelam os preços em alguns itens essenciais, levou à escassez, enquanto os comerciantes estocam mercadorias enquanto esperam que os preços (e lucros) aumentem. Muitos agricultores simplesmente venderam seus produtos através da fronteira na Colômbia. À medida que os estoques diminuíram, o governo venezuelano recuou e elevou o preço do leite em 30% e do café em 40%. Em fevereiro, Chávez anunciou que o preço do arroz, regulado desde 2003, seria aumentado em 44% “para incentivar os produtores de arroz” (Venezuelanalysis.com, 11 de fevereiro). Isso ilustra a impossibilidade de encontrar uma “terceira via” entre uma economia coletivizada, onde a produção e distribuição de bens são conscientemente planejadas, e uma capitalista, onde as decisões são determinadas pela busca do máximo lucro.

Agentes administrativos da burguesia

Enquanto Chávez mantém uma base social substancial, a decisão de cerca de três milhões de seus apoiadores tradicionais para se afastar do referendo constitucional significa que muitos estão perdendo a confiança nele. É claro que os líderes bolivarianos não confiam nas massas e não querem ver uma liderança alternativa com legitimidade se desenvolver dentro das organizações da classe trabalhadora. Desde que foi fundada em 2003, como um racha pró-Chávez da Confederação dos Trabalhadores da Venezuela (CTV), que havia apoiado o golpe direitista em 2002, a UNT foi dirigida por “coordenadores nacionais” designados pelos seus principais componentes. Em maio de 2006, no segundo congresso do sindicato, os líderes da Força Operária Socialista Bolivariana (FSBT [dirigida por Nicolás Maduro]) bloquearam uma proposta da maior fração da UNT, a Corrente Classista, Unitária, Revolucionária e Autônoma (C-CURA – liderada por dois autodenominados trotskistas, Orlando Chirino e Stalin Pérez Borges, que recentemente tiveram uma rixa) para que os membros da UNT deveriam eleger seus líderes nacionais.

Apesar de não se opor às eleições em princípio, os partidários do FSBT argumentaram que as adiariam para permitir que militantes sindicais se concentrassem em fazer campanha para Chávez nas eleições presidenciais de dezembro de 2006. Chirino reclamou posteriormente:

“O argumento do ano passado foi que tivemos que dar prioridade às eleições presidenciais. Nós não éramos contra chamar por um voto em Chávez, mas discutimos que a melhor maneira de fazer campanha para esse apelo era que ele deveria vir de uma liderança legitimamente eleita. Infelizmente, não aconteceu.”

— entrevista publicada no site do International Socialism, 9 de maio de 2007.

Parece claro que o FSBT temia que não pudesse ganhar uma votação, e que uma liderança da UNT com um mandato da base poderia se transformar em um rival potencial para Chávez pela fidelidade das massas. Em 28 de dezembro de 2007, Chirino foi notificado de que fora demitido do cargo na PDVSA. Esse ato de perseguição política – decorrente da defesa de Chirino pelo voto nulo no referendo constitucional e da sua recusa em unir-se ao novo partido político de Chávez – é um ataque antidemocrático contra o movimento operário venezuelano como um todo.

Quando as quatro federações trabalhistas que representam os trabalhadores da PDVSA foram amalgamadas para formar a Federação Unida dos Trabalhadores do Petróleo da Venezuela (FUTPV), não houve eleições para legitimar a liderança. A C-CURA, que reivindica o apoio de uma maioria dos 60.000 trabalhadores e que controla a Fedepetrol, a maior integrante da nova federação, rejeitou o comitê da FUTPV nomeado para negociar com a PDVSA no ano passado (Venezuelanalysis.com, 29 de setembro de 2007). A Fedepetrol buscou pressionar diretamente a administração da PDVSA:

“Nesta semana, a partir de segunda-feira, 23 de julho, os trabalhadores do petróleo pediram piquetes nas portas de todas as instalações de petróleo em todo o país, tanto administrativas como operacionais, incluindo portos, refinarias e plataformas petrolíferas, exigindo a remoção do Gerente de Recursos Humanos Dario Merchan, parente do [ministro da Energia e presidente da PDVSA] Rafael Ramírez, que alegam ter adiado as negociações para o contrato coletivo 2007-2009, e protestando contra o que dizem são as violações diárias do contrato coletivo existente e o não pagamento direitos trabalhistas. Uma outra manifestação apoiada por mais de 160 sindicatos afiliados à Fedepetrol também foi convocada para o dia 2 de agosto, em frente ao palácio presidencial de Miraflores.

—Venezuelanalysis.com, 23 de julho de 2007.

O líder da Fedepetrol Anzoátegui, José Bodas (membro da C-CURA), denunciou os elementos pró-gestão do comitê de negociação do FUTPV por descreverem os trabalhadores que tomaram medidas contra o bloqueio da PDVSA como “contrarrevolucionários”.

Em setembro de 2007, os trabalhadores do petróleo em greve foram atacados pela polícia:

“Cerca de 150 trabalhadores da refinaria de petróleo de Puerto La Cruz, juntamente com trabalhadores do Complexo Industrial José, estavam marchando para os escritórios da Corporação Venezuelana de Petróleo (CVP), no município de Urbaneja, para apresentar um documento a Ramírez, que se encontrava reunido com uma comissão de negociação da Federação Unida dos Trabalhadores do Petróleo da Venezuela (FUTPV), quando foram interceptados pelo Grupo de Resposta Imediata – Força Policial de Anzoátegui.

“Nos confrontos resultantes, que duraram três horas, 40 trabalhadores foram presos e três ficaram feridos, incluindo Richard Querecuto, que foi baleado no ombro esquerdo. Um ônibus transportando passageiros também foi atacado pela polícia que lançou uma bomba de gás lacrimogêneo dentro causando pânico e asfixia. Com notícias da repressão policial, 4 mil trabalhadores de Petroanzoátegui, Petrocedeño, e o projeto San Cristóbal pararam imediatamente de trabalhar.”

—Venezuelanalysis.com, 29 de setembro de 2007.

Enquanto a PDVSA e as autoridades estatais procuraram distanciar-se da brutalidade gratuita da polícia, o incidente ilustra graficamente como o aparelho de Estado “bolivariano” serve os patrões, e como a divisão entre os interesses do trabalho e capital é tão real na PDVSA quanto no setor privado.

O inglês Socialist Workers Party recentemente relatou outro exemplo envolvendo o sindicato do setor público Fentrasep:

“Os representantes eleitos da Fentrasep, o sindicato dos funcionários públicos com cerca de 1,5 milhões de membros, foram ao Ministério do Trabalho em meados de agosto de 2007 para renegociar o contrato coletivo para seus membros. O ministro, Ramón Rivero, é membro da Federação Bolivariana de Sindicatos e ex-trotskista. Ele se recusou a reunir-se com a delegação e a trancou dentro de uma sala do ministério. Nenhum alimento ou bebida foi fornecido; as famílias dos delegados passaram-lhes pelas janelas. Depois de seis dias eles foram expulsos por bandidos contratados.”

Socialist Review, outubro de 2007.

Qualquer que seja o rótulo que eles afixam a si mesmos, aqueles que administram o estado capitalista inevitavelmente acabam servindo os interesses da burguesia. Leon Trotsky fez a seguinte observação sobre a função de burocratas como Rivero, da FSBT:

“Os dirigentes sindicais são, na esmagadora maioria dos casos, agentes políticos da burguesia e do seu Estado. Na indústria nacionalizada eles podem se tornar e já estão se tornando agentes administrativos diretos. Contra isso, não há outro caminho senão a luta pela independência do movimento operário em geral e, em particular, pela formação dentro dos sindicatos de núcleos revolucionários firmes … “

Nationalized Industry and Workers’ Management, 12 de Maio de 1939

PSUV: o partido populista burguês de Chávez

Depois de sua esmagadora vitória na eleição presidencial de dezembro de 2006, Chávez anunciou planos para inscrever sua base plebeia de massas e as várias organizações políticas que apoiam o projeto bolivariano no Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). O Movimento V República de Chávez (MVR) assinou imediatamente um acordo com vários outros grupos, mas os três maiores partidos pró-Chávez fora do MVR – Para a Democracia Social (Podemos), Pátria para Todos (PPT) e Partido Comunista Venezuelano (PCV) – todos permaneceram distantes.

Podemos, a filial venezuelana da Internacional Socialista, que se originou como uma divisão pró-Chávez do Movimento Para o Socialismo (MAS), votou “não” no referendo constitucional. O PPT, racha pró-Chávez de La Causa Radical, votou “sim”, assim como o PCV, do qual o MAS e o La Causa Radical se separaram originalmente há décadas.

A liderança do PCV, que ostensivamente se recusa a aderir ao PSUV porque não é “marxista-leninista”, tem o cuidado de não ser demasiado independente. Vários membros do seu Comitê Central se juntaram ao PSUV, e o PCV promete trabalhar em estreita colaboração com o novo partido. O secretário-geral do PCV, Oscar Figuera, declarou: “Você nunca verá o Partido Comunista na oposição. Você sempre os verá acompanhando o líder do processo: o presidente Hugo Chávez Frías” (Venezuelanalysis.com, 19 de março de 2007). Chávez ficou inicialmente irritado com a recusa do PCV e PPT para se juntar ao PSUV, mas posteriormente propôs uma “Aliança Patriótica” dos três para as eleições de 2008 para prefeito e governador.

O PSUV é um partido de massas com um número nominal de milhões de pobres e trabalhadores, bem como a maioria dos legisladores da Assembleia Nacional, altos funcionários do Estado e capitalistas pró-governamentais. Chávez explicitamente o propôs como uma formação populista e inter-classe, aberta a:

“…todos os revolucionários, socialistas e patriotas, homens e mulheres, a juventude venezuelana; convido os trabalhadores, donas de casa, profissionais e técnicos, empresários nacionalistas … a construir um partido político unido …”.

— citado em International Viewpoint, janeiro 2007.

Antes que o partido tivesse a chance de elaborar um programa formal ou uma constituição, Chávez já havia nomeado a Diosdado Cabello, o ultra-rico governador do MVR do estado de Miranda, para dirigir um “comitê de disciplina provisório” (Venezuelanalysis.com, 1 de dezembro 2007).

A C-CURA decidiu se juntar ao projeto PSUV em janeiro de 2007, supostamente para garantir o seu caráter de classe trabalhadora. Mas a oposição de Chávez à existência de tendências políticas dentro do PSUV e sua declaração de que os “sindicatos não devem ser autônomos, é preciso pôr fim a isso” (Venezuelanalysis.com, 2 de maio de 2007) foi demais para alguns do C-CURA. Chirino, que está associado à Unidade Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-CI – uma tendência internacional liderada por antigos partidários do revisionista argentino Nahuel Moreno [no Brasil, sua seção é a CST/Psol]), apostou sua reputação em salvaguardar a “independência” do movimento operário, e assim não só se recusou a se juntar ao PSUV, mas também exortou seus seguidores a votarem nulo no referendo de dezembro de 2007.

Stalin Pérez Borges e seus partidários, que publicam uma revista intitulada Marea Socialista y Clasista [parte da antiga internacional Movimento, hoje no interior do Secretariado Unificado, organizada ao redor do Portal de la Izquierda – no Brasil, sua seção é o MES/Psol], se juntaram ao PSUV e votaram “sim” no referendo. De acordo com Pérez Borges: “Não há contradição entre organizar no PSUV para apoiar a revolução, e também ter sindicatos independentes. Ambos fazem parte da mesma luta rumo ao socialismo na Venezuela” (Venezuelanalysis.com, 12 de setembro de 2007). Lançar o Movimento para a Construção de um Partido dos Trabalhadores representou uma mudança de esquerda para Chirino, que afirma ser fortemente pela independência política da classe trabalhadora, mas que votou em Chávez em 2006 e apoiou a criação da FBT dentro da CTV.

Alan Woods, talvez o “chavista” mais importante do mundo “trotskista”, denunciou Chirino como um dos “palhaços sectários e malandros” que ousam criticar o caudillo bolivariano:

“O papel de Orlando Chirino e de outros chamados ‘trotskistas’, que apelaram às pessoas para anularem seus votos, era absolutamente pernicioso. Essas senhoras e senhores estão tão cegos por seu ódio a Chávez que não são mais capazes de entender a diferença entre revolução e contrarrevolução. Isto os exclui inteiramente como uma força progressiva, menos ainda revolucionária. Mas deixemos os mortos enterrarem seus mortos.”

—Marxist.com, 3 de dezembro de 2007.

O IMT, que tem alguma influência dentro do movimento operário na Venezuela, se alistou com entusiasmo como “promotores” oficiais do PSUV:

“A tarefa dos marxistas revolucionários é se lançarem completamente nesta luta e participar junto às massas na criação do PSUV. Qualquer outra política seria um total sectarismo e só contribuiria para isolá-los do movimento revolucionário real existente. A este respeito, a política adoptada por uma secção da C-CURA (a corrente de esquerda na UNT), de recusa em aderir ao PSUV e de tentar criar um assim chamado ‘Partido Independente dos Trabalhadores’ é um erro criminoso, que só pode levar ao isolamento daqueles ativistas operários avançados em relação ao movimento de massas revolucionário.

— Marxist.com, 5 de setembro de 2007.

Muitos dos grupos supostamente marxistas do mundo, impressionados pela popularidade de Chávez, adotaram uma visão semelhante. Por exemplo, o grupo inglês Workers Power argumenta:

“… dado o caráter de massa do PSUV, o fato de que estas massas serem esmagadoramente trabalhadores, camponeses e pobres urbanos e rurais, e que as ideias socialistas e revolucionárias estão sendo debatidos nele, seria sectário para comunistas revolucionários fazer qualquer coisa além de participar deste partido e participar vigorosamente nesses debates.”

Workers Power Workers Power, setembro de 2007

O Workers Power parece particularmente animado com a fala do líder bolivariano de se tornar internacional: “Ainda mais importante, Chávez pediu que o PSUV faça parte da fundação de uma nova Internacional”. Esses oportunistas crônicos já estão se comprometendo a se somarem a “qualquer iniciativa internacional que Chávez promova nos próximos meses” (Ibid.).

Reformismo bolivariano: nada de novo sob o sol

Tais exibições de apetite oportunista de supostos revolucionários são praticamente sem precedentes. Na década de 1950, Michel Pablo, o arqui-revisionista que desempenhou um papel-chave na destruição política da Quarta Internacional de Trotsky, estava igualmente entusiasmado com uma hipotética “revolução árabe”. Pablo argumentou que os revolucionários deveriam se juntar à pequeno-burguesa Frente de Libertação Nacional argelina (FLN) porque ela tinha uma base de massas: “A tendência marxista revolucionária e as forças essenciais de um Partido Trabalhista de amanhã emergirão da inevitável diferenciação social e política dentro da FLN atual” (The Arab Revolution, novembro de 1958). Delírios semelhantes sobre o potencial revolucionário dos movimentos nacionalistas pequeno-burgueses em massa são promovidos por todos os admiradores esquerdistas de Chávez.

Trotsky criticou esse impulso ao abordar os argumentos apresentados por Joseph Stalin e Nikolai Bukharin nos anos 1920 para defender a política desastrosa de liquidar os quadros do Partido Comunista Chinês no Kuomintang burguês:

“Todo partido burguês, se é um partido real, isto é, se abraça massas consideráveis, é construído sobre o mesmo princípio. Os exploradores, os falsários e os déspotas formam a minoria na sociedade de classes … Em todos os partidos burgueses de massa, os grupos inferiores são, portanto, mais democráticos e mais à esquerda do que os topos … É por isso que as constantes queixas expressas por Stalin, Bukharin e outros, que os topos não refletem os sentimentos dos membros de ‘esquerda’ do Kuomintang, a ‘esmagadora maioria’, os ‘nove décimos’, etc., são tão ingênuos, tão imperdoáveis.”

A Terceira Internacional Depois de Lênin, 1928.

O trabalho dos revolucionários é dizer a verdade – não reciclar ilusões populares. E a verdade é que as formações multi-classe lideradas por bonapartistas pequeno-burgueses de esquerda, como o Kuomitang da China na década de 1920, ou o PSUV da Venezuela hoje, são becos sem saída para a classe trabalhadora.

Os jovens esquerdistas podem acreditar que a “revolução” bolivariana é completamente sem precedentes. Mas Alan Woods tem idade suficiente para lembrar como, em 1956, Gamal Abdel Nasser, do Egito, eletrizou o mundo neocolonial ao nacionalizar a Anglo-French Suez Canal Company; sobreviveu a um assalto militar coordenado por forças britânicas, francesas e israelenses e então assumiu centenas de negócios estrangeiros. Eventualmente, Nasser proclamou que seu governo estava tomando um caminho “socialista”:

“No comício do nono aniversário do golpe de Estado de 23 de julho de 1952, Nasser pronunciou um discurso no qual declarou uma mudança em sua política social. Nos quatro dias que antecederam a manifestação, de 19 a 22 de julho de 1961, foram emitidos uma série de decretos e regulamentos que ampliaram amplamente o controle público da economia da UAR [a curta união política entre o Egito e a Síria, que se desfez mais tarde naquele ano]. Socialmente, constituíram o passo mais significativo dado por Nasser desde que assumiu o poder. Nasser definiu os princípios básicos desta nova política da seguinte forma.

“‘A revolução anunciou o fim do imperialismo e a libertação do regime da dominação do capitalismo e do feudalismo – com o propósito de estabelecer a justiça social e obliterar as contradições entre as classes e para salvar os oprimidos das mãos dos opressores. A revolução transformará os trabalhadores em proprietários inexplorados e beneficiará todas as classes’”.

—Rami Ginat, Egypt’s Incomplete Revolution.

Na visão de Nasser sobre o “povo” que liderava a construção do “socialismo árabe”, os trabalhadores e gerentes compartilhavam o poder nos conselhos de administração das empresas. Seu partido político, a União Socialista Árabe, soou uma nota “anti-imperialista” com sua defesa de um movimento “não-alinhado” de estados neocoloniais. Era tudo positivamente bolivariano.

Um precedente ainda mais próximo dos acontecimentos na Venezuela foi o regime de Lázaro Cárdenas, que venceu a eleição presidencial de 1934 no México. O governo de Cárdenas, o único na Terra preparado para oferecer refúgio a Leon Trotsky, patrocinou um programa nacional de alfabetização e procurou expandir o acesso aos cuidados médicos para as massas empobrecidas. Sob o governo de Cárdenas, os trabalhadores foram autorizados a apoderar-se de fábricas ociosas, e milhares de cooperativas agrícolas e industriais foram fundadas. Em junho de 1937, o governo Cárdenas expropriou a dívida de obrigações acumuladas das Ferrovias Nacionais do México, efetivamente nacionalizando a empresa. Um ano depois, no 1º de maio, ele entregou o controle de toda a operação ao sindicato dos trabalhadores da ferrovia.

Em 18 de março de 1938, Cárdenas anunciou a nacionalização dos recursos petrolíferos do México. Diante da resistência furiosa das corporações petrolíferas britânicas e americanas, ele se voltou para os trabalhadores do petróleo:

“Os trabalhadores entraram na brecha e dirigiram a indústria através de comitês sindicais locais que funcionavam no interregno antes que o aparelho administrativo nacional de petróleo pudesse ser organizado. Eles estavam sujeitos às ordens de uma comissão governamental na Cidade do México, composta por quatro funcionários e três dirigentes sindicais.

—Nathaniel and Sylvia Weyl, The Reconquest of Mexico.

Trotsky, que saudou a nacionalização como “uma medida altamente progressiva de autodefesa nacional” contra a dominação imperialista, observou que a “expropriação do petróleo não é nem socialismo nem comunismo”:

“O proletariado internacional não tem razão para identificar seu programa com o programa do governo mexicano. Os revolucionários não têm necessidade de mudar de cor, de se adaptarem e de se tornar lisonjeiros …”

Mexico and British Imperialism, 5 de junho de 1938.

Trotsky comentou posteriormente:

“Seria, naturalmente, um erro desastroso, um engano absoluto, afirmar que o caminho para o socialismo passa, não através da revolução proletária, mas através da nacionalização pelo Estado burguês de vários ramos da indústria e sua transferência para as mãos das organizações operárias.

Nationalized Industry and Workers’ Management, 12 de maio de 1939.

Vários autoproclamados trotskistas elogiam a Hugo Chávez como um “socialista”, apesar das medidas tomadas pelo seu governo serem muito aquém das implementadas por Cárdenas. Hugo Chávez, como Cárdenas e Nasser, é um populista burguês de esquerda. No entanto, muitos “socialistas revolucionários” têm ativamente promovido a ilusão de que as medidas introduzidas por Chávez estão pavimentando o caminho para derrubar o capitalismo. Um bom exemplo disto é um ensaio intitulado “Estratégias da Esquerda na América Latina”, de Claudio Katz, esquerdista argentino, que apareceu na edição de julho-agosto de 2007 do International Viewpoint, revista do Secretariado Unificado da Quarta Internacional (SU):

“A maturidade socialista requer um processo prévio de aprendizagem que não é improvisado no caminho expedito para o poder. Essa preparação inclui realizações sociais e conquistas democráticas que são obtidas através de reformas. Este último termo não é uma palavra ruim, nem está situado nos antípodas da revolução. É um instrumento útil para desenvolver gradualmente o salto revolucionário, construindo pontes que aproximam os oprimidos do objetivo socialista”.

“Uma combinação de reforma e revolução pode permitir a ligação entre conquistas imediatas e rupturas radicais com o capitalismo. O primeiro tipo de realização é indispensável para a criação do poder popular e o segundo para derrotar um inimigo que não renunciará aos seus privilégios.

“Conectar a reforma com a revolução é a maneira de adaptar a correlação de forças e ação popular com as possibilidades de transformação anticapitalista em cada país. Mas é preciso substituir a antiga contraposição de ambas as vias com sua confluência.”

A “velha contraposição” das vias revolucionárias e reformistas, que distinguia o leninismo do kautskismo, dependia da questão de se o Estado capitalista poderia servir de veículo para socialismo. Alan Woods, da IMT, que compartilha a metodologia objetivista do SU, acha que o Estado burguês da Venezuela está passando por uma transformação gradual:

“Em relação à questão do caráter do Estado podemos dizer que o Estado venezuelano ainda é, um aparato de Estado capitalista. No entanto, este aparelho de Estado opera em condições de revolução e, portanto, está cheio de todo tipo de contradições e tem sido enfraquecido como uma ferramenta da classe dominante. E neste momento particular não está sob o controle direto da classe capitalista, no sentido de que a classe dominante não pode, por agora, usar esse estado capitalista para impor sua regra de classe. No entanto, isso não significa que o aparelho de Estado tenha deixado de ser uma fonte de sabotagem e de bloqueio da iniciativa revolucionária das massas; e se ele permanecer intocado, acabará por se tornar uma ferramenta para esmagar a revolução. É claro que há certa compreensão desse problema entre as massas de base da revolução bolivariana e mesmo entre algumas camadas da liderança, mas infelizmente não há uma ideia clara de como resolver esse problema.”

—Marxist.com, 5 de Setembro de 2007.

Os antigos colaboradores da IMT no Comitê para uma Internacional de Trabalhadores (CWI [sua seção no Brasil é a LSR/Psol]) parecem inclinados a concordar, com referências ao “Estado venezuelano que, nesta fase, não pode ser descrito como um Estado operário” (The Socialist, 19 de abril 2007). Isto implica claramente que o CWI pensa que em algum momento futuro a alquimia bolivariana pode ter sucesso em transformar a máquina repressiva da burguesia venezuelana em seu oposto. Enquanto tal visão contradiz o núcleo da posição marxista sobre o Estado – ou seja, que os estados estão inextricavelmente soldados ao domínio de uma determinada classe social – essa noção revisionista é consistente com as afirmações anteriores do CWI de que metamorfoses semelhantes ocorreram na Etiópia, na Somália e vários outros lugares.

A Perspectiva Socialista Democrata australiana (DSP), ex-afiliada do SU que já não finge qualquer tipo de “trotskismo”, afirma que a “transformação” do Estado capitalista venezuelano em “Estado operário e camponês” já ocorreu:

“No processo de transformação de um Estado capitalista para o socialismo, as missões sociais têm desempenhado um papel fundamental no desvio das funções normais da antiga máquina estatal.

“O estabelecimento e a consolidação de um governo operário e camponês, à frente de um Estado de trabalhadores e agricultores embrionários, que ocorreu como resultado da vitória popular sobre o golpe de abril de 2002 e do bicote dos patões do petróleo de dezembro de 2002 a janeiro de 2003, levou ao desenvolvimento de uma máquina estatal alternativa, centrada nas missões sociais, nas outras organizações populares e no exército revolucionário.”

— citado em Venezuelanalysis.com, 10 de outubro de 2007.

O programa de transição de Leon Trotsky tornou-se popular entre a legião de admiradores estrangeiros de Chávez, depois que o chefe bolivariano exortou os venezuelanos a lê-lo durante a transmissão de Aló Presidente, seu programa de televisão semanal, em 22 de abril de 2007. De repente, a IMT, o CWI, o SU, a DSP e outros que antes consideravam o documento programático fundador da Quarta Internacional como obsoleto e ultra-esquerdista começaram a elogiar Chávez por tratá-lo como uma espécie de modelo social-democrata para construir o socialismo, com a burguesia. De acordo com o DSP:

“Escrito em 1938, o livro é um argumento de como um programa de luta para reformas cada vez mais profundas que, sem abolir o capitalismo, penetre profundamente no sistema capitalista, pode elevar o nível de consciência e organização dos trabalhadores e abrir o caminho para o socialismo.

“A abordagem transitória procura encontrar maneiras de atrair massas de pessoas para a atividade política e radicalizar cada vez mais as camadas mais amplas para que estejam dispostas e capazes de lutar por medidas ainda mais radicais. Isso explica por que, ao mesmo tempo em que Chávez promove políticas cada vez mais atacando os interesses capitalistas, ele continua em seus discursos para exortar a classe capitalista a participar do projeto revolucionário.”

Green Left Weekly, 10 de outubro de 2007

Trotsky, que se opunha completamente a esse colaboracionismo de classes tosco, dificilmente poderia ter imaginado que seu Programa de Transição seria um dia usado como cobertura de esquerda por um chefe de Estado burguês. No fundo, o projeto bolivariano trata de modernizar e estabilizar o capitalismo venezuelano. O programa de Trotsky de exigências “transitórias” é uma codificação da experiência dos bolcheviques no período que antecedeu a revolução de outubro de 1917 e da Internacional Comunista revolucionária sob Lenin, preparando politicamente os explorados e os oprimidos para lutar pelo poder do Estado.

O Programa de Transição visa mobilizar as vítimas do capitalismo para esmagar o Estado burguês e a ordem social que defende – não para “transformá-lo”. Ao explicar a demanda por uma “escala móvel de salários e horas”, observou Trotsky:

“É mais fácil derrubar o capitalismo do que realizar essa demanda sob o capitalismo. Nenhuma das nossas reivindicações será realizada sob o capitalismo. É por isso que os chamamos de exigências transitórias. Ele cria uma ponte para a mentalidade dos trabalhadores e, em seguida, uma ponte material para a revolução socialista. Toda a questão é como mobilizar as massas para a luta “.

The Political Backwardness of the American Workers, 19 de maio de 1938.

Apesar das reivindicações de vários “marxistas” e “trotskistas” que ofereceram seus serviços como publicistas para o homem forte bolivariano, nenhum processo revolucionário está em andamento na Venezuela hoje. Embora haja um perigo real de reação direitista violenta e a possibilidade de guerra civil, a Venezuela não está atualmente em uma situação pré-revolucionária, isto é, os mecanismos normais do governo burguês continuam a operar. Nem em uma situação revolucionária, ou de “poder dual”, que seria marcada pelo desenvolvimento de potenciais órgãos do governo proletário e um reconhecimento geral por todos os estratos da sociedade de que as coisas simplesmente não podem continuar como antes.

A resolução do SU, que apoiou Chávez para a presidência em 2006, afirmou que as eleições

“…seriam a ocasião para demonstrar que, apesar dos limites da ação do governo em favor dos trabalhadores e dos setores mais pobres da Venezuela, apesar de uma estrutura estatal originária da democracia burguesa, Hugo Chávez é um apoio decisivo para a vitória do processo revolucionário venezuelano.”

International Viewpoint, outubro de 2006

A frase “processo revolucionário” é comumente empregada por revisionistas que buscam borrar a distinção entre reformar o Estado capitalista e trabalhar para o seu derrubamento revolucionário. O escritor do SU, Stuart Piper, acredita que o “processo” em andamento na Venezuela é “uma revolução nacionalista, anti-neoliberal e anti-imperialista, dentro da qual há uma revolução socialista lutando para sair”. Segundo Piper, “paradoxalmente, ambos os aspectos são cristalizadas na personalidade do próprio Chávez” (International Viewpoint, maio de 2007).

O CWI adotou uma visão um tanto menos otimista do que a IMT ou o SU:

“A continuação do capitalismo na Venezuela e a incapacidade de resolver os problemas sociais prementes, com frustração e raiva diante da crescente burocracia e desperdício, agora ameaça minar o processo revolucionário.”

The Socialist, 26 de janeiro de 2006.

O CWI expressou dúvidas sobre a capacidade de Chávez de fornecer liderança revolucionária:

“Chávez tem razão ao ver a importância de Trotsky e sua teoria da revolução permanente. No entanto, resta saber se ele aplica suas lições na prática. Esta é a questão-chave na Venezuela e na América Latina em geral.”

The Socialist, 18 de janeiro de 2007

Mas, ao colocar “a questão-chave” como a probabilidade do líder bolivariano ser trotskista, o CWI também vê um papel para as massas: “será a classe trabalhadora na Venezuela que decidirá em última instância [a questão da revolução socialista] – não apenas o presidente Chávez” (The Socialist, 18 de maio de 2006).

A IMT tende a pintar Chávez como a encarnação de uma dinâmica objetivamente revolucionária que

“compreende” a necessidade inexorável de iniciar uma luta para esmagar a maquinaria estatal que ele tem gerido por quase uma década: “Chávez vê a necessidade de ‘aprofundar’ a revolução. Ele entende que a revolução não pode ficar parada. Deve seguir em frente. Ele pode ver que cada vez que ele tenta empurrar o processo mais para frente, a burocracia surge com mil e um obstáculos. Ele sente que não pode fazer esta máquina de Estado fazer o que quer. A única via é, portanto, quebrar essa máquina e construir uma nova baseada nos trabalhadores.”

—Marxist.com, 9 de janeiro de 2007

Ao endossar o “camarada Presidente Chávez” antes da eleição presidencial de dezembro de 2006, Alan Woods pomposamente ensinou àqueles que não tinham fé no Bonaparte bolivariano:

“A força de Hugo Chávez e o segredo do seu sucesso é que ele encarna as aspirações revolucionárias das massas e dá voz ao seu profundo desejo de uma mudança fundamental na sociedade. Ele despertou milhões de pessoas para a vida política e, pela primeira vez, deu-lhes esperança de uma mudança, de um senso de dignidade e de propósito”. Existem sectários que, por alguma estranha razão, imaginam que são marxistas, que não entendem esse fenômeno”.

—Marxist.com, 29 de novembro de 2006

Não há dúvida de que Chávez inspirou milhões de venezuelanos com sonhos do futuro socialista dourado que prometeu. O trabalho dos revolucionários, no entanto, não é reforçar essas ilusões, mas sim alertar as massas para os perigos fatais da colaboração de classe em estilo bolivariano. Trotsky levantou este ponto ao criticar a política “reboquista” seguida por Stalin e Bukharin em relação ao radical-nacionalista Kuomitang na China, na década de 1920:

“Mas somos avisados por Stalin e Bukharin, os autores do projeto de programa, que a expedição do norte de Chiang Kaishek despertou um poderoso movimento entre as massas operárias e camponesas. Isso é incontestável. Mas o fato de que Guchkov e Shulgin trouxeram com eles para Petrogrado a abdicação de Nicolau II não desempenhou um papel revolucionário? Não despertou os estratos mais oprimidos, exaustos e tímidos da população? O fato de que Kerensky, que até então era um trudovik [“trabalhista”], se tornou o Presidente do Conselho de Ministros e o Comandante-em-Chefe, não despertou as massas de soldados? Não os trouxe para as reuniões?

… A política oportunista sempre se baseou nesse tipo de ‘objetivismo’ não-dialético, conservador e reboquista. O marxismo, pelo contrário, invariavelmente ensinava que as consequências revolucionárias de um ou outro ato da burguesia, ao qual é obrigado por sua posição, será mais pleno, mais decisivo, menos duvidoso e mais firme, quanto mais independente for a vanguarda proletária em relação à burguesia, menos se inclinará a colocar os dedos entre as mandíbulas da burguesia, vê-la em cores vivas, superestimar seu espírito revolucionário ou sua prontidão para uma ‘“frente única’ e para uma luta contra imperialismo”.

A Terceira Internacional Depois de Lênin

Na Venezuela de hoje, como na China nos anos 1920, a tarefa fundamental dos revolucionários é lutar para estabelecer a independência política da classe trabalhadora de relação à burguesia, ou seja, dividir o movimento bolivariano ao longo das linhas de classe. Ao rejeitar tal abordagem, a IMT emprega os mesmos argumentos que Stalin usou para defender sua política liquidacionista na China:

“Para além do chavismo, para além do movimento bolivariano, não há possibilidade de desenvolver um movimento revolucionário de massas. Qualquer tentativa de fazê-lo levará a uma separação da camada revolucionária principal da maioria das massas.”

—Marxist.com, 18 de outubro de 2006

Como outros apologistas esquerdistas do projeto bolivariano, a IMT tendeu geralmente a culpar “reacionários na burocracia do Estado” por frustrar as intenções socialistas de Chávez:

“Há bolivianos honestos no governo que estão lutando para promover a causa dos trabalhadores e camponeses e que apoiam o controle e a nacionalização dos trabalhadores. Mas eles estão sendo constantemente bloqueados por elementos de direita que sabotam os decretos do presidente e minam a Revolução.”

—Marxist.com, 19 de dezembro de 2005

No entanto, a liderança da IMT evidenciou alguma impaciência com a disparidade entre a retórica esquerdista da “Revolução Bolivariana” e a realidade pró-capitalista. Alan Woods, frustrado com a tentativa de Chávez de aplacar seus críticos de direita após o fracassado referendo constitucional, reclamou que perdeu a chance de realizar uma transição pacífica para o socialismo depois de seu triunfo eleitoral em dezembro de 2006:

“Teria sido bastante possível para o Presidente introduzir uma Lei de Habilitação na Assembleia Nacional para nacionalizar a terra, os bancos e as indústrias-chave sob controle e gestão dos trabalhadores. Isso teria quebrado o poder da oligarquia venezuelana. Além disso, isso poderia ter sido feito de forma bastante legal pelo parlamento democraticamente eleito, já que em uma democracia os representantes eleitos do povo são supostos ser soberanos.”

—Marxist.com, 11 de janeiro

Este emaranhado confuso de pensamentos ilusórios e do velho reformismo kautskyano é a premissa sobre a noção de que a revolução socialista é uma questão de táticas parlamentares corretas e manobras habilidosas para ganhar posições de influência dentro do aparato repressivo dos capitalistas. A IMT imagina que, se quisesse, Chávez poderia usar seu gabinete presidencial para “legalmente” arrancar o capitalismo enquanto transformava gradualmente o Estado burguês que ele preside em um Estado operário. Woods põe a culpa da mudança bolivariana à direita em “reformistas” que encheram a cabeça do glorioso líder com maus conselhos:

“Seguindo o conselho daqueles que querem chegar a um acordo com os contrarrevolucionários, Chávez concedeu anistia a vários líderes da oposição ligados ao golpe militar de abril de 2002 e à paralisação da indústria petrolífera que causou prejuízos de US $ 10 bilhões à economia e quase conseguiu destruir a Revolução

“Chávez disse esperar que o decreto de anistia ‘envie uma mensagem ao país de que podemos viver juntos, apesar de nossas diferenças’.

“‘Ajudado’ por seus conselheiros reformistas, o presidente tirou algumas conclusões erradas do referendo. Durante o ‘Aló Presidente’, em 6 de janeiro de 2008, ele disse: ‘Estou obrigado a abrandar o ritmo da marcha. Tenho imposto uma velocidade que está além das capacidades ou possibilidades coletivas … São necessárias melhorias na nossa estratégia de aliança. Não podemos deixar-nos descarrilar por tendências extremistas. Não somos extremistas nem podemos ser. Não! Temos de buscar alianças com as classes médias, incluindo a burguesia nacional. Não podemos apoiar teses que fracassaram em todo o mundo, como a eliminação da propriedade privada. Essa não é a nossa tese.’”

—Marxist.com, 11 de janeiro

Isso deveria deixar claro para aqueles que sabem ler que o “socialismo bolivariano” que a IMT tem promovido nos últimos anos, como o “socialismo árabe” e o “socialismo africano” promovido pela tendência do Militant várias décadas antes [o CWI, antes da expulsão de Ted Grant e Alan Woods a formação da IMT], não envolve a expropriação dos meios de produção – é simplesmente capitalismo sob um nome diferente.

Revolução proletária: o único caminho para o socialismo

Um dos axiomas fundamentais do marxismo é a proposição de que todo Estado existe para defender o domínio de uma determinada classe social. É por isso que o caminho para o socialismo só pode ser aberto por esmagamento da maquinaria repressiva da burguesia e sua substituição por instituições comprometidas com a defesa de formas de propriedade coletivizadas, isto é, proletárias. Um Estado burguês não pode ser gradualmente transformado em seu oposto, substituindo funcionários “burocráticos” por “revolucionários”.

Uma política revolucionária para a Venezuela deve partir da compreensão marxista da natureza do poder do Estado e da necessidade de uma oposição irreconciliável a todas as alas da burguesia. Uma organização trotskista procuraria construir uma base nos locais de trabalho dos quais intervir nos sindicatos e dirigir-se aos membros dos conselhos comunais e outras organizações de massa chavistas. Ao assumir um papel ativo no combate à oposição de direita, avançaria a perspectiva de revolução permanente, que se baseia no reconhecimento de que em países semi-coloniais como a Venezuela os capitalistas são muito fracos e dependentes do imperialismo estrangeiro para serem capazes de cumprir qualquer das tarefas da revolução burguesa.

Somente através da criação de um Estado operário venezuelano pode ser encerrada a opressão dos trabalhadores, camponeses sem terra, moradores de favelas, povos indígenas e outras vítimas do capitalismo. Uma revolução socialista vitoriosa na Venezuela rapidamente se espalharia além de suas fronteiras e tornaria imediata a criação de uma Federação Socialista da América Latina e do Caribe. Também encontraria um eco poderoso nas massas proletárias do colosso imperial do norte e as despertaria para a necessidade de lutar para erradicar o sistema global de exploração imperialista e utilizar as poderosas forças produtivas desenvolvidas sob o capitalismo para a construção de um sistema racionalmente planejado, um mundo socialista igualitário livre de exploração e pobreza.

OTR chilena fusiona con tendencia espartaquista

Oposición de clase al frentepopulismo – Clave del reagrupamiento revolucionario

OTR chilena fusiona con tendencia espartaquista

“En realidad, el Frente Popular es la cuestión principal de, la estrategia de clase proletaria de esta época. También ofrece el mejor criterio para distinguir entre el bolchevismo y el menchevismo.”

– León Trotsky

[Traducido de Workers Vanguard No. 172, 9 de septiembre de 1977. Extraído de Spartacist Español, 5 octubre de 1977]

El campo de verano europeo de 1977 de la tendencia espartaquista internacional (TEI) fue testigo de una fusión única en la historia de la TEI y de considerable interés y significado para aquellos que anhelan ser revolucionarios en todo el mundo. La Organización Trotskista Revolucionaria (OTR) de Chile se unió ala TEI y es ahora la sección simpatizante chilena de nuestra tendencia. Mientras nuestro tamaño, en ambos lados, es modesto, esta fusión representa la afirmación y confirmación resonante de la frase dicha por Trotsky en 1935: “En realidad, el Frente Popular es la cuestión principal de la estrategia de clase proletaria de esta época.” La OTR y la TEI se encontraron en el terreno común dé la oposición combatiente de clase al frentepopulismo burgués, y fue mediante la generalización de esta posición de independencia proletaria a todas las principales cuestiones internacionales que la unión de nuestras fuerzas se hizo posible y necesaria.

Para la TEI esta fusión constituye una extensión significativa de nuestra tendencia, ya que ésta es nuestra primera sección latinoamericana. Ella representa entonces la adición de un cuerpo de experiencia revolucionario importante a un movimiento previamente limitado a secciones en Norteamérica, Europa y Australasia. Para la OTR, significa la superación de su aislamiento nacional y la culminación de la ruptura con el pablismo iniciado algunos años antes. Manteniéndose firmes en su oposición al frentepopulismo, los camaradas chilenos han probado ser capaces de reevaluar intransigentemente sus posiciones pasadas a la luz de la experiencia internacional, requisito indispensable para la asimilación del leninismo auténtico. Para cualquiera familiarizado con la estrechez continental y el revisionismo desenfrenado del “trotskismo” latinoamericano, este es pues un logro extraordinario.

Pero el significado central de esta fusión entre la OTR y la TEI consiste en subrayar el análisis trotskista del frente popular, la atadura de las masas obreros a los capitalistas “progresistas” – o aun capitalistas “fantasmas” (abogados de provincias, etc.) cuando la verdadera burguesía en su totalidad, ha puesto en jugado su existencia, confiando en el triunfo de la reacción abierta – cuyo propósito es impedir el levantamiento proletario contra todas las alas del enemigo de clase burgués. Un artículo trágicamente profético en Spartacist de noviembre-diciembre de 1970 advertía que la coalición de Allende, la Unidad Popular (UP), era un frente popular como los de España y Francia (o de Chile) de los años treinta, al que los proletarios revolucionarios debían oponerse resueltamente. Cuando millones de chilenos y militantes de izquierda alrededor del mundo saludaban al “compañero presidente” y hablaban de una segunda Cuba, nosotros escribimos: “Cualquier ‘apoyo crítico’ a la coalición de Allende sería una traición a la clase, abriendo el camino para una derrota sangrienta del proletariado chileno cuando la reacción criolla, auxiliada por el imperialismo internacional, esté lista.”

En realidad, esta declaración, aparentemente profética, no era ni muy original, ni necesitó una bola de cristal. Repetíamos simplemente la lección de España, actuando como la memoria de la clase obrera, como corresponde a un partido leninista. Esto parecería ser el ABC del trotskismo, y sin embargo, todas las otras tendencias internacionales que se declaran herederas del mismo, se las arreglaron para oscurecer o directamente negar el carácter frentepopulista del régimen de Allende.

Al interior de Chile, los grupos a la izquierda de los partidos socialista y comunista, fueron desorientados por la victoria electoral de la UP en 1970. El caso más notorio fue el del grupo castrista MIR (Movimiento de Izquierda Revolucionario), él cual zigzagueó desde la oposición guerrillerista contra la participación en las elecciones como principio (“¡Fusil, no elecciones!”) hasta apoyar “críticamente” a Allende. Aunque los que decían representar el trotskismo se conciliaron con la UP, calificando al nuevo gobierno de reformista. Pero hubo un grupo pequeño dentro de la órbita “trotskista” chilena, constituido fundamentalmente por cuadros sindicales, que guiados por su determinada defensa de los intereses obreros comprendieron que la UP era un frente popular clásico, al que debían oponerse resueltamente. Este fue el núcleo que luego se convirtió en la Organización Trotskista Revolucionaria y que en 1974 resumió las lecciones de la Unidad Popular como sigue:

“Decir que el carácter de la UP es reformista, significa ser cómplice de la traición cometida …. La UP se inscribe así en la lista de los viejos Frentes Populares, que fueron el modelo diseñado para traicionar a la clase obrera.”

– “Una derrota política y la Necesidad de un balance”

En suma, la fusión de la tendencia espartaquista internacional y la OTR chilena representa la unión de la corriente que desde lejos predijo de manera única y advirtió en contra del curso trágico del gobierno de Allende; con aquellos que enfrentados directamente con la popularidad de la UP (y experimentando sus consecuencias mortales) se rehusaron a comprometer o abandonar la defensa de su clase. Como el frente popular es, efectivamente, la cuestión central con que se enfrentan los leninistas en estos tiempos y Chile es el candente ejemplo reciente de las consecuencias nefastas del frentepopulismo, la unificación de nuestras organizaciones debe ser estudiada por lodos los marxistas serios.

La evolución de la OTR

A diferencia de las otras fusiones en la historia de la TEI, en este caso se trataba de la unión de dos tendencias que ya tenían los mismos postulados programáticos decisivos, en lugar de una corriente centrista que se separa de otra tendencia y fuera ganada a las posiciones de la TEI. La oposición proletaria revolucionaria de la OTR chilena al criminal frente popular de Allende ya era decisiva, pero dado que la OTR operaba en un medio político-cultural más restringido que la TEI, ella sentía la necesidad de llevar a cabo un examen cuidadoso de la arena internacional, para comprobar que las actividades traidoras de los representantes locales del “Secretariado Unificado” (SU) de Ernest Mandel y el “Comité de Organización por la Reconstrucción de la Cuarta Internacional” (CORCI) de la OCI francesa y del POR boliviano eran características. Esta no fue una fusión fácil de llevar a cabo; por el contrario, aunque ya existían los requisitos, su consumación presentaba dificultades, en la medida que los dos lados, oriundos de terrenos políticos muy distintos, se ponían mutuamente en prueba, en muchas formas y ocasiones.

Para entender el proceso de fusión es necesario primero dirigir nuestra atención a la OTR tal como fue en Chile antes del golpe. El grupo se había formado al interior de la organización simpatizante del SU, la Tendencia Revolucionaria de Octubre (TRO), y comenzó esencialmente como una oposición “obrerista” al frente popular. También se oponía, aun cuando en forma empírica, a la vieja política de “entrismo profundo” en el Partido Socialista (PS) que seguía la TRO, y subsecuentemente retiró a sus partidarios del PS. La ruptura final ocurrió en torno a la fusión sin principios de la TRO con el grupo de L. Vitale para formar el Partido Socialista Revolucionario (PSR, la sección simpatizante, “oficial” –durante un tiempo – del SU). Por presentar un documento contra la fusión, el núcleo de la futura OTR fue expulsado de la nueva organización (y dicho documento suprimido).

Contando con militantes que habían sido dirigentes de la Federación Nacional Industrial del Cobre y el apoyo de otros dirigentes mineros, la tendencia que formó la OTR se opuso consecuentemente a la política criminal del gobierno de Allende de la “batalla por la producción” – una consigna cínica para encubrir la aceleración del ritmo del trabajo – porque el autoproclamado “gobierno popular” no cambiaba el hecho de que Chile era todavía un país capitalista. Cuando Allende lanzó la campaña rimbombante por la “participación obrera” – un esquema diseñado para inducir a los obreros a colaborar con su propia explotación – dirigentes obreros de la OTR en el sector minero del cobre nacionalizado le opusieron la consigna del control obrero, cuyo objetivo era destruir, no reformar, el estado burgués. Contrariamente el MIR y el ala izquierda del PS, incluyendo en particular sectores con una cierta aureola “trotskisante”, así como Fidel Castro apoyaron los proyectos de “participación” de la UP. (El mismo Michel Pablo hizo un viaje especial a Chile para alabar esta trampa, y le dedicó un libro sobre el tema a su amigo, el ministro socialista de economía, Pedro Vuskovic.)

Luego del sangriento golpe pinochetista, cuando los camaradas de la OTR se vieron obligados a huir a Europa o países vecinos, ellos buscaron profundizar su entendimiento del fraude chileno y ampliar su comprensión internacional mediante discusiones, primero con el SU y luego con el CORCI. Sin embargo, descubrieron pronto que las credenciales trotskistas de estas autoproclamadas “Cuartas Internacionales” eran falsas. El SU, que declaró explícitamente en forma póstuma, que la UP no era un frente popular y que ya cuenta con dos grupos simpatizantes chilenos, se rehusó a permitir la discusión sobre un balance del regime de Allende en su Décimo Congreso Mundial, dado que ambas fracciones internacionales no veían la razón de exponer la bancarrota de sus partidarios locales. Mientras el CORCI había llamado frente popular a la UP, sin embargo, sus grupos chilenos (¡también tenía dos!), o bien lo negaron, o acusaron al gobierno de Allende de traidor y “reformista”, en vez de a los partidos obreros en la coalición. Entretanto, en Francia la OCI llamaba a votar por el candidato presidencial del frente popular de la Unión de la Izquierda.

La OTR entró en contacto con la TEI por primera vez durante un acto de protesta del 11 de septiembre de 1974, en el aniversario del golpe. Leyeron Cuadernos Marxistas No. 3, (una compilación de artículos de Workers Vanguard Spartacist sobre “Chile: Lecciones del Frente Popular”, el cual fue publicado con el fin de llegar a los grupos de exilados chilenos en busca de un balance de la UP), y una semana más tarde declararon estar fundamentalmente de acuerdo con él análisis y las conclusiones programáticas de la TEI. Pero como internacionalistas, ambos lados acordaron en la necesidad de discutir todos los problemas fundamentales que se presentan a los marxistas revolucionarios. Además de rechazar al SU y al CORCI, rápidamente se llegó al acuerdo de que el POR boliviano de Guillermo Lora había actuado como centrista en las pruebas decisivas de 1952 y 1971, siendo fundamentalmente responsable por el descarrilamiento de una revolución; y que el veterano camaleón seudotrotskista argentino Nahuel Moreno (quien se había movido del peronismo al guevarismo y luego a la socialdemocracia) se había convertido definitivamente en reformista comprometido al mantenimiento del dominio burgués.

Del guevarismo al trotskismo

Varias cuestiones se convirtieron en temas de discusiones extensivas entre la TEI y la OTR, incluyendo Cuba, el guerrillerismo y la socialdemocracia. En particular con respecto a la primera, luego de estudiar Cuadernos MarxistasNo. 2, sobre “Cuba y la Teoría Marxista”, los camaradas de la OTR convinieron con el análisis espartaquista de esta aplicación clave del trotskismo sobre la “cuestión rusa” como se reflejó en la IV parte de la “Declaración de relaciones fraternales entre la tendencia espartaquista internacional y la Organización Trotskista Revolucionaria de Chile” (Spartacist [edición en español] No. 4, mayo de 1977).

La posición de la OTR de que los partidos socialdemócratas eran cualitativamente más burgueses que los estalinistas fue más difícil de resolver. Aquí jugó un papel importante el aislamiento nacional y continental del pretendido movimiento trotskista chileno – el cual era la responsabilidad de las falsas “Internacionales” que poco o nada hicieron para integrar o educar políticamente a sus varias “secciones”. Es un hecho que en Latinoamérica todos los partidos asociados con la Segunda Internacional son en efecto partidos burgueses (el Partido Radical chileno, la Acción Democrática venezolana, el APRA peruano, el PPD puertorriqueño, etc.), con algún ligero rasgo populista y generalmente una política exterior fuertemente pro-norteamericana. Sin embargo, luego de familiarizarse con los partidos laboristas y socialdemócratas de Europa occidental, y después de discusiones sobre las implicaciones tácticas derivadas de la caracterización de la socialdemocracia como “burguesa con una base obrera”, la OTR convino con la descripción de los partidos socialdemócratas de masas en los países capitalistas avanzados como reformistas, esto es refiriéndonos a las palabras de Lenin, “partidos obreros burgueses”.

El área de desacuerdo más difícil e importante fue la cuestión del guerrillerismo, porque aquí habían al principio diferencias profundas y era un problema relacionado directamente con los orígenes de la OTR. Una de las primeras acusaciones levantadas contra la dirección de la sección chilena del SU por la tendencia que luego se convirtió en la OTR fue la de la falta de implementación de las políticas guerrilleristas de la resolución sobre la lucha armada del Noveno Congreso Mundial (del SU). Como muchos pablistas, pensaron que Guevara personalmente había roto con el estalinismo, o que, eventualmente rompería, aunque sea tan sólo empíricamente. Aun cuando  la OTR rechazaba el foquismo guevarista y la guerrilla urbana al estilo tupamaro, ella insistía sin embargo en la necesidad de la “guerra irregular” llevada adelante por la clase obrera – en otras palabras, la adaptación del guerrillerismo al medio particular en el que operaba. La cuestión no era abstracta, pues la OTR contaba en sus filas con dirigentes mineros para quienes escaramuzas irregulares con el ejército y los carabineros ocurrían periódicamente, así como con ex-miristas y antiguos Tupamaros.

Por contraste, Spartacist había escrito en 1967 que: “El guerrillerismo de hoy día es una reacción pequeñoburguesa a la ausencia y demora de la revolución proletaria.”

Partiendo de estas dos posiciones marcadamente divergentes, varias discusiones largas se llevaron a cabo durante un período de varios meses, en el curso de las cualés la OTR rechazó su posición anterior. Hablar de guerra obrera irregular como una perspectiva estratégica es adaptarse a las concepciones “tradeunionistas” de una capa semiproletaria; los sectores claves de la clase obrera industrial no pueden abandonar las fábricas y grandes minas, yéndose a la montaña, sin perder su base de poder social y eventualmente arriesgarse a perder su carácter de clase proletario, a medida que degenera en bandolerismo y/o se combina con el campesinado (esto les sucedió a los cuadros del partido y obreros comunistas en China quienes huyeron de las ciudades costeñas para iniciar la guerrilla rural en 1927-31). El apoyo de Lenin a las tácticas partisanas en 1906-07 fue dado en el contexto de la derrota, que él creía transitoria, de la revolución de 1905; él nunca consideró a la guerrilla más que una medida defensiva – una forma de retirada estratégica – o accesoria a la guerra regular, y ciertamente no como estrategia para la revolución socialista.

Más aún, los bolcheviques trataron siempre de organizar la lucha militar a través de las organizaciones de masas de la clase obrera (los soviets, comités de fábrica) en las cuales el partido jugaba o trataba de jugar un papel dirigente, a diferencia de la concepción guevarista de llevar a cabo una lucha guerrillera a través de un partido/ejército “profesional” – así, por ejemplo, el ERP (Ejército Revolucionario del Pueblo) argentino es el brazo armado del PRT guevarista.

Las concepciones guerrilleristas tenían una importancia social real en la “extrema izquierda” chilena, sobre todo por medio del MIR pero también entre los grupos seudotrotskistas que lo seguían. El MIR, por ejemplo, no llamó a los sindicatos o posteriormente a los cordones industriales (coordinadoras zonales de comités de fábricas) a armar a los obreros; en su lugar creó “comandos comunales” artificiales, subordinados en la práctica al MIR, los cuales supuestamente entrenarían a obreros seleccionados en el uso de armas.

Así, cuando vino el golpe del 11 de septiembre el proletariado industrial se encontró desarmado; muchos se reunieron en sus fábricas a fin de esperar por las armas ofrecidas por los burócratas sindicales comunistas y socialistas, las cuales nunca llegaron. A pesar de actos individuales de arrojo por parte de dirigentes del MIR, que solamente atrajeron ataques más fuertes contra los sectores más combativos de la clase obrera, su actitud fundamental fue el tratar al golpe militar como un paso inevitable que preparaba el camino a la guerra de guerrillas. La OTR – como las otras tendencias guerrilleristas, no vio ninguna posibilidad de resistir al golpe pinochetista; pero a diferencia, de aquellos que buscan reconstruir al diezmado MIR, o de la mayoría del SU que ahora está fundamentalmente preocupada en borrar sus huellas de apoyo total al guerrillerismo guevarista, la OTR ha sacado las lecciones de la terrible derrota representada por el 11 de septiembre y proclamó la bancarrota del guerrillerismo en todas sus variedades.

El leninismo sobre la cuestión organizativa

En Chile la OTR carecía de normas organizativas leninistas: la definición de miembro era fluida, nunca tuvo una prensa partidaria, etc. Naturalmente esta práctica organizativa fue mantenida en el exilio, donde las presiones hacia un “espíritu de círculo” entre un grupo pequeño de sobrevivientes son enormes. Conforme la OTR evolucionaba hacia la tendencia espartaquista, esto, de manera igualmente natural, originó luchas internas y rupturas. Estas, sin embargo, son difíciles de resolver sin la asimilación y aplicación de las normas leninistas del centralismo democrático. Fueron problemas centrados alrededor de la cuestión organizativa los que bloquearon por algunos meses la perspectiva de fusión votada en mayo de 1976 y los que dominaron la actividad de la OTR durante el año pasado. Como dijo el camarada Ivan de la OTR en un informe al Comité Ejecutivo Internacional de la TEI durante el reciente campo de verano europeo:

“La OTR era una organización en el exilio y dispersa por varios continentes. Fundamentalmente hubieron dos cuestiones que impidieron la fusión el año pasado: una era debilidades organizativas de la OTR que en consecuencia nos llevaba a una concepción federativa del partido. Pero detrás de esto había un importante punto político y era que la OTR esperaba reunir a sus principales cuadros en Europa. Habían dificultades para llevar un desarrollo conjunto de todos sus cuadros, y el núcleo europeo no tenía una metodología leninista para resolver este problema.”

Las dificultades se centraban en la lucha por ganar a un miembro importante de la dirección que había llegado recientemente de América Latina. Encontrándose separado de su base y restringido por las limitaciones de un pequeño núcleo trotskista de propaganda, el camarada comenzó a elaborar planes a espaldas de la dirección; actos de indisciplina organizativa que pronto dieron origen a una ruptura política abierta, cuando se rehusó a defender el programa de la OTR en público, desoyendo instrucciones explícitas. Como dijo el portavoz de la OTR en la presentación ante el CEI:

“… en último análisis el cda. Bias presentó una perspectiva opuesta al trotskismo y a la concepción del partido de Lenin basado en que no podemos romper nuestros lazos con las masas, … y por lo tanto en la práctica él no pudo defender todo el programa comunista …

“Hace algunos días este proceso llegó a su fin y en un trabajo de amplia consultación con los camaradas de la internacional hemos formalizado la ruptura del cda. Bias con el programa trotskista. Para la OTR lo más importante de este proceso es que la ruptura con su vieja metodología abrió el camino hacia el verdadero leninismo.”

Una perspectiva de Iskra

La Organización Trotskista Revolucionaria de Chile se ve enfrentada hoy con oportunidades y responsabilidades tremendas. La junta militar bonapartista chilena, que carece de una base social de apoyo significativa y habiendo sido incapaz de atomizar al proletariado y eliminar a su dirección, no durará ni siquiera tanto tiempo como la dictadura militar brasileña. Entretanto, aquellos militantes de izquierda que sobrevivieron el baño de sangre se han concentrado en gran número en centros de exilio en Europa y América Latina. He aquí una tremenda oportunidad de llegar a decenas de miles de militantes comprometidos y desafiar a la izquierda a realizar un balance serio del régimen de Allende. Esto desde luego no se limita a los militantes chilenos, pues la experiencia chilena tiene importancia global y es decisiva en la formación de núcleos revolucionarios en los países claves de América Latina.

Entre aquellos que rechazan el frente popular, el estalinismo, la socialdemocracia y el guerrillerismo, podría ser iniciado un diálogo. Mediante el combate polémico, la superioridad del análisis trotskista y de su programa sería demostrado y el núcleo de un grupo auténticamente leninista de propaganda podría ser forjado y preparado políticamente para las tareas que enfrentará cuando caiga la sangrienta dictadura y comience en serio la batalla crucial por separar a la clase obrera del dominio reformista.

Un punto clave en esta perspectiva es la cuestión de la prensa. En el período que se avecina, la voz principal para la OTR será la edición en español de Spartacist, la cual será publicada tres veces al año y cuyo comité de redacción incluye ahora a miembros de la OTR. Spartacist en español será una publicación de tipo Iskra, publicando polémicas y análisis dirigidos primariamente al medio exilado latinoamericano y a militantes de izquierda en la península ibérica. Además, la OTR buscará iniciar su prensa propia, empezando con un formato modesto y con frecuencia irregular. Junto con la lucha por construir una organización sólida, programaticamente unida y políticamente homogénea en el exilio, vendrá naturalmente la tarea difícil de intentar hacer llegar esta prensa a las manos de militantes de la clase obrera chilena en todas partes donde se encuentren.

En todo esto, como miembro de una tendencia internacional democrático-centralista, la OTR contará con el apoyo político pleno y con toda asistencia material posible por parte de la TEI. Pero no se puede negar que las demandas son enormes y nuestros recursos totales cualitativamente inadecuados. Sin embargo, la OTR tiene un capital político importante que no puede ser minimizado: a diferencia de los seudotrotskistas, ella representa una línea política coherente y poderosa que fue comprobada trágicamente por la caída del criminal frente popular. Chile en 1970-73 ha tenido una importancia en el desarrollo político de la generación revolucionaria actual similar al impacto de la Guerra Civil Española a finales de los años treinta. Los trotskistas que advirtieron que el frente popular conducía a una derrota sangrienta deberían recordar sus advertencias para educar a aquellos que no las oyeron entonces pero desean evitar la repetición del holocausto. Y sin embargo, el SU de Mandel y el “Comité de Organización” de la OCI esconden a sus grupos chilenos en vez de destacarlos, y con buena razón: ellos no hicieron esas advertencias sino que disculparon al frente popular.

Somos todavía débiles como fuerza política, pero la fuerza y la promesa de la fusión de la OTR y la TEI lo que les permitió a estos militantes cruzar el tremendo abismo desde el pablismo, el obrerismo y el guevarismo al trotskismo – vienen del hecho que está construida sobre principios marxistas fundamentales:

“Mirar la realidad cara a cara; no buscar la línea de la menor resistencia; llamar a las cosas por su nombre; decir la verdad a las masas por amarga que ella sea; no temer los obstáculos. ser fiel en las pequeñas y las grandes cosas basar su programa en la lógica ‘le la lucha de clases: ser audaz cuando llegue la hora de la acción. tales son las reglas de la IV Internacional.”

El Programa de Transición

A ESQUERDA BRASILEIRA E O GOVERNO “DEMOCRÁTICO E POPULAR”

A ESQUERDA BRASILEIRA E O GOVERNO “DEMOCRÁTICO E POPULAR”

Coletivo Comunista Internacionalista /Coletivo Lenin, abril de 2008

Geralmente, quando os militantes de esquerda lêem os materiais do Coletivo Comunista, têm uma sensação estranha. Logo depois da análise da conjuntura aparece uma crítica violenta da esquerda institucional e se propõem palavras de ordem impossíveis na correlação de forças de hoje. Ao contrário do que muitos pensam, nós temos perfeita consciência disso, e não achamos que a revolução está na esquina.

Muito pelo contrário, sabemos que só é possível pensar em revolução, depois do fim da URSS, num prazo de décadas de acumulação de forças revolucionárias. Mas, então, porque não defender as propostas mais avançadas possíveis atualmente? Aí é que começa a nossa divergência estratégica com o conjunto da esquerda, inclusive com as outras correntes que se dizem trotskistas.

No fim das contas, TODOS os programas de todas as correntes do movimento dos trabalhadores se dividem em dois caminhos: reforma ou revolução. As organizações reformistas combatem todos os efeitos do sistema capitalista, às vezes até heroicamente. Mas são os revolucionários que tentam transformar as lutas numa oportunidade de destruir o conjunto do sistema e começar a construir o socialismo.

(O socialismo, diferente do que dizem os reformistas, não significa “mais democracia” ou “condições de vida” para os trabalhadores. É outra forma de organizar a produção, através da planificação democrática, acabando com o dinheiro, o Estado e mudando radicalmente todas as relações sociais).

Mas, como podemos saber, no dia-a-dia das lutas, a diferença entre os reformistas e os revolucionários. É bem fácil: O trabalho dos reformistas é lutar pelas palavras de ordem mais avançadas na conjuntura. Os revolucionários participam de todas as lutas, mas o seu trabalho principal é a preparação de quadros revolucionários, para acumular forças.

Ou seja, os revolucionários não intervêm numa greve para conseguir um grande aumento salarial. E sim para aproximar os melhores militantes da vanguarda para o programa do comunismo. As massas só podem ser ganhas para este programa durante uma crise revolucionária. É numa crise deste tipo que este trabalho de preparação atinge o seu objetivo, porque o partido revolucionário se liga às organizações de massas para lutar pelo poder.

O trabalho de simplesmente lutar por reformas, mesmo que falando algumas palavras de ordem mais à esquerda se resume, como disse Trotsky, a “fazer a preparação das massas a aceitar as condições existentes”, por não propor lutar contra elas.

E no Brasil…

Nunca houve um partido revolucionário. O PCB já nasceu baseado numa política de colaboração de classes, defendida por Astrogildo Pereira (“revolução pequeno-burguesa”) e Otávio Brandão (“agrarismo contra industrialismo”). Durante toda a sua história, o PCB defendeu uma aliança com a burguesia nacional contra o “atraso” no campo, em vez de lutar pelo socialismo. Mesmo as correntes da luta armada nos anos 1960 (ALN, PCdoB) defendiam a “frente popular à mão armada”, com raras exceções.

Infelizmente, o governo de Jango, que foi a maior expressão dessa estratégia etapista, foi derrubado pelos militares no golpe de primeiro de abril de 1964. Em vez de reconhecer os seus erros, todas as correntes parece que ficaram “traumatizadas” com isso, e passaram a repetir, durante os quarenta anos seguintes, as palavras de ordem de “reforma agrária”, “romper com o FMI” e “não pagar a dívida externa” como se o fato dos militares terem dado o golpe mostrasse que elas seriam revolucionárias.

Na verdade, são palavras de ordem democráticas aplicadas por alguns governos nacionalistas burgueses (a primeira por Jango, as outras duas por JK), que estão a anos-luz de um programa de transição que coloque a necessidade de um governo direto dos trabalhadores para construir o socialismo.

O que houve de corrente revolucionária no país foi a LCI de Mário Pedrosa (seção brasileira da oposição de esquerda), destruída durante a ditadura Vargas. Além disso, houve grupos progressivos, como a VPR, Primeiro de Maio e a POLOP, que defenderam o caráter socialista da nossa revolução, mas não tiveram uma política consistente, capitulando ao guerrilheirismo, que era a moda da época.

O fim da ditadura, junto com o espetacular ascenso de 1978-1989, poderia ter recolocado a questão do partido revolucionário. Mas o outro lado deste ascenso foi o surgimento do PT, um partido operário de massas, mas reformista.

Todo mundo capitula dentro do PT

A formação do PT mostrou que a classe trabalhadora estava disposta a dar uma resposta à ditadura de acordo com os seus interesses. Mas toda essa vontade de lutar foi canalizada pela burocracia sindical do ABC, que depois formou a Articulação. Por influência da Igreja Católica e da Teologia da Libertação, o programa inicial do PT não ia além de lutas democráticas, como a favor da Constituinte, contra o pagamento da dívida externa e por eleições diretas.

Dentro da esquerda que se dizia trotskista, a Convergência passou a lutar para “ganhar a direção” do PT. Quando eles finalmente concluíram que isso era impossível, saíram para montar o PSTU. A Democracia Socialista queria apenas “ajudar” a Articulação a formular um programa marxista para o PT, sem lutar frontalmente contra ela, por considerar que o PT era “estratégico” (ou seja, que ele faria a revolução socialista). E O Trabalho tinha a política imbecil de ganhar os burocratas do ABC para o trotskismo!

Depois de algum tempo, o PT formulou com todas as letras o seu programa reformista. Isso foi no V Encontro, de 1987, com a formulação do “Governo Democrático e Popular”. ESSA PALAVRA DE ORDEM É A REPETIÇÃO DA LINHA DO PCB. Ou seja, uma frente anti-imperialista, anti-monopolista e anti-latifundiária com setores menores da burguesia. Logicamente, é uma política reformista, por dentro do sistema.

O conteúdo é o mesmo do antigo PCB: aliança com a burguesia “progressista”. O que muda é o nome ou a desculpa: por um “mercado de consumo de massas”, “projeto popular para o Brasil”, etc.

Obviamente, qualquer governo desse tipo só tem duas opções: ou fazer como o Lula, e recuar tanto para evitar um golpe da direita que o seu programa perde quase todo o conteúdo de mudança, permitindo apenas avanços pequenos e pontuais. Ou fazer como o Allende, tentar aplicar o programa e ser derrubado. Isso porque, no Estado burguês, o poder real não está no Congresso, e sim nas Forças Armadas. E a burguesia não vai pensar duas vezes em usá-las quando se sentir ameaçada.

Quem formulou esta estratégia mais conseqüentemente desde esta época foi a Articulação, e o Governo Lula é a expressão dela. Então, quase todas as correntes da esquerda adotaram esse programa, com algumas variantes. Quando existem diferenças, são de ênfase. Por exemplo, a DS defende que o Governo Democrático e Popular seja mais tencionado pelo movimento social. E o MST/Consulta Popular exige que ele seja por fora da institucionalidade (o que não tem sentido, porque o seu conteúdo é perfeitamente assimilável pelo sistema).

O PSTU e O Trabalho/Esquerda Marxista, que têm defendido a palavra de ordem de “governo dos trabalhadores”, na verdade, aceitam todo o programa democrático e popular, mas rejeitam as alianças com a burguesia (o que também não tem sentido, porque partidos burgueses como o PDT e o PSB podem aceitar este programa de conciliação muito bem). Não por acaso, o centro das suas intervenções eleitorais é o não pagamento da dívida externa, fora FMI e reforma agrária.

A diferença é que O Trabalho tenta empurrar a base do PT para aplicar o programa, rompendo as alianças com a burguesia (mas sem bater na Articulação). E o PSTU ataca o PT raivosamente para isso, chegando a se aliar com a direita contra o seu “inimigo principal”.

O PSOL, como reflexo fora do PT das contradições deste partido, se divide entre um setor mais próximo da formulação clássica do PT (APS, MES, MTL), e outro com a concepção de “governo dos trabalhadores” pela via institucional eleitoral-sindical como a do PSTU (o chamado “Bloco de Esquerda”, ou seja, CST, SR, ARS, Revolutas, C-Sol). A direção deste partido já tem embarcado, na prática, em todos os erros do PT, através da Frente de Esquerda, com o seu programa nacional-desenvolvimentista e o apoio de partidos menores da burguesia, como o PV. Aliás, o PSTU está nesta frente, como esteve na Frente Popular do PT até 2000.

E então?

Apenas algumas correntes não defendem alguma variante do Programa Democrático e Popular, como o PCO (embora tenha capitulado à Frente Popular, apoiando-a eleitoralmente até 1994), a LQB e nós. Mas isso não é suficiente. A melhor forma de lutar contra a teoria e a prática que levaram o PT ao recuo que é o Governo Lula é construir um PARTIDO REVOLUCIONÁRIO DOS TRABALHADORES.

Para isso, devemos intervir onde as massas e a vanguarda estão, ou seja, na CUT, na UNE e no MST, nas entidades do movimento de massas. E, nelas, levantar um programa realmente da nossa classe. Este programa deve ser formado por palavras de ordem anti-capitalistas, que não possam ser realizadas dentro do sistema.

Ou seja, escala móvel, autodefesas nos movimentos, estatização dos setores estratégicos sob controle dos trabalhadores, revolução agrária, etc. E devemos mostrar que este programa não pode ser realizado por nenhum governo burguês, nem mesmo “democrático e popular”. Ele exige um GOVERNO DIRETO DOS TRABALHADORES, baseado em suas assembléias de luta. E isso não tem como acontecer através das eleições, somente com uma revolução socialista que se espalhe internacionalmente. Por isso, precisamos refundar a Quarta Internacional, que foi a depositária de um programa operário independente nos países atrasados, em contraposição ao etapismo, como parte desta tarefa histórica.

Agora, não temos como impô-las pelo movimento de massas. Mas a nossa tarefa não é essa. Na verdade, é manter estas palavras de ordem como uma perspectiva, e usá-las para aproximar o melhor da vanguarda a fim de construir o Partido. É esta a contribuição do Coletivo Comunista.

TESES SOBRE A CHINA

TESES SOBRE A CHINA

Coletivo Lenin, fevereiro de 2008

1) O debate marxista sobre o que é a China está muito influenciado, na esquerda brasileira que se reivindica trotskista, pelas concepções morenistas e/ou semi-morenistas da LIT (PSTU) e da FT-QI (LER-QI), a tal ponto que até mesmo a defensista LBI voltou atrás de sua posição e compartilha com eles a caracterização da China como estado burguês com o capitalismo completamente restaurado.

2) Esta posição se baseia numa concepção da transição do Estado Operário para o burguês que é, na expressão de Trotsky “passar o filme do reformismo ao contrário” (Em Defesa do Marxismo). Ela consiste em ver qual é o peso do setor privado na economia do país e, a partir de um ponto determinado (que varia de corrente para corrente), ver um “salto qualitativo” rumo ao capitalismo que pressupõe o fim do Estado Operário Degenerado. O método da LIT é mais sofisticado, porque coloca a mudança do caráter de classe do Estado como a causa do processo de restauração, mas cai no mesmo erro, ao identificar a mudança de caráter com a mudança da linha política do partido dirigente (no caso da China, eles identificam isto em 1978). É interessante que este é o método do maoísmo “cuspido e escarrado”.

3) Na verdade, o critério principal não deve ser o peso do setor privado (ou estatal) na economia. Ou, como a LIT propõe, se há estatização da economia, planificação e monopólio do comércio exterior (os critérios clássicos de Trotsky para avaliar a URSS em Revolução Traída). Trotsky elenca estes elementos para mostrar que a economia da URSS não era capitalista, e não como um padrão para avaliar o caráter de classe de um Estado. O verdadeiro critério deve ser político, ou seja, quem detém o poder de Estado.

4) Pelo critério da LIT, a Iugoslávia dos anos 1950 não seria um Estado Operário (pela falta de planificação e monopólio do comércio exterior). Porém, voltaria a ser, com o fim da “autogestão” titoísta! Pelo mesmo critério, a Rússia de 1918 ainda não seria um Estado Operário (e os bolcheviques seriam um governo operário em um Estado burguês, tentando mudar seu caráter de classe, ou seja, uns reformistas!). Além disso, a Polônia de 1939 a 1989, com a maior parte do campo privado poderia ser considerada um Estado Operário?

5) Estes problemas surgem do fato de que nem sempre há uma correlação exata entre a infra-estrutura e a super-estrutura. É exatamente isto o problema da China. Devemos escolher entre duas posições estranhas: ou ela é um Estado Operário com o capitalismo ou já é um Estado burguês (restaurado sem ninguém ver!), com um “capitalismo” extremamente aberrante.

6) Consideramos que, assim como em Cuba, quem detém o poder na China é a casta burocrática, e não a burguesia. Dizer que o fato de ela estar entregando o país para o imperialismo é a prova de que o Estado é burguês é o mesmo que negar que um sindicato dirigido por pelegos seja uma organização operária. Por isso, caracterizamos a China como um Estado Operário Deformado (desde a sua origem, em 1949, devido à ausência de um poder direto dos trabalhadores). A China não pode ser caracterizada como uma semi-colônia (de quem seria? Dos EUA? Não é isso que eles pensam).

7) A base material do poder da burocracia chinesa está no setor estatal da economia (principalmente nas indústrias do exército). Para a restauração do poder da burguesia, esta base material precisa ser destruída, o que exige o fim do monopólio do poder pelo partido.

8) Ainda há alguns elementos não-capitalistas na formação social chinesa. Alguns produtos ainda têm seus preços determinados diretamente pelo Estado. Os bancos são 92% estatais e, por determinação estatal, não podem liquidar dívidas (!), o que impede uma falência generalizada do setor estatal, e são obrigados a gastar a maior parte de seu capital de empréstimo com o setor público, cujo gasto vem crescendo no orçamento estatal. Apesar do usufruto privado, a propriedade da terra em todo o país ainda é estatal, sem direito de herança. A posse de ações não dá direito a votos para controlar as empresas. O câmbio é estatizado. Os salários nominais chineses são tão baixos porque a educação, a habitação, a comida etc, é tudo subsidiado, como conquista da revolução.

9) Sem embargo, a melhor forma de caracterizar a formação social chinesa é como Capitalismo de Estado (mesmo que com poucos elementos de uma economia de transição), o mesmo que a Rússia durante a NEP. Neste caso, seria uma “NEP de direita”, porque o seu objetivo não é criar as bases materiais para a transição ao socialismo, e sim é vista como um fim em si mesmo.

10) A LBI, ao caracterizar a China como Estado Burguês, entra em auto-contradição, porque o Estado cubano (que ela caracteriza como Operário) está numa formação social muito semelhante.

11) Outro elemento que desmente a tese sobre o fim do Estado Operário Chinês é o papel das reformas econômicas no desenvolvimento das forças produtivas. Enquanto na URSS e no Leste Europeu, a restauração levou a uma regressão de quase uma década das forças produtivas, as reformas chinesas, devido ao baixíssimo nível das forças produtivas, têm sido progressivas. Pensar que as joint-ventures com países estrangeiros significam a restauração é dizer que o próprio Lênin era um pelego, porque esta foi uma política usada durante a NEP.

12) Dado o caráter avançado do processo de restauração na China, a revolução política se combina com tarefas da revolução social, como reestatizar a economia, sob controle dos trabalhadores e reconstruir os mecanismos de planificação econômica. As lutas dos trabalhadores chineses (o maior proletariado do mundo) contra a privatização e o desemprego já apontam um caminho.

13) Outras duas questões internacionais se resolvem com esta caracterização sobre a China. A questão do Tibet, em que devemos defender um Tibet independente e socialista, e nos opor ao movimento pró-capitalista em defesa da autonomia e da independência, que é uma forma de enfraquecer o Estado Operário. E a questão de Taiwan, em que devemos estar no campo militar da China contra Taiwan, criado pelo imperialismo como um posto avançado contra o Estado Operário.

14) Acima de tudo, a maior tarefa na China é construir o partido revolucionário dos trabalhadores, seção de uma Quarta Internacional renascida, com uma composição predominante de mulheres e minorias nacionais.

Jesse Jackson: Judas-Goat for the Bourgeoisie

Jesse Jackson: Judas-Goat for the Bourgeoisie

Democrats, Dixiecrats and Rainbows

[First printed in 1917 #5, Winter 1988-89. Originally posted on http://www.bolshevik.org/1917/no5/no05jesse.html ]

“When you keep the Democrats in power, you’re keeping the Dixiecrats in power.”

–Malcolm X, 1964

Jesse Jackson’s 1988 campaign for the Democratic Party’s presidential nomination stirred the hopes of millions of blacks and working people. Most of those who supported Jackson did so as a protest against the fundamental injustice of the racist capitalist system. Yet, despite the illusions of his base, he ran as a candidate committed to preserving and maintaining the oppressive status quo. Jackson is not a leader of struggle against the bourgeois rulers–he is a Judas-goat for them. In the final analysis, “Jackson action” was a scam to fool those for whom the “American dream” is a cruel joke into getting out and voting Democrat.

In drawing the lessons of the revolution of 1848, Karl Marx insisted that the German workers “must do the utmost for their final victory by clarifying their minds as to what their class interests are, by taking up their position as an independent party as soon as possible and by not allowing themselves to be seduced for a single moment by the hypocritical phrases of the democratic petty bourgeois into refraining from the independent organisation of the party of the proletariat.” The necessity for the independent political organization of the working class has been an axiom of Marxism ever since.

Most of the fake Marxists in the U.S. have a tendency to forget this elementary lesson. Discouraged by their own relative social isolation and perceived irrelevance, many would-be socialists latch on to anything that moves, and inevitably find themselves adapting to the Democratic Party as the “left wing of the possible.” The wholesale accommodation, either overt or implicit, to Jesse Jackson’s campaign to carry the standard for the Democratic Party of racism and imperialist war, is the latest example of this opportunism and short-sighted “pragmatism,” which has crippled the American left for generations.

Jackson and the Black Question In America

Jackson campaigned as a representative of the “left wing” of bipartisan bourgeois political consensus. He spoke to the dissatisfaction and desperation of large sections of the oppressed and exploited in American society. What really distinguished his campaign, however, was not his populist demagogy so much as his color–Jackson is the first black to mount a serious campaign for the presidential nomination. His candidacy thus acted as an emotional magnet for millions of blacks, for whom presidential politics has always been an exclusively white man’s game.

From the days of the slave trade, the history of American blacks has been one of brutal oppression and systematic dehumanization. Living in the citadel of “free enterprise,” blacks in this country remain profoundly alienated from the flag-waving imperial patriotism of the Democrats and Republicans. Forcibly segregated at the bottom of this violent and deeply racist society, subjected to constant cop terror, scourged by chronic and worsening unemployment, life in America’s rotting ghettos is now worse than ever. Ghetto schools, which don’t teach anything, are more like prisons. The drastic cuts in welfare and social services carried out by the Reagan administration as part of their war on the poor, have translated into increased homelessness, malnutrition and infant mortality across America. At the same time, there has been a sharp rise in murderous racist attacks, from Forsyth County to Howard Beach, as the limited and largely cosmetic gains of the Civil Rights movement are increasingly eroded.

Jackson deliberately attempted to run a “color-blind” campaign, and pointedly refused to make an issue of the increasing tempo of racist atrocities. Yet while Jackson attempted to ignore the black question, the racist reality of American society nonetheless dogged his campaign. Jackson, the “life of the party,” the man who made the Democratic primaries interesting and garnered seven million votes in the process, was guaranteed in advance that he could not win because of the color of his skin. His eventual rebuff by the Democratic power brokers once again reminded American blacks that they are nothing more than voting cattle in the eyes of the capitalist big-wigs who run the party.

Jackson’s appeal was not limited to blacks. Also significant was the substantial number of unionized white workers who voted for him in several primaries, mainly in the unemployment-stricken “rust belt” of the Midwest. This demonstrates that despite the pervasive racism of American society, many white workers–after more than a decade of union-busting and givebacks–are prepared to support someone they perceive to be acting in their objective interests, regardless of their color.

Jackson in Atlanta

If Jackson’s rhetoric and the issues he raised struck a chord among the many millions for whom life in Reagan’s America is a nightmare, the finale in Atlanta–and the events leading up to it–once again underscored the futility of attempting to reform the Democratic Party. By choosing Lloyd Bentsen, a contra-loving oil baron, as his running mate, Dukakis proclaimed that his campaign strategy would be aimed at right-wing constituencies, especially Southern whites, who defected to Reagan in 1980. “Special interests” (labor, blacks, women, etc.–the majority of the population) could expect nothing from a Dukakis administration. Dukakis drove this point home with an extra measure or spite; he waited for Jackson to publicly express an interest in the vice-presidency…and then chose Bentsen the next day. Dukakis didn’t even bother to tell Jackson, who found out from reporters. This was not an oversight but a calculated insult; it was Dukakis’ way of telling Jackson to forget about becoming a power broker and to stick to his appointed role of hustling black votes for rich white men. Jackson’s initial reaction was bitter:

“It is too much to expect that I will go out in the field and be the champion vote picker and bale them up and bring them back to the big house and get a reward of thanks, while people who do not pick nearly as much voters, who don’t carry the same amount of weight among the people, sit in the big house and make the decisions.”

    –New York Times, 15 July

By convention time, however, Jackson had once again resigned himself to the fieldhand’s (or, more properly, the black field boss’s) role. The promise of an evening in the Atlanta limelight and a campaign plane for himself and his staff were enough to persuade him that it was time for “lion and lamb to lie down together.” But as Shakespeare’s Henry VI observed, “When the lion fawns upon the lamb, The lamb will never cease to follow him.”

On Jackson’s instructions, a threatened floor fight over the election platform was abandoned in favor of a perfunctory presentation of a few proposed planks (tax the rich, no first use of nuclear missiles, etc.), all of which were duly voted down. A deal was made to prevent the controversial issue of an independent Palestinian mini-state from even coming to a vote.

When some Jackson supporters, ignoring their leader’s instructions, held up signs that read “Renounce Savimbi” and “No Contra Aid,” and began chanting “No Contra Aid” during the speech nominating Bentsen and during his acceptance statement, they were pressured by state delegation leaders to cease these “disruptive” activities. “In the New York delegation ‘we almost had a riot,’ according to state Assemblyman and Rainbow Coalition chair Arthur Eve, when ‘security guards came down and started inspecting credentials’ of delegates holding signs” (Guardian, 3 August).

The most significant “gain” claimed by the Jacksonites at the convention was a vague promise to end support for “irregular forces” in Central America. Less than three weeks later, the Democrats pushed a $27 million contra aid bill through the Senate!

Despite minor tactical differences, Jackson shares the bipartisan consensus on containing the Central American revolution. During the campaign he took an explicitly pro-imperialist position on Nicaragua in a nationally televised debate:

“Yes, we should negotiate bilaterally with Ortega. No foreign military advisors. No Soviet base. And if they, in their self-determination, choose to relate to the Soviets in that way, they must know the alternative. If they are with us, there are tremendous benefits. If they are not with us, there are tremendous consequences. If we are clear… the response will be clear.”

    –In These Times, 23 December 1987

Jackson’s performance at the convention closely followed the script of his first presidential effort in 1984, as described by Mary Summers, his chief speechwriter for that campaign:

“In 1984 he called for a 20 percent cut in the military budget, for putting people in this country to work and for a new non-interventionist foreign policy. He was not afraid to emphasize how different his priorities were from Hart’s and Mondale’s. When he actually arrived with his delegates at the Democratic Convention, however, ‘peace’ became an elaborately choreographed accommodation with the party hierarchy. The ‘jobs’ he fought for placed a handful of friends in the Mondale campaign apparatus. ‘Justice’ was his chance to speak to a national prime-time television audience for forty-five minutes, an event in which he demonstrated his personal charisma to millions of people but did not attempt to involve them in an ongoing fight for ‘a new direction’…”

    –The Nation, 28 November 1987

The Jackson campaign, far from an “opening for the left,” provided another example of how the capitalist two-party system succeeds in containing potential opposition. As Malcolm X once aptly commented, you cannot make a chicken lay a duck egg. The slavemaster’s organization will never be the instrument for the liberation of the slaves.

The Function of Capitalist “Democracy”

In the bourgeois democracies, the capitalist class employs physical force on a mass scale only as a last resort. The electoral process is important to the bourgeoisie not only as a method of resolving differences among its various factions, but also of validating its class rule in the eyes of the masses. Whatever anti-popular measures politicians take once in office, they can always point to the fact that it was “the people” who put them there.

Electoral democracy is not without potential pitfalls for the bourgeoisie. The majority of the electorate is comprised of workers and other plebian and semi-plebian layers whose interests are diametrically opposed to those of the capitalists. Bourgeois democracies have therefore evolved highly sophisticated electoral machines to deceive and politically paralyze the popular masses.

In countries where the majority of workers are organized into their own political parties, the bourgeoisie relies upon its ability to buy off and corrupt workers’ leaders. The popular front–an electoral bloc between bourgeois and workers parties–is also an important means of subordinating the proletariat, through their misleaders, to their class enemies in situations of sharpening class struggle.

In the United States, where no workers party exists, the role of ensuring popular support for bourgeois class rule more commonly devolves upon various reformers, populist demagogues and black preachers, usually operating within the Democratic Party. Their game consists in first building a mass base by voicing popular discontents, and then using their base to support one of the candidates of the status quo when election time comes around. Alternatively, they may seek office themselves, in which case, if they are successful, they get to personally implement right-wing policies. The derailing and co-optation of the leadership of the Congress of Industrial Organizations during the 1930’s and 40’s; of the civil rights movement of the 1950’s and 60’s; and of the anti-Vietnam war movement, demonstrate that the Democratic Party is not a “springboard” but a graveyard for social movements.

Jackson’s voting base was overwhelmingly concentrated among poor and working blacks, but his active supporters were largely drawn from the black petty bourgeoisie with a leavening of white “radicals” and left-liberals. The Jackson machine, and the delegates it selected, could hardly be numbered among the wretched of the earth.

    “To begin with, both Jackson and Dukakis delegates are far wealthier than the national average. Only nine percent of Jackson’s backers (and four percent of Dukakis’s) earned less than $25,000 last year….

    “On the other hand, sixty per cent of Dukakis’s delegates-and forty percent of Jackson’s-have family incomes of more than $50,000 a year, more than double the national average.

“…fifty-eight percent of the Dukakis delegates, and forty-nine percent of Jackson’s, are ‘professionals’ of one sort or another.”

    –Express, 5 August

Knowing that Jackson was willing to play ball, the other Democratic presidential contenders refused to join New York’s racist mayor, Ed Koch, in his attempt to initiate a “stop Jackson” movement. The 13 June issue of America’s leading financial publication, The Wall Street Journal, editorialized, “Mr. Jackson, despite his heady rhetoric and rapport with Third World thugs, has on net served as an integrating force in American society.”

Jackson’s “Socialist” Backers

While the Jackson campaign’s role in defusing potential social explosions was apparent to leading spokesmen of the bourgeoisie, most of the ostensibly-socialist left did not display similar insight. Assorted social democrats, Stalinists and ex-New Leftists had been wandering too long in the wasteland of Reagan’s America to resist the mirage of renewed influence conjured up by the “righteous reverend.”

The Democratic Socialists of America (DSA), who have consistently acted as rank apologists for the Democrats regardless of the political conjuncture, were determined to jump on Jackson’s coattails whatever the cost. Gerald Austin, Jackson’s campaign manager, initially turned down DSA’s endorsement for fear that association with “radicals” would tarnish the Jackson image. DSA honcho Michael Harrington understood this perfectly: “We raised the problem with Jackson that we want to support you but we don’t want to support you in a way that would harm you” (New York Times, 5 December 1987). Jackson reversed Austin’s decision the next day–after all, somebody had to do the donkey work! The whole flap was unnecessary. Had Austin been familiar with Harrington’s yeoman service in red-baiting New Left radicals out of the League for Industrial Democracy twenty-five years ago, he would have known that America’s premier social democrat has always kept his promises to the liberal bourgeoisie.

Where the social democrats tread, the Stalinists are never far behind. For the first time in decades, the Communist Party (CP) decided not to run even a token presidential candidate, in order to devote all its resources to the Jackson campaign. And if the pro-Moscow Stalinists of the CP were true to form in supporting yet another Democratic presidential hopeful in their perennial quest for an “anti-monopoly coalition,” various Peking-loyal splinters like the League of Revolutionary Struggle (LRS–led by Amiri Baraka/Leroi Jones) were no more reluctant to look to the Rainbow. In the mid-1970’s Baraka had numbered Jackson among “the most corrupt vacillating collaborators” of American imperialism (Black Scholar, January-February 1975). But Baraka’s days as a left-posturer are long gone. The 18 July issue of the LRS’s Unity, featured a special supplement entitled “A New Day,” which included a 15 by 22 inch centerfold of Jackson. The LRS rhapsodized that Jackson’s campaign “kindled hope in a new generation as it laid the foundation for a new electoral majority which can change the face of America.”

For those who succumbed to the illusions generated by the Jackson campaign in the first place, there was little alternative but to put the best possible face on their standard-bearer’s ignominious surrender to Dukakis in Atlanta. Just as it is Jackson’s job to sell a rightward-moving Democratic Party to the masses, so his “socialist” camp followers willingly embrace the task of retailing a thoroughly compromised Jesse Jackson to the more critically-minded left-wing workers and activists.

Typical of the reaction of Jackson’s leftist admirers is the following comment from Frontline, journal of Irwin Silber’s Maoist-cum-Muscovite Line of March group:

“There was the elation of having been part of a historic moment and witness to a tremendous stride forward for Black empowerment and the broader progressive agenda. But there was also the sense of having been soiled in the gritty politics of compromise.”

“Jackson sent his supporters home from Atlanta both inspired by his example and charged with the specific and difficult task of working a transformation in the Democratic Party.”

The “Rainbow” is a classic example of reformism without reforms. What Jackson “won” was access to a jet to campaign for Dukakis; a few jobs for his followers in the Dukakis campaign machinery; some procedural changes in the method of delegate selection; and a few seats on the Democratic Party’s National Committee–one of which just happened to go to Jesse Jr. And of course Jesse Sr. got to deliver a unity pitch to the convention. In return Jackson pledged to do what he could to rope in the votes of the black masses for the Democrats, leaving the party free to pursue its “Southern strategy” of openly courting the racist vote.

Jackson’s Fake-Trotskyist Admirers

For those pseudo-Marxists who pretend to uphold the historic legacy of Trotskyism, indulging their reformist appetites toward the Jackson campaign was slightly more awkward than it was for the social democrats or the Stalinists. Political independence from capitalist parties has always been a matter of principle for Trotskyists, and cannot be discarded without renouncing the explicit programmatic pronouncements of Trotsky himself. But the fake-Trotskyist reformists and centrists find it as difficult to resist the pull of any left-sounding “mass movement” as to resist the force of gravity. They were therefore obliged to come up with a formula which allowed them to maintain a figleaf of orthodoxy while sidling up to the Jackson camp. Calling upon Jackson to break with the Democrats and run independently fit this requirement to a “T.”

Prominent among those trying to pressure Jackson to the left was the International Workers Party (IWP), American section of the Argentine-based International Workers League, which advised the Rainbow Coalition to run Jackson as an “independent.” Unable to tell the simple truth about Jackson to the workers–that he is a fraud and that his Rainbow is simply a vehicle for the preservation of the entire social system which breeds racism, poverty and war–the IWP tricksters promote illusions in the “progressive” character of the Jackson Democrats with their call for this bourgeois formation to change its spots.

A similar “tactic” was taken by “Solidarity,” an unprincipled amalgam of anti-Soviet third campists and supporters of Ernest Mandel’s United Secretariat. In a pamphlet entitled “Jesse Jackson, The Rainbow and the Democratic Party–New Politics or Old?” Solidarity laments Jackson’s affiliation with the Democrats but emphasizes its “keen appreciation for what is different and inspiring about this candidacy and the Rainbow Coalition that supports it.” Solidarity goes on to praise Jackson’s “generally progressive program with a powerful appeal to the needs and interests of U.S. workers and farmers, as well as an inspirational message of hope for Black America under siege” and asserts, “Our quarrel is not with the spirit and message of the Rainbow. It is with the Democratic Party” (emphasis in original). Like the IWP, Solidarity’s bottom line is that, “Jackson should be pressured to run as an independent in November; the often neglected Rainbow Coalition should be a key player in that pressure campaign.”

The hope that Jackson will break with the Democrats is as farfetched as the expectation that he will succeed in reforming that party from within. Jackson has made it clear that he has no intention of breaking with the organization in which he is vying to become a “somebody.” Andrew Kopkind reported that during a bus ride on the campaign trail, Jackson and his supporters were discussing the future of the Rainbow Coalition:

“Should the campaign fold into the Democratic Party, remain a kind of external caucus (‘a progressive adrenal gland on the sluggish Democratic kidney’ as someone had said) or make a clean break and become a party in its own right? Jackson spoke up. He would be in favor of a third party–provided that his could be the Democratic one. Sam Nunn and that ilk could go off and have their own party if they wanted to. But the Democratic Party was too important and too powerful to leave to the enemies of progress.”

    –The Nation, 16 July

“Black Capitalism” and the “Talented Tenth”

Jackson’s declaration of loyalty to the Democrats is completely consistent with his entire history, ideology and social base. As head of Operation PUSH in Chicago, Jackson is a longtime advocate of “black capitalism,” and has made a career of accommodating to the racist establishment. Well known for negotiating “trade agreements” with Coca-Cola, Burger King, Kentucky Fried Chicken and various other giant corporations, Jackson has been willing to do business with anyone who could promote his political ambitions. In 1983, in a prelude to his first bid for the Democratic nomination, Jackson visited the Alabama State Legislature, where he lauded arch-Dixiecrat George Wallace as a man of “charisma, stature and grace.” Standing near the spot where Jefferson Davis took the oath of office as the president of the Confederacy of slaveholders, Jackson commented, “This has been a marvelous place to speak, where Jeff Davis spoke…” (Washington Post, 25 May 1983).

On a tour of South Africa in 1979 he pushed for “operational unity” with Gatsha Buthelezi, the Zulu tribalist leader whose Inkatha thugs work closely with the apartheid regime in murderous attacks on black trade unionists and young militants in the townships. Jackson complimented Pieter Koornhof, apartheid minister for “black affairs” as a “courageous man’ for whom he had high regard”! For this he was denounced by a black militant in Soweto, Tom Manthata, as “a diabolical Western agent” who was more interested in being elected to the United States Congress than in advancing the real interests of South African blacks” (New York Times, 2 August 1979).

In the United States, a thin layer of black entrepreneurs, professionals and government bureaucrats have risen above the grinding poverty and hopelessness to which the vast majority of America’s ghettoized black population is condemned. Like all petty-bourgeois strata, this black elite is driven by the desire to obtain its slice of the “American Dream,” i.e., to become a legitimate and accepted part of the ruling capitalist establishment. Its quest for upward mobility is, however, severely limited both by the declining fortunes of U.S. capitalism and the pervasive racism of American society. As the ”American Century” fades into a memory of things past, there is less and less room at the top for parvenus of plebian origin. This in turn reinforces the racial prejudice of the U.S. bourgeoisie, in whose eyes even the wealthiest of black men and women are still regarded as inferior because of their color.

The black petty bourgeoisie has no other means of exerting pressure for social acceptance on the nation’s white rulers than by periodically attempting to rally the impoverished black masses behind them. And it cannot do this except by appealing to the resentment that all blacks share as social outsiders. This appeal obtains its broadest scope when extended to other outsiders as well–for example unemployed blue-collar workers and working mothers, sectors that mainstream bourgeois politicians have long since written off. But these are sectors that the black petty bourgeoisie is also willing to abandon for the first crumbs tossed in its direction by the ruling class. And if late capitalism has no room within its contracting walls for the aspirations of the black masses or increasingly impoverished white workers, the crumbs capitalism can offer to the black petty bourgeoisie are still tempting enough to keep them in tow.

Today’s American metropolitan centers–from Newark to Detroit, from Los Angeles to Philadelphia–are more than ever inhabited by blacks and other minorities, and hence cannot be effectively governed by old-line white machine bosses. For this job, slick black politicians are needed. If Philadelphia’s white racist tough cop ex-mayor, Frank Rizzo, had bombed the MOVE commune in 1985, the black population of that city would have been up in arms. Only his black surrogate, Wilson Goode, could commit this unspeakable atrocity and survive politically.

For the black middle class, black elected officials (BEO’s) represent the success of their striving for respectability. And these BEO’s can only maintain their control of the urban Democratic machines by remaining in the good graces of the white ruling class. It was the endorsement of the BEO’s that Jackson sought in 1984, and obtained in 1988. It is also to them, and the social stratum they represent, that Jackson is primarily responsible, and for them that he was all too willing to betray the hopes he had aroused among his larger black and white working-class constituency. Calling upon Jackson to break with the Democrats is enjoining him to bite the hand that feeds him–something bourgeois politicians, black or white, are notoriously unwilling to do.

Jackson’s candidacy was not a great “historic event” but a temporary interlude in the twisted development of the American working class’ struggle for independent political action. The job of revolutionaries is not to promote illusions, but to tell the truth. And the truth is that Jackson’s “Rainbow”is not a step on the road to the emancipation of the workers and oppressed– it is a prop for the maintenance of the system of racism and exploitation.

The downtrodden and oppressed in this country desperately need hope for a brighter future, but not a sugary false hope. American workers and blacks need a party separate from their class enemies–a party to lead the struggle to expropriate the landlords, the bankers, and the bosses; a party committed to fight for a workers government. Such a party, based on the unions–the mass organizations of the proletariat–can only be forged through an uncompromising struggle against all wings of the twin parties of the bourgeoisie.

Porque não apoiamos as greves da polícia?

Porque não apoiamos as greves da polícia?

Novembro de 2007

Nos primeiros dias do mês de novembro, o Encontro Nacional de Negros e Negras da Conlutas reafirmou a posição dessa entidade de apoiar todos os movimentos coorportivistas de policiais por melhores condições de salário e de “trabalho”. Apesar da intervenção do C.C.I [Comitê Comunista Internacionalista, organização predecessora do Coletivo Lenin, do qual se originou o Reagrupamento Revolucionário] ter atraído a simpatia de boa parte da base que ali estava, venceu a proposta defendida pelo PSTU segundo a qual o policial é um “trabalhador como outro qualquer”.

Conforme já dissemos em outro artigo, essa posição é reflexo da composição majoritariamente pequeno burguesa do PSTU e de sua opção por se construir nos setores mais favorecidos da classe recusando-se, por exemplo, a dar devida importância ao movimento popular. Além da falta de experiência diária com a opressão policial que sofrem setores mais oprimidos da classe, há um comportamento típico da pequena burguesia: recusar a experiência e as elaborações da classe trabalhadora em seus séculos de luta.

Trotsky dizia que “quando um trabalhador se torna policial, operou-se nele uma mudança de consciência”. O PSTU tenta contrapor-se a essa colocação dizendo que é preciso apoiar a polícia para, em uma situação revolucionária, provocar um racha em suas bases. É uma grande diferença com o trotskysmo. Uma diferença tão grande quanto aquela colocada por Nahuel Moreno no Livro “Revoluções do Século XX” segundo a qual Trotsky não havia previsto a necessidade de apoiar revoluções democráticas que instituíssem regimes democrático-burgueses.

Historicamente os revolucionários nunca tiveram a meta de provocar racha na polícia, mas sim na base proletária do exército. Isso porque a polícia é muito diferente. O exército é composto por oficiais oriundos da pequena burguesia e por soldados, cabos e recrutas provenientes da classe operária e que cumprem o serviço militar de forma obrigatória. Principalmente em época de grandes confrontos armados entre as burguesias de diferentes países, quando apenas os trabalhadores são enviados para os campos de batalha, existe ali um setor fértil para semear a revolta e a rebelião contra a oficialidade. A polícia , diferentemente, é composta por elementos que OPTARAM por ter uma profissão cuja única função é no dia a dia oprimir e chacinar os movimentos dos trabalhadores e os setores mais marginalizados da sociedade. No caso do Brasil, esses setores são os negros, mulheres e homossexuais. Essa é a grande diferença entre o exército e a polícia e é nisso que se baseia o pensamento trotskysta: quando um trabalhador decide seguir esse caminho é porque já se operou um convencimento ideológico.

Na Revolução Russa não houve racha de policias, mas sim dos Cosacos, que eram o setor proletário e oprimido do exército.

A direção do PSTU conhece essa diferença, porém escolheu o caminho de tentar confundir a vanguarda. No Encontro da Conlutas, para defender o apoio à Polícia Civil do Rio de Janeiro, usou o exemplo do marinheiro negro João Cândido, que liderou a Revolta da Chibata na Marinha. Optaram por esquecer que Marinha é diferente de Polícia e que João Cândido representava o setor oprimido da marinha que é muito diferente dos policias civis que invadem a favela de caveirão para chacinar negros.

Não satisfeitos, decidiram lembrar o trecho da “Internacional” que diz “Façamos greves de soldados, somos irmãos trabalhadores…” Dessa forma, defenderam que devemos nos solidarizar com as greves da Polícia Civil, pois seriam nossos “irmãos”.

Quando o trecho do Hino diz “Façamos greves de soldados” não se refere a polícia, mas sim aos soldados recrutados à força para, através do exército, empunharem fuzis. Por exemplo, se houvesse uma grande guerra que envolvesse o Brasil, milhares de jovens, inclusive ativistas políticos, seriam recrutados para as batalhas. Nossa obrigação seria, através da solidariedade operária, incentivá-los a fazer ali um movimento de insubordinação. Assim, estaríamos fazendo o que diz “A Internacional”. No caso da Polícia Civil, isso é muito diferente. Quando uma pessoa, sabendo qual é a função da polícia, opta por fazer um concurso para exercer essa função apenas para ganhar dinheiro, ela passa a ser inimiga da classe trabalhadora. Apoiar melhores salários e melhores “condições de trabalho” para a P.M ou para a Polícia Civil seria o mesmo que, na época da escravidão, estando todos nós na senzala, dizer que o capitão do mato deveria ser mais bem remunerado e que a suas “condições de trabalho”, ou seja, sua chibata deveria ser mais eficaz.

Não achamos que a direção do PSTU seja ignorante. Pelo contrário, sabem muito bem o que estão fazendo. A direção do PSTU fez a clara opção de mentir para tentar confundir a vanguarda e ganhá-la para sua política.

Essa política tem se expressado não apenas nos momentos de greves de policiais, mas também em atos políticos do movimento.

Recentemente, em uma passeata de estudantes no Rio de Janeiro, a polícia chegou ameaçando reprimir. Esse ato estava acontecendo poucos dias após a realização de uma grande chacina por parte da polícia. Aproveitando a presença da imprensa e tentando criar um fato político de repercussão, nós do C.C.I, juntamente com militantes da Frente de Oposição de Esquerda, que fazem militância contra a violência policial, puxamos a palavra de ordem: “Chega de chacina, polícia assassina”. A direção do PSTU, naquele momento, dividiu o ato tentando sufocar nossa palavra de ordem e puxou: “Você aí fardado, também é explorado”. Ou seja, ao invés de denunciar nos atos a corporação polícia como uma inimiga da classe, optou pr fazer a propaganda de que eles são explorados como nós e que, não devemos nos confrontar politicamente com eles, mas sim chamá-los para o nosso lado. Isso no momento que eles se preparavam para nos atacar.

Em momentos de refluxo do movimento, essa posição política equivocada pode parecer inofensiva, porém em ascensos ou em uma situação abertamente revolucionária, essa política pode levar à derrota e à perda física de boa parte da vanguarda.

Os militantes to PSTU que não fazem parte do setor pequeno burguês desse partido são os que têm melhores condições de compreender esses fatos. Desejamos que esses militantes reflitam sobre essa política e, a partir da reflexão, se dediquem a compreender o que é e a serviço de que projeto está a direção do PSTU.

BEWARE MURDERERS THAT WEEP

BEWARE MURDERERS THAT WEEP

[Spartacist leaflet dated 6 April 1968. Reprinted in Young Spartacus, May 1977]

The murder of Martin Luther King is an indication of the increasingly violent attacks coming against black working people and poor. King was attempting to lead the strike of 1300 Memphis sanitationmen, mostly black, who have been on strike since 12 February. Tremendous community support had developed for the strike, and a successful economic boycott of downtown stores was carried out. The strikers are demanding union recognition, a dues checkoff system and higher wages, since of course black workers are lowest paid.

The response ot the racist white power structure was swift and violent. On 28 March, a march led by King supposedly “exploded” into violence, resulting in the murder of a black youth, Larry Payne, age 16, by the Memphis police. And then on 4 April, King himself was assassinated.

Every capitalist politician has expressed deep grief over the loss of King. LBJ made a nationwide address deploring Violence, after which he called 12,000 troops into Washington, D.C. to keep “order.” Vice President Humphrey shed bitter tears, and the Memphis city government promised to catch the killer, although they promised nothing to the striking Memphis sanitationmen. (The garbage in Memphis is still being collected by scabs.) Now Mayor Lindsay wants to attend King’s funeral, after having attempted to use troops against the New York City sanitationmen’s strike in February.

No government official expressed grief when Malcolm X was murdered while New York City cops stood by, or when Larry Payne was murdered by the Memphis police. None of these weeping officials have even mentioned the striking sanitationmen, who have hung on without regular income for almost two months!

What are these fakers really weeping about? As they keep repeating with urgent tones, they miss the nonviolence which King preached. That’s not to say that LBJ and the other fakers themselves believe in non-violence the black ghetto residents of Washington, Detroit, New York, etc., can testify otherwise. But they do believe in non-violence for black working people and poor, since that makes their job so much easier. Reject “blind violence,” says LBJ – and let the cops handle things!

These weeping politicians also miss the “friendly” approach of King, who said he was “always willing to negotiate” — meaning talk behind closed doors with LBJ, Kennedy, etc., to work out some new fake concession. Now they may have to deal more in the open, and perhaps the Democratic and Republican parties may lose their oppressive grip on black working people.

What Now?

1 – The only defense of black working people and poor is by being armed and organized. The racist power structure and its private allies are not nonviolent and so we must be equipped for self-defense. As the Black Panthers of Oakland, California urge: “Buy a gun and stay home.”

2 – We must build a Freedom Labor Party. The two major parties, Democrat and Republican, have shown themselves to be tools of the bosses, of the white power structure. All working and poor people, black and white, need a Freedom-Labor Party, based on the power of workers and unemployed, to destroy racism and fight for the interests of working and poor people.

3 – We must fight in the labor movement to throw out the conservative and racist bureaucrats who make deals with the bosses and help maintain the poverty of black workers. To this end, we must struggle for the shorter work week with no loss in pay, which paves the way for the hiring of the millions of unemployed.

4 – We must aid the Memphis sanitationmen to victory against the racist government, upgrading the black worker. We call for united labor action in other cities in support ofthe strikers — such as the proposed shutdown of the garment center in New York. And we demand that the AFCSME (AFL-CIO), to which the sanitationmen are affiliated, participate in these efforts as well as send money.

Somente um governo direto dos trabalhadores pode deter o colapso ambiental

Somente um governo direto dos trabalhadores pode deter o colapso ambiental

Escrito pelo antigo Coletivo Comunista Internacionalista (CCI), organização predecessora do extinto Coletivo Lenin – Agosto de 2007

Rosa Luxemburgo, há muitos anos, lançou a consigna “Socialismo ou Barbárie”. Significava que, caso a classe trabalhadora não construísse o socialismo em escala mundial, o capitalismo levaria a humanidade inteira para uma situação de total barbarismo: um retrocesso de milênios.

No século XXI, essa disjuntiva torna-se ainda mais férrea, pois o capitalismo, único sistema econômico implementado em escala mundial desde o surgimento da nossa espécie, está esgotando totalmente as condições de vida no planeta. Portanto, hoje em dia, podemos interpretar a barbárie como o fim da própria espécie humana.

Como somente os trabalhadores, povo pobre e oprimido de todo o mundo, podem levar a cabo a luta pelo socialismo, a defesa do meio ambiente somente pode ser efetivada através de um governo revolucionário exercido diretamente pelos trabalhadores.

O exemplo da luta do povo da Zona Oeste contra o “Lixão” demonstra que, por serem os que mais sofrem com a degradação ambiental, o povo pobre e trabalhador é o maior interessado em barrar o avanço da destruição.

A burguesia, na busca desenfreada pelo lucro, poluiu todo o planeta. Agora, diante do aquecimento global, diante do derretimento do gelo dos polos que leva a profundas alterações climáticas e ao aumento do nível do mar, tentam nos enganar dizendo que a culpa da poluição é do povo. Tenta nos convencer de que, para salvar o planeta, devemos fechar as torneiras de nossas casas, economizar copos descartáveis, etc. Enquanto isso, suas grandes empresas seguem despejando milhões toneladas de CO2 no ar para seguirem lucrando milhões às custas da miséria do povo e do planeta. Enquanto isso, Lula, com uma canetada, assina a transposição do Rio São Francisco condenando toda uma região a uma tragédia ambiental somente para garantir a supervalorização das terras de alguns apadrinhados políticos e a posterior venda da água do “Velho Chico”. Tudo para enriquecer ainda mais os que já são ricos.

Na verdade, de nada adianta qualquer atitude individual e isolada para salvar o planeta. De nada adiantará economizar individualmente ao longo de um ano alguma quantidade de copos descartáveis se a burguesia não for destruída. É ela, que através da sua ganância, acaba com as condições de vida. A luta em defesa do meio ambiente deve ser uma luta política contra os governos que, como os de Lula e Bush, destroem a natureza. Deve ser uma luta, em última instância, contra a burguesia a quem esses governos servem. Deve ser uma luta em defesa de um governo direto dos trabalhadores e em defesa do socialismo.

Relembrando Rosa Luxemburgo: Socialismo ou colapso ambiental!

¡Condenamos el plebiscito pinochetista!

Reformistas cazan a los generales “democráticos” de la junta

¡Condenamos el plebiscito pinochetista!

Por la Organización Trotskista Revolucionaria de Chile, enero de 1978. Impreso en Spartacist en español No. 6, julio de 1978.

El plebiscito del 4 de enero instrumentado por el general Pinochet, el César bárbaro de la junta militar que durante los últimos cuatro años ha azotado a los trabajadores de Chile, es un claro signo del profundo aislamiento del régimen bonapartista y en particular de su hombre fuerte. Los resultados manipulados han sido descontados universalmente, hasta por el Departamento de Estado de los EE.UU. dada la absoluta imposibilidad de cualquier simulacro de una expresión de la voluntad popular bajo la condiciones imperantes en Chile hoy día. En vez de encubrir la dictadura con un velo de aprobación democrática, el “voto” fraudulento sólo logró recordar a otros regímenes plebiscitarios hediondos (desde Napoleón III, quien ordenó la “aprobación” de su golpe de estado de 1851 y el otorgamiento del título de emperador, hasta “consultas” parecidas ratificando actos de fuerza por los Nazis).

Sobre todo, el inútil intento de “legitimar” la dictadura pinochetista desató las primeras manifestaciones abiertamente dirigidas contra la junta desde que el sangriento golpe de 1973 forzó toda la oposición a sumergirse en la clandestinidad. En noviembre los mineros del cobre de la vasta mina de El Teniente salieron en huelga, logrando el pago de los bonos que les debía la administración estatal. Una semana después se juntaron 100 parientes de detenidos “desaparecidos” frente al Ministerio de Asuntos Exteriores. Luego, como respuesta al anuncio del plebiscito, durante cuatro días partidarios del Partido Demócrata Cristiano (DC) repartieron hojas volantes abogando por el voto de “no”, produciendo varias detenciones y pequeñas confrontaciones con la policía. Y el día 3 de enero aproximadamente 500 manifestantes de izquierda desfilaron por el centro de Santiago, haciendo un acto frente a la Moneda (el antiguo palacio presidencial).

La farsa de la “consulta nacional” del tirano Pinochet constituyó un revés para sus ambiciones personales y desacreditó a la junta militar como tal.  El ejercicio puso al desnudo la bancarrota de un régimen que se ha lanzado por la senda de un programa explícito de desindustrialización quizás el único país del mundo donde un gobierno ha provocado la muerte de hambre en gran escala entre los pobres como política consciente; de una dictadura que se inspira abiertamente por el Reich nazi, incluso con sus campos de concentración, en su política de exterminio de toda oposición de izquierda. Este fracaso para el gobierno animará a los opositores de la junta militar; los revolucionarios deben aprovecharse de esta situación para avanzar su trabajo de despertar y rearmar políticamente al proletariado chileno.

No obstante, lejos de despertar este gigante poderoso ― única fuerza social capaz de terminar con las dictaduras militares, los partidos reformistas, comunista (PCCh) y socialista (PS) están trabajando a un ritmo febril para forjar nuevas cadenas para atar a los obreros chilenos al enemigo de clase. Esta vez la alianza abarcará no sólo los radicales y demócratas cristianos disidentes, sino la DC misma e incluso al ex-presidente Frei quien desempeñó un papel fundamental en fomentar el golpe de 1973; y los “sectores democráticos” del cuerpo de oficiales; es decir cualquiera de los generales y almirantes carniceros dispuestos a abandonar a Pinochet, quien está por hundirse, y que concuerdan en una “liberalización” limitada del régimen, asemejándose al gobierno caetanista, continuador de la dictadura salazarista en Portugal.

Es nuestro deber como revolucionarios de la clase obrera advertirles a las enlutadas masas trabajadoras de Chile y al proletariado del mundo entero de la amenaza planteada por los proyectos de los reformistas. ¡Hablar de una “transición pacífica a la democracia” es una mentira engañosa! No se olviden a que tragedia condujo la llamada “vía pacífica al socialismo”: al 11 de septiembre de 1973 y a la masacre de millares de obreros sin armas ni dirección. La burguesía no va a regalar las libertades democráticas, tan ardientemente deseadas por las masas chilenas, porque teme ante todo al potencial revolucionario del despertar proletario. Es por eso que respaldó, en su abrumadora mayoría, al golpe de 1973 y que desatará otra matanza contrarrevolucionaria si fuese necesario para evitar que las masas “vayan más allá” de lo aceptable en el acto de derrumbar a la junta criminal. La consigna de los revolucionarios leninistas es y será: “¡Aplastemos a la junta sangrienta por la revolución obrera!”

Dictadura en apuros

La junta militar que gobierna Chile hoy día, constituida por representantes de las tres ramas de las FF.AA. y carabineros, ha asumido su rol a sangre y fuego como resultado de la política de colaboración de clases de las direcciones obreras tradicionales concretizada en el frente popular de Salvador Allende, la Unidad Popular (UP). El fracaso de la línea frentepopulista cristalizada en el programa de la llamada “vía chilena al socialismo”, que se demostró incapaz de cumplir su papel de dique de contención de la clase obrera ―unido a la incapacidad de los partidos políticos de la burguesía de solucionar la honda crisis existente― empujó al golpe de las FF.AA.

La junta militar que a través de un camino de sangre obrera y de la destrucción de las libertades democráticas y sindicales se ha instalado en el poder, cumple el objetivo de sacarle las castañas del fuego a la burguesía. Los estalinistas y socialdemócratas la califican erróneamente de “fascista” para disculpar sus frentes “antifascistas” con sectores de la burguesía. Sin embargo, aunque el golpe de septiembre fue avalado por los imperialistas y la burguesía criolla, y por importantes capas de la pequeña burguesía, el gobierno militar nunca ha gozado de una amplia base de apoyo social activa, al contrario de los movimientos fascistas que se alzaron al poder sobre la base de una movilización de pequeños burgueses enfurecidos. Asimismo la calificación de “gobierno gorila” ―aunque pretenda ser “popular” y “de más fácil comprensión”― significa esquivar el verdadero problema de dar una caracterización científica del régimen actual.

Para los marxistas la junta de Pinochet es un régimen bonapartista en el cual un grupo reducido o aún un solo individuo trata de alzarse por encima del tira y afloja normal de las clases en pugna, expresada a través de los mecanismos de la democracia burguesa, para imponerse como árbitro y protector supremo de los intereses de clase capitalistas. En este caso se distingue del caudillo latinoamericano tradicional (desde Rosas a los Somoza y Stroessner) por el hecho de que es el cuerpo de oficiales de las FF.AA. la “esencia misma del estado” ― que asume directamente la dirección gubernamental frente a la creciente agudización de los conflictos de clase.

Además, el modelo económico de la junta militar no corresponde en absoluto a los regímenes corporativistas de Italia y Alemania bajo el mando fascista. En nuestro país la política del gobierno bonapartista no ha logrado encontrar un camino viable para la solución de la crisis económica. El “tratamiento de shock” del premio Nobel Milton Friedman, basado sobre un liberalismo de “mercado libre” (el libre cambio y el empuje a las exportaciones, con las devaluaciones “minis” y otras), se ha mostrado incapaz de sobrepasar la inflación galopante y pese a las cifras optimistas del gobierno la deuda externa alcanza niveles impresionantes. En realidad todo se resume a volcar los déficits presupuestales sobre las espaldas de la clase obrera y la pequeña burguesía.

Aunque beneficia a unos pocos monopolios y por supuesto a las “multinacionales”, esta política ha conducido a un descenso alarmante en la producción industrial ya gran número de quiebras de empresas. Es así que la política del sector “duro” de la junta ―léase Pinochet― es contestada por importantes sectores de la burguesía y de los pequeños propietarios, y comerciantes. Irónicamente se trata de muchos de los mismos elementos que obraban activamente por el golpe de 1973 mediante la política de “desestabilización” (paros patronales de los camioneros, comerciantes, profesionales, etc.). La DC se ha propuesto acaudillar este movimiento y con el documento “Esta es mi Respuesta” Eduardo Frei se lanzó públicamente en el terreno de la oposición. Aún la organización criminal de ultraderecha: “Patria y Libertad” también se opone a la junta.

Dentro de la junta se reflejan las diferentes presiones, producto de la actual situación, y vemos a Pinochet realizando equilibrios en un trapecio ya bastante roído. Tanto el general Leigh como el almirante Merino se han pronunciado contra el plebiscito. Los motivos no son los mismos: Merino siempre ha actuado directamente respondiendo a los dictados del Pentágono y de la CIA, mientras que el comandante de la aviación ha sido el propulsor de una política corporativista, de dar más representación a los “gremios” en la búsqueda de un apoyo de masas, presentándose de esta manera como el abanderado de los fascistas de Pablo Rodríguez (dirigente de Patria y Libertad). Pinochet se resiste al cambio de rumbo y es en este marco que convoca la “consulta nacional” como desesperado intento de autodefensa.

La trágica farsa pinochetista

La resolución votada por las Naciones Unidas, que condena a Chile por la continua violación de los derechos humanos, “indignó”, según se informa, al presidente Pinochet. Este decidió responder con su plebiscito, luego rebautizado “consulta nacional”, según la cual cada ciudadano es convocado a declarar “si respalda al presidente de la república”, o si en cambio apoya a la pretensión de la ONU “de imponernos desde el exterior, nuestro destino futuro”.

Los militantes trotskistas no entregamos ningún gramo de confianza a la organización internacional de las burguesías ― donde además participan los representantes de las burocracias dirigentes de los estados obreros deformados y degenerado. Aún más, esta resolución de la ONU se plantea en el marco de la campaña de proyecciones anticomunistas de Jimmy Carter en defensa de “los derechos humanos”. El blanco principal de esta campaña es la Unión Soviética y sus satélites, y su propósito es de rearmar “moralmente” al imperialismo yanqui, debilitado después de su derrota humillante en Indochina. En este marco repudiamos las lágrimas de cocodrilo de uno de los principales responsables de la situación actual en Chile y la principal fuerza contrarrevolucionaria a escala mundial; y también el patriotismo del “prócer” Augusto Pinochet.

En el contexto de la “defensa de Chile” la papeleta de voto por el “sí” lleva los colores de la bandera nacional, y su significado es el siguiente:

“Frente a la agresión internacional desatada en contra del gobierno de nuestra patria, respaldo al presidente Pinochet en su defensa de la dignidad de Chile y reafirmo la legitimidad del gobierno de la república para encabezar soberanamente el proceso de institucionalización del país.”

La amordazada prensa chilena, enteramente adicta al gobierno a diferentes grados, fue inundada con la propaganda para un voto de “sí”. La amenaza de violencia contra los opositores al régimen fue apenas disfrazada. Para prevenirse contra un boicot masivo se declaró la obligación de votar. Al entregar la papeleta de voto, la cédula de identidad de cada individuo sería cortada y marcada con un sello especial; a los que no acudían a las urnas (donde se podría detener fácilmente los “elementos subversivos”) se les daba un plazo de ocho días para presentarse ante las autoridades con una explicación adecuada, o si no sus documentos quedarían invalidados.

Pinochet se lanzó al plebiscito sin siquiera consultar con los otros miembros de la junta y éstos reaccionaron mostrando su desacuerdo con esta medida. Su principal objeción era que Pinochet utilizaría este instrumento para apartarles aún más a los demás miembros del cuadrumvirato del ejercicio del poder. En una carta dirigida a Pinochet, Leigh se expresa en los siguientes términos:

“Rechazamos los referéndums de carácter de plebiscito, propios de gobiernos de tipo personal… Es por esta razón que el poder no reside en ninguno de nosotros, él reside en la Junta de Gobierno… Vuestra Excelencia ha organizado un referéndum pese a la oposición de dos miembros de la Junta.”

El otro miembro, de la junta al que se refiere Leigh es Merino. En su propia misiva a Pinochet, Merino se expresa en términos más duros, menos “elegantes”, que los de Leigh, e incluso afirma que:

“Las instrucciones dadas a los intendentes para que los votos nulos y en blanco sean considerados a favor, hará que el resultado de la elección pierda todo valor moral ante la opinión pública nacional y extranjera.”

Por otra parte la iglesia, representada por el comité permanente de la Conferencia Episcopal chilena, pidió a Pinochet que el plebiscito fuera postergado o suspendido hasta que las condiciones fueran más favorables. Aunque esta actitud fue ampliamente interpretada como oposición a la “consulta”, fundamentaron que desean colaborar en la unidad de todos los chilenos, calificando de positiva la consulta y de acuerdo con un ideario cristiano. Solicitaron la suspensión “por el prestigio de la Junta de Gobierno y de las FF.AA.”. De esta manera quisieron mostrar que sus preocupaciones de ninguna manera podrían ser consideradas como un desafío al régimen militar.

El contralor general Héctor Humeres que ha ocupado este cargo durante once años ―bajo las presidencias de Frei, Allende y Pinochet― rechazó el decreto del plebiscito aduciendo que este carecía de suficiente fundamentación legal. Claro que este rechazo la valió a Humeres su pronta jubilación, asumiendo el cargo el ministro del trabajo, Sergio Fernández, que por supuesto no tenía ninguna objeción al decreto plebiscitario.

La DC se pronunció contra el referéndum porque no es “claro, legítimo, ni representa la voluntad soberana del pueblo”. Frei declaró que la consulta no es clara porque se exige del electorado que responda a dos preguntas: si se respalda al presidente y si se reafirma la legitimidad del gobierno. Agregó que: “podría haber personas que contestaran afirmativamente a lo primero y negativamente a lo segundo.” Y además: “No se puede confundir la patria con un gobierno y mucho menos con una persona.” Así quiso sugerir que una mera reformulación de la pregunta habría legitimado al plebiscito.

En términos globales Frei recalcó, igual que los obispos, que no pensaba enfrentarse con la junta en sí. Más bien, probamente el paso de la DC a una oposición activa con motivo del plebiscito debe considerarse como parte integral de la oposición a la maniobra de Pinochet por parte de un sector de la junta militar. Y seguramente no fue ajena a las ocasionales notas de desagrado procedentes del Departamento de Estado. La imagen de una coalición en gestación que pasa desde los fascistas y el general Leigh hasta la DC no debe sorprender. Tanto Patria y Libertad como los Demócratas Cristianos han sido en el pasado los destinatarios de fabulosas sumas del gobierno estadounidense, y Frei (con otros dirigentes democristianos) lanzó su carrera política en la falange fascistoide. Durante el gobierno de Allende los lazos entre la DC y los gremios fortalecieron el terreno de encuentro entre estos entusiastas de la “Alianza para el Progreso”, la CIA y los fascistas

La izquierda y el plebiscito de Pinochet

Asimismo los partidos de la UP y el MIR se pronunciaron a varios niveles contra el plebiscito. Según las informaciones de prensa, el Partido Comunista, el MIR y el Partido Radical se pronunciaron por el voto de “no”, mientras el Partido Socialista llamó a un boicot del plebiscito. Una declaración conjunta de la UP (firmada por el PC, los radicales, MAPU ―Movimiento de Acción Popular Unitaria, una escisión “marxista-leninista” de la DC, la Izquierda Cristiana― un posterior escisión demócrata cristiana de la DC e independientes) denunció la votación como “una simple mascarada del más puro modelo franquista-hitleriano”. Sin embargo la UP, como Freí, hizo claro que su orientación fue dirigida hacia la oposición contra la maniobra de Pinochet dentro de la junta. “Las Fuerzas Armadas”, recalcó, “no pueden seguir avalando esta política demencial, que nos ha conducido a esta peligrosa situación… escogiendo la vía de un desafío provocativo a la comunidad internacional” (citado según Mundo Obrero[Madrid], 5-11 de enero de 1978).

El Partido Comunista llamó a la abstención o al voto de “no”. En una entrevista el secretario general del, PCCh, Luis Corvalán, declaró que:

“La mayoría de nuestros compatriotas se orienta a no concurrir a votar o a votar por el ‘no’. El pueblo sabrá descubrir y aplicar otras formas de protesta, las que estime convenientes y posibles.”

Excélsior [Madrid], 4 de enero

Pero la preocupación mayor de los estalinistas es de perseguir a Frei y otros sectores importantes de la burguesía para poder concretizar un “compromiso histórico” a la chilena. Pinochet no puede, dice Corvalán, detener “el proceso de entendimiento de las fuerzas democráticas antifascistas y no-fascistas” (subrayado nuestro). O sea ¡aboga por la formación de una alianza con las mismas fuerzas motrices del golpe de 1973!

No cabe duda que el plebiscito ha sido convocado unilateralmente por Pinochet y representa la última carta que éste juega para tratar de reafirmarse y superar la situación crítica en la que se encuentra. La “consulta” no es más que un monstruoso fraude y la clase obrera y demás sectores explotados de Chile no pueden menos que repudiar resueltamente esta mascarada, cuyo resultado, por supuesto, ya era conocido de antemano. Donde es posible, los revolucionarios buscarían expresar este rechazo al boicotear el plebiscito fraudulento. Pero el gobierno anunció que quien no participe en el referéndum anulará su carnet de identidad. Una consigna global de boicot podría entonces acarrear graves consecuencias de aislamiento de los centros de trabajo e incluso legalmente podría significar la prisión y/o deportación. Donde no es posible boicotear el plebiscito los trabajadores deber expresar su rechazo a la farsa pinochetista votando en blanco. En ningún caso podemos votar “no” porque esto significaría avalar el procedimiento electoral.

Es fundamentalmente la situación política y organizativa de la clase obrera que no permite, por ahora, avanzar más resueltamente en un cuadro de movilizaciones contra la junta. El proletariado se encuentra políticamente desorganizado como producto de la política traidora de las direcciones obreras cuyo objetivo es la alianza con la burguesía.

Frei y su cohorte estalinista

La política de los partidos reformistas de masas, el PC y PS, dentro de la concepción menchevique-estalinista de la revolución por etapas, se plantea como objetivo del período la lucha “antifascista”. Para cumplir con este objetivo su proyecto es la ampliación de la colaboración de clases a través de la alianza con la DC. Así frente al plebiscito han corcado a pies juntillas las mismas consignas demócrata-cristianas. Los traidores a la clase obrera miran a hurtadillas detrás de las sotanas de los curas el desarrollo de la lucha de clases y del movimiento obrero. De la misma manera han corrido tras las movilizaciones contra el plebiscito, que organizó la juventud falangista demócrata-cristiana de Frei.

El 12 de octubre la DC emitió su primera declaración de oposición formal a Pinochet, titulada “Patria para Todos”. Esta declaración reivindica un traspaso gradual de las riendas del poder a un gobierno civil, empezando con el levantamiento del estado de sitio. Rechaza toda “conspiración ilegal” contra el régimen y dice que una asamblea constitucional debería ser convocada dentro de un año para reformular la constitución de 1925. Luego se elegiría un nuevo gobierno para reemplazar la junta. Con otras palabras, ¡se reconocería como legítima la dictadura militar, que continuaría gobernando durante todo este período! La “asamblea constitucional” propuesta por Frei no tendrá más poder que las impotentes Dumas bajo el zar; cuando el régimen autocrático deja de tolerarla, esta asamblea hueca tendría que someterse o verse disuelta.

En respuesta a la declaración democristiana “Patria para Todos” Corvalán, en declaraciones realizadas en París en el mes de diciembre, planteó: “Queremos llegar con todos los demócratas, a un acuerdo para hoy día y para mañana, es decir, no solamente para derrotar al fascismo, sino también para reforjar el país y construir una democracia renovada.” Propuso en seguida: “un gobierno democrático, ampliamente representativo, sobre la base de un entendimiento, de una alianza entre la UP y la DC, y con la participación de los sectores democráticos de las FF.AA.” Esta es la misma línea traidora que estos señores ordenaron durante el gobierno de Allende, salvo que en ese entonces fueron los oficiales “constitucionalistas” quienes recibieron los elogios de los estalinistas; de entre ellos uno de los más destacados fue… un tal Augusto Pinochet.

La UP busca una alianza con Frei y el conjunto de la DC, pero el MIR que quiere seguir jugando al “izquierdismo” es también una pieza vital de este coro antiobrero. En el boletín del MIR de septiembre de 1977 vemos: “El secretariado interior del MIR… hace un nuevo llamado a los partidos de la UP y sectores democráticos del PDC, a realizar los mayores esfuerzos para que 1977 sea el año de la consolidación definitiva de la unidad del pueblo y de la resistencia.” Los castristas chilenos creen poder engañar al proletariado al mencionar a “los sectores democráticos” de la DC. ¿Es que acaso estos “demócratas” no participaron en la preparación del golpe militar, directa o indirectamente? Si no conociéramos la política de estos apéndices del estalinismo, podríamos creer en su ingenuidad pero ¡No! Compañeros del MIR, no se combate a la burguesía con un programa burgués; y este programa mínimo es el que Uds. han firmado en agosto de 1977 con la UP. Plegándose a la línea de la DC con su reivindicación de una Duma embellecida, esta plataforma conjunta hace caso omiso de la consigna democrático-revolucionaria de una asamblea constituyente.

El proletariado no puede dejarse arrastrar por el frentepopulismo. Las libertades democráticas no serán otorgadas graciosamente por la burguesía; deben ser arrancadas por la movilización conjunta de todos los explotados. Exigimos la libertad de todos los presos de la represión derechista y la legalización de las organizaciones obreras, políticas y sindicales, asimismo la libertad de volver a Chile, sin que pese ninguna acusación en su contra, para todos aquellos que han debido exilarse por la represión de la junta. Contra las adaptaciones reformistas al programa burgués, como trotskistas levantamos la consigna de una asamblea constituyente que tenga plenos poderes, elegida por sufragio universal igual, directo y secreto. Una verdadera asamblea constituyente por su naturaleza misma sólo puede ser convocada bajo condiciones de plenas libertades democráticas, que permitan la participación de todos los partidos de la clase obrera. Así requiere como prerrequisito el derrocamiento revolucionario de la junta, algo que la DC y los reformistas, a pesar de sus largas listas de consignas democráticas, olvidan mencionar.

No sólo de consignas democráticas…

El proletariado no desdeña a otros sectores sociales que quieran luchar a su lado. Pero levantamos las consignas democrático-revolucionarias en el marco de un programa de reivindicaciones transitorias que contemple las aspiraciones del campesinado y otras capas explotadas de la pequeña burguesía y que conduce a los objetivos históricos del proletariado: la destrucción del estado burgués por la toma del poder por los obreros y la instauración de la dictadura del proletariado.

Luchamos por el poder de los soviets, los consejos de obreros y campesinos. En Chile se proyectó embrionariamente este tipo de organización de clase en los Cordones Industriales que surgieron después de noviembre de 1972. Pero los cordones surgieron con el alza de la lucha obrera (y a pesar de las direcciones traidoras). La situación hoy día en Chile es muy distinta a los inicios del 73; vivimos los estragos de un régimen contrarrevolucionario. Donde están abolidas aún las más mínimas libertades democráticas. Bajo una de las más crueles dictaduras reaccionarias que la historia, haya conocido. La reorganización política de la clase obrera debe realizarse contra la burguesía enquistada en sus burocracias dirigentes.

Una prueba dramática de la imposibilidad de limitar la lucha contra la junta a las consignas democráticas fue proporcionada por la huelga de 12 días de los mineros de El Teniente en noviembre pasado. Esta huelga, que involucraba centenares de obreros, se desarrolló contra los esfuerzos de los dirigentes “sindicales” títeres impuestos por la junta militar. Al mismo tiempo que autorizó el pago de los bonos de productividad a los trabajadores, Pinochet exiló al lejano norte del país a varios de los dirigentes demócratas-cristianos de los sindicatos mineros. Hoy los reformistas y centristas elogian a la última huelga de El Teniente como símbolo de “la resistencia”. Sin embargo, los estalinistas y socialdemócratas no proponen consignas de lucha obrera, como por ejemplo una escala móvil de los salarios y horas de trabajo para protegerse contra la inflación y abrir empleos para los desocupados.

Cuando los obreros de El Teniente se declararon en huelga bajo el régimen de la UP (abril-mayo de 1973) en defensa de su escala móvil de salarios, los trotskistas de la tendencia espartaquista internacional (TEI) hemos sido una de las pocas organizaciones obreras que defendimos la justa lucha de los mineros para proteger esta conquista sindical, ganada de los antiguos patronos norteamericanos mediante duras luchas contra los proyectos anti-obreros de austeridad e intensificación del ritmo de trabajo impuestos por el frente popular (véase “Defendamos la huelga de los mineros”, Cuadernos Marxistas No. 3). Una dirección revolucionaria de los sindicatos habría extendido la huelga, exigiendo un gobierno obrero y la expropiación de todas las industrias. De esta manera habría frustrado rápidamente los intentos demagógicos de la derecha de utilizar la huelga para sus propios fines. Pero Allende condenó a los huelguistas, calificándolos de “privilegiados” mientras los estalinistas los calumniaron como “fascistas” y llamaron a sus militantes a romper la huelga. De manera que hoy día sólo los trotskistas estamos autorizados a aconsejarles a los mineros de El Teniente de no poner ninguna confianza en sus falsos dirigentes democristianos; los partidos de la UP y el MIR serían desdeñados con toda justificación como rompehuelgas.

Para los leninistas las consignas democráticas constituyen una parte subordinada del programa de la clase obrera. Como señaló Trotsky, refiriéndose al papel de las consignas democráticas en los países bajo el mando fascista: “Pero las fórmulas de la democracia (libertad de asociación, de prensa, etc.), no son para nosotros más que consignas pasajeras o episódicas en el movimiento independiente del proletariado, y no un nudo corredizo democrático pasado al cuello del proletariado por los agentes de la burguesía (¡España!)” (Programa de Transición). En los países de tradiciones democrático-burguesas y con una estructura social avanzada, la consigna de una asamblea constituyente no es un elemento fundamental del programa proletario. Así que después de la toma del poder por la junta militar la TEI no lanzó esta consigna. La levantamos hoy día como táctica, contra los esfuerzos de la burguesía, ayudada por sus agentes en el movimiento obrero, de pactar con sectores de las FF.AA. Intentamos de esta manera desenmascarar el miedo de la burguesía a la democracia revolucionaria.

Exigiendo una asamblea constituyente, los marxistas debemos advertir al mismo tiempo que la burguesía teme a esta consigna democrático-revolucionaria, buscando preferencialmente un arreglo con los generales “democráticos”; y que, aún si fuese convocada, los explotadores buscarían frustrar siquiera las medidas democráticas más fundamentales hasta que se rompa finalmente su dictadura de clase (véase, por ejemplo, la suerte de la reforma agraria portuguesa). Por lo tanto instamos al proletariado a luchar por la total extirpación del latifundio mediante una revolución agraria, expropiando a los fundos y otorgando la tierra a los campesinos pobres y trabajadores agrícolas; por la expropiación de la industria y la banca; por el control obrero de la producción; por un gobierno obrero soviético.

¡Construyamos un partido trotskista revolucionario chileno!

El proletariado no puede, espontáneamente, lograr estos objetivos; es preciso romper primero con las burocracias colaboracionistas de clases que son las responsables de la derrota, con aquellos que han entregado a la clase obrera atada de pies y manos a la burguesía. En la lucha por construir una verdadera dirección trotskista un obstáculo principal son los centristas, aquellos “críticos” a medias del frentepopulismo que constituyeron el furgón de cola de los traidores reformistas. Así que mientras el MIR se arrastró ante la UP, la Liga Comunista de Chile (LCCh ― un grupo sacado del aire por el Secretariado Unificado de Ernest Mandel) siguió tras el MIR. La LCCh se rehúsa calificar a la UP como frente popular (llamándola reformista), y sigue la línea de sus compañeros franceses, la LCR, que llamará a votar por candidatos de la Unión de la Izquierda en las elecciones de marzo. Los episódicos excesos aventureristas de los mandelistas chilenos, como el llamado en el período posterior al golpe por una “huelga general revolucionaria”, sólo sirve de pantalla para encubrir su claudicación política.

Por otra parte, los seudotrotskistas del difunto POMR, ahora “Comité de Enlace de los Militantes Trotskistas Chilenos” (del Comité por la Reconstrucción de la IV Internacional de Pierre Lambert) calificaron de frente popular a la UP… al mismo tiempo declarando que el voto por Allende en 1970 fue “un voto de clase contra clase”. En cierto sentido tienen razón: ¡fue un voto por la burguesía y contra la clase obrera! Los lambertistas chilenos actualmente centran su programa sobre las consignas democráticas en vez de enraizarlas en un programa de transición por el poder obrero. Y eligiendo los consejos de sus padrinos franceses, quieren hacer pasar la reorganización política del movimiento obrero chileno por el PS ― así conciben la “construcción del partido en la clase”. Son los defensores del partido/pantano que durante los últimos 40 años ha sido una de las principales fuerzas de la colaboración de clases en Chile.

Los leninistas chilenos luchamos por la aplicación de la teoría de Trotsky de la revolución permanente: sólo el proletariado dirigido por una dirección revolucionaria es capaz de cumplir los postulados democráticos y alcanzar el socialismo en un proceso ininterrumpido de lucha contra el capitalismo. La vanguardia revolucionaria de la clase obrera será construida arrancando al proletariado de entre las manos de las direcciones reformistas, no capitulando ante ellas como hacen los centristas. La consigna: “Romper con la burguesía” ―levantada en forma contradictoria por los cordones industriales en las últimas semanas antes del golpe― es un llamado a desprender la clase obrera de las garras criminales de los social-traidores para abrazar el programa de la revolución permanente.

¡No a la canallada electoral de Pinochet!

¡Por una asamblea constituyente, aplastemos la Junta por la revolución obrera!

¡Construyamos un partido trotskista revolucionario chileno!

¡Hacia el renacimiento de la Cuarta Internacional!

Enero de 1978

Toward Rebirth of the Fourth International

Toward Rebirth of the Fourth International

[DRAFT RESOLUTION ON THE WORLD MOVEMENT submitted to the 1963 SWP Convention by the Revolutionary Tendency.  This version copied from http://www.icl-fi.org/english/esp/58/rebirth.html]

INTRODUCTION

1. For the past fifteen years the movement founded by Leon Trotsky has been rent by a profound theoretical, political, and organizational crisis. The surface manifestation of this crisis has been the disappearance of the Fourth International as a meaningful structure. The movement has consequently been reduced to a large number of grouplets, nominally arrayed into three tendencies: the “International Committee,” “International Secretariat (Pablo),” and “International Secretariat (Posadas).” Superficial politicians hope to conjure the crisis away through an organizational formula—”unity” of all those grouplets willing to unite around a common-denominator program. This proposal obscures, and indeed aggravates, the fundamental political and theoretical causes of the crisis.

2. The emergence of Pabloite revisionism pointed to the underlying root of the crisis of our movement: abandonment of a working-class revolutionary perspective. Under the influence of the relative stabilization of capitalism in the industrial states of the West and of the partial success of petit-bourgeois movements in overthrowing imperialist rule in some of the backward countries, the revisionist tendency within the Trotskyist movement developed an orientation away from the proletariat and toward the petit-bourgeois leaderships. The conversion of Trotskyism into a left satellite of the existing labor and colonial-revolutionary leaderships, combined with a classically centrist verbal orthodoxy, was typified by Pablo—but by no means was confined to him or his organizational faction. On the contrary, the Cuban and Algerian revolutions have constituted acid tests proving that the centrist tendency is also prevalent among certain groups which originally opposed the Pablo faction.

3. There is an obvious and forceful logic in the proposals for early reunification of the centrist groups within the Trotskyist movement. But “reunification” on the basis of centrist politics cannot signify reestablishment of the Fourth International. The struggle for the Fourth International is the struggle for a program embodying the working-class revolutionary perspective of Marxism. It is true that the basic doctrines of the movement, as abstractlyformulated, have not been formally denied. But by their abandonment of a revolutionary perspective the revisionists concretely challenge the programmatic bases of our movement.

4. The essence of the debate within the Trotskyist movement is the question of the perspective of the proletariat and its revolutionary vanguard elements toward the existing petit-bourgeois leaderships of the labor movement, the deformed workers states, and the colonial revolution. The heart of the revolutionary perspective of Marxism is in the struggle for the independence of the workers as a class from all non-proletarian forces; the guiding political issue and theoretical criterion is workers’ democracy, of which the supreme expression is workers’ power. This applies to all countries where the proletariat has become capable of carrying on independent politics—only the forms in which the issue is posed vary from country to country. These forms, of course, determine the practical intervention of the Marxists.

EUROPE

5. The recovery and prolonged prosperity of European capitalism has not, as revisionists of all stripes contend, produced a conservatized workers’ movement. In reality, the strength, cohesion, cultural level, and potential combativity of the European proletariat are higher today than ever before. The defeat of DeGaulle by the French miners and the persistent, currently accelerating, electoral swing to the Left in the bourgeois-democratic countries of Europe (most notably Italy, Great Britain, Germany) illustrate this fact.

6. The European workers’ attempts to go beyond partial economic struggles to the socialist transformation of society have been frustrated by the resistance and treason of the labor bureaucracy. The four years of reaction in France following the seizure of power by DeGaulle show the terrible price still exacted for tolerance of these misleaders. The Belgian general strike showed once again that “leftist” bureaucrats like Renard would also do all in their power to block or divert a movement capable of threatening capitalist rule. But the experiences of both France and Belgium prove a spontaneous desire of the workers to engage in struggle against the capitalist class—rising on occasion to an open confrontation with the system.

7. The task of the Trotskyists in the European workers’ movement is the construction within the existing mass organizations (unions and, in certain instances, parties) of an alternative leadership. Marxists must at all times retain and exercise political and programmatic independence within the context of the organizational form involved. Support to tendencies within the labor bureaucracy, to the extent that they defend essential interests of the working class or reflect class-struggle desires within the labor movement, is correct and even obligatory; but this support is always only conditional and critical. When, as is inevitable, the class struggle reaches the stage at which the “leftist” bureaucrats play a reactionary role, the Marxists must oppose them immediately and openly. The behavior of the centrist tendency around the Belgian journal La Gauche in withdrawing during the general strike the correct slogan of a march on Brussels, in order to avoid a break with Renard, is the opposite of a Marxist attitude toward the labor bureaucracy.

8. The objective prospects for development of the Trotskyist movement in Europe are extremely bright. Large numbers of the best young militants in all countries, rejecting the cynical and careerist routinism of the Stalinist and Social-Democratic bureaucrats, are earnestly searching for a socialist perspective. They can be won to a movement capable of convincing them, practically and theoretically, that it offers such a perspective. The structural changes stemming from European integration pose the issues of workers’ democracy and of the independence of the political and economic organs of the working class as the alternative to state control of the labor movement—and impel the working class into increasingly significant class battles. If, under these objective conditions, the West European Trotskyists fail to grow at a rapid rate it will be because they themselves have adopted the revisionist stance of a satellite of the labor leadership as opposed to a perspective of struggle around the program of workers’ democracy.

SOVIET BLOC

9. Since the Second World War, the countries of Eastern Europe have been developing into modern industrial states. As the proletariat of the deformed workers’ states increases in numbers and raises its living standards and cultural level, so grows the irrepressible conflict between the working class and the totalitarian Stalinist bureaucracy. Despite the defeat of the Hungarian workers’ revolution, the Soviet-bloc proletariat has won significant reforms, substantially widening its latitude of thought and action. These reforms, however, do not signify a “process of reform” or “destalinization process”: they were yielded only grudgingly by the unreformable bureaucracy, are under perpetual attack by the faction of “Stalin’s heirs,” and remain in jeopardy as long as Stalinist bureaucratic rule prevails. These concessions are historically significant only to the extent that they help the proletariat to prepare for the overthrow of the bureaucracy. Real destalinization can be accomplished only by the political revolution.

10. A new revolutionary leadership is emerging among the proletarian youth of the Soviet bloc. Inspired by twin sources—the inextinguishable Leninist tradition and the direct and tangible needs of their class—the new generation is formulating and implementing in struggle the program of workers’ democracy. Notable in this regard is the point made recently by a long-time participant in Soviet student life. Regarding the fundamental character to much of the widespread opposition among Russian youth, it was stated, “Because he is a Marxist-Leninist, the Soviet student is much more radically dissatisfied than if he were an Anglo-Saxon pragmatist” (David Burg to The New York Times). The Trotskyists, lineal continuers of the earlier stage, have an indispensable contribution to make to this struggle: the concept of the international party and of a transitional program required to carry through the political revolution. Assistance to the development of a revolutionary leadership in the Soviet bloc through personal and ideological contact is a primary practical activity for any international leadership worthy of the name.

COLONIAL REVOLUTION

11. The programmatic significance of workers’ democracy is greatest in the backward, formerly colonial, areas of the world: it is precisely in this sector that the program of workers’ democracy provides the clearest possible line of demarcation between revolutionary and revisionist tendencies. In all of these countries the struggle for bourgeois democratic rights (freedom of speech, right to organize and strike, free elections) is of great importance to the working class because it lays the basis for the advanced struggle for proletarian democracy and workers’ power (workers’ control of production, state power based on workers’ and peasants’ councils).

12. The theory of the Permanent Revolution, which is basic to our movement, declares that in the modern world the bourgeois-democratic revolution cannot be completed except through the victory and extension of the proletarian revolution—the consummation of workers’ democracy. The experience of all the colonial countries has vindicated this theory and laid bare the manifest inner contradictions which continually unsettle the present state of the colonial revolution against imperialism. Precisely in those states where the bourgeois aims of national independence and land reform have been most fully achieved, the democratic political rights of the workers and peasants have not been realized, whatever the social gains. This is particularly true of those countries where the colonial revolution led to the establishment of deformed workers’ states: China, North Vietnam…and Cuba. The balance, to date, has been a thwarted success, either essentially empty, as in the neo-colonies of the African model, or profoundly deformed and limited, as in the Chinese example. This present outcome is a consequence of the predominance of specific class forces within the colonial upheavals, and of the class-related forms employed in the struggles. These forms imposed upon the struggle have been, for all their variety, exclusively “from above,” i.e., parliamentary ranging through the bureaucratic-military. And the class forces involved have been, of course, bourgeois or petit-bourgeois. A class counterposition is developed out of the complex of antagonisms resulting from failure to fulfill the bourgeois-democratic revolution. The petit-bourgeois leaderships with their bureaucratic forms and empiricist methods are ranged against participation by the workers as a class in the struggle. The involvement of the working class is necessarily centered on winning workers’ democracy and requires the leadership of the revolutionary proletarian vanguard with its programmatic consciousness of historic mission. As the working class gains ascendancy in the struggle and takes in tow the more oppressed strata of the petit-bourgeoisie, the Permanent Revolution will be driven forward.

13. The Cuban Revolution has exposed the vast inroads of revisionism upon our movement. On the pretext of defense of the Cuban Revolution, in itself an obligation for our movement, full unconditional and uncritical support has been given to the Castro government and leadership, despite its petit-bourgeois nature and bureaucratic behavior. Yet the record of the regime’s opposition to the democratic rights of the Cuban workers and peasants is clear: bureaucratic ouster of the democratically-elected leaders of the labor movement and their replacement by Stalinist hacks; suppression of the Trotskyist press; proclamation of the single-party system; and much else. This record stands side by side with enormous initial social and economic accomplishments of the Cuban Revolution. Thus Trotskyists are at once the most militant and unconditional defenders against imperialism of both the Cuban Revolution and of the deformed workers’ state which has issued therefrom. But Trotskyists cannot give confidence and political support, however critical, to a governing regime hostile to the most elementary principles and practices of workers’ democracy, even if our tactical approach is not as toward a hardened bureaucratic caste.

14. What is true of the revisionists’ approach toward the Castro regime is even more apparent in regard to the Ben Bella regime now governing Algeria on the program of a “socialist” revolution in cooperation with French imperialism. The anti-working-class nature of this petit-bourgeois group has been made clear to all but the willfully blind by its forcible seizure of control over the labor movement and its suppression of all opposition parties. Even widespread nationalization and development of management committees seen in the context of the political expropriation of the working class and the economic orientation towards collaboration with France cannot give Algeria the character of a workers’ state, but leaves it, on the contrary, a backward capitalist society with a high degree of statification. As revolutionaries our intervention in both revolutions, as in every existing state, must be in accordance with the position of Trotsky: “We are not a government party; we are the party of irreconcilable opposition” (In Defense of Marxism). This can cease to apply only in relation to a government genuinely based on workers’ democracy.

15. Experience since the Second World War has demonstrated that peasant-based guerilla warfare under petit-bourgeois leadership can in itself lead to nothing more than an anti-working-class bureaucratic regime. The creation of such regimes has come about under the conditions of decay of imperialism, the demoralization and disorientation caused by Stalinist betrayals, and the absence of revolutionary Marxist leadership of the working class. Colonial revolution can have an unequivocally progressive significance only under such leadership of the revolutionary proletariat. For Trotskyists to incorporate into their strategy revisionism on the proletarian leadership in the revolution is a profound negation of Marxism-Leninism no matter what pious wish may be concurrently expressed for “building revolutionary Marxist parties in colonial countries.” Marxists must resolutely oppose any adventurist acceptance of the peasant-guerilla road to socialism—historically akin to the Social Revolutionary program on tactics that Lenin fought. This alternative would be a suicidal course for the socialist goals of the movement, and perhaps physically for the adventurers.

16. In all backward countries where the proletariat exists as a class, the fundamental principle of Trotskyism is the independence of the working class, its unions, and its parties, in intransigent opposition to imperialism, to any national liberal bourgeoisie, and to petit-bourgeois governments and parties of all sorts, including those professing “socialism” and even “Marxism-Leninism.” Only in this way can the ground be laid for working-class hegemony in the revolutionary alliance with the oppressed petit-bourgeois strata, particularly the peasantry. Similarly, for a working-class party in an advanced country to violate class solidarity with the workers of a backward country by politically endorsing a petit-bourgeois colonial-revolutionary government is a sure sign of centrist opportunism, just as refusal to defend a colonial revolution because of the non-proletarian character of its leadership is a sign of sectarianism or worse.

17. The inter-relationship between bourgeois-democratic and proletarian-democratic struggles in the colonial revolution remains as formulated in the founding program of the Fourth International, a formulation which today retains complete validity:

“It is impossible merely to reject the democratic program; it is imperative that in the struggle the masses outgrow it. The slogan for a National (or Constituent) Assembly preserves its full force for such countries as China or India. This slogan must be indissolubly tied up with the problem of national liberation and agrarian reform. As a primary step, the workers must be armed with this democratic program. Only they will be able to summon and unite the farmers. On the basis of the revolutionary democratic program, it is necessary to oppose the workers to the ‘national’ bourgeoisie. Then, at a certain stage in the mobilization of the masses under the slogans of revolutionary democracy, soviets can and should arise. Their historical role in each given period, particularly their relation to the National Assembly, will be determined by the political level of the proletariat, the bond between them and the peasantry, and the character of the proletarian party policies. Sooner or later, the soviets should overthrow bourgeois democracy. Only they are capable of bringing the democratic revolution to a conclusion and likewise opening an era of socialist revolution.

“The relative weight of the individual democratic and transitional demands in the proletariat’s struggle, their mutual ties and their order of presentation, is determined by the peculiarities and specific conditions of each backward country and to a considerable extent by the degree of its backwardness. Nevertheless, the general trend of revolutionary development in all backward countries can be determined by the formula of the permanent revolution in the sense definitely imparted to it by the three revolutions in Russia (1905, February 1917, October 1917).” (The Death Agony of Capitalism and the Tasks of the Fourth International.)

CONCLUSIONS:

18. The task of the international revolutionary-Marxist movement today is to re-establish its own real existence. To speak of the “conquest of the masses” as a general guideline internationally is a qualitative overstatement. The tasks before most Trotskyist sections and groups today flow from the need for political clarification in the struggle against revisionism, in the context of a level of work of a generally propagandistic and preparatory nature. An indispensable part of our preparation is the development and strengthening of roots within the broader working-class movement without which the Trotskyists would be condemned to sterile isolation or to political degeneration in the periods of rising class struggle and in either case unable to go forward in our historic task of leading the working class to power. Above all what can and must be done is the building of a world party firmly based on strong national sections, the assembling of a cadre of working-class militants won and tested in the process of the class struggle and on the firm basis of the revolutionary perspective of the Fourth International, the program to realize workers’ democracy—culminating in workers’ power. A fundamental statement expanding on this perspective, its opposition to Pabloism, and its relevance in the United States is contained in the Minority’s “In Defense of a Revolutionary Perspective” (in SWP Discussion Bulletin Vol. 23, No. 4, July 1962).

19. “Reunification” of the Trotskyist movement on the centrist basis of Pabloism in any of its variants would be a step away from, not toward, the genuine rebirth of the Fourth International. If, however, the majority of the presently existing Trotskyist groups insists on going through with such “reunification,” the revolutionary tendency of the world movement should not turn its back on these cadres. On the contrary: it would be vitally necessary to go through this experience with them. The revolutionary tendency would enter a “reunified” movement as a minority faction, with a perspective of winning a majority to the program of workers’ democracy. The Fourth International will not be reborn through adaptation to Pabloite revisionism: only by political and theoretical struggle against all forms of centrism can the world party of socialist revolution finally be established.

June 14, 1963

The Necessity of Revolutionary Organization

Introducing 1917

The Necessity of Revolutionary Organization

[First published in 1917 #1, Winter1986. This version copied from http://www.bolshevik.org/1917/no1/no01intr.html]

‘‘The whole history of the struggle between Bolsheviks and Mensheviks is dotted with this little word ‘process.’ Lenin always formulated tasks and proposed corresponding methods. The Mensheviks agreed with the same ‘aims’ by and large, but left their realization to the historic process. There is nothing new under the sun.’’

—Leon Trotsky, ‘‘To Comrade Sneevliet on the IAG Conference,’’ Writings (1934-35)

This is the first issue of 1917, the political journal of the Bolshevik Tendency. We take our name from Year One of the proletarian revolution, the year the Russian working class smashed the chain of world imperialism at its weakest link. The October Revolution was not primarily a Russian event in its significance—it was the beginning of the international struggle for power by the proletariat.

The bright promise of the early years of the revolution has been dimmed by six decades of Stalinist treachery and betrayal. Today the Kremlin is no longer the headquarters of the proletarian revolution but the domain of a nationalist bureaucratic stratum which is a roadblock to socialism and which must be overthrown through workers political revolution. Nonetheless the lessons of the Russian Revolution retain all their significance for the revolutionary future of the working class and the defense of the social gains of 1917 remains a litmus test for demarcating authentic revolutionaries from the assorted social democrats of the ‘‘Third Camp.’’ We are partisans of 1917. We base ourselves on the program and strategy of the leadership of that revolution, Lenin and Trotsky. We stand on the documents of the first four congresses of the Communist International; on the struggle of the Left Opposition against the Stalinist political counterrevolution; on the founding documents of the Fourth International and the revolutionary traditions of the Socialist Workers Party (SWP) led by James P. Cannon from the 1930s to the 1950s. The SWP leadership abandoned the struggle to build a Trotskyist vanguard in the early 1960s in favor of reliance on the objective process of history (personified, in the first instance, by Fidel Castro). The Revolutionary Tendency, the progenitor of the Spartacist League (SL) was born in the struggle against the liquidationist implications of the ersatz Castroism of the SWP majority. Throughout the 1960s and 1970s the programmatic heritage of Trotskyism was represented by the Spartacist tendency. This tradition we claim as our own.

The founders of the Bolshevik Tendency are, for the most part, veterans of the international Spartacist tendency (iSt) who were purged, along with dozens of other cadres, in the course of that organization’s transformation from a Trotskyist propaganda group to a pseudo-revolutionary obedience cult. Initially organized outside the iSt as an ‘‘External Tendency,’’ we decided that given our formal programmatic similarity it was appropriate to reapply for membership in the Spartacist tendency. We did so with the declared intent of crystallizing an opposition to the organization’s accelerating political degeneration. The SL leadership (which at one point pretended to be interested in our reintegration) responded to our application with a barrage of slander and invective designed to slam the door shut once and for all. We have since succeeded in consolidating an organization which represents the continuity of the Trotskyist tradition which the SL had carried forward from the SWP two decades earlier.

The Spartacist League can no longer be considered, in any sense, a revolutionary organization. An early indication of the SL’s political break with its Trotskyist past was the leadership’s decision to rip up the group’s implantation in the industrial working class. It has been a wild ride since then. From apocalyptic proclamations of an incipient fascist coup in San Francisco in July 1984 to misogynist characterizations of black feminist opponents as ‘‘female doberman pinshcers in heat,’’ the SL is today one of the nuttier (and nastier) centrist outfits on the left. Theirs is a peculiar type of centrism—political banditry—in which the formal political positions of the group are subject to wild fluctuations according to the perceived exigencies of maintaining ‘‘the party’’ (in particular its organizational apparatus and other assets) and/or the whim of the ‘‘founder-leader,’’ Jim Robertson. One of the articles of faith required of all those who take up residence in ‘‘Jimstown’’ is the paranoid delusion that virtually every other tendency on the left is involved in a gigantic web of police-sponsored intrigue aimed at (what else?) the Spartacist League. This schema is referred to in Workers Vanguard as the ‘‘Big Lie Campaign’’ and it is used to ‘‘justify’’ SL exclusions and cop-baiting against its opponents on the left.

Program and Period

The current period in North America is characterized by a general rightward shift across the political spectrum and concomitant shrinking of the organized left. A wide variety of ostensibly ‘‘revolutionary’’ organizations, notably the once formidable Maoist currents, have simply closed up shop and gone out of business. Those which have survived, particularly among the ostensible Trotskyists, have shifted significantly to the right in search of a milieu within which to operate. This is perhaps most evident in the case of the adherents of Ernest Mandel’s ‘‘United Secretariat’’ of the Fourth International (USec). Fifteen years ago young Mandelites were running around Paris and London waving the flag of the Vietnamese National Liberation Front and singing the praises of Ho Chi Minh. No more. In the past few years the USec has embraced every anti-communist mass movement from Ayatollah Khomeini’s ‘‘Islamic Revolution’’ to Lech Walsea’s capitalist-restorationist Solidarnosc. The Mandelites capped their orientation to social democracy with the formal adoption at their 1985 World Congress of ‘‘Socialist Democracy and the Dictatorship of the Proletariat’’ in which these illegitimate pretenders to the mantle of the Fourth International propound the ‘‘democratic socialism’’ of Karl Kautsky and the Second.

Revolutionists must take account of the political and social climate within which they exist. One must necessarily adapt the style of presentation to the existing level of class consciousness and experience of one’s audience. But a revolutionary organization cannot adapt the content of its program without thereby ceasing to be revolutionary. The Marxian program represents the historic interests of the proletariat as a conscious factor in world politics—a ‘‘class for itself.’’ As such it is necessarily counterposed to the existing, false consciousness of the class ‘‘in itself’’ in bourgeois society.

The Problem of Revisionism

1917 will be both partisan and polemical. A blunt knife draws no blood. To struggle for revolutionary Marxism in our time means above all to politically combat those fake-revolutionary formations which are the organizational embodiments of bourgeois ideology in the working class. The history of the Marxist movement is one of a continuing struggle against those currents, which, under the banner of ‘‘continuing,’’ ‘‘deepening’’ or ‘‘extending’’ Marxism, attempt to corrode (or revise) the fundamental tenets of the revolutionary program.

‘‘Revisionism’’ at bottom reflects the pressure of bourgeois society upon those who seek to change it. The common denominator of all such currents is the ‘‘pragmatic’’ resignation to the immutability of the world as it is. The form of the political accommodation proposed varies according to circumstance but in general revisionist tendencies add little that is new—rather they tend to resuscitate schemes and impulses long discredited by the historical experience of the proletariat.

Revisionism in the Marxist movement rarely appears full-blown under its own colors. Initially, at least, it expresses itself in the terminology of Marxism. Rosa Luxemburg commented on this phenomenon in a polemic (‘‘Reform or Revolution’’) written almost ninety years ago:

‘‘To expect an opposition against scientific socialism at its very beginning, to express itself clearly, fully, and to the last consequence on the subject of its real content; to expect it to deny openly and bluntly the theoretic basis of the social democracy [i.e., the Marxist movement]—would amount to underrating the power of scientific socialism. Today he who wants to pass as a socialist and at the same time would declare war on Marxian doctrine…must begin…by seeking in Marx’s own teachings the points of support for an attack on the latter, while he represents this attack as a further development of Marxian doctrine.’’

Careful attention to questions of program and theory and the vigorous defense of the political acquisitions of the past is neither an exercise in Talmudic scholasticism, nor a form of ancestor worship, as is often imagined by the smug and cynical proponents of ‘‘non-sectarianism.’’ What may appear to the novice or dilettante as pointless hairsplitting over minute nuances of a position often represents profound differences in political appetite with enormous implications in the future. Politics is a field in which a difference of one percent will often prove decisive.

The ‘Organizational Question’

From the origins of our tendency we have insisted that the organizational question is a political question of the first order for a revolutionary grouping. A revolutionary tendency need not always be correct—indeed it cannot always be correct—but it must always be correctible. Whether or not it is correctible is a function of the internal regime which prevails. This is not primarily a question of adherence to formulae but of the living reality of the internal life of the organization. James P. Cannon, the founding leader of American Trotskyism once observed that:

‘‘It is perfectly possible for slick leaders to write ten constitutions guaranteeing freedom of criticism in a party and then create an atmosphere of moral terrorization whereby a young or inexperienced comrade doesn’t want to open his mouth for fear he will be made a fool of, or sat on, or accused of some political deviation he doesn’t have in his mind at all.’’

—The Socialist Workers Party in World War II

A vibrant and democratic internal political life in a revolutionary organization is not a desirable option but a vital necessity. It is simultaneously the only mechanism for the correction of errors by the leadership and the only framework within which revolutionary cadres can be created. Groupings like the SL of the late 1970s, in which the leadership is able to appropriate an effective monopoly of political expression internally, in the interests of ‘‘efficiency’’ (i.e., by short-circuiting the necessarily time-consuming and difficult process of settling political disputes through democratic internal struggle) prepare their own inevitable political degeneration.

The membership of a Leninist organization has the right to elect those individuals to positions of leadership in whom it has the most political confidence and to replace them as it sees fit. At the same time a revolutionary organization can only operate on the basis of strict centralization, with the leading bodies having full authority to determine the public political line of the organization as a whole and to direct the work of all subordinate party bodies as well as individual members. Protection of the right to dissent within the party (and particularly of the right of minorities to struggle to replace the leadership) and the political consciousness of the membership itself provide the only guarantees against the degeneration of the vanguard short of the victory of the proletarian revolution.

The Necessity of Revolutionary Organization

The revolutionary vanguard is distinguished above all by the fact that it is the bearer of the historically derived programmatic knowledge necessary to advance the struggle for workers power. This is not something which can be announced or proclaimed, it must be proven by the responses of the organization to the events of the class struggle. Centrists scoff at those who carefully check the historical record in evaluating an organization’s revolutionary credentials. To them this is all so much ‘‘bookkeeping.’’ But the best test of what an organization will do in the future is not what it promises today but rather what it did at critical junctures in the past.

The importance of a revolutionary organization in the workers movement in periods of ebb in the class struggle is primarily to serve as an ideological pole to which to recruit and train the cadres necessary to lead the inevitable struggles to come. A revolutionary vanguard cannot be improvised on the spur of the moment. It will not emerge semi-spontaneously in the ‘‘process’’ of the class struggle. It must be forged in advance in political combat between revolutionary Marxism and the entire panopoly of working-class misleaderships from social democrats to fake-Trotskyists. It is to this struggle that 1917 is dedicated.

‘‘The decisive element in every situation is the force, permanently organized and pre-ordered over a long period, which can be advanced when one judges that the situation is favourable (and it is favourable only to the extent to which such a force exists and is full of fighting ardour); therefore the essential task is that of paying systematic and patient attention to forming and developing this force, rendering it ever more homogeneous, compact, conscious of itself.’’

—Antonio Gramsci, ‘‘The Modern Prince’’

The Private Life of Islam: A Review

The Private Life of Islam: A Review

[First printed in Women & Revolution #10, Winter 1975-76]

Young, Ian.

Private Life of Islam: A Young Doctor’s Harrowing Account of a Season-in an Algerian Maternity Hospital.

New York: Liveright, 1974.

Algerian masses’ successful war of national liberation against French colonialism was for the early New Left a living symbol of the revolutionary potential of the “Third World.” Along with the overturn of capitalism in Cuba, the self-proclaimed construction of “socialism” in Ben Bella’s Algeria focused the vicarious “anti-imperialist” energies of the radicals of the 1960’s, as the Spanish Civil. War had embodied the “anti-fascist” anti-sentiments of an earlier generation.

Unlike the social revolutions which established deformed workers*states in Cuba and later in Indochi­na, the Algerian war for national independence stopped short of any fundamental transformation of the class nature of Algeria. At a tremendous human cost, the mainly peasant Algerian liberation fighters drove the French from their country but did not destroy capitalism, instead replacing the colonial rule of French capital by the domination of a native bourgeoisie which remains tied to imperialism through the world market.

American New Leftists uncritically solidarized with the struggle to build “socialism” in post-revolutionary Algeria. They viewed the Ben Bella regime as unequivo­clly progressive and considered it axiomatic that the defeat of imperialism would open the road to socia emancipation. Rejecting the Leninist view that only a socialist revolution under the leadership of a proletari­an revolutionary party can accomplish the liberation of all the oppressed, the New Leftists envisaged many “vanguard” layers—the colonial masses, American blacks, women, youth—each of whose struggles would automatically advance the aims of the other oppressed strata.

The reality of the grinding oppression of women in post-revolutionary Algeria explodes this myth. Neither the Ben Bella regime nor the less leftist Boumediene government which succeeded it significantly altered the subserviant position of women in Algerian society. “Socialist” Algeria has shown itself completely incapable of completing even elementary democratic tasks, instead finding itself compelled to buttress the Muslim religion and and the authoritarian family structure as essential props of bourgeois rule.

The Private Life of Islam demonstrates the reactionary role of religion and the family in perpetuat­ing the degraded condition of Algerian women. The book is a young British doctor’s account of his training in an Algerian maternity hospital, a place where women are mutilated and killed as often as helped. The hospital is run “like an obstetrics book turned upside down, every do a don’t, every never an always.” The incompetence of the hospital staff is matched only by its sadism.

The staff has no time for the fear, pain or even hygiene of its patients. Beds, sheets and patients are covered with food, blood, excrement. Those infants who survive delivery are wrapped in rags and left unchanged and unwashed until they leave. No medical histories are charted,.and examinations are cursory or skipped entirely. Curettage is routinely performed without anesthetic, although bottles of it sit unused on  shelves. If a slip of the hand punctures the womb, it is removed—with curses for the extra work.

The foreign doctors excuse their criminal neglect of medical standards and ordinary human decency by reference to the attitude ‘of Algerian men themselves toward the patients. In incident after incident, terrified and suffering women are mocked, insulted., struck and most often simply ignored by male relatives and the hospital staff. Ian Youing sums up one young husband’s attitude toward his wife’s confinement as “a trip to the vet.” Still filled with moralistic ideals, Young guiltily waits for one of the patients to reproach him with a look or a word for his complicity, bul the women submissively accept the pain and brutalization as their lot.

The deprecatory attitude toward women emerges clearly in one bit of dialogue between members of the hospital staff:

“‘It’ll be born dead at this rate.’ Fatma says to the girl: ‘if you don’t push harder next time, it’ll be a little girl.’ And to me, Djamila says: ‘A dead baby, or a little girl—it’s kif­kif, it’s the same thing’.”

In another incident, a young girl who has become pregnant after being raped faces a choice between returning to her village, where she will be killed by her father to avenge the family’s dishonor, or going to prison for the “crime” of bearing an illegitimate child. Occasionally a woman informed of her pregnancy timorously asks for an abortion, but most respond with despairing resignation.

Ian Young is indignant and ashamed. Blaming the foreign doctors, he seeks government aid to institute hospital reforms. He goes to see a bureaucrat described as a real “revolutionary.” He initially flatters and conciliates the English doctor but he reveals his true attitude by boasting of how he put a doctor’s wife who is a nurse, back in “her place” by telling her: “Medicine comes before women, Madame. Show some respect ­for your husband.” Young gradually comes to understand that the hospital is the product of the society which, supports it: “These men were the unhappy executors, working in blood, excrement and death, of the most respected attitudes in Algeria.”

“Muslim Socialism”

“We prefer the woman who gives birth to a pilot, to the woman who becomes a pilot herself.”

–Mouloud Kassim

Member of the Revolutionary Council

Algerian rhetoric concerning women’s liberation and socialism notwithstanding, the government upholds Islam. Some Muslim reformists, citing the Koran’s injunctions against burying female infants in the sand and noting the vagueness of the passages used to justify the enforced seclusion of women and the wearing of the veil, claim that true Islam provides equality between the sexes. But the Koran makes itself abundantly clear on its attitude toward women:

“Men are superior to women on account of the qualities which God hath fitted the one above the other and on account of the outlay they make from their substance for them. Virtuous women are obedient, careful during the husband’s absence, because. God hath of them been careful. But chide those for whose refractoriness ye have cause to fear; remove them into beds apart, and scourge them: but if they are obedient to you, then seek not occasion against them: verily, God is high, Great!”

The “equality” of Islam is the equality of apartheid. That is how Algerian women lived before and during the French occupation and that is how they continue to live today—covered up, locked up, uneducated and sold in marriage to strangers, often as children. Seclusion may be vague in the letter of Koranic law, but, it is wholly in keeping with its spirit. The religious teachings of Islam, like the teachings of Judaism and Christianity, depict women as excessively sensual and morally inferior, needing the guidance of men to protect them from their own weaknesses.

The French made use of the Islamic degradation of women to justify denying democratic rights, particularly suffrage, to Muslims. The Algerian reacted with increased Muslim orthodoxy, praising their women as the perpetuators of their true culture against French influence. Due to their seclusion, Algerian women were indeed less affected by French influence than were Algerian men, although the French made a special effort to reach them. During the struggle for national liberation, the French initiated public pro-French unveilings of Muslim women and organized a Feminine Solidarity Movement which offe­red them medical care, legal aid, gifts and education, in an attempt to draw them out of their isolation and into the service of French imperialism.

The FLN (National Liberation Front) responded with the slogan “For a free Algeria, not a free French woman!” Rather than raising a genuinely socialist program for women, thus releasing them from the bondage of Islam as well as from French imperialism, the Algerian nationalists took the veil as their symbol! They placed the oppression of women on the pedestal of revolution.

The popular film “Battle of Algiers” dramatizes the heroic role of women in the struggle, but it was expediency not ideology which integrated the FLN, and this equality of the barricades was short-lived.,

On the eve of independence the Algerian masses had before them the possibility of sweeping away their own feudal elite along with French domination and of advancing their struggle past the attainment of bourgeois democracy and on to the construction of a socialist society. The petty-bourgeois leadership of the FLN, however, did everything in its power to avert such an outcome and ensure the future of Algerian capitalism  At Evian the FLN pledged economic cooperation with French imperialism  in exchange for technical and financial aid, a pledge which made the completion of even democratic tasks impossible. Respect for French landholdings meant that only deserted land could be distributed. The promised agrarian revolution necessary to feed the cities’. war-swollen population was put off year after year while French industrialists continued to suck oil out of the Sahara.

For women the mass unemployment and food shortage which followed the war meant starvation and mass prostitution. Even child prostitution was common.

The constitution proclaimed Islam the national religion and the family the basic unit of Algerian society. Men, since they were automatically considered the heads of households, were given preference in employment. Polygamy was only moderately restricted. Forced marriage was forbidden by law, but for most women, with no possibility of employment, the only practical alternative to marriage was suicide.

The Algerian revolution did achieve national liberation from the yoke of French imperialism, but it did not free the urban and peasant masses from poverty and exploitation, nor from the savage social oppression which is rooted in the fabric of capitalist class rule. In the era of imperialist decay, there is no room for independent capitalist development of the underdeveloped countries; the weak “national bourgeoisie” cannot break from even the most reactionary and feudalist elements of its class and is consequently propelled into the arms of foreign imperialism. Far from building “socialism,” countries such as Algeria cannot even address the democratic tasks formerly associated with bourgeois revolutions. It remains for the revolutionary proletarian party, which must also be a “tribune of the people,” to lift the veil of women’s oppression in Algeria.

Algerian Coup- A Crushing Blow to Revisionists Theory

Algerian Coup-

A Crushing Blow to Revisionists Theory

[First printed in Newsletter, 3 July 1965. Reprinted in Spartacist #5, Nov.-Dec. 1965]

[CLIFF SLAUGHTER examines reactions to the coup in “The Militant,” or­gan of the Socialist Workers Party, and “World Outlook,” of the ‘United Secretariat’ of revisionists in Paris.]

The. recent military coup d’etat in Algiers contains most important les­sons for Marxists. Colonel Boumed­ienne’s army, which deposed President Ben Bella, is the instrument of “order” on behalf of the native capitalist class in Algeria.

A national-revolutionary struggle, in­volving years of large-scale conflict, was necessary before these native capi­talists could take hold of state power. As in all national revolutions, the bourgeoisie had a double problem: to establish their own power by shaking off the foreign imperialist domination; and to push back the forces of the workers and peasants whom they had to mobilize for the first aim.

So great is their fear of the popular forces of the workers and peasants, and so impossible their development as an “independent” capitalism in the modern world of monopoly capitalism, that these bourgeois-nationalist gov­ernments do not even carry out the elementary tasks of the national strug­gle for the bourgeois-democratic rev­olution. Land reform, a complete break with imperialist power, and democracy —all of these become the subject of compromise with the imperialists, and repression of the people.

Classical

Marxists in our epoch, organized be­hind the program of Lenin and Trot­sky in the Fourth International, have approached this problem always with the theory of Permanent Revolution. Only the working class, leading the poor peasantry, with its own Marxist party in a struggle for workers’ state power, can complete the bourgeois-democratic revolution, and for this, a political struggle against the national bourgeoisie is necessary.

In Algeria, these problems were pre­sented in almost classical form.

However, a whole group of so-called Trotskyist, the revisionists, Pablo, Germain, Frank and later the leaders of the American Socialist Workers Party, who came to their support in 1963 in the “United Secretariat,” instead of opposing the national bour­geoisie and fighting for an independent proletarian revolutionary party, offer­ed themselves as apologists for the bourgeois-nationalist leaders.

These revisionists encouraged the fatal illusion that colonial liberation movements would transform themselves into socialist revolution without the independent Marxist party, and with­out a struggle against the bourgeois nationalists.

They went further, and concluded that nationalist leaders, such as Ben Bella, would lead the nation to the establishment of a workers’ state.

Pablo, who recently split from Ger­main, Frank and Hansen in Paris, went to the extreme of taking a post in the Ben Bella administration.

For something like a year, these Pabloites, particularly the Paris clique, have expressed shamefaced doubts about their “premature” conclusion that Algeria was a “workers’ state.”

They have written “worried” arti­cles about the masses’ resistance to bureaucracy and the concentration of power in the centralized state and Presidency.

Final Blow

The Boumedienne coup has delivered the final crushing blow to this revision­ist school (see last week’s Newsletter). A. revolutionary situation with a divided ruling class today finds the Al­gerian working class and peasantry leaderless.

Those revisionists who lent the name of “Trotskyism” and “Marxism” to the stifling of independent working-class politics bear a historic responsibility for this situation.

They condemned the International Committee, and its sections, such as the Socialist Labour League, for “sectarianism” when we denounced the arrests of oppositionists like Boudiaf, and when we drew attention to the capitalist character of the Algerian state and of the Evian agreement, to the suppression of independent trade unions and, to the centralized state’s restrictions on workers and peasants.

Above all, we were condemned for an insistence that the workers must have their own party, independent of the National Liberation Front (FLN), independent of the bourgeoisie, and op­posed to the myth of national unity perpetrated by Ben Bella and the bourgeois leaders.

The supporters and sympathizers of this revisionist tendency are now of course in disarray.

The Militant, organ of the Socialist Workers Party, appeared last week­end with just over 100 words on the coup—”the facts are still unclear.”

It would have been better to remain silent, we suggest, than to say in one sentence:

“The military coup that overthrew the Ben Bella regime is obviously a political move of the deepest significance for the Algerian people and the world socialist movement.”

And then to say in the next:

“… it is not realistically possible to determine if General Boumed­ienne’s seizure of power will mean *a general continuation of the ‘pol­icies of the Ben Bella government or a significant shift away from them.”

Fortunately, perhaps, The Militant now goes on to its summer schedule and will not appear again until 12 July.

If we turn to World Outlook, pub­lished by the United Secretariat in Paris, we find a more comprehensive treatment.

“Boumedienne’s seizure of Power” is the main news article, which in­forms us that the Algiers’ coup “has been judged by experts [?] in this field to be one of the most skillful in history. It caught virtually everyone by complete surprise, the most stunned of all being Ben Bella who was hauled out of his bedroom at 2:25 a.m. by the conspirators.” No doubt!

Once the inspired journalism is done with, we get down to the political ver­dict.. Says World Outlook:

“In the absence of a well-organized vanguard party, of unions with an independent leadership, the army stood as the only cohesive power in the country.”

In the guise of a “Marxist” commen­tary, we here have a. blanket drawn over the decisive questions.

What is a “well-organized vanguard party”? There is deliberate confusion here.

World Outlook wants one set of readers (Ben Bella’s entourage, the July 26 movement in Cuba and all sorts of “progressives”) to understand by this phrase the official party of the Algerian state, the National Libera­tion Front. One wing of the Algerian national bourgeoisie and most, perhaps, of the Algerian petty-bourgeois poli­ticians, would prefer control through this party to army control.

At the same time, World Outlook hopes that those who regard themselves as Trotskyists will understand by a “vanguard party,” the revolutionary proletarian party of Marxism.

Above all, the relation between the two things. must not be clarified.

But this clarification is precisely what has been necessary in the past period. In this way, the revisionists complete their betrayal, just as they did in Ceylon.

In the same issue of World Outlook is published a declaration by the “Unit­ed Secretariat of the Fourth Interna­tional” (i.e., Paris revisionists) on 23 June, “Defend the Algerian Revolu­tion.” Here, the position of the revi­sionists is stated more precisely.

In this declaration, all manner of radical phrases are thrown out, but the question of independent working-class politics and a Trotskyist party of the Fourth International in Algeria, is avoided.

“Strength”

This same World Outlook com­mented only a few weeks ago that Ben Bella’s announcement withdrawing the death sentence on Ait Ahmed was a “sign of the strength of the Ben Bella regime.”

Now they say:

“The ease with which Ben Bella was removed from power . .. shows the correctness of the criticisms which the revolutionary Marxists offered while supporting Ben Bella against the right-wing forces that sought to block, slow down and de-rail the Algerian revolution.”

How “correct” can you get? World Outlook says all this has happened’ be­cause:

“… the Algerian revolution had not been carried through to the end, to the institution of a workers’ state based on committees of workers and, poor peasants exercising the real power.”

The main question is ignored: such a state could only have been created by building a Marxist revolutionary party, opposing the bourgeois nation­alists in every one of the actions which they took to halt the revolution and consolidate their own power.

The revisionists, instead, speculated about whether Ben Bella was “another Castro,” i.e., someone capable, in their opinion, of taking the revolution through to workers’ power.

All the criticisms in the world of Ben Bella’s compromises with the Right, his attacks on the unions, his concentration of personal power, are worse than useless without the struggle to build an alternative, the basis of which must be a revolutionary work­ers’ party.

In so far as the revisionists only campaigned for greater “pressure,” or­ganized by the “left wing” to change the policy of the FLN, they helped the reactionary forces to prepare the pres­ent situation.

Their deception now will convince no one in Algeria, France or anywhere else. The sum total of their politics was to persuade militants that the FLN itself could become the “mass van­guard party” which they now talk about at every turn.

“Negative”

And so to the miserable conclusions of this declaration (of bankruptcy). The theory of the permanent revolu­tion, it appears, has “been strikingly confirmed; this time, unfortunately [sic] not in a positive sense as in the case of Cuba, but in a negative way.”

After advocating liquidation of the revolutionary party, placed by Trotsky at the center of the theory of the permanent revolution, you then pro­nounce the verdict that “unfortunate­ly,” the theory has been confirmed in a “negative” way.

The whole process is viewed as something separate from Marxist theory, not as a process in which this theory, given concrete form in the rev­olutionary party, plays a decisive ob­jective role.

Only after the negative confirmation, is it necessary to say, as does the declaration’s next sentence, that‑

“No conquests in a colonial revolution can be considered to have been consolidated until a workers’ state has been created, until a revolutionary socialist party has been built, until the workers and poor peasants hold power through their own institutions of proletarian democracy.”

Not a word about the criminal con­fusion beween the working-class rev­olutionary party and the bourgeois-national movement. Not a word about the criminal responsibility of the auth­ors of the same declaration, who have been in the forefront of the revisionist subordination to bourgeois-national leaders like Ben Bella.

Their vagueness about the “Algerian left wing” is matched by the state­ments earlier this year by Pablo, re­cently expelled from the leadership of the United Secretariat. He referred constantly to “the organized left, the marching wing” of the revolution, but he discussed always within the frame­work of Algeria as a country on the road to socialism.

When he criticised government tutel­age of the unions he did this always in terms of the state becoming isolated from the masses.

What was actually required was a struggle of the workers, leading the poor peasantry, to fight behind a Trot­skyist party for their own power in opposition to the existing state.

Ben Bella has for years been con­solidating the centralized state power against the workers and peasants. Boumedienne and the right have thrown him out because he did not go far enough and was too prone to give concessions to the masses.

As soon as Ben Bella had worked with Boumedienne for the 1962 over­throw of the old provisional govern­ment, he used Boumedienne’s army to consolidate bourgeois state power.

This army was quite separate from the popular liberation force which fought the French. It was preserved in relatively privileged and comfortable conditions after the liberation, having previously been kept out of the fight­ing.

Collaboration

It was used to suppress and disarm all remaining forces of the Maquis in the different regions of Algeria. The resolution of the National Liberation Front Congress to create a people’s militia remained just a scrap of paper.

This army consolidated its power while independence of the unions was eaten away and the land reform was halted. It was a classical example of the bourgeoisie halting the democratic revolution, to collaborate with impe­rialism, and attack the workers and peasants.

Ben Bella, with his demagogic speeches and popular appeal, was ne­cessary to the Algerian bourgeoisie and the imperialists only during the initial difficult period.

The reactionaries behind Boumedi­enne have now decided that his “left” talk about socialism can be dispensed with, and they will provide their own substitute.

This does not mean that the struggle is over or that the new regime is firmly established, but there can no longer be any doubt about the forces which have been established.

Certainly the Algerian events are of great consequence for Marxist theory and for the working-class movement. But the revisionists of the “United Secretariat” cannot calculate this sig­nificance because it involves above all an accounting of their own role.

As in Ceylon, revisionism has led to betrayal, and has prepared the way for defeats. But the struggle against that revisionism can be strengthened now that the lessons are being driven home.

Just as the workers and peasants of Ceylon and Algeria have not yet spok­en their last word, so the Fourth International is no longer held back in its development by the revisionists.

On the contrary, they are being rap­idly dissolved and defeated. This is a necessary part of the revived international struggle of the working class.

¡No al franquismo “reformado”!

¡No al franquismo “reformado”!

[Traducido de Workers Vanguard No. 161, 10 de junio de 1977. Esta versión fue impresa en Spartacist en español No. 5, octubre de 1977.]

6 DE JUNIO ― La semana próxima se llevarán a cabo las primeras elecciones parlamentarias en 41 años en España. Estas elecciones, que son cualesquier cosas menos libres, coronan la “Democracia Española” del primer ministro Adolfo Suárez. Intentando consolidar un régimen semibonapartista de “estado fuerte” con una fachada de democracia parlamentaria, las “reformas Suárez” espetan ganar la aceptación por parte de la “Europa democrática” del régimen postfranquista, y al mismo tiempo fomentar ilusiones democráticas entre las masas trabajadoras españolas que semana tras semana, durante los últimos 18 meses, han demostrado su odio al estado autocrático legado del “Caudillo.”

La legalización del Partido Socialista Obrero Español (PSOE) y especialmente del Partido Comunista (PCE) ha contribuido, ciertamente a la deseada imagen gubernamental de democratizador de la incrustada estructura franquista. Al mismo tiempo, los ultras falangistas y sectores militares ultraconservadores presentaron fuerte resistencia contra esta medida crucial, la cual no se hubiera obtenido nunca a no ser por las huelgas y manifestaciones militantes de los trabajadores. Con un liderazgo proletario consecuente, esto habría servido para remecer el vagón del franquismo “reformado”, mediante un fuerte voto por los partidos obreros opositores al régimen. Pero lejos de desenmascarar los planes gubernamentales en su intento antidemocrático de apuntalar a la monarquía franquista, los dirigentes del PCE y del PSOE se han convertido en defensores acérrimos de Suárez.

Del “Bunker” al “eurocomunismo”

Suárez ha entrado a la campaña por las Cortes con la esperanza de construir un aparato político supuestamente del centro -en realidad, algo a la derecha de la Democracia Cristiana italiana o de los gaullistas franceses- que pueda contener las masas a través de una combinación de medidas policiales de mano fuerte, una retórica “democrática” y minireformas, mientras desmantela las arcaicas estructuras corporativas del orden franquista. Eligió como su vehículo electoral la Unión del Centro Democrático (UCD) fundada por los ex-ministros franquistas Areilza y Pío Cabanillas. En el tiempo transcurrido desde el anuncio de la candidatura de Suárez, estos dos han sido depuestos: el primero fuera de la UCD y el segundo a hacer campaña en la distante Galicia. Bajo Suárez, la UCD hace campaña para la Cortes proyectando una imagen que ha sido justamente apodada “eurofranquista.”

En tanto que Suárez trata de ocultar los orígenes franquistas de su gobierno, se ha visto desafiado por la Alianza Popular (AP) abiertamente franquista. Manuel Fraga Iribarne, ex-ministro del interior la formó al unirse con otros seis ex-ministros de la era franquista (cada uno con su partido político propio). Son llamados alternativamente “los siete magníficos” (por la extrema derecha) y los “sete jinetes del apocalipsis” por la izquierda). La AP ha atacado la legalización del PCE y otras concesiones similares, presentándose como los herederos de los “cuarenta años de paz franquista.”

Pero, aunque Fraga pueda tener mejor fundamento para reclamar las tradiciones azules, las fuerzas de Suárez no dejan de representar la faz del franquismo en estas elecciones. A pesar de su verborrea acerca de reformas democráticas, Suárez mantiene sus relaciones con el clerical-reaccionario Opus Dei, importantes industriales y representantes de los inversionistas extranjeros que constituyeron el esqueleto económico del régimen de Franco. Más aún, desde la ruptura con Fraga y la formación de la UCD, Suárez se ha concentrado en alistar a los funcionarios y jefes políticos de las administraciones locales, cuyo principal interés es gozar del respaldo del gobierno. Mientras en las ciudades principales el voto a la oposición será indudablemente alto, en el campo el mando franquista sigue intacto, con el dominio ininterrumpido de la Guardia Civil y los caciques locales. El New York Times (6 de junio de 1977) citaba a un residente de un pueblo en Badajoz, remarcando que luego de 40 años de dictadura, “hay miedo, hay miedo.”

De acuerdo con el esquema electoral actual, las zonas rurales tendrán hasta cuatro veces la representación de barrios con comparable número de habitantes ubicados en centros urbanos como Madrid. Por lo tanto, para que Suárez reciba una mayoría en las cortes, el caciquismo debe permanecer intacto. Poco se puede hablar de democracia, en tanto permanezca el privilegio establecido, la corrupción y las maquinaciones políticas que durante 40 años han sido inseparables del estado de terror policíaco de Franco.

La explosión vasca

Las reformas de Suárez tienen, ciertamente, muy poco peso en la región vasca (Euzkadi). El período electoral en esta región norteña llegó vestido en los mismos colores de antes: el gris sombrío de la policía armada y el verde olivo de la Guardia Civil. Las manifestaciones de masas exigiendo la amnistía y el levantamiento del estado de sitio policíaco han sido repetidamente atacadas por estos matones sangrientos de Suárez/Juan Carlos. Si esta represión feroz continúa, y quizás se intensifique con los desmanes de la policía especial, el rey “democrático” y su primer ministro “eurofranquista” se podrían ver enfrentados con un sólido boicot electoral vasco.

El terror policiaco omnipresente no ha conseguido disminuir el sentimiento abrumador de solidaridad y oposición al gobierno que ha arrastrado al País Vasco durante la primavera. En abril, el gobierno prohibió toda celebración del día nacional vasco, Aberri Eguna. Los manifestantes que se reunieron en la ciudad de Vitoria (sitio de la matanza de 1976) desafiando la prohibición fueron enfrentados por una fuerza de ocupación de 5.000 guardias civiles que llenaron la plaza central con humo y gases lacrimógenos, atacando luego viciosamente a cualquier civil que encontraron en las calles. A pesar de las balas de goma y el cañón de agua de la brigada antidisturbios, se construyeron barricadas y las manifestaciones persistieron.

En el curso de sólo cuatro días del mes pasado, cinco manifestantes vascos fueron muertos por balas policiales y más de 50 fueron heridos. Una ola huelguística masiva se desató en respuesta, culminando en una huelga general abarcando a 600.000 trabajadores, el 16 de mayo. Más aún, un ex-alcalde franquista de Bilbao y amigo personal de Juan Carlos, Javier de Yberra y Bergé, fue secuestrado -probablemente por nacionalistas de la ETA- como rehén para obtener la libertad de prisioneros políticos vascos. Cuando el período electoral estaba por abrirse el 24 de mayo, varias organizaciones políticas vascas -de izquierda y nacionalistas- anunciaron sus intenciones de boicotear los comicios, a menos que se pusiera alto al terror policíaco y fueran liberados el resto de los prisioneros políticos.

Con la esperanza de salvar las elecciones, el gobierno ha cedido, y ha liberado, hasta la fecha, a la mayoría abrumadora de los prisioneros políticos. Más aún, se han tomado medidas para que los acusados de “crímenes de sangre” -en su mayoría separatistas vascos- sean enviados al exilio. Entre aquellos enviados al extranjero están los cinco acusados del infame consejo de guerra de Burgos de 1970. Al momento de escribir este artículo, el número de prisioneros políticos vascos restantes, y el impacto del programa de deportaciones del gobierno sobre la posibilidad de un boicot electoral en la región, todavía no está claro.

Democracia y dictadura

Debido a la situación claramente prerrevolucionaria en España, la actividad política se está extendiendo a regiones y sectores de la población anteriormente pasivos. Las huelgas -las cuales, como Trotsky anotó en los años treinta, son la forma elemental del incipiente despertar político del proletariado- han aumentado enormemente. La actividad huelguística del año pasado -ilegal en su totalidad- fue mayor que aquella de los últimos diez años juntos. Aun la nueva planta Ford en Valencia, con su mano de obra cuidadosamente elegida, se ha visto obligada a recurrir a un cierre patronal de sus 7.000 trabajadores como respuesta a la continua agitación laboral. En el campo, los trabajadores agrícolas andaluces que desde la Guerra Civil se habían sometido a los caciques y a la Guardia Civil, organizaron una huelga de protesta contra la política económica del gobierno durante la primavera.

Sin embargo, la mayoría de las manifestaciones de masas han sido políticas. Como Trotsky observó con respecto a Italia bajo Mussolini en 1930:

“Si la crisis revolucionaria fuera a estallar… las mases de trabajadores, tanto obreros como campesinos, seguramente pondrían a continuación de sus demandas económicas, consignas democráticas (tales como libertad de reunión, de prensa, de organización sindical, representación democrática en el parlamento y en las municipalidades).”

― “Problemas de la Revolución Italiana”

Los marxistas no se quedan al margen de estas luchas, sino defienden activamente las demandas democráticas de las masas trabajadoras. Repetidamente hemos llamado por la abolición de los aparates represivos especiales del franquismo ― la Guardia Civil, la brigada antidisturbios, la policía armada, el Tribunal del Orden Público, la Brigada Político-Social, etc. Hemos exigido la libertad inmediata de todas las víctimas de la represión franquista reaccionaria. El pueblo español debe tener derecho de reunión y expresión libres, se le debe poner fin a la censura; la clase obrera debe arrancar las libertades sindicales  plenas y la abolición final del CNS (“sindicato” vertical franquista).

Una demanda democrática crucial hoy día en España, es el reconocimiento del derecho de la autodeterminación nacional de las nacionalidades oprimidas en España, especialmente los vascos y los catalanes. Exigimos el cese de las prohibiciones de partidos políticos por parte del gobierno, y el derecho de todos los partidos políticos a participar en las elecciones.

Como marxistas, hacemos notar que estas demandas democráticas no serán ganadas en conversaciones corteses con los dinosaurios franquistas en sus adornados salones estatales, sino mediante las luchas encarnizadas de la clase  obrera en las calles y fábricas. Así pues llamamos por la transformación de las jornadas de luchas esporádicas en una huelga general ilimitada para ganar las libertades democráticas, por las cuales el pueblo español ha luchado fervientemente; y por la construcción mediante tal huelga, de consejos obreros (soviets) que puedan unir las fuerzas del proletariado a fin de derribar el régimen franquista, reemplazándolo con un gobierno obrero, único capaz de garantizar dichos derechos a los explotados y oprimidos.

Pero, al mismo tiempo nos enfrentamos con una amenaza inmediata a la obtención de la democracia más completa para el pueblo trabajador, constituida por los intentos de los partidos burgueses y sus miserables colaboradores en el movimiento obrero, de “negociar” una reforma del franquismo. En tanto el aparato estatal permanezca intacto con las mismas fuerzas represivas y los mismos políticos autocráticos -aun cuando ligeramente disfrazados con vestiduras “democráticas”- el franquismo “reformado” servirá únicamente para prolongar el “estado fuerte” que ha oprimido a la totalidad del pueblo español durante los últimos 40 años. La demanda “¡No al franquismo “reformado” ― por una asamblea constituyente democrática elegida por sufragio universal!” puede alinear grandes sectores de la pequeña burguesía tras la dirección de la clase obrera, así como también revelaría la naturaleza de las negociaciones traidoras de los demócratas burgueses y los reformistas, dispuestos a conservar una buena parte del aparato bonapartista, por miedo a las consecuencias de un levantamiento verdaderamente revolucionario.

Las elecciones franquistas no introducen un período de democracia burguesa en España. No sólo es el mecanismo electoral evidentemente antidemocrático (por ejemplo, el peso desproporcionado de las diferentes regiones), sino que además las Cortes se basan en la aceptación de la monarquía, el ejército y “la inviolabilidad del estado español.” El rey se reserva el derecho a nombrar hasta el 20 por ciento de ambas cámaras de las Cortes. El primer ministro es nombrado por el monarca y luego nombra al consejo de ministros ― que tiene el derecho de promulgar los decretos-leyes.

Todavía hay 67 partidos ilegales, a los cuales se les niega la participación en las elecciones. Estos abarcan desde los carlistas (los otros pretendientes a la corona, quienes lucharon al lado de Franco durante la Guerra Civil, pero hoy día se reclaman de un socialismo “autogestionario”) hasta los partidos de la “extrema izquierda.” (Varios candidatos de la “extrema izquierda,” no obstante, están presentándose a las elecciones cómo independientes.) El gobierno restringe, además, el acceso a la prensa y puede determinar, a través de los bancos, los fondos disponibles para la campaña de cada partido.

Las elecciones no representan, entonces, un canal democrático para la expresión y ejecución de la voluntad política del pueblo español. Un partido revolucionario de masas buscaría acabar con esta abominación de seudoparlamento, luchando por una asamblea constituyente plenamente democrática. En el caso necesario y si el sentimiento popular fuera tal como para asegurar un gran impacto, los comunistas llamaríamos por un boicot activo de elecciones como las del 15 de junio.

La dirección reformista actual, sin embargo, ha asegurado que, en la ausencia de cambios drásticos en la situación política y con la posible excepción del País Vasco, las masas trabajadoras votarán en las elecciones franquistas. El llamar a la abstención por parte de un pequeño grupo propagandístico trotskista sería un ejercicio inútil de autoaislacionismo. Si los revolucionarios no son lo suficientemente fuertes como para prevenir el llevar a cabo estas elecciones manipuladas, o por lo menos despojarlas de cualquier significado posible, deben entonces usarlas como tribuna de propaganda.

“Platajunta” y las elecciones

A lo largo de la situación prerrevolucionaria en España, el PCE y el PSOE han demostrado ampliamente su compromiso fundamental con la política de colaboración de clases. Ambos formaron alianzas frentepopulistas con fuerzas burguesas abarcando desde nacionalistas y demócratas cristianos (incluyendo al carnicero de la insurrección minera en Asturias en 1934: José María Gil Robles) hasta los monarquitas carlistas y elementos ligados a los Borbón. Para el PCE ella fue la Junta Democrática, y para el PSOE la Plataforma de Convergencia Democrática.

Durante la campaña por su legalización, ninguno de los dos partidos intentó movilizar al proletariado con el fin de extraer derechos democráticos del estado franquista: por el contrario, ambos buscaron organizar formaciones frentepopulistas cada vez mayores. En marzo de 1976 la Junta Democrática y la Plataforma de Convergencia Democrática se unieron para formar Coordinación Democrática, mejor conocida como la “Platajunta”. En este organismo cumbre se encontraban las tres federaciones sindicales importantes, las organizaciones maoístas-sindicalistas, nacionalistas de todo pelaje, fuerzas burguesas y por supuesto, los socialistas de la corona (los carlistas). Lo que une a estas fuerzas dispares es un compromiso común a mantener el dominio de la clase burguesa en la España postfranquista, y a la “negociación” por la “democracia” con los herederos del Caudillo. La “Platajunta” alcanzó su culminación política en enero luego de la liberación de Santiago Carrillo cuando la “Comisión de los 10” fue llamada para discusiones conjuntas con Suárez acerca de la aplicación de la “democracia” franquista.

Desde entonces, y particularmente luego de la legalización de 156 asociaciones políticas, Coordinación Democrática ha caído en desuso. Con la excepción del frente popular autóctono de Cataluña, la Assemblea de Catalunya, los partidos legalizados han llevado a cabo campañas electorales formalmente independientes pero explícitamente dedicadas a la continuación de la colaboración de clases.

Luego de una pizca de bravatas izquierdistas momentáneas, cuando el ala “histórica” rival de la socialdemocracia fue legalizada, el PSOE se ha contentado con maniobrar entre los franquistas. En una reunión pública reciente en honor de François Mitterrand y Mario Soares, el dirigente del PSOE Felipe González compartió la plataforma con el dirigente depuesto de la UCD y exministro de relaciones exteriores Areilza. Insistentemente se repiten los rumores de una coalición Suárez-González de “centro-izquierda” si la AP logra impedirle a Suárez el ganar una mayoría “del centro” en las Cortes.

De la traición a la claudicación abierta

Más dramática ha sido la capitulación y prostración abierta del Partido Comunista a los pies de los franquistas. Durante los últimos dos años, desde las manifestaciones masivas cuando la muerte de Franco y la ejecución de los cinco prisioneros nacionalistas vascos, hemos denunciado la política del PCE de contener toda lucha popular en su búsqueda de la “respetabilidad” burguesa. El PCE ha boicoteado y traicionado repetidamente sus propias manifestaciones a fin de agradar al gobierno actual.

Primero hubo el frustrado “otoño caliente” de la lucha de clases en octubre-noviembre de 1976: esto terminó en nada cuando el PCE no movilizó ni siquiera a los trabajadores bajo su dirección para su propia huelga general en noviembre. Luego del asesinato de cinco simpatizantes comunistas por pistoleros fascistas en enero, ocurrido en el local de Comisiones Obreras (sindicatos dominados por el PCE) situado en la calle Atocha de Madrid, el PCE aprovechó la ocasión para cerrar filas tras Suárez. En tanto, cientos de miles de trabajadores ocupaban las calles de Madrid y Barcelona, y el PCE intentaba sabotear la protesta e incluso firmó una declaración conjunta con Suárez, el PSOE y otros representantes de la “Platajunta”, predicando la “serenidad” frente a los ataques fascistas. El dirigente del PCE Simón Sánchez Montero trató de probar la responsabilidad de su partido gritando “¡Viva España!” en un salón lleno de periodistas asombrados.

El PCE de nuevo se rehusó a movilizar al proletariado en apoyo de las manifestaciones por el 1º de Mayo que él mismo había convocado. Además, cuando el partido fue legalizado el 10 de abril, aun cuando los miembros habían preparado una caravana de automóviles y una concentración de masas para celebrar el evento, todas las manifestaciones fueron canceladas. Como en el caso de las protestas luego de los asesinatos en Atocha, la excusa fue la amenaza de un golpe de estado militar. Frente a este peligro Santiago Carrillo dio la respuesta reformista clásica: no hacer nada, no molestar a la derecha. Su labor de desmovilización de los trabajadores continúa.

Pero la traición dramática más reciente ocurrió en respuesta a la huelga general vasca del 16 de mayo. En Madrid decenas de miles de obreros atendieron la llamada por la solidaridad con la manifestación vasca contra el gobierno. Sin embargo, esta vez el PCE abiertamente se rehusó a apoyar ninguna huelga de solidaridad y más bien instó a los vascos a regresar al trabajo a fin de no “poner en peligro las elecciones.” Los máximos dirigentes de las CC.OO. llamaron a los trabajadores vascos a “no agravar más la situación en España.” Mientras miles de policías antidisturbios y guardias civiles descargaban balas sobre las masas de manifestaciones y daban órdenes de “¡Tirad a matar!”, los dirigentes del PCE y las Comisiones Obreras se preocupaban tan sólo de que “las elecciones se desarrollaran lo más libremente posible en un clima de paz” (Le Monde, 18 de mayo).

El rompimiento de huelgas en el servicio de Suarez no ha sido el único ejemplo de la traición del PCE. En beneficio de su nueva imagen “democrática” el PCE ha eliminado ciertos gravámenes del pasado. Entre ellos están (por supuesto) cualquier referencia a la dictadura del proletariado y ahora incluso el saludo de puño cerrado (el cual, según Carrillo, recuerda demasiado a la Guerra Civil). En su lugar, el partido ha aceptado la bandera monarquita rojo-amarilla -que los republicanos llaman la bandera de “sangre y oro”- como “la suya” y la de “todos los españoles.”

También ha sido eliminada cualquier oposición a la monarquía franquista. Ahora el comité central del PCE declara “si la monarquía continúa su avance en el camino del restablecimiento de la libertad y la democracia, los comunistas sentados en las próximas Cortes podrán considerar la corona como el régimen constitucional” (Rouge, 18 de abril de 1977).

Eliminada también está la oposición a las bases americanas en España y a la OTAN, así como la oposición a la entrada en el Mercado Común. En su lugar, Carrillo se imagina la cabeza del principal partido “eurocomunista” proimperialista ― partido que hizo constar sus agradecimientos a Jimmy Carter por ser legalizado.

Ahora ya no hay ni siquiera vestigios de oposición a Suárez y Juan Carlos por parte del PCE. El New York Times (17 de mayo) comentaba:

“Curiosamente, uno de los aliados tácticos más fuertes del Sr. Suárez es Santiago Carrillo, el secretario general del Partido Comunista, de 62 años de edad. Agradecido al primer ministro por legalizar su partido, el veterano político fustiga regularmente a la Alianza Popular.”

Para disipar la última pizca de “curiosidad”, Carrillo en una conferencia de prensa dijo: “No sólo no soy neutral con respecto a Suárez, sino que soy pro-Suárez.”

Oposición condicional al PCE y PSOE

Faltándole la fuerza para boicotear y aplastar las elecciones franquistas mediante poderosas luchas de clases, un grupo trotskista de propaganda en España trataría de librar una batalla contra el franquismo “reformado” lanzando candidatos propios o, si ello no fuera posible, dando apoyo crítico a candidatos de otro partido obrero. Sin embargo, las candidaturas del PSOE y del PCE son la continuación directa de la política frentepopulista que preparó el camino para la toma de poder de Franco. Los marxistas defienden el principio de la independencia de clase del proletariado y por lo tanto no pueden dar apoyo electoral a partidos envueltos en alianzas frentepopulistas. La caída en desuso de Coordinación Democrática durante el período electoral no cambia el carácter fundamental de las listas del PCE y el PSOE.

En 1975, la tendencia espartaquista internacional se rehusó a dar apoyo crítico al Partido Comunista Portugués, tanto por sus alianzas colaboracionistas de clases y por su apoyo explícito al dominio bonapartista por el MFA del aparato estatal. En Portugal, como hoy día en España, no sólo la independencia organizativa, sino también una campaña dirigida contra el gobierno en ejercicio debe ser un requisito para el apoyo crítico electoral.

Como resultado de las coaliciones frentepopulistas (aunque esporádicas) y del apoyo al gobierno franquista por parte del PCE y el PSOE, los marxistas deben permanecer en oposición condicional a ambos partidos reformistas. Llamamos a las filas proletarias de estos partidos a forzar a sus dirigentes a romper con sus aliados frentepopulistas burgueses y particularmente a romper con el gobierno Suárez como condición para cualquier apoyo electoral.

Elecciones en Euzkadi

Las elecciones del 15 de junio además de todas sus otras limitaciones e inconvenientes, no están siendo llevadas a cabo en condiciones de democracia burguesa. En respuesta a las manifestaciones y movilizaciones de masas, las odiadas escuadras de las policías especiales han desatado un terror equiparable a aquél bajo el mismo Franco. En aquellas zonas donde el nivel de terror oficial es tan intenso como para prevenir cualquier aproximación a elecciones libres, o donde partidos representando una proporción sustancial de la clase obrera son ilegales, las elecciones pueden tomar el carácter de un plebiscito franquista. Los trotskistas, en dichas condiciones, se unirían con las masas de los trabajadores en un boicot activo de las elecciones fraudulentas. Este puede ser el rumbo de los eventos en el país vasco y quizás también en las Canarias.

No tiene sentido llamar a un boicot a menos que haya una posibilidad real de éxito. Sin embargo, en Euzkadi bajo los peores ataques policiales vistos en años, el pueblo vasco se ha mantenido y defendido. Pueblo tras pueblo fue sobrepasado por invasiones policiales. Manifestaciones pacíficas fueron reprimidas con balas de goma primero y munición real luego. Pero la resolución a luchar no ha disminuido. EI mes pasado se levantaron barricadas en Vitoria, Rentería, San Sebastián y Bilbao. Las huelgas continúan hasta la fecha.

Como fue admitido por un político burgués importante: “aquí en Euzkadi no estamos en una atmósfera electoral. Aquellos que voten lo harán en un estado de miedo” (New York Times, 21 de mayo). Aun cuando muchos militantes vascos han sido liberados, parece que hay todavía bastantes encarcelados y que los partidos más importantes de la región todavía planean boicotear los comicios.

Un boicot efectivo de las elecciones en Euzkadi podría debilitar significativamente las pretensiones democráticas de Suárez y Juan Carlos. Las súplicas traidoras de los estalinistas y socialdemócratas por elecciones pacíficas para producir otras Cortes franquistas (pero con su participación) deben ser combatidas. Las masas trabajadoras deben ser movilizadas para demandar una asamblea constituyente genuinamente democrática y la abolición de la legislación antidemocrática y de los órganos represivos especiales del régimen franquista. A través de la movilización de la clase obrera, como en Euskadi, pueden ser sentadas las bases para la formación de los soviets y consejos obreros a escala regional y nacional. Sólo la democracia del poder soviético enterrará finalmente al reino del terror franquista y liberará al proletariado de dos generaciones de opresión brutal.

― ¡No al franquismo “reformado”! ¡Abajo la monarquía franquista! ¡Por una asamblea constituyente democráticamente elegida!

― ¡Ningún voto a los partidos del frente popular! ¡PCE y PSOE, romped con Coordinación Democrática y el régimen franquista!

― ¡Por un partido trotskista en España, sección de una Cuarta Internacional reforjada!

― ¡Por una república obrera en España! ¡Adelante hacia los Estados Unidos Socialistas de Europa!

Declaration of Principles of the Spartacist League

Declaration of Principles of the Spartacist League

[General line unanimously adopted by Founding Conference, 3 September 1966.  Final draft approved by Political Bureau, 8 November 1966. Originally posted on http://www.bolshevik.org/history/ICL/Tr-slpr.htm]

1. The Socialist Revolution and the Spartacist League

The Spartacist League of the U.S. is a revolutionary organization which, as part of the international revolutionary movement, is committed to the task of building the party which will lead the working class to the victory of the socialist revolution in the United States.

Only the proletariat, through the seizure of political power and the destruction of capitalism in all countries, can lay the basis for the elimination of exploitation and the resolution of the contradiction between the growth of the productive forces of the world economy and national-state barriers. Capitalism has long since outlived its progressive historical role of creating a modern industrial economy. Now in order to maintain their rule, the national capitalist classes must intensify national and racial divisions, through imperialism oppress the colonial peoples and impoverish the masses of the entire world, engage in continual wars for the maintenance and redivision of the world markets in order to prop up the falling rate of profit, and attempt to smash the revolutionary struggle of the workers wherever it breaks out. In its final frenzied effort to maintain its close rule, the bourgeoisie will not hesitate to plunge humanity into a nuclear holocaust or totalitarian oppression of unprecedented ferocity. The United States of America is today the keystone of the entire international capitalist order.

On the other hand, the victory of the proletariat on a world scale would place unimagined material abundance at the service of human needs, lay the basis for the elimination of social classes, and eliminate forever the drive for war inherent in the world economic system of capitalism. For the first time mankind will grasp the reins of history and control its own creation, society, resulting in an undreamed-of emancipations of human potential, the limitless expansion of freedom in every area, and a monumental forward surge of civilization. Only then will it be possible to realize the free development of each individual as the condition for the free development of all.

2. The Crisis of Proletarian Leadership

History has shown that the self-emancipation of the working class, and therewith the oppressed of all the earth, balances on the question of leadership. The economic preconditions for socialism have long since been reached. But the contradictions of capitalism in its epoch of imperialist decay produce not only wars, but also revolutionary opportunities. The success or failure of the working class to achieve victory in these historic opportunities depends upon the organization and scientific consciousness of the struggling masses, i.e., on revolutionary leadership. Only a revolutionary leadership–the indispensable weapon of the working people–has proved to have the strategy and determination to lead the working masses to victory. The responsibility for the defeats suffered by the working class and the abortion of previous revolutionary opportunities lies at the door of treacherous Social-Democratic and Stalinist misleaders. But the revolutionary will of the proletariat will triumph! The crisis of leadership will be solved! It is to the solution of the crisis of proletarian leadership that the Spartacist League directs its work.

3. The Theoretical and Historical Roots of the Spartacist League

The Spartacist League continues the revolutionary traditions of the international working-class movement exemplified in the work of revolutionists such as Marx, Engels, Lenin, Trotsky, Luxemburg, and Liebknecht. Above all we look to the experience of the Bolshevik Party which culminated in the Russian Revolution of 1917, the only revolution as yet made by the working class.

We seek in particular to carry forward the international working-class perspectives of Marxism as developed in theory and practice by V. I. Lenin and L. D. Trotsky, as embodied in the decisions of the first four Congresses of the Communist International and by the Transitional Program and other documents adopted by the 1938 Founding Conference of the Fourth International. These materials are the indispensable documentary codification of the communist movement internationally, and are fundamental to the revolutionary tasks of our organization.

We also look for inspiration to the example of such revolutionists in the United States as F. A. Sorge, Vincent St. John, Daniel De Leon, Louis Farina, and James P. Cannon. The Spartacist League is the continuator of the revolutionary heritage of the early Communist Party and the Socialist Workers Party. The immediate origins of the Spartacist League are in the Revolutionary Tendency of the SWP which based itself primarily upon the statement In Defense of a Revolutionary Perspective and the document World Prospect for Socialism.

4. The Vanguard Role of the Working Class and the Road to Socialism

Central to the Marxist perspective of world socialism is the vanguard role of the working class, and particularly the decisive weight of the proletariat of the industrialized countries. Only the working class has the social power and compulsion of clear objective interest to liberate mankind from oppression. Having no stake in maintaining the bourgeois order, its enormous power rests in its productive role, its numbers and organization.

The continued rule of a small handful of capitalists is maintained only through keeping the working class divided and confused as to its true situation. In the United States, the ruling class has succeeded in creating deep divisions along racial lines. The Black workers as a doubly-oppressed race-color caste require special modes of struggle as long as racist attitudes continue to permeate the outlook of the working class as a whole. Socialism in this country will be achieved only by the common struggle of Black and white workers under the leadership of a unified revolutionary vanguard.

Historic experience has shown that the road to socialism can be opened only by the intervention of the masses in the course of history and the creation of dual power culminating in the destruction of the capitalist state and the victory of the workers state and development of a new social order. The police, military, bureaucratic, juridical, and political apparatus of the old order will be replaced by the dictatorship of the proletariat based on councils of working people and supported by the workers’ armed strength. Such a state would defend itself against the counterrevolutionary efforts of the deposed ruling class to return to power and would reorganize the economy along rational lines. As the economic basis of social classes dwindled, the workers state would more and more assume a purely administrative function, eventually withering away with the advent of classless communism.

5. The International Character of the Socialist Revolution

Capitalism is a world economic system which has created an international working class with identical class interests the world over. The international character of the working class gives it a potentially enormous superiority over the bourgeoisie as capitalism operates by anarchistic methods which set one national capitalist class against another and constantly create new unevennesses and crises. In order to realize this superiority, the proletariat needs an international party to unify the class across the national and sectional boundaries which divide it and to coordinate the interdependent struggles of the workers of every country. While the revolution may begin in a single country, any partial victory will be only finally secured with the spread of revolution to other countries and the eventual world dominance of socialist economic organization. The Fourth International is the world party of the socialist revolution, whose program and purposes remain as valid today as at its founding in 1938, despite its present organizational disarray. We stand with all those groups seeking the rebirth of the Fourth International and, as a first step, the creation of a bona fide International Committee of revolutionary Trotskyists based upon a real and living democratic centralism.

6. The Necessity for Revolutionary Consciousness

The ruling class has at its command a monopoly of the means of violence, its dominant political and bureaucratic apparatus, its enormous wealth and connections, and its control of education, the mass media and all other institutions of capitalist society. Against such a force a workers state can be brought into existence only by a proletariat fully conscious of its tasks, organized to carry them out, and determined to defend its conquests against the counterrevolutionary violence of the ruling class. The decisive struggle–the conquest of state power–requires political consciousness. Through its acquisition of political consciousness the working class ceases to be merely a class in itself and becomes a class for itself. Such consciousness is not spontaneously generated in the course of the day-to-day class struggles of the workers; it must be brought to the workers by the revolutionary party. Thus it is the task of the revolutionary party to forge the proletariat into a sufficient political force by infusing it with a consciousness of its real situation, educating it in the historical lessons of the class struggle, tempering it in ever deepening struggles, destroying its illusions, steeling its revolutionary will and self-confidence, and organizing the overthrow of all forces standing in the way of the conquest of power. A conscious working class is the decisive force in history.

7. The Bourgeois Basis of Revisionism

Insofar as revolutionary consciousness is not prevalent among the workers, their consciousness is determined by the ideology of the ruling class. Objectively capitalism rules through finance capital, its monopoly of the means of violence, and its control of all existing social institutions. But it prefers, when possible, to rule through the dominance of its ideas among the oppressed, fostering illusions and concealing its bloody essence. The ideas of the bourgeoisie penetrate into the very movements and organizations of the workers through the agency of the petty-bourgeois labor lieutenants–particularly the parasitic trade union, Social-Democratic, and Stalinist bureaucracies which are based on the “aristocratic” upper strata of the working class. Enjoying privileges not accorded to the vast majority of workers, these misleaders betray the masses of working people through class collaboration, social-patriotism, and chauvinist-racist olicies which sabotage proletarian understanding and solidarity. If not replaced by revolutionary leaderships, they will allow the organizations of the workers to become impotent in the fight for the economic needs of the workers under conditions of bourgeois democracy or will allow these organizations to be destroyed by victorious fascism.

The degeneration and capitulation of tendencies within the Marxist movement has been of especially critical value to the preservation of imperialist rule. Submission to the pressure of bourgeois society has repeatedly thrust nominally Marxist currents towards revisionism, the process of ruling out Marxism’s essential conclusions. Bernsteinian revisionism, Menshevism, Stalinism, and its Maoist variant, are all illustrations of this process which constitutes a bridge to overtly reformist practices.

Within the Trotskyist movement the problems posed by the post-1943 Stalinist expansions have given rise to the revisionist current of Pabloism. Pabloism is characterized chiefly by a renunciation of the necessity for revolutionary leadership and an adaptation to existing petty-bourgeois and Stalinist leaderships. This deterioration of theory has led to the degeneration of the Fourth International founded by Leon Trotsky, and to its organizational breakup.

The Spartacist League, by contributing to the theoretical clarification of the Marxist movement and to the reforging of the workers’ necessary organizational weapons, upholds the revolutionary proletarian principles of Marxism and will carry them forward to the vanguard of the working class.

8. The Deformed Workers States and the Political Revolution

Historic gains have been made in expelling imperialism from and destroying capitalist property relations in certain backward countries, i.e., the degenerated workers state of Russia, and the deformed workers states in East Europe, and of China, North Korea, North Viet Nam, and Cuba. The nationalization of the means of production, establishment of economic planning, and the state monopoly of foreign trade have brought tangible increases in the living standards of the masses together with advances in industrial growth in spite of the hostility of imperialism. On the other hand, the failure as yet of the proletariat to successfully carry through a social revolution in any of the advanced countries, the relatively low labor productivity and cultural levels of the workers states compared to the leading capitalist countries, and the numerical preponderance of the peasant class have allowed the formation of bureaucratic ruling castes which exclude the working class from political power and which are susceptible to the development of capitalist restorationist tendencies. These privileged bureaucracies, themselves a reflection of the continued domination of capitalism on a world scale, stand as a barrier to the elimination of class differences within their own national boundaries and the achievement of socialism on a world scale; through their increasingly nationalist deviations, they weaken these conquests of the working class in the face of imperialism and open the way for the repenetration of capitalist economic forms.

The Spartacist League stands for the unconditional defense of these countries against all attempts of imperialism to reestablish its control. At the same time we assert the necessity for the working class to take direct control and defense of these states into their own hands through political revolution and thus sweep away the internal barriers to the advance towards socialism. Only the spread of revolution internally and internationally can successfully maintain these partial conquests of the workers. It is an immediate and pressing necessity to build sections of the Fourth International in the deformed workers states to guide the struggle of the workers for political power and to coordinate their struggles with those of the proletariat in the advanced and colonial countries.

9. The Colonial Revolution and the Permanent Revolution

The partial character of the anti-capitalist revolutions in the colonial world over the past two decades (China, Cuba, North Viet Nam and North Korea) leads us to reaffirm the Marxist-Leninist concept of the proletariat as the key to the socialist revolution. Although existing petty-bourgeois nationalist-led movements against imperialism must be defended, the task of communists is to lead the active intervention of the working class to take hegemony over the national-social struggle. The struggle by the proletarian leadership for self-determination of the oppressed nations is a powerful tool to break the grip of petty-bourgeois nationalist leaders on the masses. The Spartacist League fundamentally opposes the Maoist doctrine, rooted in Menshevism and Stalinist reformism, which rejects the vanguard role of the working class and substitutes peasant-based guerrilla warfare as the road to socialism. Movements of this sort can under certain conditions, i.e., the extreme disorganization of the capitalist class in the colonial country and the absence of the working class contending in its own right for social power, smash capitalist property relations; however, they cannot bring the working class to political power. Rather, they create bureaucratic anti-working class regimes which suppress any further development of these revolutions towards socialism. Experience since the Second World War has completely validated the Trotskyist theory of the Permanent Revolution which declares that in the modern world the bourgeois-democratic revolution can be completed only by a proletarian dictatorship supported by the peasantry. Only under the leadership of the revolutionary proletariat can the colonial and semi-colonial countries obtain the complete and genuine solution to their tasks of achieving democracy and national emancipation.

10. The Revolutionary Party: Its Program, Organization, and Discipline

“Without a party, apart from a party, over the head of a party, or with a substitute for a party, the proletarian revolution cannot conquer.” The revolutionary party is not only the instrument for bringing political consciousness to the proletariat, it is also the main offensive and guiding force through which the working class makes and consolidates the socialist revolution. The revolutionary party is the general staff of the revolution. Its leading cadre have been trained and tested in the class struggle; it has gained the leadership of the class on the basis of its program and revolutionary determination; it has understood the whole of the past in order to assess the present situation with crystal clarity; it recognizes and boldly responds to the revolutionary moment when it comes, that moment when the forces of the proletariat are most confident and prepared and the forces of the old order most demoralized and disorganized. In the revolutionary party is crystallized the aspiration of the masses to obtain their freedom; it symbolizes their revolutionary will and is the instrument of their victory.

The program of the Spartacist League, as part of the Fourth International, is transitional in nature. It forms a bridge in the course of daily struggle between the present demands and the socialist program of the revolution. From the consciousness of the working class today it formulates its demands and tasks in a way that lead inalterably to one final conclusion: the conquest of power by the proletariat. The united front of differing and otherwise hostile organizations of the working class is a primary tactic in unsettled periods to both mobilize a broad mass in struggle and to strengthen the authority of the vanguard party within the class. The transitional program directs the struggle ever more openly and decisively against the very bases of the bourgeois regime and mobilizes the masses for the proletarian revolution.

The organizational principle of the Spartacist League is democratic centralism, a balance between internal democracy and functional discipline. As a combat organization, the revolutionary vanguard must be capable of unified and decisive action at all times in the class struggle. All members must be mobilized to carry out the decisions of the majority; authority must be centralized in its selected leadership which interprets tactically the organization’s program. Internal democracy permits the collective determination of the party’s line in accord with the needs felt by the party’s ranks who are closest to the class as a whole. The right to factional democracy is absolutely vital to a living movement The very existence of this right helps to channel differences into less absorbing means of resolution.

The discipline of the Spartacist League flows from its program and purpose, the victory of the socialist revolution and the liberation of all mankind.

11. We Will Iintervene to Change History!

“Marxism is not a dogma, but a guide to action.” The Spartacist League, as a national section of the international Trotskyist movement, is in the forefront of the struggle for a socialist future. Our day-to-day preparation of the working class and our intervention and leadership in the decisive moments of the class struggle will propel the struggle forward to the final victory. “To face reality squarely; not to seek the line of least resistance; to call things by their right names; to speak the truth to the masses, no matter how bitter it may be; not to fear obstacles; to be true in little things as in big ones; to base one’s program on the logic of the class struggle; to be bold when the hour for action arrives–these are the rules of the Fourth International.” These are the rules of the Spartacist League as we go forward in the historical task of leading the working class to the victory of socialism in the United States!

–General line unanimously adopted by Founding Conference, 3 September 1966.

–Final draft approved by Political Bureau, 8 November 1966

Venezuela: Estado e revolução

Por uma federação socialista da América Latina!

Venezuela: Estado e revolução

[Originalmente publicado pela então revolucionária Tendência Bolchevique Internacional (IBT), em 1917, n. 28, de dezembro de 2005. A tradução para o português foi realizada pelo Reagrupamento Revolucionário em junho de 2017, a partir da versão disponível em http://www.bolshevik.org/1917/no28/no28Venezuela-PermRev.html]

A América Latina tem a maior diferença de renda do mundo, com mais de cem milhões de pessoas forçadas a ganhar a vida com menos de dois dólares por dia, de acordo com os Indicadores de Desenvolvimento do Mundo de 2005, do Banco Mundial. Os programas de austeridade e privatização ditados pelo FMI têm devastado a região há décadas. “Nenhuma outra região em desenvolvimento se moveu mais rapidamente para vender empresas estatais”, escreveu o Newsweek (5 de julho de 2005), observando que: “No final da década de 1990, a América Latina respondeu por 55% das receitas totais de privatização nos países em desenvolvimento. mundo…”.

A campanha dos financistas imperialistas para reduzir o “setor estatal” e privatizar os serviços de água, eletricidade e gás é racionalizada com afirmações cínicas de que a pobreza desesperada da região requer maior penetração de capital estrangeiro. De fato, as prescrições de austeridade do FMI, criadas para criar lucrativas oportunidades de investimento para as corporações imperialistas, reduziram os padrões de vida onde quer que tenham sido impostas.

O “neoliberalismo” provocou uma enorme resistência popular em toda a América do Sul. Em junho de 2005, a Bolívia estava à beira da guerra civil, enquanto protestos em massa exigiam a reversão da privatização dos depósitos de petróleo e gás do país, feita em 1996. Mas o oponente de maior destaque do “Consenso de Washington” é o presidente carismático da Venezuela, Hugo Chávez, cuja administração tem procurado mobilizar milhões de trabalhadores e camponeses pobres sob a bandeira de uma “Revolução Bolivariana”. Os bolivarianos, nomeados assim em homenagem a Simón Bolívar, o líder da revolta do século XIX contra o colonialismo espanhol, são alvo de uma campanha de intimidação e subversão sustentada pela classe dominante venezuelana em colaboração com as diversas agências de sua Senhorio americano, mas até agora espetacularmente mal sucedida.

Muitos na esquerda estão entusiasmados com a fala do líder venezuelano de “transcender o capitalismo” e construir o “socialismo do século XXI”. Eles esperam fervorosamente que Chávez possa usar sua posição no auge do Estado venezuelano para dar um golpe esmagador às forças de reação e impulsionar a Venezuela em uma nova direção revolucionária. Mas esta é uma ilusão perigosa, pois, como Karl Marx observou após a derrota da Comuna de Paris, em 1871, “a classe operária não pode simplesmente se apoderar da máquina de Estado [capitalista] pronta e usá-la para seus próprios propósitos”.

Alguns “marxistas” ativos no movimento operário venezuelano abandonaram esse axioma fundamental. Os seguidores de Ted Grant e Alan Woods no Comitê por uma Internacional Marxista (CMI [hoje Tendência Marxista Internacional / IMT; no Brasil, sua seção é a Esquerda Marxista]) denunciam os “sectários” e “formalistas” que “constantemente se referem a definições e citações feitas dos clássicos marxistas (‘devemos esmagar o velho Estado, etc.’), que em suas mãos se transformam de declarações científicas em clichês vazios ou encantamentos religiosos” (Marxist.com, 4 de maio de 2004). O CMI certamente não pode ser acusado de aderir – religiosamente ou de outra forma – aos princípios fundamentais do marxismo. Mas isso não muda o fato de que a revolução socialista na Venezuela, como em qualquer outro lugar, exige quebrar o Estado burguês e substituí-lo por instituições comprometidas com a defesa do poder operário.

Classe e Estado na Venezuela

A sociedade venezuelana foi decisivamente moldada por sua relação com o colosso imperialista ao norte. A descoberta de grandes reservas de petróleo durante a Primeira Guerra Mundial, no início da era do automóvel, aumentou enormemente a importância estratégica da Venezuela e hoje o país é o quinto maior exportador de petróleo do mundo. O petróleo representa aproximadamente um terço do produto interno bruto (PIB) do país e mais de 80% do total de suas receitas de exportação. Como resultado do boom do petróleo da década de 1970, a Venezuela hoje é uma sociedade altamente urbanizada, com 87% de sua população vivendo em cidades. Metade da força de trabalho é empregada na economia “não oficial” concentrada nas favelas, enquanto a agricultura contribui com apenas seis por cento do PIB. Dois terços dos alimentos do país têm de ser importados.

Em 1º de janeiro de 1976, o governo de Carlos Andrés Pérez nacionalizou a indústria petrolífera venezuelana e criou a estatal Petróleos de Venezuela Sociedad Anónima (PDVSA). Isso aumentou a participação do governo nas receitas do petróleo, mas a gestão dessas instalações petrolíferas recentemente nacionalizadas não mudou e, como resultado, as principais multinacionais petrolíferas internacionais continuaram a obter o petróleo venezuelano com um desconto substancial. Na década de 1980, a PDVSA começou a adquirir ativos de refino, distribuição e comercialização no exterior, incluindo a cadeia de postos de gasolina Citgo nos EUA. Nos anos 90, a indústria de petróleo da Venezuela foi reaberta a investidores externos. Hoje, cerca de um quarto da produção é controlada por empresas estrangeiras (Venezuelan Politics in the Chávez Era, Steve Ellner e Daniel Hellinger, eds., 2003).

Outra alavanca do controle imperialista é a dívida externa do país, que, de acordo com o “Relatório do Desenvolvimento Mundial” de 2005 do Banco Mundial, estava acima de $32.5 bilhões em 2002 (cerca de um terço do produto interno bruto). A maior parte foi acumulada nos anos 1970:

 “A dívida externa cresceu de US $ 1,2 bilhão em 1973 para US $ 11 bilhões em 1978. As somas astronômicas foram engolidas por projetos faraônicos. Milhões de dólares foram feitos em violação da lei e da constituição. Muito dinheiro foi usado para alimentar redes de clientelismo e beneficiou essencialmente o capital financeiro, cujos representantes eminentes ocuparam posições importantes dentro do aparato estatal.”

—Frédéric Lévêque, Réseau d’information et de solidarité avec l’Amérique latine (RISAL), 17 de maio de 2004

Os “oligarcas” venezuelanos, cujo poder social e político tem suas raízes na propriedade da indústria, do transporte, da banca e da mídia, estão ligados por mil fios aos centros do capital financeiro imperial. Seus primos rurais, os grandes proprietários de terras, dominam o campo. Seth DeLong, pesquisador sênior do Conselho de Assuntos Hemisféricos de Washington, estima que, apesar de uma reforma agrária de 1960, hoje “cerca de 75 a 80% da terra privada do país é de propriedade de 5% de todos os proprietários de terras” (Venezuelanalysis.com, 25 de fevereiro de 2005). O parasitismo da minúscula classe dominante da Venezuela foi racionalizado pelo racismo – a suposta superioridade dos “europeus” sobre as massas negras, indígenas e mestizas – e santificado pelos obscurantistas reacionários da Igreja Católica.

Do “caracazo” à “Revolução Bolivariana”

Uma combinação da queda dos preços do petróleo e do aumento da dívida produziu uma séria crise fiscal nos anos 80, o que levou o governo de Carlos Andrés Pérez a responder com a austeridade ditada pelo FMI e com “ajustes estruturais”. O primeiro passo foi a desregulamentação dos preços dos combustíveis. Na manhã de 27 de fevereiro de 1989, quando as pessoas a caminho do trabalho descobriram que as tarifas de ônibus haviam dobrado durante a noite, explodiram com raiva:

“Os ônibus foram derrubados e queimados, mas essa foi apenas a fase inicial da revolta. A rebelião tornou-se mais generalizada, com saques generalizados e a destruição de lojas e supermercados. Gangues de jovens dos subúrbios, pobres e zangados, invadiram o centro comercial de Caracas e passaram para as áreas residenciais privilegiadas dos ricos sob as encostas do Monte Ávila, próximo ao coração da cidade, que continuou sem controle durante toda a noite e no dia seguinte, transformando-se em uma prolongada e poderosa rebelião – o caracazo como era chamado – mas logo seria seguido por dias de brutal repressão militar.”

In the Shadow of the Liberator, Richard Gott, 2000

O exército matou até 3.000 pessoas, mas foi incapaz de conter a agitação. A partir desse momento, os mecanismos tradicionais de controle social começaram a quebrar. De repente, as formações esquerdista-nacionalistas, como o Movimento al Socialismo (MAS) e La Causa Radical (ambos rachas do Partido Comunista Venezuelano) começaram a crescer rapidamente. A dissidência popular encontrou expressão no corpo de oficiais da Venezuela quando, em fevereiro de 1992, um grupo de oficiais liderados pelo Coronel Hugo Rafael Chávez Frías fez uma tentativa mal sucedida de derrubar Pérez e sua agenda “neoliberal”. Nove meses mais tarde eles tentaram, e falharam, novamente. Em 1994, quando Rafael Caldera Rodríguez, que anteriormente ocupava o poder de 1969 a 1974, foi reeleito presidente, ele imediatamente reverteu algumas das medidas menos populares de Pérez, nacionalizou alguns bancos insolventes e anistiou Chávez. As credenciais populistas de Caldera foram reforçadas quando um representante do MAS recebeu um cargo no gabinete. No entanto, o novo governo não conseguiu virar a economia, e em abril de 1996, Caldera concordou com outro programa de ajuste estrutural do FMI. Entre 1993 e 1999, os salários reais caíram, a taxa de sindicalização caiu para metade (para apenas 13,5 por cento), o desemprego dobrou (de 6,3 para 14,9 por cento) e a economia “informal” expandiu-se. De acordo com o Banco Mundial:

“a porcentagem de venezuelanos que vivem na pobreza (renda familiar de menos de US $ 2 por dia) aumentou de 32,2% em 1991 para 48,5% em 2000. Da mesma forma, a proporção de pessoas que vivem em extrema pobreza – abaixo de US $ 1 por dia – subiu de 11,8% para 23,5%.”

Venezuela Country Brief, Banco Mundial, Agosto de 2004

Enquanto os pobres ficavam mais pobres, os ricos ficavam cada vez mais ricos: “A riqueza dos 40% mais pobres da população caiu de 19,1 por cento em 1981 para 14,7 por cento em 1997, enquanto que os pobres cresceram cada vez mais. Do decil mais rico aumentou de 21,8 para 32,8%” (Venezuelan Politics in the Chávez Era, Steve Ellner and Daniel Hellinger, eds., 2003).

Em março de 1994, assim que saiu da prisão, Chávez começou a organizar uma aliança “cívico-militar”, o Movimento Quinta República (MVR), que participou do “Polo Patriótico”, um bloco de partidos que se comprometeram a libertar a Venezuela da corrupção e da servidão neocolonial. Chávez recebeu 56% dos votos como candidato presidencial do Polo Patriótico nas eleições de dezembro de 1998:

“Chávez foi eleito no final de 1998 com base em três promessas básicas: primeiro, quebrar o velho sistema político venezuelano, conhecido como ‘puntofijismo’, nomeado assim pelo local em que os Democratas-Cristãos (Copei) e os social-democratas (Acción Democrática) assinaram um acordo para limitar o sistema político venezuelano a uma competição entre esses dois partidos, Punto Fijo. Segundo, Chávez prometeu acabar com a corrupção. E terceiro, Cháves prometeu aliviar a pobreza na Venezuela”

— G. Wilpert, Venezuelanalysis.com, 11 de Novembro de 2003

Poucos meses depois de ser eleito, a proposta de Chávez de convocar uma assembleia constituinte ganhou um mandato esmagador. Seus partidários levaram de lavada as eleições de julho de 1999 para a assembleia, e procederam a elaborar uma nova constituição declarando a Venezuela como um “estado democrático e social de direito e justiça”. Quando este documento foi ratificado por 70% dos eleitores em um referendo de dezembro de 1999, nasceu a nova “República Bolivariana da Venezuela”. Sete meses depois, em julho de 2000, Chávez foi eleito seu primeiro presidente.

As relações eram tensas entre os puntofijistas e os bolivarianos dentro do aparato estatal. Aqueles que haviam servido ao antigo regime não confiavam em Chávez, que parecia muito desinteressado em usar sua posição para proveito pessoal (uma característica que muitos em seu círculo não compartilham). Muitos antigos preocupavam-se que as denúncias bolivarianas de pobreza e “globalização” pudessem estimular as massas empobrecidas. Eles ficaram alarmados quando Chávez atribuiu quadros militares leais para monitorar o serviço civil:

“‘Os militares estão em toda parte’, um alto conselheiro econômico me explicou. ‘Às vezes parece que há um projeto secreto do qual você não sabe muito bem. Há realmente um partido militar, em alguns dos ministérios é um caso de poder dual.”

— Gott, op. cit.

Washington também ficou igualmente desconfiada das intenções bolivarianas. Para tranquilizar os imperialistas, o governo prometeu não tocar em nenhum investimento estrangeiro, embora, de acordo com Gott, Chávez tenha procurado evitar a responsabilidade pessoal por essa medida, arranjando estar fora do país quando ela foi anunciada.

Apesar das veementes denúncias contra o “neo-liberalismo”, o governo bolivariano propôs a privatização de empresas estatais de energia elétrica e alumínio, mantendo o controle da PDVSA. Em seu discurso inaugural, Chávez explicou o plano econômico de seu governo:

“Nosso projeto não é estatista nem neoliberal, estamos explorando o meio termo, onde a mão invisível do mercado se une à mão visível do Estado: tanto Estado quanto for necessário, tanto mercado quanto for possível.”

Ibid.

Enquanto proclamava seu compromisso com a justiça social, o governo venezuelano continuou a fazer pagamentos programados da sua dívida externa e, em uma tentativa óbvia de tranquilizar os reacionários, Chávez voltou a nomear Maritza Izaguirre como ministro das Finanças, apesar de que, sob o governo Caldera, ela havia introduzido muitas das medidas impopulares denunciadas pelos bolivarianos.

Mas, apesar das políticas econômicas conservadoras do governo, sua base popular foi encorajada pela crença de que o presidente estava do seu lado. Em novembro de 2001, a tensão entre os bolivarianos e os puntofijistas veio à tona quando Chávez, em uma tentativa de reforçar sua popularidade escorregadia, empurrou 49 decretos cumprindo algumas de suas promessas anteriores. Um desses limitou o controle estrangeiro da indústria de petróleo e dobrou os royalties devido ao governo. A oposição de direita respondeu acelerando seus planos de derrubar o regime. Enquanto alguns capitalistas venezuelanos procuravam chegar a um modus vivendi com Chávez, a maioria da burguesia e grande parte da pequena burguesia eram virulentemente hostis. A burocracia sindical venal da Confederación de Trabajadores de Venezuela (CTV), explorando demagogicamente algumas queixas legítimas de sua base, se aliou aos patrões contra Chávez. Alguns dos elementos mais corruptos e cínicos da esquerda, notadamente os estalinistas degenerados do grupo Bandera Roja (Bandeira Vermelha), também deram o seu apoio à oposição “democrática” pró-imperialista. Em 10 de dezembro de 2001, a CTV, apoiada pela Fedecámaras (associação patronal) e gestores da PDVSA, realizou uma greve de um dia para protestar contra os decretos emitidos por Chávez no mês anterior. Chávez respondeu em fevereiro de 2002 demitindo os principais gerentes da PDVSA, um ato que desencadeou um golpe apoiado pelos Estados Unidos dois meses depois.

O National Endowment for Democracy (NED) dos EUA, que canalizou os fundos da CIA para os contras nicaraguenses nos anos 80, estava há muito financiando a burocracia da CTV por meio do perversamente intitulado “Centro Americano para a Solidariedade Internacional do Trabalho” (ACILS, aka “Solidarity Center”), a encarnação contemporânea do infame American Institute for Free Labor Development. Entre 1997 e 2002, o NED forneceu oficialmente ACILS com US $ 70 0,000 para subversão na Venezuela (Monthly Review, maio de 2005). Não foi por acaso que o orçamento da NED na Venezuela quadruplicou no período imediatamente anterior ao golpe de abril de 2002. Entre outras coisas, patrocinou uma conferência de março de 2002 de burocratas da CTV, funcionários da Fedecámaras e membros da hierarquia católica para discutir perspectivas e prioridades para o futuro do país.

O golpe de abril de 2002: made in USA

Em 11 de abril de 2002, elementos do exército venezuelano prenderam Chávez, e o chefe da Fedecámaras, Pedro Carmona, proclamou-se chefe de Estado. Carmona imediatamente rescindiu a constituição, dissolveu a legislatura, suspendeu a Suprema Corte, revogou todos os decretos de Chávez e começou a reunir líderes bolivarianos. Com um cinismo consumado, ele anunciou: “Todos sentirão que há muita liberdade, pluralismo e respeito pelo estado de direito” (Associated Press, 12 de abril de 2002). Carmona foi apoiado pela mídia corporativa, grande parte da intelligentsia e do corpo de oficiais, a Igreja Católica e, naturalmente, os grandes capitalistas e latifundiários. Seu regime foi imediatamente reconhecido por Washington, Madri e pelo FMI, embora nenhum governo latino-americano estivesse ansioso para endossar a derrubada orquestrada pelos EUA de um governo eleito na região. Nunca houve dúvida sobre o envolvimento americano:

“visitas de venezuelanos que planejavam o golpe, incluindo o próprio Carmona, começaram, dizem fontes, ‘há vários meses’, e continuaram até semanas antes da tomada do poder na semana passada. Os visitantes eram recebidos na Casa Branca pelo homem que o presidente George W. Bush chamou para ser seu estrategista-chave para a América Latina, Otto Reich.

“Reich é um cubano-americano de direita que, sob Reagan, dirigia o Escritório de Diplomacia Pública. Esse respondia em teoria ao Departamento de Estado, mas investigações do Congresso mostraram que Reich se reportava diretamente ao Ajudante de Segurança Nacional de Reagan, o coronel Oliver North, na Casa Branca.

Observer  (Londres), 21 abril 2002

O ex-oficial da inteligência da marinha dos EUA, Wayne Madsen, relatou que:

“‘Primeiro ouvi falar do tenente-coronel James Rogers (o adjunto militar agora baseado na embaixada dos EUA em Caracas) indo lá em junho passado para estabelecer o terreno’, disse ontem o analista de inteligência Sr. Madsen. ‘Alguns de nossos agentes anti-narcóticos também estavam envolvidos’.

“Ele disse que a Marinha estava na área para operações não ligadas ao golpe, mas que ele entendeu ter ajudado com sinais de inteligência como o golpe se desenrolava. Disse que a Marinha ajudou com as comunicações de apoio aos militares venezuelanos, concentrando-se nas comunicações para e das missões diplomáticas em Caracas, pertencentes a Cuba, Líbia, Irã e Iraque – os quatro países que haviam manifestado apoio a Chávez”.

Guardian (Londres), 29 de abril de 2002

Apesar de Carmona ter mantido o poder por menos de 48 horas, encontrou tempo para se reunir com os embaixadores espanhóis e norte-americanos. O golpe desabou quando centenas de milhares de partidários plebeus se reuniram fora do palácio presidencial de Miraflores para exigir a restauração de Chávez, enquanto várias centenas de soldados leais, que haviam se escondido no porão depois de serem avisados ​​sobre o golpe, surgiram para prender Carmona.

Reportou-se que alguns oficiais sêniores, que haviam inicialmente seguido os golpistas, ficaram tão apavorados com as ações ditatoriais do chefe da Fedecámaras durante seu primeiro dia de governo, que retiraram seu apoio. Isso pode explicar por que, logo que voltou, Chávez imediatamente procurou abrir um “diálogo” com seus inimigos de direita, retrocedeu em algumas reformas propostas e anunciou que os gestores da PDVSA permaneceria no lugar. Em vez de ficarem aliviados, os direitistas viram essas aberturas como um sinal de fraqueza e lançaram uma greve / locaute para derrubar o governo Chávez em dezembro de 2002. O locaute foi apoiado por todos os grandes capitalistas e uma minoria de trabalhadores. Ele infligiu sérios danos econômicos, mas desmoronou depois de alguns meses. Desta vez, Chávez foi menos conciliador e imediatamente demitiu 18 mil dos participantes (incluindo os patrões da PDVSA).

A maioria da classe trabalhadora e vários sindicatos importantes se opuseram ativamente ao locaute patronal:

“… no processo de recuperar a PDVSA, houve muitas experiências de controle dos trabalhadores, notadamente nas refinarias de El Ilenadero de Yagüa, Puerto La Cruz e El Palito, nas quais dezenas de trabalhadores trabalhavam dia e noite para combater a sabotagem econômica e também a pressão dos trabalhadores. Também foi a pressão dos trabalhadores que forçou […] Ferrari a abrir e distribuir gasolina.

“Experimentos semelhantes ocorreram em outros ramos da indústria. No meio do locaute, os trabalhadores tomaram empresas exigindo a sua reabertura e controle dos trabalhadores sobre a produção. Este foi o caso da Texdala, uma fábrica de têxteis em Maracay, e da Central Carora, uma fábrica de açúcar no estado de Lara.”

— Frédéric Lévêque, RISAL, 5 de Junho de 2003

Após o fracasso do locaute, a oposição de direita, que, conforme o National Catholic Reporter  (2 de abril de 2004), recebia um milhão de dólares por ano dos Estados Unidos para lutar contra Chávez, começou a reunir assinaturas para um referendo revocatório presidencial. A votação, que acabou por ser realizada em 15 de agosto de 2004, deu um golpe devastador à oposição. Uma destacada mercenária imperialista, Maria Corina Machado (líder do Súmate, o grupo que liderou a campanha de recall) enfrenta acusações criminais por usar ilegalmente fundos estrangeiros para tentar influenciar o resultado. Em um sinal para Caracas, Machado foi convidado para a Casa Branca em maio de 2005 por George W. Bush.

A vitória decisiva de Chávez no referendo enfraqueceu dramaticamente a oposição. A vitória posterior dos candidatos pró-Chávez nas eleições regionais de 2004 levou à nomeação de uma maioria chavista no Supremo Tribunal. Com a direita em retirada, Chávez balançou para a esquerda, pelo menos retoricamente, e em janeiro de 2005, no Fórum Social Mundial em Porto Alegre, declarou que doravante seu governo estaria perseguindo uma agenda “socialista”.

Muitos esquerdistas apoiaram Chávez no referendo revogatório, sob o argumento de que seus oponentes eram reacionários. Mas votar “não” às novas eleições presidenciais equivaleria a dar apoio político ao atual governo burguês, algo que os marxistas jamais poderão fazer. Nessas circunstâncias, sem a possibilidade de expressar uma alternativa clara e proletária, o melhor que os trabalhadores venezuelanos com consciência de classe podiam fazer era anular seus votos, deixando clara sua disposição para defender Chávez, com as armas na mão, contra qualquer ataque extra-legal feito pela direita ou seus padrinhos imperialistas. [Para mais detalhes, ver Acerca do plebiscito venezuelano de 2004, de dezembro de 2005: https://rr4i.milharal.org/2005/03/12/acerca-do-plebiscito-venezuelano-de-2004/]

Reforma social e “o movimento”

O governo Chávez iniciou uma série de novos programas sociais significativos (conhecidos como “missões”) que estão fornecendo assistência importante a milhões de pobres da Venezuela. A Missão Mercal estabeleceu uma cadeia de supermercados para vender bens a preços subsidiados. A Missão Robinson, um programa de alfabetização em massa, já ensinou mais de um milhão de pessoas pobres a ler e a escrever. A Missão Ribas ajuda aqueles que nunca se formaram no ensino médio a retomar seus estudos, enquanto a Missão Sucre oferece bolsas para estudantes empobrecidos para frequentar a faculdade. A Missão Vuelvan Caras é um programa de treinamento através do qual graduados pela Missão Ribas e outros podem aprender as habilidades necessárias para empregos decentes e produtivos.

O objetivo da Missão Barrio Adentro é criar um sistema de saúde gratuito e universal. 20.000 profissionais médicos cubanos já criaram clínicas para fornecer saúde e atendimento odontológico gratuito para os pobres urbanos e rurais. Em troca, a Venezuela está vendendo petróleo para Cuba a preços bem inferiores aos do mercado internacional. A Missão Barrio Adentro II, lançada em junho de 2005, está construindo hospitais, além de instalações de diagnóstico e reabilitação. Chávez anunciou planos para a Missão Barrio Adentro III, para organizar a aquisição de equipamentos médicos modernos. As missões bolivarianas, que são extremamente populares, ajudaram a atrair milhões de venezuelanos pobres para a atividade política por meio de sua ênfase na participação das “bases”. Grande parte disso ocorreu através dos “círculos bolivarianos” – grupos locais de sete a dez indivíduos que ajudam a matricular pessoas nas “missões” e depois apoiá-las e monitorar seu progresso. Os círculos bolivarianos, que têm uma relação quase independente com o Estado e em seu auge reivindicavam uma adesão ativa de dois milhões, estão diminuindo e sendo substituídos por outras redes organizativas.

Em fevereiro 2002 o governo anunciou que emitiria títulos para a terra em favelas aos habitantes organizados em comitês de terra de entre 100 e 200 famílias. Esses comitês de terras urbanas tornaram-se desde então um pilar central da “Revolução Bolivariana”:

“A reforma agrária urbana está funcionando como um catalisador para a mobilização dos barrios venezuelanos, após o fiasco dos Círculos Bolivarianos … A mobilização de mais de 5.000 comitês de terras, representando uma população total de mais de 5 milhões de venezuelanos, ou 20% da população, o que faz com que os comitês de terras urbanas constituam o maior movimento social organizado da Venezuela

—Gregory Wilpert, Venezuelanalysis.com

O governo também criou pequenas instituições financeiras (por exemplo, o Banco da Mulher e o Banco Popular) para fornecer crédito barato para pequenas empresas e cooperativas. O Sindicato Nacional das Donas de Casa, lançado em 2003, é outro participante fundamental nos planos de “desenvolvimento endógeno”:

“Também temos pessoas que ensinam às mulheres como transformar cooperativas em pequenas empresas e trabalho comunitário” [Lizarde Prada, líder do Sindicato das Donas de Casa] explicou. ‘Por exemplo, se você vive em um determinado bairro e tem as matérias-primas, como bananas, como usá-las para uma loja de doces e usar o transporte local para o seu negócio. Tudo isso gerará mais trabalho local. Há diferentes cooperativas afiliadas ao Sindicato das Donas de Casa, algumas envolvem cozinhar e distribuir alimentos, outras têm a ver com têxteis e costura.”

—Benjamin Dangl, ZNet, 27 de abril de 2005

Apesar de melhorar a vida de muitos dos mais empobrecidos, esse tipo de iniciativa não abordam as raízes da desigualdade social na ordem mundial imperialista. Chávez recentemente começou a falar de “socialismo do século XXI”, mas as medidas propostas até agora não parecem ir muito além do “Programa Econômico de Transição” de 1999-2000, que projeta o desenvolvimento de uma “economia humanista, autogerenciada e competitiva” para a qual:

“O pano de fundo é a organização social da produção em que o mercado, como mecanismo fundamental de atribuição de recursos e fatores, incorpora formas organizacionais complementares de propriedade privada Que, como as cooperativas e as associações estratégicas de consumidores e produtores, promovem uma diversificação dinâmica da produção e agregam valor.”

Há uma contradição fundamental entre os interesses de quem possui e controla as alavancas econômicas essenciais – a burguesia venezuelana e seus patronos imperialistas – e a massa da população. Em algumas circunstâncias, os capitalistas podem ser obrigados a fazer concessões, mas, enquanto o Estado burguês permanecer intacto, os ganhos para os trabalhadores podem ser facilmente revertidos quando a relação de forças mudar.

Limites da política agrária bolivariana

A suposta “guerra contra os latifúndios” ilustra os limites da experiência bolivariana. Entre os 49 decretos promulgados por Chávez em novembro de 2001, um que particularmente enfureceu os oligarcas foi a criação do Instituto Nacional de Tierras (INTI), que foi encarregado de implementar uma modesta reforma agrária. A lei impôs um imposto suplementar sobre as terras onde mais de 80% não é trabalhada e permitiu a expropriação – com compensação total – de “terras ociosas de alta qualidade de mais de 100 hectares ou terras de qualidade inferior de mais de 5.000 hectares” (New Left Review, Maio-Junho 2003). As terras expropriadas deveriam ser entregues às cooperativas de agricultores. A reforma tinha como objetivo combater a fome de terra dos camponeses pobres, modernizar o campo e estimular a produção agrícola, aumentando assim a “soberania alimentar” da Venezuela. Ricaurte Leonete, chefe do INTI, destacou que não se tratava de uma medida anticapitalista: “Nossos terratenientes [latifundiários] nem são capitalistas, os capitalistas usam suas terras … Na Europa o capitalismo se livrou desse tipo de comportamento parasitário há muito tempo” (citado no Le Monde Diplomatique, outubro de 2003).

Entretanto, apesar dos ataques retóricos ocasionais contra parasitas, o regime não tocou em nenhuma propriedade privada por mais de três anos. Entretanto, mais de 100 líderes camponeses foram mortos por gangues armadas que trabalham em nome dos grandes proprietários de terras. Em alguns casos, as autoridades bolivarianas locais se alinharam com as elites rurais:

“É uma coisa quando o inimigo é um governador da oposição – como nos estados de Yaracuy, Apure e Carabobo – ou um político do ancien régime. Mas em janeiro de 2002, em El Robal (estado de Cojedes), foi Jhonny Yanez Rangel quem soltou os cães. Ele havia sido eleito como membro do Movimento pela Quinta República (MVR, o partido do presidente). ‘Ele expulsou os camponeses e destruiu seus ranchos e seus equipamentos, tudo estava perdido’, diz Vásquez [um camponês sem terra], ainda furioso com o que aconteceu. Como poderia um governador revolucionário agir contra a revolução?”

Le Monde Diplomatique, outubro de 2003

Em meados de janeiro de 2005, com o governo menos ansioso para conciliar os reacionários, Rangel enviou 200 soldados da Guarda Nacional para a propriedade El Charcote, de 32 mil hectares (propriedade do milionário britânico Lord Vestey), onde várias centenas de camponeses sem terra ocupavam há anos. O Washington Post (14 de janeiro de 2005) imediatamente se aproveitou disto como um “assalto à propriedade privada”, que provou que Chávez “está minando os alicerces da democracia e da livre iniciativa”. A mídia europeia tratou de forma menos histérica. A BBC descreveu o anúncio de Chávez de que a reforma agrária seria acelerada como “mais modesta do que muitos esperavam”, e a Radio Netherlands observou:

“Embora o presidente Hugo Chávez tenha falado uma vez de uma ‘guerra contra as terras’, o governo agora evita cuidadosamente usar a palavra ‘confisco’. Ele está simplesmente ‘retomando’ terras que, embora sempre tenham sido ‘propriedade pública’, foram duvidosamente ‘ocupadas’ por proprietários e empresas privadas.

Radio Netherlands, 15 de março de 2005

A discrepância entre a dura conversa de “guerra contra o latifúndio” e as tímidas medidas efetivamente empreendidas são destacadas pelas tentativas recentes do regime de “coordenação” com os proprietários de terras para chegar a acordos negociados e por sua contínua relutância em apoiar as ocupações camponesas. Apesar de toda a retórica radical, Chávez está bem ciente de que uma verdadeira revolução agrária que desarraigasse os grandes proprietários de terras ameaçaria inevitavelmente a propriedade capitalista nas cidades também. Nos últimos anos, a fim de aplacar os pobres rurais sem ofender os ricos proprietários de terras, o regime tem parcelado as terras estatais, transferindo mais de dois milhões de hectares para 130 mil famílias e cooperativas agrícolas. Ao fazê-lo, o governo agiu para expandir a influência do mercado capitalista e manter a influência dos grandes proprietários.

Chávez e o movimento operário

O governo Chávez aumentou o salário mínimo várias vezes – incluindo um aumento de 26 por cento em maio de 2005 (aproximadamente igual à taxa anual de inflação), tornando ainda mais difícil para os empregadores despedir trabalhadores. Essas medidas, que só se aplicam à metade da força de trabalho empregada na economia “formal”, tornaram mais fácil a sindicalização dos trabalhadores.

 Quando Chávez chegou ao poder, a principal federação sindical era a altamente burocratizada CVT, tradicionalmente integrada de forma estreita à autodeclarada “social-democrata” Acción Democrática, que ajudou a erguer o regime puntofijista. Em março de 2000, Chávez declarou ilegal a greve dos trabalhadores da PDVSA por melhores salários e condições de trabalho e exigiu que uma nova liderança sindical fosse eleita antes das negociações poderem continuar. Ao invés de cumprir a demanda, o alto escalão do sindicato prontamente cancelou a ação. Mas sete meses depois, em outubro, 30 mil trabalhadores do petróleo voltaram a entrar em greve e, após quatro dias, arrebataram um aumento salarial de 60% da administração da PDVSA. Desta vez, o governo não procurou intervir, já que os sindicatos que representavam mais de um milhão de funcionários do setor público declararam sua intenção de entrar em greve em solidariedade. (BBC News Online, 15 de outubro de 2000).

Em 2001, numa tentativa de romper o controle da burocracia da CTV, o governo decretou que todos os sindicatos deviam imediatamente realizar eleições. Embora a intervenção de Chávez no movimento sindical fosse popular entre muitos trabalhadores frustrados pelos enganadores da CTV, os marxistas, por uma questão de princípio, se opõem a qualquer intromissão do governo capitalista nos sindicatos. Aqueles que dependem do Estado burguês para combater a corrupção sindical apenas enfraquecem o movimento operário. Quando os burocratas da CTV conseguiram ganhar a votação, os partidários de Chávez se separaram e fundaram a União Nacional de Trabajadores (UNT), em abril de 2003. Desde então, a UNT cresceu rapidamente e agora representa a grande maioria dos trabalhadores do setor público e metade daqueles do setor privado.

Aqueles na esquerda que querem ver Chávez como um socialista revolucionário foram encorajados pela nacionalização recente de várias empresas. Alan Woods, líder do Comitê para uma Internacional Marxista, declarou que:

“O fato de que o presidente Chávez veio a público a favor do socialismo é uma indicação mais clara de para aonde a Revolução Bolivariana está se movendo. A nacionalização da Venepal e agora também da CNV corrobora essa direção, e as pessoas que nos criticaram por apontar que a Revolução Bolivariana teria que tomar o caminho socialista ou falharia, mostraram-se completamente erradas”.

—Marxist.com, 10 de Junho de 2005

A nacionalização em Janeiro de 2005 da fábrica de papel Venepal (que tinha ido à falência em consequência da participação do seu proprietário na “greve geral” dos patrões de 2002-2003) só ocorreu depois de várias centenas de trabalhadores, respondendo ao seu encerramento em setembro de 2004, ocuparem a fábrica e retomarem a produção. Chávez não pretendia que isso representasse um passo em direção ao socialismo: “A expropriação de Venepal é uma exceção, não uma medida política, nem uma medida governamental. Não tomaremos a terra; se é sua, é sua. Mas empresa que fecha e é abandonada, nós vamos atrás delas. De todas elas.” (Venezuelanalysis.com, 20 de janeiro de 2005). Somente em dezembro de 2004, depois que a empresa declarou oficialmente falência, o governo a nacionalizou – e só depois de pagar aos proprietários seu valor de mercado total. Em abril de 2005, o governo também assumiu a Construtora Nacional de Válvulas (CNV), que também havia sido fechada por seu proprietário (ex-presidente da PDVSA, Andrés Sosa Pietri). Neste caso também, as autoridades bolivarianas agiram somente depois que cerca de 60 ex-funcionários da CNV ocuparam a fábrica.

O governo anunciou planos para a conversão de outras empresas falidas, bem como algumas empresas privadas “co-geridas” por funcionários, em Empresas de Produção Social (EPSs):

“Exemplos de empresas que deveriam ser transformadas em EPS são a Cadafe (empresa elétrica), a Hidroven (companhia de água), o Metro, a Conviasa (empresa área estatal). A empresa petrolífera PDVSA é uma empresa que já passou pela transição da empresa capitalista para a empresa de produção social, disse Chávez …

“As expropriações para avançar este programa seriam, no entanto, apenas um último recurso. Seriam tentados acordos com os atuais proprietários, de modo que as empresas pudessem reabrir como empresas de produção social com apoio governamental. Acordos poderiam ser alcançados, ‘sempre que os proprietários estiverem dispostos a melhorar a empresa, promoverem a participação dos trabalhadores e envolvê-los na distribuição dos produtos, bem como torná-los participantes nos benefícios [da empresa]’, disse Chávez.”

—Venezuelanalysis.com, 18 de Julho de 2005

Apesar do desejo alguns na esquerda, a realidade dos trabalhadores “co-gerenciando” com os patrões não tem nada a ver com o socialismo:

“Os trabalhadores na Cadafe, a empresa estatal que fornece 60 por cento da eletricidade na Venezuela, começaram a pressionar pela co-gestão logo depois Chávez ter sido eleito, em 1998. Em 2002, pouco depois do golpe de abril, a Cadafe começou oficialmente a transição para a co-gestão. Mas três anos depois, o papel dos trabalhadores no processo de tomada de decisão ainda é limitado a duas posições em um comitê de coordenação de cinco membros – um grupo que pode fazer recomendações ao presidente da empresa, mas ele não tem obrigação de prestar atenção. Depois de dar à administração estatal a oportunidade de implementar uma co-gestão real, os trabalhadores da Cadafe, liderados pela federação sindical Fetraelec, organizaram uma série de protestos articulando sua impaciência. É uma estratégia complicada, porque a maioria desses trabalhadores são fervorosos partidários do presidente Chávez, mas seus protestos são necessariamente dirigidos contra o Ministério da Energia – a entidade estatal encarregada de Cadafe”.

Monthly Review, junho de 2005

A maior co-gestão de “sucesso” é a da Alcasa, uma empresa estatal de alumínio, localizada na cidade industrial de Puerto Ordaz, onde os conselhos de empresa departamentais têm permissão para discutir o “orçamento participativo” da empresa. Em abril de 2005, os 2.700 empregados da fábrica conseguiram eleger dois dos cinco diretores. O presidente da Alcasa, Carlos Lanz, ex-líder guerrilheiro, sugeriu: “Trata-se de trabalhadores que controlam a fábrica e por isso é um passo em direção ao socialismo do século XXI” (BBC News Online, 17 de Agosto de 2005). Na realidade, trata-se simplesmente de uma forma de aumentar a produtividade através da aceleração, algo que os gestores sempre favoreceram:

“‘Os gestores e os trabalhadores estão a gerir este negócio em conjunto,’ disse ‘[o trabalhador da Alcasa Pedro] Gomez, acima do estrondo de empilhadeiras e de ventiladores industriais zumbindo, com suor escorrendo pelo rosto do calor da casa de fundição.

New York Times, 3 de agosto de 2005

A liderança sindical bolivariana redefine com prazer o “socialismo” para corresponder à política de co-gestão do regime. Os dois principais slogans da UNT para o primeiro de maio de 2005 foram: “Co-gestão é revolução” e “Os trabalhadores venezuelanos estão construindo o socialismo bolivariano” (Green Left Weekly, 11 de maio de 2005). Uma visão do “socialismo” como uma economia de mercado descentralizada, na qual os trabalhadores consultam a administração sobre as decisões e em que o Estado oferece programas sociais extensos pode ser inspirador para muitos venezuelanos, mas a ideia de criar capitalismo socialmente consciente, humano e geridos por trabalhadores é uma fantasia irrealizável e pequeno-burguesa.

O caminho para o pseudossocialismo bolivariano começa com um resgate publicamente financiado para os capitalistas que levaram as suas empresas à falência, e prossegue, se tudo correr bem, convertendo os funcionários em pequenos proprietários-gestores:

“Alexix Ornevo, ex-membro do executivo do agora extinto sindicato da Venepal e atual membro da diretoria do Invepal [o novo nome da Venepal nacionalizada], observou que, já que não tinham mais patrões, já não precisavam de um sindicato, já que os trabalhadores estavam agora agrupados em uma cooperativa (Covimpa) para gerir a empresa. E como uma cooperativa, Ornevo foi rápido em apontar, eles têm vários benefícios, incluindo alívio constitucional de pagar impostos. Além disso, graças à Constituição Bolivariana de 1999, a Covimpa, que agora possui 49% do capital da Invepal, tem o direito legal de aumentar essa participação até 95%.”

Monthly Review, junho 2005

Cooperativas que sobreviverem e florescerem acabarão ganhando quota de mercado suficiente para empurrar seus concorrentes para fora do negócio. Nesse ponto, elas vão querer a chance de expandir suas operações para absorver e reorganizar as cooperativas menos rentáveis ​​e, sem dúvida, esperarão receberem uma parte de qualquer lucro futuro como uma recompensa por sua experiência. Os membros das cooperativas mais bem sucedidas podem muito bem achar que a gestão de seus vários negócios deixa pouco tempo para o trabalho. Com o passar do tempo, uma parte maior e maior de sua renda será provavelmente derivada de dividendos (participação nos lucros). Isso, é claro, não é socialismo, mas capitalismo, mesmo que disfarçado por um tempo pela ilusão de que é um capitalismo exclusivamente venezuelano, harmonioso e compassivo. O socialismo genuíno começa pela expropriação da classe capitalista como um todo, a destruição de seu aparelho de Estado repressivo e a criação de novas instituições econômicas baseadas no princípio do planejamento e da cooperação, e não de uma competição voltada para os lucros.

Bonaparte bolivariano

Enquanto Chávez derrotou decisivamente a oposição em todo confronto político até a data (e atualmente se beneficia do apoio de uma clara maioria da população), os capitalistas retém a posse dos principais meios de produção, comunicação e transporte; seu aparelho de Estado permanece essencialmente intacto e sabem que em qualquer grande confronto podem contar com o apoio de outros regimes burgueses da região apoiados pela superpotência imperialista no norte. A ambivalência mostrada até agora pelos militares venezuelanos é pelo menos parcialmente atribuível ao fato de que grande parte do corpo de oficiais é recrutado em camadas sociais mais plebeias do que na maioria do resto da América Latina.

Mesmo os partidários de Chávez são céticos quanto à sua confusa falação nacionalista de esquerda sobre “menos capitalismo e mais socialismo” (ZNet, 10 de abril de 2005) como se fossem dois pontos em um continum, determinados pela porcentagem da economia que é de propriedade pública. Na realidade, são duas ordens sociais mutuamente antagónicas separadas por uma revolução ou contrarrevolução, isto é, a guerra civil. Em uma pesquisa de opinião realizada em 2005 por uma empresa considerada não simpática a Chávez, mais de 70% dos venezuelanos expressaram ampla aprovação do presidente e 35% disseram que queriam que o governo estabelecesse o socialismo, enquanto outros 10% estavam indecisos. No entanto, menos de 20% dos partidários de Chávez acreditavam que ele seria capaz de construir uma sociedade socialista (Venezuelanalysis.com, 3 de maio de 2005).

Chávez saiu de seu caminho para louvar “Jesus Cristo, um dos maiores revolucionários … O verdadeiro Cristo, Redentor dos Pobres” (ZNet, 10 de abril de 2005). Em julho de 2005, o líder bolivariano afirmou: “Na história da Venezuela nunca houve um governo que estivesse mais próximo dos princípios do cristianismo do que este” (Vheadline.com, 14 de julho de 2005). De fato, o principal “princípio” do governo de Chávez é o bonapartismo – um termo que designa um governo “forte” que parece flutuar acima dos conflitos de classes sociais concorrentes, mas de fato equilibra precariamente entre eles.

Para manter seu espaço de manobra, Chávez, por vezes, achou oportuno dispensar a “democracia participativa”, que supostamente caracteriza a revolução bolivariana:

“Em resposta à crescente mobilização exigindo primárias para os candidatos regionais [na coalizão chavista], a posição de Chávez surpreendeu a muitos. Ele declarou no mês passado: ‘Já anunciamos os candidatos, e estes são os candidatos, os que não querem a unidade podem juntar-se aos escualidos (a oposição)’. No entanto, uma vez que estes candidatos foram nomeados por um comitê nacional dominado pelo partido do governo, o Movimento Quinta República (MVR), o resultado tem sido a oposição feroz em muitas comunidades, que estão exigindo que o governo atue de acordo com sua retórica participativa.”.

—Venezuelanalysis.com, 17 de outubro de 2004

Os candidatos da coligação pró-Chávez “Grupo para a Mudança”, para as eleições da Assembleia Nacional, de dezembro de 2005, também foram escolhidos pelo “Comando Tático Nacional”, e não pelas bases. O comportamento bonapartista de Chávez parece derivar de um desejo em melhorar as condições dos pobres e oprimidos sem violar a propriedade capitalista. Contudo, os interesses fundamentais do proletariado e da burguesia são irreconciliavelmente contrapostos ​​e, apesar de toda a sua retórica socialista, Chávez está bem ciente de que o seu poder provém da sua posição de chefe do Estado capitalista. Ele pode desejar que não tenha que se comportar tão autocraticamente, mas ele não pode confiar nas bases bolivarianas para tomar decisões significativas, porque elas são susceptíveis de perturbarem o equilíbrio delicado que ele está tentando forjar.

Os imperialistas europeus, que tendem a ser mais sofisticados sobre coisas como a “Revolução Bolivariana” do que aqueles dentro e ao redor da Casa Branca, não estão particularmente alarmados com os acontecimentos em Caracas. Durante uma visita à Europa, em outubro de 2005, Chávez se reuniu com o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, que mais tarde disse ao jornal italiano La Reppublica que o líder bolivariano é um “cara pragmático”, com quem é possível fazer negócios. “É verdade que há distâncias ideológicas [com os EUA], mas no final, as relações comerciais são boas, eu já conheço [Chávez] e também tenho boas relações com ele”, comentou Berlusconi (Venezuelanalysis.com, 18 de Outubro de 2005). O atual chefe da Fedecámaras, José Luis Betancourt, também optou por dar a outra face, pelo menos em público, declarando: “o investimento conjunto público e privado é a única maneira de desenvolver este país de forma harmoniosa” (Venezuelanalysis.com, 26 Outubro de 2005). O representante dos patrões “aparentemente respondeu bem à declaração de Chávez de que os direitos de propriedade seriam respeitados durante o desenvolvimento da Venezuela” (Ibid.)

A esmagadora maioria da classe dominante venezuelana ainda odeia Chávez com paixão. Eles estão acostumados a desfrutar de estreitos laços pessoais e financeiros com os governantes políticos do país, e estão desconfortáveis ​em ter um bonapartista de esquerda como responsável pelo seu Estado. No entanto, a relativa independência de Chávez em relação à burguesia lhe permite servir melhor os interesses da capital venezuelano, um paradoxo que ele explicou a uma “Mesa Redonda de Macro Business” em Caracas em julho passado, que reuniu funcionários do governo com empresários venezuelanos e norte-americanos:

“A Venezuela, e eu disse isso antes de me tornar presidente, é uma espécie de – nós diriam em ‘95, ‘97 – a Venezuela é uma espécie de bomba (tic tac! tic tac!). Nós vamos começar a desativar o mecanismo dessa bomba. E hoje, não é que esteja totalmente desativada, mas tenho certeza de que é muito menos provável que esta bomba exploda hoje do que era em face do que tínhamos desde 1985, ‘88, ‘89 – lá, ela já havia explodido. Os anos ‘90 até ‘98, pobreza, desigualdade.”

President Chavez’s Speech to Venezuelan and U.S. Business Representatives, Venezuelanalysis.com, 6 de julho de 2005

Apesar de contrastar agudamente com a retórica socialista sobre o capitalismo ser “selvagem”, a fala de Chávez sobre “desativar” as contradições sociais está no centro de todo o projeto bolivariano. Com suas promessas irrealizáveis ​​de promover simultaneamente os interesses dos pobres e dos tubarões financeiros imperialistas através de uma forma mais inclusiva e socialmente responsável de desenvolvimento “endógeno”, Chávez, sem dúvida, involuntariamente, está ajudando a lançar as bases para uma direita ressurgente lançar uma sangrenta vingança no futuro.

“Anti-imperialismo” bolivariano

A implacável hostilidade de Washington contra o governo bolivariano é uma refutação viva das pretensões do governo Bush de defender a “democracia” e a “liberdade” para os povos ignorantes da Terra. Apesar de descreverem de má vontade os triunfos eleitorais repetidos dos chavistas como “tecnicamente legais”, os funcionários norte-americanos alertam que Chávez representa “uma nova geração de autoritarismo” e queixam-se de que ele não governa “democraticamente”, isso é, recusa-se a receber ordens de Washington.

Chávez condenou as invasões dos EUA ao Afeganistão e ao Iraque; criticou o FMI e a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) e fez amizade com Fidel Castro. O Banco Central venezuelano recentemente começou a converter a maior parte de suas reservas em moeda estrangeira de dólares em euros (Venezuelanalysis.com, 5 de outubro), e Chávez deu a entender que ele pode um dia decidir começar a fixar o preço das exportações de petróleo em euros também. Tudo isso fez dele o bête noire atual da máquina de propaganda imperialista americana e, portanto, o receptor natural de uma fatwa de assassinato do teocrata fanático e apoiador de Bush, Pat Robertson. Quando os protestos de massa na Bolívia atingiram dimensões pré-revolucionárias em junho de 2005, o Secretário de Estado Adjunto dos Estados Unidos para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Roger Noriega, sabia quem culpar: “O perfil de Chávez na Bolívia tem sido muito evidente desde o início” (Miami Herald, 8 de Junho de 2005). Fidel Castro, o bicho-papão latino-americano tradicional para fanáticos anti-comunistas delirantes, queixou-se de forma brincalhona a Chávez: “Estou percebendo que sua amizade está prejudicando a minha imagem” (Reuters, 30 de abril de 2005).

A aventura fracassada dos EUA no Iraque fez um ataque militar imediato à Venezuela menos provável, mas o planejamento está certamente em andamento. A ajuda massiva dos EUA triplicou o tamanho das forças armadas da Colômbia nos últimos anos, proporcionando assim a Washington um aliado confiável na região. Quando Chávez anunciou planos para expandir modestamente as milícias populares, comprando 100 mil rifles AK-47 e 40 helicópteros da Rússia, o governo Bush esperneou que ele ameaçava a paz da região. O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, perguntou cinicamente: “O que no mundo [é a ameaça] que a Venezuela vê que os faz querer ter todas essas armas?” (BBC News Online, 1 de julho de 2005).

Apesar das tentativas de diversificar seus mercados, a Venezuela continua dependente das vendas para os EUA de aproximadamente dois terços de suas receitas de exportação de petróleo que, como os bolivarianos sugeriram, é razão suficiente para chegar a um acordo com os EUA. Depois do golpe de abril de 2002, um exasperado Chávez declarou: “Comigo no poder o fornecimento de petróleo para os EUA está assegurado. Se você apoiar os esforços para me empurrar para fora do poder haverá uma guerra civil e o petróleo será interrompido” (ZNet, 10 de Setembro de 2002). Na Mesa Redonda de julho de 2005, Chávez falou de ter “amigos em ambos os partidos” da classe dominante americana. A retórica anti-imperialista que tanto entusiasmou seus admiradores esquerdistas em Porto Alegre foi posta de lado em favor de seus “queridos amigos de negócios norte-americanos” por “paz”, “compreensão”, “transparência” e “verdadeira integração”. Longe de apelar à “superar o capitalismo” através do socialismo bolivariano, o lider maximo venezuelano tece fantasias de auto-reforma pacífica do imperialismo através de uma espécie de imposto Tobin, que poderia “criar um fundo que permitiria aos governos e à sociedade forjar uma aliança histórica para a sobrevivência da espécie humana (Venezuelanalysis.com, 6 de julho de 2005).

A expansão dos programas sociais da “Revolução Bolivariana” foi paga pelo aumento astronômico dos preços internacionais do petróleo. Quando Chávez assumiu o cargo em 1998, o petróleo estava vendendo por cerca de US $ 12 o barril – em 2005 ele estava indo para US $ 60. Sob o governo de Chávez, os royalties pagos por companhias estrangeiras de petróleo aumentaram de 1% para 16,6% (New York Times, 5 de julho de 2005). Contudo, enquanto as receitas do governo aumentaram, a dívida pública da Venezuela também aumentou, em grande parte como resultado de uma política deliberada de subsidiar generosamente os bancos venezuelanos:

“‘Mas o que torna isso realmente louco’, diz García [Mendoza, presidente do Banco Venezuelano de Crédito], ‘é que o governo está depositando todas as suas receitas de petróleo nos mesmos bancos por cerca de 5 por cento e, em seguida, pegando emprestando de volta a 14 por cento. É uma maneira muito fácil para os banqueiros de ganharem dinheiro. É por isso que eu digo que este é um governo para os ricos”

—Christian Parenti, “Hugo Chávez and Petro Populism,” The Nation, 11 de abril de 2005

Os chavistas aparentemente imaginam que a subordinação latino-americana aos EUA será reduzida se o comércio regional e a cooperação econômica forem expandidos. Até o momento, Cuba é o único país que demonstrou entusiasmo pela proposta de Chávez de “Alternativa Bolivariana para as Américas” (ALBA) para competir com a ALCA, dominada pelos EUA. Mas a lógica de tentar alistar outros regimes capitalistas em um projeto de solidariedade bolivariana foi claramente exibida em agosto de 2005, quando Chávez ofereceu apoio ao governo do Equador contra trabalhadores que, exigindo maior investimento e mais empregos, pararam as exportações de petróleo desse país. Prejudicando o poder de barganha dos trabalhadores, o governo Chávez anunciou: “A Venezuela vai cobrir os compromissos [de exportação de petróleo] que o governo equatoriano não conseguiu cumprir nestes dias, não terão que pagar um centavo” (Reuters, 21 de agosto de 2005).

Marxismo e Estado na Venezuela

Essa vergonhosa furação de greve ocorreu sem que houvesse comentários por parte de muitos dos admiradores internacionais de Chávez, incluindo os do Comitê por uma Internacional Marxista, que defendem a independência política da classe trabalhadora da burguesia e, pelo menos em teoria, defendem a criação de um partido de vanguarda leninista para executar o programa de Trotsky da revolução permanente. Mas, para o CMI, de Alan Woods [atual Tendência Marxista Internacional / IMT, cuja seção no Brasil é a Esquerda Marxista] nada disso parece se aplicar na Venezuela.

Os marxistas não desprezam as medidas implementadas pelo governo de Chávez, que melhoram a vida dos pobres e despossuídos – mas tampouco concluímos que os princípios fundamentais do socialismo já não se aplicam. Os capitalistas e os trabalhadores têm contraposto os interesses materiais na Venezuela, como fazem em qualquer outro lugar. Nenhuma alquimia bolivariana pode transformar um instrumento construído para defender e promover a exploração capitalista – o Estado burguês – em uma agência de libertação social.

A CMI afirma que Chávez “realizou uma expurga parcial do Estado” (Marxist.com, 20 de maio de 2004). Alan Woods chegou a afirmar que as tentativas bonapartistas de Chávez de mediar entre trabalhadores e chefes significam que “o Estado na Venezuela já não é controlado pela burguesia” (Marxist.com, 4 de maio de 2004). Apesar de reconhecer que Chávez encabeça um Estado burguês, e mesmo advertindo que o Estado representa uma ameaça à “revolução” ainda não consolidada, a solução de Woods é propor que é “necessário remover todos os conservadores” ainda escondidos no aparelho (Marxist.com, 20 de maio de 2004). Em um “relato de testemunhas oculares do coração da revolução”, um partidário do CMI descreveu sem fôlego a luta revolucionária titânica que supostamente estava em andamento dentro da máquina estatal capitalista da Venezuela:

“Embora as estruturas do Estado venezuelano continuem capitalistas, isso não significa que nele não há uma luta feroz entre revolucionários e setores que pensam que a revolução foi longe demais. Há uma enorme divisão entre os reformistas e os revolucionários dentro do palácio de Miraflores, os ministérios e todos os tipos de cargos públicos. Em alguns ministérios, a esquerda é forte como, por exemplo, no Ministério do Trabalho. Cristina Iglesias está realmente trabalhando lado a lado com a UNT, a fim de combater as práticas anti-operárias dos patrões, tentando aumentar a participação dos trabalhadores nos sindicatos e tentar levar mais longe as medidas de co-gestão.”

—Marxist.com, 7 de setembro de 2005

Aqui temos em toda a sua nudez a debilitante prescrição reformista de Eduard Bernstein para que os trabalhadores assumam pacificamente o Estado capitalista e gradualmente o transformem de um aparato de opressão em uma ferramenta de libertação. Segundo o CMI, “Chávez, em geral, fez uma mudança para a esquerda, que os marxistas revolucionários devem apoiar e ajudar a avançar” (Marxist.com, 19 de maio de 2004). Os que criticam Chávez, ou seus fãs no CMI, são desmerecidos como “sectários”, que não conseguem entender “a relação dialética entre Chávez e as massas”:

“Nossa atitude com Chávez sempre foi um apoio crítico. Isso é, apoiamos Chávez na medida em que ele ataca o imperialismo e a oligarquia, mas vamos criticá-lo quando ele vacila ou faz concessões ao imperialismo e à oligarquia.”

— Alan Woods, Marxist.com, 23 de julho de 2004

É precisamente a fórmula empregada por Stalin, Kamenev e pelo resto dos bolcheviques de direita em relação ao Governo Provisório burguês da Rússia, após a derrubada do Czar em fevereiro de 1917. Em suas históricas “Teses de Abril”, Lenin rejeitou enfaticamente essa abordagem e insistiu em uma política de dura oposição a qualquer governo capitalista, por mais “progressista” que fosse. Esta posição, que foi a base política da revolução operária vitoriosa de outubro de 1917, foi considerada como uma loucura sectária por representantes de cada sombra de oportunismo dentro do movimento socialista russo, todas as quais tinham uma estratégia, como a do CMI de hoje, de pressionar o governo capitalista “de esquerda” e esperar pela “dinâmica revolucionária” se desdobrar.

O CMI vê Chávez como um iniciador da mudança revolucionária, cujas ações ousadas lançaram a classe trabalhadora em movimento. De acordo com Woods, assim que “a classe trabalhadora entra na arena da luta, ela adquire uma dinâmica e um movimento próprio” (Marxist.com, 21 de janeiro de 2005). Ao confiar suas esperanças em Chávez como encarnação de um processo histórico inevitável, a CMI renuncia a qualquer responsabilidade pela luta contra as ilusões pequeno-burguesas difundidas pelos chavistas dentro da classe operária:

“Chávez e seus partidários apoiam-se no suporte das massas para lançarem ataques contra a oligarquia e o imperialismo. Eles não tinham originalmente uma perspectiva socialista, mas apenas a ideia de esvaziar a corrupção e modernizar a Venezuela. Eles queriam uma sociedade mais justa e igualitária, mas imaginavam que isso era possível sem quebrar os limites do capitalismo. Mas isso imediatamente os colocou em conflito com a burguesia e o imperialismo: as massas saíram às ruas e transmitiram uma dinâmica totalmente diferente ao processo. O movimento de massas trouxe um estímulo a Chávez e, por sua vez, encorajou o movimento em uma direção revolucionária”

— Alan Woods, Marxist.com, 20 de maio de 2004

O presidente venezuelano notou seus tietes da CMI, e até convidou alguns para aparecerem no “Aló Presidente”, seu programa de televisão semanal. O CMI orgulhosamente relatou que Woods e outro camarada da CMI “foram colocados na primeira fila, em uma posição proeminente imediatamente oposta ao presidente” e que “no curso do programa, Hugo Chávez mencionou Alan pelo menos três vezes” (Marxist.com, 19 de Abril de 2004).

É claro que é bom ter tempo na TV, mas V. I. Lenin teve uma visão sombria dos pseudo-sofisticados da Segunda Internacional, que passavam o tempo conversando com ministros de gabinete e outros nobres burgueses, enquanto ensinavam os trabalhadores a esperar pacientemente o funcionamento inexorável de um processo histórico quase automático para atingir o socialismo. As garantias de Woods a seus seguidores, de que “mais cedo ou mais tarde as massas se tornarão conscientes do verdadeiro significado de suas ações” (Marxist.com, 21 de janeiro de 2005), não valem muito. A que serve uma organização socialista se não para tornar as massas politicamente conscientes? O trabalho dos revolucionários é ajudar os trabalhadores a compreenderem a realidade social e a agir em seu próprio interesse – como uma “classe para si” – em vez de permanecerem uma “classe em si” confundida pela ideologia burguesa.

Revolução ou contrarrevolução?

Os trabalhadores da Venezuela têm demonstrado repetidamente a sua vontade de fazer o que for necessário para sair da pobreza e do desespero a que o capitalismo os submeteu. A tarefa dos marxistas é conquistar os elementos mais politicamente avançados para a compreensão da necessidade de expropriar os capitalistas como uma classe e iniciar a reconstrução da sociedade numa base socialista. Um primeiro passo necessário neste caminho é o repúdio de qualquer noção de reconciliação ou compromisso estratégico com os exploradores.

As coisas não vão ficar estáveis na Venezuela. Não haverá uma deriva lenta e constante para o socialismo. O colosso imperialista queimou os dedos no Iraque e detesta empreender novas aventuras militares em larga escala na América Latina. Os seus representantes colombianos parecem, no momento, ter as mãos ocupadas. E a direita venezuelana, tendo perdido três rodadas consecutivas para os bolivarianos, está reagrupando e lambendo suas feridas. Mas a burguesia mantém o controle de todas as alavancas essenciais da economia, bem como dos meios de comunicação, e é apenas uma questão de tempo antes que ela volte a entrar na ofensiva.

Para combater a ameaça de um golpe direitista de estilo Pinochet ou Franco, os trabalhadores venezuelanos precisam se organizar através de uma rede de representantes eleitos de todas as fábricas, refinarias, minas e outros locais de trabalho. Um sistema coordenado nacionalmente de conselhos de trabalhadores proporcionaria um mecanismo para exercer controle sobre a produção e distribuição das necessidades da vida, para mobilizar as camadas mais oprimidas da sociedade e para combater efetivamente qualquer tentativa dos capitalistas e seus bandidos de reafirmar suas prerrogativas através de uma repressão brutal.

O que é necessário na Venezuela hoje é uma liderança política dentro do movimento operário comprometida com a luta pelo poder – um partido de vanguarda leninista enraizado no proletariado, capaz de polarizar o movimento bolivariano em suas componentes de classe e assim preparar a classe operária para o confronto inevitável com a burguesia. Alguns na esquerda esperam que o governo Chávez siga o caminho do Movimento 26 de julho de Fidel Castro, que começou como uma formação liberal radical, mas que, depois de liderar uma luta que destruiu o Estado capitalista existente, acabou expropriando a burguesia e criando uma economia centralizada. A criação de um Estado operário deformado a 90 milhas da costa da Flórida foi um produto da inflexível hostilidade, tanto dos capitalistas cubanos, quanto de seu patrão imperial, mas só foi possível devido à existência do  Estado operários degenerados soviético como um contrapeso global ao imperialismo.

A situação em Caracas em 2006 é inteiramente diferente daquela em Havana em 1960 – a União Soviética não existe mais, e o Estado venezuelano permanece intacto. Chávez expurgou alguns elementos que são particularmente hostis a seu regime, mas ele não tem, e não vai, tocar o núcleo essencial do Estado burguês. A experiência “bolivariana” só pode ser um interlúdio temporário. Existem hoje apenas duas vias na Venezuela: ou a classe trabalhadora vai para a frente para expropriar a burguesia (liquidando-a assim como uma classe) ou os capitalistas vão esmagar o proletariado. Não há nenhuma opção do meio, nenhuma “terceira maneira.” Não haverá alívio para a dor e o sofrimento das massas da América Latina, enquanto os meios de produção permanecerem nas mãos de uma minúscula minoria, como observou Leon Trotsky, o grande revolucionário russo, há mais de 70 anos:

“A América do Sul e Central só poderão romper com o atraso e a escravidão unindo a todos seus estados numa poderosa federação. Mas não será a atrasada burguesia sul-americana, agente totalmente venal do imperialismo estrangeiro, quem cumprirá este objetivo, mas o jovem proletariado sul-americano, destinado a dirigir as massas oprimidas. A consigna que presidirá a luta contra a violência e as intrigas do imperialismo mundial e contra a sangrenta exploração das camarilhas compradoras nativas será, portanto: Pelos estados unidos soviéticos da América do Sul e Central”.

War and the Fourth International, 10 de junho de 1934

LA: Days of Rage

Black Liberation Through Socialist Revolution!

LA: Days of Rage

[Reposted from http://www.bolshevik.org/Leaflets/1917%20supp%20May%201992%20Days%20of%20Rage.html

Supplement to 1917, May 1992

With the “end of communism” America’s rulers dreamed of a “new world order” in which the oppressed would meekly submit to their oppressors. The fires that swept Los Angeles in the wake of the Rodney King verdict proclaimed that such an order is not to be. In the greatest explosion of anger since the ghetto upheavals of the 1960s, tens of thousands of blacks and Latinos took to the streets of the country’s second largest city to serve notice that they would no longer endure deepening poverty and rampant racist terror without fighting back.

In most respects the incident that ignited the LA explosion–the near-fatal beating of an unarmed and defenseless black man–was nothing new. Escalating police violence and lethal force against inner-city blacks and other minorities–from Philadelphia to New York to Miami–has been the calling-card of the Reagan-Bush era. The badges and batons of the LAPD, which pioneered the choke hold and the doctrine of massive police “response,” have long been symbols of racist terror on the streets [of] the South-Central and East-Side ghettos. The assault on Rodney King was different only because it was captured in agonizing detail on videotape and broadcast continually on TV screens throughout the country for over a year before the trial. So clear-cut, in fact, was the case against the police, that the LA judiciary and District Attorney–part of the same repressive apparatus as the LAPD–probably feared that any inner-city jury would make too harsh an example of the four uniformed marauders. It was no doubt to prevent such an outcome that the presiding judge transferred the venue of the trial to Simi Valley, a prosperous white suburban enclave which is home to the Ronald Reagan Presidential Library, as well as 2000 of the 8300-member LA police force.

But the tactic backfired. It was widely expected that even the most right-wing jury, confronted with the irrefutable evidence of their senses, would at least try to maintain the outward appearance of justice by imposing light prison terms on one or two of the indicted cops. However, in the racist climate of the 1990s, the overwhelmingly white jury was not concerned with appearances. Their verdict merely affirmed explicitly what Bush, the Supreme Court and the U.S. Congress have been saying implicitly for years: that blacks are less human than whites; that the kind of treatment meted out to Rodney King is not only to be winked at, but commended; that thousands of victims of police terror can expect more of the same without hope of redress in the courts; that batons and bullets, overcrowded prison cells and lethal injections are a degenerate system’s only answer to the despair of America’s impoverished urban ghettoes. As revolutionary Marxists, we share the rage of South-Central Los Angeles.

LA: “City of the Future”

The conditions that led to the South-Central upheaval are not confined to Los Angeles; they are endemic to all major urban centers in the U.S. But Los Angeles, more than any other American metropolis, is widely perceived as the “city of the future”–the most concentrated expression of major trends in national life. And, indeed, the city’s social geography reveals in a starker form the contrasts typical of the country as a whole: on the one hand, fortified suburban islands of affluence, where the rich and well-off indulge in narcissistic life styles; on the other hand, an increasingly desolate urban core–populated by blacks, Hispanics and Asian immigrants–whose streets resemble third-world battle zones.

The “future” revealed by LA’s ghettos is grim. As is to be expected in this profoundly racist society, it is blacks who suffer most acutely from U.S. capitalism’s economic decline. The statistics speak for themselves: almost half the black families in central LA fall below the official poverty line, while unemployment among black youth has remained steady at almost 50 percent since the 1970s. The few decently paid blue-collar jobs that were available have been steadily disappearing, as those industries that have not moved their operations abroad or folded entirely, flee the inner city for outlying industrial parks. Most of the jobs that remain are in the low-wage sweatshops that have mushroomed in recent years.

The effects of this economic erosion are compounded by a government policy of “malign neglect.” The “anti-poverty” programs initiated to help put a lid back on the ghettos after the 1960s rebellions have been all but eliminated. The Neighborhood Youth Corps was dismantled under the Nixon administration, and Reagan followed suit by terminating the Comprehensive Employment and Training Act (CETA). Public school classrooms in central LA, the country’s second largest school district, are today more crowded than those in Mississippi; high schools have a 30-50 percent dropout rate.

In the face of hopeless unemployment and poverty, it is hardly surprising that inner-city youth have turned in large numbers to the only available source of income: the underground drug economy. In the mid-1980s LA became the main U.S. pipeline for a new, highly concentrated form of cocaine–rock cocaine or crack–shipped in by drug cartels. Many members of LA’s biggest street gangs, the Crips and Bloods, together with hundreds of smaller gangs, plugged into this deadly traffic to become street-level pushers.

So long as the violence of the crack trade was confined to the ghetto, municipal authorities were content to maintain police repression at “normal” levels. But as ever larger amounts of drug money hit the streets, gangs required more sophisticated weaponry to protect their investments. When gun battles, often waged with Uzi submachine guns, escalated and began to spill over into adjoining white neighborhoods, stopping “gang violence” became a media crusade and a favorite hobby horse for local pols. The city administration responded with what is becoming the capitalist state’s preferred method of solving inner-city problems: police terror on a quasi-military scale.

In 1988, LA police chief Daryl Gates launched “Operation HAMMER,” a massive, indiscriminate police sweep of South-Central for the ostensible purpose of curbing drug traffic. This was not the first time the area had been subjected to Gates’ hammer-blows. The LAPD, long infamous as a gang of trigger-happy rednecks, had recently mounted nine smaller dragnet operations there. South-Central also remembers Eulia Love, a 39-year-old black widow gunned down in a 1979 dispute with police over unpaid gas bills. Moreover, in 1982 Chief Gates responded to criticisms concerning the choke-hold deaths of young black men in custody by saying that the “veins and arteries [of blacks] do not open up as fast as they do on normal people.”

But “Operation HAMMER” surpassed all previous LAPD thrusts. Billed as the “D-Day of law enforcement,” it was probably the single largest application of force in a black ghetto since the Philadelphia MOVE massacre of 1985 (which Gates has publicly praised). In the first phase, over a thousand cops, backed by elite tactical squads, swooped down upon ten square miles of central LA, arresting nearly 1500 black youths. In the months that followed: an unarmed teenager was shot and killed by police because he was alleged to be reaching suspiciously into his trousers; an 81-year-old retiree died after being pumped full of buckshot when police mistook his residence for a “crack house”; a group of apartments was attacked by almost 90 shotgun and sledgehammer-brandishing police, who shouted racist epithets, and proceeded to spray-paint walls, smash furniture and appliances, and force residents to run a gauntlet of fists and flashlights.

By 1990, the LAPD and sheriffs of adjacent municipalities had rounded up a total of 50,000 “suspects.” There are only 100,000 black youths in Los Angeles! One member of the district attorney’s office, commented that “Operation HAMMER” was “Vietnam here.” It has been officially discontinued only to be replaced by permanent, institutionalized police sweeps.

The beating of Rodney King must be understood in this context: as a minor episode in the transformation of South-Central into a “free-fire zone.” Such developments are by no means unique to Los Angeles. King was at least lucky enough to escape with his life–unlike many other innocent victims of heightened police brutality from coast to coast. Yet Los Angeles has led the way in investing that brutality with a military dimension, thus showing the entire ruling class how to handle “surplus populations” in a period of economic contraction, and once again living up to its reputation as the “city of the future.”

BEOs, Democrats and Black Capitalism: No Answer

The Los Angeles events again demonstrate the utter folly of attempting to fight racism and police brutality by putting black elected officials (BEOs) or more Democrats in office. LA has had a black mayor–Tom Bradley–for the last 17 years. After capturing office on a program of “social activism,” Bradley presided over drastic reductions in city budget allocations for South-Central in favor of greater spending for LA’s affluent Westside residential neighborhood and the downtown business district. Bradley has been almost as zealous in proving his loyalty to the ruling class as his East-Coast counterpart, Wilson Goode, who, as Philadelphia’s first black mayor, ordered the 1985 terror-bombing of the MOVE compound. Until the King tapes were broadcast, Bradley backed Daryl Gates and his “law-and-order” grandstanding.

The infamy of a Republican like Gates does not change the fact that LA has for decades been in the hands of a Democratic municipal administration. According to Mike Davis (whose 1990 book, City of Quartz, provides a compelling portrait of contemporary LA) Democratic District Attorney James Hahn, the immediate predecessor of the present DA, “probably traveled further than any metropolitan law enforcement official in the country towards establishing the legal infrastructure of an American police state.” Hahn’s legal strategy aimed at extending criminal liability for drug-related offenses from individual perpetrators to those who supposedly aid and abet them. By criminalizing whole groups of people, Hahn created the legal framework for super-sweeps like “Operation HAMMER.” Such measures, concludes Davis:

“imply a ‘West Bank’ towards the troubled neighborhoods of Southcentral LA. The ‘terrorism’ metaphor has metastasized as Hahn and Reiner have criminalized successive strata of the community: ‘gang members,’ then ‘gang parents,’ followed by whole ‘gang families,’ ‘gang neighborhoods,’ and perhaps even a ‘gang generation.”’

In LA as in Peru, the “war on drugs” functions as a camouflage for the repression needed to maintain capitalist law and order among the most oppressed and desperate social layers. And this class warfare by the bourgeoisie, on the home front and abroad, is, as ever, a truly “bipartisan” affair.

Just as futile as electing BEOs is the notion of “black capitalism”–the solution to the plight of the ghetto advocated by everyone from George Bush and his housing secretary, Jack Kemp, to Jesse Jackson and Louis Farrakhan. Capitalist America is not the society of hardworking, prosperous small businessmen conjured up in Frank Capra films. It is a highly polarized class society, where a permanent underclass of unemployed and semi-employed act as a brake upon the wages of employed workers. Blacks have always comprised a disproportionate part of this economically marginal population. It is simply a petty-bourgeois pipe-dream to think that the government or the banks are going to underwrite the creation of new black businesses when many white-owned businesses are going to the wall and millions of people who only yesterday considered themselves “middle class” can no longer pay their mortgages or afford to visit a hospital.

The crack trade now thriving on the streets of South Central LA is the only kind of “black capitalism” available to a whole generation of lumpenized street youth; because it is illegal, drug trafficking is one of the few forms of commerce not monopolized by “legitimate” capitalists. And repression is the only answer of the capitalist state for millions of black, Hispanic and other minority youth who can no longer survive by living within the rules of the larger society. Not “black capitalism,” but socialism–a society in which production is based on human need instead of profit–is the answer to the desperation of South-Central and inner-city ghettos throughout the land. The fight against racism and police brutality must be a central part of the struggle to forge the multi-racial party of the working class necessary to break the power of the capitalist state and lay the foundations for a socialist future. It is in light of these goals that we assess the Los Angeles upheaval.

Black Liberation Through Socialist Revolution!

In the wake of the LA events, bourgeois media and politicians are quick to remind us that “rioting accomplishes nothing.” This may be true in the long term, but it is also true that every paltry reform or gesture toward racial justice that the capitalist state has made in the past has been in direct response to anger in the streets. LBJ’s “War on Poverty” in the 1960s was aimed at keeping social peace in the wake of nationwide ghetto explosions. When things settled down, the “Great Society” spigot was almost entirely turned off. The only reason that one of Rodney King’s club-wielding assailants, Laurence Powell, will stand trial a second time (unfortunately not before an all-black and Hispanic jury) is because of the South-Central eruption. Voting for BEOs and Democrats, on the other hand, has only led to a deepening of black poverty and an escalation of police brutality.

The bourgeois media is full of admonishments that all citizens must “respect the law.” But since when has the American legal system ever treated blacks as equals? The response to the beating of the white truck driver, Reginald Denny, exposes the “neutrality” of the state when dealing with the rage of poor black ghetto residents. Four black men, identified from videotape as participants in the beating and robbing of Denny, were immediately arrested (one by Chief Gates himself), and dragged into court wearing prison overalls. The four cops who beat King, by comparison, were allowed to turn themselves in and immediately posted bond. Further, while the LAPD thugs were charged with assault and “using excessive force,” three of the four arrested for assaulting Denny were charged with attempted murder–which carries an almost guaranteed life sentence in California.

Marxists can have nothing but contempt for the hypocritical condemnations of “violence” and “lawlessness” now gushing forth from newsrooms, pulpits and capitalist presidential aspirants. Yet serious militants must also recognize that racism, poverty and the violence of the capitalist state will not be ended by unorganized explosions of black and minority rage, however justified. Because the black masses lack the program and the leadership to fight for a real social revolution, their spontaneous anger often strikes at the wrong targets, and leaves their real exploiters and oppressors untouched. The burning and looting of the stores of petty capitalists in the ghetto does nothing to break the stranglehold of the multi-billion-dollar banks and corporations who own the major means of producing and distributing wealth, and who are the real power behind the small-time frontmen. Attacks upon Korean businesses and a few white people who happen to pass through only punish other powerless individuals and families, many of whom are also victims of the current ruling-class offensive against workers and the poor. Such senseless and indefensible acts are partially explained by the fact that many black youth, in the isolation of inner-city wastelands, are inclined to misperceive local non-black businessmen, landlords and whites in general as representatives of a malignant and incomprehensible power structure bent upon destroying them with drugs, AIDS and police bullets. But part of the responsibility must also be laid at the door to black demagogues like Sharpton and Farrakhan, who trade on the fears of the ghetto by spewing forth anti-Semitic and anti-white poison.

The key to black emancipation lies not in spontaneous ghetto upheavals, “black capitalism” or “community control,” but in the fight for socialist revolution. Such a revolution requires that the outrage of the black ghetto masses be linked to the struggles of the only force with both the social power and objective interest in uprooting the existing social order–the integrated American working class, and especially its organized, trade-union component.

Many blacks believe that the white working class, blinded by the racism that runs so deep in this country’s history, has more in common with the white capitalist ruling class than the beleaguered residents of Harlem, South-Side Chicago or South-Central LA. The more backward white workers believe the same thing. The LA events will undoubtedly drive some of them deeper into the arms of open racists like David Duke and Pat Buchanan. George Bush is busy blaming the LA explosion on 1960s social programs in a disgusting attempt to parlay the “white backlash” into four more years in the White House.

But the Los Angeles upheaval could also be a forerunner of another, potentially much larger “backlash”: the “backlash” of ordinary people–black, brown, yellow and white–against the unrelenting attacks by the ruling class upon their standard of living over the past 20 years. While blacks and minorities have been hit hardest by these attacks, millions of whites have also been forced to pay the price of American capitalism’s economic decline. Union busting, obscene tax breaks for the rich, longer working hours for lower pay, speed-up, drastic cuts in social services and soaring health-care costs–these are the bitter fruits of the capitalist offensive on the home front, begun under Democrat Jimmy Carter and intensified during the Reagan-Bush years. Looting on the streets of LA is trifling by comparison to the $500-billion Savings and Loan bailout, which is correctly understood by most citizens as the massive looting of public coffers by the rich.

Revulsion against the class arrogance of this country’s rulers is not limited to blacks and minorities. It is reflected in a disillusionment with the twin parties of capitalism so widespread that even Democratic hacks like Jerry Brown and billionaires like Ross Perot feel compelled to pander to it, cynically posing as “political outsiders.” It is registered in polls which show that 76 percent of whites disapprove of the Rodney King verdict and that 54 percent of whites are not happy with the way Bush is handling race relations (New York Times, 11 May). It is confirmed by the fact that many white youths joined with blacks in demonstrating their outrage over the King verdict on the streets of LA. These are strong indications that the only effective response to years of capitalist attacks–integrated class struggle–is a real possibility today.

Blacks and minorities form a large percentage of the industrial working class in the U.S. They are also concentrated in the unions that maintain the nation’s cities. These workers run the buses and trains, collect the garbage, sweep the streets and staff the hospitals. They can provide the necessary link between the ghetto and the organized working class. A single general strike against police brutality could bring cities like LA to a halt, and would prove an infinitely more potent weapon than a hundred ghetto upheavals. Such strikes could open the way for a powerful working-class counteroffensive against racism and capitalist austerity. But this requires a militant, class-struggle leadership committed to breaking the stranglehold of trade-union bureaucrats and Democratic Party BEOs. The Bolshevik Tendency is dedicated to the task of forging such a leadership in the struggle for a socialist society, which can alone deliver justice to Rodney King and countless other victims of the “new world order.”

On the 2004 Venezuelan Referendum

On the 2004 Venezuelan Referendum

Principles & Tactics

The following is an edited version of a document adopted at the Fourth International Conference of the then revolutionary International Bolshevik Tendency (IBT). Originally published in 1917 No. 28, December 2005. Copied from http://www.bolshevik.org/1917/no28/no28Venezuela-referendum.html.

Given a choice, Marxists would generally vote “yes” to removing a bourgeois government. But in the case of Venezuela today, the role of U.S. imperialism somewhat complicates the equation. There have been analogous situations in the past, when revolutionaries have not been eager to see similar attempts succeed, notably the Nazi-initiated “Red Referendum” against the Social Democratic government of Prussia, which failed when the combined efforts of the Stalinists and Nazis failed to obtain the support of the majority of the electorate. In his 25 August 1931 article on the Red Referendum, Trotsky commented:

“We have not the slightest ground for supporting Braun’s government, for taking even a shadow of responsibility for it before the masses, or even for weakening by one iota our political struggle against the government of Bruening and its Prussian agency. But we have still less ground for helping the fascists to replace the government of Bruening-Braun.

“To come out into the streets with the slogan ‘Down with the Bruening-Braun government’ at a time when, according to the relationship of forces, it can only be replaced by a government of Hitler-Hugenberg, is the sheerest adventurism. The same slogan, however, assumes an altogether different meaning if it becomes an introduction to the direct struggle of the proletariat itself for power.”

We would never vote confidence in a bourgeois government, but in some situations the best course is not to participate in an attempt to bring one down, and the 2004 referendum in Venezuela is just such a case.

Marxists absolutely reject the reformist logic of supporting “lesser evil” bourgeois politicians on the grounds that their opponents are even worse. In the second round of the 2002 French presidential election, when the choice was between Chirac, a right-wing bourgeois, and Le Pen, a fascist, we condemned the Pabloites and other supposed revolutionaries who voted “against Le Pen,” i.e., for Chirac, while claiming that by doing so they were defending bourgeois democracy against fascism.

The 2004 recall campaign in Venezuela is certainly an example of “democratic,” low-intensity imperialist meddling in neo-colonies. Though the Venezuelan referendum was not directly organized by the U.S., the imperialists certainly supported those behind it. Some leftists argue that it was necessary to vote against removing Chávez because of the reactionary character of his opponents. But a “no” vote on the question of holding a new presidential election amounts to support for the existing bourgeois government.

There is no question that a victory by the right could have set the stage for “legalizing” wholesale attacks on working people. The defeat of the “yes” campaign led to splits and recriminations among the domestic reactionaries and their imperial backers. It also undoubtedly energized Chávez’s plebeian base, as electoral victories of popular fronts have done in the past (e.g., France 1936, Chile 1971). Workers who confidently expect “their” government to defend their interests will initially tend to be hostile to those who make leftist criticisms. But over time, as the reality becomes clear, these attitudes can change.

Ideally, there would have been a way to vote against the imperialist-backed right wingers without politically supporting Chávez, but the format of the referendum made this impossible, just as it was impossible to simply vote “against” Le Pen in the second round of the 2002 French election. The Venezuelan referendum was not an extra-legal assault by the right, but rather a parliamentary maneuver sanctioned by the “Bolivarian” constitution. This makes it rather different than the coups that deposed Chile’s Allende in 1973 or Haiti’s Aristide in 2004. Chávez accepted the challenge because he estimated, correctly, that he had enough popular support to win.

Venezuela today is a sharply polarized society in which armed conflict is a real possibility. While we give no support to Chávez’s muddled left-bonapartist/reformist program, we would certainly bloc with him militarily against any coup attempts, just as the Bolsheviks did with Kerensky’s Provisional Government in 1917.

A parallel can be drawn between the Venezuelan referendum and the elections organized in Nicaragua by the Sandinistas under pressure from imperialism. In that case we did not vote for the Sandanista National Liberation Front (FSLN), even though we had earlier supported it militarily against the contras and their bourgeois backers. We took the same attitude in South Africa and El Salvador when the African National Congress (ANC) and the Farabundo Martí National Liberation Front (FMLN) made the transition from resistance fighters to nationalist/leftist popular-front electoralists.

Clearly Chávez’s supporters, unlike most of the opposition, are people we would like to win over. Those who have put their faith in Chávez would certainly look askance at any group refusing to participate in the “no” campaign, but they would also expect all genuine anti-imperialists to vote for the Bolivarian slate in an election. Leftists who voted “no” to allowing Chávez’s opponents the chance to shorten his term, and then refused to vote “yes” to allowing him to complete it, would tie themselves in knots trying to explain such a contradictory position.

In approaching the referendum, Venezuelan Trotskyists would begin with the perspective of helping the working class assert its own independent political interests. Their propaganda would stress the fact that the stranglehold of U.S. imperialism and its Latin American bourgeois vassals can only be broken by the wholesale expropriation of domestic and foreign capital. Like Egypt’s Nasser, Chile’s Allende and other purveyors of radical-egalitarian “third way” fantasies, Chávez is opposed to such a course. While stressing their willingness to militarily defend his government against attacks by reactionaries, Venezuelan Bolshevik-Leninists would try to win the more leftist elements among the chavistas to the understanding that the enemies of the oppressed can only be decisively defeated by replacing the existing state with organs of workers’ rule.

In the case of extra-legal attempts by reactionaries to seize power (e.g., Kornilov in 1917, Franco in 1936 or the 2002 coup against Chávez), Marxists militarily defend the “legal” bourgeois government (in effect acting to maintain them in power, at least temporarily). But this is a very different situation than when rightists use constitutional, parliamentary channels—in such cases, electoral “blocs” amount to political support.

Something was posed in the Venezuelan referendum that was a lot more significant than a routine bourgeois election, and everyone knew it. If a similar plebiscite were to take place in Brazil, where the bourgeoisie has felt no need to resort to a coup to secure its control, the imperialist big brothers would not likely take any particular interest. They are happy enough with Lula. For the Venezuelan opposition, this parliamentary maneuver was a matter of tactical expediency, as they had already tried and failed to achieve their goals through a coup and a paralyzing national lockout.

A revolutionary organization with a following large enough to have been a real factor in the outcome could have responded to increased rightist activity with a campaign for the creation of “committees of action” along the lines of those proposed by Trotsky after the victory of the popular front in France in 1936. Revolutionaries would warn that, as the examples of Guatemala in 1954 and Chile in 1973 demonstrate, workers’ cannot protect themselves through the ballot box. Proletarian defense guards are the only effective means to deal with the threat of violent rightist thugs, and their creation also raises the self-confidence and fighting spirit of the working class.

As Marxists, we recognize that extra-parliamentary actors sometimes assume parliamentary guises. In some situations, a constitutionally proper procedure can provide a cover for a profoundly anti-democratic development, e.g., Hitler’s ascension to the German chancellorship in 1933. But in such circumstances, almost by definition, there is no viable electoral response. While we would never vote for a Christian Democrat or Gaullist to keep a Nazi out of office, we would certainly favour vigorous mass action to negate a fascist electoral victory. We do not want Le Pen as president of France, but we are not prepared to vote for Chirac—not only out of principle, but also because we recognize that if society is that close to a National Front takeover, the idea of electoral resistance can only be a debilitating illusion. In such situations, or in case of another attempted rightist coup in Venezuela, the urgent duty of revolutionaries is to mobilize the working class for battle.

 

Venezuela: State & Revolution

For a Socialist Federation of Latin America!

Venezuela: State & Revolution

Originally published in 1917 No. 28, December 2005, by the then revolutionary International Bolshevik Tendency (IBT). Copied from http://www.bolshevik.org/1917/no28/no28Venezuela-PermRev.html.

Latin America has the world’s widest income gap, with well over a hundred million people forced to eke out an existence on less than two dollars a day, according to the World Bank’s 2005 “World Development Indicators.” IMF-dictated austerity and privatization programs have ravaged the region for decades. “No other developing region [has] moved faster to sell off state companies,” wrote Newsweek (5 July 2005), noting that: “By the end of the 1990s, Latin America accounted for fully 55 percent of total privatization revenues across the developing world….”

The imperialist financiers’ campaign to shrink the “state sector” and privatize water, electricity and gas utilities is rationalized with cynical claims that the region’s desperate poverty requires increased foreign capital penetration. In fact, the IMF’s austerity prescriptions, designed to create lucrative investment opportunities for imperialist corporations, have driven down living standards wherever they have been imposed.

“Neo-liberalism” has sparked massive popular resistance throughout South America. In June 2005, Bolivia teetered on the brink of civil war as mass protests demanded the reversal of the 1996 privatization of the country’s oil and gas deposits. But the highest-profile opponent of the “Washington Consensus” is Venezuela’s charismatic president, Hugo Chávez, whose administration has sought to mobilize millions of workers and poor peasants under the banner of a “Bolivarian Revolution.” The Bolivarians, named after Simón Bolivar, the leader of the 19th century revolt against Spanish colonialism, are the target of a sustained, but thus far spectacularly unsuccessful, campaign of intimidation and subversion by the Venezuelan ruling class in collaboration with the various agencies of its American overlord.

Many leftists are excited by the Venezuelan leader’s talk of “transcending capitalism” and building the “socialism of the 21st century.” They fervently hope that Chávez will be able to use his position at the pinnacle of the Venezuelan state to deal a crushing blow to the forces of reaction, and propel Venezuela in a new, revolutionary direction. But this is a dangerous illusion, for, as Karl Marx observed after the defeat of the Paris Commune in 1871, “the working class cannot simply lay hold of the ready-made [capitalist] state machinery, and wield it for its own purposes.”

Some “Marxists” active in the Venezuelan workers’ movement have abandoned this fundamental axiom. Followers of Ted Grant and Alan Woods in the Committee for a Marxist International (CMI, a.k.a. the International Marxist Tendency) have denounced “sectarians” and “formalists” who “constantly refer to definitions and ready-made quotations from the Marxist classics (‘we must smash the old state’ etc.), which in their hands become transformed from scientific statements into empty clichés or religious incantations” (Marxist.com, 4 May 2004). The CMI certainly cannot be accused of adhering—religiously or otherwise—to the fundamental principles of Marxism. But this does not change the fact that socialist revolution in Venezuela, as everywhere else, requires smashing the bourgeois state and replacing it with institutions committed to defending workers’ power.

Class & State in Venezuela

Venezuelan society has been decisively shaped by its relationship with the imperialist colossus to the north. The discovery of huge oil reserves during the First World War, at the dawn of the automobile age, vastly increased Venezuela’s strategic importance, and today it is the world’s fifth-largest oil exporter. Petroleum accounts for approximately one third of the country’s gross domestic product (GDP) and more than 80 percent of its total export earnings. As a result of the oil boom of the 1970s, Venezuela today is a highly urbanized society, with 87 percent of its population living in towns and cities. Half the workforce is employed in the “unofficial” economy concentrated in the sprawling slums, while agriculture contributes a mere six percent of GDP. Two-thirds of the country’s food has to be imported.

On 1 January 1976, the government of Carlos Andrés Pérez nationalized Venezuela’s oil industry and created the state-owned Petróleos de Venezuela Sociedad Anónima (PDVSA). This increased the government’s share of oil revenues, but the management of these newly nationalized oil installations did not change, and, as a result, the international oil majors continued to obtain Venezuelan crude at a substantial discount. In the 1980s, PDVSA began to acquire overseas refining, distribution and marketing assets, including the Citgo gas station chain in the U.S. In the 1990s, Venezuela’s oil industry was reopened to outside investors. Today, roughly a quarter of production is controlled by foreign firms (Venezuelan Politics in the Chávez Era, Steve Ellner and Daniel Hellinger, eds., 2003).

Another lever of imperialist control is the country’s external debt, which, according to the World Bank’s 2005 “World Development Report,” was over $32.5 billion in 2002 (roughly a third of gross national income). Much of this was accumulated in the 1970s:

“The foreign debt grew from $1.2 billion in 1973 to $11 billion in 1978. Astronomical sums were gobbled up by Pharaonic projects. Multimillion dollar deals were made in violation of the law and the constitution. A lot of money was used to fuel networks of clientalism and essentially benefited financial capital, eminent representatives of which occupied important positions within the state apparatus.”
—Frédéric Lévêque, Réseau d’information et de solidarité avec l’Amérique latine (RISAL), 17 May 2004

Venezuela’s “oligarchs,” whose social and political power is rooted in their ownership of industry, transportation, banking and the media, are linked by a thousand threads to the centers of imperial finance capital. Their rural cousins, the big landowners, dominate the countryside. Seth DeLong, a Senior Research Fellow at the Washington-based Council on Hemispheric Affairs, estimates that, despite a 1960 land reform, today “roughly 75 to 80% of the country’s private land is owned by 5% of all landowners” (Venezuelanalysis.com, 25 February 2005). The parasitism of Venezuela’s tiny light-skinned ruling class has traditionally been rationalized by racism—the supposed superiority of “Europeans” over the black, Indian and mestizomasses—and sanctified by the obscurantist reactionaries of the Catholic Church.

From ‘Caracazo’ to ‘Bolivarian Revolution’

A combination of falling oil prices and soaring debt produced a serious fiscal crisis in the 1980s, prompting the government of Carlos Andrés Pérez to respond with IMF-dictated austerity and “structural adjustments.” The first step was to deregulate fuel prices. On the morning of 27 February 1989, when people on their way to work discovered that bus fares had doubled over night, they exploded in anger:

“Buses were overturned and burnt, but this was just the initial stage of the revolt. Within hours the rebellion had become more generalized, with widespread looting and the destruction of shops and supermarkets. Gangs of young people from the suburbs, both poor and angry, invaded the commercial centre of Caracas and moved on to the privileged residential areas of the wealthy under the slopes of Mount Avila, close to the heart of the city. Rioting and looting continued unchecked throughout the night and the following day. It developed into a prolonged and mighty rebellion—the Caracazo as it was called—but it was soon to be followed by days of brutal military repression.”
In the Shadow of the Liberator, Richard Gott, 2000

The army gunned down as many as 3,000 people, but was unable to quell the unrest. From that moment the traditional mechanisms of social control began to break down. Suddenly left-nationalist formations, like the Movimiento al Socialismo (MAS) and La Causa Radical (both offshoots of the Venezuelan Communist Party) began to grow rapidly. Popular dissidence even found expression in Venezuela’s officer corps when, in February 1992, a group of officers around Colonel Hugo Rafael Chávez Frias made an unsuccessful bid to overthrow Pérez and overturn his “neo-liberal” agenda. Nine months later they tried, and failed, again. Chávez went to prison promising his supporters that their project was on hold only “for the moment.”

In 1994, when Rafael Caldera Rodríguez, who had earlier held power from 1969 to 1974, was reelected president, he immediately reversed some of Pérez’s less popular measures, nationalized a few insolvent banks and pardoned Chávez. Caldera’s populist credentials were further enhanced when a representative of the MAS was given a cabinet post. Yet the new government was unable to turn the economy around, and in April 1996, Caldera agreed to yet another IMF structural adjustment program. Between 1993 and 1999 real wages plummeted, the rate of unionization fell by half (to just 13.5 percent), unemployment doubled (from 6.3 to 14.9 percent) and the “informal” economy expanded. According to the World Bank:

“[T]he percentage of Venezuelans living in poverty (household income of less than $2 a day) has increased from 32.2 percent in 1991 to 48.5 percent in 2000. Likewise, the proportion of those living in extreme poverty—below $1 a day—rose from 11.8 percent to 23.5 percent.”
—”Venezuela Country Brief,” World Bank, August 2004

As the poor were growing poorer, the rich grew steadily richer: “The income share of the poorest 40 percent of the population fell from 19.1 percent in 1981 to 14.7 percent in 1997, while that of the wealthiest decile increased from 21.8 to 32.8 percent” (Venezuelan Politics in the Chávez Era, Steve Ellner and Daniel Hellinger, eds., 2003).

In March 1994, as soon as he got out of prison, Chávez began organizing a “military-civilian” alliance, the Movimiento Quinta República (MVR) which participated in the “Polo Patriótica,” a bloc of parties pledged to liberate Venezuela from corruption and neo-colonial servitude. As the Polo Patriótica presidential candidate in the December 1998 elections, Chávez received 56 percent of the vote:

“Chavez got elected in late 1998 on three basic promises: first, to break Venezuela’s old political system, known as ‘puntofijismo,’ named after the location, Punto Fijo, at which Christian Democrats (Copei) and Social Democrats (Acción Democrática) signed an accord to limit Venezuela’s political system to a competition between these two parties. Second, Chavez promised to end corruption. And third, Chavez promised to alleviate poverty in Venezuela.”
— G. Wilpert, Venezuelanalysis.com, 11 November 2003

A few months after being elected, Chávez’s proposal to convoke a constituent assembly won an overwhelming mandate. His supporters swept the July 1999 elections to the assembly, where they proceeded to draft a new constitution declaring Venezuela to be a “democratic and social state of law and justice.” When this document was ratified by 70 percent of voters in a December 1999 referendum, the new “Bolivarian Republic of Venezuela” was born. Seven months later, in July 2000, Chávez was elected its first president.

Relations were tense between puntofijists and Bolivarians within the state apparatus. Those who had served the old regime did not trust Chávez, who seemed largely uninterested in using his position for personal advantage (a characteristic that many in his circle do not share). Many old-timers worried that Bolivarian denunciations of poverty and “globalization” might stir up the impoverished masses. They were alarmed when Chávez assigned loyal military cadres to monitor the civil service:

“‘The military are everywhere,’ one senior economic adviser explained to me. ‘It sometimes seems as though there is a secret project that you don’t quite know about. There really is a military party. In some of the ministries, it’s a case of dual power.’”
—Gott, op. cit.

Washington was equally suspicious of Bolivarian intentions. To reassure the imperialists, the government pledged not to touch any foreign investments, although, according to Gott, Chávez sought to avoid personal responsibility for this measure by arranging to be out of the country when it was announced.

Despite vehement denunciations of “neo-liberalism,” the Bolivarian government proposed to privatize state-owned electrical and aluminum companies, while retaining control of PDVSA. In his inaugural address, Chávez spelled out his government’s economic plan:

“Our project is neither statist nor neo-liberal; we are exploring the middle ground, where the invisible hand of the market joins up with the visible hand of the state: as much state as necessary, and as much market as possible.”
Ibid.

While proclaiming its commitment to social justice, the Venezuelan government continued to make scheduled payments on its foreign debt and, in an obvious bid to reassure the reactionaries, Chávez reappointed Maritza Izaguirre as finance minister—notwithstanding the fact that, under the Caldera administration, she had introduced many of the unpopular measures denounced by the Bolivarians.

But despite the government’s conservative economic policies, its popular base was emboldened by the belief that the president was on their side. In November 2001, tension between the Bolivarians and the puntofijists came to a head when Chávez, in an attempt to shore up his slipping popularity, pushed through 49 decrees fulfilling some of his earlier promises. One of these limited foreign control of the oil industry and doubled the royalties due to the government. The right-wing opposition responded by accelerating its plans to overturn the regime.

While a few Venezuelan capitalists sought to reach a modus vivendi with Chávez, most of the bourgeoisie, and much of the petty bourgeoisie, were virulently hostile. The venal trade-union bureaucracy of the Confederación de Trabajadores de Venezuela (CTV), demagogically exploiting some legitimate grievances of their base, sided with the bosses against Chávez. A few of the more corrupt and cynical elements of the left, notably the degenerate Stalinists of the formerly pro-Albanian Bandera Roja (Red Flag) group, also threw their support to the “democratic” pro-imperialist opposition. On 10 December 2001, the CTV, supported by Fedecámaras (the employers’ association) and PDVSA management, carried out a one-day strike to protest the decrees issued by Chávez the month before. Chávez responded in February 2002 by sacking the top PDVSA managers, an act that triggered a U.S.-backed coup two months later.

The U.S. National Endowment for Democracy (NED), which channeled CIA funds to the Nicaraguan contras in the 1980s, had long been funding the CTV bureaucracy via the AFL-CIO’s perversely titled “American Center for International Labor Solidarity” (ACILS, a.k.a. “Solidarity Center”) the contemporary embodiment of the infamous American Institute for Free Labor Development. Between 1997 and 2002, the NED officially provided ACILS with $700,000 for subversion in Venezuela (Monthly Review, May 2005). It was no coincidence that NED’s budget in Venezuela quadrupled in the period immediately before the April 2002 coup. Among other things, it sponsored a March 2002 conference of CTV bureaucrats, Fedecámaras officials and members of the Catholic hierarchy to discuss perspectives and priorities for the country’s future.

April 2002 Coup: Made in the U.S.A.

On 11 April 2002, elements of the Venezuelan military arrested Chávez, and Fedecámaras chief Pedro Carmona proclaimed himself head of state. Carmona immediately rescinded the constitution, dissolved the legislature, suspended the Supreme Court, revoked all of Chávez’s decrees and began rounding up leading Bolivarians. With consummate cynicism he announced: “Everyone will feel that there exists plenty of freedom, pluralism and respect for the state of law” (Associated Press, 12 April 2002). Carmona was supported by the corporate media, much of the intelligentsia and the officer corps, the Catholic Church and, of course, the big capitalists and landowners. His regime was immediately recognized by Washington, Madrid, and the IMF, although no Latin American government was eager to endorse the U.S.-orchestrated overthrow of an elected government in the region. There was never any serious question about American involvement:

“[V]isits by Venezuelans plotting a coup, including Carmona himself, began, say sources, ‘several months ago’, and continued until weeks before the putsch last weekend. The visitors were received at the White House by the man President George Bush tasked to be his key policy-maker for Latin America, Otto Reich.”Reich is a right-wing Cuban-American who, under Reagan, ran the Office for Public Diplomacy. It reported in theory to the State Department, but Reich was shown by congressional investigations to report directly to Reagan’s National Security Aide, Colonel Oliver North, in the White House.”
Observer (London), 21 April 2002

Former U.S. navy intelligence officer Wayne Madsen reported:

“‘I first heard of Lieutenant Colonel James Rogers (the assistant military attaché now based at the US embassy in Caracas) going down there last June to set the ground,’ Mr Madsen, an intelligence analyst, said yesterday. ‘Some of our counter-narcotics agents were also involved.’”He said that the navy was in the area for operations unconnected to the coup, but that he understood they had assisted with signals intelligence as the coup was played out.”Mr Madsen also said that the navy helped with communications jamming support to the Venezuelan military, focusing on communications to and from the diplomatic missions in Caracas belonging to Cuba, Libya, Iran and Iraq—the four countries which had expressed support for Mr Chavez.”
Guardian (London), 29 April 2002

Although Carmona held power for less than 48 hours, he found time to meet both the Spanish and U.S. ambassadors. The coup collapsed when hundreds of thousands of Chávez’s plebeian supporters massed outside the Miraflores presidential palace to demand his restoration, while several hundred loyal soldiers, who had hidden in the basement after being tipped off about the coup, emerged to arrest Carmona.

Some senior officers who had initially gone along with the coup were reportedly so appalled by the Fedecámaras chief’s dictatorial actions during his first day in office that they withdrew their support. This may explain why, as soon as he returned, Chávez immediately sought to open a “dialogue” with his rightist enemies, backtracked on some proposed reforms and announced that PDVSA management would remain in place. Instead of being mollified, the rightists saw these overtures as a sign of weakness and launched a national strike/lockout to bring down the Chávez government in December 2002. The lockout was supported by all the big capitalists and a minority of workers. It inflicted serious economic damage, but collapsed after a couple of months. This time Chávez was less conciliatory, and promptly fired 18,000 of the participants (including the PDVSA bosses).

The majority of the working class and several important unions had actively opposed the bosses’ lockout:

“…in the process of recovering PDVSA, there were many experiments in workers’ control, notably in the El Ilenadero de Yagüa, Puerto La Cruz and El Palito refineries. In the latter, dozens of workers worked day and night to counter the economic sabotage. And it was also pressure from the workers that forced […] Ferrari to open and distribute gasoline.”Similar experiments took place in other branches of industry. In the middle of the lockout, workers seized companies demanding their reopening and direct workers’ control over production. This was the case with Texdala, a textile factory in Maracay, and with Central Carora, a sugar factory in the state of Lara.”
—Frédéric Lévêque, RISAL, 5 June 2003

After the failure of the lockout, the rightist opposition, which according to the National Catholic Reporter (2 April 2004) was receiving a million dollars a year from the U.S. to fight Chávez, began to gather signatures for a presidential recall referendum. The vote, eventually held on 15 August 2004, delivered a devastating blow to the opposition. One prominent imperialist hireling, Maria Corina Machado (leader of Súmate, the group that spearheaded the recall campaign) now faces criminal charges for illegally using foreign funds to attempt to influence the outcome. In a signal to Caracas, Machado was invited to the White House in May 2005 by George W. Bush.

Chávez’s decisive victory in the referendum dramatically weakened the opposition. The subsequent victory of pro-Chávez candidates in the 2004 regional elections led to the appointment of a chavista majority in the Supreme Court. With the right in retreat, Chávez swung left, at least rhetorically, and in January 2005 at the World Social Forum in Porto Alegre declared that henceforth his government would be pursuing a “socialist” agenda.

Many leftists backed Chávez in the recall referendum on the grounds that his opponents were reactionary. But voting “no” to new presidential elections amounted to giving political support to the existing bourgeois government, something Marxists can never do. Under these circumstances, with no way to express a clear, proletarian alternative, the best that class-conscious Venezuelan workers could do was spoil their ballots, while making clear their readiness to defend Chávez, arms in hand, against any extra-legal attacks by the right or their imperialist godfathers.

Social Reform & ‘The Movement’

The Chávez government has initiated a series of significant new social programs (known as “missions”) that are providing important assistance to millions of Venezuela’s poor. Mission Mercal established a chain of supermarkets to sell goods at subsidized prices. Mission Robinson, a mass literacy program, has already taught more than a million poor people to read and write. Mission Ribas helps those who never graduated from high school to resume their studies, while Mission Sucre provides scholarships for impoverished students to attend college. Mission Vuelvan Caras is a training program through which Mission Ribas graduates and others can learn the skills necessary for decent, productive jobs.

The goal of Mission Barrio Adentro is to create a free and universal health care system. Already 20,000 Cuban medical professionals have set up clinics to provide free health and dental care for the urban and rural poor. In exchange, Venezuela is selling oil to Cuba at prices well below those of the international market. Mission Barrio Adentro II, launched in June 2005, is constructing hospitals, as well as diagnostic and rehabilitation facilities. Chávez has announced plans for Mission Barrio Adentro III, to organize the acquisition of modern medical equipment. Under Mission Miracle, Venezuela is sending thousands of patients to Cuba to receive surgery they otherwise could not afford.

The Bolivarian missions, which are hugely popular, have helped draw millions of poor Venezuelans into political activity through their emphasis on “grassroots” participation. Much of this has taken place through the “Bolivarian Circles”—local groupings of between seven and ten individuals who help enroll people in the “missions” and then support them and monitor their progress. The Bolivarian Circles, which have a quasi-independent relationship with the state and at their height claimed an active membership of two million, are waning and being replaced by other organizational networks.

In February 2002 the government announced that it would issue titles for land in shantytowns to inhabitants organized into land committees of between 100 and 200 families. These urban land committees have since become a central pillar of the “Bolivarian Revolution”:

“The urban land reform is functioning as a catalyst for the mobilization of Venezuela’s barrios, following the fizzling out of the Bolivarian Circles….It has led to the mobilization of over 5,000 land committees, representing a total population of more than 5 million Venezuelans, or 20% of the population. This makes the urban land committees Venezuela’s largest organized social movement.
—Gregory Wilpert, Venezuelanalysis.com, 12 September 2005

The government has also created small-scale financial institutions (e.g., the Women’s Bank and People’s Bank) to provide cheap credit for small businesses and cooperatives. The National Housewives’ Union, launched in 2003, is another key participant in the plans for “endogenous development”:

“‘We also have people who teach the women how to develop cooperatives in small businesses and community work,’ [Lizarde Prada, a leader of the Housewives’ Union] explained. ‘For example, if you live in a certain neighborhood and you have the raw materials, such as bananas, use it for a sweets shop and use local transportation for your business. All of this will generate more local work.’ There are different cooperatives affiliated with the Housewives’ Union, some involve cooking and food distribution, others have to do with textiles and sewing.”
—Benjamin Dangl, ZNet, 27 April 2005

While improving life for many of the most impoverished, these sorts of initiatives do not begin to address the roots of social inequality in the imperialist world order. Chávez has recently begun to talk about “21st century socialism,” but the measures proposed so far do not seem to go much beyond the 1999-2000 “Transitional Economic Program,” which projected the development of “a humanistic, self-managed and competitive economy” for which:

“The backdrop is the social organization of production in which the market, as a fundamental mechanism for assigning resources and factors, incorporates complementary organizational forms of private property which, like cooperatives and strategic consumer and producer associations, foster a dynamic diversification of production and add value.”

There is a profound and fundamental contradiction between the interests of those who own and control the essential economic levers—the Venezuelan bourgeoisie and their imperialist patrons—and the mass of the population. In some circumstances the capitalists can be compelled to make concessions, but, so long as the bourgeois state remains intact, gains for working people can easily be reversed when the relation of forces changes.

Limits of Bolivarian Agrarian Policy

The supposed “war against the latifundia” illustrates the limits of the Bolivarian experiment. Among the 49 decrees Chávez promulgated in November 2001, one that particularly enraged the oligarchs was the creation of the Instituto Nacional de Tierras (National Lands Institute—INTI) which was charged with implementing a modest land reform. The law imposed a supplementary tax on landholdings where more than 80 percent is unworked, and allowed for the expropriation—with full compensation—of “high-quality idle land of over 100 hectares or lower quality land of over 5,000 hectares” (New Left Review, May-June 2003). Expropriated land was supposed to be turned over to farmers’ cooperatives. The reform was intended to address the land hunger of poor peasants, modernize the countryside and boost agricultural production, thus enhancing Venezuela’s “food sovereignty.” Ricaurte Leonete, the head of INTI, pointed out that this was not an anti-capitalist measure: “Our terratenientes [landlords] aren’t even capitalists. Capitalists make use of their land…. In Europe capitalism got rid of this kind of parasitic behaviour a long time ago” (cited in Le Monde Diplomatique, October 2003).

Yet, despite occasional rhetorical attacks on landed parasites, the regime did not touch any private holdings for over three years. Meanwhile, more than 100 peasant leaders have been killed by armed gangs working on behalf of the big landowners. In some cases, the local Bolivarian authorities sided with the rural elites:

“It’s one thing when the enemy is an opposition governor – as in the states of Yaracuy, Apure and Carabobo – or a politician from the ancien régime. But in January 2002, in El Robal (Cojedes State), it was Jhonny Yanez Rangel who let the dogs out. He had been elected as a member of the Movement for the Fifth Republic (MVR, the president’s party). ‘He kicked out the campesinos and destroyed their ranchos and their equipment. Everything was lost,’ says Vásquez [a landless peasant], still enraged at what happened. How could a revolutionary governor act against the revolution?”
Le Monde Diplomatique, October 2003

In January 2005, with the government less anxious to conciliate the reactionaries, Rangel dispatched 200 National Guard soldiers to the 32,000 acre El Charcote estate (owned by British multimillionaire Lord Vestey) where several hundred landless peasants had been squatting for years. The Washington Post (14 January 2005) immediately seized on this as an “assault on private property” that proved Chávez “is undermining the foundations of democracy and free enterprise.” The European media treated it less hysterically. The BBC described Chávez’s announcement that land reform was to be accelerated as “more modest than many expected,” and Radio Netherlands noted:

“Although President Hugo Chavez once spoke of a ‘war against the landed estates,’ the government now carefully avoids using the word ‘confiscation.’ It is simply ‘retaking’ land which, while it has always been ‘public property,’ was dubiously ‘occupied’ by private landowners and businesses.”
—Radio Netherlands, 15 March 2005

The discrepancy between the tough talk of “war on the latifundia” and the timid measures actually undertaken is highlighted by the regime’s recent attempts at “coordination” with landowners to reach negotiated agreements and by its continuing reluctance to support peasant occupations. For all the radical rhetoric, Chávez is well aware that a true agrarian revolution that uprooted the big estate owners would inevitably threaten capitalist property in the cities as well. In the past few years, in order to placate the rural poor without offending the rich landowners, the regime has been parceling out state-owned land, turning over more than two million hectares to 130,000 families and farming cooperatives. In doing so, the government acted to expand the influence of the capitalist market and maintain the influence of the big landholders.

Chávez & Organized Labor

Chávez’s government has raised the minimum wage several times—including a 26 percent hike in May 2005 (roughly equal to the annual rate of inflation) while also making it more difficult for employers to lay off workers. These measures, which only apply to the half of the workforce employed in the “formal” economy, have made it easier for workers to unionize.

When Chávez came to power, the main trade-union federation was the highly bureaucratized CTV, which was traditionally closely integrated with Acción Democrática, self-described “social democrats” who propped up the puntofijist regime. In March 2000, Chávez declared a strike of PDVSA workers for better wages and working conditions to be illegal, and demanded that a new union leadership be elected before negotiations could continue. Rather than comply, the union tops promptly called off the action. But seven months later, in October, 30,000 oil workers struck again, and after four days wrested a 60 percent pay hike from the PDVSA management. This time the government did not seek to intervene, as unions representing over a million public-sector employees declared their intent to strike in solidarity (BBC News Online, 15 October 2000).

In 2001, in an attempt to break the grip of the CTV bureaucracy, the government decreed that all unions had to immediately hold elections. Although Chávez’s intervention in the trade-union movement was popular with many workers frustrated by the CTV misleaders, Marxists, as a matter of principle, oppose any meddling by the capitalist government in the unions. Those who rely on the bourgeois state to fight union corruption only weaken the workers’ movement. When the CTV bureaucrats managed to win the vote, Chávez supporters split away and founded the Unión Nacional de Trabajadores (UNT) in April 2003. Since then, the UNT has grown rapidly, and now represents the vast majority of public-sector workers and half of those in the private sector.

Those leftists who want to see Chávez as a revolutionary socialist have been encouraged by the recent nationalization of several companies. Alan Woods, a leader of the Committee for a Marxist International, declared:

“The fact that President Chavez has come down publicly in favour of socialism is a further clear indication as to where the Bolivarian Revolution is moving. The nationalization of Venepal, and now also of CNV, confirms this direction. Those people who criticized us for pointing out that the Bolivarian Revolution would have to take the socialist road or fail, have been shown to be completely wrong.”
—Marxist.com, 10 June 2005

The January 2005 nationalization of the Venepal paper mill (which had been bankrupted as a result of its owner’s participation in the 2002-2003 bosses’ “general strike”) only occurred after several hundred workers, responding to its September 2004 closure, occupied the mill and resumed production. Chávez did not pretend that this represented a step toward socialism: “The expropriation of Venepal is an exception, not a political measure, nor a government one. We won’t take the land, if it’s yours it’s yours. But the company that is closed and abandoned, we’ll go for them. For all of them” (Venezuelanalysis.com, 20 January 2005). Only in December 2004, after the company had officially declared bankruptcy, did the government nationalize it—and then only after paying the owners its full market value. In April 2005 the government also took over the Constructora Nacional de Válvulas (CNV), which had also been shut down by its owner (former PDVSA president Andrés Sosa Pietri). In this case as well, the Bolivarian authorities acted only after some 60 former CNV employees occupied the factory.

The government has announced plans for converting other bankrupt enterprises, as well as some privately-owned companies “co-managed” by employees, into Empresas de Producción Social (EPSs, Social Production Enterprises):

“Examples of enterprises that should be turned into EPS are Cadafe (the electrical company), Hidroven (the water company), the Metro, Conviasa (the state airline). The state-owned oil company PDVSA is an enterprise that has already undergone the transition from capitalist enterprise to social production enterprise, said Chavez….”Expropriations to advance this program would, however, be only a last resort. Agreements with current owners would first be attempted, so that the enterprises might reopen as social production enterprises with government support. Agreements could be reached, ‘always when the owners are willing to improve the enterprise, to promote worker participation, and to involve them in the distribution of the products, as well as to make them participants in the benefits [of the enterprise],’ said Chavez.”
—Venezuelanalysis.com, 18 July 2005

Despite the wishful thinking of some leftists, the reality of workers “co-managing” with employers has nothing to do with socialism:

“Workers at Cadafe, the state electric company that provides 60 percent of the electricity in Venezuela, began a push for co-management soon after Chávez was elected in 1998. In 2002, shortly after the April coup, Cadafe officially began the transition to co-management. But three years later, workers’ role in the decision-making process is still limited to two positions on a five-member coordinating committee—a group that can make recommendations to the president of the company, but he has no obligation to heed. After giving the state management a chance to implement real co-management, Cadafe workers, led by the union federation Fetraelec, have staged a series of protests articulating their impatience. It’s a tricky strategy, because the majority of these workers are staunch supporters of President Chávez, but their protests are necessarily directed against the Ministry of Energy—the state entity in charge of Cadafe.”
Monthly Review, June 2005

The biggest co-management “success” story is Alcasa, a state-owned aluminum concern located in the industrial city of Puerto Ordaz, where departmental works councils are allowed to discuss the company’s “participatory budget.” In April 2005, the plant’s 2,700 employees got to elect two of the firm’s five corporate directors. The president of Alcasa, Carlos Lanz, a former guerrilla leader, suggested: “This is about workers controlling the factory and that is why it is a step towards socialism of the twenty-first century” (BBC News Online, 17 August 2005). In reality, this is simply a way to increase productivity through speed-up, something that managers always favor:

“‘The managers and the workers are running this business together,’ [Alcasa worker Pedro] Gomez said above the din of rumbling forklifts and humming industrial fans, sweat dripping down his face from the heat of the casting house. ‘It gives us new motivation to work hard.’”
New York Times, 3 August 2005

The Bolivarian union leadership is happy to redefine “socialism” to correspond to the regime’s co-management policy. The UNT’s two main slogans for May Day 2005 were: “Co-management is revolution” and “Venezuelan workers are building Bolivarian socialism” (Green Left Weekly, 11 May 2005). A vision of “socialism” as a decentralized market economy in which workers get to consult with management on decisions and in which the state provides extensive social programs may be inspiring for many Venezuelans, but the whole idea of creating socially-conscious, humane, worker-run capitalism is an unrealizable, petty-bourgeois fantasy.

The road to Bolivarian pseudo-socialism begins with a publicly funded bail-out for capitalists who have run their companies into the ground, and proceeds, if all goes well, to convert the employees into petty owner-operators:

“Alexix Ornevo, former member of the executive of Venepal’s now defunct union and current member of the directorate of Invepal [the new name for the nationalized Venepal], noted that since they no longer had any bosses, they no longer needed a union, as workers were now grouped into a cooperative (Covimpa) to run the company. And as a cooperative, Ornevo was quick to point out, they got several benefits including constitutional relief from paying taxes. Also, thanks to the 1999 Bolívarian Constitution, Covimpa—which now owns a 49 percent share in Invepal—is legally entitled to increase that share up to 95 percent.”
Monthly Review, June 2005

Cooperatives that survive and flourish will eventually gain enough market share to push their competitors out of business. At that point, they will want the chance to expand their operations by absorbing and reorganizing the less profitable co-ops, and will doubtless expect to receive a share of any future earnings as a reward for their expertise. Members of the more successful cooperatives might well find that managing their various businesses leaves little time for work. As time goes on, a larger and larger share of their income is likely to derive from dividends (profit shares). This is not socialism, of course, but capitalism, even if disguised for a time by the illusion that it is a uniquely Venezuelan harmonious and compassionate sort of capitalism. Genuine socialism begins with the expropriation of the capitalist class as a whole, the destruction of its repressive state apparatus and the creation of new economic institutions based on the principle of planning and cooperation, not profit-driven competition.

Bolivarian Bonaparte

While Chávez has decisively defeated the opposition in every political confrontation to date (and currently enjoys support from a clear majority of the population), the capitalists retain possession of the major means of production, communication and transportation; their state apparatus remains essentially intact, and they are well aware that in any major confrontation they can count on the support of other bourgeois regimes in the region backed by the imperialist superpower to the north. The ambivalence displayed by the Venezuelan military to date is at least partially attributable to the fact that much of the officer corps is recruited from more plebeian social layers than in most of the rest of Latin America.

Even Chávez’s supporters are skeptical about his muddled, left-nationalist talk of “less capitalism and more socialism” (ZNet, 10 April 2005) as though they were two points on a continuum, determined by the percentage of the economy that is publicly owned. In reality they are two mutually antagonistic social orders separated by a revolution or counterrevolution, i.e., civil war. In a 2005 opinion poll conducted by a firm not considered sympathetic to Chávez, more than 70 percent of Venezuelans expressed broad approval of the president and 35 percent said that they wanted the government to establish socialism, while another ten percent were undecided. Yet fewer than 20 percent of Chávez supporters believed that he will be able to build a socialist society (Venezuelanalysis.com, 3 May 2005).

Chávez has gone out of his way to praise “Jesus Christ, one of the greatest revolutionaries…the true Christ, the Redemptor of the Poor” (ZNet, 10 April 2005). In July 2005, the Bolivarian leader asserted: “In the history of Venezuela there has never been a government that has been closer to the principles of Christianity than this one” (Vheadline.com, 14 July 2005). In fact the main “principle” of Chávez’s rule is bonapartism—a term denoting a “strong” government that appears to float above the conflicts of competing social classes, but in fact balances precariously between them.

In order to maintain his room for maneuver, Chávez has, on occasion, found it expedient to dispense with the “participatory democracy” that is supposed to characterize the Bolivarian revolution:

“In response to increasing mobilization demanding primaries for regional candidates [within the chavista coalition], Chávez’ position has been a surprise to many. Last month, he declared ‘We have already announced the candidates, and these are the candidates. Those who don’t want unity can join the escualidos (opposition).’ Yet since these candidates were all appointed by a national committee dominated by the governing party, the 5th Republic Movement (MVR), the result has been fierce opposition in many communities who are demanding that the government act in accordance with its participatory rhetoric.”
—Venezuelanalysis.com, 17 October 2004

Candidates of the pro-Chávez “Group for Change” coalition for the December 2005 National Assembly elections were also chosen by the “National Tactical Commando” rather than the grassroots.

Chávez’s bonapartist behavior seems to derive from a desire to better the conditions of the poor and downtrodden without infringing on capitalist property. Yet the fundamental interests of the proletariat and the bourgeoisie are irreconcilably counterposed, and for all his socialist rhetoric, Chávez is well aware that his power comes from his position as the head of the capitalist state. He may wish that he did not have to behave so autocratically, but he cannot trust the Bolivarian rank and file to make significant decisions because they are likely to upset the delicate balancing act he is attempting to pull off.

The European imperialists, who tend to be more sophisticated about things like the “Bolivarian Revolution” than the “born agains” in and around the White House, are not particularly alarmed by developments in Caracas. During a visit to Europe in October 2005, Chávez met with Italy’s right-wing prime minister Silvio Berlusconi, who later told the Italian paper La Reppublica that the Bolivarian leader is a “pragmatic guy” with whom it is possible to do business. “It is true that there are ideological distances [with the U.S.], but in the end, commercial relations are good. I know [Chávez] for a while now. I also have good relations with him,” remarked Berlusconi (Venezuelanalysis.com, 18 October 2005). The current Fedecámaras chief, José Luis Betancourt, has also opted for turning the other cheek, at least in public, declaring: “joint public and private investment is the only way to develop this country in a harmonious manner” (Venezuelanalysis.com, 26 October 2005). The bosses’ representative apparently “responded well to Chavez’s statement that property rights would be respected during the development of Venezuela” (Ibid.).

The overwhelming majority of the Venezuelan ruling class still hates Chávez with a passion. They are accustomed to enjoying close personal and financial ties with the country’s political rulers, and are uncomfortable with having a left-talking bonapartist in charge of their state. Yet Chávez’s relative independence from the bourgeoisie enables him to better serve the interests of Venezuelan capital, a paradox he explained to a “Macro Business Round Table” in Caracas last July that brought government officials together with Venezuelan and American businesspeople:

“Venezuela, and I said this before becoming president of Venezuela, is a kind of – we would say in ’95, ’97,—Venezuela is a kind of a bomb (tick tock! tick tock!). We are going to begin to deactivate the mechanism of that bomb. And today, it’s not that it is totally deactivated, but I am sure that it is much less likely that this bomb explode today than it was in the face of what we had since 1985, 88, 89—then it already exploded. The 90’s until ’98, poverty, inequality.”
—”President Chavez’s Speech to Venezuelan and U.S. Business Representatives,” Venezuelanalysis.com, 6 July 2005

While contrasting sharply with the socialist rhetoric about capitalism as “savagery,” Chávez’s talk about “deactivating” social contradictions lies at the core of the entire Bolivarian project. With his unrealizable promises of simultaneously advancing the interests of the poor and the imperialist financial piranhas via a more inclusive and socially responsible form of “endogenous” development, Chávez, no doubt unwittingly, is helping lay the groundwork for the forces of a resurgent right to exact a bloody revenge in the future.

Bolivarian ‘Anti-Imperialism’

Washington’s implacable hostility to the Bolivarian government is a living refutation of the Bush administration’s claims to champion “democracy” and “freedom” for the benighted peoples of the earth. While grudgingly describing the chavistas’ repeated electoral triumphs as “technically legal,” U.S. officials warn that Chávez represents “a new breed of authoritarianism” and complain that he does not govern “democratically,” i.e., refuses to take orders from Washington.

Chávez has condemned the U.S. invasions of Afghanistan and Iraq; lambasted the IMF and the Free Trade Area of the Americas and befriended Fidel Castro. The Venezuelan Central Bank has recently begun to convert most of its foreign currency reserves from dollars into Euros (Venezuelanalysis.com, 5 October), and Chávez has hinted that he may one day decide to start pricing oil exports in Euros as well. All of this has made him the current bête noire of the American imperialist propaganda machine, and thus the natural recipient of an assassination fatwa from theocratic bigot and hard-core Bush backer Pat Robertson. When mass protests in Bolivia reached pre-revolutionary dimensions in June 2005, the U.S. Assistant Secretary of State for Western Hemisphere Affairs, Roger Noriega, knew who to blame: “Chávez’s profile in Bolivia has been very apparent from the beginning” (Miami Herald, 8 June 2005). Fidel Castro, the traditional Latin American bogeyman for delusional anti-communist fanatics, jokingly complained to Chávez: “I’m realizing that your friendship is hurting my image” (Reuters, 30 April 2005).

The ill-fated American adventure in Iraq has made an immediate military assault on Venezuela less likely, but planning is certainly underway. Massive U.S. aid has tripled the size of Colombia’s armed forces in the past several years, thus providing Washington with a reliable proxy in the region. When Chávez announced plans to modestly expand the popular militias, purchase 100,000 AK-47 rifles and 40 helicopters from Russia, the Bush administration squawked that he was threatening the peace of the region. U.S. Defense Secretary Donald Rumsfeld cynically inquired: “What in the world [is the threat] that Venezuela sees that makes them want to have all those weapons?” (BBC News Online, 1 July 2005).

Despite attempts to diversify its markets, Venezuela remains dependent on sales to the U.S. for roughly two-thirds of its oil export earnings which, as the Bolivarians have suggested, is reason enough to reach an accommodation with the U.S. In the aftermath of the April 2002 coup, an exasperated Chávez reportedly declared: “With me in power the oil supply to the U.S. is assured. If you support efforts to push me out of power there will be a civil war and oil will be interrupted” (ZNet, 10 September 2002). At the July 2005 Round Table, Chávez spoke of having “friends in both parties” of the American ruling class. The anti-imperialist tub-thumping that had so excited his leftist admirers in Porto Alegre was set aside in favor of a pitch to his “dear North American business friends” for “peace,” “understanding,” “transparency” and “true integration.” Far from calling for “transcending capitalism” via Bolivarian socialism, the Venezuelan lider maximo spun fantasies of the peaceful self-reform of imperialism through a sort of Tobin tax that could “create a fund that would allow governments and society to forge an historic alliance for the survival of the human species” (Venezuelanalysis.com, 6 July 2005).

The expansion of social programs under the “Bolivarian Revolution” has been paid for by the astronomical rise of international oil prices. When Chávez took office in 1998, oil was selling for roughly $12 a barrel—in 2005 it was going for $60. Under Chávez, royalties paid by foreign oil companies have increased from a token 1 percent to 16.6 percent (New York Times, 5 July 2005). Yet while government revenues have soared, Venezuela’s public debt has also increased, largely as a result of a deliberate policy of lavishly subsidizing Venezuela’s banks:

“‘But what makes this really crazy,’ says [Banco Venezolano de Credito’s president, Oscar] Garcia [Mendoza], ‘is that the government is depositing all its oil revenue in the same banks at about 5 percent, then borrowing it back at 14 percent. It’s a very easy way for bankers to make money. That’s why I say this is a government for the rich.’”
—Christian Parenti, “Hugo Chávez and Petro Populism,” The Nation, 11 April 2005

The chavistas apparently imagine that Latin American subordination to the U.S. will be reduced if regional trade and economic cooperation is expanded. To date, Cuba is the only country to have shown any enthusiasm for Chávez’s proposed “Bolivarian Alternative for the Americas” to compete with the U.S.-dominated Free Trade Area of the Americas. But the logic of attempting to enlist other capitalist regimes in a Bolivarian solidarity project was clearly displayed in August 2005, when Chávez offered to support Equador’s government against workers who, demanding increased investment and more jobs, brought that country’s petroleum exports to a halt. Undercutting the leverage of the workers, the Chávez government announced: “‘Venezuela will cover the [oil export] commitments that the Ecuadorean [sic] government has not been able to fulfill these days. They will not have to pay a cent” (Reuters, 21 August 2005).

Marxism & the State in Venezuela

This shameful strikebreaking was passed over without comment by many of Chávez’s international admirers, including those in the Committee for a Marxist International, who on paper champion the political independence of the working class from the bourgeoisie and, at least in theory, advocate the creation of a Leninist vanguard party to carry out Trotsky’s program of permanent revolution. But, for the CMI, none of this seems to apply in Venezuela.

Marxists do not disparage those measures implemented by the Chávez government that improve the lives of the poor and dispossessed—but neither do we conclude that the fundamental principles of socialism no longer apply. Capitalists and workers have counterposed material interests in Venezuela, just as they do everywhere else. No Bolivarian alchemy can transform an instrument constructed to defend and promote capitalist exploitation—the bourgeois state—into an agency of social liberation.

The CMI claims that Chávez has “carried out a partial purge of the state” (Marxist.com, 20 May 2004). Alan Woods has even asserted that Chávez’s bonapartist attempts to mediate between workers and bosses means that “the state in Venezuela is no longer controlled by the bourgeoisie” (Marxist.com, 4 May 2004). While allowing that Chávez heads a bourgeois one, and even warning that the state represents a threat to the as yet unconsolidated “revolution,” Woods’ solution is to propose that it is “necessary to remove all the conservatives” still hiding in the apparatus (Marxist.com, 20 May 2004). In an “Eyewitness report from the heart of the revolution,” a CMI supporter breathlessly described the titanic revolutionary struggle supposedly underway within Venezuela’s capitalist state machine:

“Although the structures of the Venezuelan state remain capitalist, this does not mean that within it there is not a ferocious struggle taking place between revolutionaries and sectors that think that the revolution has gone too far. There is a huge division between the reformists and revolutionaries within the Miraflores palace, the ministries and all kinds of public offices. In some ministries, the left is strong like for instance in the Ministry of Labour. Cristina Iglesias is actually working shoulder to shoulder with the UNT in order to tackle the anti-worker practices of the bosses, trying to boost the participation of workers in trade unions and trying to take further the co-management measures.”
—Marxist.com, 7 September 2005

Here in all its nakedness, is Eduard Bernstein’s debilitating reformist prescription that working people can peacefully take over the capitalist state and gradually transform it from an apparatus of oppression into a tool of liberation.

According to the CMI, “Chavez in general has made a shift to the left, one that revolutionary Marxists must support and push forward” (Marxist.com, 19 May 2004). Those who criticize Chávez, or his touts in the CMI, are dismissed as “sectarians” who fail to grasp “the dialectical relation between Chavez and the masses”:

“Our attitude to Chavez has all along been one of critical support. That is to say, we will support Chavez to the degree that he strikes blows against imperialism and the oligarchy, but we will criticise him when he vacillates or makes concessions to imperialism and the oligarchy.”
—Alan Woods, Marxist.com, 23 July 2004

This is precisely the formula employed by Stalin, Kamenev and the rest of the right-wing Bolsheviks toward Russia’s bourgeois Provisional Government after the overthrow of the Tsar in February 1917. In his historic “April Theses,” Lenin emphatically rejected this approach and insisted on a policy of hard opposition to any capitalist government, however “progressive.” This position, which was the political basis for the victorious workers’ revolution in October 1917, was regarded as sectarian lunacy by representatives of every shade of opportunism within the Russian socialist movement, all of whom had a strategy, like that of the CMI today, that amounted to pressuring the “left” capitalist government and waiting for the “revolutionary dynamic” to unfold.

The CMI views Chávez as an initiator of revolutionary change whose bold actions have thrown the working class into motion. According to Woods, as soon as “the working class enters the arena of struggle, it acquires a dynamic and a movement of its own” (Marxist.com, 21 January 2005). In pinning their hopes on Chávez as the embodiment of an inevitable historical process, the CMI renounces any responsibility for combating the petty-bourgeois illusions spread by the chavistas within the working class:

“Chavez and his supporters are leaning on the support of the masses to strike blows against the oligarchy and imperialism. They did not originally have a socialist perspective, but only the notion of clearing out corruption and modernising Venezuela. They wanted a fairer, more just and equal society, but imagined that this was possible without breaking the bounds of capitalism. But this immediately brought them into conflict with the bourgeoisie and imperialism. The masses took to the streets and imparted an entirely different dynamic to the process. The mass movement has provided a stimulus to Chavez and in turn he has encouraged the movement in a revolutionary direction.”
—Alan Woods, Marxist.com, 20 May 2004

The Venezuelan president has taken note of his CMI courtiers, and even invited a couple of them to appear on “Aló Presidente,” his weekly television program. The CMI proudly reported that Woods and another CMI comrade “were placed in the front row, in a prominent position immediately opposite the President” and that “In the course of the programme, Hugo Chavez mentioned Alan at least three times” (Marxist.com, 19 April 2004).

Of course it is nice to get airtime, but V.I. Lenin took a dim view of the pseudo-sophisticates in the Second International who spent their time hobnobbing with cabinet ministers and other bourgeois notables while teaching the workers to patiently wait for the inexorable workings of a quasi-automatic historical process to deliver socialism. Woods’ assurances to his followers that, “sooner or later the masses will become conscious of the real meaning of their actions” (Marxist.com, 21 January 2005) are not worth a great deal. What purpose does a socialist organization serve if not to make the masses politically conscious? The job of revolutionaries is to assist the workers to understand social reality and to act in their own interests—as a “class for itself”—rather than remain a “class in itself” befuddled by bourgeois ideology.

Revolution or Counterrevolution?

The poor and working people of Venezuela have repeatedly demonstrated their willingness to do whatever is necessary to lift themselves out of the poverty and desperation to which capitalism has consigned them. The task of Marxists is to win the more politically advanced elements to understand the necessity of expropriating the capitalists as a class and beginning the reconstruction of society on a socialist basis. A necessary first step on this road is the repudiation of any notion of reconciliation or strategic compromise with the exploiters.

Things are not going to stand still in Venezuela. There will be no slow and steady drift to socialism. The imperialist colossus has burned its fingers badly in Iraq and is loathe to undertake any new large-scale military adventures in Latin America. Its Colombian proxies seem, for the moment, to have their hands full. And the Venezuelan right wing, having lost three consecutive rounds to the Bolivarians, are regrouping and licking their wounds. But the bourgeoisie retains control of all the essential levers of the economy, as well as the media, and it is only a matter of time before it once again goes on the offensive.

To counter the threat of a Pinochet- or Franco-style rightist coup, Venezuelan workers need to organize themselves through a network of elected representatives from every factory, refinery, mine and other workplace. A nationally coordinated system of workers’ councils would provide a mechanism for exerting control over the production and distribution of the necessities of life, for mobilizing the most oppressed layers of society, and for effectively countering any attempts by the capitalists and their thugs to reassert their prerogatives through brutal repression.

What is necessary in Venezuela today is a political leadership within the workers’ movement that is committed to the struggle for power—a Leninist vanguard party rooted in the proletariat, capable of polarizing the Bolivarian movement into its class components and thus preparing the working class for the inevitable showdown with the bourgeoisie. Some leftists hope that the Chávez government will follow the path of Fidel Castro’s July 26th Movement, which began as a radical liberal formation but, after leading a struggle which smashed the existing capitalist state, ended up expropriating the bourgeoisie and creating a centralized command economy. The creation of a deformed workers’ state 90 miles off the coast of Florida, was a product of the unrelenting and inflexible hostility of both the Cuban capitalists and their imperial patron, but it was only possible because of the existence of the degenerated Soviet workers’ state as a global counterweight to imperialism.

The situation in Caracas in 2006 is entirely different than that in Havana in 1960—the Soviet Union no longer exists, and the Venezuelan state remains intact. Chávez has purged some elements that are particularly hostile to his regime, but he has not, and will not, touch the essential core of the bourgeois state. The “Bolivarian” experiment can only be a temporary interlude. There are but two roads in Venezuela today—either the working class will go forward to expropriate the bourgeoisie (thus liquidating it as a class) or the capitalists will crush the proletariat. There is no middle option, no “third way.” There will be no relief to the pain and suffering of the masses of Latin America so long as the means of production remain in the hands of a tiny minority, as Leon Trotsky, the great Russian revolutionary observed, more than 70 years ago:

“South and Central America will be able to tear themselves out of backwardness and enslavement only by uniting all their states into one powerful federation. But it is not the belated South American bourgeoisie, a thoroughly venal agency of foreign imperialism, who will be called upon to solve this task, but the young South American proletariat, the chosen leader of the oppressed masses. The slogan in the struggle against violence and intrigues of world imperialism and against the bloody work of native comprador cliques is therefore: the Soviet United States of South and Central America.”
—”War and the Fourth International,” 10 June 1934

Pablismo e Pablismo Invertido

Rascunho de Teses sobre Pablismo, Pablismo Invertido e a Quarta Internacional 

[Escrito pelo Communist Working Collective, organização de origens maoístas que se aproximou do trotskismo e da então revolucionária Liga Espartaquista nos anos 1970. Originalmente impresso no Marxist Bulletin No. 10, “Do Maoísmo ao Trotskismo: documentos sobre o desenvolvimento do Communist Working Collective de Los Angeles”, pela Liga Espartaquista. A tradução ao português foi realizada pelo Reagrupamento Revolucionário em novembro de 2013].

Pablismo 
1. Após a Segunda Guerra Mundial, o movimento trotskista internacional foi lançado em uma profunda crise teórica, política e organizativa. Grandes números de quadros trotskistas foram fisicamente destruídos pelo esforço conjunto dos imperialistas e stalinistas. O capitalismo mundial passou por uma relativa estabilização devida principalmente às traições socialdemocratas e stalinistas do levante revolucionário da classe trabalhadora que se seguiu ao cessar do conflito. Em adição, lideranças stalinistas e pequeno-burguesas foram bem sucedidas em derrubar o capitalismo e em estabelecer Estados operários deformados no Leste Europeu e na China. Todos esses fatores puseram de forma muito aguda para o movimento trotskista o problema de construir partidos de vanguarda proletários independentes.
2. A tendência revisionista pablista emergiu como uma tentativa de tornar o movimento trotskista mais “efetivo” acomodando-o aos movimentos de “esquerda” existentes no mundo. O papel dos trotskistas foi essencialmente confinado ao de um grupo de pressão sobre tais formações, se integrando a quaisquer forças parecessem ter mais potencial e esperando que esses agrupamentos, sob a influência da marcha objetiva dos eventos e incitação dos trotskistas, fossem ser forçados a adotar uma orientação revolucionária. Por essa razão, o pablismo pode ser considerado uma tendência liquidacionista. Assim, durante os anos 1950, Michel Pablo e seu Secretariado Internacional buscaram políticas de liquidação (entrismo “profundo”) nos partidos socialdemocratas e centristas da Europa Ocidental, as formações nacionais burguesas e pequeno-burguesas nos países coloniais, e os PCs stalinistas dirigentes na Leste Europeu.
3. Fundamental para a perspectiva de mundo pablista é a teoria, tomada do stalinismo, de que o equilíbrio de forças no mundo mudou em favor do socialismo, resultando em uma “nova realidade mundial”, na qual a maré da revolução é irreversível. Por essa razão, o pablismo também pode ser caracterizado como empirista. Essa concepção passou por várias variações. Por volta de 1950, Pablo previa uma Terceira Guerra Mundial, lançada pelo imperialismo para recuperar sua vantagem, que levaria ao confronto final entre capitalismo e stalinismo. Em 1953, o Secretariado Internacional afirmou que o isolamento da URSS havia terminado, eliminando uma das condições fundamentais para a existência da burocracia e levando à iminente queda do stalinismo. Mais recentemente, os pablistas declararam que o mundo colonial é o principal centro da revolução no mundo, que as lutas anti-imperialistas lá são ininterruptas e irresistíveis e que, portanto, a classe trabalhadora pode chegar ao poder com um “instrumento desafinado” ao invés de um partido proletário leninista. Assim, o problema de superar a crise de liderança proletária, o problema central da revolução socialista mundial, é abandonado, ou então deixado para ser resolvido pelo “processo objetivo” que se desenrola nessa “nova realidade mundial”.
4. Embora o Socialist Workers Party tenha rompido com os pablistas em 1953, no começo dos anos 1960 ficou claro que o SWP estava se movendo cada vez mais em direção à metodologia revisionista à qual ele uma vez havia se oposto. Essa tendência regressiva se manifestou mais abertamente na linha da maioria do SWP sobre a revolução cubana: apoio à burocracia governamental de Castro na esperança de que o castrismo iria se transformar em trotskismo. No nível organizativo, o abandono pelo SWP de uma linha proletária revolucionária se tornou definitiva com o “Congresso de Reunificação” de 1963, no qual as diferenças políticas “minoritárias” foram ignoradas para que o SWP pudesse realizar uma reunificação sem princípios com a Internacional (Secretariado Unificado). De fato, a principal resolução política aprovada nesse Congresso incluiu todas as teses básicas sobre as quais se baseou o pablismo: a mudança no equilíbrio mundial de forças, a centralidade da revolução colonial, e o fim do isolamento da URSS.
5. Desde o Congresso de 1963, tornou-se óbvio que, embora Pablo tenha caído em descrédito, o método do pablismo domina todo o SU. As seções europeias levaram a teoria do “epicentro colonial” à sua conclusão e chamaram pela luta armada baseada na guerra de guerrilhas rurais e entrismo nas organizações castristas da América Latina. Ao mesmo tempo, o SWP se moveu bruscamente para a direita, tornando-se pouco mais do que um grupo de apoio para o nacionalismo negro, o feminismo pequeno-burguês, o pacifismo liberal e a burocracia cubana. (Isso é verdade apesar de que agora o SWP afirma que a revolução cubana se degenerou – deixando a entender que ela já havia sido não-deformada). O maior trabalho do SWP e de seu grupo de juventude, a Young Socialist Alliance (YSA), é construir manifestações anti-guerra com base em políticas de um único ponto – uma perspectiva claramente reformista e frentepopulista. Assim todas as tendências dentro do SU, do aventureirismo ultraesquerdista dos partidos europeus ao reformismo na seção dos Estados Unidos, adotam o método liquidacionista e empirista pablista. 
Pablismo Invertido 
6. Outra tendência internacional que se adapta à metodologia do pablismo, apesar das proclamações de representar a única tendência internacional anti-pablista, é o Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI), liderado principalmente pela Socialist Labour League britânica. A SLL, em sua análise sobre Cuba, usou as mesmas premissas objetivistas do pablismo e, ao fazer isso, falhou em compreender a diferença crítica entre o estabelecimento de um Estado liderado por um partido bolchevique-leninista onde órgãos de poder são democraticamente administrados pela classe trabalhadora (sovietes) e a formação de um Estado operário que desde o seu nascimento é dirigido por uma burocracia bonapartista. Com esse método, eles não podem adotar uma atitude correta com relação às lideranças stalinistas e pequeno-burguesas. Eles são forçados, para manter uma “posição firme” contra a capitulação dos pablistas a essas lideranças, a negar categoricamente a possibilidade de que, sob certas condições (sendo a mais importante um temporário apoio material do campo stalinista), essas lideranças possam de fato estabelecer Estados operários deformados. Essa posição os leva a concluir que Cuba não é um Estado operário deformado, mas alguma forma de “estatismo” (apesar do fato de que a liderança castrista de Cuba expropriou a burguesia, impôs o monopólio do comércio exterior e estabeleceu os rudimentos de uma economia planejada). Disso fica claro que a perspectiva metodológica da SLL e de seus seguidores pode ser caracterizada como pablismo invertido.
7. Essa reação da SLL e de seus colaboradores ao pablismo serve, em última instância, para reforçar a corrente pablista, já que não pode efetivamente lidar com as acomodações pablistas de forma teórica. Em essência, ambas as correntes igualam o Estado operário deformado com o caminho para o socialismo. O pablismo faz isso explicitamente, por seu apoio ao castrismo e seu outrora apoio velado à burocracia chinesa. Os pablistas invertidos começam com a mesma premissa, e por isso são forçados a negar o fato de uma transformação social para evitarem dar esse tipo de apoio. Uma avaliação trotskista correta da estratégia e táticas com relação a essas burocracias deve começar com a compreensão de que elas são um obstáculo à construção do socialismo, e assim descartar qualquer possibilidade de apoio, ainda que crítico, a tais lideranças, removendo a base da Pablofobia do CIQI.
A Quarta Internacional 
8. Com o desenvolvimento do capitalismo em imperialismo, a tendência básica do capitalismo de entrelaçar todas as áreas do mundo, independente do seu nível de desenvolvimento, em um sistema econômico comum que domina e subordina perante si cada uma de suas partes foi grandemente reforçada. A hegemonia do imperialismo sobre a economia mundial tende não apenas a uniformizar as várias etapas de desenvolvimento de uma área comparada com a outra, um país comparado com o outro, mas simultaneamente aumenta as diferenças entre eles e joga um contra o outro – dessa forma agravando enormemente a contradição entre o desenvolvimento futuro das forças produtivas mundiais e os limites do Estado nacional. Essa dinâmica do imperialismo inevitavelmente leva a guerras pela conquista e redistribuição dos mercados e para a completa destruição das forças produtivas na qual a cultura humana se baseia. A existência continuada do imperialismo ameaça, portanto, mergulhar a humanidade no barbarismo. É com base nisso, “na insolvência do Estado nacional, que se transformou em um freio para o desenvolvimento das forças produtivas” (Trotsky), que em última instância jaz o internacionalismo do comunismo.
9. O proletariado é a única classe capaz de destruir o capitalismo internacional e construir uma sociedade comunista que iria para sempre eliminar todas as guerras, exploração e desigualdade social e, portanto, criando as condições para o desenvolvimento sem limites da civilização humana. Entretanto, sem a liderança de um partido comunista, o proletariado não pode chegar ao poder e estabelecer um Estado operário genuíno em nenhum país. Além do mais, a revolução proletária internacional só pode triunfar se for liderada por uma internacional comunista revolucionária, ou seja, um partido mundial do proletariado. Isso foi completamente verificado pela experiência da Revolução de Outubro e pelas subsequentes derrotas que o proletariado internacional sofreu, em um momento em que estavam presentes todas as condições necessárias para a revolução mundial bem sucedida, com a exceção de uma internacional revolucionária que pudesse liderar a insurreição. Finalmente, tentar construir um partido revolucionário em separado, por fora ou em oposição à luta pela construção de uma internacional só pode significar capitulação ao estreito pensamento nacional que é inseparavelmente conectado com o reformismo. Assim, qualquer organização comunista que não assuma a luta pela construção de uma internacional comunista como seu ponto de partida estratégico deve inevitavelmente se degenerar.
10. A Quarta Internacional que foi fundada por Trotsky em oposição à degeneração da Terceira Internacional stalinista já não existe mais. O advento do pablismo destruiu a Quarta Internacional até o ponto em que o trotskismo revolucionário encontra sua continuidade programática apenas em pequenos e desunidos grupos, dispersos ao redor do mundo e que, por razões óbvias, não pode liderar seções significativas da classe trabalhadora na luta. Consequentemente, o principal foco internacional do trotskismo revolucionário deve ser dirigido para condução de discussões programáticas com essas organizações, com o objetivo de atingir a clareza programática necessária para um rápido reagrupamento que possa resultar em uma tendência internacional revolucionária que se tornasse um polo de atração ao redor do qual um reagrupamento comunista futuro e mais completo pudesse acontecer. Apenas usando esse método é possível começar a reconstrução da Quarta Internacional com base nas linhas do Programa de Transição de 1938.
11. Para lançar as bases de uma completa reconstrução da Quarta Internacional, é necessário derrotar decisivamente o pablismo através de um confronto ideológico em todas as arenas da luta de classes. Tal vitória sobre o revisionismo iria levar a teoria marxista adiante e prover a fundação necessária sobre a qual uma genuína unidade internacional baseada no centralismo democrático possa ser constituída. Por ora, entretanto, é importante enfatizar que a batalha contra o pablismo ainda não foi vencida.
12. Embora uma tendência internacional revolucionária ainda não tenha sido completamente cristalizada, o processo de reagrupamento comunista revolucionário pode e deve ser iniciado. Clareza suficiente sobre as questões básicas postas pelo pablismo foi alcançada em grande medida, abrindo assim a possiblidade de fusões de organizações nacionais e internacionais com base em princípios. É a essa tarefa, a reconstrução da Quarta Internacional através de um processo de reagrupamento comunista revolucionário, que se dedica o Communist Working Collective.
19 de agosto de 1971

Por uma perspectiva trotskista na Turquia

Chega de oportunismo, aventureirismo, nacional-divisionismo:

Por uma perspectiva trotskista na Turquia

[O documento a seguir foi assinado por dois membros da Fração Trotskista da Workers Socialist League britânica, que fundiu com o Grupo Espartaquista de Londres em março de 1978. Esse documento apareceu originalmente no Boletim de Discussão Pré-conferência da WSL No. 12, em fevereiro de 1978, e foi reimpresso em Spartacist Britain No. 1, em abril de 1978. A tradução para o português foi realizada pelo Reagrupamento Revolucionário em 2013.]

“Esse não é um ‘documento sobre perspectivas’, já que perspectivas de trabalho não podem ser esboçadas no abstrato em Londres, mas devem ser desenvolvidas no contexto das lutas vivas na Turquia.”

Boletim de Discussão Pré-Conferência No. 6.

“Com essas poucas palavras, o caráter internacional do socialismo como doutrina científica e como movimento revolucionário é completamente refutado. Se socialistas (comunistas) de um país são incapazes, incompetentes, e consequentemente não tem direito a decidir as questões vitais da luta de socialistas (comunistas) em outros países, a Internacional proletária perde todos os direitos e possibilidades de existência.”

— Trotsky, Escritos 1933-34, página 33.

O trabalho realizado pelos camaradas na Turquia se baseia na experiência deles ao militarem com a WSL na Grã-Bretanha. A liderança da WSL inspirou e “guiou” o trabalho na Turquia; consequentemente, isso deve ser visto como um teste para o programa e a política da WSL. Essa hostilidade à luta por clareza programática, combinada com uma postura familiar de fazer “trabalho de massa”, levou ao que deve ser chamado de crise do movimento turco. Nós buscaremos oferecer uma base política para uma completa reorientação desse trabalho, enquanto reconhecemos que isso não pode ser alcançado sem uma radical reorientação da própria WSL. Nós concordamos quando a direção diz que “Os problemas desse trabalho são os problemas da WSL” (Boletim de Discussão Pré-Conferência No. 6, página 1).

Sobre a história do movimento turco

O trabalho da WSL na Turquia começou quando alguns camaradas foram para lá, onde eles tiveram discussões com a liderança de um grupo simpatizante do Secretariado Unificado nesse país – o KOZ. Depois disso, os camaradas encontraram quatro pessoas em Istambul que eram ligadas a um pequeno grupo próximo ao KOZ (mandelistas turcos) e conseguiram ter várias reuniões com essas pessoas para discutir política. Nesse ponto o camarada H. interviu e sugeriu que as quatro pessoas com quem nos reuníamos deveriam começar a trabalhar conosco. O contato com o grupo simpatizante do KOZ, do qual elas eram parte, foi abandonado. O que tornou esse rompimento muito destrutivo e sectário foi que ele não se deu em torno de diferenças políticas – mesmo as pessoas que nós eventualmente recrutamos não foram ganhas para nossas posições políticas. E já que não foi feita nenhuma tentativa de recrutar esses camaradas politicamente, alguns depois se desmoralizaram e deixaram o grupo.

Com o rompimento do contato com os simpatizantes do KOZ, a direção tomou então o “trabalho de massas” como a principal orientação do grupo. Isso na realidade era uma liquidação de quadros em potencial em uma série de ações estúpidas e aventureiras. Uma das primeiras dessas ações é descrita como se segue pelo documento da direção: “(…) nós concordamos com uma mobilização conjunta de um dia ao redor das seções eleitorais, para que pudéssemos lutar junto com os trabalhadores para defender o direito democrático.” (página 8). Mas o que foi tal “mobilização”? Em uma carta escrita em 7 de junho, o camarada H. responde a essas perguntas:

“Embora fosse tarde, alguns camaradas desse grupo e nós organizamos uma reunião e elegemos um comitê para mobilizar 20 camaradas para a defesa das urnas e contra a violência. Algumas [medidas específicas de proteção] estavam envolvidas na mobilização. Embora tenha sido muito fraca, ela foi útil para alguns camaradas jovens. Mas por causa da falta de prática dentro das fábricas, a defesa não foi realmente construída como uma defesa de trabalhadores.”

Deve-se notar que com essa atividade isolada nós conseguimos ignorar completamente a mobilização da DISK, a principal federação sindical, para defender as urnas.

Outro exemplo do “trabalho de massas” da WSL na Turquia é descrito no documento produzido pela direção:

“Quando os camaradas conseguiram empregos em outra pequena fábrica, nós fomos capazes de liderar (!) outra (!) luta por sindicalização. Novamente nós combatemos a burocracia da DISK, e ganhamos o apoio dos trabalhadores que organizamos previamente, que ajudaram com piquetes e arrecadação de fundos. Mas a greve foi marginalizada, foi quebrada, e todos os grevistas foram demitidos. Embora a batalha tenha sido perdida, nossos camaradas se desenvolveram e novos contatos foram ganhos.

Boletim de Discussão Pré-Conferência No. 6, página 9 [ênfase de Spartacist Britain]

Nós dissemos a esses jovens trabalhadores em uma pequena fábrica que eles deveriam entrar em greve por reconhecimento sindical. Nós tínhamos muito pouco entendimento do movimento sindical turco e não tínhamos meios de prover uma liderança para tal greve para além de nossa experiência com a WSL na Grã-Bretanha. Nós estávamos totalmente mal preparados para prover mesmo uma boa liderança meramente sindical para sustentar nossa orientação a esses trabalhadores.

Além da idiota ostentação dos nossos pequenos ganhos organizativos à custa de trabalhadores serem demitidos, nós culpamos os trabalhadores pelo fracasso da greve! Em uma carta para o camarada F., o camarada H. escreveu:

“A maior razão para isso [a derrota da greve] não é por que estejamos errados ou por causa do nosso método de trabalho, mas porque as leis estão contra nós, mesmo em tal luta, e que um grupo muito pequeno de trabalhadores não tem o poder para mudar essas leis. Outro erro cometido que não foi nosso foi o da militância dos trabalhadores, foi eles agirem cedo demais… A luta foi derrotada, mas como o método do Programa de Transição ensina, nós ganhamos, em primeiro lugar, o desenvolvimento de nossos camaradas e, em segundo lugar, tivemos a oportunidade de desenvolver um ou dois trabalhadores militantes!”

— 23 de agosto de 1977 [tradução e ênfase de Spartacist Britain]

Então a crise de direção não é o problema quando nós estamos envolvidos: nós colocamos nos trabalhadores a culpa por suas derrotas.

Mas a euforia com o sucesso não durou muito. Revelando a crise do grupo turco enquanto desacordos sobre centralização, e “visitas secretas” de um ex-camarada, o documento da direção afirma que essas coisas:

“… tiveram efeitos sobre um camarada em Istambul e sobre alguns outros camaradas em Ankara. O camarada em Istambul rompeu com o grupo.”

“Na última reunião em Ankara, os camaradas concordaram em atuar novamente como um grupo centralizado. Mas desde então nós não temos recebido informação detalhada sobre a situação em Ankara.”

Boletim de Discussão Pré-Conferência No. 6, página 9

A verdade é que, ao fracassar em fazer do esclarecimento político o trabalho mais importante para nossos camaradas turcos, a WSL desperdiçou suas oportunidades na Turquia. O grupo turco da WSL está uma confusão, e é duvidoso que seus membros ainda apoiem a WSL. A crise do grupo turco e a desmoralização expressada pela declaração acima estão ligadas a duas causas: primeiro, a natureza de panelinha (não-programática) através da qual o grupo foi construído e, segundo, o estúpido aventureirismo que só poderia nos desacreditar aos olhos de quaisquer militantes sérios.

Por uma orientação de propaganda trotskista

A única forma através da qual a base para um partido trotskista de verdade pode ser estabelecida é através do abandono de todas as pretensões de já atuar como um partido de massas e concentrar esforços em recrutar e treinar quadros que formarão uma futura liderança. Essa tarefa, antes de tudo uma tarefa de propaganda do trotskismo, também envolve uma orientação para discussão, debate e polêmicas com os outros grupos supostamente “revolucionários” – principalmente os falsos trotskistas do KOZ, que é aproximadamente 20 vezes maior do que nós. Não apenas há muitos revolucionários subjetivos nessa organização que podem ser ganhos para o trotskismo autêntico, mas a sua própria existência a torna um importante obstáculo adicional para a formação e crescimento de uma organização revolucionária. A luta contra o KOZ também pode desempenhar um papel na luta para esmagar os revisionistas pablistas internacionalmente. Em menor escala, nós devemos orientar nossa propaganda para as outras formações “marxistas” – maoístas, guevaristas, “anti-stalinistas” (especialmente na Revolutionary Youth, onde muitos elementos estão interessados no trotskismo). Qualquer outra estratégia – como o “trabalho de massas” da direção – só pode levar à liquidação da luta por uma liderança revolucionária na Turquia.

Nos primeiros dias da formação da Oposição de Esquerda Internacional, Trotsky projetou exatamente esse curso:

“Nossa força na atual etapa está em um correto (…) prognóstico revolucionário. Essas são as qualidades que nós devemos apresentar em primeiro lugar à vanguarda proletária. Nós agimos em primeiro lugar como propagandistas. Nós somos fracos demais para tentar dar respostas a todas as questões, para intervir em todos os conflitos específicos, para formular em todas as ocasiões e lugares os slogans e as respostas da Oposição de Esquerda. Buscar tamanha universalidade, com nossa fraqueza e a inexperiência de muitos camaradas, vai frequentemente levar a conclusões apressadas, a slogans imprudentes, a soluções erradas. Ao dar passos em falso em questões específicas, nós vamos nos comprometer, impedindo que os trabalhadores apreciem as qualidades fundamentais da Oposição de Esquerda. De forma alguma eu quero dizer que devamos nos colocar à parte da luta real da classe trabalhadora. Nada disso. Os trabalhadores avançados podem testar as vantagens revolucionárias da Oposição de Esquerda apenas através de experiências práticas, mas deve-se aprender a selecionar as questões mais vitais, mais candentes, e mais dependente de princípios e, através dessas questões entrar em combate sem se desgastar em ninharias e detalhes. É nisso, me parece, que consiste agora o papel fundamental da Oposição de Esquerda.”

— Trotsky, Escritos 1930-31, página 297

A palavra de ordem de frente única na Turquia

Um dos erros políticos mais sérios do movimento turco foi o uso inteiramente falso e incorreto da palavra de ordem da “frente única”. Para os revolucionários, a frente única é uma tática que é útil para unir os trabalhadores de várias tendências políticas para certas ações comuns limitadas e concretas (contra os fascistas, por exemplo) enquanto ao mesmo tempo proveem a oportunidade de expor a traição e inconsistências dos reformistas e centristas para os seus seguidores.


Centristas tentam usar a palavra de ordem da “frente única” para encobrir sua própria capitulação diante dos reformistas – ou como algum tipo de atalho mágico para a influência de massas. Eles tentam apresentar blocos de propaganda comuns com os reformistas (ou outros centristas) como um substituto ou primeiro estágio na construção do partido revolucionário. A fórmula leninista da frente única é “bater juntos – marchar separados”, mas os centristas sempre querem marchar junto com os reformistas sob uma bandeira comum. Essa é exatamente a estratégia proposta pela liderança dos camaradas turcos da WSL em Enternasyonal No. 5 (setembro, outubro e novembro de 1977).

“Tal frente [única] vai buscar lidar com as questões econômicas e políticas dos operários e trabalhadores, e ser uma alternativa para o poder. A questão se reduz ao estabelecimento de uma poderosa combinação política e organizativa na qual outros amplos setores de trabalhadores e membros da pequeno-burguesia possam confiar….”

Ou, novamente, em Enternasyonal No. 3 (julho de 1977): “A luta deveria avançar para estabelecer uma Frente Única com um programa socialista”. Tal proposta – por uma frente única estratégica com os traidores reformistas e centristas – é, na realidade, uma proposta oportunista para liquidar a vanguarda revolucionária.

Um dos resultados da confusão introduzida pela liderança sobre a questão da frente única é que os camaradas logicamente se perguntam se o partido revolucionário poderia realizar ações comuns na qual o partido burguês RPP, que possui uma base de massas, poderia participar sem formar uma frente popular. Entretanto, se aceitarmos a definição de frente única de Lenin e Trotsky, como um acordo temporário para ações comuns limitadas dentro das quais os revolucionários mantêm completa liberdade de fazer críticas, fica claro que ações comuns nas quais os RPP participe não constituem traições frentepopulistas.

A luta contra o fascismo

Hoje na Turquia, a existência e o crescimento dos fascistas colocam um sério perigo ao proletariado. O Partido da Ação Nacional usa livremente sua organização de juventude para atacar as organizações dos trabalhadores e militantes individuais. Enquanto nós temos atualmente apenas algumas forças limitadas na Turquia, é necessário que levantemos o programa político correto para esmagar os fascistas. Nosso grupo não é capaz de criar uma organização de defesa independente. A tarefa é lutar para criar tal corpo dentro dos sindicatos. Enquanto tal política se contrapõe ao aventureirismo absurdo e potencialmente desastroso que é defender as seções eleitorais por conta própria, também se contrapõe ao chamado oportunista por uma frente única estratégica com as demais organizações de trabalhadores existentes.

O chamado de Trotsky para que o PC formasse uma frente única com os socialdemocratas do SPD na Alemanha não pode ser separado da autocaracterização da Oposição de Esquerda como uma fração da Internacional Comunista. Portanto, nós não chamamos por uma frente única das organizações operárias existentes como uma solução para a ameaça fascista. Tal estratégia significa dizer aos trabalhadores para depositarem sua fé em um bloco dos colaboracionistas de classe socialdemocratas e stalinistas. Trotskistas nunca devem ensinar os trabalhadores a confiar na unidade dos reformistas – ao invés disso, uma das razões pelas quais nós chamamos os reformistas para realizarem ações de frente única (conosco) é para que nós possamos melhor expor sua traição e covardia diante da base. Em um sentido histórico, a classe trabalhadora na Turquia, assim como nos outros lugares, se vê diante de duas alternativas: socialismo ou barbárie (que pode bem tomar a forma do fascismo). A ameaça do fascismo não pode ser removida a não ser pela vitória da revolução socialista – e isso requer a liderança de um partido trotskista de vanguarda.

A questão do partido operário na Turquia

Ao contrário da Grã-Bretanha e de outros países europeus, hoje não existe na Turquia um partido operário reformista de massas. Ambos o Partido Trabalhista Turco (TIP) e o Partido Comunista Turco (TKP) pró-Moscou são organizações muito pequenas (não muito maiores que o SWP britânico de Tony Cliff) com uma base pequena nos sindicatos. O partido que possui uma base de massas nos sindicatos (o RPP) é um partido abertamente burguês.

Portanto, uma tarefa chave para os revolucionários na Turquia é lutar para que os trabalhadores rompam com o RPP e pela construção de um partido operário de massas como uma forma de construir a independência de classe dos trabalhadores contra a burguesia. Quando nós levantamos o chamado por esse partido, devemos deixar claro que queremos um partido operário baseado no programa revolucionário – o Programa de Transição. Nós não temos interesse em lutar por uma versão turca do reformista Partido Trabalhista britânico. Essa é claramente a posição de Trotsky em suas discussões sobre o programa para um partido operário nos Estados Unidos: “Nós devemos dizer aos stalinistas, aos lovestonistas, etc., ‘Nós somos a favor de um partido revolucionário. Vocês estão fazendo de tudo para que ele seja reformista! ’. Mas nós sempre apontamos para nosso programa. E nós propomos o nosso programa de demandas transitórias.” (“Como Lutar por um Partido Operário nos EUA”, O Programa de Transição para a Revolução Socialista, página 124).

Apenas em duas edições recentes de Socialist Press a WSL chamou pela construção de um partido operário na Turquia, mas nos materiais escritos em turco, o grupo turco da WSL nunca levantou essa palavra de ordem. Ao invés disso, a política da liderança tem sido a de oferecer apoio ao pequeno e ultrarreformista TIP. Na época das últimas eleições, o TIP tentou desesperadamente fazer um bloco eleitoral com o muito maior RPP. Só quando o RPP recusou a oferta foi que o TIP lançou candidatos, e então eles concorreram com um programa de colaboração de classes – tentando forçar o burguês RPP a formar com o TIP e outros pequenos partidos da esquerda uma frente popular. Apesar da plataforma claramente frentepopulista da campanha do TIP, nosso grupo vergonhosamente chamou os trabalhadores a votarem por esses traidores e levantou até mesmo o chamado oportunista e ridículo para que o colaboracionista TIP lutasse por um programa revolucionário! A “tática” reformista (que significa gerar ilusões nas massas sobre o TIP) foi claramente copiada da palavra de ordem da WSL, “Fazer os Partidos da Esquerda Lutarem”, e do chamado da WSL para votar nos trabalhistas apesar da sua coalizão com os liberais.

Nós defendemos um rompimento com a capitulação diante do pequeno grupo de colaboracionistas socialdemocratas do TIP e pela adoção do chamado pela independência política de classe dos trabalhadores turcos – por um partido operário baseado no Programa de Transição na Turquia!

Por uma posição leninista na questão nacional

Os leninistas defendem o princípio democrático básico da igualdade entre as nações e, portanto, reconhecem o direito de todas as nações à autodeterminação – ou seja, o direito de todas as nações de estabelecerem seu próprio Estado político. Nós não defendemos essa política para fortalecer a reacionária ideologia do nacionalista entre o proletariado, mas para enfraquecê-la, e dessa maneira fortalecer a unidade proletária independente de divisões nacionais. Se nós vamos ou não chamar pela realização do direito de autodeterminação em uma situação particular depende de uma variedade de fatores. Como Lenin aponta na Discussão Sobre a Autodeterminação Resumida:

“As várias demandas da democracia, incluindo a autodeterminação, não são absolutas, mas apenas uma pequena parte do movimento geral democrático (agora geral socialista) mundial. Em casos individuais concretos, a parte pode contradizer o todo; se for o caso, ela deve ser rejeitada.”

Obras Reunidas, Vol. 22

Na passagem a seguir, Lenin resumiu a perspectiva bolchevique à opressão nacional, e nossa hostilidade ao nacionalismo:

“O despertar das massas da letargia feudal, e sua luta contra toda a opressão nacional, pela soberania do povo, da nação, são progressivas. Portanto, é o dever obrigatório dos marxistas defenderem a democracia mais resoluta e consistente em todos os aspectos da questão nacional. A tarefa é em grande parte negativa. Mas esse é o limite do proletariado em apoiar o nacionalismo, já que para além disso começa a atividade ‘positiva’ da burguesia no esforço para fortalecer o nacionalismo.”

“É um dever imperativo do proletariado, como força democrática, se livrar do jugo feudal, de toda opressão nacional, de todo privilégio desfrutado por qualquer nação ou língua, e isso certamente está nos interesses da luta de classes do proletariado, que é obscurecida e retardada pelas disputas sobre a questão nacional. Mas ir além desses limites históricos limitados e definidos de ajuda ao nacionalismo burguês significa trair o proletariado e ficar ao lado da burguesia. Há uma linha divisória aqui, que frequentemente é muito sutil, e a qual os membros do Bund judaico e os nacionalistas-socialistas ucranianos perderam completamente de vista.”

Comentários Críticos Acerca da Questão Nacional, páginas 22-23.

Pelo direito de autodeterminação do povo curdo

O povo curdo é uma minoria nacional oprimida que se divide entre a Turquia, Irã, Iraque, Síria e União Soviética. A maior porção dos curdos (cerca de um quarto) vive na Turquia. Uma posição correta sobre a questão curda é central para a orientação de um grupo revolucionário na maioria dos países nos quais o povo curdo reside atualmente.

Embora tenha havido inúmeros levantes de setores do povo curdo contra vários opressores ao longo do último século, o que os curdos desejam, enquanto povo, de forma alguma está decidido de forma definitiva. As várias lutas dos curdos nos últimos cem anos não dão nenhuma indicação clara para saber se eles desejam simples igualdade, ou autonomia regional dentro de determinado Estado ou independência.

A luta recente mais bem conhecida do nacionalista Partido Democrata Curdo foi por autonomia regional dentro do Estado iraquiano. Em uma situação como essa, na qual existe opressão nacional, mas na qual o desejo do povo oprimido nacionalmente não se expressou claramente, nós só podemos defender uma solução que minimize as divisões nacionais entre o proletariado da região, ou seja, o direito do povo curdo à autodeterminação. Essa demanda é negativa – nenhuma solução forçada pelas burguesias dominantes da região para a questão curda – e deixa aberta a questão sobre o que os curdos decidirão – direitos iguais, autonomia regional ou independência.

Ao lidarem com a questão curda na Turquia, é vital que os trotskistas exponham impiedosamente a posição nacional-chauvinista do Partido Comunista Turco (TKP). Em sua tentativa de se aproximar do partido burguês RPP, o TKP essencialmente nega o direito dos curdos à autodeterminação e apoia o “direito” da burguesia turca de continuar a oprimir os curdos que vivem dentro das atuais fronteiras da Turquia. A posição da liderança da WSL sobre a questão curda rejeita o nacional-chauvinismo do TKP stalinista apenas para adotar um programa nacionalista.

A posição da liderança do grupo turco da WSL é desavergonhadamente nacional-divisionista: “A tarefa política dos trotskistas no Curdistão deve consistir na luta por um partido independente e [na] luta para ganhar e preservar a independência política da classe trabalhadora com relação aos nacionalistas burgueses”. Enquanto um partido de vanguarda na Turquia possa ter organizações especiais para o trabalho entre os curdos, isso apenas refletirá uma divisão de trabalho dentro do partido. Essa divisão de trabalho é simplesmente para realizar a organização e mobilização das massas curdas. Nós ficamos com Lenin contra a divisão em partidos separados dos proletários de diferentes nações dentro das mesmas fronteiras de um mesmo poder de Estado:

“Os trabalhadores grão-russos e ucranianos devem trabalhar juntos e, enquanto viverem no mesmo Estado, agir na mais íntima unidade e coordenação organizativa, rumo a uma cultura internacional do movimento proletário, agindo na mais absoluta tolerância sobre a questão do idioma com o qual a propaganda é conduzida, e nos detalhes puramente locais ou puramente nacionais de tal propaganda. Essa é uma exigência imperativa do marxismo. Toda reivindicação de separação dos trabalhadores de uma nação dos trabalhadores da outra, todos os ataques contra a ‘assimilação’ marxista… é nacionalismo burguês, contra o qual é essencial realizar uma luta implacável.”

Comentários Críticos Acerca da Questão Nacional, páginas 20-21.

O documento da liderança projeta um programa de trabalho entre os curdos que defende uma concepção etapista:

“Tal programa irá focar em demandas democráticas (independência nacional, uma assembleia constituinte, o direito de falar a língua curda, etc.), mas também deve apontar para o caráter permanente da revolução.” [ênfase de Spartacist Britain]

Isso foi colocado de forma ainda mais clara na reunião em Londres sobre a Turquia, em 11 de dezembro, quando o camarada H. declarou que: “A tarefa diante da nação curda não é se unir com o proletariado turco, mas atingir a sua unidade nacional primeiro”. Na reunião, o camarada H. estava apenas repetindo o que lhe havia sido dito na conferência sobre o Curdistão, realizada em Londres em novembro. Nós não aceitamos a revolução permanente como um mero adendo a documentos internos enquanto a atividade real da organização foca apenas em demandas democráticas. Nas palavras do Programa de Transição:

“Nessa luta, as palavras de ordem democráticas, as reivindicações transitórias e as tarefas da revolução socialista não estão separadas em épocas históricas distintas, mas decorrem umas das outras. Apenas havia iniciado a organização de sindicatos, o proletariado chinês foi obrigado a pensar nos conselhos. É neste sentido que o presente programa é plenamente aplicável aos países coloniais e semicoloniais, pelo menos àqueles onde o proletariado já é capaz de possuir uma política independente.”

Argumentar que o proletariado curdo não se tornou capaz de possuir uma política independente (como classe) seria ignorar o importante potencial que foi demonstrado pelas lutas dos petroleiros de Kirkuk no Pós-Segunda Guerra.

Finalmente, nós defendemos a palavra de ordem leninista do direito dos curdos à autodeterminação e contra a capitulação ao nacionalismo que é expresso no chamado da liderança por um Curdistão independente. Lenin lidou em particular com a questão de reivindicar a separação:

“A exigência de uma resposta, ‘sim’ ou ‘não’, à questão da separação no caso de cada nação pode parece muito ‘prática’. Na realidade, ela é absurda – ela é metafísica em teoria, enquanto na prática leva à subordinação do proletariado à política da burguesia. A burguesia sempre coloca as demandas nacionais em primeiro plano, e o faz de forma categórica. Com o proletariado, entretanto, essas demandas são subordinadas aos interesses da luta de classes. Teoricamente, você não pode dizer de antemão se a revolução democrático-burguesa vai terminar com uma determinada nação se separando da outra, ou em uma situação de igualdade com a outra; em todo caso, o importante para o proletariado é garantir o desenvolvimento de sua classe. Para a burguesia, o importante é atrapalhar esse desenvolvimento forçando os interesses da sua ‘própria’ nação antes dos interesses do proletariado. É por isso que o proletariado se limita, por assim dizer, às demandas negativas pelo reconhecimento ao direito de autodeterminação, sem dar garantias a nenhuma nação, e sem prometer nadaa custas de outra nação.”

O Direito das Nações à Autodeterminação, páginas 53-54.

A questão nacional no Chipre

Embora o Chipre não seja parte da Turquia, a considerável população turca e o envolvimento do Estado turco nos assuntos do Chipre fazem com da questão cipriota uma questão chave para os revolucionários turcos. Até 1974, a população turca no Chipre era oprimida nacionalmente pela população grega – mas desde a invasão do exército turco, os gregos têm estado na posição de oprimidos. Em razão de as duas populações estarem completamente entrelaçadas nessa pequena ilha, fica claro que a “autodeterminação” não é aplicável. Nós, portanto, chamamos pela retirada de todas as tropas estrangeiras (sejam turcas, gregas, da ONU, da OTAN, ou quaisquer outras) e pela união do povo trabalhador grego e turco do Chipre para derrubar o capitalismo e estabelecer um Estado operário liderado por um partido trotskista. Apenas através de uma revolução dos trabalhadores unidos, a opressão nacional no Chipre pode ser encerrada de uma forma que seja justa para ambos os povos.

A importância dos Estados operários

Em razão da localização estratégica da Turquia, a questão da atitude dos revolucionários em relação aos Estados operários é extremamente importante. A flagrante omissão de qualquer menção a essas questões no documento da liderança é uma indicação da incapacidade dela para entender as tarefas diante dos revolucionários turcos. Nós defendemos a revolução política nos Estados operários e por sua defesa incondicional contra ataques imperialistas.

Pelo centralismo democrático leninista

A forma organizativa interna do nosso grupo turco é muito distante do centralismo democrático. Ao invés disso, são panelinhas na forma de um rígido centralismo. Na Grã-Bretanha, o camarada H., “secretário-geral” do grupo turco, e o camarada I. agiram em unidade disciplinada no Comitê Executivo contra os outros camaradas. Esse centralismo ridiculamente rígido chegou ao cúmulo na Turquia. Em Istambul, havia um comitê regional de três e dois membros fora do comitê regional. Em Ankara, antes havia dois membros no comitê regional e um camarada que não fazia parte do comitê. A consequência política dessa forma de organização é que os membros não participam das discussões do grupo – e, portanto, tem sua formação política atrofiada. Discussões reais acontecem apenas nos “órgãos de liderança” – o resto dos membros simplesmente recebe as decisões, as quais devem aceitar ou lançar uma luta contra a direção.

Os métodos burocráticos da liderança não podem ser separados da forma com a qual os membros foram recrutados na Turquia – não com base em um acordo com a linha política da WSL, mas simplesmente por terem concordado em participar das atividades do grupo e aceitar a sua disciplina. Nós defendemos a forma leninista de centralismo democrático – os membros devem estar envolvidos com a discussão e a elaboração da linha política, e depois de uma decisão ser tomada de forma democrática, ela deve ser aplicada lealmente por todos os camaradas. Apenas dessa forma é possível corrigir os erros da liderança e desenvolver os membros.

A disciplina leninista não é apenas um acordo vago entre indivíduos simpáticos para trabalharem juntos. James P. Cannon, o fundador do trotskismo norte-americano, disse o seguinte:

“Não é uma questão de 50 por cento de democracia e 50 por cento de centralismo. A democracia deve cumprir o papel dominante em épocas normais. Em tempos de ação, atividade intensa, crises… e giros no partido, como o movimento de proletarização depois do racha, e assim por diante, o centralismo deve tomar a frente, como foi nos últimos anos.”

O método e forma de organização leninista fluem do programa, das tarefas e dos objetivos estabelecidos pelo partido, em completa harmonia, em uma concepção inteiramente harmônica.

O Socialist Workers Party na Segunda Guerra Mundial, página 352 [ênfase nossa].

Por uma tendência internacional democrático-centralista! Pela reconstrução da Quarta Internacional!

Embora no seu início o documento da direção turca defenda a necessidade de pertencer a um movimento internacional principista, ele se coloca contra ser parte de uma tendência internacional democrático-centralista: “… nós propomos estabelecer grupos de ‘Enternasyonal’ em uma base centralizada em cada região, como um passo preliminar rumo a um partido trotskista turco, autônomo, mas em aliança política com a WSL” (página 10). Nós nos opomos à criação de mais um grupo como o CIL grego ou a SL (DC) norte-americana, com os quais a WSL pode se “aliar” sem colocar nenhum empenho ou tomar nenhuma responsabilidade política. Esse é o tipo de “internacionalismo” federativo e frouxo do Bureau de Londres nos anos 1930 ou o do Secretariado Unificado de hoje – mas nada tem a ver com o internacionalismo bolchevique da Oposição de Esquerda. Nós defendemos a organização de uma tendência internacional leninista democrático-centralista que irá lutar pela reconstrução da Quarta Internacional. Tal tendência internacional não pode ser uma coleção de grupos politicamente aliados porém organizativamente autônomos, e sim funcionar como o embrião de um partido mundial da revolução socialista – a Quarta Internacional.

O estabelecimento de uma tendência revolucionária internacional democrático-centralista não é simplesmente uma questão organizativa – é primeiramente uma questão política. A internacional revolucionária, e todas as suas seções, devem firmemente levantar as posições programáticas básicas do Programa de Transição: oposição a todas as formas de colaboração de classes; reconhecimento da validade da estratégia da revolução permanente; e uma determinação a liderar a revolução política contra os dirigentes burocráticos stalinistas no Estados operários degenerados e deformados, combinada com uma política de defesa militar incondicional desses Estados contra o imperialismo. Antes que a WSL possa realizar um trabalho principista revolucionário na Turquia (ou em qualquer outro lugar) deve haver um completo realinhamento programático do movimento de acordo com as posições apresentadas neste documento e no documento “Em Defesa de um Programa Revolucionário”, ao qual nós, desde já, declaramos nosso apoio.

Rumo a um partido trotskista turco, seção de uma Quarta Internacional reconstruída, partido mundial da revolução socialista!

E. (Grupo turco, filial de Hackney)

F. (Grupo turco, filial de Hackney)

28 de janeiro de 1978

(Nós reconhecemos a ajuda do camarada Jim Saunders na preparação desse documento).

Acerca do plebiscito venezuelano de 2004

Princípios e Táticas

Acerca do plebiscito venezuelano de 2004

[A presente declaração é uma versão editada de um documento aprovado no Quarto Congresso Internacional da então revolucionária Tendência Bolchevique Internacional (IBT), e publicado em seu periódico, 1917 n. 28 (de dezembro de 2005). Sua tradução para o português foi realizada pelo Reagrupamento Revolucionário]

Em geral, tendo uma escolha, marxistas votariam “sim” para remover um governo burguês. Mas no presente caso da Venezuela [um plebiscito sobre “manter ou não Chávez no poder”], o papel do imperialismo norte-americano de certa forma complica a situação. Houve casos análogos no passado, quando os revolucionários não quiseram ver empreitadas do tipo serem bem-sucedidas, notavelmente o “Referendo Vermelho”, organizado por nazistas contra o governo social-democrata da Prússia, que falhou quando os esforços combinados de nazistas e stalinistas fracassaram em obter o apoio da maioria do eleitorado. Em seu artigo de 25 de agosto de 1931 acerca do Referendo Vermelho, Trotsky escreveu:

Não temos nenhuma razão para apoiar o governo de Braun ou assumir sequer sombra de responsabilidade por ele diante das massas, ou diminuir o mínimo que seja a nossa luta política contra o governo de Bruening e sua agência prussiana. Mas, temos menos razão ainda para auxiliar os fascistas a substituir o governo Bruening-Braun….”

Sair à rua com a palavra de ordem: ‘Abaixo o governo Bruening-Braun!’ quando, segundo a correlação de forças, esse governo só pode ser substituído por um governo Hitler-Hugenberg, é puro aventureirismo. A mesma palavra de ordem adquire, entretanto, sentido inteiramente diverso caso se torne uma introdução à luta imediata do próprio proletariado pelo poder.”
As lições do “Plebiscito Vermelho”, Leon Trotsky, 25 de agosto de 1931.

Nós nunca daríamos um voto de confiança em um governo burguês, mas, em certas situações, o melhor posicionamento não é o de apoiar uma tentativa de derrubar um, e o plebiscito venezuelano de 2004 é exatamente um desses casos.

Marxistas rejeitam de forma absoluta a lógica reformista de apoiar o candidato burguês “menos pior” com base no argumento de que seus adversários são ainda piores. No segundo turno da eleição presidencial de 2002 na França, quando a escolha era entre Chirac (um burguês de direita) e Le Pen (um fascista), nós condenamos os pablistas e outros supostos revolucionários que votaram “contra Le Pen”, isto é, em Chirac, enquanto afirmavam que estavam defendendo a democracia burguesa contra o fascismo ao fazer isso.

A campanha venezuelana de 2004 pelo impeachment é certamente um exemplo de interferência imperialista “democrática” e de baixa intensidade em semicolônias. Apesar do plebiscito venezuelano não ter sido organizado pelos EUA, os imperialistas certamente apoiaram aqueles por detrás dele. Alguns militantes de esquerda argumentam que era necessário votar contra a remoção de Chávez, por conta do caráter reacionário de seus oponentes. Mas um voto pelo “não” em uma questão de chamar por novas eleições presidenciais implica em apoio ao governo burguês em exercício.

Não há dúvidas de que uma vitória da direita poderia ter criado o ambiente para “legalizar” ataques de grande monta contra o povo trabalhador. A derrota da campanha pelo “sim” gerou rachas e recriminações entre os reacionários venezuelanos e seus apoiadores imperialistas. Sem dúvidas, ela também fortaleceu a base popular de Chávez, tal como vitórias de Frentes Populares fizeram no passado (como na França em 1936 ou no Chile em 1971). Os trabalhadores que depositam confiança em “seu” governo para defender seus interesses inicialmente serão hostis àqueles que fizerem críticas pela esquerda. Mas, ao longo do tempo, conforme a realidade for ficando clara, tais atitudes irão mudar.

Idealmente, teria havido uma forma de votar contra os opositores de direita apoiados pelo imperialismo sem conceder apoio político à Chávez, mas o formato do plebiscito tornou isso impossível, assim como era impossível simplesmente votar “contra” Le Pen no segundo turno das eleições francesas de 2002. O plebiscito venezuelano não foi um ataque extra-legal executado pela direita, mas uma manobra parlamentar sancionada pela constituição “bolivariana”. Isso o torna diferente dos golpes de Estado que depuseram Allende no Chile, em 1971, ou Aristide no Haiti, em 2004. Chávez aceitou o desafio porque ele estimava, corretamente, que possuía apoio popular suficiente para vencer.

A Venezuela de hoje em dia é uma sociedade altamente polarizada, na qual um conflito armado é uma possibilidade real. Ao mesmo tempo em que não damos nenhum apoio ao lamacento programa bonapartista/reformista de esquerda de Chávez, nós certamente emblocaríamos com ele militarmente contra qualquer tentativa de golpe, assim como os Bolcheviques fizeram com o Governo Provisório de Kerenski em 1917.

Um paralelo pode ser traçado entre o plebiscito venezuelano e as eleições organizadas na Nicarágua pelos sandinistas, sob pressão do imperialismo. Nesse caso, nós não votamos na Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), mesmo tendo anteriormente apoiado ela militarmente contra os Contras e seus aliados burgueses. Nós adotamos a mesma posição na África do Sul e em El Salvador, quando o Congresso Nacional Africano (ANC) e a Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN) realizaram a transição de combatentes da resistência para eleitoreiros nacionalistas/frentepopulistas de esquerda.

Claramente, os apoiadores de Chávez, diferentemente daqueles da oposição, são gente que nós gostaríamos de ganhar para nosso programa. Aqueles que depositaram sua fé em Chávez certamente olhariam com desconfiança qualquer grupo que tenha se recusado a participar da campanha pelo “não”, mas eles também esperariam que qualquer genuíno anti-imperialista votasse na chapa bolivariana em uma eleição. Militantes de esquerda que votaram para que os oponentes de Chávez “não” pudessem encurtar seu mandato, e depois se recusaram a votar “sim” para que ele completasse o mesmo, se embolariam ao tentar explicar tamanha posição contraditória.

Ao tratar do plebiscito, trotskistas venezuelanos começariam pela perspectiva de ajudar a classe trabalhadora a estabelecer seus próprios interesses políticos. Sua propaganda iria apontar o fato de que o estrangulamento do imperialismo norte-americano e de seus vassalos burgueses latinoamericanos só pode ser rompido pela total expropriação do capital nacional e estrangeiro. Assim como no Egito de Nasser, no Chile de Allende e outros defensores de fantasias igualitaristas radicais de “terceira via”, Chávez se opõe a tal curso. Enquanto deixassem clara sua disposição para defender militarmente seu governo contra ataques de reacionários, Bolcheviques-Leninistas venezuelanos tentariam ganhar os elementos mais à esquerda entre os chavistas para a ideia de que os inimigos dos oprimidos só podem ser decisivamente derrotados pela substituição do Estado atual pela dominação do proletariado.

No caso de tentativas extra-legais de tomada do pder por reacionários (por exemplo, Kornilov em 1917, Franco em 1936 ou o golpe de 2002 contra Chávez), marxistas defendem militarmente o governo burguês “legal” (de fato agindo para mantê-lo no poder, ao menos temporariamente). Mas isso é uma situação muito diferente se comparado a direitistas usando canais parlamentares constitucionais – nesses casos, “blocos” eleitorais implicam apoio político.

Algo foi posto no plebiscito venezuelano que era muito mais significativo que uma eleição burguesa de rotina, e todos sabiam. Se um plebiscito semelhante ocorresse no Brasil, onde a burguesia não sentiu necessidade de recorrer a um golpe para manter seu controle, os amigos imperialistas não teriam o mesmo interesse. Eles estão suficientemente felizes com Lula. Para a oposição venezuelana, essa manobra parlamentar era uma questão de expediente tático, uma vez que eles já haviam tentado atingir seus objetivos através de um golpe e de um lockout nacional paralisador, e falhado nisso.

Uma organização revolucionária com uma base grande o suficiente para ser um fator significativo no resultado final, poderia ter respondido a uma crescente atividade direitista através de uma campanha pela criação de “comitês de ação” no estilo daqueles propostos por Trotsky após a vitória da frente popular na França, em 1936. Revolucionários alertariam que, conforme demonstram os casos da Guatemala em 1954 e do Chile em 1973, os trabalhadores não podem se proteger através das urnas. Milícias proletárias de defesa são a única medida eficaz para lidar com a ameaça de bandidos direitistas violentos, e sua criação também levanta a autoconfiança e o espírito combativo da classe trabalhadora.

Enquanto marxistas, nós reconhecemos que ações extra-parlamentares às vezes assumem aparência parlamentar. Em algumas situações, um meio constitucional pode fornecer cobertura para um desenvolvimento profundamente anti-democrático (por exemplo, a ascensão de Hitler à chancelaria alemã em 1933). Mas em tais circunstâncias, quase que por definição, não há resposta eleitoral viável. Apesar de que jamais votaríamos em um Democrata Cristão ou em um gaullista para manter um nazista fora do governo, nós certamente favoreceríamos vigorosas ações de massas para rejeitar uma vitória eleitoral fascista. Nós não queremos Le Pen como o presidente da França, mas nós não estamos dispostos a votar em Chirac – não apenas por princípios, mas também porque reconhecemos que, se a sociedade está tão perto assim de uma tomada do poder pela Frente Nacional [o partido neonazista francês], a ideia de uma resistência eleitoral só pode ser uma ilusão debilitante. Em tais situações, ou em caso de outra tentativa de golpe direitista na Venezuela, a tarefa urgente dos revolucionários é mobilizar a classe trabalhadora para a batalha.

China: Rumo a uma Ruptura

Capitalismo em um Estado Operário Deformado

China: Rumo a um Ruptura

Artigo originalmente publicado na revista “1917” n. 26 (2004), pela então revolucionária Tendência Bolchevique Internacional. Tradução para o português realizada pelo Reagrupamento Revolucionário em julho de 2016.

Milhões de trabalhadores, camponeses pobres e outras vítimas do crescimento de relações sociais capitalistas na China tem se mobilizado em uma escala massiva. Suas organizações são incipientes e locais, mas os números e intensidade da resistência estão crescendo. Na primavera de 2002 no hemisfério norte, 50 mil trabalhadores petroleiros de Daqing e 30 mil metalúrgicos de Liaoyang, no cinturão industrial do nordeste, organizaram uma série de protestos de rua, bloqueios de rodovias e ocupações para protestar contra cortes e demissões. Enquanto essas ações foram realizadas para defender empresas estatais individuais e os direitos de trabalhadores em risco de demissão, sua lógica aponta para a necessidade de uma ofensiva para erradicar o tumor capitalista que ameaça destruir as instituições da propriedade nacionalizada e de planejamento central criados pela Revolução Chinesa de 1949.

A expropriação da classe dominante chinesa e de seus chefes imperialistas libertou a China da dominação pelo mercado mundial. O novo regime dirigido por Mao Tsé-Tung rapidamente introduziu medidas que produziram melhorias imediatas e substanciais nas condições de vida, saúde e educação. Os quadros do Partido Comunista Chinês (PCCh) estavam confiantes de que estavam lançando a fundação de uma nova China socialista. Entretanto, a economia de comando burocrático no estilo soviético estabelecida pelo PCCh não resultou – e não poderia resultar – em uma sociedade na qual a classe trabalhadora exercia poder político direto, uma precondição essencial para um desenvolvimento genuinamente socialista.

A China é um “Estado operário deformado”, qualitativamente similar à Coreia do Norte, Vietnã e Cuba. Nessas sociedades o capitalismo foi extirpado, mas o poder político foi monopolizado por uma casta burocrática privilegiada organizada pelo Partido “Comunista”. A exclusão dos produtores do processo de decisão impede que uma economia coletivizada funcione efetivamente, especialmente depois que os estágios rudimentares de industrialização tenham sido atingidos. Além disso, como Marx e Lenin repetidamente afirmaram, o socialismo só é concebível na base de uma divisão internacional do trabalho e conquista do poder pelos trabalhadores nos países capitalistas avançados. A ideologia do “socialismo em um só país”, abraçada por todas as burocracias estalinistas nacionalmente limitadas, é uma expressão, no fundo, do seu desejo de obter uma acomodação com o imperialismo mundial.

O tumor que é a casta burocrática à frente do PCCh não tem função social necessária. Ela está preocupada somente em tentar preservar seus próprios privilégios e prerrogativas. Seu programa é um amálgama de improvisos de curta visão e pedaços retirados de dois sistemas econômicos fundamentalmente incompatíveis: capitalismo competitivo e planejamento central. Conforme as contradições continuam a se acumular, o espaço de manobra do PCCh está diminuindo. Tanto a burguesia quanto o proletariado chineses são bem mais fortes hoje do que eram em 1949, quando o exército de guerrilha de base camponesa de Mao tomou o poder. A burocracia do PCCh é vastamente mais fraca em termos de moral, autoconfiança e autoridade social.

Logo depois da morte de Mao em 1976, a facção de Deng Xiaoping no PCCh tomou o poder prometendo acelerar o crescimento introduzindo elementos de competição de mercado. Enquanto a facção de Deng foi denunciada por seus rivais por tomar o “caminho capitalista”, ela via o uso de métodos capitalistas como meio para fortalecer, e não liquidar, a posição do partido dentro do Estado operário.

Até hoje, muitos setores estratégicos e potencialmente lucrativos da economia chinesa permanecem fechados ao investimento privado. Entretanto, a China está desempenhando um papel crescentemente importante na economia mundial – o Investimento Estrangeiro Direto (IED) cresceu de 1 bilhão de dólares em 1983 para 53 bilhões em 2002. Hoje a China está em sexto no ranking de comércio total (o valor combinado de exportações e importações), embora muito desse comércio consista das operações internas de corporações estrangeiras que importam maquinário e outros equipamentos e exportam produtos acabados:

“Entrando em qualquer Wal-Mart, você não vai se surpreender em ver as prateleiras cheias de produtos feitos na China – tudo, desde sapatos e roupas até brinquedos e eletrônicos. Mas o onipresente rótulo ‘Made in China’ obscurece um importante ponto: poucos desses produtos são feitos por companhias chinesas nativas. De fato, você teria dificuldade em encontrar uma única firma chinesa nascida no país que opera em uma escala global e promove seus próprios produtos no exterior.

“Isso ocorre porque o boom de exportação de manufaturados é largamente uma criação de Investimento Estrangeiro Direto (IED), o qual efetivamente serve como substituto de empreendedorismo doméstico.”

– Y. Huang, T. Khanna, Foreign Policy, julho/agosto 2003

O dramático crescimento do setor de bens de consumo nos últimos 25 anos, que significaram padrões de vida melhores para uma minoria significativa da população da china, também acentuou as contradições sociais, minando assim a estabilidade do regime. O desenvolvimento capitalista é severamente distorcido pela capacidade do PCCh de estabelecer as regras e pelo controle estatal da energia, indústria pesada e do setor financeiro.

Os milhares de novos milionários na República Popular da China estão ansiosos para se livrarem do PCCh e desmantelarem o que resta do planejamento central. Isso, entretanto, não pode ser alcançado por meio de um gradual acúmulo de “reformas” do PCCh. A transição de um sistema de propriedade coletivizada para outro no qual predomina a propriedade privada requer uma contrarrevolução social. A burocracia não pode se transformar em uma nova burguesia. Enquanto um setor dos quadros do PCCh poderia usar suas posições para construir fortunas individuais, muitos mais teriam que perder tudo com a restauração capitalista.

Burocracia e corrupção

O monopólio centralizado de poder político em uma sociedade crescentemente orientada pela busca de ganho privado é uma receita para corrupção monumental. Toda empresa na China de hoje, mesmo as maiores, depende dos favores políticos que pode garantir, ou pensa-se que garante. Nada é mais importante do que ter conexões políticas, administrativas e financeiras. Isso é conhecido como sistema guanxi. A posição contraditória da burocracia como mediadora entre os trabalhadores e os capitalistas se expressa na sua atitude com relação ao guanxi. O enriquecimento pessoal é amplamente visto como recompensa legítima de uma posição, mas a corrupção é um crime punível com execução, e a pena de morte é imposta frequentemente, ainda que inconsistentemente.

O sistema guanxi permitiu que filhos dos maiores líderes políticos acumulassem uma riqueza considerável. Nos anos 1990, Deng Zhifang, o filho mais jovem do ex-presidente Deng Xiaoping, enriqueceu nos ramos imobiliário e financeiro, enquanto Jiang Mianheng, filho mais velho do ex-presidente Jiang Zemin, fez fortuna como o “Rei do TI” de Xangai. Deng Jr. ficou bem conhecido pelo seu aforismo “ficar rico é glorioso”, mas existem limites e alguns dos “príncipes” do PCCh ocasionalmente tiveram suas asas cortadas.

Oficiais que são processados por corrupção ou entraram em conflito com superiores ou ainda foram expostos na mídia. Revelar corrupção tem sido uma arma padrão na guerra intraburocrática, mas esse pode ser um jogo perigoso e algumas vezes os próprios denunciantes acabam na prisão. Algumas formas de corrupção (por exemplo, participação no crime organizado, privatização de terras, roubo em larga escala de bens estatais) são punidos severamente, enquanto outras infrações menores são rotineiramente ignoradas (por exemplo, uso privado de limusines do Estado, imposição de pedágios não-oficiais em estradas, concessão de contratos ou empréstimos a amigos íntimos). O favoritismo é aceito como parte do sistema guanxi.

Um dos casos mais espetaculares de corrupção aconteceu em Shenyang, a quarta maior cidade da China, na província de Liaoning, no norte. Quando revelações sobre venda de cargos, roubo, contrabando, armação de contratos e assassinatos começaram a vir à tona em 1999, foram vigorosamente suprimidas. Zhou Wei, um oficial aposentado que tentou relatar a corrupção, foi sentenciado a dois anos em um campo de trabalho e Jiang Weiping, um jornalista que escreveu uma série de artigos para o Front Line, uma revista de Hong Kong, foi condenado a nove anos de prisão. Quando o governo finalmente reagiu, muitos dos suspeitos mais bem conectados escaparam de punição, incluindo o governador de Lianing, Bo Xilai, cujo pai tinha um assento no Bureau Político dirigente do PCCh.

A investigação oficial descortinou uma rede de corrupção na polícia, promotoria, juízes, legisladores, oficiais, banqueiros e executivos de companhias privadas, todos trabalhando juntos em Shenyang. Um oficial sênior, Liu Yong, foi tão longe a ponto de planejar os assassinatos de mais de 30 pessoas para liberar propriedades em que ele queria investir. O vice-prefeito da cidade, Ma Xiangdong, gastou 4 milhões de dólares de fundos públicos jogando em Macau e Las Vegas. O prefeito de Shenyang, Mu Suixi, escondeu o equivalente a 6 milhões em barras de ouro e 150 relógios Rolex nas paredes de suas duas casas de campo, que ele jocosamente decorou com uma coleção de antiguidades falsas.

Corrupção nessa escala coloca uma ameaça óbvia para a sobrevivência do Estado operário deformado. A apropriação de grandes quantidades de propriedade estatal por burocratas bem conectados é a reclamação mais frequente feita pelos cidadãos chineses, que veem a corrupção como um fator central no colapso das empresas estatais e no resultante desemprego em massa. O chamado pela criação de uma rede de comitês por local de trabalho para proteger a propriedade pública e extirpar a corrupção teria um apelo bastante difundido – e implicações potencialmente revolucionárias. Para serem efetivas, tais formações deveriam ser democraticamente eleitas em escritórios e fábricas por trabalhadores de base e ser completamente independentes do aparato do PCCh. Tais comitês poderiam representar um importante passo na mobilização do proletariado chinês contra a crescente maré da contrarrevolução.

O Exército de Liberação Popular

Por anos, o corpo de oficiais do Exército de Liberação Popular (ELP), uma parte integral da burocracia, administrou suas próprias fazendas, fábricas têxteis e outras operações. A decisão de Deng Xiaoping de permitir que empresas do ELP produzissem commodities para venda ao público geral previsivelmente resultaram em corrupção generalizada e crescimento de um sentimento pró-capitalista dentro do corpo de oficiais. Em O Estado e a Revolução, Lenin observa que o Estado, reduzido aos seus essenciais, é uma força armada que defende os interesses de uma classe social particular, ou seja, seu sistema de propriedade. Qualquer Estado está em perigo iminente quando elementos do seu exército começam a desenvolver um apego a um sistema social distinto. A ala mais abertamente pró-capitalista do PCCh, representada no fim dos anos 1990 pelo Primeiro Ministro Zhu Rongji, estava confortável com o crescente apego do ELP ao mercado. Mas a maior parte da burocracia não estava e, em julho de 1998, o governo exigiu que o exército se desfizesse de seus interesses comerciais. No começo de 1999, o regime foi um passo além e centralizou as licitações militares, cortando dessa maneira muitos laços que conectavam comandos militares locais e empresários.

O PCCh é uma formação profundamente heterogênea, que contém muitos tons de opinião política, dos abertamente pró-capitalistas aos ortodoxos “marxismo-leninismo-Pensamento Mao Tsé-Tung” que restaram da desastrosa Revolução Cultural dos anos 1960. O partido se mantém por dois motivos: um medo de que a China entrará em caos social se a burocracia perder seu controle e um desejo de preservação da segurança pessoal, autoridade política e privilégios. A liderança do PCCh está ciente do desastre político, social e econômico que resultou da restauração capitalista no bloco soviético, culminando com a fragmentação das antigas URSS, Tchecoslováquia e Iugoslávia.

Os burocratas menos bem posicionados para conseguir uma parte do saque – uma categoria que inclui a maioria dos oficiais do ELP – tem sérias reservas sobre a continuação do caminho da privatização e integração ao mercado capitalista mundial. A ala esquerda da burocracia – os elementos mais conservadores que desejam preservar as instituições sociais existentes – estão concentrados no decadente nordeste e nas áreas mais pobres e menos desenvolvidas do oeste e centro do país. O crescente sudeste da China, onde a atividade capitalista está concentrada, é o lar da ala direita da burocracia, ou seja, aquele setor mais disposto a pressionar por “reformas” econômicas que levem até o fim a restauração capitalista.

As disputas intraburocráticas estiveram até agora contidas dentro das estruturas existentes do PCCh. Uma fração intermediária de “pragmáticos” tem mantido um equilíbrio precário entre os conservadores e os “reformadores” pró-capitalistas. Os pragmáticos esperam que um crescimento continuado do setor privado e uma maior integração da China ao mercado mundial de alguma forma aumentem a produtividade e os padrões de vida o suficiente para permitir que a burocracia siga aos trancos e barrancos.

Até recentemente, o líder conservador mais proeminente no PCCh era o Primeiro Ministro Li Peng – o análogo de Egor Ligachev ou Gennady Yanayev no partido soviético antes da contrarrevolução de agosto de 1991. A figura principal entre os pró-capitalistas no PCCh – o análogo de Boris Yeltsin – era o ex-Primeiro Ministro Zhu Rongji. O sucessor de Deng Xiaoping, o Presidente Jiang Zemin, desempenhou o papel de Mikhail Gorbachev, se equilibrando entre os dois extremos.

A perestroika chinesa tem sido relativamente bem-sucedida, em parte, porque ela não foi acompanhada de uma glasnost, ou democratização. Jiang manteve o PCCh unido ao permitir desenvolvimento capitalista enquanto preservava a propriedade estatal em setores econômicos chave e guardava zelosamente o controle pela burocracia da mídia, polícia, forças armadas e todas as instituições jurídicas e regulatórias. O substituto de Jiang, Hu Jintao, foi selecionado por ser um pragmático comprometido em manter o PCCh intacto. Mas por segurança, Jiang manteve a posição de presidente do Comitê Militar Central, assim como fez Deng Xiaoping quando ele “se aposentou”.

Para a classe trabalhadora e o campesinato pobre, a defesa do sistema de propriedade socializada e planejamento estatal é uma questão de vida ou morte. Enquanto defende a derrubada do PCCh por uma revolução política proletária, os marxistas defendem incondicionalmente o Estado operário deformado chinês contra a restauração capitalista, e estão preparados para tomar um lado militar com os burocratas stalinistas contra a contrarrevolução.

Em agosto de 1991, muitos trabalhadores soviéticos reconheceram nos seguidores de Yeltsin os seus inimigos, mas a única instrução que partiu dos burocratas stalinistas conservadores do Comitê de Emergência de Yanayev para a classe trabalhadora foi não fazer nada. Uma pequena organização revolucionária preparada para intervir antes que a contrarrevolução ganhasse força poderia ter potencialmente reunido um número suficiente de trabalhadores pró-socialistas para virar a balança. A vitória de Yeltsin não era inevitável – a ausência de liderança revolucionária foi o que condicionou o resultado.

Um Estado capitalista chinês não vai ser estabelecido com a velocidade e relativa ausência de derramamento de sangue que foram vistos na Rússia. Milhões de pessoas trabalhadoras na China, que entendem que seus interesses são contrapostos aos dos “introdutores do capitalismo” já começaram a agir de forma inteiramente independente da burocracia. O ritmo dos eventos tem sido muito mais lento e mais desigual na China do que ocorreu na Rússia no fim dos anos 1980. Ainda há oportunidade para o desenvolvimento da consciência, programa e organização necessários para defender de forma bem-sucedida o sistema de propriedade coletivizada e arrancar do poder a burocracia do PCCh.

Pretensos trotskistas e a China

O programa da revolução política proletária foi defendido originalmente por Leon Trotsky para o Estado operário burocratizado soviético nos anos 1930. Muitas das organizações que reivindicam o trotskismo hoje e que afirmam defender a perspectiva de Trotsky falham em fazê-lo na prática. A Liga Espartaquista dos Estados Unidos (SL na sigla em inglês), por exemplo, tem oscilado bizarramente sobre a China. Em 1997, a SL melancolicamente anunciou que os planos do PCCh de vender um bando de indústrias estatais “significaria a liquidação do que resta da economia planejada, coletivizada, e a restauração do capitalismo na China” (Workers Vanguard [WV], 3 de outubro de 1997, ênfase no original). Dois anos depois, WV (o jornal da Liga Espartaquista) ainda estava afirmando que “a principal força dirigindo o curso para a contrarrevolução capitalista hoje [na China] é o próprio regime stalinista” (WV, 11 de junho de 1999). Em 2000, a SL anunciou que a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC) iria sinalizar efetivamente o fim do Estado operário deformado:

“A entrada na OMC significaria eliminar o que resta do monopólio estatal do comércio exterior, subjugando ainda mais a economia às pressões do mercado mundial capitalista. Iria, assim, agir como um aríete para forçar a decisão de 1997 do PCCh de privatizar o grosso da indústria estatizada.”

WV, 7 de abril de 2000.

Esse prognóstico pessimista se provou errado. A filiação da China à OMC representa um passo significativo rumo à integração no mercado mundial e aumenta a pressão pela restauração capitalista, mas até o momento não houve privatização dramática do setor estatal. A caracterização da SL sobre os stalinistas chineses como a força principal pela restauração capitalista faz lembrar a sua recusa em tomar o lado militar do Comitê de Emergência de Yanayev contra a facção em torno de Yeltsin em agosto de 1991. Eles criticaram nossa posição de apoio militar aos golpistas stalinistas que, segundo a SL, “eram tão comprometidos com a restauração capitalista quanto Yeltsin” (em “The International Bolshevik Tendency – What is it?”).

Os líderes do Grupo Internacionalista (IG – um racha de 1996 da SL), que defendem a posição de 1991 dos espartaquistas sobre o golpe por razões de prestígio pessoal, criticam a SL por tomar uma posição essencialmente idêntica sobre a China. A SL respondeu afirmando que o IG era um grupo stalinofílico, que conferia uma capacidade revolucionária à burocracia. O líder do IG, Jan Norden, foi denunciado por ter “dotado os geriátricos ex-estalinistas [da Alemanha Oriental] com algum tipo de apetite revolucionário instintivo” e por promover “a ilusão de que uma ala da burocracia de Beijing vai, ela própria, assumir a luta contra a contrarrevolução capitalista” (WV, 11 de junho de 1999). Na verdade, é inteiramente possível que elementos do aparato stalinista tomariam o mesmo lado que os trabalhadores contra a restauração capitalista. E os revolucionários iram certamente querer explorar as contradições no seio da burocracia para fortalecer a posição dos trabalhadores mobilizados em uma ação política independente.

As críticas de stalinofilia feitas pela SL soam particularmente estranhas vindo de um grupo que, no começo dos anos 1980, marchava em protestos sob o nome de “Brigada Yuri Andropov” e que deu “vivas” à intervenção de Leonid Brejnev no Afeganistão. A stalinofilia da SL atingiu o seu auge em janeiro de 1990, quando James Robertson, o fundador e líder do grupo, tentou marcar uma reunião pessoal para oferecer conselhos gratuitos para três chefes stalinistas em Berlim Oriental: o general soviético B.V. Snetkov, Markus Wolf, um oficial-chefe de inteligência da Alemanha Oriental, e Gregor Gysi, líder do partido dominante (veja “Robertsonites in Wonderland”, em 1917 No. 10).

Os giros stalinofílicos da SL foram acompanhados por ocasionais desvios stalinofóbicos como, por exemplo, quando WV denunciou a destruição de uma provocação imperialista (o incidente com o avião espião KAL 007, em 1983) como “pior que uma atrocidade bárbara” (veja o Trotskyist Bulletin No.1). O IG é uma representação da SL congelada no modo stalinofílico – eles nunca repudiaram a aproximação com Gysi, Snetkov e Wolf, e presumivelmente iriam apoiar uma tentativa similar de ganhar a confiança da liderança da burocracia chinesa.

Ao contrário do IG, a posição da SL não está congelada – os quadros da SL não são, no fundo, leais a nenhum programa particular, mas sim ao líder James Robertson, que pode mudar à vontade a posição do grupo várias vezes seguidas. Depois de, por muitos anos, considerar os burocratas chineses como meros restauradores capitalistas, a SL, talvez castigada pela falha de suas previsões pessimistas em se materializarem, silenciosamente mudou sua linha e mais uma vez está discutindo a possibilidade de que uma resistência séria à restauração capitalista poderia rachar o PCCh.

A falha da SL em oferecer qualquer explicação para seu desvio stalinofóbico anterior não a impediu de repreender indignada os reformistas inescrupulosos que lideram o Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT/CWI), por adotarem a mesma posição:

“Comentando sobre o 16º Congresso do PCCh, a tendência baseada na Grã-Bretanha e liderada por Peter Taaffe escreveu: ‘A China está a caminho da completa restauração capitalista, mas a casta dominante está tentando fazê-lo gradualmente e mantendo seu controle repressivo autoritário’ (Socialist, 22 de novembro de 2002). Ao rotular o governo da China como um regime restauracionista ‘autoritário’, os seguidores de Taaffe e sua laia podem justificar defenderem as forças anticomunistas apoiadas pelo imperialismo na China, em nome de promover a ‘democracia’, assim como apoiaram a contrarrevolução ‘democrática’ de Boris Yeltsin na URSS em 1991.”

WV, novembro de 2003.

A SL sabiamente aponta:

“Uma contrarrevolução capitalista na China (assim como na Europa oriental e na antiga URSS) viria acompanhada pelo colapso do bonapartismo stalinista e pelo fraturamento político do Partido Comunista dirigente.”

Idem.

Mas em agosto de 1991, durante a crise política terminal da burocracia stalinista soviética, a SL adotou a mesma atitude pela qual eles hoje atacam Taaffe, e afirmaram que não havia diferença entre os “conservadores” do Comitê de Emergência que queriam preservar a União Soviética e a turba em volta de Yeltsin, que queria restaurar o capitalismo.

O Socialist Equality Party de David North [Comitê Internacional], que também reivindica a herança política de Trotsky, regularmente lança artigos sobre a China em seu site [World Socialist Web Site] que cuidadosamente evitam a questão elementar sobre se a China é um Estado burguês ou um Estado operário deformado. O grupo de North tem um histórico consistente de stalinofobia, tendo tomado o lado de Boris Yeltsin, Lech Walesa e virtualmente todos os outros contrarrevolucionários no bloco soviético. Acreditamos que em qualquer confronto futuro eles irão novamente sair abertamente ao lado da contrarrevolução “democrática”.

Outros grupos supostamente revolucionários são menos cuidadosos. O grupo britânico Workers Power [Liga Pela Quinta Internacional], por exemplo, afirma que o Estado operário deformado chinês já se transformou sem ruptura (e sem ser notado) em um Estado capitalista. Mas analistas burgueses sérios tem outra opinião:

“O maior mito sobre a China nos anos 1990 é de que o país deixou de ser socialista. Apesar de um governo autoproclamado comunista, operando por meio de um Bureau Político, um Comitê Central e uma rede nacional de 50 milhões de membros do partido, esse mito tornou-se opinião comum. Foi repetido em jornais e revistas, sem mencionar em salas de reuniões, ao redor do globo. O credo oficial de ‘socialismo com características chinesas’, propagandeado diariamente pela mídia oficial, foi tomado pelo mundo exterior como uma formulação chinesa para um conceito ainda politicamente difícil de capitalismo […]. O país nos anos 1990 não é uma economia de mercado, mas um país fundamentalmente socialista passando por algumas modificações chinesas.”

The China Dream, Joe Studwell.

Bolsas de valores, bancos e participação chinesa na OMC

O capitalismo fez penetrações perigosas na China até o momento, mas ele ainda está restrito em uma ordem política e social que é antitética ao livre mercado. Ao contrário de uma economia capitalista de mercado, nem as bolsas de valores chinesas e nem os seus bancos funcionam para canalizar investimentos para empresas que pareçam mais prováveis de gerar altas taxas de lucros. Na China, o investimento é controlado pelo aparato de Estado, e o critério definitivo não é a maximização do lucro, mas a manutenção da posição e controle da burocracia dominante. Isso é visto como muito perverso por comentaristas burgueses:

“No começo dos anos 1990, quando a China estava registrando taxas de crescimento de dois dígitos, Beijing investiu massivamente no setor estatal. A maior parte dos investimentos não eram comercialmente viáveis, deixando o setor bancário com um enorme número de empréstimos que não dariam resultado – totalizando possivelmente até 50% dos ativos bancários.”

– Y. Huang, T. Khanna, Foreign Policy, julho/agosto 2003.

A bolsa de valores capitalista permite às companhias levantar capital por meio da venda de “ações” dos ativos e futuros lucros. Os preços das ações flutuam de acordo com a lucratividade potencial e qualquer investidor que controle a maioria das ações de uma companhia pode determinar suas decisões.

Para que uma bolsa de valores capitalista funcione apropriadamente, informação sobre a lucratividade de oportunidades de investimento rivais deve ser amplamente acessível. É por isso que, mesmo sob condições rígidas de censura da imprensa, a imprensa financeira nos países capitalistas é geralmente mais ou menos irrestrita. Os mercados tem elaboradas regras regendo a divulgação, prestação de contas, auditoria e relatório que, em teoria, eliminam distorções devido a acesso privilegiado a informações. Enquanto os grandes jogadores ignoram rotineiramente proibições sobre venda de informações, violações a partir de certa escala são sujeitas a sanções porque podem desestabilizar mercados financeiros e, assim, ameaçam os interesses da classe capitalista como um todo.

Os mercados de ações de Xangai e Shenzen tem operado por duas décadas e hoje 60 milhões de chineses tem contas de negociação. Entretanto, em vez de canalizar investimento para empresas lucrativas, o papel dessas trocas é fornecer apoio financeiro às firmas que tem permissão de listar suas ações – a maioria das quais são Empresas de Propriedade Estatal (EPEs). O governo não apenas decide quais empresas tem permissão de listar nas trocas, mas também quais informações financeiras estão disponíveis. Como resultado, os preços variam bruscamente com base em informações manipuladas, venda de informações internas e embustes, muitos dos quais seriam expostos pela imprensa financeira em um país capitalista. Os donos de ações podem ganhar ou perder dinheiro conforme os preços das ações sobem ou descem, mas eles tem a mesma relação com as firmas nas quais investem que um apostador em um hipódromo tem com os cavalos nos quais fazem apostas:

“Na China[ …] os burocratas seguem sendo os zeladores, controlando rigidamente a alocação de capital e restringindo severamente a capacidade de companhias estatais de obter acesso a bolsas de valores e ao dinheiro que precisam para crescer. De fato, Beijing tem usado o mercado financeiro principalmente como forma de manter as EPEs no azul. Essas políticas tem produzido enormes distorções […].”

Idem.

A enormidade das distorções faz com que a bolsa de valores de Xangai seja aproximadamente 800 vezes mais volátil do que a de Nova Iorque, de acordo com um artigo na edição do verão de 1998 da Harvard China Review.

Quando entrou na Organização Mundial do Comércio em dezembro de 2001, a China concordou em permitir que commodities importadas sejam vendidas pelo preço do mercado mundial. Isso promete devastar o campo chinês, no qual a maioria da população ainda vive, assim como indústrias estratégicas tais como aço. Mas apesar do acordo no papel, Beijing reteve um controle considerável sobre sua economia doméstica. Por exemplo, as companhias de seguro estrangeiras, que supostamente teriam acesso ao mercado chinês em dois anos, não tem permissão de operar sem uma licença do governo, que as autoridades concedem a seu critério. Metade do mercado de telecomunicações da China seria supostamente aberto para propriedade estrangeira, mas os termos são estabelecidos pelo órgão regulatório da Chiam, que controla o maior fornecedor de linhas fixas e as duas maiores companhias de telefonia celular. As regulações exigem que três quartos do capital seja levantado por um parceiro chinês doméstico (Financial Times [Londres], 15 de março de 2002).

Bancos estrangeiros agora tem permissão de operar na China, sob os termos do acordo com a OMC, mas o governo chinês estipulou que cada banco só pode abrir uma nova agência por ano. Dado que os quatro grandes bancos estatais já tem um total de 130 mil agências ao redor do país, vai demorar algum tempo até que os bancos estrangeiros possam competir efetivamente. Esses quatro bancos, que contam com dois terços de todas as transações, são propriedades exclusivas do ministério das finanças. A maioria dos outros bancos e instituições de crédito chineses são propriedades de agências governamentais e são todos rigidamente controlados por autoridades centrais que os usam como mecanismos de financiar novos investimentos. Na China, ao contrário de um país capitalista, o investimento é determinado pelas exigências da burocracia dominante:

“O governo central trata os bancos como uma ‘verba secundária’, um lugar conveniente para encontrar fundos com os quais cobrir problemas do passado. Ajudar empresas de propriedade estatal é apenas o começo. Há, além disso, zonas de tecnologia a construir, rios a represar, e sempre alguma coisa na região oeste da China a desenvolver. Os líderes de Estado esperam que os bancos façam sua parte.”

The Coming Collapse of China, Gordon G. Chang.

Uma grande proporção dos empréstimos bancários vai para as EPEs, que ainda empregam 55% da força de trabalho urbana. O fato de que a maior parte delas não consegue pagar suas dívidas é irrelevante. No capitalismo, os bancos e as estatais que eles mantêm com subsídios e empréstimos a juros baixos seriam forçados à falência. Mas na República Popular da China, empresas de propriedade estatal só poder ir à falência por decreto governamental.

ZEEs & EPEs

Uma das “reformas” principais introduzidas depois da morte de Mao foi a dissolução das fazendas coletivas e sua transformação em empresas familiares. Hoje na China rural, milhões de famílias arrendam pequenas parcelas de terra do Estado. Enquanto alguns fazendeiros acumularam capital suficiente para lançar operações de grande escala, muitos outros afundaram para a miséria. Entretanto, mesmo os fazendeiros chineses mais bem-sucedidos não podem competir com o agronegócio do ocidente. Por exemplo, o milho foi listado na bolsa de commodities de Chicago em setembro de 2000 a 100 dólares por tonelada. Na China, estava sendo vendido por 175 dólares (Minneapolis Star Tribune, 1º de outubro de 2000). Quase 20% da força de trabalho rural já está desempregada. Mais de cem milhões de antigos camponeses foram forçados ao comércio de rua, prostituição ou criminalidade nas favelas que circundam as cidades chinesas. O Ministério da Agricultura chinês projetou que o relaxamento dos controles de importação exigido pela OMC vai custar pelo menos mais 20 milhões de empregos no campo.

Em 1980, o governo abriu quatro Zonas Econômicas Especiais (ZEEs) para investimento estrangeiro em Guangdong, perto de Hong Kong. Existem hoje cerca de 12 mil ZEEs, a maioria concentradas na costa sudoeste. Elas são essencialmente colônias econômicas capitalistas no Estado operário deformado, responsáveis por um oitavo do total da produção industrial da China e metade das suas exportações. Os capitalistas chineses em Hong Kong e Taiwan que fizeram a maior parte dos investimentos iniciais acharam as ZEEs bastantes lucrativas. A China tem uma das forças de trabalho mais baratas do mundo: os salários são metade dos níveis mexicanos e um vinte avos do americano. Os salários são rebaixados porque o PCCh, que estabelece as regras, suprime impiedosamente qualquer tentativa de criar sindicatos efetivos [e subsidia, via serviços públicos, muitos dos gastos de subsistência].

As enormes Empresas de Propriedade Estatal do nordeste, que são administradas diretamente pelo PCCh, constituem o núcleo da economia coletivizada estabelecida pela Revolução de 1949. Nos anos 1980, as EPEs contavam por virtualmente toda a produção não-agrária da China, mas hoje a sua fatia caiu para meros 30%. Entretanto, elas ainda constituem setores vitais da economia (indústria pesada, alta tecnologia, armamentos, energia e telecomunicações), representam cerca de 70% de todos os ativos fixos e pagam uma parcela desproporcional de impostos, que financiam o Estado. As EPEs, através das quais o Estado garantia aos trabalhadores a política da “tigela de arroz de ferro” – emprego, comida, saúde, moradia e pensão – permanecem sendo críticas para o controle do poder pela burocracia, embora sem a pressão do mercado ou o controle democrático dos produtores, a produtividade tenha decaído constantemente, tanto em termos absolutos quanto relativamente às corporações estrangeiras.

As EPEs são vistas pela imprensa financeira estrangeira como restos vestigiais de um sistema falido que deveriam ser desmanteladas tão cedo quanto possível. Mas a burocracia do PCCh, ela própria um “resto” do qual os imperialistas gostariam de se livrar, tem uma visão diferente. Desde o fim dos anos 1990, o PCCh tem tentado “racionalizar” as EPEs, fechando as menos produtivas, enquanto encoraja outras a imitar empresas capitalistas participando de fusões, abrindo ações e vendendo as partes menos viáveis de suas operações.

Em maio de 2003, o presidente Hu Jintao anunciou que as EPEs, antes geridas por vários ministérios e municipalidades, seriam a partir de então administradas por uma Comissão central de Administração e Supervisão de Ativos Estatais (CASAE). O objetivo é criar uma dúzia de Empresas de Propriedade Estatal internacionalmente competitivas em ramos industriais estratégicos, modeladas nas zaibatsu japonesas e nas chaebols sul-coreanas. Enquanto isso não vai resolver a contradição do controle burocrático em uma economia coletivizada, pode melhorar a performance das EPEs em curto prazo.

A “racionalização” das EPEs tem significado cortes de serviços para trabalhadores e aposentados e uma redução dramática da força de trabalho. Desde 1998, as EPEs eliminaram entre 25 e 50 milhões de empregos. Esse ataque amplo aos padrões de vida da classe trabalhadora tem enraivecido milhões. No cinturão industrial do nordeste da China, onde o desemprego está nos 40%, em vez de “polícia e bandido”, as crianças brincam de “matar o chefe”.

O “Grande Desenvolvimento do Oeste” e a questão nacional no Tibete e Xinjiang

Em anos recentes, o PCCh lançou um projeto de “Grande Desenvolvimento do Oeste” para as pessoas que moram em Gansu, Guizhou, Ningxia, Qinghai, Shaanxi, Sichuan, Tibete, Yunnan e Xinjiang. Essas regiões, que constituem mais da metade da extensão territorial da China e tem uma população de 300 milhões de pessoas, incluem as fronteiras estrategicamente cruciais, instalações militares chave e os depósitos mais importantes de petróleo e minérios do país. O isolamento geográfico, a instabilidade política, a infraestrutura incipiente e as populações dispersas e pouco escolarizadas tornam essas regiões pouco atrativas para investimento capitalista.

O projeto representa uma expansão massiva do setor estatal, incluindo a construção de rodovias, ferrovias, aeroportos e um oleoduto de 14 bilhões de dólares para transportar gás natural por 2500 milhas de distância de Xinjiang até Xangai. Xinjiang, a maior província da China, é também uma das mais pobres e lar de oito milhões de uigures de língua turca, dentre os quais o descontentamento nacionalista islâmico é latente. No começo de 1997, algo em torno de 500 uigures foram presos durante protestos antichineses na cidade de Yining, no oeste de Xinjiang. A Anistia Internacional relatou que 30 uigures foram sentenciados à morte em abril de 2001 por atividades religiosas e separatistas.

O governo está ativamente promovendo a imigração han para Xinjiang, que tem dois principais produtos de exportação, petróleo e algodão. Os han já controlam a indústria do petróleo e as suas novas companhias de algodão de larga escala estão superando as pequenas parcelas produtoras dos uigures. Enquanto os uigures ainda são numericamente superiores aos han, estes serão os principais beneficiários de qualquer futuro desenvolvimento financiado pelo Estado.

A opressão aos uigures recebe pouca atenção da mídia ocidental, talvez porque 300 dos prisioneiros do Talibã capturados pelas forças americanas no Afeganistão sejam uigures. Mas, apesar das covardes tentativas de Beijing de se juntar aos Estados Unidos na sua “guerra ao terror”, os EUA se recusam firmemente em reconhecer a preocupação da China com a existência de fundamentalismo islâmico em Xinjiang, ou devolver os prisioneiros uigures. Os legisladores americanos estão, presumivelmente, considerando usar fanáticos islâmicos em Xinjiang para a mesma razão pela qual a CIA armou e treinou os mujahedin afegãos de Osama Bin Laden há duas décadas.

Ao contrário dos uigures, o estado dos tibetanos é mais próximo dos sentimentos dos “democratas” pró-imperialistas, que tendem a ignorar o fato de que em 1949 o Tibete era uma sociedade feudalista, governada por monges e extremamente atrasada, na qual a expectativa de vida média era de 30 anos. No começo dos anos 1950, quando chegou ao poder na região, o PCCh buscou uma “frente unida” com os teocratas e parasitas aristocráticos do Tibete e tentou ganhar as graças do mimado Dalai Lama adolescente e sua comitiva. Esse acordo se desfez dentro de alguns anos e, em 1959, uma rebelião em larga escala foi abafada pelo ELP ao custo de dezenas de milhares de vidas tibetanas. O Dalai Lama fugiu pelos Himalaias até a Índia. Beijing tomou o controle direto e procedeu para extirpar o sistema social tradicional, dividindo as terras da nobreza e dos monastérios para o campesinato.

Está claro que o povo tibetano, que tem seu próprio idioma, cultura e território, se ressente da dominação han. Assim como os uigures, os tibetanos tem direito à sua própria existência nacional, mas para os socialistas, a defesa dos direitos nacionais dos povos oprimidos na China deve ser subordinada à defesa do Estado operário deformado. A campanha internacional para “libertar o Tibete” é uma arma da investida imperialista contra a China. Esse não é um evento novo: o envolvimento da CIA no levante de 1959 há muito é uma questão de conhecimento público e, há alguns anos, a Associated Press relatou que “A administração do Dalai Lama reconheceu hoje que recebeu 1,7 milhão de dólares por ano da Agência de Inteligência Central nos anos 1960” (New York Times, 2 de outubro de 1998). Um subsídio anual de 180 mil dólares era “destinado diretamente ao Dalai Lama”.

Os marxistas reconhecem que os sentimentos e ideologias reacionários estão enraizados na desigualdade material de uma sociedade dividida em classes. Sempre que possível, buscaríamos corroer a influência dessas concepções sociais retrógradas por meio da educação e incentivos econômicos em vez de repressão. Um regime leninista combateria o chauvinismo han combinando generosos subsídios para o desenvolvimento com verdadeira autonomia regional para as minorias nacionais, incluindo o direito de controlar as instituições políticas locais, receber educação e serviços governamentais no idioma de preferência, liberdade de deslocamento e de expressão política. Ao concordar que os tibetanos e os uigures têm direito de controlar seus próprios assuntos internos, um governo revolucionário na China sinalizaria sua disposição em coexistir com a casta dominante tradicional do Tibete e os sacerdotes de Xinjiang enquanto eles tiverem apoio popular.

O cerco imperialista

O cerco imperialista em volta do pescoço da China apertou consideravelmente nos últimos anos. A restauração da China como um terreno de saque imperialista irrestrito segue sendo uma prioridade estratégica para os Estados Unidos. Um dos objetivos das recentes guerras neocoloniais dos EUA foi aumentar seu espaço de manobra com o Estado operário deformado chinês. A China está cada vez mais dependente de petróleo importado e a criação de um Estado fantoche dos EUA no Iraque representaria uma ameaça real para Beijing.

As instalações militares dos EUA no Quirguistão e no Uzbequistão, estabelecidas durante a conquista do Afeganistão, afastaram a influência chinesa na antiga Ásia central soviética. Além das suas bases no Afeganistão, Coreia do Sul e Japão, os EUA estão atualmente negociando com o Vietnã e a Tailândia por instalações navais e aéreas e continuam armando Taiwan. A política dos EUA está atualmente focada em exercer pressão econômica sobre a China e conter sua capacidade de projetar seu poder externamente. Ao mesmo tempo, os mísseis americanos miram permanentemente instalações chinesas, e o risco de ação militar agressiva contra o Estado operário deformado chinês com um pretexto ou outro permanece muito real.

Falun Gong: ameaça ao PCCh?

O PCCh já reserva obsequiosamente o seu monopólio como organização política. Como Joe Studwell observa em The Chinese Dream: “Alguns cidadãos chineses não podem começar um clube de pesca, ou um grupo de autoajuda para alcoólatras ou uma comunidade de correspondência sem uma sanção oficial”. Qualquer organização que conecte pessoas com outras fora da sua própria localidade imediata é vista como uma ameaça. A mídia jornalística chinesa rotineiramente deixa de registrar grandes acidentes industriais, escândalos de corrupção, greves e protestos para evitar causar um apelo público em escala nacional.

Mas o controle do PCCh sempre foi imperfeito, e o advento da internet apresentou ao regime uma nova ordem de problemas. A internet é responsável pelo rápido crescimento do Falun Gong, um tipo de meditação chinesa Nova Era e exercício motor que se desenvolveu a partir de sessões públicas de tai-chi e chi-kung. O governo costumava ver o tai-chi como uma fonte inofensiva de exercício e atividade social para os participantes (na maioria, idosos), e fazia vista grossa para as bases filosóficas anti-materialistas de muitas vertentes do movimento. O regime até mesmo patrocinava uma associação de pesquisa chi-kung, dentro da qual o Falun Gong se desenvolveu no começo dos anos 1990, sob a liderança de Li Hongzhi. Em 1994, Li rompeu com a associação e se mudou para Nova Iorque.

O Falun Gong prega a “verdade, benevolência e paciência”, enquanto alerta que pessoas de raças miscigenadas vão ter dificuldade de encontrar um lugar apropriado na vida após a morte. Ele também ensina que as máquinas modernas (como computadores e aviões) foram criadas por extraterrestres disfarçados de seres humanos. Os devotos do Falun Gong são ensinados que, praticando uma série de cinco movimentos, eles podem desenvolver um “Falun” giratória de cor dourada em seus corpos que os permitirá absorver energia de diferentes universos, enquanto simultaneamente obtém iluminação religiosa e saúde física. Esse nonsense tem um apelo óbvio em uma sociedade na qual um número crescente de pessoas encaram um futuro sem aposentadoria ou acesso a tratamento médico. Não é surpreendente que o Falun Gong seja particularmente popular com pessoas mais velhas, desempregadas e outras que não estão tendo sucesso na “nova” China.

Em 1999, depois que autoridades locais começaram a reclamar sobre os efeitos incômodos dos encontros de Falun Gong, He Zouxiu, um físico teórico na Academia de Ciências chinesa, escreveu uma crítica bastante divulgada sobre os seus ensinamentos. Em resposta, 10 mil seguidores do Falun Gong se reuniram em 25 de abril de 1999 para uma sessão de meditação do lado de fora do complexo Zhongnanhai, em Beijing, lar da elite política chinesa. A manifestação pegou as autoridades completamente de surpresa. Enquanto o PCCh se sente compelido a tolerar protestos localizados em razão de preocupações imediatas, ele proíbe terminantemente qualquer atividade organizativa que não seja controlada por ele próprio. Depois da manifestação de abril, os exercícios de Falun Gong foram proibidos e muitos dos seus líderes presos. Mas o Falun Gong permanece. Em pelo menos cinco províncias diferentes, os apoiadores do Falun Gong hackearam canais de televisão do governo, permitindo que eles transmitissem mensagens que iam desde simples exortações de que “Falun Gong é bom!” até programas de uma hora de duração fazendo proselitismo do culto.

Os stalinistas chineses são politicamente falidos para combater efetivamente as noções primitivas do Falun Gong. A liderança do PCCh não funciona mais em termos de ideias, só de repressão. Sem dúvida, o Falun Gong é apoiado pelos imperialistas e contrarrevolucionários freelancer mas, ao contrário do Solidariedade polonês, cuja direção funcionava como uma agência pró-imperialista consciente dentro do Estado operário deformado, o Falun Gong não defende nenhum programa social ou político específico. Os marxistas não apoiam a supressão pelo PCCh dessa vertente particular de nonsense supersticioso.

O Falun Gong é claramente um ópio pernicioso adotado por muitos chineses desesperados por um refúgio das inseguranças e privações materiais da vida em um Estado operário que está desmoronando. Há, entretanto, forças pró-capitalistas muito mais perigosas na China, incluindo aquelas dentro da liderança do próprio Partido Comunista. O fato de que o Falun Gong era amplamente praticado dentro do ELP, e mesmo nos altos escalões do PCCh, é uma evidência de que o partido cujos quadros já foram animados pelo “marxismo-leninismo-Pensamento Mao Tsé-Tung” já não está comprometido com mais nada além dos seus próprios privilégios e prerrogativas.

Proletariado chinês: uma história de luta

A classe trabalhadora tem repetidamente formado suas próprias organizações ao longo da história da República Popular da China. Durante o breve período da campanha de liberalização das “Cem Flores”, em 1956-57, uma corrente de “sociedades de reparação das reclamações”, baseadas nos locais de trabalho, fugiu do controle da organização oficial “Federação dos Sindicatos de Toda a China” (FSTC) e liderou uma onda de greves. O ponto alto desse movimento foi atingido quando metade da força de trabalho do porto de Guangzhou (Cantão) se mobilizou contra um corte de pagamento. No final, entretanto, o PCCh conseguiu esmagar as greves e despachou muitos militantes proletários para campos de trabalho.

A disputa intraburocrática por poder no meio dos anos 1960, conhecida como “Revolução Cultural”, teve o efeito colateral não intencionado de brevemente criar brechas para ações operárias independentes. Houve um levante significativo de combatividade da classe trabalhadora de 1966-67, particularmente em Xangai, onde organizações de massa envolvendo centenas de milhares de trabalhadores foram criadas. Essas formações desempenharam um papel na derrubada da administração municipal do PCCh e no estabelecimento de uma breve Comuna Popular de Xangai. No começo de fevereiro de 1967, a comuna foi lançada com uma manifestação de um milhão de trabalhadores. Ao longo de sua curta vida, a Comuna de Xangai foi efetivamente controlada por uma fração descontente de quadros do PCCh, que proclamava sua intenção de governar com base nos princípios delineados por Karl Marx em A Guerra Civil na França, seu estudo clássico da Comuna de Paris de 1871 (embora eles tenham ignorado sua observação de que os líderes deveriam ser eleitos pela população e revogáveis a qualquer momento). Depois de apenas três semanas, a comuna foi liquidada por “pedido” do próprio Grande Timoneiro. O entusiasmo deslocado dos trabalhadores de Xangai com uma “comuna” que era, de fato, apenas uma ferramenta para uma facção do PCCh, mostrou ao mesmo tempo a instabilidade da burocracia e a volatilidade da classe trabalhadora.

Em abril de 1976, outra onda de atividade baseada nos locais de trabalho despontou brevemente como reação às políticas ultra-maoístas da “Gangue dos Quatro”. Deng Xiaoping foi brevemente deposto pela segunda vez por seu papel nesses distúrbios, mas ele logo retornou ao poder. Os trabalhadores tiraram vantagem de uma atenuação da repressão política, conforme os “introdutores do capitalismo” de Deng consolidavam o poder, para exigir sindicatos independentes e denunciar baixos salários, gestão arbitrária e outras características das novas “reformas” de mercado. Um jornal com base na Fábrica de Aço e Ferro de Taiyuan propôs que, para realmente defender seus interesses, os trabalhadores precisavam de suas próprias organizações, com delgados eleitos e revogáveis. Tais vozes foram rapidamente silenciadas, mas as suas ideias sobreviveram.

No começo de abril de 1989, quando protestos estudantis ocuparam a Praça Tiananmen para exigir reformas democráticas, logo se juntaram a eles delegações de trabalhadores das fábricas de Beijing. No fim do mês, a Federação Autônoma dos Trabalhadores (FAT) de Beijing havia surgido, a partir dos setores ferroviários, aço e aviação. Formações similares logo emergiram em outras grandes cidades. Inicialmente, essas organizações focaram em exigir a legalização de sindicatos independentes separados da FSTC. Entretanto, eles logo começaram a levantar questões de salário, condições de vida, privilégio burocrático, desigualdade de renda e democracia no local de trabalho. Organizações dos trabalhadores em diferentes cidades começaram a se ligar e muitas enviaram representantes para a FAT de Beijing, que começou a funcionar como centro dirigente do movimento.

Em 18 de maio de 1989, um milhão de pessoas, a maioria trabalhadores, protestaram em Beijing. Uma semana depois, foi estabelecido um comitê preparatório para uma “federação nacional auto-organizada dos trabalhadores”. A burocracia do PCCh viu nisso uma séria ameaça ao seu poder. Em junho de 1989, a FSTC, que anteriormente havia concordado com as demandas de massa por uma greve geral, repentinamente começou a exigir que as FATs fossem postas na ilegalidade. Dois dias depois, unidades do exército leais ao regime atacaram brutalmente os participantes da manifestação, assassinando centenas. Milhares de trabalhadores que foram acusados de participar no movimento autônomo foram postos na cadeia ou executados.

Apesar de as FATs terem sido destruídas pela repressão, elas forneceram ao movimento dos trabalhadores um poderoso exemplo do potencial para ação política proletária independente. Entre 1990 e 1994, três tentativas de estabelecer organizações por direitos trabalhistas foram suprimidas, e seus organizadores presos. Apenas a FSTC (braço sindical do PCCh) é legalizada, e só tem permissão de defender “demandas razoáveis”, “apoiar as reformas [de mercado]” e “restaurar a ordem normal da produção tão cedo quanto possível” no caso de quaisquer distúrbios trabalhistas.

A onda crescente de luta proletária

A explosão de protestos de trabalhadores nos anos recentes, abastecidos por um desemprego massivo, já atingiu dimensões sem precedentes desde a Revolução de 1949. De acordo com relatórios atribuídos ao Ministério da Segurança Pública, o número médio de protestos diários mais que dobrou entre 1998 e 2002. Enquanto a maioria dessas ações tem foco em demandas imediatas pela restauração de empregos, seguro-saúde e seguro-desemprego para os trabalhadores de empresas privadas, os participantes também denunciam frequentemente as transações corruptas dos gerentes e autoridades locais.

O tamanho e escopo das mobilizações é uma preocupação real para as autoridades. Um estudo de 2001 do Comitê Central do PCCh relatou: “Em anos recentes, algumas áreas experimentaram, por causa de administração incapaz e outras múltiplas razões, números crescentes de incidentes de grupo, e sua escala tem expandido, frequentemente envolvendo milhares ou mesmo dezenas de milhares de pessoas” (New York Times, 2 de junho de 2001). O relatório reclamava: “Os manifestantes frequentemente fecham pontes e bloqueiam rodovias, atacam sedes do partido ou do governo, coagem membros dos comitês do partido e ocorrem até mesmo atos criminosos tais como agressão, depredação, saques e incêndios”. Ainda mais preocupante foi o fato de que a participação estava “expandindo de fazendeiros e trabalhadores aposentados para incluir também trabalhadores empregados, donos de pequenos negócios individuais, soldados e mesmo oficiais dispensados, professores e estudantes”.

Alguns dos militantes envolvidos no levante operário de 1989 tem desempenhado um papel na atual onda de lutas de trabalhadores. Zhang Shanguang, que passou sete anos na cadeia por sua atividade na FAT em 1989, foi sentenciado a mais dez anos em 1998, supostamente por fornecer informações para a rádio Free Asia [Ásia Livre], um órgão de propaganda dos EUA. Seu verdadeiro crime, entretanto, foi organizar a Associação de Trabalhadores Demitidos da província de Shupu, que apoiava protestos de camponeses contra impostos arbitrários. Yue Tianxiang, um ativista sindical veterano que iniciou a Sociedade Operária de Ajuda Mútua da cidade de Shaoyang em 1983 e foi preso por liderar o Sindicato Operário Autônomo de Shaoyang em 1989, foi sentenciado a mais dez anos de prisão em 1999 por ter publicado o jornal China Workers Monitor na província de Gansu. Também em 1999, Xue Jifeng foi preso em um hospital psiquiátrico por ter organizado um sindicato independente na província de Henan. Um resumo de 30 de abril de 2002 da Anistia Internacional lembrou como Cao Maobing, trabalhador de uma fábrica de seda na província de Jiangsu, que tentou formar um sindicato independente e expor a corrupção da diretoria, foi mandado para um hospital psiquiátrico onde ele foi submetido forçosamente a uma “terapia” de remédios e eletrochoque.

Várias agências imperialistas, incluindo o China Labor Bulletin, baseado em Hong Kong (conectado com a rádio Free Asia) e o pró-capitalista Partido Democrático da China, estão hipocritamente promovendo as lutas do proletariado chinês como forma de atingir o PCCh. Enquanto a maioria dos militantes proletários está bem consciente sobre os efeitos negativos das “reformas” capitalistas de mercado, muitos têm ilusões nas promessas açucaradas dos agentes “democráticos” do imperialismo. Líderes de lutas localizadas vitimados pela repressão stalinista, que não veem alternativa a se aliarem com os “reformadores” pró-capitalistas, podem facilmente acabar agindo como agentes da reação capitalista.

Por uma revolução política proletária!

O triunfo da contrarrevolução no bloco soviético foi a maior derrota jamais infligida ao movimento internacional dos trabalhadores. Hoje a possibilidade de o Estado operário chinês sofrer um destino similar está agudamente posta. A acumulação de tensões sociais em termos étnicos, regionais e, mais importante, de classe, tornam o status quo insustentável. Entretanto, ao contrário dos trabalhadores soviéticos durante o período da perestroika nos anos 1980, dezenas de milhões de trabalhadores chineses estão bastante cientes que o crescimento das relações de mercado capitalista ameaça despedaçar suas vidas. Enquanto o descontentamento popular cresce, a cada vez mais poderosa burguesia chinesa também está entrando em atrito com as restrições ao desenvolvimento capitalista impostos pela burocracia stalinista. Os imperialistas e seus ideólogos buscam a derrubada do desmoralizado PCCh e a transformação da China em uma neocolônia capitalista “normal”, aberta às devastações da “globalização” e a privatização completa dos meios de produção. A única alternativa é uma revolução política proletária para derrubar o corrupto PCCh, expropriar toda a propriedade capitalista e estabelecer genuínas instituições de poder democrático dos trabalhadores.

Uma organização revolucionária com raízes no combativo proletariado chinês poderia rapidamente ganhar o apoio de centenas de milhões de trabalhadores que já percebem o crescimento do capitalismo como um perigo mortal. A classe trabalhadora chinesa demonstrou repetidamente que ela tem tanto o poder social quanto a vontade de resistir ao surgimento de uma nova ordem social capitalista. Esse é um fator criticamente importante. Na China de hoje, a questão central é lutar para construir o núcleo de um novo partido revolucionário dos trabalhadores – um partido trotskista – armado com um programa internacionalista de luta resoluta contra a devastação do imperialismo e comprometido com a defesa incondicional e extensão dos ganhos da Revolução Chinesa. Uma revolução política proletária na China representaria um golpe muito maior na ordem imperialista mundial que a “perda” original da China em 1949. Ela iniciaria uma onda revolucionária pelo Japão, Coreia e o resto da Ásia, que poderia transformar radicalmente a realidade política e social global, abrindo o caminho de um futuro socialista para toda a humanidade.

Capitalism in a Deformed Workers’ State

China: Towards the Brink

First published by the (then-revolutionary) Internation Bolshevik Tendency on April 18, 2004

Millions of workers, poor peasants and other victims of the growth of capitalist social relations in China have been mobilizing on a massive scale. Their organizations are primitive and localized, but the numbers and intensity of the resistance are rising. In the spring of 2002, 50,000 oil workers from Daqing and 30,000 metal workers from Liaoyang in the industrial northeast rustbelt organized a series of street demonstrations, road blockages and sit-ins to protest cutbacks and layoffs. While these actions were carried out to defend individual state enterprises and the entitlements of laid-off workers, their logic points to the need for a broad offensive to eradicate the capitalist tumor that threatens to destroy the institutions of nationalized property and central planning created by the 1949 Chinese Revolution.

The expropriation of the Chinese ruling class and its imperialist patrons freed China from the domination of the world market. The new regime headed by Mao Zedong rapidly introduced measures that produced immediate and substantial improvements in living conditions, healthcare and education. The Chinese Communist Party (CCP) cadres were confident that they were laying the foundations of a new socialist China. However, the bureaucratic Soviet-model command economy introduced by the CCP did not—and could not—result in a society where the working class exercised direct political power, an essential precondition for genuine socialist development.

China is a “deformed workers’ state,” qualitatively similar to North Korea, Vietnam and Cuba. In these societies capitalism has been uprooted, but political power is monopolized by a privileged bureaucratic caste organized by the “Communist” Party. The exclusion of the producers from decision making prevents a collectivized economy from performing efficiently, especially after the rudimentary stages of industrialization have been achieved. Moreover, as Marx and Lenin repeatedly asserted, socialism is conceivable only on the basis of an international division of labor and the conquest of power by the workers in the advanced capitalist countries. The ideology of “socialism in one country” espoused by each nationally-limited Stalinist bureaucracy is an expression, at bottom, of their desire to reach an accommodation with world imperialism.

The scrofulous bureaucratic caste that heads the CCP has no necessary social function. It is solely concerned with attempting to preserve its own privileges and prerogatives. Its program is a mishmash of short-sighted improvisations and bits and pieces of policies borrowed from two fundamentally incompatible economic systems: competitive capitalism and central planning. As contradictions continue to accumulate, the CCP’s room for maneuver is shrinking. China’s bourgeoisie and its proletariat are both far stronger today than they were in 1949 when Mao Zedong’s peasant-based guerrilla army took power. The CCP bureaucracy is vastly weaker in terms of morale, self-confidence and social authority.

Soon after Mao’s death in 1976, Deng Xiaoping’s faction in the CCP took power promising to accelerate growth by introducing elements of market competition. While denounced as “capitalist roaders” by its rivals, Deng’s faction saw the use of capitalist methods as a means to strengthen, rather than liquidate, the party’s position within the workers’ state.

To this day many strategic, and potentially profitable, sectors of the Chinese economy remain closed to private investment. However, China is playing an increasingly important role in the world economy—annual foreign direct investment (FDI) rose from $1 billion in 1983 to $53 billion in 2002. Today China ranks sixth in total trade (the combined value of exports and imports) although much of this is made up of the in-house activity of foreign corporations that import machinery and other equipment and export finished products:

“Walk into any Wal-Mart and you won’t be surprised to see the shelves sagging with Chinese-made goods—everything from shoes and garments to toys and electronics. But the ubiquitous ‘Made in China’ label obscures an important point: Few of these products are made by indigenous Chinese companies. In fact, you would be hard-pressed to find a single homegrown Chinese firm that operates on a global scale and markets its own products abroad.
“That is because China’s export-led manufacturing boom is largely a creation of foreign direct investment (FDI), which effectively serves as a substitute for domestic entrepreneurship.”

—Y. Huang, T. Khanna, Foreign Policy, July/August 2003

The dramatic growth of the consumer-goods sector over the past quarter century, which has meant higher living standards for a significant minority of China’s population, has also sharpened social contradictions, thus undermining the stability of the regime. Capitalist development is severely distorted by the CCP’s ability to set the rules and by state control of energy, heavy industry and finance.

The thousands of newly-minted millionaires in the People’s Republic of China are anxious to be rid of the CCP and to dismantle what remains of centralized planning. This, however, cannot be achieved through a gradual accumulation of CCP “reforms.” The transition from a system of collectivized property to one where private property predominates requires a social counterrevolution. The bureaucracy cannot transform itself into a new bourgeoisie. While a section of CCP cadres could use their positions to carve out individual fortunes, many more would stand to lose everything from capitalist restoration.

The Bureaucracy & Corruption

The centralized monopoly of political power in a society increasingly oriented to the pursuit of private gain is a recipe for monumental corruption. Every enterprise in China today, even the largest ones, depends on the political favors it commands, or is thought to command. Nothing is more important than having political, administrative and financial connections. This is known as the guanxi system. The bureaucracy’s contradictory position as a mediator between workers and capitalists is expressed in its attitude toward guanxi. Personal enrichment is widely viewed as a legitimate reward of office, yet corruption is a crime punishable by execution, and the death penalty is imposed frequently, if inconsistently.

The guanxi system has enabled children of the top political leaders to amass considerable wealth. In the 1990s Deng Zhifang, former president Deng Xiaoping’s youngest son, got rich in real estate and finance, while Jiang Mianheng, eldest son of former president Jiang Zemin, made a fortune as Shanghai’s “King of IT.” Deng Sr. was well known for his aphorism “to get rich is glorious,” but there are limits, and some of the CCP “princelings” have occasionally had their wings clipped.

Officials who are prosecuted for corruption have either run afoul of higher-ups or have been exposed in the media. Uncovering corruption has become a standard weapon in intra-bureaucratic warfare, but it can be a dangerous game as sometimes the whistle blowers themselves end up in prison. Some forms of corruption (e.g., participation in organized crime, land privatizations, large-scale theft of state assets) are punished severely, while other, lesser infractions are routinely ignored (e.g., the private use of state-owned limousines, imposition of unofficial road tolls, awarding contracts and soft loans to cronies). Favoritism is accepted as part of the guanxi system.

One of the most spectacular cases of corruption took place in Shenyang, China’s fourth-largest city, in the northeast province of Liaoning. When revelations of the sale of positions, theft, smuggling, contract-rigging and murder first started bubbling to the surface in 1999, they were vigorously suppressed. Zhou Wei, a retired official who tried to report the corruption, was sentenced to two years in a labor camp, and Jiang Weiping, a journalist who wrote a series of exposés for Front-Line, a Hong Kong magazine, was jailed for nine years. When the government did eventually crack down, several better-connected suspects managed to escape punishment, including Bo Xilai, Liaoning’s governor, whose father happened to have a seat on the CCP’s ruling Political Bureau.

The official investigation uncovered a network of corrupt police, prosecutors, judges, legislators, customs officers, bankers and executives of private companies all working together in Shenyang. One senior official, Liu Yong, went so far as to arrange the murders of more than 30 people in order to free up real estate that he wanted to develop. The city’s executive deputy mayor, Ma Xiangdong, spent $4 million in public funds gambling in Macao and Las Vegas. Shenyang’s mayor, Mu Suixi, hid $6 million worth of gold bars and 150 Rolex watches in the walls of his two country homes, which he unwittingly furnished with a collection of fake antiques.

Corruption on this scale poses an obvious threat to the survival of the deformed workers’ state. The appropriation of huge quantities of state property by well-connected bureaucrats is the most frequent complaint made by ordinary Chinese citizens, who see corruption as a major factor in the collapse of state enterprises and the resulting mass unemployment. A call for the creation of a network of workplace committees to safeguard public property and root out corruption would have widespread appeal—and potentially revolutionary implications. To be effective such formations would have to be democratically elected in the offices and factories by rank-and-file workers and be completely independent of the CCP apparatus. Such committees could represent an important step in the mobilization of the Chinese proletariat against the rising tide of counterrevolution.

The People’s Liberation Army

For years the People’s Liberation Army (PLA) officer corps, an integral part of the bureaucracy, ran its own farms, textile factories and other operations. Deng Xiaoping’s decision to permit PLA enterprises to produce commodities for sale to the general public predictably resulted in widespread corruption and the growth of pro-capitalist sentiment within the officer corps. In State and Revolution, Lenin noted that the state, reduced to essentials, is an armed force that defends the interests of a particular social class, i.e., its property system. Any state is in imminent danger when elements of its military begin to develop an attachment to a different social system. The most overtly pro-capitalist wing of the CCP, represented in the late 1990s by Prime Minister Zhu Rongji, was comfortable with the PLA’s growing attachment to the market. But the majority of the bureaucracy was not and, in July 1998, the government demanded that the military divest itself of its business interests. In early 1999 the regime took a further step and centralized military procurement, thereby severing many of the threads connecting local military commanders and entrepreneurs.

The CCP is a profoundly heterogeneous formation containing many shades of political opinion, from outright pro-capitalists to orthodox “Marxism-Leninism-Mao Zedong Thought” leftovers from the disastrous Cultural Revolution of the 1960s. The party is cohered by two things: a fear that China will descend into social chaos if the bureaucracy loses its grip and a desire to preserve its personal security, political authority and privileges. The CCP leadership is well aware of the economic, social and political disaster that resulted from capitalist restoration in the Soviet bloc, culminating in the fragmentation of the former USSR, Czechoslovakia and Yugoslavia.

Those bureaucrats less well placed to get a share of the loot—a category that now includes most PLA officers—have serious reservations about continuing down the path of privatization and integration into the capitalist world market. The left wing of the bureaucracy—the more conservative elements who wish to preserve the existing social institutions—are concentrated in the declining northeast and the poorer and less developed western and central areas of the country. China’s booming southeast, where capitalist activity is centered, is home to the right wing of the bureaucracy, i.e., that section most willing to press economic “reform” all the way to capitalist restoration.

The intra-bureaucratic squabbles have so far been contained within the existing structures of the CCP. A middle faction of “pragmatists” has maintained a precarious balance between the conservatives and the pro-capitalist “reformers.” The pragmatists hope that continued private-sector growth and the further integration of China into the world market will somehow raise productivity and living standards enough to allow the bureaucracy to muddle through.

Until recently the most prominent conservative in the CCP was Premier Li Peng—the analogue of Egor Ligachev or Gennady Yanayev in the Soviet party prior to the August 1991 counterrevolution. The leading figure among the pro-capitalists in the CCP—the Boris Yeltsin analogue—was former Prime Minister Zhu Rongji. Deng Xiaoping’s successor, President Jiang Zemin, played the role of Mikhail Gorbachev, balancing between the two extremes.

China’s perestroika has been relatively successful in part because it has not been accompanied by glasnost, or democratization. Jiang held the CCP together by permitting capitalist development, while preserving state ownership in key economic sectors and jealously guarding the bureaucracy’s control of the media, the police, armed forces and all regulatory and juridical institutions. Jiang’s replacement, Hu Jintao, was selected because he is a pragmatist committed to keeping the CCP intact. But as insurance, Jiang has retained the position of chairman of the Central Military Committee, just as Deng Xiaoping did when he “retired.”

For the working class and poor peasantry the defense of the system of socialized property and state planning is a matter of life and death. While advocating the overthrow of the CCP through proletarian political revolution, Marxists unconditionally defend the Chinese deformed workers’ state against capitalist restoration, and are prepared to bloc militarily with Stalinist bureaucrats against counterrevolution.

In August 1991 many Soviet workers recognized the Yeltsinites as their enemies, but the only instruction from the conservative Stalinist bureaucrats of Yanayev’s Emergency Committee to the working class was to do nothing. A small revolutionary organization prepared to intervene before the counterrevolution gathered momentum could potentially have rallied enough pro-socialist workers to have tipped the balance. Yeltsin’s victory was not inevitable—the absence of revolutionary leadership conditioned the outcome.

A Chinese capitalist state will not be established with the speed and relative bloodlessness seen in Russia. Millions of working people in China who understand that their interests are counterposed to those of the “capitalist roaders” have already begun to act entirely independently of the bureaucracy. The rhythm of developments has been far slower and more uneven in China than in Russia in the late 1980s. There is still an opportunity for the development of the consciousness, program and organization necessary to successfully defend the collectivized property system and oust the CCP bureaucracy.

Ostensible Trotskyists & China

The program of proletarian political revolution was initially advanced by Leon Trotsky for the bureaucratized Soviet workers’ state in the 1930s. Most ostensibly Trotskyist organizations today which claim to uphold Trotsky’s perspective fail to do so in practice. The Spartacist League/U.S. (SL), for example, has oscillated wildly on China. In 1997 the SL gloomily announced that CCP plans to sell off a bunch of state-owned industries “would mean the liquidation of what remains of the planned, collectivized economy and the restoration of capitalism in China” (Workers Vanguard [WV], 3 October 1997, emphasis in original). A couple of years later, WV was still claiming: “the main force leading the drive for capitalist restoration today [in China] is the Stalinist regime itself” (WV, 11 June 1999). In 2000, the SL announced that China’s entry into the World Trade Organization (WTO) would effectively signal the end of the deformed workers’ state:

“WTO entry would mean eliminating what remains of the state monopoly of foreign trade, further subjecting the economy to the pressures of the world capitalist market. It would thus act as a battering ram to force through the CCP’s 1997 decision to privatize the bulk of state-owned industry.”

WV, 7 April 2000

This pessimistic prognosis has been proven wrong. China’s membership in the WTO represents a significant step toward integration into the world market and increases the pressure for capitalist restoration, but so far there has been no dramatic privatization of the state sector. The SL’s characterization of the Chinese Stalinists as the leading force for capitalist restoration recalled its refusal to bloc militarily with Yanayev’s Emergency Committee against the Yeltsinite riff-raff in August 1991. They criticized our position of military support to the Stalinist coupsters, who, the SL claimed, “were just as committed to capitalist restoration as Yeltsin” (“The International Bolshevik Tendency—What Is It?”).

The leaders of the Internationalist Group (IG—a 1996 split from the SL), who uphold the Spartacists’ 1991 position on the coup for reasons of personal prestige, criticized the SL for taking an essentially identical approach toward China. The SL responded by claiming that the IG were Stalinophiles who ascribed a revolutionary capacity to the bureaucracy. IG leader, Jan Norden, was denounced for having “endowed the geriatric Stalinist has-beens [in East Germany] with some kind of instinctive revolutionary appetites” and for promoting, “the illusion that a wing of the Beijing bureaucracy will itself take up the fight against capitalist counterrevolution” (WV, 11 June 1999). In fact, it is entirely possible that elements of the Stalinist apparatus would side with the workers against capitalist restoration. And revolutionaries would certainly seek to exploit contradictions within the bureaucracy to strengthen the position of workers mobilized for independent political action.

The SL criticisms of Stalinophilia are particularly odd coming as they do from a group which paraded around as the “Yuri Andropov Battalion” in the early 1980s, and which “hailed” Leonid Brezhnev’s intervention in Afghanistan. The SL’s Stalinophilia reached its height in January 1990 when James Robertson, the group’s founder/leader, tried to arrange a personal meeting to offer free advice to three top Stalinists in East Berlin: Soviet General B.V. Snetkov; Markus Wolf, a top East German intelligence officer; and Gregor Gysi, leader of the ruling party (see “Robertsonites in Wonderland,” 1917 No. 10).

The SL’s Stalinophilic zigs were accompanied by occasional Stalinophobic zags, as, for example, when WV denounced the Soviet termination of an imperialist provocation (the KAL 007 spy plane incident of 1983) as “worse than a barbaric atrocity” (see Trotskyist Bulletin No. 1). The IG represents the SL frozen in “zig” mode—they have never repudiated the approach to Gysi, Snetkov and Wolf, and would presumably endorse a similar attempt to brainstrust the leadership of the Chinese bureaucracy.

Unlike the IG, the SL’s approach is not frozen—SL cadres are at bottom not loyal to a particular political program, but rather to a leader, James Robertson, who can shift the group back and forth between different political positions at will. After several years of treating the Chinese Stalinists as simply capitalist-restorationists, the SL, perhaps chastened by the failure of its dire projections to materialize, has quietly changed its line and is once more discussing the possibility that serious resistance to capitalist restoration could split the CCP.

The SL’s failure to offer any explanation for its earlier Stalinophobic deviation has not deterred it from indignantly berating the unscrupulous reformists who lead the Committee for a Workers International (CWI) for adopting the same position:

“Commenting on the 16 th CCP Congress, the British-centered tendency led by Peter Taaffe wrote: ‘China is on the road to complete capitalist restoration, but the ruling clique are attempting to do this gradually and by maintaining their repressive authoritarian grip’ (Socialist, 22 November 2002). By labeling China’s government an ‘authoritarian’ capitalist-restorationist regime, the Taaffeites and their ilk can justify supporting imperialist-backed anti-Communist forces in China in the name of promoting ‘democracy,’ just as they supported Boris Yeltsin’s ‘democratic’ counterrevolution in the USSR in 1991.”

WV, 21 November 2003

The SL sagely intones:

“A capitalist counterrevolution in China (as in East Europe and the former USSR) would be accompanied by the collapse of Stalinist bonapartism and the political fracturing of the ruling Communist Party.”

Ibid.

But in August 1991, during the terminal political crisis of the Soviet Stalinist bureaucracy, the SL adopted the same attitude they now attack Taaffe for, and claimed that there was no difference between the Emergency Committee “conservatives” who wanted to preserve the Soviet Union and the Yeltsinite rabble who wanted to restore capitalism.

David North’s Socialist Equality Party, which also claims Trotsky’s political heritage, regularly features articles about China on its web site that studiously avoid the elementary question as to whether China is a bourgeois or deformed workers’ state. The Northites have a record of consistent Stalinophobia, having sided with Boris Yeltsin, Lech Walesa and virtually every other counterrevolutionary in the Soviet bloc. We expect that in any future showdown they will once again come out squarely on the side of “democratic” counterrevolution.

Other supposedly revolutionary groups are less coy. The British Workers Power group, for example, claims that the Chinese deformed workers’ state has already made a seamless (and unremarked) transition into a capitalist state. But serious bourgeois analysts know better:

“The biggest myth about China in the 1990s was that the country ceased to be socialist. Despite a self-proclaimed communist government, operating through a Politburo, a Central Committee and a national network of 50 million Party members, this myth became received opinion. It was repeated in newspapers and magazines, not to mention boardrooms, around the globe. The official credo of ‘socialism with Chinese characteristics’, propagandised daily by the official media, was taken by the outside world to be a Chinese formulation for the still politically difficult concept of capitalism…. The country in the 1990s was not a free market economy, it was a fundamentally socialist country undergoing some Chinese modifications.”

The China Dream, Joe Studwell

Chinese Stock Markets, Banks
& WTO Membership

Capitalism has made dangerous inroads in China to date, but it is still constrained within a social/political order antithetical to the free market. Unlike in a capitalist market economy, neither China’s stock markets nor its banks function to channel investment to enterprises that seem most likely to generate high rates of profit. In China, investment is controlled by the state apparatus, and the ultimate criterion is not profit maximization, but the maintenance of the position and control of the ruling bureaucracy. This is seen as positively perverse by bourgeois commentators:

“In the early 1990s, when China was registering double-digit growth rates, Beijing invested massively in the state sector. Most of the investments were not commercially viable, leaving the banking sector with a huge number of nonperforming loans—possibly totaling as much as 50 percent of bank assets.”

—Y. Huang, T. Khanna, Foreign Policy, July/August 2003

The capitalist stock market permits companies to raise capital through the sale of “shares” of existing assets and future profits. Share prices fluctuate according to potential profitability and any investor who controls a majority of a company’s shares can determine its decisions.

For a capitalist share market to operate properly, information about the profitability of competing investment opportunities must be widely accessible. This is why, even under conditions of strict press censorship, the financial press in capitalist countries is usually more or less unfettered. The markets have elaborate rules governing disclosure, accounting, auditing and reporting which, in theory, eliminate distortions due to differential access to information. While big players routinely ignore prohibitions on insider trading, violations on a sufficiently large scale are subject to sanctions because they can destabilize financial markets and thus threaten the interests of the capitalist class as a whole.

The Shanghai and Shenzhen share markets have been operating for two decades and today 60 million Chinese have trading accounts. Yet rather than funneling investment to profitable enterprises, the role of these exchanges is to provide financial support for the firms that are permitted to list their shares—most of which happen to be State Owned Enterprises (SOEs). The government not only decides which enterprises are permitted to list on the exchanges, but also what financial information is available. As a result, prices swing wildly on the basis of manipulated information, insider trading and swindles, much of which would be exposed by the financial press in a capitalist country. Shareholders can make or lose money as stock prices rise and fall, but they have the same relation to the firms they invest in that bettors at a racetrack have to the horses they wager on:

“In China…bureaucrats remain the gatekeepers, tightly controlling capital allocation and severely restricting the ability of private companies to obtain stock market listings and access the money they need to grow. Indeed, Beijing has used the financial markets mainly as a way of keeping the SOEs afloat. These policies have produced enormous distortions….”

Ibid.

The enormity of the distortions makes the Shanghai stock market roughly 800 times as volatile as the New York exchange, according to an article in the Summer 1998 issue of the Harvard China Review.

When it joined the World Trade Organization in December 2001, China agreed to allow imported commodities to be sold at world market prices. This promises to devastate the Chinese countryside, where the majority of the population still lives, as well as strategic industries such as steel. But despite its agreement on paper, Beijing has retained considerable leverage over its domestic economy. For example, foreign insurance companies, which were supposed to get access to the Chinese market within two years, are not permitted to operate without a government license, which the authorities grant at their discretion. Half of China’s telecommunications market is supposed to be opened to foreign ownership, but the terms are set by China’s regulatory body, which owns the largest fixed-line supplier and the two main cell phone companies. The regulations require three quarters of the capital to be put up by a domestic Chinese partner (Financial Times [London], 15 March 2002).

Foreign banks are now permitted to operate in China, under the terms of the agreement with the WTO, but the Chinese government has stipulated that each bank may only open one new branch per year. Given that the four big state banks already have a total of 130,000 branches across the country, it will be a while before foreign banks are able to compete effectively. These four banks, which account for two-thirds of all transactions, are wholly owned by the finance ministry. Most of China’s other banks and credit institutions are owned by government agencies, and all are tightly controlled by the central authorities who use them as a mechanism for financing new investment. In China, unlike in a capitalist country, investment is determined by the requirements of the ruling bureaucracy:

“The central government treat the banks as a ‘secondary budget,’ a convenient place to find funds with which to paper over problems of the past. Fixing sick state-owned enterprises is only the starting point. There are, in addition, high-tech zones to build, rivers to dam, and anything in China’s western region to be developed. State leaders expect the state banks to do their part.”

The Coming Collapse of China, Gordon G. Chang

A large proportion of bank loans go to the SOEs that still employ 55 percent of the urban workforce. The fact that most of them cannot pay their debts is irrelevant. Under capitalism, the banks, and the SOEs they keep afloat with subsidies and soft loans, would be forced into bankruptcy. But in the People’s Republic of China, state-owned enterprises can only go bankrupt by government decree.

SEZs & SOEs

One of the key “reforms” introduced after Mao’s death was the dissolution of collective farms into household enterprises. Today in rural China millions of families lease small plots from the state. While a few farmers have accumulated enough capital to launch larger-scale operations, many more have sunk into desperate poverty. Yet even the most successful Chinese farmers cannot compete with Western agribusiness. For example, corn was listed on the Chicago commodities exchange in September 2000 at $100 a ton. In China, it was selling for $175 (Minneapolis Star Tribune, 1 October 2000). Almost 20 percent of the rural workforce is already unemployed. More than a hundred million former peasants have been forced into street trading, prostitution and petty crime in the shantytowns surrounding China’s cities. The Chinese Ministry of Agriculture has projected that relaxing import controls as required by the WTO will cost at least another 20 million agricultural jobs.

In 1980 the government opened four Special Economic Zones (SEZs) for foreign investment in Guangdong, near Hong Kong. There are now about 12,000 SEZs, mostly concentrated on the southeast coast. They are essentially capitalist economic colonies in the deformed workers’ state, accounting for an eighth of China’s total manufacturing output and half its exports. The Chinese capitalists in Hong Kong and Taiwan who put up most of the initial investments have found the SEZs to be very profitable. China has some of the cheapest labor power in the world: wages are half the Mexican rate and one twentieth the American. Wages are held down because the CCP, which sets the rules, ruthlessly suppresses any attempt to create effective trade unions.

The huge State Owned Enterprises of the northeast, which are managed directly by the CCP, constitute the core of the collectivized economy established by the 1949 Revolution. In the 1980s, the SOEs accounted for virtually all of China’s non-agricultural production, but today their share has fallen to a mere 30 percent. However, they still constitute vital sectors of the economy (heavy industry, high-tech, armaments, energy and telecommunications), account for roughly 70 percent of total fixed assets, and pay a disproportionate share of the taxes that finance the state. The SOEs, through which the state guaranteed workers an “iron rice bowl”—jobs, food, healthcare, housing and pensions—remain critical to the bureaucracy’s hold on power, although without either the pressure of the market or democratic control by the producers, productivity has declined steadily, both in absolute terms and relative to foreign corporations.

The SOEs are seen by the bourgeois financial press as vestigial remnants of a failed system that should be dismantled as soon as possible. But the CCP bureaucracy, itself a “remnant” the imperialists would like to be rid of, takes a different view. Since the late 1990s, the CCP has been attempting to “rationalize” the SOEs by letting the least productive go to the wall, while encouraging others to emulate capitalist enterprises by entering into mergers, issuing shares and selling off the less viable parts of their operations.

In May 2003 President Hu Jintao announced that the SOEs, previously run by various ministries and municipalities, would henceforth be administered by a central State Assets Supervision and Administration Commission (SASAC). The goal is to create a few dozen internationally competitive State Owned Enterprises in strategic industries modeled on the Japanese zaibatsu and South Korean chaebols. While this will not resolve the fundamental contradiction of bureaucratic control over a collectivized economy, it may improve the SOEs’ performance in the short run.

The “rationalization” of the SOEs has meant slashing services for workers and retirees and dramatically shrinking the workforce. Since 1998, the SOEs have eliminated between 25 and 50 million jobs. This wholesale attack on working-class living standards has enraged millions. In China’s northeast rustbelt, where unemployment stands at 40 percent, instead of “cops and robbers,” children play “kill the boss.”

Western Big Development & the
National Question in Tibet and Xinjiang

The CCP has in recent years launched a “Western Big Development” project for the people living in Gansu, Guizhou, Ningxia, Qinghai, Shaanxi, Sichuan, Tibet, Yunnan and Xinjiang. These territories, which constitute more than half of China’s landmass and have a population of 300 million people, include the strategically crucial borderlands, key military installations, and the country’s most important oil and mineral deposits. Geographic isolation, political instability, primitive infrastructure, and poorly educated, dispersed populations make these regions unattractive for capitalist investment.

The project represents a massive expansion of the state sector including construction of roads, railways, airports and a $14 billion pipeline to ship natural gas 2,500 miles from Xinjiang to Shanghai. Xinjiang, China’s largest province, is one of its poorest and home to eight million Turkic-speaking Uighurs, among whom Islamist-nationalist discontent smolders. In early 1997 some 500 Uighurs were arrested during anti-Chinese disturbances in the city of Yining in western Xinjiang. Amnesty International reported that 30 Uighurs were sentenced to death in April 2001 for separatist and religious activities.

The government is actively promoting Han immigration into Xinjiang, which has two major exports, oil and cotton. The Han already run the oil industry and their new, large-scale cotton farms are outproducing the Uighurs’ small private plots. While Uighurs still outnumber Han, the latter will be the main beneficiaries of any future state-sponsored development.

The oppression of Uighurs gets little attention from the Western media, perhaps because 300 of the Taliban prisoners captured by U.S. forces in Afghanistan are Uighur. But despite Beijing’s craven attempts to sign on as a partner in America’s “war on terrorism,” the U.S. steadfastly refuses to acknowledge China’s concern about the existence of Islamic fundamentalism in Xinjiang, or hand over their Uighur prisoners. U.S. policymakers are presumably considering employing Islamist fanatics in Xinjiang for the same reason the CIA armed and trained Osama Bin Laden’s Afghan mujahedin two decades ago.

Unlike the Uighur, the plight of the Tibetans is close to the heart of pro-imperialist “democrats,” who tend to ignore the fact that in 1949 Tibet was an extremely backward, monk-ridden, feudalist society where the average life expectancy was 30. In the early 1950s, when it first came to power, the CCP sought a “united front” with Tibet’s theocrats and aristocratic parasites, and tried to curry favor with the cosseted teenage Dalai Lama and his retinue. This accord unraveled within a few years, and in 1959 a large-scale rebellion was put down by the PLA at the cost of tens of thousands of Tibetan lives. The Dalai Lama fled across the Himalayas to India. Beijing took direct control and proceeded to uproot the traditional social system by parceling out the lands of the nobility and the monasteries to the peasantry.

It is clear that the Tibetan people, who have their own language, culture and territory, resent Han domination. Like the Uighur, the Tibetans are entitled to their own national existence, but for socialists the defense of the national rights of oppressed peoples in China must be subordinate to the defense of the deformed workers’ state. The international campaign to “free Tibet” is one prong in the imperialist drive against China. This is not a new development: the CIA’s involvement in the 1959 uprising has long been a matter of public record, and a few years ago the Associated Press reported: “The Dalai Lama’s administration acknowledged today that it received $1.7 million a year in the 1960’s from the Central Intelligence Agency….” (New York Times, 2 October 1998). An annual subsidy of $180,000 was “earmarked for the Dalai Lama.”

Marxists recognize that reactionary ideologies and nationalist sentiments are rooted in the material inequality of class-divided society. Whenever possible, we would seek to erode the influence of social backwardness through education and economic incentives rather than repression. A Leninist regime would combat Han chauvinism by combining generous subsidies for development with real regional autonomy for national minorities, including the right to control local political institutions, to receive education and government services in the language of choice, freedom of political expression and freedom to travel. By agreeing that the Tibetans or Uighur have the right to control their own domestic affairs, a revolutionary government in China would signal its willingness to coexist with Tibet’s traditional ruling caste and Xinjiang’s mullahs as long as they retain popular support.

The Imperialist Noose

The imperialist noose around China’s neck has tightened considerably in the past few years. The restoration of China as a field for unfettered imperialist looting remains a key strategic priority of the U.S. One of the objectives of America’s recent neo-colonial wars has been to increase its leverage over the Chinese deformed workers’ state. China is increasingly dependent on imported oil, and the creation of a viable U.S. puppet state in Iraq would represent a real threat to Beijing.

U.S. military installations in Kyrgyzstan and Uzbekistan, established during the conquest of Afghanistan, have displaced Chinese influence in former Soviet Central Asia. In addition to its garrisons in Afghanistan, South Korea and Japan, the U.S. is currently negotiating with Vietnam and Thailand for naval and air facilities and is continuing to arm Taiwan. U.S. policy is currently focused on exerting economic pressure on China and checking its ability to project power abroad. At the same time, American missiles permanently target key Chinese installations, and the risk of aggressive military action against the Chinese deformed workers’ state on one pretext or another remains very real.

Falun Gong: Threat to CCP?

The CCP has always jealously guarded its monopoly on political organization. As Joe Studwell observed in The China Dream: “Chinese citizens cannot start a fishing club, a self-help group for alcoholics or a community newsletter without official sanction.” Any organization that connects people with others outside their own immediate locality is seen as a threat. The Chinese news media routinely fails to report on major industrial accidents, corruption scandals, strikes and demonstrations in order to avoid provoking a public outcry on a national scale.

But the CCP’s control has always been imperfect, and the advent of the internet has presented the regime with a new set of problems. The internet is credited with the rapid growth of Falun Gong, a sort of Chinese New Age meditation/exercise movement that developed out of public qigong/tai chi sessions. The government long viewed qigong/tai chi as a harmless source of exercise and social activity for the (mostly older) participants, and turned a blind eye to the anti-materialist philosophical underpinnings of many strands of the movement. The regime even sponsored a Qigong Research Association within which Falun Gong developed in the early 1990s under the leadership of Li Hongzhi. In 1994 Li split from the Association and moved to New York.

Falun Gong preaches “truthfulness, benevolence and forbearance,” while warning that people of mixed race will have difficulty finding a proper place in the afterlife. It also teaches that modern machines (such as computers and airplanes) were created by extraterrestrials disguised as human beings. Falun Gong devotees are taught that by practicing a series of five exercises they can develop a golden-colored spinning “falun” within their bodies which will enable them to absorb energy from different universes, while simultaneously attaining religious enlightenment and physical health. This nonsense has an obvious appeal in a society where an increasing number of people face a future without pensions or access to affordable medical care. It is hardly surprising that Falun Gong is particularly popular with older people, the unemployed and others who are not making it in the “new” China.

In 1999, after local authorities began to complain about the disruptive effects of Falun Gong gatherings, He Zouxiu, a theoretical physicist at the Chinese Academy of Sciences, wrote a highly publicized critique of their teachings. In response, 10,000 Falun Gong followers assembled on 25 April 1999 for a meditation session outside the Zhongnanhai compound in Beijing, home to China’s political elite. The demonstration caught the authorities entirely by surprise. While the CCP feels compelled to tolerate localized protests focused on immediate concerns, it absolutely forbids any organizational activity that it does not control. Following the April demonstration, Falun Gong exercises were prohibited and many of its leaders jailed. But Falun Gong survives. In at least five different provinces Falun Gong supporters have managed to hack into government television channels, enabling them to broadcast messages ranging from simple exhortations stating “Falun Gong is good!,” to programs of up to an hour proselytizing for the cult.

The Chinese Stalinists are too politically bankrupt to be able to effectively combat the primitive notions of Falun Gong. The CCP leadership no longer deals in ideas, only in repression. Falun Gong is doubtless supported by imperialists and freelance counterrevolutionaries, but, unlike Polish Solidarnosc, whose leadership functioned as a consciously pro-imperialist agency within the deformed workers’ state, Falun Gong advances no particular political or social program. Marxists take no responsibility for the CCP’s suppression of this particular brand of superstitious nonsense.

Falun Gong is clearly a pernicious opiate embraced by many Chinese desperate for a refuge from the insecurities and material deprivations of life in a crumbling workers’ state. There are, however, far more dangerous pro-capitalist forces in China, including those within the leadership of the Communist Party itself. The fact that Falun Gong was widely practiced within the PLA, and even within the upper echelons of the CCP, is evidence that the party whose cadres were once animated by “Marxism-Leninism-Mao Zedong Thought” is today committed to nothing more than maintaining its privileges and prerogatives.

China’s Proletariat: A History of Struggle

The working class has repeatedly thrown up its own organizations throughout the history of the People’s Republic of China. During the brief “Hundred Flowers” liberalization campaign in 1956-7, a series of workplace-based “grievance redress societies” that sprang up outside the control of the official All-China Federation of Trade Unions (ACFTU) led a wave of strikes. The high point of this movement was reached when half the workforce on the Guangzhou (Canton) docks mobilized against a pay cut. In the end, however, the CCP was able to crush the strikes and ship many working-class activists off to labor camps.

The intra-bureaucratic power struggle of the mid-1960s known as the “Cultural Revolution” had the unintended side effect of briefly creating openings for independent labor actions. There was a significant upsurge in working-class combativity in 1966-7, particularly in Shanghai where mass organizations embracing hundreds of thousands of workers were created. These formations played a role in deposing the CCP city administration and establishing the short-lived Shanghai People’s Commune. In early February 1967 the commune was launched with a rally attended by a million workers. Throughout its short life, the Shanghai Commune was effectively controlled by a faction of disaffected CCP cadres who proclaimed their intention of ruling on the basis of the principles outlined by Karl Marx in The Civil War in France, his classic study of the 1871 Paris Commune (although they ignored his injunction that leaders should be popularly elected and immediately recallable). After only three weeks, the commune was liquidated at the “request” of the Great Helmsman himself. The misplaced enthusiasm of Shanghai’s workers for a “commune” that was in fact only a tool for a faction of the ruling CCP demonstrated both the instability of the bureaucracy and the volatility of the working class.

In April 1976 another wave of workplace-based activity flared briefly in reaction to the ultra-Maoist policies of the “Gang of Four.” Deng Xiaoping was briefly deposed a second time for his role in these disturbances, but was soon back in power. Workers took advantage of a temporary easing of political repression as Deng’s “capitalist roaders” consolidated power to demand independent trade unions and denounce low wages, arbitrary management and other features of the new market “reforms.” A journal based in the Taiyuan Iron and Steel Works proposed that to really defend their interests, workers needed their own organizations with elected and recallable delegates. Such voices were quickly silenced, but the ideas they advocated live on.

In early April 1989, when student protesters occupied Tiananmen Square to demand democratic reforms, they were soon joined by delegations of workers from Beijing factories. By the end of the month, the Beijing Workers Autonomous Federation (WAF) had sprung up, based in rail, steel and aviation. Similar formations soon emerged in other major cities. Initially, these organizations focused on demanding the legalization of independent trade unions separate from the ACFTU; however, they soon began to raise issues of wages, living standards, bureaucratic privilege, income differentials and workplace democracy. Workers’ organizations in different cities began linking up and many sent representatives to the Beijing WAF, which had started to function as the leading center of the movement.

On 18 May 1989, one million people, mostly workers, demonstrated in Beijing. A week later a preparatory committee for a national “workers’ self-governing federation” was established. The CCP bureaucracy saw this as a serious threat to its rule. On 2 June 1989, the ACFTU, which had previously acceded to mass demands for a general strike, suddenly began to demand that the WAFs be outlawed. Two days later, army units loyal to the regime brutally attacked the demonstrators, killing hundreds. Thousands of workers who were charged with having participated in the autonomous workers’ movement were thrown in jail or executed.

While the WAFs were crushed by the repression, they provided the workers’ movement with a powerful demonstration of the potential for independent working-class political action. Between 1990 and 1994 three attempts to establish labor rights organizations were suppressed, and their organizers imprisoned. Only the ACFTU (labor arm of the CCP) is legal, and it is only allowed to put forward “reasonable demands,” “uphold [market] reform” and “restore the normal order of production as soon as possible” in the event of any labor disruptions.

Rising Tide of Workers’ Struggle

The upsurge in workers’ protests in recent years, fueled by massive unemployment, has already reached dimensions unprecedented since the 1949 Revolution. According to reports attributed to the Ministry of Public Security, the average number of daily protests more than doubled between 1998 and 2002. While most of these actions focus on immediate demands for the restoration of jobs, health care and unemployment benefits for workers in particular enterprises, demonstrators also frequently denounce the corrupt dealings of managers and local authorities.

The size and scope of the protest mobilizations is a real concern to the authorities. A CCP Central Committee study in 2001 reported: “In recent years some areas have, because of poor handling and multiple other reasons, experienced rising numbers of group incidents and their scale has been expanding, frequently involving a thousand or even ten thousand people” (New York Times, 2 June 2001). The report complained: “Protestors frequently seal off bridges and block roads, storm party and government offices, coercing party committees and government and there are even criminal acts such as attacking, trashing, looting and arson.” Even more worrisome was the fact that participation was “expanding from farmers and retired workers to include workers still on the job, individual business owners, decommissioned soldiers and even officials, teachers and students.”

Some of the militants involved in the 1989 labor upsurge have been playing a role in the current wave of workers’ struggles. Zhang Shanguang, who spent seven years in jail for his role in the 1989 WAF, was sentenced to another ten years in prison in 1998, ostensibly for supplying intelligence to Radio Free Asia, a U.S. propaganda outlet. His real crime, however, was organizing the Shupu County Association for the Rights of Laid-off Workers, which supported farmers’ protests against arbitrary taxation. Yue Tianxiang, a veteran labor activist who initiated the Shaoyang City Workers’ Mutual Aid Society in 1983 and was jailed for heading the Shaoyang Autonomous Workers’ Union in 1989, was sentenced to another ten years in prison in 1999 for his role in publishing the China Workers Monitor in Gansu province. In 1999, Xue Jifeng was locked up in a psychiatric hospital for having organized an independent union in Henan province. A 30 April 2002 Amnesty International brief recounted how Cao Maobing, a worker in a silk factory in Jiangsu province who tried to form an independent trade union and expose management corruption, was sent to a psychiatric hospital where he was forcibly subjected to drugs and electric shock “therapy.”

Various imperialist agencies, including the Hong Kong-based China Labor Bulletin (connected with Radio Free Asia) and the pro-capitalist China Democracy Party, are hypocritically promoting the struggles of the Chinese proletariat as a means of undermining the CCP. While most worker activists are well aware of the negative effects of capitalist market “reform,” many have illusions in the sugar-coated promises of the “democratic” agents of imperialism. Leaders of localized struggles victimized by Stalinist repression, who see no alternative to allying with pro-capitalist “reformers,” can easily end up acting as agents of capitalist reaction.

For Workers’ Political Revolution!

The triumph of counterrevolution in the Soviet bloc was the greatest defeat ever inflicted on the international workers’ movement. Today the question of whether the Chinese deformed workers’ state will suffer a similar fate is acutely posed. The accumulation of social tensions along ethnic, regional and, most importantly, class lines, make the status quo unsustainable. Yet, unlike Soviet workers during the perestroika period of the 1980s, tens of millions of Chinese working people are well aware that the growth of capitalist market relations threatens to tear their lives apart. While plebeian discontent is rising, China’s increasingly powerful bourgeoisie is also chafing under the restrictions on capitalist development imposed by the Stalinist bureaucracy. The imperialists and their ideologues look forward to the overthrow of the demoralized CCP and the transformation of China into a “normal” capitalist neo-colony, open to the ravages of “globalization” and the wholesale privatization of the means of production. The only alternative is a proletarian political revolution to topple the corrupt CCP, expropriate all capitalist property and establish institutions of genuine workers’ democratic rule.

A revolutionary organization with roots in the militant Chinese proletariat could rapidly win the allegiance of the hundreds of millions of working people who already perceive the growth of capitalism as a deadly danger. The Chinese working class has repeatedly demonstrated that it possesses both the social power and the will to resist the rise of a new capitalist social order. This is a critically important factor. In China today the central issue is the struggle to create the nucleus of a new, revolutionary workers’ party—a Trotskyist party—armed with an internationalist program of resolute struggle against the ravages of imperialism and committed to the unconditional defense, and the extension, of the gains of the Chinese Revolution. A Chinese workers’ political revolution would represent a far greater blow to the world imperialist order than the original “loss” of China in 1949. It could ignite a revolutionary wave across Japan, Korea and the rest of Asia, that could radically transform global social and political reality, opening the road to a socialist future for all of humanity.

 

James Cannon sobre o Pablismo

 

James Cannon sobre o Pablismo 

[Este é um pequeno trecho do discurso de James P. Cannon ao pleno do Comitê Central do Socialist Workers Party (Partido dos Trabalhadores Socialistas – SWP) dos Estados Unidos em 3 de novembro de 1953 (disponível em espanhol na íntegra), em sequência ao seu rompimento com os pablistas. A tradução para o português foi realizada pelo Reagrupamento Revolucionário em 2013].

A direção é o problema por resolver da classe trabalhadora de todo o mundo. O único obstáculo entre a classe trabalhadora do mundo e o socialismo é o problema não resolvido da direção. É isso que significa “a questão do partido”. É isso que quer dizer o Programa de Transição quando declara que a crise do movimento proletário é a crise de direção. Isso significa que até que a classe trabalhadora resolva o problema de criar o partido revolucionário, a expressão consciente do processo histórico que possa dirigir as massas em luta, a questão seguirá sem ser resolvida. É a questão mais importante de todas: a questão do partido. 

Se o nosso rompimento com o pablismo, como nós agora vemos claramente, for resumido a um ponto e puder ser concentrado em um ponto – esse ponto é a questão do partido. Isso nos parece claro agora conforme nós temos visto o desenvolvimento do pablismo na prática. A essência do revisionismo pablista é o abandono daquela parte do trotskismo que é hoje a sua parte mais vital – a concepção da crise da humanidade como a crise de liderança do movimento proletário resumida à questão do partido.
 
O pablismo busca não apenas destruir o trotskismo; ele busca destruir aquela parte do trotskismo que Trotsky aprendeu de Lenin. A maior contribuição de Lenin a toda sua época foi sua compreensão e sua luta determinada para construir um partido de vanguarda capaz de liderar os trabalhadores na revolução. E ele não confinou sua teoria à sua própria época de atividade. Ele voltou a 1871 e disse que o fator decisivo na derrota da primeira revolução proletária, a Comuna de Paris, foi a ausência de um partido de vanguarda marxista revolucionário capaz de dar ao movimento de massas um programa consciente e uma liderança resoluta. Foi a aceitação por Trotsky dessa contribuição de Lenin em 1917 que fez de Trotsky um leninista.
  
Isso está escrito no Programa de Transição, esse conceito leninista do papel decisivo do partido revolucionário. E é isso que os pablistas estão jogando pela janela a favor de uma concepção de que as ideias vão de alguma forma se filtrar para dentro das cabeças da burocracia traidora, dos stalinistas ou dos reformistas, e de que de uma forma ou de outra, no “dia de São Nunca”, a revolução socialista vai ser realizada e levada adiante sem um partido marxista revolucionário, isto é, leninista-trotskista. Essa é a essência do pablismo. Pablismo é a substituição do partido e do programa por uma fé e uma crença mística.

Carta de Farrell Dobbs para Gerry Healy

Carta de Farrell Dobbs para G. Healy
25 de outubro de 1953
[Farrell Dobbs foi um dos dirigentes do Socialist Workers Party (Partido dos Trabalhadores Socialistas – SWP). A presente carta foi publicada originalmente no boletim do Comitê Internacional no contexto do rompimento do SWP com Pablo. A maior parte deste documento foi traduzida ao português pela Editora Tykhe, como uma citação de “A Herança que Nós Defendemos” disponível em http://www.tykhe.com.br/extras/mv/mv3_08.pdf. A parte restante da carta foi traduzida pelo Reagrupamento Revolucionário para publicação em outubro de 2013].

Caro Jerry [G. Healy],
Nós recebemos sua carta de 12 de outubro e o artigo de discussão de Tom, o qual nós estamos incluindo no boletim. Nós ainda estamos esperando sua opinião sobre o memorando a respeito da ‘Ascensão e Declínio do Stalinismo’. Parece melhor que esse documento não seja circulado para além das lideranças de seu próprio grupo até depois de nossa plenária.
Desde a chegada de Jim [James P. Cannon] a Nova Iorque,estivemos estudando o curso da luta internacional e avaliando os seus mais recentes desenvolvimentos. Lemos atentamente todas as suas cartas, que tiveram uma profunda influência no nosso pensamento sobre a questão internacional.
O mais sinistro de tudo é o ultimato de Pablo mostrando a intenção de promover e ajudar a minoria revisionista a derrubar e subjugar a maioria em seu partido. Observamos que, enquanto empreende esse violento ataque sobre vocês ele permanece muito mais cauteloso com sua atitude perante nós. Existe um motivo para isso. Ele quer manter-nos imobilizados na arena internacional e preocupados com a luta contra nossos próprios revisionistas, aos quais ele tem dado apoio clandestino, enquanto tenta fazer em pedaços, um por um, outros grupos trotskistas ortodoxos e o seu grupo.
Pensamos que o melhor serviço que podemos prestar ao movimento internacional é romper com toda a teia pablista de intrigas através de um desafio aberto à sua linha revisionista liquidacionista. Pensamos que chegou a hora de realizar um apelo aberto aos trotskistas ortodoxos do mundo para reagruparem-se em socorro à IV Internacional e derrubar a camarilha revisionista usurpadora. O movimento deve ser posto de sobreaviso contra a tática de Pablo de causar rachas e realizar expulsões, contra o abuso de poder administrativo na tentativa de repetir numa escala internacional o truque da França de subjugar uma maioria com uma minoria.
Na linha dessa decisão, de passar da defensiva à ofensiva, estamos alterando todo o caráter do esboço do apelo que mandamos a você. Aquele esboço limitava-se a uma descrição do revisionismo em nosso partido e do apoio de Pablo aos revisionistas, com um apeloaos trotskistas ortodoxos do mundo para a nossa batalha. Agora, nossa plenária pretende lançar um manifesto aberto para o movimento mundial com um chamado para nos armarmos contra os pablistas no campo internacional.
O manifesto terá como ponto de partida as políticas criminosas do pablismo com referência aos eventos revolucionários na Alemanha Oriental, França, Irã, e os novos desenvolvimentos na União Soviética. Demonstraremos que as linhas de clivagem política se tornaram tão profundas e os métodos organizativos pablistas tão estranhos ao nosso movimento que um modus vivendi não é mais possível. A conduta dos pablistas mostra seu desdém pelas reais relações de forças no movimento. Eles atuam como se Pablo e sua corja fossem donos da internacional. Os trotskistas ortodoxos devem expulsar Pablo e toda a camarilha ao seu redor, que não deixam qualquer espaço para um modus vivendidiferente da completa submissão à sua linha criminosa.
É necessário reconhecer que essa exposição não pode esperar até o próximo congresso, como muitos haviam pensado anteriormente. Os pablistas já mostraram através de seus atos na França e de suas manobras e ameaças contra você na Inglaterra que não permitirão um congresso democrático. Seu plano é livrarem-se dos trotskistas ortodoxos antes do congresso sequer começar. Devemos agir já e de maneira decisiva. Isso quer dizer que devemos iniciar o contra-ataque sem demora. Não podemos ter ilusões de que pode haver comprometimento ou acordo pacífico com esse bando.
Essa mudança na tática, que foi decidida por unanimidade por aqui, surgiu particularmente das nossas deliberaçõessobre como podemos melhor ajudá-lo na sua batalha. Atualmente, sabemosque você encontra-se preso numa teia de calúnias e falsos legalismos que o têm mantido na defensiva. Você é compelido a lutar no terreno pablista juntamente com camaradas inexperientes, que podem ser levados pelo germe de confusão política de Pablo e o uso que faz de intrigas organizacionais.
O desafio político direto e aberto de Pablo por nossa plenária faz a coisa mudar de figura, corta a sua estratégia de confundir e provém a todos com um excelente embasamento para passar da defensiva à ofensiva em apoio ao nosso manifesto. Você pode assim mobilizar e armar rapidamente para a batalha todos os trotskistas ortodoxos.
A luta em que entramos agora não é menos vital e decisiva para o futuro do que foram as grandes batalhas ocorridas 25 anos atrás, nas quais o grupo trotskista original estava reunido. Em face desses imperativos políticos, pequenos escândalos e manobras organizacionais perdem força. Através de um desafio político não comprometedor você irá rapidamente unir suas forças numa facção que se tornará o movimento futuro na Inglaterra.
Se deixarmos a luta ser conduzida muito mais adiante do nível em que se encontra, você corre o inevitável risco de ver a desmoralização e a confusão racharem seu movimento. E isso é o que mais tememos no momento atual.
Já tivemos um teste preliminar da efetividade dessa mudança de tática em um debate interno sobre a greve geral na França que aconteceu aqui em Nova Iorque, na última quinta-feira. Nessa discussão, pela primeira vez atacamos Pablo abertamente. Os cochranistas [aliados de Pablo no SWP] pareciam surpresos e chocados que ousássemos fazê-lo, enquanto nossas forças animaram-se com a abertura da guerra contra Pablo. A surpresa dos cochranistas diante de nosso ataque cortante a Pablo parece confirmar nossa desconfiança de que ele pensava que tínhamos medo de iniciar uma batalha aberta contra ele. Ele pensava que fazendo um engenhoso jogo duplo conosco poderia manter-nos imobilizados na batalha internacional até que terminasse o golpe à francesa no partido britânico.
O fator mais decisivo do debate foi a avidez com que nossas bases responderam ao sinal de que uma guerra aberta contra o revisionismo e liquidacionismo pablista iniciava-se no movimento mundial. Pensamos que essa reação saudável será duplicada por todo lado entre aqueles que não esqueceram o que lhes ensinou Trotsky e que esperam, como você mencionou diversas vezes, o SWP falar. Por toda a parte o nosso movimento se formou sobre os ensinamentos de Trotsky. Como disse Morris em nossa reunião de ontem, todos leram os mesmos livros que nós, e sabem tanto quanto nós sabemos. Como você indicou em sua recente carta, há múltiplos sinais de desconforto ao longo do movimento a respeito da linha revisionista de Pablo.
Por todas essas razões, nós estamos absolutamente confiantes que uma vez feito o desafio aberto, nós rapidamente mobilizaremos uma decisiva maioria do movimento mundial em defesa dos nossos princípios ortodoxos. Mas para fazê-lo, chegou a hora de chamar a as coisas por seus nomes corretos, de falar abertamente e sem atraso.
Ao adotar um manifesto aberto contra Pablo em nossa plenária, nós estaremos pondo uma arma na cabeça de seus apoiadores cochranistas em nosso partido. Isso significa que o verdadeiro quase-racha que tem existido em nosso partido nas últimas semanas vai rapidamente se transformar em um rompimento aberto. Da nossa parte, não temos absolutamente nada a perder com isso e tudo a ganhar. Nós não contemplamos nenhum tipo de reconciliação futura com essas pessoas.
Várias ações naturalmente irão fluir a partir dessa decisão básica que será tomada em nossa plenária. Nós trabalharemos nelas conforme avançarmos. A principal linha delas já está clara. O cerne disso é que nós não iremos cair na teia de quaisquer legalismos por parte dessa camarilha usurpadora. Nós teremos uma luta aberta pelo controle do movimento mundial.
Imediatamente após a plenária, nós devemos estabelecer íntimas relações organizativas e consultivas com os trotskistas ortodoxos de toda a parte, incluindo aqueles que foram injustamente expulsos. Nós achamos que um comitê de coordenação deve ser estabelecido sem atraso desnecessário. Nós enviaremos alguém logo depois da nossa plenária para discutir esse problema diretamente com você.
Saudações camaradas,
Farrell Dobbs
P.S.: Haverá umagrande quantidade de materiais em nosso jornal que serão bastante úteis para vocês em sua luta. Se você nos enviar uma lista de todas as suas pessoas que você deseja que recebam nossa imprensa – sejam cópias individuais ou pacotes – nós os colocaremos em nossa lista de entrega.

Os Trotskistas Chineses e o Pablismo

A experiência chinesa com o revisionismo e o burocratismo pablista

Por Peng Shuzi

[Esta carta aberta para James P. Cannon foi escrita pelo líder veterano do trotskismo chinês à luz da decisão da organização trotskista chinesa de aderir ao Comitê Internacional. A tradução para o português foi realizada em agosto de 2013 pelo Reagrupamento Revolucionário a partir da versão disponível em inglês em http://www.marxists.org/archive/peng/1953/dec/30.htm].

30 de dezembro de 1953

Caro camarada Cannon,

Bem no começo deste ano eu pretendia escrever a você sobre os eventos e coisas pela quais passei e observei em pessoa a partir de minha participação no SI [Secretariado Internacional da Quarta Internacional], e sobre a séria tendência organizativamente burocrática e politicamente revisionista representada por Pablo que, eu temia, iria acabar trazendo uma crise à nossa Internacional. Mas por “prudência” (também foi isso que Manuel [George Novack] me aconselhou a fazer naquela época) essa carta foi continuamente adiada. Agora a crise realmente explodiu com ferocidade. Eu, portanto, sou obrigado a escrever essa carta já atrasada.

A razão para eu escrever a você é não apenas por você ser o fundador e líder do SWP, a seção líder do movimento trotskista mundial, mas também porque você colaborou proximamente com Trotsky em completar o Programa de Transição e em fundar nossa Internacional, e liderou várias lutas vitoriosas por um longo período de tempo contra o oportunismo, o sectarismo e o revisionismo. Não menos importante é o fato de que você lutou por toda a época da Comintern [Internacional Comunista], em sua ascensão sob a liderança de Lenin e Trotsky e seu subsequente período de degeneração inicial sob o controle de Stalin, e dessa forma obteve ricas e profundas experiências, que desde então se tornaram parte das mais preciosas lições para preservar e fazer avançar o nosso movimento. Eu acredito que com sua rica experiência e as capacidades do SWP, e sua colaboração com os genuínos trotskistas de outros países, é possível superar a presente crise.

A “Carta aos Trotskistas do Mundo Inteiro”, recentemente publicada pelo SWP, apesar de bastante excepcional e sem precedentes, é, no entanto, necessária para salvar a Internacional de um perigo imediato extremamente grave. Essa “ação excepcional” pode ser provada necessária e justificada aqui também pelas dolorosas experiências da minha participação pessoal no SI durante esses dois anos.

Apesar do fato de que eu me tornei responsável pela atividade do movimento trotskista na China há mais de vinte anos, foi pouco possível manter uma relação íntima com a Internacional e participar em suas atividades em razão das condições particulares nas quais eu estava: constante opressão e extrema perseguição por todos os tipos de forças reacionárias, frequentemente resultando em um estado de isolamento. Quando o partido de Mao chegou ao poder, eu fui obrigado a deixar a China e vir para o exterior. Eu nutria então grandes esperanças de que, por um lado, eu poderia oferecer à Internacional um relato detalhado dos eventos que ocorreram na China nos anos recentes para facilitar uma discussão comum que resultaria em uma resolução e uma orientação geral correta para o movimento trotskista na China e nos outros países economicamente atrasados do oriente. Por outro lado, eu estava pronto a contribuir dentro dos limites da minha capacidade e de minhas próprias experiências com a liderança da Internacional para ajudar a fazer avançar o nosso movimento. Mas as experiências desses dois anos e meio mostraram que a realidade é completamente diferente das minhas aspirações originais, já que eu vi com meus próprios olhos uma assustadora crise ganhar forma, crescer, se espalhar e penetrar mais e mais nas diferentes seções da Internacional. Isso me perturbou e me doeu bastante, e dificultou que eu permanecesse em silêncio.

Agora permita que eu relacione em ordem cronológica o que eu testemunhei e experimentei em pessoa durante todo esse período, como se segue:

No Terceiro Congresso Mundial, uma “Comissão do Extremo Oriente” foi estabelecida com o intento de realizar uma discussão mais ou menos profunda sobre a questão chinesa e propor uma resolução sobre essa importante questão ao Congresso Mundial para seguir para uma discussão mais ampla e a eventual adoção de uma resolução elaborada de forma mais correta e completa. Eu fui então designado como relator para essa questão. Mas antes que meu relato tivesse chegado à metade, o representante do SI, o camarada A. da Índia, que estava encarregado da Comissão, repentinamente fez uma moção interrompendo o meu relato sobre pretexto de “segurança” e exigiu que essa Comissão procedesse para votar a adoção das duas resoluções prévias sobre a questão chinesa, ou seja, aquelas adotadas nas sétima e oitava plenárias do CEI [Comitê Executivo Internacional]. Eu fiquei bastante surpreso e expressei minha indignação e protesto. Eu declarei que a Comissão do Extremo Oriente havia sido criada pelo Congresso, que se impunha acima de todos os outros organismos, e, portanto, não podia simplesmente se submeter a quaisquer instruções de cessar seu funcionamento que fossem emitidas pelo SI, que em si era um corpo que seria reeleito. Se a Comissão do Extremo Oriente tinha a tarefa de meramente proceder para votar as resoluções prévias, então ela era completamente supérflua. E eu lembrei a eles que ela havia sido constituída para o propósito de chegar a uma decisão mais correta depois de uma discussão ampla de acordo com os desenvolvimentos dos acontecimentos e novas realidades. Ao mesmo tempo, eu afirmei que, uma vez que havia sido pedido que eu fizesse o relato, eu tinha a responsabilidade e o direito não apenas de completar minha apresentação, mas também de ouvir posteriormente as opiniões dos delegados presentes (independente de que eles concordassem ou discordassem do meu relato) e assim obter uma conclusão aprovada pela maioria da Comissão para oferecer ao Congresso. Graças ao meu protesto e à objeção da grande maioria da Comissão à intervenção de A., eu relutantemente pude terminar meu relato. Mas sem passar a nenhuma discussão, a Comissão do Extremo Oriente foi encerrada; na realidade, ela foi abortada.

A falta de conclusão da Comissão do Extremo Oriente deveu-se principalmente ao fato de que o representante do SI, ouvindo o meu relato na primeira sessão e percebendo que minhas visões não conformavam com as deles, e receando que minhas visões influenciassem os camaradas presentes, não hesitou em me interromper no meio do meu relato de uma maneira autoritária. Isso foi posteriormente revelado na “explicação” de Livingstone, que compareceu à segunda sessão no lugar de A. Ele disse que “O SI não havia esperado tal desenvolvimento da Comissão”. Em outras palavras, eles não esperavam que eu expressasse no meu relato visões diferentes das deles. Para o representante do SI, parecia que as Comissões criadas pelo Congresso tinham a tarefa única de justificar ou provar que estavam corretas as resoluções ou visões prévias do SI utilizando novos fatos e argumentos. Se decorresse de outra forma, eles não hesitariam em emitir ordens para interromper os procedimentos da Comissão.

Adotar tal atitude arbitrária com relação a problemas políticos importantes (uma vez que todos os delegados do Congresso consideravam a questão chinesa como o problema imediato mais importante) e exercer tal controle sobre as Comissões criadas pelo Congresso é uma prática muito distante da tradição do bolchevismo. Essa foi minha primeira impressão desagradável depois de chegar aqui.

Meu descontentamento sobre a Comissão do Extremo Oriente foi, é claro, percebido por Pablo. As explicações dele foram feitas por Burns [Gerry Healy] e nelasa responsabilidade foi atribuída ao companheiro A. Além disso, Burns disse que Pablo estava disposto a aceitar as opiniões de outros e esperava que eu participasse do SI para colaborar com ele, especialmente tomando responsabilidades sobre a questão colonial e semicolonial no Oriente. Embora eu não estivesse muito satisfeito com as explicações de Burns, eu ainda estava pronto com toda sinceridade a colaborar com Pablo e outros para servir ao desenvolvimento do nosso movimento.

Imediatamente depois do Congresso, explodiram novamente as divergências e o conflito entre a maioria e a minoria no partido francês. A crise envolvida nesse conflito culminou no início de 1952. Durante as duas reuniões do SI em que a questão francesa foi discutida, Pablo sempre reiterou a incorrigibilidade da má tendência representada pelos líderes da maioria e a necessidade de adotar medidas severas. A opinião que eu expressei invariavelmente foi de que, em razão de a maioria representar a esmagadora maior parte do partido, dentre os quais estava um grande número de trabalhadores industriais em importantes setores, nós deveríamos ainda fazer o máximo possível para convencer a maioria dos camaradas, especialmente os camaradas proletários, apesar de que certos líderes na direção manifestassem más tendências. (Na época, eu também tinha certas más impressões sobre alguns líderes da maioria. Mas eu devo admitir agora que minhas más impressões foram formuladas principalmente como resultado da minha confiança e crédito excessivos em Pablo e caracterização feita dos líderes da maioriapela minoria). Para esse propósito, disse eu, era necessário levar em frente uma discussão universal e profunda no partido francês e, se necessário, estender essa discussão às outras seções da Internacional. Dessa maneira, seria não apenas possível encontrar uma demarcação das diferentes visões políticas em ambos os lados, mas também aproveitar essa ocasião para elevar o nível político dos membros como um todo. Essa opinião não encontrou nenhuma objeção. Pablo, entretanto, procedeu inteiramente de acordo com seu próprio plano.

Aconteceu então que Pablo compareceu à Plenária do Comitê Executivo do partido francês em janeiro (1952) e anunciou na mesma hora uma suspensão de suas funções dos 16 membros da maioria no CE. O fato é que o SI não havia tomado nenhuma decisão desse tipo. Dentre os cinco membros do SI, três eram completamente ignorantes a respeito dessa decisão: Germain [Ernest Mandel] e Manuel ambos estavam fora do país, e eu não fui informado antecipadamente, apesar de estar em Paris. Além disso, apenas o CEI tem o direito de sancionar ou suspender membros de um comitê executivo ou uma seção formalmente eleita, mesmo se eles tiverem cometido graves erros políticos, e mesmo violado a disciplina em ação, enquanto o SI não tem de forma alguma esse direito. E ainda mais, o SI não tomou essa decisão! A suspensão de suas funções de 16 membros do CE do partido francês feita por Pablo, tomando o nome e a autoridade do SI, expôs completamente sua irrestrita conduta pessoal ditatorial ao abusar da autoridade e ao violar a tradição de nossa organização.

Depois da suspensão dos líderes da maioria por Pablo, Germain retornou a Paris; ele veio me ver e perguntou minhas opiniões sobre esse evento. O cerne do que eu disse a ele foi o que se segue: as visões políticas da maioria do partido francês ainda estavam limitadas a divergências sobre táticas, e ainda não haviam passado para uma discussão geral. Tomar uma medida organizativa naquele momento era inteiramente inapropriado. Além do mais, a medida aplicada por Pablo não havia sido aprovada por todos os membros líderes da Internacional e, portanto, nada mais era que uma ação arbitrária em violação da nossa tradição organizativa. Expressando seu completo acordo com minha posição, ele me disse ainda que os líderes da maioria eram todos muito ativos, e Pablo e outros antes haviam os considerado em alta estima; e agora eles de repente eram descritos como se não valessem um centavo, e mesmo ameaçados com sua completa expulsão do movimento! Ao dizer isso, Germain não pôde conter sua indignação.

Para poder discutir a agravada situação produzida por este ato de suspensão adotado por Pablo, o SI chamou uma reunião expandida (que poderia ser considerada como uma conferência preparatória para a Plenária de janeiro de 1952 do CEI). Nessa reunião, Germain, J. da seção alemã, L. da seção italiana [LivioMaitan] e eu nos posicionamos contra a medida tomada por Pablo. Mas este ainda tentou obstinadamente se defender, dizendo que “A sessão prévia do SI decidiu sobre a necessidade de adotar medidas severas, e os membros que estavam presentes nessa sessão deveriam se responsabilizar por ela”. Mas qual foi o verdadeiro conteúdo dessaassim-chamada “medida severa”? Sob quais condições ela deveria ser aplicada? Sobre isso Pablo nunca disse uma palavra e é claro que não poderíamos ter tomado nenhuma decisão formal sobre isso, e na realidade de forma alguma o havíamos feito. Mas Pablo se utilizou da “medida severa” mencionada antes como uma “fórmula algébrica” e ele fingiu que havia obtido a concordância de todos para completar ele próprio a fórmula com “caracteres aritméticos”, ou seja, a suspensão de 16 membros da maioria do CE do partido francês de suas funções. Isso expôs ainda mais Pablo como um deliberado e sistemático causador de intrigas.

Essa reunião expandida do SI deveria ter examinado seriamente o erro na ação de Pablo de suspender os membros do CE do partido francês e deveria ter desafiado sua autoridade para fazer isso, para abrir caminho para uma solução razoável para a questão da maioria francesa. Mas Pablo exerceu sua mais forte pressão ao ameaçar e manobrar para impedir qualquer discussão sobre esse problema, e aproveitou sua brecha para propor uma negociação com a maioria francesa em outra tentativa de compromisso. Isso nada mais foi do que anular na prática a suspensão dos membros da maioria do CE e formar um Comitê de liderança contendo ambas as frações, com Germain representando o SI, como árbitro. Esse foi o único resultado da sessão de fevereiro do CEI. Aqui, novamente, era evidente que Pablo estava fazendo intrigas para encobrir temporariamente sua absurda conduta com relação à liderança de uma seção e preparar o caminho para sua vingança. Assim, a questão da maioria francesa se tornou mais e mais envolvida em confusão e não podia ser resolvida corretamente, o que é provado pelo resultado subsequente.

Tendo visto a ação arbitrária de Pablo sobre a questão da maioria do partido francês e suas intrigas, eu senti fortemente que consequências assustadoras resultariam se o SI se submetesse completamente ao manejo e controle de Pablo. Com essa apreensão, em uma viagem para o sul da França eu tive uma conversa formal com Manuel, que já estava lá. Eu apontei a ele que a suspensão de suas funções de 16 membros do CE do partido francês por Pablo, feito por conta própria, revelou uma fraqueza muito séria no próprio SI, que merecia nossa mais séria observação e atenção; desde que perdemos Trotsky, somente a formação de uma liderança coletiva poderia evitar a crise interna e confrontar os eventos externos. Nesse momento, eu ainda considerava Pablo como indispensável para a liderança, mas que ele não deveria ter a permissão de agir arbitrariamente segundo sua própria vontade. Além disso, eu acreditava que quanto mais importantes fossem as questões organizativas e políticas, não apenas o SI não era competente para tomar certas decisões, mas que mesmo o CEI não era adequado (já que os membros que podiam estar presentes nas reuniões do CEI eram limitados) e que o SI deveria buscar opiniões de líderes e colaboradores responsáveis e experientes ao redor do mundo.

Depois de eu ter expressão essas visões declaradas acima, Manuel disse que concordava com a ideia fundamental expressada por mim sobre liderança coletiva e iria reexaminar a questão fundamental da maioria francesa, e que ele pretendia ter uma conversa sincera com Pablo no dia seguinte. Mas antes de Manuel poder falar com Pablo, este começou um ataque brutal e violento contra mim na presença de Manuel. Talvez tenha sido por isso que Manuel cancelou sua planejada reunião com Pablo.

Quando eu retornei do sul para Paris (em meados de maio de 1952), Pablo havia feito duas acusações de escracho para lançar um ataque de força por eu “tentar ferir o prestígio da Internacional” e “ação liberal” (que significava violação de disciplina). Os “fatos” que ele enumerou eram: nós (minha mulher e eu) havíamos caluniado a Internacional na frente de um casal australiano; depois de retornar a Paris, nós havíamos novamente caluniado a Internacional diante dos camaradas vietnamitas; e nós tínhamos nos mudado de um hotel para outro alojamento sem avisar com antecedência. Quando eu ouvi pela primeira vez essas acusações sem fundamento, apesar de extremamente enraivecido, eu ainda me contive e pedi a Pablo que se encontrasse comigo para esclarecer esses mal entendidos. Mas ele foi tão arbitrário a ponto de recusar o meu pedido, e declarou que as “histórias mencionadas por ele eram fatos verídicos”. Portanto, eu percebi que Pablo estava tentando deliberada e sistematicamente me fazer cair numa armadilha de calúnias para me desacreditar e posteriormente me excluir do SI. Eu fui então obrigado a exigir do SI que discutisse o assunto dessas calúnias de Pablo contra mim.

Na reunião do SI, eu provei com fatos indiscutíveis que todas as acusações feitas por Pablo contra mim, tais como ferir o prestígio da Internacional, etc. eram completamente falsas, e podiam ser provadas falsas pelo testemunho do casal australiano e dos camaradas vietnamitas. Quanto à acusação de “ação liberal”, era ainda mais absurda. A explicação é muito simples: como eu não pude pagar o alto custo do hotel, eu fui forçado a buscar a ajuda dos camaradas vietnamitas para conseguir um alojamento mais barato, e não foi necessário avisar com antecedência o camarada Pablo. Eu pedi que ele respondesse e explicasse as calúnias contra mim com fatos concretos. Não apenas ele não foi capaz de explicar, mas começou a gritar e declarou: “Eu sou o Secretário Geral, eu tenho minhas normas sobre as coisas!”. Eu disse a ele: “O Secretário Geral não tem privilégios, e nossa norma é o centralismo democrático. Ninguém tem o direito de ser ditador, de caluniar ou constranger os outros”. Finalmente uma resolução foi proposta por Germain sobre a disputa entre Pablo e eu, que foi mais ou menos como se segue: não havia fatos para provar que eu tentara desacreditar a Internacional e violar a disciplina, mas também de que Pablo tentara me caluniar. Essa foi uma resolução inteligente para agradar a ambos os lados sem fazer justiça à verdade. Minha declaração foi: eu não aceitaria tal tipo de resolução e eu me reservava o direito de apelar à consideração de um corpo superior.

Eu considero que, quando o Secretário Geral do SI calunia outro secretário à bel prazer, com acusações de “descreditar a Internacional” e “violar a disciplina”, não é de forma alguma uma mera e nem trivial “disputa pessoal”, mas um fenômeno sério dentro do aparato de liderança no que diz respeito à questão da organização e funcionamento de seus membros componentes. Em outras palavras, essa é uma expressão nua de métodos burocráticos baixos para excluir oponentes pessoais. Esse tipo de fenômeno foi visto bastante frequentemente nos partidos stalinistas, mas ele não tinha precedentes no nosso movimento.

Depois disso, Burns disse para nossa filha que, através da observação independente do casal australiano, ele tinha compreendido os detalhes de como a esposa de Pablo tinha nos tratadotiranicamente, especialmente minha mulher, e que não passava de loucura, e que ele era simpático a nós. Mas ele disse que foi por erro que Pablo aceitou como verdade o relato de sua esposa, e nos pediu para que não insistíssemos em um “apelo”. Enquanto isso, Manuel também fez o que pôde para me dissuadir de fazer isso, dizendo que se eu tornasse esse assunto público, Pablo não poderia continuar sua função, mas quem poderia então substituí-lo? Em suma, ele me persuadiu a deixar isso para lá. Para o bem de “preservar a integridade do movimento em geral”, eu deixei de levar além meu protesto. Apesar disso, eu sempre achei que as calúnias feitas por Pablo são não apenas indesculpáveis, mas expressam uma perigosa tendência considerando a posição que ele mantém. Se ele estivesse no poder, ele teria muito provavelmente cometido todas aquelas perseguições que Stalin havia feito no passado.

Durante um ano inteiro, da minha chegada à Europa até a décima primeira Plenária do CEI em junho de 1952, eu só havia podido fazer um relato sobre a questão chinesa no Terceiro Congresso e na Comissão do Extremo Oriente, e nunca houve qualquer troca de opiniões ou discussão sobre essa questão no SI. Mesmo quando o rascunho de resolução foi submetido à discussão no SI, eu não fui convidado para expressão minhas visões. Além disso, eu não havia ouvido pessoalmente que posição havia sido adotada por Pablo antes de ele expressar sua visão na décima primeira plenária. Apenas indiretamente eu compreendi que Pablo havia assumido que Mao Tse-Tung havia completado todas as teses fundamentais da Revolução Permanente, que o PC chinês já tinha se tornado um partido centrista, e que o regime de Mao era uma ditadura proletária. A posição de [Pierre] Frank me era completamente desconhecida nesse momento. Apenas Germain havia trocado algumas visões comigo, mas ele havia declarado que sobre a questão chinesa ele era mais moderado. Assim, em uma questão tão importante quanto a China, a liderança do SI não havia sequer compartilhado suas posições comigo, ou havia evitado deliberadamente fazer isso desde o começo. Não foi de forma alguma planejada uma discussão coletiva para poder-se chegar a uma posição correta como base para a resolução que seria submetida ao CEI para discussão e aprovação. Ao contrário, a liderança do SI lançou um ataque repentino na reunião do CEI contra as visões que eles consideravam errôneas, com o propósito único de ganhar uma maioria para adotar seu próprio rascunho de resolução, e apressadamente encerrou toda a discussão sobre esse tema. Dessa forma eu descobri que os membros dirigentes do SI não estavam preparados para uma discussão sincera e consulta mútua para facilitar a colaboração, mas ao invés disso lançava golpes de todas as maneiras contra as visões divergentes. Isso é particularmente notável em Pablo, que abertamente enfatizou na sessão do CEI que existia uma fração sectária da qual se deveria livrar. (Essas palavras não foram incluídas nos apontamentos publicados de Pablo na edição especial do boletim internacional sobre “Relato e Discussão sobre a Terceira Revolução Chinesa”). O sectário ao qual ele se referia era obviamente eu; e a referência foi uma ameaça e um prelúdio para me jogar para fora da Internacional. Eu não me intimidei por essa ameaça burocrática, mas uma vez mais foi demonstrado que Pablo estava pronto a lidar com os camaradas chineses com os mesmos métodos que ele havia empregado contra a maioria da seção francesa.

Eu acredito que você já conhece o conteúdo da resolução sobre a Terceira Revolução Chinesa; minhas críticas a essa resolução, como, por exemplo, em “Alguns apontamentos para servirem como adendos ao rascunho de resolução sobre a Terceira Revolução Chinesa”, foram enviadas a você há dois meses, então não é necessário repeti-las aqui. Eu só tenho um ponto a acrescentar sobre isso. Quando essa resolução chegou à China, ela não apenas falhou em esclarecer as visões originais divididas, mas aumentou a confusão e a perplexidade. Além dos camaradas que se opõem à resolução com argumentos teóricos e fatos, mesmo aqueles que estão de acordo com ela tem variadas interpretações entre eles próprios. Consequentemente, não foi possível para eles elaborar um programa de ação com acordo majoritário com base nessa resolução. A pior coisa é que ninguém pode encontrar uma perspectiva para os trotskistas chineses nessa resolução. Por exemplo, um camarada responsável, F., que está em completo acordo com a resolução disse: “Nós devemos dissolver nossa organização para poder participar efetivamente das atividades de massa lideradas pelo partido de Mao”. Isso evidentemente é uma atitude liquidacionista. Outro camarada, Y., disse mais francamente: “A resolução da Internacional está correta, mas não há nenhuma perspectiva para nós trotskistas”. Isso é pessimismo de cabo a rabo. Assim toda a organização foi desarmada politicamente e desorientada, e dessa forma se envolveu em disputas organizativas sem fim, e estava cada vez mais à beira da desintegração.

Naturalmente, eu não pretendo dizer que a resolução do SI é inteiramente responsável por tal perigoso estado ao qual a organização chinesa foi conduzida. Eu diria que esse é principalmente um resultado da situação objetiva da vitória do partido de Mao, suas perseguições e a pressão incomparável que pesava sobre nós. Mas é um fato inegável que a resolução da Internacional não fez uma análise razoável e correta e uma explicação dessa situação objetiva, e nem apontou para uma perspectiva e uma orientação convincente para a organização chinesa.

Antes de tudo, essa resolução é uma mistura do revisionismo de Pablo e do conciliacionismo de Germain (ou seja, conciliação com Pablo), recheado de falácias teóricas, erros factuais e autocontradições. Essas se juntam a uma idealização do regime de Mao e ilusões sobre sua perspectiva, fazendo dela uma forte expressão da tendência de conciliação com o stalinismo. O liquidacionismo e o pessimismo que prevaleceram entre os camaradas chineses se originou daqui. Portanto, eu posso dizer que o revisionismo de Pablo, ou seja, a sua conciliação em relação ao stalinismo, já causou consequências desastrosas na organização chinesa. Isso merece uma séria atenção entre todos os camaradas.

Na décima segunda Plenária do CEI, em novembro de 1952, o SI me deixou fazer um relato sobre a situação organizativa na seção chinesa pela primeira vez. Quando eu relatei as notícias sobre a perseguição incessante e sistemática dos trotskistas chineses pelo regime de Mao durante esses últimos anos, toda a reunião foi fortemente abalada. L., o italiano, corou e questionou por que o SI não havia dado às seções essa informação sobre a perseguição dos camaradas chineses. Em meio a essa atmosfera tensa, Pablo, evidentemente desconcertado, se levantou para se defender, dizendo que o massacre dos trotskistas pelo regime de Mao não era uma ação deliberada, mas um equívoco, ou seja, os trotskistas haviam sido confundidos com agentes do Kuomintang; e que mesmo se a perseguição de Mao aos trotskistas fosse um fato, isso só poderia ser considerado como uma exceção. Então Germain colocou outra questão: sob quais condições os trotskistas foram massacrados? Eu citei todos os fato e “condições” para demonstrar que a perseguição dos trotskistas pelo regime de Mao havia se originado de uma tradição profundamente enraizada de hostilidade stalinista em relação aos trotskistas, e que era uma tentativa deliberada e sistemática de exterminar os trotskistas. Eu também apontei que essa perseguição não era de forma alguma uma “exceção”. Não fazia muito tempo, Ho Chi Minh havia assassinado toda a liderança trotskista no Vietnã, e na Guerra Civil Espanhola a GPU do partido stalinista perseguira brutalmente incontáveis trotskistas; todas essas eram provas de ferro. Mas Pablo virou para mim o questionamento: “Então você invalidou a tática de entrismo no partido stalinista e nas organizações de massa sob seu controle, que você havia aprovado?”. Eu respondi: “Essa tática de entrismo no partido stalinista foi iniciada por nós há quatro anos, isto é, desde 1949. Mas precisamente por causa das severas perseguições que Mao infligiu sobre os trotskistas, nós temos que ser particularmente cuidadosos e sérios ao realizar essa tática, e não deveríamos ter nenhuma ilusão nos stalinistas”. Eu instei às seções francesa e italiana a examinar as lições da seção chinesa e a se organizar muito seriamente ao aplicar essa tática. De outra forma, cairiam no perigo de se arruinarem e, nesse caso, o CEI seria responsável. Em suma, dessa ilustração da defesa que Pablo fez da perseguição stalinista aos trotskistas chineses você pode ver a extensão da idealização e ilusões dele em relação ao regime de Mao.

Nesse meio tempo, eu recebi a versão em inglês da edição especial do BoletimInternacional contendo o relato e discussão sobre a Terceira Revolução Chinesa e eu descobri que o meu documento criticando o rascunho de resolução sobre a Terceira Revolução Chinesa não havia sido impresso nele. Eu, portanto, apontei isso na reunião expandida do SI e questionei Pablo sobre a razão para não publicar o documento. A resposta foi que o documento fora publicado em outra edição do Boletim Internacional. Mas depois eu procurei por todos os Boletins Internacionais e não pude encontrar minha crítica ao rascunho da resolução. Era óbvio que Pablo havia deliberadamente suprimido esse documento, já que minha crítica apontava com fatos irrefutáveis vários erros fundamentais no rascunho de resolução: a revisão da teoria da Revolução Permanente, a distorção do “governo operário e camponês”, a ficção de uma suposta “violação das intenções do Kremlin pelo partido de Mao” e a ilusão de uma “transformação de todo o partido de Mao Tse-Tung em um partido centrista”. Nenhuma dessas críticas foi refutada ou rejeitada nem pelo relator, nem pelos participantes da discussão com argumentos teóricos ou fatos. Precisamente por essa razão, Pablo estava decidido a esconder minha crítica ao rascunho de resolução dos camaradas ao deixa-la no escuro. Essa é uma típica manifestação dos métodos burocráticos do stalinismo, e foi precisamente o que nós resolutamente combatemos dentro da Comintern em seu estágio inicial de degeneração 25 anos atrás, e uma das principais causas para constituir a Oposição de Esquerda. Mas Pablo não parou aí. Quando eu perguntei a ele por que ele não havia publicado meu documento, ele mentiu abertamente dizendo que havia sido publicado em outra edição do Boletim Internacional. Isso acrescentou mentira e trapaça, o cúmulo dos métodos burocráticos arbitrários.

Aqui eu devo mencionar que particularmente desde o começo de 1952, quando eu me opus à medida arbitrária de Pablo na questão francesa, pelo período de um ano ele não apenas empregou vários métodos burocráticos contra mim, mas também informalmente me privou do direito de participar em todas as reuniões do SI; ou seja, durante todo esse ano, Pablo nuncame chamou para comparecer a qualquer reunião do próprio SI. Os membros do SI eram oficialmente eleitos pelo CEI. Mas sem passar por nenhuma discussão formal e decisão na reunião do CEI, ele me privou informalmente do direito de participar nas reuniões do SI. Isso é claramente outra manifestação do burocratismo mais arbitrário e insolente!

Por volta do mesmo período, eu descobri que Manuel fora excluído das reuniões do SI por outro método: ele foi enviado para outro país com a tarefa de ajudar o trabalho lá, ficando assim efetivamente impedido informalmente do seu direito de participar e trabalhar no SI. Mas todos sabiam que Manuel viera com o único propósito de participar das atividades do SI. Isso prova inteiramente que, para monopolizar o SI, Pablo não tinha nenhum limite em seus métodos burocráticos e intrigas para gradualmente excluir do SI os representantes do Hemisfério Ocidental e da Ásia.

Por outro lado eu me familiarizei com o fato de que Clarke havia iniciado uma luta fracional no SWP e lançado ataques contra a liderança do partido em uma tentativa de ganhar a direção. Isso foi evidentemente instigado por Pablo por trás dos panos. Eu ouvia frequentemente dos lacaios de Pablo que “Clarke é o melhor líder nos EUA”, que era equivalente a dizer que o SWP deveria ser liderado por ele. Ao mesmo tempo, um camarada chinês, H., que estava estudando aqui me disse pessoalmente que desde a primavera passada (1952) Pablo havia agido de forma particularmente amigável e confidencial com ele e havia oferecido várias vezes manda-lo de volta à China para “reorganizar o partido”. Esse camarada respondeu: “Eu não tenho autoridade e prestígio na organização chinesa”. Então Pablo o encorajou dizendo: “Não tenha receio, nossa Internacional vai apoiá-lo. Basta você agir ousadamente”. Dessas palavras ditas por Pablo, H. entendeu claramente não apenas que Pablo não confiava em mim nem um pouco, como também era hostil a mim e, portanto, queria lhe dar essa missão especial de começar um trabalho fracional na organização chinesa. Naturalmente, ele não estava nem um pouco disposto a se envolver nesse assunto, e consequentemente nos disse isso francamente.

A partir dos fatos enumerados acima, eu senti profundamente que Pablo havia manifestado uma tendência revisionista, e especialmente que ele estava empregando terríveis métodos burocráticos para exercer controle sobre o SI e tinha começado a construir suas próprias frações nas diferentes seções em uma tentativa de dominar todo o movimento internacional. Por essa razão, quando Manuel estava indo embora e veio se despedir de nós, eu enumerei alguns desses fatos e disse a ele francamente que um sério perigo estava escondido no aparato de liderança da Internacional, e estava se desenvolvendo em velocidade acelerada. Eu expressei esperança de que ele iria encontrar um modo de tornar essa opinião conhecida à liderança do SWP e especialmente a você, de forma que você fosse alertado em tempo e tentasse consertar a situação. Entretanto Manuel não tenha expressado nenhuma reação às minhas palavras, ele prometeu encaminhar minhas opiniões a você e alguns outros líderes do partido.

Na plenária do CEI de maio de 1953, houve duas coisas dignas de nota:

1. Na discussão da resolução sobre o problema da URSS depois da morte de Stalin, uma disputa importante surgiu. Nessa disputa, Burns apontou primeiramente que o espírito da resolução era otimista demais; ele alertou que da falha em absorver completamente o significado dos eventos da Iugoslávia, os quais tinham resultado em uma avaliação exageradamente otimista, nós deveríamos ter aprendido certas lições. Ele também declarou que os partidos stalinistas permaneciam sendo stalinistas, e que nós não deveríamos ter muitas ilusões sobre eles. Mas Pablo fez um ataque ameaçador contra essas observações. O resumo de suas palavras era que, como um líder responsável, Burns deveria evitar expressar visões em violação à linha da Internacional. De acordo com ele, todas as resoluções rascunhadas pelo SI conformavam a “linha da Internacional” e nenhuma dúvida ou objeção era permitida. Portanto, os membros do CEI tem simplesmente que levantar suas mãos para adotar qualquer resolução que dissesse respeito a eventos que haviam acabado de ocorrer sobre problemas importantes. Quaisquer dúvidas ou visões opostas ao rascunho de resolução do SI são consideradas “violar a linha da Internacional”. Isso é diferente da atitude burocrática dos PCs no que diz respeito à “linha geral” de Stalin, a qual era proibido se criticar?

2. Nessa Plenária, Pablo propôs a eleição de um novo SI. A razão era que não havia número suficiente membros efetivos para participar das atividades do SI, então dois membros das seções britânica e italiana foram adicionados como membros permanentes do SI. Dessa maneira, representantes do Hemisfério Ocidental e da Ásia foram formalmente eliminados, e o SI virou praticamente um SE (Secretariado Europeu). Desde então, Pablo tem modificado “legalmente” a composição do SI para poder controlar livremente e manipulá-lo e proceder “legalmente” com sues desígnios de excluir e eliminar seus oponentes e seguir com sua trama de usurpar a Internacional.

Na Plenária de maio do CEI, eu submeti dois documentos, “Um apelo dos Trotskistas Chineses por Ajuda” e a minha “Carta Aberta à Liderança do PC Chinês”, protestando pela perseguição dos trotskistas, na esperança de que a Plenária fosse discutir e comentar sobre eles e decidir publicá-los nos órgãos públicos de diferentes seções, para poder realizar uma ampla campanha para ajudar os trotskistas perseguidos na China. Mas Pablo me disse através de Germain que esses documentos deveriam ser discutidos e a decisão seria tomada só no SI. Na reunião do SI (dessa vez só Pablo e Frank estavam presentes), eu declarei que eu esperava que ambos os documentos fossem transmitidos às seções para publicação, e que fosse aproveitada a ocasião para uma campanha para resgatar os camaradas perseguidos. Ambos Pablo e Frank concordaram em publicar “Um apelo dos Trotskistas Chineses”, mas disseram que não podiam concordar com os vários pontos contidos em minha carta de protesto, e iriam se consultar comigo para tomarem uma decisão final.

De maio a setembro, quatro meses se passaram, mas eu ainda não vi aparecer “Um apelo dos Trotskistas Chineses”. Então eu comecei a suspeitar que Pablo houvesse novamente suprimido o documento. No começo de setembro eu enviei uma cópia desse documento para os Estados Unidos, pedindo que ele fosse enviado para o Militant [jornal do SWP norte-americano], e questionando se ele já havia chegado lá por parte do SI. A resposta que eu recebi foi: “Nunca recebido”. Uma vez mais eu descobri que Pablo estava fazendo joguinhos para me enganar. Sobre os seus motivos para recorrer a tais truques para suprimir esse documento: primeiro, ele sempre idealiza o regime de Mao. A publicação desse apelo teria exposto a realidade contradizendo suas ilusões e idealização. Em segundo lugar, ele vinha por muito tempo propagando nas diversas seções a noção de que os trotskistas chineses eram sectários, fugitivos de uma revolução, etc. A publicação desse documento teria desmascarado categoricamente suas mentiras e calúnias. Em terceiro lugar, Pablo temia que a publicação do documento iria interferir com seu ideal mais ardorosamente defendido de “entrismo”, ou seja, ele temia que ao ver a cruel perseguição dos comunistas chineses pelo partido de Mao, como revelado nesse apelo, os camaradas franceses, italianos e vietnamitas começariam a duvidar da sua idealizada “tática de entrismo” e exigiriam uma nova discussão.

Ao suprimir esse documento, Pablo não apenas enganou conscientemente a mim e aos camaradas chineses, mas também cometeu dois crimes indesculpáveis: (1) objetivamente ajudou o PC chinês a esconder das massas os fatos mais horríveis e concretos da sua perseguição aos trotskistas chineses. (2) Ele tornou impossível para os camaradas de diferentes países que estivessem aplicando ou se preparando para aplicar a “tática de entrismo” aprender as lições das brutais perseguições infligidas sobre os camaradas chineses. Isso é como coloca-los para trabalhar numa zona de perigo sem deixá-los saber do perigo. Uma verdadeira política de avestruz! Deixe-me citar outro incidente para ilustrar essa atitude. Quando os camaradas vietnamitas estavam prontos para retornar ao seu país para aplicar a “política de entrismo”, e fizeram uma reunião na qual eu fui convidado para fazer um discurso, o organizador da mesa nessa reunião fez um pedido para que eu não mencionasse aos camaradas as perseguições recentes experimentadas pelos camaradas chineses. Eu sabia muito bem que isso era uma instrução ou sugestão de Pablo. Embora eu tenha observado o pedido do organizador, eu ainda o alertei pessoalmente que a “política de avestruz” era a mais perigosa.

Minha Carta Aberta foi escrita como resultado de uma proposta de Manuel na Plenária de novembro de 1952 do CEI, que foi então decidida e aprovada unanimemente. Seu objetivo era tornar públicos internacionalmente os fatos sobre as perseguições aos trotskistas chineses para angariar simpatia da classe trabalhadora mundial e grupos progressivos e exercer pressão sobre o partido de Mao para impedi-lo de continuar a perseguir os trotskistas chineses e outros elementos revolucionários. Em razão de um desejo de coletar as informações mais confiáveis, essa carta foi terminada apenas em abril. Já estava um bocado atrasada. Mas sob o pretexto de enviar alguém para me consultar sobre o conteúdo dessa carta, Pablo novamente teve sucesso em retê-la por mais dois meses (durante esses dois meses, Frank discutiu comigo duas vezes, escolhendo alguns pontos não muito importantes para discutir comigo e, é claro, não houve conclusão alguma). Finalmente, no começo de julho, Germain veio conversar comigo. Ele começou criticando o formato da carta como completamente errado, e pediu que ela fosse reescrita. De acordo com suas ideias, eu deveria ter aberto a carta expressando um total apoio ao movimento sob a liderança do partido de Mao, elogiando suas conquistas revolucionárias, e então por fim chegar ao ponto da enumeração dos fatos sobre as suas perseguições e protestar. Em segundo lugar, Germain notou que as visões expressas nessa carta divergiam consideravelmente da linha da resolução da Internacional, e por essa razão ele me denunciou como um “sectário sem esperança”. Por fim, ele disse que o SI não poderia tomar a responsabilidade de enviar esse documento para as diferentes seções para publicação. Se eu insistisse em tê-lo publicado, eu próprio deveria me responsabilizar por qualquer medida a respeito.

Para mim foi uma grande surpresa ver o quanto a atitude de Germain tinha mudado desde a sua postura anterior “moderada” e conciliatória com relação a mim. Dessa vez ele era pablista de cabo a rabo. Eu já havia entendido que Pablo não tinha a menor disposição em ter essa carta publicada; em geral as razões eram as mesmas que aquelas referentes a “Um Apelo dos Trotskistas Chineses”. Quanto a essa carta ter sido ou não escrita “de um jeito completamente errado” em sua “forma” e com um “sectarismo sem esperança” em seu conteúdo, uma vez que agora ela é publicada no Militant aqueles que a leram podem fazer um julgamento aberto. A última das minhas intenções é me defender. Entretanto, a partir das visões expressas acima por Germain, enquanto representante do SI, pode-se ver claramente que eles esperavam que eu submetesse um elogio ao partido de Mao para buscar conciliação com ele. A tendência conciliacionista em direção ao stalinismo novamente se reflete indiretamente aqui.

Nesse ponto, eu gostaria de fazer um breve comentário sobre a modificação da atitude de Germain durante esses dois anos, que pode ser alguma ajuda para que você entenda o papel dele no SI e na presente luta.

Eu posso dizer que desde o meu primeiro contato com Germain depois de chegar aqui eu tenho sempre tido a maior simpatia por ele. Esse sentimento se derivou da minha observação da sua seriedade e de sua devoção ao trabalho, sua sinceridade e cordialidade com os camaradas, sua considerável maturidade política e respeito por nossa tradição nos assuntos organizativos, e certa vez eu o considerei um dos mais promissores novos líderes do nosso movimento. Apesar de que eu também ter notado sua falta de uma análise penetrante ao observar vários problemas, seu temperamento impressionista, vacilação e espírito conciliacionista manifestado muito frequentemente em importantes questões, e sua facilidade em modificar suas posições, eu ainda confiava que ele seria capaz de superar essas fraquezas através da experiência no movimento conforme ele se desenvolvesse. Então quando eu ouvi entre os seguidores de Pablo todo o tipo de propaganda depreciativa sobre ele por um longo período, retratando ele como alguém sem visões independentes, ou mesmo como um mero “secretário com a função de coletar materiais para Pablo” (nas palavras de A.), eu me senti bastante indignado pela injustiça cometida a seu respeito. Quando a crise do partido francês explodiu novamente, Germain se opôs abertamente à medida arbitrária tomada por Pablo. Eu vi a mim mesmo enquanto ele era violentamente atacado por Pablo e pela minoria francesa, e frequentemente me senti mal por ele. Eu havia enviado uma mensagem de simpatia através da minha filha, e ele disse que sem o apoio das seções alemã e italiana ele teria sido derrubado há muito tempo. Precisamente porque ele tinha tal apoio, Pablo fez compromissos especiais com ele e o promoveu como representante do SI para participar da “coalizão de liderança” da maioria e da minoria francesa, e fez dele o “árbitro”. Daí em diante, Germain foi posto na linha de frente do conflito direto com a maioria francesa, e executou para Pablo o plano preconcebido que outrora ele havia sido violentamente contra. Por volta da mesma época, Pablo deu a ele a tarefa de rascunhar a resolução sobre a questão chinesa para coloca-lo em oposição a mim. Desde então, sob os “compromissos” e “promoções” de Pablo (elevado quase à altura do próprio Pablo), Germain gradualmente abandonou sua posição conciliatória e se envolveu mais e mais na armadilha do burocratismo de Pablo.

Hoje, o fato de ele estar tomando uma posição completamente ao lado do pablismo, em oposição à luta liderada pelo SWP contra o revisionismo e o burocratismo, indica o quão inconscientemente ele caiu na armadilha de Pablo. Eu ainda estou muito triste pela degeneração dele. Se Pablo não tivesse o apoio de Germain agora, ou seja, o apoio das lideranças alemã e italiana através dele, ele não teria sido capaz de seguir seu percurso sozinho, e um racha poderia ser evitado. Desse ponto de vista, o papel criminoso desempenhado por Germain nessa luta é de uma natureza decisiva. Em suma, eu tenho de tirar as seguintes conclusões das minhas observações e experiências com Germain durante esses dois anos: em muitos aspectos, especialmente em seu temperamento, ele se parece com Bukharin. Ele frequentemente vacila entre a consciência revolucionária e a consideração momentânea de forças. Quando uma é adotada por um tempo, a outra é posta de lado. Só será possível que ele retorne ao trotskismo ortodoxo quando sua consciência revolucionária for despertada ao descobrir toda a conspiração de Pablo, e quando ele perceber que já está envolvido em uma armadilha terrível.

Eu aprendi que o conflito entre a maioria e a minoria no seu partido, que vinha acontecendo por mais de um ano e meio, foi acentuado depois da Plenária de maio e então ficou cada vez mais à beira de um racha. Se o secretário do SI estivesse realmente preocupado com os interesses do nosso movimento, ele teria chamado a tempo uma sessão extraordinária do CEI para discutir e examinar as diferenças de ambos os lados, e adotar uma posição correta de forma a ajudar a vitória do lado correto. Mesmo se isso não pudesse ser feito, ao menos o SI deveria ter enviado para os membros do CEI e para as lideranças das diferentes seções os documentos da disputa no seu partido para permitir que eles os estudassem, discutissem e expressassem suas opiniões e críticas, para ajudar indiretamente o conflito no seu partido a proceder de maneira objetiva. Entretanto, o SI sob o controle de Pablo encobriu completamente as notícias sobre a sua luta e todos os documentos de discussão dos membros do CEI e das lideranças das seções. No meu caso, por exemplo, foi só no começo de setembro que eu soube vagamente dos principais argumentos de ambos os lados através de um amigo. Sem essa fonte eu teria permanecido completamente no escuro até o momento em que você publicou a Carta Aberta. O fato é simplesmente que os membros responsáveis do SI jamais me informaram sobre a situação da luta interna no seu partido. Pablo e companhia adotaram métodos burocráticos para guardar de nós a informação porque em seus esquemas eles queriam mantê-la escondida. E agora está bastante claro: a minoria do seu partido é não apenas a propositora, defensora e elaboradora do revisionismo de Pablo, mas foram inspirados e dirigidos por trás dos panos por Pablo na luta, como é inteiramente revelado pelos métodos que eles adotaram em sua conduta de sabotagem. Em outras palavras, o grau e a consequência do racha provocado pelo conflito no seu partido é causado diretamente pela conduta de Pablo no interesse de sua própria fração.

De todos esses fatos narrados acima, que eu testemunhei e experimentei pessoalmente, uma conclusão geral pode ser tirada conforme se segue: politicamente, a tendência revisionista de Pablo, de conciliação com o stalinismo, é totalmente revelada por sua idealização do partido de Mao e de seu presente regime, das ilusões nutridas ao seu respeito, e especialmente as desculpas oferecidas e a defesa do partido de Mao em sua perseguição aos trotskistas. O conciliacionismo já envolveu a seção chinesa em confusão extrema, e até mesmo a levou à beira da desintegração através do liquidacionismo e pessimismo derivado das teses de Pablo. Organizativamente, o nível impressionante e perigoso de burocratismo atingido por Pablo pode ser demonstrado pelos fatos de que ele abusou livremente do nome do SI ao suspender por conta própria os membros da maioria do CE do partido francês e excluir seus oponentes conforme sua vontade; que ele monopolizou o SI e controlou o CEI através do SI; que ele tentou e conseguiu criar uma panelinha pessoal, conspirando para tomar a liderança das seções; que ele suprimiu documentos que deveriam ter sido publicados, e mesmo aqueles que ele prometeu publicar; e que ele isolou e desfez as relações normais entre camaradas de liderança, e que calunia, inventa e mente sobre eles e os engana. Todos esses crimes, que eu vi pessoalmente e havia encontrado 25 anos atrás na Comintern degenerada sob Stalin, eu agora vi aplicados no órgão de liderança da Internacional sob o controle de Pablo! O rompimento dos partidos conduzido pelas minorias nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha recentemente, e as atividades conspiratórias aceleradas de Pablo para rachar toda a Internacional agora são o desenvolvimento lógico da sua ambição pessoal de usurpar toda a Internacional e do seu burocratismo.

Os fatos enumerados acima e suas conclusões justificaram suficientemente a ação adotada pelo SWP como necessária e correta.

Recentemente um camarada responsável da seção chinesa (que concorda politicamente com a nossa posição) me escreveu e perguntou: “Por que o SWP não agiu de acordo com o centralismo democrático, tentando, através da discussão internacional, ganhar o apoio da maioria, ao invés de fazer antes de tudo uma carta aberta (se referindo à Carta Aberta aos Trotskistas do Mundo Inteiro), apelando para todas as seções para se livrarem de Pablo?”. Camaradas como ele, que não entendem o verdadeiro estado de coisas e ainda nutrem inocentes concepções legalistas, não são pouco numerosos. É precisamente numa tentativa de explorar essa situação que Pablo e seus apoiadores estão fazendo um grande alarde: “A carta aberta publicada por Cannon está em completa violação da tradição organizativa trotskista, e em violação da disciplina do centralismo democrático”, esperando dessa forma confundir e enganar camaradas e encobrir a própria conspiração de Pablo para usurpar a autoridade da Internacional por métodos burocráticos, das suas próprias trapaças na tradição organizativa e das suas próprias violações da disciplina do centralismo democrático. Portanto, eu sei a seguinte resposta no dia 8 desse mês à seção chinesa sobre a questão colocada acima:

Embora haja tais sérias divergências entre as visões políticas de ambos os lados (me referindo a vocês e ao lado representado por Pablo), ainda assim, se o SI tivesse mantido seu funcionamento normal e razoável, poderia e deveria ter havido a possibilidade de uma completa discussão interna, e de se chegar a uma solução através do centralismo democrático. Mas o dado extremamente infeliz é que o SI tem estado inteiramente controlado e usurpado por Pablo, que utiliza esse ‘aparato legal’ para agir arrogantemente com a organização de sua conspiração, excluindo arbitrariamente seus oponentes do SI e estabelecendo secretamente sua própria panelinha ou facção com o objetivo de tomar a liderança de uma seção ou rachar a organização. Isso tornou impossível qualquer discussão normal de acordo com o princípio do centralismo democrático e assim obrigou o SWP, liderado por Cannon, a adotar hoje essa ação excepcional, publicando a Carta Aberta exigindo a expulsão de Pablo e de seus agentes dos órgãos de liderança da Internacional. Isso é realmente sem precedentes na história do nosso movimento internacional, e é uma ação de natureza revolucionária. Essa ação se tornou necessária não apenas para esmagar as tentativas de usurpação de Pablo, mas também para ganhar tempo para resgatar o movimento, e reorganizar e coordená-lo em tempo para confrontar a nova guerra mundial e revolução que se aproxima. Se a mobilização dessa luta se prolongasse até a explosão da Terceira Guerra Mundial, seria tarde demais.”

Eu também devo apontar que a conspiração de Pablo para usurpar o órgão de liderança da Internacional durante esses anos recentes, e todos os tipos de métodos burocráticos de natureza absurda e extremamente arbitrária, foram mais ou menos revelados de muitos lados. O fato é que a nossa Internacional como um todo e os líderes responsáveis das diferentes seções não foram vigilantes o suficiente e não exerceram cedo o suficiente uma fiscalização severa, crítica, intervenção e contenção. O resultado, essa situação extremamente perigosa e descontrolada, merece o nosso exame especial e revisão. Todo membro responsável e todo trotskista ortodoxo deveria tirar uma séria lição desse caso Pablo. (Sobre isso, caso você queira, eu posso oferecer alguns materiais e opiniões para discutir com você).

Como último ponto, eu quero lhe dizer de passagem que desde que a organização chinesa recebeu a carta aberta do SWP, seu órgão de liderança, o Comitê Nacional, realizou imediatamente uma série de reuniões devotadas à mais séria discussão. Como resultado, aprovou quase unanimemente (com apenas uma abstenção) as visões e posições contidas na sua Carta Aberta, e expressou uma vontade resoluta em participar nessa luta liderada por você contra o revisionismo e o burocratismo. Tendo passado por essa discussão, eles recuperaram sua confiança original, e estão começando a se desprender das confusões, conflitos e desorientação dos anos recentes. Eles estão agora iniciando uma discussão geral na base em uma tentativa de reexaminar todas as questões políticas fundamentais de acordo com a tradição trotskista ortodoxa, e a obter unanimidade e unidade para marchar adiante rumo a um partido revolucionário. Eu considero isso como o primeiro sinal mais otimista no processo de luta contra o revisionismo.

Fraternalmente,

S. T. Peng

On the Propaganda Perspective

On the Propaganda Perspective

[Originally posted on Feb 7, 2003 at http://www.bolshevik.org/Leaflets/IG_list.html

An exchange between an Internationalist Group supporter and one of our comrades [Samuel Trachtenberg] on the question of revolutionary press policy recently took place on a New York City leftist discussion list. We reprint below the reaction of the IG’s comrade Abram to our posting of a historical article on the Korean War, followed by two emails from our comrade in response.

  

Date: Mon, 20 Jan 2003

Subject: [reconstruction] question

A question prompted by S’s recent postings:

Why has his organization, the “International Bolshevik Tendency,” apparently published no article, leaflet or statement on two of the most crucial recent battles of the class struggle: the lock-out against West Coast longshore workers, and the struggle of New York transit workers?

Both are key examples of how imperialist war abroad means repression against labor, blacks and all the oppressed within the U.S. Both are arenas in which any organization genuinely struggling for Bolshevik politics would seek to intervene. In both cases the Internationalist Group intervened actively, fighting for the program of revolutionary Trotskyism. But from the IBT, nothing. (And I saw zero from them when I was on the West Coast for the recent conference against Taft-Hartley, even though one of their long-time supporters attended the ILWU Coast Caucus.)

I think this is one more confirmation that the IBT is little more than a literary society on the road to open social democracy.

— Abram

The first response by our comrade

Date: Fri, 24 Jan 2003

I gather that Comrade Abram had no criticisms of the political line of the rather important historical article on the Korean War I posted, but there is a clear implication in his comment that this sort of article is somehow less useful or important than agitational leaflets on more current issues. I think it is a mistake to counterpose the two, and I think that both the New York transit dispute and ILWU lockouts pose important issues for the working class today. If my group had more capacity it would have been good to have produced statements on these and a variety of other current struggles.

At this time, given our resources, we have decided that our main orientation as a tiny organization must be to seek to clarify major issues of program, often through polemical struggle with other ostensibly revolutionary groups, in order to assist in the regroupment of people who are already somewhat radicalized and politically active. Of course we welcome opportunities to recruit directly from among raw workers, but for very small propaganda groups this cannot be a primary strategy. First one must build a nucleus of cadres, and that can only be done on the basis of struggle for political program.

The question of press policy and “mass orientation” has been the focus of many political debates in the Marxist movement, see, for example., Lenin’s polemic with the economists in What Is To Be Done?, James P. Cannon’s critique of Albert Weisbord, and Trotsky’s writings in The Crisis of the French Section. The early Spartacist League had parallel debates with Healy-Wohlforth and Ellens-Turner on questions of press policy and Potemkin Village fake-mass pretensions.

These are, I think, a valuable part of our revolutionary heritage and deserve some attention. I think we can begin with the recognition that the IBT and the IG are both very small organizations (“sub-propaganda groups”) aspiring to help build the nucleus of a future mass revolutionary party. The job of a propaganda group is to disseminate Marxist propaganda, as James P. Cannon, pointed out in his History of American Trotskyism:

“…these circumstances made obligatory that our primary work be propaganda rather than mass agitation. As has already been pointed out, in the terminology of Marxism quite a sharp distinction is drawn between propaganda and agitation, a distinction which is slurred over in popular language. People commonly describe as propaganda any kind of publicity, agitation, teaching, propagation of principles, etc. In the terminology of the Marxist movement, as it was defined most precisely by Plekhanov, agitation and propaganda are two distinct forms of activity. Propaganda he defined as the dissemination of many fundamental ideas to a few people; what we perhaps in America are accustomed to call education. Agitation he defined as the dissemination of a few ideas, or only one idea, to many people. Propaganda is directed toward the vanguard; agitation towards the masses.”

The following quotes are from two sources that the IG and IBT both regard as part of the political tradition of authentic Trotskyism: James P. Cannon in the 1940s and the Spartacist League of the 1970’s.

From The History of American Trotskyism:

“Our paper was aimed directly at the members of the Communist Party. We didn’t try to convert the whole world. We took our message first to those whom we considered the vanguard, those most likely to be interested in our ideas. We knew that we had to recruit at least the first detachments of the movement from their ranks.”

“The fate of every political group–whether it is to live and grow or degenerate and die–is decided in its first experiences by the way in which it answers two decisive questions.

“The first is the adoption of a correct political program. But that alone does not guarantee victory. The second is that the group decide correctly what shall be the nature of its activities, and what tasks it shall set itself, given the size and capacity of the group, the period of the development of the class struggle, the relation of forces in the political movement, and so on.”

“…if the group misunderstands the tasks set for it by the conditions of the day, if it does not know how to answer the most important of all questions in politics–that is the question of what to do next–then the group, no matter what its merits may otherwise be, can wear itself out in misdirected efforts and futile activities.”

“The [founding] conference didn’t take up every question posed by the political conditions of the time. It took up only the most important questions, that is, those which had to be answered first….”

“The problem was to understand the actual situation, the stage of development at the moment. Of course, you have to find a road to the masses in order to create a party that can lead a revolution. But the road to the masses lies through the vanguard and not over its head. That was not understood by some people. They thought they could by-pass the Communistic workers, jump right into the midst of the mass movement and find there the best candidates for the most advanced, the most theoretically developed group in the world, that is, the Left Opposition which was the vanguard of the vanguard. This conception was erroneous, the product of impatience and the failure to think things out. Instead of that, we set as our main task propaganda, not agitation.

“We said: Our first task is to make the principles of the Left Opposition known to the vanguard. Let us not delude ourselves with the idea we can go to the great unschooled mass now….

“At that time there appeared on the horizon a figure who is also perhaps strange to many of you, but who in those days made an awful lot of noise [Albert Weisbord]….His revelation was: The Trotskyists must not be a propaganda circle, but go directly into ‘mass work.’ That conception had to lead him logically to the proposal of forming a new party, but he couldn’t do that very conveniently because he didn’t have any members. He had to apply the tactic of going first to the vanguard on us….The heart and core of the fight with Weisbord was this question of the nature of our activities. He was impatient to jump into mass work over the head of the Communist Party. We rejected his program and he denounced us in one thick mimeographed bulletin after another.”

“There were impatient people in our ranks who thought that Weisbord’s prescription might be worth trying, a way to get rich quick. It is very easy for isolated people, gathered together in a small room, to talk themselves into the most radical proposals unless they retain a sense of proportion, of sanity and realism. Some of our comrades, disappointed at our slow growth, were lured by this idea that we needed only a program of mass work in order to go get the masses.”

“We, with our criticisms and theoretical explanations, appeared in the eyes of all as a group of impossibilists, hairsplitters, naggers. We were going around trying to make people understand that the theory of socialism in one country is fatal for a revolutionary movement in the end; that we must clear up this question at all costs. Enamored with the first successes of the First Five Year Plan, they used to look at us and say, ‘These people are crazy, they don’t live in the real world.’ At a time when tens of thousands of new elements were beginning to look toward the Soviet Union, going forward to a new Five Year Plan, while capitalism appeared to be going up the spout; here were these Trotskyists, with their documents under their arms, demanding that you read books, study, discuss, and so on. Nobody wanted to listen to us.”

“We decided that the most revolutionary thing we could do was not to go out to proclaim the revolution in Union Square, not to try to put ourselves at the head of tens of thousands of workers who did not know us, not to jump over our own heads.”

“Our task, our revolutionary duty, was to print the word, to carry on propaganda in the narrowest and most concentrated sense, that is, the publication and distribution of theoretical literature.”

From the introduction to Documents of the Buffalo Marxist Collective (Young Communist Bulletin No. 1)

“Given the lack of a mass working class party in the United States, the primary task of the SL/RCY is to accumulate a cadre and reach the advanced workers and students attracted to revolutionary politics. This is a point profoundly misunderstood by New Leftists, PLers, Maoists and ‘radicals’ of all stripes full of utopian schemes to conquer the masses ‘now.’”

“While the ex-New Leftists with their new-found ‘Leninism’ delude themselves into thinking that a group of a few hundred or even a few thousand, with a minimum program but lots of good intentions, can organize the ‘working-class as a whole,’ the SL/RCY is accumulating a cadre that will enable it to intervene in a principled and effective way in the working-class movement. These New Leftists, ignoring the preparatory and propagandistic tasks necessary to the construction of a mass revolutionary party, incorrectly view the SL/RCY’s emphasis on public polemics and regroupment as some sort of insane sectarianism.

“The SL/RCY has always argued that all get-rich-quick schemes that ignore the need to develop a conscious coherent cadre can only lead to the worst opportunist politics. Opportunism flows from a misconception of the relationship of the party to the class. A small grouping, expecting to ‘lead the masses’ without the necessary preparatory work, inevitably finds itself tailing after the present level of working class consciousness, adding a few ‘socialist’ flourishes.

“While a regroupment today cannot lead immediately to the type of mass parties that affiliated to the Communist International (because of the relatively small size of the left and it’s lack of a real working-class base), the SL/RCY seeks to attract all militants who will aid in the preparation to such a mass party. In doing this, we have actively intervened in the ostensibly revolutionary movements as a hard pole of communist attraction. The cadre we are attempting to recruit are not only the ‘untouched pure’ radicals that PL enthuses over, but equally important, those that have organizational and theoretical experience in the left-wing organizations.”

The second response by our comrade

Date: Fri, 24 Jan 2003

In my previous post I tried to explain what the IBT views as the main responsibility for a small propaganda organization. What is essential is to produce first-rate Marxist material, which is well written, but most importantly, programmatically correct. “Better fewer but better,” to borrow a phrase from Lenin. Of course it is also good to address as many issues as possible.

Unfortunately we were not able to produce a leaflet on the recent transit contract, but at the union rallies we concentrated on distributing our statement on the impending war on Iraq which I previously posted to this list, and selling the then current issue of our journal 1917 along with a back issue with the lengthy front page article titled “American Labor Besieged,” which discusses the historical development of the American labor movement and it’s current political state due to the betrayals of the union bureaucrats. We also sold our edition of Trotsky’s Transitional Program which includes a lengthy introduction on its relevance for today and a collection of documents on the history of Communist and Trotskyist work in the unions. We believe that the more politically conscious transit workers who may be directly recruitable to a revolutionary organization will be interested in broader political questions in addition to their current contract dispute.

Even with a statement on the current situation in transit, without supporters in the union it would have been virtually impossible for us or the IG to fight for leadership of the workforce. We want to avoid the kind of Potemkin Village fake-mass posturing the SL engaged in with their claims that their tiny group was anywhere close to playing the role of a revolutionary leadership for the workers of the DDR in 1989-90.

The first bound volume of Spartacist, which throughout the 1960s, along with some leaflets, was the publication of the then-revolutionary Spartacist League, laid the basis for the regroupment of a significant layer of New Leftists in the early 1970’s that qualitatively transformed it as an organization and vastly expanded its propaganda capacities. It also provided the human material necessary to begin to construct active communist caucuses in the unions, as Comrade Abram will confirm. This history is outlined in our edition of the Transitional Program. As the SL degenerated, its leadership made a conscious decision to dismantle all their union caucuses, something the IBT’s founders waged a struggle against.

The revolutionary SL of the 1960s lacked the capacity to make serious mass interventions and its paper came out at best twice a year and sometimes was only eight pages in size. This meant that it missed some very important issues. For example, the SL was unable to publish an article on the 1968 Soviet intervention in Czechoslavakia, nor did it publish any significant analysis of the Black Panthers until 1972 when they were in an advanced state of political decline. There were also many union struggles that the SL was unable to cover in this period. This was not due to political indifference, but rather limited capacity.

In contrast to the SL’s irregular but programmatically superior press, Tim Wohlforth’s Workers League produced a regular paper with mass pretensions which covered a much wider range of issues. The Wohlforthites derided the SL and claimed that it was uninterested in the struggles of the masses. The Buffalo Marxist Caucus (BMC), one of the left-Maoist collectives the SL successfully regrouped in the early 1970s, explained why they were won to the SL instead of the WL:

“While at first we were hostile to the SL based on WL statements about SL ‘abstentionism’ in the class struggle, we found that we could not defend political points that we advanced from the WL perspective. This was brought out to a focus around the WL’s ‘mass press.’ The Bulletin, the RCY argued, did not reflect the limited reality of the WL’s work in the trade unions which was confined primarily to one white collar union. Most of the articles are written from the outside, many of them rewrites from the bourgeois press, while the centerfold features destined for the Bulletinpamphlet series are reserved for the methodological profundities. To this conception of a ‘Bolshevik’ press the SL counterposed its own: They demonstrated the way in which Workers Vanguard was an organizing tool, directly related to the tactic of posing themselves as a pole of communist attraction in the trade unions on the basis of a full program. Workers Vanguard did not pretend to be the mass organ of a mass party. Things must be called by their right names. Rather, Workers Vanguard was mainly directed toward advanced workers with whom the SL had contact through implantation in the trade unions, and towards ostensibly revolutionary organizations, students and intellectuals. Polemics were directed against other left tendencies the SL intersected in it’s actual trade union work, work on campus and in political events on the left, and was thus connected with the SL’s Leninist perspective of splits and fusions. The SL compared the Bulletin to PL’s Challenge, pointing out that real mass work was the penetration of the working class through it’s most advanced layers, not tailing the class at it’s present level of consciousness.”

The BMC quoted from Trotsky’s article, “What is a Mass Paper?”:

“What is a ‘mass paper’? The question is not new. It can be said that the whole history of the revolutionary movement has been filled with discussions on the ‘mass paper.’ It is the elementary duty of a revolutionary organization to make its political newspaper as accessible as possible to the masses. This task cannot be solved except as a function of the growth of the organization and its cadres who must pave the way to the masses for the newspaper—since it is not enough, it is understood, to call a publication a ‘mass paper’ to have the masses accept it in reality”

The WL’s political descendent, the Socialist Equality Party, has an even more frequent press, with its web site being updated on a daily basis with lots of articles. Yet their politics remain revisionist, and they consciously attempt to whitewash their history while posturing as a far more significant social force then they really are.

While Wohlforth is rightly remembered as a despicable a toady of Gerry Healy, he once played a positive political role, and, as James Robertson on occasion stated, it was a shame he had no backbone as his literary talents would have been very useful to the Trotskyist movement.

I think that the comrades of the IG could also make a valuable contribution to building a genuine Trotskyist organization if they were able to critically examine their own political histories and evaluate the SL’s prolonged degeneration that preceded their own purge. This is a history that must be carefully studied and from which the essential political lessons must be learned, just as they have been learned from the Pabloist degeneration of the leadership of the Fourth International, and subsequently of the descent of Cannon’s SWP into revisionism. We attempted to engage the IG in a discussion of our common history in a lengthy letter addressing the degeneration of the SL several years ago (reprinted in Trotskyist Bulletin No. 6).

To use this list to post a serious assessment of an important historical question such as the Korean War (which clearly is directly relevant to today’s headlines) does not, I would argue, qualify one for membership in a “literary society.” Because if we are unable to learn from the past we will be condemned to repeat it.

Bolshevik Greetings

 

A Lei do Desenvolvimento Desigual e Combinado

A Lei do Desenvolvimento Desigual e Combinado da Sociedade

George Novack
[Esta obra, produzida em 1957 por George Novack quando era dirigente do então trotskista Socialist Workers Party (SWP – Partido dos Trabalhadores Socialistas) norte-americano, ofereceu a gerações de marxistas uma análise mais profunda sobre a importância da Lei do Desenvolvimento Desigual e Combinado ao longo da história das sociedades humanas. Publicamos aqui, não como uma forma de adesão acrítica a todos os argumentos de sua formulação (alguns dos quais bastante controversos), mas sim como reconhecimento de sua importante explicação deste aspecto da teoria marxista. Esta versão foi copiada daquela disponível no Marxists Internet Archive:
http://www.marxists.org/portugues/novack/1968/lei/cap01.htm#ti1].

O Curso Desigual da História
Este ensaio pretende dar uma explicação compreensível e coerente de uma das leis fundamentais da história humana, a lei do desenvolvimento desigual e combinado. É a primeira vez, em minha opinião, que se tenta fazer isto. Procurarei demonstrar o que é esta lei, como funcionou nas principais etapas da história e também como pode clarificar alguns dos mais importantes fenômenos sociais e problemas políticos de nossa época.
A Dupla Natureza da Lei
A lei do desenvolvimento desigual e combinado é uma lei científica da mais ampla aplicação no processo histórico. Tem um caráter dual ou, melhor dizendo, é uma fusão de duas leis intimamente relacionadas. O seu primeiro aspecto se refere às distintas proporções no crescimento da vida social. O segundo, à correlação concreta destes fatores desigualmente desenvolvidos no processo histórico.
Os aspectos fundamentais da lei podem ser brevemente exemplificados da seguinte maneira: O fato mais importante do progresso humano é o domínio do homem sobre as forças de produção. Todo avanço histórico se produz por um crescimento mais rápido ou mais lento das forças produtivas neste ou naquele segmento da sociedade, devido às diferenças nas condições naturais e nas conexões históricas. Essas disparidades dão um caráter de expansão ou compressão a toda uma época histórica e conferem distintas proporções de desenvolvimento aos diferentes povos, aos diferentes ramos da economia, às diferentes classes, instituições sociais e setores da cultura. Esta é a essência da lei do desenvolvimento desigual. Essas variações entre os múltiplos fatores da história dão a base para o surgimento de um fenômeno excepcional, no qual as características de uma etapa inferior de desenvolvimento social se misturam com as de outra, superior.
Essas formações combinadas; têm um caráter altamente contraditório e exibem acentuadas peculiaridades. Elas podem desviar-se muito das regras e efetuar tal oscilação de modo a produzir um salto qualitativo na evolução social e capacitar povos que eram atrasados a superar, durante certo tempo, os mais avançados. Esta é a essência da lei do desenvolvimento combinado. É óbvio que estas duas leis, estes dois aspectos de uma só lei, não atuam ao mesmo nível. A desigualdade do desenvolvimento precede qualquer combinação de fatores desproporcionalmente desenvolvidos. A segunda lei cresce sobre a primeira e depende desta. E, por sua vez, esta atua, sobre aquela, afetando-a no seu posterior funcionamento.
O Enquadramento Histórico
A descoberta e formulação desta lei é o resultado de mais de dois mil e quinhentos anos de investigações teóricas sobre as formas de desenvolvimento social. As primeiras observações sobre ela foram feitas pelos filósofos e historiadores gregos. Mas a lei como tal foi levada a primeiro plano e efetivamente aplicada, pela primeira vez, pelos fundadores do materialismo histórico, Marx e Engels, há aproximadamente um século. Esta lei é uma das maiores contribuições do marxismo à compreensão científica da história e um dos mais poderosos instrumentos de análise histórica.
Marx e Engels, por sua vez, derivaram a essência desta lei da filosofia dialética de Hegel. Hegel utilizou a lei em suas obras sobre a história universal e a história da filosofia, porém sem lhe dar um nome especial nem reconhecimento explícito.
Da mesma maneira, muitos pensadores dialéticos, antes e depois de Hegel, utilizaram esta lei em seus estudos e aplicaram-na mais ou menos conscientemente, para a solução de complexos problemas histórico-sociais e políticos. Os mais destacados teóricos do marxismo, desde Kautsky e Luxemburgo até Plekhanov e Lênin, reconheceram a sua importância, observaram seu funcionamento e consequências e usaram-na para a solução de problemas que confundiam a outras escolas de pensamento.
Um Exemplo de Lênin
Citemos um exemplo de Lênin, que baseou nesta lei sua análise da primeira etapa da revolução russa de 1917. Em suas “Cartas de Longe” escrevia, da Suíça, aos seus colaboradores bolcheviques:
“O fato de que a revolução (de fevereiro) tenha ocorrido tão rapidamente… deve-se a uma conjuntura histórica incomum, na qual se combinavam, de maneira ‘altamente favorável’, movimentos absolutamente distintos, interesses de classe absolutamente diferentes e tendências políticas e sociais absolutamente opostas”. (Collected Works, Book I, pág. 31).
O que havia ocorrido? Um setor da nobreza e dos proprietários rurais russos, a oposição burguesa, os intelectuais radicais, os operários e soldados insurretos, junto com os aliados do imperialismo – forças sociais absolutamente antagônicas – haviam se unido momentaneamente contra a autocracia czarista. Cada qual pelas suas próprias razões. Todas juntas sitiaram, isolaram e derrubaram o regime dos Romanov. Essa extraordinária e irrepetível conjuntura de circunstâncias e combinações de forças surgiu da totalidade de desigualdades prévias do desenvolvimento histórico russo por seus largamente adiados e não resolvidos problemas sociais e políticos exacerbados pela primeira guerra imperialista mundial.
As diferenças, que haviam desaparecido superficialmente na ofensiva contra o czarismo, se manifestaram imediatamente e não passou muito tempo até que esta aliança de fato, de forças opostas por natureza, se desintegrasse e rompesse. Os aliados da revolução de fevereiro de 1917 se transformaram nos inimigos irreconciliáveis de outubro de 1917.
Como se chegou a isto? A queda do czarismo, na época, produziu uma desigualdade nova e superior, na situação, que pode ser sentida na seguinte fórmula: por um lado, as condições objetivas estavam maduras para a tomada do poder pelos operários; por outro, a classe operária russa – e, sobretudo, sua direção – não haviam apreciado corretamente a situação real nem experimentado, a nova relação de forças. Ou seja, subjetivamente, não estavam amadurecidas para realizar a tarefa suprema. Pode-se dizer que o desenvolvimento da luta de classes, de fevereiro a outubro de 1917, consistiu no reconhecimento crescente, por parte da classe operária e seus líderes revolucionários, do que era preciso fazer, bem como das condições objetivas e da preparação subjetiva. A brecha aberta entre eles foi preenchida na ação pelo triunfo dos bolcheviques na Revolução de Outubro, que combinou a conquista operária do poder com o mais amplo levante camponês.
O Formulador da Lei
Este processo está totalmente explicado por Trotsky em sua “História da Revolução Russa”. A própria revolução russa foi o exemplo mais claro do desenvolvimento desigual e combinado na história moderna. Em sua análise clássica deste acontecimento, Trotsky deu ao movimento marxista a primeira formulação explícita da lei.
Trotsky, como teórico, é, célebre sobretudo pela formulação da teoria da Revolução Permanente. Contudo, sua exposição da lei do desenvolvimento desigual e combinado poderia ser comparada àquela em importância. Trotsky não só deu nome a essa lei, como também foi o primeiro que a expôs em seu pleno significado e lhe deu expressão acabada.
Estas duas contribuições à compreensão científica dos movimentos sociais estão, de fato, intimamente ligadas. A concepção de Trotsky da Revolução Permanente resultou de seu estudo das peculiaridades do desenvolvimento histórico russo, à luz dos novos problemas que se apresentaram ao socialismo mundial na época do imperialismo. Esses problemas eram particularmente agudos e complexos em países atrasados, onde a revolução democrático-burguesa não tinha ocorrido, e exigiam a solução de suas tarefas mais elementares em um momento em que estava colocada a revolução proletária. Os frutos de suas ideias sobre esta questão, confirmados pelo desenvolvimento real da Revolução Russa, prepararam e estimularam sua subsequente elaboração da lei do desenvolvimento desigual e combinado.
Certamente, a teoria de Trotsky da Revolução Permanente é a aplicação mais frutífera desta verdadeira lei aos problemas cruciais da luta de classes internacional de nosso tempo – época de transição da dominação capitalista ao mundo socialista – e oferece o mais alto exemplo de seu penetrante poder. Contudo, a lei é aplicável não apenas aos acontecimentos revolucionários da época presente como também, como veremos, a toda evolução social. Possui também aplicações mais amplas.
Desenvolvimento Desigual na Natureza
Deixando de lado o enquadramento histórico do qual surgiu a lei do desenvolvimento desigual e combinado, passemos agora à análise do alcance de sua aplicação.
Embora tenha se originado do estudo da história moderna, a lei do desenvolvimento desigual e combinado tem raízes em acontecimentos comuns a todos os processos de crescimento, tanto na natureza como na sociedade. Os investigadores científicos enfatizaram o prevalecimento das desigualdades dominantes em muitos campos. Todos os elementos constituintes de um objeto, todos os aspectos de um acontecimento, todos os fatores de um processo em desenvolvimento não se realizam na mesma proporção ou em igual grau. Mais ainda, sob diferentes condições materiais, as mesmas coisas exibem diferentes proporções e graus de crescimento. Qualquer camponês ou trabalhador urbano sabe disso.
Em “Life of the Past”, G. G. Simpson, uma das mais notáveis autoridades em matéria de evolução, desenvolve este mesmo ponto, dizendo:
“O mais importante a respeito das proporções da evolução é que variam enormemente e que as mais rápidas delas parecem ao mesmo tempo as mais lentas para os seres humanos (incluindo os paleontólogos, poderia dizer-se). Se seguirmos uma linha de filogenia em seu registro fóssil, é quase certo que verificaremos que distintos caracteres e partes evoluem em proporções bastante diferentes e, em geral, que nenhuma parte evolui por longo tempo na mesma proporção. O cérebro do cavalo evolui rapidamente enquanto o resto do corpo muda muito pouco. A evolução do cérebro é muito mais rápida, durante um espaço de tempo relativamente curto, do que em qualquer outro momento. A evolução do pé fica praticamente estacionada durante toda a evolução do cavalo, mas em três oportunidades sofre mudanças relativamente rápidas em seu mecanismo”.
“As proporções da evolução também variam muito de uma família a outra, e igualmente entre famílias ligadas. Há uma série de animais atualmente existentes que mudaram muito pouco em longos períodos de tempo: um pequeno branquiópode chamado Lingula, por cerca de 400 milhões de anos; o Limidus, o ‘caranguejo ferradura’ – mais um escorpião que um caranguejo -, em 175 milhões de anos ou mais; o Esphenodon, um réptil parecido a uma lagartixa, agora confinado à Nova Zelândia, por cerca de 15 milhões de anos; o Didelphis, um gambá americano, por cerca de 75 milhões de anos. Estes e outros animais, para os quais a evolução se deteve há muito tempo, tiveram que evoluir todos numa proporção comum relativamente rápida.”
“Há, por outro lado, diferentes características de proporções nos distintos grupos. A maior parte dos animais terrestres evoluiu mais rápido que a maioria dos aquáticos – esta generalização não contradiz o fato de que alguns animais aquáticos tenham evoluído mais rápido que alguns terrestres.” (pág. 137-138.)
A evolução de uma ordem inteira de organismos passou, durante um ciclo completo, por uma fase inicial de crescimento lento, restrito, seguido por um período mais curto mas intenso de “expansão explosiva”, voltando a cair em uma prolongada fase de mudanças menores.
Em “O Significado da Evolução” (pág. 72-73), G. G. Simpson assinala:
“O tempo de expansão rápida, alta variabilidade e começo de radiação adaptativa… são períodos que aumentam as oportunidades que se apresentam aos grupos capazes de continuá-la. Tal oportunidade para uma expansão explosiva se abriu aos répteis quando evoluíram, ao ponto de ficarem independentes da água como meio de vida e passarem a viver na terra, na árida vida dos vertebrados. Quando um ‘período mais tranquilo, posterior à radicação, se completou’, o grupo pode entrar indulgentemente no gozo progressivo da conquista obtida”.
A evolução de nossa própria espécie logrou, através da primeira fase de tal ciclo, entrar na segunda. Os antecessores animais imediatos do gênero humano passaram por um prolongado período de crescimento restrito, como o demonstra o seu pequeno cérebro, comparado a outros. O gênero humano atingiu a sua fase de “expansão explosiva” só no último milhão de anos, aproximadamente, após o primata do qual descendemos ter adquirido os necessários poderes sociais. Contudo, o posterior desenvolvimento do gênero humano não duplicou o seu cicio de evolução animal, porque o crescimento da sociedade provém de uma base qualitativamente diferente e é governado por suas leis específicas.
A evolução dos distintos organismos humanos é marcada por uma considerável irregularidade. O crânio desenvolveu suas atuais características entre nossos antecessores símios, muito antes das nossas mãos articuladas com o polegar oposto. Somente depois de nossos antecessores terem adquirido a postura ereta e as mãos para trabalhar, é que o cérebro dentro do crânio desenvolveu as suas atuais proporções e complexidades.
O que é válido para ordens inteiras e para espécies de animais e plantas também o é para espécimes individuais. Se a igualdade prevalecesse no crescimento biológico, cada órgão do corpo poderia desenvolver-se simultaneamente e no mesmo grau de proporções, mas tão perfeita simetria não existe na vida real. No crescimento do feto humano, alguns órgãos aparecem e amadurecem antes dos outros. A cabeça e o pescoço formam-se antes dos braços e pernas, o coração na terceira semana e os pulmões mais tarde. A culminação de todas estas irregularidades se manifesta nos recém-nascidos, que são gerados em diferentes condições, com deformações e em distintos intervalos entre a concepção e o nascimento. O período de nove meses de gestação não passa de uma média estatística. A data do nascimento pode variar dias, semanas ou meses dessa média. O sinus frontal, um desenvolvimento tardio que só possuem os primatas e os homens, não se dá nos jovens humanos e sim depois da puberdade e, em muitos casos, nunca chega a ocorrer.
A Evolução Desigual das Sociedades Primitivas
O desenvolvimento da organização social e das estruturas sociais particulares exibe desigualdades não menos pronunciadas que a história biológica dos antecessores: da raça humana. Os diversos elementos da existência social apareceram em tempos diferentes, evoluíram em proporções enormemente distintas e se desenvolveram, sob distintas condições, em graus diferentes. Os arqueólogos dividem a história humana em idade da Pedra, do Bronze e do Ferro, em função dos principais materiais usados na fabricação de ferramentas e armas. Essas três etapas de desenvolvimento tecnológico tiveram imensas diferenças temporais de duração. A Idade da Pedra durou cerca de novecentos mil anos; a Idade do Bronze, de três a quatro mil anos A.C.; a Idade do Ferro tem menos de quatro mil anos. Contudo, os diversos grupos do gênero humano atravessaram essas etapas em diversas épocas, em várias partes do mundo. A Idade da Pedra acabou por volta de 3.500 A.C. na Mesopotâmia; cerca de 1.600 A.C. na Dinamarca; em 1492 na América e ainda não se encerrara em 1.800 na Nova Zelândia.
Uma desigualdade parecida pode ser assinalada na organização social. A etapa de selvageria, baseada na coleta de ervas alimentares, caça e pesca, estende-se por muitas centenas de milhares de anos, ao passo que a barbárie, baseada na criação de animais e no cultivo de cereais, data de oito mil anos A.C.. A civilização tem menos de seis mil anos de existência.
A produção regular, ampla e crescente de alimentos produziu um avanço revolucionário no desenvolvimento econômico, e elevou a produção alimentícia das aldeias muito acima daquela das tribos atrasadas, que continuavam subsistindo com base na coleta de alimentos. A Ásia foi o lugar de nascimento da domesticação de animais e da horticultura. É incerto qual desses ramos da produção se desenvolveu antes, mas os arqueólogos descobriram remanescentes de comunidades camponesas mistas, com os dois tipos de produção de alimentos, que remontam a oito mil anos A.C.
Existem tribos puramente pastoris que dependem exclusivamente do rebanho de animais para a sua existência, como também povos completamente agrícolas, cuja economia está baseada no cultivo de cereais ou tubérculos.
A cultura desses grupos especializados tem um desenvolvimento unilateral, em consequência de seu tipo particular de produção dos meios básicos de vida. O modo de subsistência puramente pastoril não tem, porém, as potencialidades inerentes ao desenvolvimento agrícola. As tribos pastoris não podem incorporar na sua economia os tipos mais elevados de produção de alimentos, em qualquer escala, sem abandonar e mudar inteiramente seu modo de vida. Isto acontece especialmente depois da introdução, do arado, que supera as técnicas de queimada e de semeadura da horticultura. Não podiam desenvolver uma divisão extensa do trabalho nem avançar da aldeia à cidade enquanto continuassem como simples guardadores do seu rebanho de gado.
A superioridade inerente da agricultura sobre a criação de gado é demonstrada pelo fato de que as populações densas e as mais avançadas civilizações, como a asteca, a inca ou a maia o provaram, se desenvolveram com base na agricultura.
Os agricultores puderam incorporar facilmente a domesticação de animais; ao seu modo de produção, mesclando ou combinando o cultivo do alimento com o pastoreio de animais, assim como transferindo animais de tração à tecnologia da agricultura, com a invenção do arado.
Foi a combinação da criação de gado com o cultivo de cereais em áreas mistas que ajudou os povos agrícolas, dentro da sociedade bárbara, a superar as tribos meramente pastoris, e a se transformarem, nas condições favoráveis dos vales dos rios da Mesopotâmia, Egito, Índia e China, nos berços da civilização.
Desde o advento dos povos civilizados, existiram três; diferentes níveis essenciais de progresso, que correspondem a seus modos de assegurar as necessidades vitais: a coleta de alimentos, a produção elementar de alimentos e a produção mista, com um alto desenvolvimento da divisão do trabalho e uma crescente troca de mercadorias.
Os gregos da época clássica eram altamente conscientes desta disparidade de desenvolvimento entre eles próprios e os povos que ainda se mantinham numa, etapa mais atrasada de desenvolvimento social. Assinalaram esta diferença fazendo uma distinção marcante entre os gregos civilizados e os bárbaros. A conexão e distância histórica entre eles foi explicitamente assinalada pelo historiador Tucídides, ao afirmar:
“Os gregos viviam anteriormente como os bárbaros vivem hoje”.
O Novo e o Velho Mundo
A desigualdade do desenvolvimento histórico mundial raras vezes foi tão notável como quando os nativos da América se enfrentaram pela primeira vez com os invasores brancos que vinham da Europa. Encontraram-se ali duas rotas de evolução social completamente separadas, produtos de dez a vinte mil anos de desenvolvimento independente nos dois hemisférios. Ambas se viram obrigadas a comparar suas proporções de crescimento e a medir seus respectivos resultados globais. Esta foi uma das mais marcantes confrontações de diferentes culturas em toda a História.
Naquele momento a Idade da Pedra chocou-se com o final da Idade do Ferro e o começo da mecanização. Na caça e na guerra, o arco e a flecha tiveram que competir com o mosquete e o canhão; na agricultura, a enxada e o bastão, com o arado e os animais de tração; no transporte aquático, a canoa com o navio; na locomoção terrestre, as pernas humanas com o cavalo e os pés descalços com a roda. Na organização social, o coletivismo tribal contra as instituições e costumes feudal-burgueses; a produção para o consumo imediato da comunidade contra uma economia monetária e o comércio internacional.
Poderíamos multiplicar estes contrastes entre os índios americanos e os europeus ocidentais. Contudo, a desigualdade dos produtos humanos de enormes etapas separadas de desenvolvimento econômico foi, aparentemente, demasiado violenta. Surgiram grandes antagonismos; trataram de manter-se separados uns dos outros e, assim como no princípio os chefes astecas identificaram os recém-chegados brancos com deuses, os europeus, reciprocamente, olhavam e tratavam os nativos como animais.
Como sabemos, a desigualdade de produtividade e poder destrutivo na América do Norte não foi superada pela adoção, pelos índios, dos métodos dos brancos e sua assimilação gradual e pacífica à sociedade de classes. Pelo contrário, nos quatro séculos seguintes chegou-se à expropriação e aniquilação das tribos indígenas.
O Atraso da Vida Colonial
Se os colonizadores brancos desenvolveram sua superioridade material sobre os povos nativos, eles pr6prios estavam atrasados em relação à pátria de origem.
O atraso geral do continente norte-americano e suas colônias, em comparação ao ocidente europeu, predeterminou as principais linhas de seu desenvolvimento desde o começo do século X-VI até meados do século XIX. Neste período, a tarefa central dos americanos foi alcançar a Europa e superar a disparidade no desenvolvimento social dos dois continentes. Como e por quem foi feito isto é o principal tema da história norte-americana ao longo destes três séculos e meio.
Isto exigiu, entre outras coisas, duas revoluções para completar a tarefa. A revolução colonial, que coroou a primeira etapa de progresso, deu ao povo americano instituições políticas mais avançadas que as de qualquer outro lugar do velho mundo e aplainou o caminho para a rápida expansão econômica. De toda maneira, depois de haver conquistado a independência nacional, os EUA tiveram ainda que conquistar a independência econômica dentro do mundo capitalista. A diferença econômica entre esse pais e as nações do ocidente da Europa limitou-se à primeira metade do século XIX e encerrou-se virtualmente com o triunfo do capitalismo industrial do Norte sobre os poderes escravistas, na guerra civil. Não foi necessário muito tempo para que os Estados Unidos superassem a Europa Ocidental.
As Desigualdades dos Continentes e Países
Estas mudanças na posição dos Estados Unidos ilustram a desigualdade de desenvolvimento entre os centros metropolitanos e as colônias, entre os diferentes continentes e entre os países de um mesmo continente.
Uma comparação entre os diversos modos de produção nos diversos países demonstraria mais abruptamente suas desigualdades. O escravismo havia virtualmente terminado como modo de produção, nos países da Europa, antes de ser introduzido na América, em virtude das necessidades dos próprios europeus. A servidão havia desaparecido na Inglaterra antes de surgir na Rússia e houve tentativas de implantá-la nas colônias norte-americanas depois de ter sido varrida na metrópole. Na Bolívia, o feudalismo floresceu sob os conquistadores espanhóis e fez deteriorar o escravismo, ao passo que, nos Estados Unidos, este surgiu freando o feudalismo.
O capitalismo estava altamente desenvolvido no ocidente da Europa, enquanto que no Leste era implantado só superficialmente. Uma disparidade similar no desenvolvimento capitalista prevaleceu entre os Estados Unidos e México.
A desigualdade é a “lei mais geral do processo histórico” (História da Revolução Russa, pág. 5). Estas desigualdades são a expressão específica da natureza contraditória do progresso social e da dialética do desenvolvimento humano.
Desigualdades Internas
A desigualdade do desenvolvimento entre os continentes e países é acompanhada por semelhante crescimento desigual dos distintos elementos dentro de cada grupo social ou organismo nacional.
Em uma obra sobre a classe operária norte-americana, escrita por Karl Kautsky no começo do século, o marxista alemão assinalava alguns dos contrastes marcantes no desenvolvimento social da Rússia e dos Estados Unidos nessa época.
“Dois estados existem” -escreveu – “diametralmente opostos um ao outro. Cada um deles contém um elemento extremamente desenvolvido em comparação com o seu nível capitalista. Na Rússia é o proletariado. Em nenhum outro país como na América do Norte se pode falar com tanta propriedade da ditadura do capital, ao passo que em nenhum o proletariado adquiriu tanta importância como na Rússia”.
Esta diferença no desenvolvimento, que Kautsky descreve nos seus primórdios, se acentuou enormemente em suas etapas ulteriores. Trotsky fez uma análise extraordinária do significado de tais desigualdades para explicar o curso de uma história nacional, no primeiro capítulo de sua “História da Revolução Russa”, sobre “as peculiaridades do desenvolvimento russo”. A Rússia czarista continha forças sociais que pertenciam a três diferentes etapas do desenvolvimento histórico. No alto estavam os elementos feudais: uma monstruosa autocracia asiática, um clero estatal, uma burocracia servil, uma nobreza territorial privilegiada. Mais abaixo, havia uma fraca e impopular burguesia e uma intelectualidade covarde. Estes fenômenos opostos estavam organicamente inter-relacionados. Constituíam distintos aspectos de um processo social unificado. As condições históricas que fortificaram e preservaram o predomínio das forças feudais – a lentidão do desenvolvimento russo, a sua economia atrasada, o primitivismo de suas formas sociais e seu baixo nível de cultura – haviam freado o crescimento das forças sociais e acentuado sua debilidade social e política.
Este foi um aspecto da situação. Por outro lado, o extremo atraso da história russa havia deixado sem resolver os problemas agrários e nacionais, provocando descontentamento, fome de terra no campesinato e anseio de liberdade nas nacionalidades oprimidas. Enquanto isso, aparecia a indústria capitalista, dando origem a empresas altamente concentradas, sob a dominação do capital financeiro estrangeiro, e a um proletariado não menos concentrado, armado com as últimas ideias, organizações e métodos de luta.
Esta violenta desigualdade na estrutura social da Rússia czarista forneceu a base para os acontecimentos revolucionários que explodiram, quando da queda da decadente estrutura medieval em 1917, e culminaram em poucos meses levando ao poder o proletariado e o partido bolchevique. Somente analisando e compreendendo isto, é possível captar porque a revolução russa se deu desta maneira.
Irregularidades na Sociedade
As pronunciadas irregularidades que se produziram na história induziram alguns pensadores a negar que haja, ou possa haver, alguma causalidade ou lei no desenvolvimento social. A escola mais conhecida de antropólogos norte-americanos, encabeçada pelo falecido Franz Boas, nega explicitamente que possa haver alguma sequência determinada de etapas que possam ser descobertas na evolução social, ou que as expressões culturais estejam ligadas à tecnologia ou à economia. Segundo R. H. Lowitt, o expositor mais conhecido deste ponto de vista, os fenômenos culturais apresentam meramente o caráter de “um caos sem plano”, uma “selva caótica”. A “selva caótica” está na cabeça desse anti-materialista e anti-evolucionista, e não na história ou na constituição da sociedade.
É possível que os povos que vivem, no século XX, sob as condições da Idade da Pedra, possuam um rádio – resultado do desenvolvimento combinado. Mas é categoricamente impossível encontrar tal produto da eletrônica contemporânea enterrado com os resquícios humanos da Idade da Pedra depositados há muitíssimos anos.
Não é preciso ser muito esperto para perceber que um coletor de alimentos, de ervas, um caçador, um pescador ou um caçador de aves, existiram muito antes que a produção de alimentos em forma de horticultura ou criação de gado. Ou que as ferramentas de pedra precederam as de metal; que a palavra precedeu a escrita; que as cavernas existiram antes das aldeias; que a troca de bens precedeu a moeda. Numa escala histórica geral, estas sequências são absolutamente invioláveis.
As principais características da estrutura social simples dos selvagens são determinadas por seus primitivos métodos de produzir os meios de vida, que dependem, por sua vez, do baixo nível de suas forças produtivas.
Estima-se que os povos coletores de alimentos requerem, em média, 40 milhas quadradas per capita para se manterem. Não podem produzir nem manter grandes concentrações de população sobre tais fundamentos econômicos. Geralmente agrupam menos de quarenta pessoas e raras vezes excedem a cem. A iniludível estreiteza de sua produção de alimentos e a dispersão de sua força limitam estritamente seu desenvolvimento.
Da Barbárie à Civilização
Que se pode dizer a respeito da etapa seguinte de desenvolvimento social, a barbárie? 0 notável arqueólogo V. Gordon Childe publicou recentemente, num livro chamado “Evolução Social”, um resumo, dos “sucessivos passos através dos quais as culturas bárbaras entram na via da civilização, em contraste com seu ambiente natural”. Childe reconhece que o ponto de partida na esfera econômica foi idêntico em todos os casos, “na medida em que as primeiras culturas bárbaras examinadas estavam baseadas no cultivo dos mesmos cereais, e no pastoreio das mesmas espécies de animais”. Ou seja, a barbárie separa-se das formas selvagens de vida pela aquisição e aplicação de técnicas produtivas mais elevadas para a agricultura e a criação de gado.
A chegada ao resultado final – a civilização – exibe diferenças concretas em cada caso, “contudo, em toda parte, significa a agregação de grandes populações nas cidades, assim como a diferença entre a produção primária (pescadores, agricultores etc.) e a de artesãos especializados em tempo integral, mercadores, burocratas, clero e governantes; uma efetiva concentração do poder político e econômico; o uso de símbolos convencionais para lembrar e transmitir informações (escrita) e também padrões convencionais de pesos e medidas e de medidas de tempo e espaço que levam a um tipo de ciência matemática e calendário”.
Ao mesmo tempo, Childe assinala que “os passos que integram este desenvolvimento não apresentam, igualmente, um paralelismo abstrato”. A economia rural do Egito, por exemplo, tem um desenvolvimento diferente do da Europa de clima temperado. Na agricultura do velho mundo, a enxada foi substituída pelo arado, ferramenta que não era conhecida pelos maias.
A conclusão geral que Childe tira destes fatos é que “o desenvolvimento da economia rural bárbara das regiões estudadas não apresenta paralelismo e sim convergências e divergências” (pág. 162). Mas isto não é suficiente.
Considerados em sua totalidade e em sua inter-relação histórica, a maioria dos povos que entram na barbárie surge das mesmas atividades econômicas essenciais, o cultivo de cereais e criação de gado. Tiveram um desenvolvimento diversificado de acordo aos diferentes habitats naturais e circunstâncias históricas e comprovam, ao percorrer o caminho rumo à civilização, que não foram detidos na rota ou obliterados, e atingiram por fim o mesmo destino: a civilização.
A Marca da Civilização
Que ocorreu com a evolução da civilização? É um “caos sem plano”? Quando analisamos a marcha do gênero humano através da civilização, vemos que seus segmentos avançados passaram sucessivamente pelo escravismo, feudalismo e capitalismo e agora estão a caminho do socialismo. Isto não significa que cada setor da humanidade tenha passado por esta sequência invariável de etapas históricas, como cada um dos povos bárbaros passou através da mesma sequência de etapas. Mas a sua efetiva consecução permite a quem chega mais tarde combinar ou comprimir etapas históricas inteiras.
O curso real da história, a passagem de um sistema social a outro, de um nível de organização a outro, é muito mais complicado, heterogêneo e contraditório do que aquele que se pode dar num esquema histórico geral. O esquema histórico universal das estruturas sociais – selvageria, barbárie, civilização – com suas respectivas etapas, é uma abstração. É uma abstração indispensável e racional, que corresponde às realidades essenciais do desenvolvimento e serve como guia para a investigação, mas não pode subestimar diretamente a análise de nenhum segmento concreto da sociedade.
Uma linha reta pode ser a distância mais curta entre dois pontos, mas a humanidade frequentemente deixou de lado esse adágio e seguiu aquele que diz que “o caminho mais longo é o mais perto de casa”.
Na história mesclam-se ambas: regularidades e irregularidades. A regularidade é fundamentalmente determinada pelo caráter e desenvolvimento das forças produtivas e o modo de produzir os meios de vida. Contudo, este determinismo básico não se manifesta no desenvolvimento real da sociedade de maneira simples, direta e uniforme, e sim por meios extremamente complexos, desviados e heterogêneos.
A Evolução Desigual do Capitalismo
Isto está exemplificado com maior ênfase na evolução do capitalismo e suas partes componentes. O capitalismo é um sistema econômico mundial. Nos últimos cinco séculos se desenvolveu de país a país, de continente a continente, e passou através das fases sucessivas do capitalismo comercial, industrial, financeiro e capitalismo estatal monopolista. Cada país, mesmo que atrasado, foi levado à estrutura das relações capitalistas e se viu sujeito às suas leis de funcionamento. Enquanto cada nação entrou na divisão internacional do trabalho sobre a base do mercado mundial capitalista, cada uma participou de forma peculiar e em grau diferente na expressão e expansão do capitalismo, e jogou diferente papel nas distintas etapas de seu desenvolvimento.
O capitalismo surgiu com muito maior força na Europa e América do Norte do que na Ásia e África. Estes foram fenômenos interdependentes, lados opostos de um único processo. O fraco desenvolvimento capitalista nas colônias foi produto e condição do superdesenvolvimento das áreas metropolitanas, que se realizou às custas das primeiras.
A participação de várias nações no desenvolvimento do capitalismo não foi menos irregular. A Holanda e a Inglaterra tomaram a direção no estabelecimento das formas e forças capitalistas nos séculos XVI e XVII, enquanto a América do Norte estava ainda, em grande medida, em posse dos índios. Contudo, na fase final do capitalismo, no século XX, os Estados Unidos superaram amplamente a Inglaterra e a Holanda. À medida que o capitalismo ia captando dentro de sua órbita um país após o outro, aumentavam as diferenças mútuas. Esta crescente interdependência não significa que sigam pautas idênticas ou possuam as mesmas características. Quando mais se estreitam as suas relações econômicas, surgem profundas diferenças que os separam. O seu desenvolvimento nacional não se realiza, em muitos aspectos, ao longo de linhas paralelas, e sim através de linhas angulares, às vezes divergentes como ângulos retos. Adquirem troços não idênticos, mas complementares.
Causas Iguais, Efeitos Diferentes
A regra que diz que as mesmas causas produzem os mesmos efeitos não é incondicional e geral. A lei só é válida quando a história produz as mesmas condições, mas geralmente há diferenças para cada país e constantes mudanças e intercâmbios entre eles. As mesmas causas básicas podem conduzir a resultados muito diferentes e até opostos.
Por exemplo, na primeira metade do século XIX, a Inglaterra e os EUA eram ambos governados pelas mesmas leis do capitalismo industrial. Mas estas leis operavam sob diferentes condições nos dois países e produziram resultados muito diferentes na agricultura. A enorme demanda da indústria britânica por algodão e alimentos baratos estimulou poderosamente a agricultura norte-americana, ao mesmo tempo em que os mesmos fatores econômicos sufocaram os camponeses da Inglaterra. A expansão da agricultura num país e sua contração no outro foram consequências opostas, mas interdependentes, das mesmas causas econômicas.
Passando do processo econômico ao intelectual, o marxista russo Plekhanov assinalava, no seu notável trabalho “Em defesa do materialismo” (pág. 126), como o desenvolvimento desigual dos diversos elementos que compõem uma estrutura nacional permite ao mesmo conjunto de ideias produzir um impacto social muito diferente sobre a vida filosófica.
Falando do desenvolvimento ideológico no século XVIII, Plekhanov assinalava:
“O mesmo conjunto de ideias levou ao ateísmo militante dos materialistas franceses, ao indiferentismo religioso de Hume, e à religião ‘prática’ de Kant. A razão foi que a questão religiosa na Inglaterra, nesse tempo, não jogava o mesmo papel que na França, nem nesta como na Alemanha. E esta diferença no significado da questão religiosa tinha suas raízes na distinta relação em que estavam as forças sociais em cada um desses países. Similares em sua natureza, mas díspares em seu grau de desenvolvimento, os elementos da sociedade combinavam-se de modo diferente nos distintos países europeus e conduziam, cada um deles, a um estado de consciência muito particular, que se expressava na literatura nacional, na filosofia, na arte, etc. Como consequência disto, uma mesma questão pode apaixonar os franceses e deixar indiferentes os britânicos. Um mesmo argumento pode ser considerado com respeito por um alemão progressista, enquanto um francês progressista o verá com ódio amargo”.
Peculiaridades Nacionais
Desejaria terminar este exame do processo de desenvolvimento desigual com uma discussão do problema das peculiaridades nacionais. Os marxistas são amiúde acusados por seus inimigos de negar, ignorar ou subestimar as peculiaridades nacionais em favor das leis históricas universais. Não é verdade. Não é correta essa crítica, embora alguns marxistas individualmente possam ser acusados de tais erros.
O marxismo não nega a existência e a importância das peculiaridades nacionais. Seria teoricamente estúpido e praticamente sem valor se o fizesse, dado que as diferenças nacionais podem ser decisivas para orientar a política do movimento operário, de uma luta nacional ou de um partido revolucionário, durante certo período num dado país. Por exemplo, a maior parte dos ativistas operários da Grã-Bretanha seguem o partido trabalhista.
Este monopólio é uma peculiaridade fundamental da Grã-Bretanha e do desenvolvimento político dos seus trabalhadores. Os marxistas que não levarem em conta este fator, como chave de sua orientação organizativa, estarão violando o espírito do seu método. Há outro exemplo remoto: na maior parte dos países coloniais, hoje em dia, as raças de cor estão lutando contra o imperialismo pela independência nacional contra a opressão das nações brancas. Nos Estados Unidos, pelo contrário, a luta dos negros contra seu caráter de cidadãos de segunda classe se caracteriza por não ser um movimento pela separação e sim pela demanda de integração incondicional à vida americana, sobre bases iguais.
Sem ter em conta este caráter específico é impossível compreender as principais tendências da luta dos negros americanos na atual etapa. Longe de rejeitar as diferenças nacionais, o marxismo é o único método histórico, a única teoria sociológica que as explica adequadamente, demonstrando quais são suas raízes nas condições materiais de vida e considerando suas origens históricas, desenvolvimento, desintegração e desaparecimento. As escolas burguesas de pensamento veem as peculiaridades nacionais com um critério distinto, como acidentes inexplicáveis, como produto da vontade divina ou de características fixas e finais de um determinado povo. O marxismo as vê como um produto histórico que surge de combinações concretas de forças e condições internacionais.
Este procedimento de combinar o geral com o particular e o abstrato com o concreto está de acordo não somente com as exigências da ciência como também com nossos hábitos diários de raciocínio. Cada indivíduo tem uma expressão facial diferente, o que nos permite reconhecê-lo e separá-lo dos outros. Ao mesmo tempo, compreendemos que este indivíduo tem o mesmo gênero de olhos, ouvidos, boca, fronte e outros órgãos que o restante da raça humana. De fato, a fisionomia particular que produz sua expressão diferente é só a manifestação fundamental de um conjunto específico dessas estruturas e características humanas comuns. O mesmo ocorre com a vida e a fisionomia de uma dada nação.
Cada nação tem seus próprios traços característicos. Mas essas peculiaridades surgem como consequência da modificação de leis gerais em função das condições materiais e históricas específicas. São, em última instância, a cristalização particular de um processo universal.
Trotsky concluiu que as peculiaridades nacionais são o produto mais geral do desenvolvimento histórico desigual, seu resultado final.
Os Limites das Peculiaridades Nacionais
Contudo, por mais profundamente assentadas que estejam estas peculiaridades na estrutura social e por mais poderosa que seja sua influência sobre a vida nacional, elas são limitadas. Em primeiro lugar, são limitadas na ação. Não substituem o processo superior da economia e política mundial nem podem abolir o funcionamento de suas leis.
Consideremos, por exemplo, as diferentes consequências políticas da crise mundial de 1929, nos EUA e Alemanha, devidas às diferenças no contexto histórico, na estrutura social específica e na evolução política nacional. Num caso, o New Deal de Roosevelt chegou ao poder e no outro, o fascismo de Hitler. O programa de reforma sob os auspícios democrático-burgueses, e o programa da contrarrevolução sob a fria ditadura totalitária, foram métodos totalmente diferentes utilizados pelas respectivas classes capitalistas para salvar a pele.
Este contraste entre as forças capitalistas americana e alemã de autopreservação foi explorada até a exaustão pelos apologistas do capitalismo norte-americano, os quais o atribuíram ao espírito democrático inerente à nação americana e aos seus governantes capitalistas. Na realidade, a diferença se deveu à maior riqueza e recursos do imperialismo dos EUA, por um lado, e à imaturidade das relações de classe e conflitos, por outro. Contudo, na etapa seguinte e antes que sobreviesse a decadência, o processo do imperialismo levou ambas as potências a uma segunda guerra mundial, para determinar quem dominaria o mercado mundial. Apesar de significativas diferenças em seus regimes políticos internos, ambas chegaram ao mesmo destino. Continuaram subordinadas às mesmas leis fundamentais do imperialismo capitalista e não puderam impedir seu funcionamento nem evitar suas consequências.
Em segundo lugar, as peculiaridades nacionais têm limites historicamente definidos. Não estão fixadas para sempre nem têm um destino absolutamente determinado. Condições históricas as geram e as suplantam; novas condições históricas podem alterá-las, eliminá-las e ainda transformá-las em seus opostos.
No século XIX, a Rússia era o país mais reacionário da Europa e da política mundial; no século XX transforma-se no mais revolucionário. Em meados do século XIX os Estados Unidos eram a nação mais revolucionária e progressista; em meados do século XX, substituíram a Rússia como fortaleza da contrarrevolução mundial. Mas este papel tampouco pode ser eterno, como assinalaremos no próximo capítulo, onde estudaremos o caráter e consequências do desenvolvimento desigual e combinado.
O Desenvolvimento Combinado e suas Consequências
Analisaremos agora o segundo aspecto da lei do desenvolvimento desigual e combinado. Seu nome indica de qual lei geral é ela uma expressão particular, ou seja, a lei da lógica dialética chamada “lei da interpenetração dos opostos”. Os dois processos – desigualdade e combinação – que estão unidos nesta formulação representam dois aspectos ou etapas da realidade opostos e, não obstante, integralmente relacionados e interpenetrados.
A lei do desenvolvimento combinado parte do reconhecimento da desigualdade nas proporções de desenvolvimento de vários fenômenos das mudanças históricas. A disparidade no desenvolvimento técnico e social, e a combinação fortuita de elementos, tendências e movimentos pertencentes a diferentes etapas da organização social, dão a base para o surgimento de algo novo e de qualidade superior.
Esta lei permite-nos observar como surge a nova qualidade. Se a sociedade não se desenvolvesse num caminho diferencial, ou seja, através do surgimento de diferenças, às vezes tão agudas que se tomam contraditórias, não haveria possibilidade de combinação e integração de fenômenos contraditórios. Contudo, a primeira fase do processo evolutivo – desigualdade – é o pré-requisito indispensável para a segunda fase: a combinação de características que pertencem a diferentes etapas da vida social nas distintas formações sociais, desviando-se dos padrões deduzidos abstratamente ou tipos “normais”.
Esta combinação surge como a necessária superação da desigualdade pré-existente. Podemos ver como ocorrem quase sempre juntas e ligadas na simples lei da combinação e desigualdade do desenvolvimento. Partindo do fato dos níveis diversos de desenvolvimento que resultam da progressão desigual dos distintos aspectos da sociedade, poderemos agora analisar a próxima etapa e a necessária consequência desta situação: a sua combinação.
Fusão de Diferentes Fatores Históricos
Antes de mais nada, devemos perguntar-nos o que significa combinado. Pudemos ver como características que pertencem a uma etapa da evolução se ligam a outras que são essencialmente próprias de uma etapa mais elevada. A igreja católica, cujo centro está no Vaticano, é uma característica instituição feudal. Na atualidade, o papa usa rádio e televisão – invenções do século XX – para disseminar a doutrina da igreja. Isto conduz a uma segunda questão: como se combinam as diferentes características? Aqui, as combinações dos metais nos proporcionam uma analogia útil. O bronze, que joga um grande papel no desenvolvimento das mais antigas construções de ferramentas, que deu seu nome a toda uma etapa do desenvolvimento histórico, compôs-se de dois metais elementares, o cobre e o estanho, misturados em proporções específicas. A sua fusão produz uma liga com propriedades importantes que diferem de ambos os metais que o constituem. Algo semelhante Ocorre na história quando se unem elementos que pertencem a diferentes etapas da evolução social. Esta fusão dá origem a um novo fenômeno, com suas próprias características especiais. O período colonial da história norte-americana une-se à selvageria e barbárie, quando a civilização europeia mudava do feudalismo para o capitalismo. Deste modo, proporcionou um magnífico caldo de cultivo para as combinações e deu o mais instrutivo campo para seu estudo. Quase todos os gêneros de relações sociais conhecidos, desde a selvageria às companhias por ações, podiam ser encontradas no novo mundo durante o período colonial. Várias colônias, como Virgínia e Carolina do Norte e do Sul, foram originalmente civilizadas por empresas capitalistas por ações, cujas licenças haviam sido garantidas pela Coroa. As formas mais avançadas de capitalismo regiam a empresa acionária que entrou em contato com os índios que viviam ainda sob primitivas condições tribais.
As formas pré-capitalistas de vida com as que depararam foram combinadas num grau ou outro com as características fundamentais da civilização burguesa. Tribos indígenas, por exemplo, foram anexadas ao mercado mundial através do comércio de peles; e é verdade que os índios se tomaram, em certa medida, civilizados. Por outro lado, os colonos brancos europeus, caçadores, lenhadores e pioneiros da agricultura barbarizaram-se parcialmente por terem sobrevivido no deserto das planícies e nas montanhas dos campos “virgens”. Contudo, o lenhador europeu que penetrava nos desertos da América, com seu rifle e sua enxada de ferro, e também com sua concepção e hábitos de civilização, foi muito diferente do índio Pele-Vermelha, ainda que muitas das atividades da sociedade bárbara do lenhador também lhe correspondessem.
Em sua obra sobre as forças sociais na história norte-americana, A. M. Simon, um dos principais historiadores socialistas, escreveu: “O curso da evolução seguiu em cada colônia uma linha de desenvolvimento muito parecida à que a raça havia seguido” (pág. 30-31). No começo – assinalou – houve um comunismo primitivo. Depois, uma pequena produção individual, e assim prosseguiu até chegar ao capitalismo.
Contudo, a concepção segundo a qual a colônia americana, ou algumas delas, substancialmente repetiram as sequências das etapas que as sociedades avançadas haviam atravessado antes delas, é excessivamente esquemática e ignota o principal ponto relativo ao seu desenvolvimento e estrutura. A peculiaridade mais significativa da evolução das colônias britânicas na América deriva do fato de que todas as formas de organização e as forças impulsionadoras pertencentes às primeiras etapas do desenvolvimento social, desde a selvageria e igualmente no caso da escravidão, foram incorporadas e condicionadas pelo sistema em expansão do capitalismo internacional. Não há, no solo americano, repetição mecânica das etapas historicamente superadas. Pelo contrário, a vida colonial testemunha uma mescla dialética de todos esses variados elementos; da qual resultam deformações sociais combinadas de um tipo novo e especial. A escravidão nas colônias americanas foi muito distinta da escravidão na Grécia clássica e em Roma. A escravidão norte-americana foi uma escravidão burguesificada, não se tratando apenas de um braço subordinado do mercado capitalista mundial, senão que cada ramificação dessa fusão de escravidão e capitalismo resultou na aparição de traficantes de escravos entre os índios Creek, no Sul. Poder-se-ia encontrar algo mais contraditório que índios comunistas, agora proprietários de escravos, vendendo seu produto num mercado burguês?
Dialética da Combinação
O resultado desta fusão de diferentes etapas ou elementos de progresso histórico é, por consequência, uma mescla ou ligação particular de coisas. Na união de elementos diferentes e opostos, a natureza dialética da história manifesta-se por si mesma mais poderosa e proeminente. Aqui a contradição simples, óbvia, flagrante, predomina.
A história prega peças a todas as formas rígidas e às rotinas fixas. Surgem todos os gêneros de desenvolvimentos paradoxais que confundem e deixam perplexas as mentes limitadas e formalizadas.
Como um importante exemplo disto, permita-nos considerar a natureza do stalinismo. Na Rússia atual, a mais avançada forma de propriedade, a propriedade nacionalizada, e o mais eficiente modo de organização industrial, a economia planificada, ambas logradas através da revolução proletária de 1917, uniram-se numa só massa com o tipo mais brutal de tirania, criada por uma contrarrevolução política da burocracia soviética. Os fundamentos econômicos do regime stalinista historicamente pertencem à era socialista do futuro. Contudo, este fundamento econômico está unido a uma superestrutura política que mostra os aspectos mais malignos das ditaduras de classe do passado. Não devemos admirar-nos com o fato de que este fenômeno extraordinariamente contraditório tenha confundido muita gente e as tenha levado pelo mau caminho.
O desenvolvimento desigual e combinado apresenta-se como uma mescla particular de elementos atrasados com os fatores mais modernos. Muitos católicos devotos levam imagens em seus carros, supondo que os protegerão contra os acidentes. Este costume combina o fetichismo dos crédulos selvagens com o produto da indústria automobilística, uma das indústrias mais automatizadas, mais avançadas do mundo moderno.
Por outro lado, estas anomalias são mais evidentes nos países mais atrasados. Existem curiosidades como haréns com ar condicionado!
“O desenvolvimento das nações historicamente atrasadas leva necessariamente a uma combinação peculiar de diferentes etapas do desenvolvimento histórico”, escreveu Trotsky na “História da Revolução Russa” (pág. 5).
Carlton. S. Coone escreveu:
“… Há, todavia, regiões marginais onde a difusão cultural é desigual, onde simples caçadores da Idade da Pedra surpreendentemente se enfrentam com estranhos caçadores com rifles, onde trabalhadores neolíticos estão mudando suas enxadas de pedra por outras de aço e seus potes de barro por vasilhas de lata para carregar água, onde orgulhosos cidadãos dos antigos impérios costumavam receber as notícias algumas semanas depois das caravanas de camelos, ouvem agora a propaganda através de rádios públicas. E na calçada de ladrilhos azuis e brancos das cidades o claro apelo dos muçulmanos, incitando a fé do crente, será substituído um dia por uma caixa metálica pendurada no minarete. Fora, no aeroporto, os peregrinos dos lugares santos saltam diretamente do lombo de seus camelos aos assentos do DC-4. Estas mudanças na tecnologia levam ao nascimento de novas instituições nestes lugares, como em qualquer outro, mas o recém-nascido geralmente é uma criatura não familiar, que não se recorda nem dos parentes próximos nem dos distantes, superando a ambos”. (“The History of Man”, pág. 113-114).
Na África atual, entre os kikuyos do Quênia, como também entre os povos da Costa do Ouro, as antigas ligações e costumes ajudam a fortalecer sua solidariedade na luta pelo avanço social e pela independência nacional contra o imperialismo britânico. No movimento nacionalista de Nkrumah, o partido parlamentar nacional está ligado aos sindicatos e ao tribalismo – os três pertencem a diferentes etapas da história social.
A mescla de elementos atrasados com os mais modernos fatores pode ser vista quando comparamos a China moderna com os Estados Unidos da América. Atualmente, muitos camponeses chineses de pequenas aldeias têm retratos de Marx e Lênin em suas paredes e inspiram-se em suas ideias. O operário norte-americano médio vive em cidades mais modernas e tem, em contraste, pinturas de Cristo ou fotografias de Eisenhower ou do Papa sobre suas paredes pré-fabricadas. Contudo, os camponeses chineses não têm água corrente, estradas asfaltadas, automóveis, rádios ou televisão, como têm os operários norte-americanos.
Desta maneira, ainda que os Estados Unidos e a sua classe operária tenham progredido mais que a China em seu desenvolvimento industrial e padrão de vida e de cultura, em certos aspectos os camponeses chineses superaram o operário norte-americano.
“A dialética histórica não conhece nada semelhante ao atraso absoluto ou ao progresso quimicamente puro” como assinalou Trotsky.
A Estrutura Social da Grã-Bretanha
Se analisarmos a estrutura social da Grã-Bretanha contemporânea, poderemos ver que a mesma conserva características de três períodos histórico-sociais distintos, inextricavelmente relacionados. No cume de seu sistema político há uma monarquia e uma igreja estabelecidas, ambas herdadas do feudalismo. Estas estão conectadas à estrutura de propriedade capitalista monopolista pertencente à etapa mais elevada do capitalismo. Junto a essa indústria capitalista existe a indústria socializada, sindicatos e um partido trabalhista, todos precursores do socialismo.
É significativo que esta particular combinação contraditória na Grã-Bretanha deixe perplexos os norte-americanos. Os norte-americanos liberais não podem compreender porque os ingleses têm uma monarquia e uma igreja estabelecidas. Os norte-americanos com mentalidade capitalista surpreendem-se com o fato da classe dominante britânica tolerar o Partido Trabalhista.
Ao mesmo tempo, a Grã-Bretanha é atingida pelo mais formidável de todos os movimentos combinados de forças sociais de nosso tempo em escala mundial, ou seja, a combinação do movimento anticapitalista da classe operária com a revolução anticolonial dos povos de cor. Estes dois movimentos muito diferentes, ambos opostos ao domínio imperialista, reforçam-se mutuamente.
Contudo, estes dois movimentos não têm o mesmo efeito em todos os países imperialistas. São sentidos, por exemplo, mais forte e diretamente na França e Grã-Bretanha que nos EUA. Não obstante, nos EUA a luta dos povos coloniais pela independência e da minoria negra pela igualdade influenciam-se mutuamente.
Os Saltos Progressivos na História
A manifestação mais importante da interação do desenvolvimento desigual e combinado é o surgimento de “saltos” no fluxo histórico. Os maiores saltos tornam-se possíveis pela coexistência de povos de diferentes níveis de organização social. No mundo atual, estas organizações sociais variam muito, desde a selvageria até o verdadeiro limiar do socialismo. Na América do Norte, enquanto os esquimós no Ártico e os índios Seri na Baixa Califórnia vivem ainda na selvageria, os banqueiros de Nova Iorque e os operários de Detroit vivem na mais elevada etapa do capitalismo monopolista. Os “saltos” históricos se tomam inevitáveis porque os setores atrasados da sociedade enfrentam tarefas que só podem ser resolvidas com a utilização dos métodos mais modernos. Sob a pressão das condições externas, veem-se obrigados a saltar ou precipitar etapas da evolução que originalmente requerem um período histórico inteiro para desenvolver as suas potencialidades.
Quanto mais amplas são as diferenças do desenvolvimento e maior o número de etapas presentes num dado período, mais dramáticas são as possíveis combinações de condições e forças, e mais rápida a natureza dos saltos Algumas combinações produzem extraordinárias erupções e rápidos movimentos na história. O transporte fez evoluir lentamente a locomoção humana e animal, desde os veículos de rodas até o trem, automóveis e aviões. Recentemente, contudo, os povos da América do Sul e da Sibéria passaram diretamente, e de um só salto, do animal ao uso de aviões.
Tribo, nação e classe são capazes de comprimir etapas ou de saltar sobre elas, assimilando as conquistas dos povos mais avançados. Usam isto como uma alavanca para se elevarem sobre as etapas intermediárias e ultrapassam obstáculos de um só salto. Mas não podem fazer nada até que os países pioneiros na vanguarda do gênero humano tenham previamente aberto o caminho, pré-fabricando as condições materiais. Outros povos preparam os meios e modelos para, uma vez maduros, adaptá-los às suas condições peculiares.
A indústria soviética foi capaz de progredir tão rápido porque, entre outras razões, pôde importar as técnicas e maquinários do Ocidente. Agora também a China pode marchar em um ritmo mais acelerado em sua industrialização porque se baseia não somente nas conquistas técnicas dos países capitalistas avançados, como também em métodos de planificação da economia soviética.
Em seus esforços para superar a Europa Ocidental, os colonizadores da costa do Atlântico Norte passaram através da “barbárie selvagem”, saltando virtualmente, por cima do feudalismo, implantando e extirpando a escravidão, constituindo grandes povoações e cidades sobre uma base capitalista. Isto se fez em ritmo acelerado. Aos povos europeus foram necessários três mil anos para saltar da etapa superior da barbárie da Grécia homérica à Inglaterra vitoriosa da revolução burguesa de 1849. A América do Norte cobriu as mesmas transformações em trezentos anos, ou seja, a um ritmo de desenvolvimento dez vezes mais rápido. Mas isto foi possível pelo fato de que a América do Norte pôde beneficiar-se com as aquisições prévias da Europa, combinando-as com a impetuosa expansão do mercado capitalista em todos os cantos do globo.
Ao longo desta aceleração e compressão do desenvolvimento social foi-se acelerando também o tempo de desenvolvimento dos acontecimentos revolucionários. O povo britânico tardou oito séculos desde o começo do feudalismo no século IX, até a sua revolução burguesa vitoriosa no século XVII. Os colonos norte-americanos somente em cento e setenta e cinco anos passaram de seus primeiros assentamentos no século XVII à sua revolução vitoriosa no último quarto do século XVIII.
Nestes saltos históricos as etapas do desenvolvimento são algumas vezes comprimidas e outras omitidas, o que depende das condições e das forças particulares. Nas colônias norte-americanas, por exemplo, o feudalismo – que floresceu na Europa e na Ásia por muitos séculos – mal conseguiu existir. As instituições características do feudalismo (feudo, servos, monarquia, a igreja estabelecida e as corporações medievais) não tiveram um ambiente favorável e foram comprimidas entre a escravidão comercial por um lado, e a sociedade burguesa enxertada por outro. Paradoxalmente, ao mesmo tempo que o feudalismo ia sendo atrofiado e estrangulado nas colônias norte-americanas, adquiria uma vigorosa expansão no outro lado do mundo, na Rússia.
Reversões Históricas
A história tem as suas reversões, assim como seus movimentos para frente, seus períodos de reação, formas infantis e características caducas próprias de etapas primitivas de desenvolvimento. Podem unir-se com estruturas avançadas para gerar formações extremamente regressivas e impedir o avanço social. Um exemplo primário de tal combinação regressiva foi a escravidão na América do Norte, onde um modo de propriedade e uma forma de produção anacrônica, pertencente à infância da civilização se inseriu num ambiente burguês que pertencia a uma sociedade de classe madura.
A recente história política familiarizou-nos com os exemplos do fascismo e do stalinismo, que são fenômenos históricos do século XX simétricos, ainda que não idênticos. Ambos representam reversões de formas de governos democráticos pré-existentes que tinham bases sociais completamente diferentes. O fascismo foi o destruidor e substituto da democracia burguesa no período final da decadência e destruição do imperialismo. O stalinismo foi o destruidor e substituto da democracia operária da Rússia revolucionária no período inicial da revolução socialista internacional.
Desta forma, encontramos misturadas duas etapas no movimento dialético da sociedade. Primeiro, algumas partes do gênero humano e certos elementos da sociedade movem-se mais rapidamente e desenvolvem-se antes que outros. Mais tarde, sob o choque de forças externas produz-se um retrocesso, ou uma estagnação, em relação ao ritmo de progresso de seus precursores, pela combinação das últimas inovações com velhos modos de existência.
A Desintegração das Combinações
Mas a história não se detém neste ponto. Cada síntese única surgida do desenvolvimento desigual e combinado engendra em si mesma posteriores crescimentos e mudanças, as quais, por sua vez, podem levar a uma eventual desintegração e destruição da síntese.
Uma formação combinada é um amálgama de elementos derivados de diferentes níveis de desenvolvimento social. A sua estrutura interna é, portanto, altamente contraditória. A oposição dos seus polos constituintes não só provoca instabilidade na formação, senão que leva diretamente a posteriores desenvolvimentos. Mais claramente que a qualquer outra formação, a luta dos opostos caracteriza o curso de vida de uma formação combinada.
Há dois tipos principais de combinação. Em um caso, o produto de unia cultura avançada é absorvida na estrutura de um organismo social arcaico. Em outro, aspectos de uma ordem primitiva são incorporados a um organismo social em grau mais elevado de desenvolvimento.
O efeito que produz a assimilação de elementos mais modernos numa estrutura depende de muitas circunstâncias. Por exemplo, os índios puderam substituir a enxada de pedra pela de ferro sem deslocamentos fundamentais da sua ordem social, porque esta mudança significou apenas uma dependência mínima da civilização branca, da qual a enxada de ferro foi tomada. A introdução do cavalo mudou consideravelmente a vida dos índios das pradarias, ao estender o alcance de seus campos de caça e de suas habilidades guerreiras. Contudo, o cavalo não transformou sua relação tribal básica. Mas, em contrapartida, a participação num nascente comércio e a penetração da moeda teve consequências revolucionárias sobre os índios destruindo seu sistema tribal, opondo os interesses privados aos costumes comunitários, lançando uma tribo contra outra e subordinando os novos comerciantes e caçadores índios ao mercado mundial.
Sob certas condições históricas a introdução de novas coisas pode, também, prolongar por algum tempo a vida das instituições mais arcaicas. A entrada dos grandes consórcios de petróleo capitalistas no Oriente Médio fortaleceu temporariamente os sheiks, dando-lhes enormes quantidades de riquezas. Mas em longo prazo, a invasão de técnicos e ideias modernas não pode ajudar, e sim minar os velhos regimes tribais, porque rompem as condições sobre as quais eles se apoiam e criam novas forças que se lhes opõe para substituí-los.
Um poder primitivo pode afirmar-se rapidamente sobre um mais moderno, ganhando renovada vitalidade, e pode também aparecer por um certo período como superior ao outro. Mas o poder menos desenvolvido levará uma existência essencialmente parasita e não poderá sustentar-se indefinidamente às expensas do mais desenvolvido. Falta-lhe adequado terreno e atmosfera para seu crescimento, enquanto as instituições mais desenvolvidas não só são superiores por natureza, como além disso, podem contar com um favorável ambiente para a sua expansão.
Escravidão e Capitalismo
O desenvolvimento da escravidão na América do Norte dá uma excelente ilustração dessa dialética. Do ponto de vista da história mundial, a escravidão foi um anacronismo desde o seu nascimento neste continente. Como modo de produção pertencia à infância da sociedade de classes; havia praticamente desaparecido da Europa Ocidental. Contudo, a importância das demandas, por parte da Europa Ocidental, de matérias-primas como açúcar, algodão e tabaco, combinada com a carência de trabalhadores para levar a cabo operações agrícolas em grande escala, obrigaram a implantar a escravidão na América do Norte. A escravidão colonial cresceu como um braço do capitalismo comercial. Desta maneira um modo de produção e uma forma de propriedade superados há muito tempo, surgiram novamente como consequência das exigências de um sistema mais moderno e fizeram parte dele.
Esta contradição agudizou-se quando o surgimento do capitalismo industrial na Inglaterra e nos Estados Unidos incrementou a produção de algodão dos estados do Sul levando a um lugar de destaque na vida econômica e política da América do Norte. Durante décadas os dois sistemas opostos funcionaram como equipe. Quando a guerra civil norte-americana estourou, os mesmos se romperam. O sistema capitalista que numa etapa de seu desenvolvimento alentou o crescimento da escravidão, em outra criou uma nova combinação de forças que a destruiu.
A formação combinada do velho e do novo, do mais baixo e do mais alto, da escravidão e do capitalismo demonstrou não ser permanente nem indissolúvel; foi condicional, temporária, relativa. A associação forçada dos dois tendia para a dissolução e para um conflito crescente. Se uma sociedade anda para frente, a vantagem preponderante corresponderá, em larga escala, à estrutura superior, que prosperará à custa de características inferiores, superando-as e deslocando-as eventualmente.
A Substituição de Classes
Uma das consequências mais importantes e paradoxais do desenvolvimento desigual e combinado é a solução dos problemas de uma classe através de outra. Cada etapa do desenvolvimento social gera, coloca e resolve os seus próprios complexos específicos de tarefas históricas. A barbárie, por exemplo, desenvolveu as técnicas produtivas de cultivo das plantas, do pastoreio de animais e a agricultura, como ramos de sua atividade econômica. Estas atividades foram também pré-requisitos para a suplantação da barbárie pela civilização.
Na época burguesa, a unificação de províncias separadas em estados centralizados nacionais e a industrialização destes estados foram tarefas históricas colocadas pelo surgimento da burguesia. Mas, em alguns países, o baixo desenvolvimento da economia capitalista e a consequente debilidade da burguesia toma insustentável a realização destas tarefas históricas da burguesia. No coração da Europa, por exemplo, a unidade do povo alemão foi lograda desde 1866 a 1869 não pela burguesia ou pela classe operária, senão por uma casta social já superada, os proprietários rurais “junkers” prussianos, encabeçados pela monarquia Hohenzollern e dirigida por Bismarck. Neste caso, a tarefa histórica da classe capitalista foi levada a cabo por forças capitalistas.
No século atual, a China representa outro exemplo oposto, num nível histórico mais elevado. Sob a dupla exploração de suas velhas relações feudais e da subordinação imperialista, a China não podia ser unificada nem industrializada. Tomou-se necessário nada menos que uma revolução proletária, (ainda que deformada em seu começo) que, apoiando-se numa insurreição camponesa, abriu caminho para a solução dessas tarefas burguesas longamente adiadas. Hoje em dia, a China está unificada pela primeira vez e industrializa-se rapidamente. Contudo, estas tarefas não foram levadas a cabo pelas forças capitalistas ou pré-capitalistas, senão pela classe operária e sob sua própria direção. Neste caso, as tarefas não completadas da abortada era de desenvolvimento capitalista foram realizadas por uma classe pós-capitalista.
O desenvolvimento extremamente desigual da sociedade fez necessária esta mudança de papel histórico entre as classes: a grandiosidade da etapa histórica fez possível a substituição. Como Hegel assinalou, a história recorre frequentemente aos mecanismos mais indiretos e astutos para lograr seus fins.
Um dos maiores problemas que a revolução democrático-burguesa dos Estados Unidos deixou sem resolver foi a abolição dos velhos estigmas da escravidão, com a integração sem restrições dos negros na vida norte-americana. Esta tarefa foi parcialmente solucionada pela burguesia industrial do norte durante a guerra civil. Este fracasso da burguesia industrial foi igualmente uma grande fonte de problemas e dificuldades para os seus representantes. A questão que agora está colocada é se os atuais governantes capitalistas ultrarreacionários dos EUA poderão levar a cabo uma tarefa nacional que foram incapazes de completar em sua época revolucionária.
Os porta-vozes dos democratas e republicanos consideram necessário dizer que poderão de fato cumprir esta tarefa; os reformistas de todo tipo juram que o governo burguês poderá fazê-lo. É nossa opinião, contudo, que só a luta conjunta do povo negro e das massas operárias contra os governantes capitalistas será capaz de combater os restos da escravidão até sua conclusão vitoriosa. Nesse sentido, a revolução socialista completará o que resta realizar da revolução democrático-burguesa.
Os Inconvenientes do Progresso e os Privilégios do Atraso
Aqueles que fazem um culto do progresso puro creem que grandes conquistas num certo número de campos pressupõem equivalente perfeição em outros. Muitos norte-americanos tiram a conclusão imediata de que os Estados Unidos ultrapassam o resto do mundo em todas as esferas da atividade humana, justamente porque assim ocorre na tecnologia, na produção material. e no padrão de vida. Contudo, na política e na filosofia, para não mencionar outros campos, o desenvolvimento geral dos Estados Unidos não foi mais além do século XIX, enquanto que países da Europa e Ásia, muito menos favorecidos economicamente, estão muito além dos EUA nestes campos.
Nos últimos anos do seu governo, Stálin tratou de impor a noção de que somente “cosmopolitas sem raízes” podiam sustentar que o Ocidente superava a URSS em algum ramo do esforço humano desde as invenções mecânicas até a ciência da genética. Esta expressão do nacionalismo “pan-russo” não foi menos estúpida que a concepção ocidental de que nada superior pode derivar da barbárie asiática da União Soviética.
A verdade é que cada etapa do desenvolvimento social, cada tipo de organização social, cada nacionalidade, tem suas virtudes e defeitos essenciais, vantagens e desvantagens. O progresso tem os seus inconvenientes: há que pagar por ele. Avanços em certos terrenos podem significar retrocessos em outros. Por exemplo, a civilização desenvolveu o poder de produção e a riqueza do gênero humano sacrificando a igualdade e a fraternidade das sociedades primitivas que suplantou. Por outro lado, sob certas condições o atraso tem seus benefícios. Mais ainda, o que é progressivo numa etapa de desenvolvimento pode tornar-se uma pré-condição para o estabelecimento de um atraso numa etapa subsequente ou num terreno a ele ligado. E o que é um atraso pode tornar-se a base para um salto adiante.
Parece ridículo dizer a povos oprimidos pelo atraso, e que desejam vivamente superá-lo, que o seu arcaísmo tem suas vantagens. Para eles o atraso aparece como um mal evidente. Mas a consciência deste “mal” aparece em primeiro lugar depois destes povos terem tomado contato com formas superiores de desenvolvimento social. É o contato das duas formas, atrasada e adiantada, que demonstra as deficiências da cultura atrasada. Na medida em que a civilização é desconhecida, o selvagem primitivo mantém-se contente. É somente a justaposição das duas que introduz a visão de algo melhor e planta as sementes do descontentamento. Nesse sentido, a presença e o conhecimento da etapa superior toma-se um motor do progresso.
A crítica e condenação resultante da velha situação gera a urgência de superar a disparidade no desenvolvimento e leva os atrasados para frente por fazer surgir neles o desejo de superar os mais avançados. Cada pessoa que conhece o que é aprender já sentiu isto pessoalmente.
Quando povos atrasados fazem novas e imperativas reivindicações, a ausência de instituições acumuladas e intermediárias pode ser positiva, pelos poucos obstáculos que se apresentam para obstruir o avanço e a assimilação do novo. Se as forças sociais existem e atuam efetiva e inteligentemente e no momento oportuno, o que tem sido um inconveniente pode tomar-se uma vantagem.
Os Dois Cursos da Revolução Russa
A recente história da Rússia dá o exemplo mais extraordinário desta conversão de um inconveniente histórico num privilégio. No início do século XX, a Rússia era, entre as grandes nações da Europa, a mais atrasada. Este atraso abarcava todos os estratos, desde o campesinato até a dinastia absolutista dos Romanov. O povo russo e as suas nacionalidades oprimidas sofriam, ambos, as misérias do feudalismo decadente e do atraso do desenvolvimento burguês na Rússia.
Contudo, quando chegou o momento da solução revolucionária destes problemas acumulados, esse atraso demonstrou suas vantagens em muitos terrenos. Primeiro, o czarismo estava totalmente separado das massas. Segundo, a burguesia era muito fraca para tomar o poder em seu próprio nome e mantê-lo. Terceiro, o campesinato, ao não receber satisfações por parte da burguesia, foi obrigado a virar-se para a classe operária em busca de direção. Quarto, a classe operária não tinha formas de atividade petrificadas ou sindicatos pelegos e burocracias políticas que a fizessem retroceder. Foi mais fácil para essa jovem e enérgica classe, que tinha muito pouco a perder e muito a ganhar, adotar rapidamente a mais avançada teoria, o mais claro programa de ação e o mais elevado tipo de organização partidária. A revolta camponesa contra o feudalismo, um movimento que no ocidente da Europa caracterizou o surgimento de revoluções democrático-burguesas, misturou-se com a revolução proletária contra o capitalismo, exclusiva do século XX. Como Trotsky assinalou na “História da Revolução Russa”, foi a conjunção destas duas revoluções diferentes que deu o poder expansivo ao levante do povo russo e quê explica a extraordinária rapidez do seu triunfo.
Mas os privilégios do atraso não são inesgotáveis; estão limitados por condições históricas e materiais. Efetivamente, o atraso herdado da Rússia dos czares reagiu, na etapa seguinte de seu desenvolvimento, sob novas condições históricas e sobre uma base social inteiramente nova. Os privilégios prévios deveriam ser pagos nas próximas décadas pelos amargos sofrimentos, privações econômicas e perda das liberdades que o povo russo suportou sob a ditadura stalinista. O grande atraso que havia fortalecido a revolução e impulsionado as massas russas à cabeça do resto do mundo, transformou-se então no ponto de partida da reação política e da contrarrevolução burocrática, em consequência da qual a revolução internacional fracassou na conquista dos países industriais mais avançados. O atraso econômico e cultural da Rússia combinado com o atraso da revolução mundial foram as condições básicas que permitiram à camarilha stalinista golpear o partido bolchevique e à burocracia usurpar o poder político. Por estas razões, o regime stalinista se converteu no mais contraditório da história moderna, uma coagulação das mais avançadas formas de propriedade e conquistas sociais surgidas da revolução, com uma ressurreição das mais repulsivas características do domínio de classe. Fábricas gigantes, providas das maquinarias mais modernas, eram mantidas por operários aos quais, como os servos, não se lhes permitiam deixar seus lugares de trabalho; aviões que voavam por intransitáveis caminhos cheios de barro; uma economia planificada que funcionava junto a “campos de trabalho escravo”; colossais avanços industriais paralelos à regressão política; enfim, o prodigioso crescimento da Rússia como poder mundial acompanhado por uma igualmente prodigiosa decadência interna do regime.
Contudo, o desenvolvimento dialético da revolução russa não se deteve nesse ponto. A extensão da revolução no Leste europeu e na Ásia, depois da Segunda Guerra Mundial, a expansão da indústria soviética e o ascenso em número e nível de cultura dos operários soviéticos, prepararam condições para uma transformação das velhas tendências, o renascimento da revolução em uma etapa superior e a decadência e parcial superação da calamidade do stalinismo. A primeira manifestação desse movimento frente às massas na Rússia e seus satélites, com a classe operária na sua direção, já foi anunciada ao mundo.
Desde o discurso de Kruschev até a revolução húngara, produziu-se uma série contínua de acontecimentos que demonstra a dialética do desenvolvimento revolucionário. A cada passo da revolução russa, podemos ver a interação de seu atraso e de seu progresso com a conversão de um no outro, de acordo com as circunstâncias concretas do desenvolvimento internacional e nacional. Somente a compreensão da dialética dessas mudanças pode dar-nos uma imagem exata do desenvolvimento extremamente complexo e comtradit6rio da URSS, durante os 40 anos de sua existência revolucionária. As dezenas de caracterizações ultra simplificadas da natureza da atual sociedade moderna russa, que servem apenas para confundir o movimento revolucionário, derivam de uma falta de compreensão das leis da dialética, e do uso de métodos metafísicos nas análises do processo histórico.
A lei do desenvolvimento desigual e combinado é uma ferramenta indispensável para analisar a revolução russa e para precisar seu crescimento e decadência através de suas complexas fases, seus triunfos, sua degeneração e sua próxima regeneração.

Ted Grant e a Seção Britânica da Quarta Internacional

Carta Aberta para a S.B.Q.I. (Seção Britânica da Quarta Internacional)

Por Ted Grant

Setembro/outubro de 1950

Traduzido para o português pelo Reagrupamento Revolucionário em janeiro de 2013, a partir da versão disponível em http://www.tedgrant.org/archive/grant/1950/bsfi.htm.

Nota do Reagrupamento Revolucionário: Esta carta foi escrita imediatamente depois de Ted Grant ter sido expulso do “Clube”, a seção britânica da Quarta Internacional. Ela aponta corretamente o desenvolvimento de revisionismo tanto na seção britânica quanto na Internacional como um todo, em uma época de grande confusão interna. Devido à sua expulsão burocrática por Gerry Healy, o grupo de Grant foi excluído da participação no racha de 1953 contra os apoiadores de Pablo. Tragicamente, o isolamento de Grant levou-o a se aliar com Pablo, em um processo que selou o seu destino como revolucionário. Em seu comentário satírico sobre a esquerda britânica, John Sullivan concluiu: “O histórico encontro de Grant com Pablo pode ser visto como o marco da morte do trotskismo britânico, certa vez uma das melhores seções da Quarta Internacional. O encontro criou o pablismo britânico, essa estranha mutação combinando o vocabulário trotskista com capitulação ao que quer que esteja na moda.” (“Go Fourth and Multiply”). A política de Grant nessa carta aberta está em completo contraste com suas formulações em anos posteriores, assim como difere bastante do apetite político daquelas organizações que reivindicam o seu legado, a Tendência Marxista Internacional (TMI) de Allan Woods e o Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT) de Peter Taaffe.

* * *

O trotskismo britânico atingiu um impasse no caminho que tem sido seguido pela organização trotskista oficial; à frente dele não existe caminho rumo ao desenvolvimento de uma tendência revolucionária saudável enraizada nas massas.

Por três razões, enquanto tendência revolucionária, a Quarta Internacional na Grã-Bretanha foi destruída:

(1) Capitulação ao Tito-stalinismo internacionalmente;

(2) Política e programa na Grã-Bretanha;

(3) Falta de democracia interna.

Titoísmo

Como resultado dos desenvolvimentos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, uma relação de forças inesperada se desenvolveu em escala mundial entre stalinismo, reformismo e capitalismo. O prognóstico da Quarta Internacional de antes da guerra, de que o problema do stalinismo seria resolvido ou durante a guerra ou imediatamente após o seu fim, foi provado falso pelos eventos.

Devido ao sucesso da propriedade estatizada, da decadência assustadora e do colapso do capitalismo e do imperialismo, da onda revolucionária que se seguiu à Segunda Guerra Mundial e da fraqueza da tendência revolucionária internacionalista, o stalinismo foi capaz de tirar vantagem de todos esses fatores e emergiu com a URSS como segunda potência mundial, enormemente fortalecida ao redor do mundo. O stalinismo se tornou a tendência de massas na Europa e na Ásia.

O colapso do capitalismo na Europa Oriental permitiu ao stalinismo, enquanto uma tendência bonapartista, manipular os trabalhadores e manobrar entre as classes – estabelecendo Estados operários deformados de um caráter bonapartista com maior ou menor apoio. O stalinismo, na peculiar relação de forças atual, baseando-se em última instância no proletariado – no sentido de colocar-se em defesa de uma nova forma econômica de sociedade – é um bonapartismo de um novo tipo, manobrando entre as classes com o objetivo de estabelecer um regime seguindo o modelo de Moscou.

Na China e na Iugoslávia, os partidos stalinistas chegaram ao poder na base de apoio avassalador de massas e estabeleceram regimes relativamente independentes da burocracia de Moscou.

O fato de que a revolução na China e na Iugoslávia pôde ser desenvolvida de uma forma distorcida e degradada deve-se aos fatores mundiais de:

(a) Crise do capitalismo mundial;

(b) A existência de um poderoso Estado operário deformado adjacente a esses países e que poderosamente influenciava o movimento dos trabalhadores;

(c) A fraqueza da corrente marxista da Quarta Internacional.

Esses fatores resultaram em um desenvolvimento sem paralelos, que não poderiam ter sido previstos por nenhum dos mestres marxistas: a extensão do stalinismo como um fenômeno social através de metade da Europa, pelo subcontinente chinês e com a possibilidade de se espalhar pela Ásia.

Isso coloca novos problemas teóricos a serem resolvidos pelo movimento marxista. Sob condições de isolamento e escassez de forças, novos fatores históricos não poderiam deixar de resultar em uma crise teórica do movimento, levantando a questão a sua própria existência e sobrevivência.

Depois de um período de extrema vacilação e confusão pela Internacional, incluindo todas as tendências, três posições distintas emergiram:

(a) Um movimento de desespero e revisionismo, conhecido como Capitalismo de Estado; o menchevismo organizativo de Haston e a desintegração ideológica de Morrow, Goldman, Craipeau, etc.;

(b) Uma tendência que vai na direção do neoestalinismo (o SI [Secretariado Internacional] e a seção britânica);

(c) A corrente marxista lutando para levar adiante as melhores tradições do trotskismo.

Diante de problemas formidáveis, o SI e a liderança britânica revelaram-se em uma bancarrota teórica. Sem qualquer explicação teórica adequada ou análise consensual da sua posição anterior, eles giraram 180 graus do dia para a noite, em um estilo típico de um Zinoviev: desde a sustentação de que a Europa Oriental e a China eram regimes capitalistas, até a concepção de que a Iugoslávia – desde o rompimento com Stalin – misteriosamente transformou-se em um Estado operário saudável.

Na Grã-Bretanha, fazendo eco com o SI e sem nem mesmo tentar uma compreensão teórica, a liderança de Healy dá a isso uma aplicação crua. O seu método de raciocínio vai ao longo destas linhas: (a) a Quarta Internacional previu que o stalinismo não poderia fazer uma revolução; (b) o stalinismo fez a revolução e, portanto (c) ele não é mais stalinismo! A segunda linha de argumentação da qual são culpados ambos Healy e o SI, é de que só pode haver um Stalin! Por quê? Pode haver mais de um ditador fascista porque eles tem uma base de classe nos capitalistas, mas Stalin, aparentemente, não teria base de classe alguma.

Idealizando e encobrindo a liderança de Tito em razão do seu rompimento com Moscou, a liderança britânica suprimiu todas as críticas fundamentais a essa tendência, e considera a Iugoslávia sob essa luz como uma ditadura do proletariado “normal”, ou seja, um Estado operário saudável com tal ou qual probleminha menor e sem importância real. Tomando como plataforma o fato de que, desde o seu rompimento com Moscou, a liderança de Tito foi compelida a pegar emprestados muitos dos argumentos do arsenal do marxismo em sua crítica à oligarquia de Moscou, eles não veem o conflito como um reflexo da luta nacional contra a opressão e a exploração exercida pelos burocratas de Moscou, e como um conflito que se refletiu ao redor da Europa Oriental e mesmo dentro das fronteiras da União Soviética – a Ucrânia, os Tártaros da Crimeia, a República Alemã do Volga, etc. A única diferença importante é a possibilidade de uma resistência bem sucedida em razão do caráter relativamente independente do aparato de Estado na Iugoslávia.

Apesar de ziguezagues para a esquerda, em parte demagógicos e em parte sinceros, a base fundamental do regime na Iugoslávia permanece como antes: socialismo em um só país (e dessa vez a Iugoslávia), manobrando entre o imperialismo mundial e o bloco russo (graças ao qual a Iugoslávia pode se manter). O regime permanece totalitário – não existe democracia operária.

A tentativa de desculpar essas ideias como um mero detalhe secundário do stalinismo é criminosa e falsa. Algumas críticas corretas ao regime de Moscou não transformam o regime de Tito, assim como algumas autocríticas corretas feitas pela Cominform não mudam a natureza do regime nos países onde a Cominform mantém o poder.

Essa crise no seio do stalinismo torna o problema de construir a Quarta Internacional mais complexo do que antes. A criação de novos Estados sob domínio stalinista – independentes ou semi-independentes de Stalin – adicionou mais confusão às mentes da classe trabalhadora mundial. A Quarta Internacional, enquanto tira vantagem da disputa dentro do stalinismo para poder expor a verdadeira natureza dessa doença bonapartista, não deve fazer concessões ao neoestalinismo. Enquanto dá total apoio à luta pela autodeterminação por parte da nação iugoslava contra os brutais ataques do chauvinismo grão-russo, a Quarta Internacional não deve, por conta disso, apoiar a posição política de Tito.

Enquanto representa as aspirações nacionais das massas iugoslavas, a liderança de Tito – em uma escala menor – usa métodos que cumprem um papel similar aos da casta do Kremlin. Não deve ser esquecido que o racha não partiu do lado iugoslavo, mas que foi imposto à burocracia iugoslava pela tentativa implacável e sem ressalvas de dominação por Moscou. Desde o rompimento não houve mudança significativa nos princípios e métodos dos iugoslavos… Como poderia ser de outra forma? Socialismo em um só país permanece o eixo ao redor do qual circulam as ideias dos iugoslavos. Para eles, a degeneração da burocracia russa é puramente um fenômeno acidental, o qual eles não explicam de um ponto de vista marxista, a partir do qual o ser determina a consciência. Nem poderia ser de outra forma – em uma escala menor, as condições da Iugoslávia são similares àquelas na União Soviética (país atrasado, proletariado pequeno e minoritário, ambiente hostil, imperialismo e stalinismo). Causas parecidas produzem resultados parecidos. Na política interna e externa, a posição dos iugoslavos não é fundamentalmente diferente da do stalinismo em suas fases iniciais. A longo prazo ela terá as mesmas consequências.

Ao invés de tomar vantagem do conflito para demonstrar a verdadeira natureza do stalinismo e os atributos vitais necessários de um Estado operário saudável, [eles] se converteram em uma réplica dos “Amigos da União Soviética”. A organização se tornou uma agência turística produtora de álibis para a Iugoslávia.

Desde o nascimento da Socialist Fellowship [Associação Socialista] de Ellis Smith, até a crise da Coreia, a organização passou por um período de colaboração e acomodação a vários elementos dentro do Partido Trabalhista. Estes variaram desde os reformistas de esquerda socialdemocratas, tais como Ellis Smith e Brockway, até companheiros de viagem stalinistas, como Tom Braddock e Jack Stanley. Na ausência de uma genuína ala esquerda, a liderança de Healy ajudou a construir uma sombra. Para poder manter essa sombra, eles foram forçados a se acomodar a ela. Assim, quando a Socialist Fellowship formulou sua política depois das eleições gerais, a liderança [de Healy] cumpriu um papel chave em escrever um programa que era falso e oportunista.

Ao mesmo tempo, ilusões se disseminaram sobre os assim chamados líderes operários, Ellis Smith, Braddock, etc.

Na primeira crise séria, quando surgiu a disputa da Coreia, o racha inevitável dessa organização aconteceu, com Ellis Smith e companhia se retirando. Com a saída dos importantes reformistas de esquerda, o grupo desviou-se mais abertamente para a direção de acomodar-se à ala dos companheiros de viagem stalinistas. Eles permanecem no que restou da Socialist Fellowship com uma posição semi-stalinista.

No fundo, os trotskistas formam o esqueleto dos membros, da organização e da atividade da Socialist Fellowship.

Os trotskistas tem gasto as suas energias propagando uma política oportunista ao invés de construírem um núcleo revolucionário ao redor de si.

“Socialist Outlook”

Durante o período de desenvolvimento da Socialist Fellowship, o jornal Socialist Outlook [Perspectiva Socialista] cumpriu a tarefa que tomou para si: “refletir a confusão da ala esquerda” (Documento da Conferência de 1949). O papel político do Socialist Outlook era determinado não pelos seus editoriais anêmicos, mas pelos artigos principais daqueles parlamentares e demais, cujas políticas eram transparentemente de tentar adoçar a política amarga da ala direita.

Ao mesmo tempo, os editoriais eram coloridos pela necessidade de “não ofender” os companheiros de viagem stalinistas do Comitê Editorial.

O editorial produziu uma linha de “crítica” que é digna dos notórios “Amigos da União Soviética”: “Nós estamos longe de sugerir que o governo russo em todos os momentos e sob todas as condições apoie os movimentos progressivos”. “Há uma característica distinta de política de poder na tentativa de Moscou de assegurar a paz na Coreia em troca de um assento extra no Conselho de Segurança [da ONU]”. Esses seriam exemplos de “críticas trotskistas sérias”! Entre tais declarações – que tem uma característica muito distinta – está o seguinte: “A política externa russa é determinada pelo que o governo daquele país considera que está nos interesses da União Soviética, mas isso, como o caso da Índia provou, nem sempre coincide com o que é do interesse da classe trabalhadora internacional. Ou mesmo, em longo prazo, no que é do interesse da própria União Soviética”!

Na base dessa acomodação política, a tendência de Healy se vangloria na Grã-Bretanha e internacionalmente de seus sucessos numéricos e organizativos em “construir a ala esquerda” do Partido Trabalhista. Afirmações que foram largamente sem fundamentação nos fatos.

Mesmo com os seus esforços mais energéticos, ela permanece uma organização sem importância e semifictícia. Se eles não a impulsionassem, ela iria desmoronar imediatamente.

O Socialist Outlook é um “fórum” sem nenhuma tendência revolucionária refletida nele. Nem a crítica revolucionária é permitida no jornal. Por exemplo, o ataque de S.L. [Sam Levy] ao editorial de abril e o ataque de M.L. [Marion Lunt] à posição da Iugoslávia não foram publicados, enquanto grandes quantidades de material completamente reformista e stalinista foram publicadas. A esse respeito ele se compara negativamente mesmo com o [jornal] centrista Socialist Leader. O ponto importante a manter em mente é que as forças dominantes no Socialist Outlook são de trotskistas.

Sendo o Socialist Outlook em realidade o jornal do grupo, ele deveria ser o organizador do grupo, mas ao invés disso, se tornou uma fonte para influência stalinista no Partido Trabalhista.

Toda a linha do jornal e a política desse agrupamento tiveram sua expressão mais crassa no notório suplemento sobre a Coreia. Não houve qualquer crítica ao papel da burocracia stalinista. Houve um acobertamento do papel dos iugoslavos na ONU. Enquanto apoiava corretamente a luta [da Coreia] do Norte, não havia uma sílaba sobre o estabelecimento stalinista.

Na Liga da Juventude [ala jovem do Partido Trabalhista], onde há as condições mais favoráveis para o trabalho, nós não vemos nenhuma proposição trotskista de disseminar nossas ideias e ganhar para elas apoio, mas o conceito de controle organizativo da Liga. Em sua luta na Liga da Juventude, enquanto corretamente luta por demandas democráticas e organizativas, isso é feito a custa da posição política. Toda a relação com o Partido Trabalhista é stalinista, de controlar aparatos, a Socialist Fellowship, o Socialist Outlook, toda a Liga da Juventude, a custo das ideias políticas e do programa. Entretanto, ele não tem nem mesmo a vantagem de que, lado a lado com apêndices organizativos, os stalinistas simultaneamente organizam um poderoso partido e uma imprensa própria de forma independente.

A política liquidacionista torna-se a mistura de bandeiras, política e programa.

Falta de democracia interna

Sem um senso de proporção e ampliando perigos, a conferência [da organização] foi realizada sob as condições mais desvantajosas. Com exceção de alguns favorecidos, apenas delegados tiveram o direito de comparecer. Membros individuais, sob o argumento de motivo de segurança, tiveram negado seu direito de comparecer ou mesmo de saber onde se realizaria a conferência.

O documento dos partidários do Capitalismo de Estado teve sua publicação recusada depois de o Secretariado Geral ter aceitado tal pedido, sob a justificativa de que o seu autor havia sido expulso (ex-poste facto). Isso constituiu uma provocação que, é claro, ajudou os defensores do Capitalismo de Estado. Eles foram uma tendência representada na conferência e deveriam ter tido o direito de publicar um documento que expressasse suas ideias, mesmo que o autor estivesse fora da organização.

O documento da filial de Liverpool não foi publicado sob a justificativa de que ele foi apresentado tarde demais, embora algumas das suas ideias tenham sido incorporadas no documento de última hora, sem divulgação.

O principal documento “com emendas” era, na verdade, um documento inteiramente novo. Ao adicionar novas ideias em um amálgama com o velho, só poderia resultar em desorientação e confusão dos membros. A liderança apresentou um documento inteiramente novo enquanto ao mesmo tempo afirmava que só tinha feito emendas no antigo. Isso é um truque típico de um Zinoviev.

Na conferência, a discussão política e os votos aconteceram sob uma atmosfera de ameaças disciplinares. Na resolução sobre reformismo os delegados foram informados de que qualquer um que votasse contra a sua implementação seria expulso, apesar do fato de que alguns delegados discordavam do documento. Em todas as organizações bolcheviques, os membros tem o direito de votar contra documentos, embora a decisão da maioria determine automaticamente a política. A resolução sobre a implementação foi proposta para forçar a minoria a votar por uma resolução à qual eles se opunham, sob a ameaça de expulsão. Essa atitude ultimatista tem mais em comum com o monolitismo stalinista do que com o bolchevismo.

Eles não aproveitaram a oportunidade para permitir a ventilação das ideias dos partidários do Capitalismo de Estado, tendo uma ampla discussão na conferência, apesar do fato de que um número crescente de membros estava se tornando simpáticos à teoria do Capitalismo de Estado em reação à linha semi-stalinista da direção.

Arbitrariamente e burocraticamente, a direção dissolveu e misturou as filiais, sem levar em conta as necessidades do partido, mas apenas as necessidades da panelinha. Por exemplo, o Secretário Geral foi para a filial de Kilburn e decretou que a filial estava dissolvida para poder “separá-la de influências ‘malignas’”. Isso não foi ratificado pelo Comitê Executivo (E.C.) até uma semana depois.

Em Liverpool, houve uma tentativa deliberada de rachar a filial em dois, por propósitos de dividir a “família Deane” do resto dos camaradas de Liverpool.

Filiais foram deliberadamente isoladas umas das outras como forma de facilitar o controle desde o centro. Não houve reconhecimento do que estava sendo feito na organização como um todo, a correspondência entre as filiais foi restringida e as declarações que vieram através do C.E. tinham o propósito específico de aprovar as ações do C.E. Filiais e indivíduos que discordavam eram ameaçados de expulsão ou atacados violentamente como camaradas antipartido.

Como consequência desse regime, o descontentamento político foi obrigado a refletir-se tanto na infração da disciplina como na saída de membros.

A única resposta à infração de disciplina foi a expulsão imediata (Percy Downey em Birmingham). A decisão de expulsar foi levada às filiais para ratificação. Aqueles que votaram contra a decisão do C.E., sob o argumento de que toda uma discussão era necessária e que essas violações eram um resultado da falta de discussão política e da falta de democracia dentro da organização, foram também imediatamente expulsos (Birmingham, West London). Assim, eles insistiram no princípio monolítico da unanimidade.

Camaradas que lideravam a oposição, como J.D. [Jimmy Deane] e S.L. [Sam Levy] e que eram membros do Comitê Nacional foram expulsos sob pretextos sem solidez ou por infrações técnicas de disciplina.

Ao restringir os direitos dos membros, ao usar argumentos técnicos, pela atitude ditatorial da direção e pela intimidação geral dos membros, o grupo encolheu. Devido ao número de membros que saíram ou às expulsões, ele se reduziu a um matadouro. Nas províncias, ele se tornou um mero esqueleto. Em Londres, os membros estão perdendo a confiança em tal liderança. Essas foram grandes perdas.

Apenas os camaradas mais jovens e inexperientes e os elementos rígidos da direção permanecem. O fato de que um número crescente de membros está deixando o grupo, somado ao fato da expulsão de camaradas de liderança, um deles membro do Comitê Nacional e o único representante da oposição nesse importante órgão, mostra que é ao mesmo tempo impossível e deixa de ter algum sentido lutar por uma liderança alternativa em tal caricatura de uma organização bolchevique.

Um apelo

Camaradas, essas questões que nós levantamos não são leves. Elas são questões fundamentais, que afetam o destino do trotskismo, nacionalmente e internacionalmente. Nós não chegamos facilmente à decisão de romper com essa tendência que se desintegra ideológica e organizativamente. Se a preciosa herança das ideias deixadas por Leon Trotsky deve ser preservada, expandida e desenvolvida, é necessário romper com aqueles que seguem os passos do stalinismo. Hoje, grupos da Quarta Internacional, devido a vários fatores históricos, são pequenos e fracos. É ainda mais necessário, então, que os princípios fundamentais do trotskismo devam ser mantidos intactos. Hoje, a principal tarefa é uma de preparação ideológica para o desenvolvimento de uma organização de massa em uma etapa futura. Com um programa de neoestalinismo, apenas desastre pode ser preparado. Apenas o treinamento de quadros revolucionários desenvolvidos pode preparar o caminho para o futuro.

Com a situação mundial e as condições existentes como estão, é impossível prever um desenvolvimento de um movimento trotskista de massas na Grã-Bretanha muito rapidamente. Isso vai exigir anos de trabalho paciente.

Nessa etapa, a principal atividade do grupo terá de ser dentro do movimento trabalhista e nas organizações de massa da classe trabalhadora, como um grupo entrista. Uma ala esquerda irá sem dúvida se desenvolver no Partido Trabalhista nos próximos anos. Mas o esforço tolo de criar uma ala esquerda saída do nada e declarar que a ala esquerda já existe só demonstrou a impotências dos seguidores de Healy, a não ser na própria imaginação deles. Para poder preparar a ala esquerda é necessário agora fazer críticas sérias e equilibradas de todas as tendências no Partido Trabalhista, a serem veiculadas na imprensa e dentro do Partido Trabalhista. Ao mesmo tempo, uma exposição implacável do stalinismo, assim como do imperialismo, devem ser levadas adiante consistentemente, para impedir a possibilidade de que seções do Partido Trabalhista em desespero sejam ganhas para o stalinismo.

Para a condução do trabalho, democracia escrupulosa e total liberdade de discussão dentro da organização devem ser mantidas. Sem isso não será possível para um agrupamento revolucionário ser criado e sobreviver no difícil período que existe pela frente.

Por todas essas razões nós fazemos um apelo para todos os camaradas sinceros no movimento para juntarem-se a nós nessa tarefa. Somente dessa forma pode ser criado um movimento com vida e de luta. Trabalho cotidiano paciente dentro do Partido Trabalhista vai atingir resultados se for conduzido em uma base correta. Os anos que estão pela frente podem ser muito frutíferos. As tarefas são difíceis, mas as oportunidades para uma perspectiva de longo prazo são sem limites. Em frente pela construção da tendência revolucionária na Grã-Bretanha!

A Juventude do SWP e a Legalização do Aborto (1958)

Garota de 17 anos morre de aborto
Onde estão os verdadeiros culpados?

Por Judy Mage
[Originalmente impresso em The Young Socialist, Vol. 1 #5, publicação da juventude de Nova Iorque do Socialist Workers Party (SWP) norte-americano, de fevereiro de 1958. Tradução realizada pelo Reagrupamento Revolucionário em março de 2013].
“Garota de 17 anos encontrada morta: vítima de um aborto mal feito”. Assim estava escrito nas manchetes dos jornais de Nova Iorque em uma noite fria de dezembro passado. Lendo mais, descobrimos mais uma cruel e típica história: uma gravidez indesejada, o namorado ajudante, o “cirurgião”, nesse caso de uma recepcionista, a operação no chão de um quarto de hotel, a moça morta dentro de meia-hora, um enterro secreto em uma sepultura cheia de lixo; e depois, a descoberta, e as acusações de homicídio não premeditado.

Sim outra tragédia, outra vítima – de que? De um “aborto mal feito” de uma recepcionista operada em um chão sujo com instrumentos rústicos? Ou então outra vítima de uma lei que ilegaliza essa operação, transformando o que poderia ser uma cirurgia pequena e relativamente segura, se realizada em condições completamente antissépticas por um especialista treinado, em algo perigoso, muitas vezes danoso e algumas vezes fatal.
QUANTAS VÍTIMAS?
Quão perigoso? Especialistas estimam que de 100 a 150 mulheres e meninas morrem a cada semana nos Estados Unidos como resultado direto de “abortos criminosos”. Estimativas do número total de abortos ilegais que ocorrem nesse país cada ano variam de aproximações conservadoras de 330 mil – cerca de mil por dia – até mais de dois milhões.
São as mulheres e meninas mais pobres, é claro, as principais vítimas do aborto de “açougue”, também conhecido medicamente como “aborto suicida”. Aqueles com mais dinheiro para gastar conseguem mais facilmente um médico “de verdade” que pode incrementar sua renda consideravelmente em troca de correr um pequeno risco. Os preços atuais, de acordo com um estudo feito há dois anos, variam de $250, uma média baixa entre os médicos, até $400, $600 e até mais que $1000.
Particularmente chocante para qualquer um que faça alguma pesquisa sobre esse assunto, é descobrir que entre oitenta e noventa por cento dos abortos ilegais são realizados não em adolescentes selvagens, “delinquentes” (ou mesmo em adolescentes gentis e ingênuas, como a de 17 anos descrita acima), mas em mulheres casadas, a maioria das quais já são mães. Além disso, alguns pesquisadores estimam que metade dos abortos ilegais são realizados em mulheres que nem mesmo estão grávidas.
Qual é a solução? Em alguns países, avançou-se ao ponto de permitir abortos por outros motivos que não “terapêuticos”. Na Dinamarca, Áustria, Cuba, Suíça e na União Soviética (depois de um retrocesso de 20 anos), Suécia, Japão e alguns outros países, motivos legais incluem fatores econômicos, psiquiátricos, eugênicos e outros de ordem social.
Nos Estados Unidos, oponentes de qualquer “relaxamento” nas leis de aborto levantam uma série de argumentos, mas há dois que predominam dentre os outros. O primeiro é mantido em particular pela Igreja Católica, que diz que já que o embrião é uma “pessoa com vida”, seria um pecado tirar sua vida. Pode-se contestar a consistência de uma organização que permaneceu calada quando embriões sem batismo foram destruídos em grandes quantidades em Hiroshima e Nagasaki; e que justificou e continua justificando o assassinato, em grandes e pequenas guerras, de centenas de milhares de “pessoas com vida” que inconvenientemente estão fora do útero.
GUARDIÕES DA MORAL
O outro argumento, também levantado pela Igreja, mas por muitos outros também, diz respeito à torrente de promiscuidade, especialmente entre a juventude, em que presumivelmente se resultaria caso o medo de uma gravidez deixasse de existir como obstáculo. Mas com que direito essas pessoas se declaram árbitros do que é certo e errado? Quem os elegeu? Por que não deixar os jovens decidirem por si mesmos quais seus padrões de moralidade devem ser, ao invés de impor o padrão de alguém sobre eles?
É verdade que a legalização do aborto não é a resposta completa. Ainda mais importante é o encorajamento de uma forma de “medicina preventiva”, ou seja, controle de natalidade. Embora a disseminação de informação sobre controle de natalidade não seja ilegal na maior parte dos Estados Unidos, a maior agência nesse campo, a secretaria de Planejamento Familiar, encontra grandes barreiras organizadas, novamente, pela Igreja Católica. Embora exista outro importante fator atrapalhando o sucesso de um controle da natalidade difundido e acessível, que é a ausência que um contraceptivo realmente simples, barato e acessível.
As pesquisas ainda continuam naquilo que é popularmente chamado de “pílula”, uma substância aplicada oralmente que seria ao mesmo tempo segura e confiável em prevenir a concepção. A secretaria de Planejamento Familiar mantém um programa de pesquisa, mas os recursos aplicados nisso são extremamente pequenos. Como uma mulher envolvida nessa pesquisa colocou: “Nós poderíamos ter a resposta dentro de dez anos. O que é preciso é um Projeto Manhattan – um programa intensivo!”.
Mas não há programa intensivo – e na ausência da adequada informação e orientação sobre controle da natalidade, na ausência de leis de aborto humanas e realistas, garotas de 17 anos e mães de 35 anos vão continuar a morrer como vítimas de facões desajeitados.

James P. Cannon sobre Anarquismo

James P. Cannon Sobre Anarquismo

[Esta carta de James P. Cannon à dirigente do SWP norte-americano, Myra Tanner Weiss (companheira de Murray Weiss), foi traduzida a partir da versão publicada como um suplemento de 1917” No. 20, revista da outrora revolucionária Tendência Bolchevique Internacional. A carta foi publicada originalmente em “Os Primeiros Dez Anos do Comunismo Norte-americano”. Sua tradução para o português foi realizada pelo Reagrupamento Revolucionário em abril de 2013].

Los Angeles, Califórnia
29 de Julho de 1955
Querida Myra:
Eu recebi sua carta de 9 de julho. Enviar meu livreto sobre o IWW [1] foi realmente um movimento astuto da minha parte. Eu sabia que meu livreto sobre o IWW iria tocar a velha libertária dentro de você.
Murry pode estar parcialmente certo em interpretar meu envio do livreto como um reconhecimento de que você é uma “anarquista”. Mas ele está totalmente errado em desaprovar o termo como tal. Está tudo bem com o anarquismo quando está sob o controle de uma organização. Isso pode parecer uma contradição em termos, mas se não fosse pelo anarquismo dentro de nós enquanto indivíduos, nós não precisaríamos da disciplina de uma organização. O partido revolucionário representa uma unidade dialética de opostos. Por um lado ele é, de fato, a fusão dos instintos rebeldes de indivíduos com o reconhecimento intelectual de que sua rebelião só pode ser efetiva se eles estiverem combinados e unidos em uma única força de ataque, que apenas uma organização disciplinada pode fornecer.
Em meus dias de juventude eu era bastante simpático aos anarquistas, e eu mesmo era um anarquista por natureza. Eu realmente amava aquela palavra “liberdade”, que é a principal palavra no vocabulário anarquista. Mas meu impulso de ir até o fim com eles era bloqueado pelo reconhecimento de que a reorganização da sociedade, que é a única forma de tornar a verdadeira liberdade possível, não pode ser atingida sem organização, e que essa organização significa disciplina e a subordinação do indivíduo à maioria. Eu queria ter o meu objetivo e cumpri-lo também – na verdade, eu ainda tenho a mesma ideia – mas eu ainda não tinha sido capaz de descobrir exatamente como isso poderia ser feito.
As pessoas que cresceram desde a Revolução Russa e da Primeira Guerra Mundial não sabem e não podem ter uma ideia real de como era o movimento anarquista antes desse tempo, antes de seus pressupostos teóricos terem sido postos à prova. Naquela época o anarquismo era tido como a forma mais extrema de radicalismo. Os anarquistas tinham algumas pessoas maravilhosas; eles reivindicavam a herança dos mártires de Haymarket [2], e eles eram altamente respeitados em todos os círculos radicais. Quando Emma Goldman e Alexander Berkman vinham para Kansas City em suas turnês de seminários, nós libertários costumávamos nos inscrever e ajudar a divulgar, como algo naturalmente esperado.
Goldman era uma grande oradora, uma das melhores que eu já ouvi, e Berkman era uma figura heróica de pura nobreza. Foi ele quem organizou a primeira rede de comitês do movimento em defesa de Tom Mooney [3], e eu lembro afetuosa e orgulhosamente do fato de que eu fui um membro ativo desse primeiro comitê organizado por Berkman. (Eu e Browder!)
Os impulsos dos anarquistas originais eram maravilhosos, mas sua teoria era falha, e não poderia sobreviver ao teste da guerra e da revolução. É vergonhoso lembrar que os anarquistas espanhois se tornaram ministros em um gabinete burguês durante a Revolução Espanhola; e que os velhos anarquistas de Nova York, ou o que sobrou deles, se tornaram socialpatriotas durante a Segunda Guerra Mundial. Nada é tão fatal quanto uma falsa teoria.
Se eu me recuperar algum dia, eu escreverei algo sobre o movimento anarquista nos Estados Unidos, sobre como ele era nos tempos de antes da Primeira Guerra Mundial.
. . .
Então você realmente tem vivido como uma funcionária em tempo integral do partido e como dona de casa. É melhor você não deixar Murry ler meu capítulo de “America’s Road to Socialism” [O Caminho dos Estados Unidos para o Socialismo] sobre a futura libertação das donas de casa de suas cozinhas. Ele pode ficar tão assustado com a possibilidade ao ponto de se virar contra o socialismo, e nós não queremos arriscar isso.
O clima está bom e fresco aqui hoje, como de costume nessa época do ano. Como está o clima em Nova York? Os jornais de Los Angeles tem publicado um monte de matérias assustadoras sobre o calor devastador em todas as partes do país fora da Califórnia. Como é o mau tempo? Eu não consigo me lembrar.
Fraternalmente,
J. P. Cannon
Notas da Tradução
[1] Industrial Workers of the World – Trabalhadores Industriais do Mundo. Uma histórica federação anarcossindicalista norte-americana da qual James P. Cannon foi militante em seus primeiros anos como ativista político.
[2] Referência às vítimas de um brutal ataque policial a um comício sindical em Chicago, em 1886.
[3] Tom Mooney foi um líder operário condenado injustamente por um atentado a bomba em São Francisco em 1916. Mooney foi finalmente solto e suas acusações retiradas em 1939.
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