Lenin e o Partido de Vanguarda (1)

Kautskismo e as Origens da Socialdemocracia Russa 

 
Recentemente o Grupo Marxista Internacional britânico (GMI) e os Socialistas Internacionais (hoje Partido Socialista dos Trabalhadores – SWP/IST), dois dos maiores grupos da “extrema esquerda” britânica, decidiram revisar a história dos Bolcheviques. Esses grupos tentam negar ou ofuscar o princípio de um partido de vanguarda com centralismo democrático apontando elementos da socialdemocracia clássica mantidos pelos Bolcheviques antes de 1914 e também manobras táticas contra os Mencheviques.
 
O GMI, seção britânica do pseudo-trotskista Secretariado Unificado, realizou a memorável façanha de tornar Lenin um conciliador que preza pela unidade acima de tudo, baseando-se no fato de que, até 1912, os Bolcheviques e Mencheviques eram formalmente tendências dentro de um Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR) unitário. O alvo particular desse revisionismo é justificar uma grande manobra de unidade na esquerda britânica. Sua linha é de que “as diferenças políticas que Lenin e Trotsky consideraram que poderiam ser contidas em uma organização única eram muito maiores do que aquelas de dividem a esquerda revolucionária na Grã-bretanha hoje” (Red Weekly, 11 de Novembro de 1976). Para um entendimento maior do revisionismo do GMI e seu propósito tático batido, leia “GMI Transforma Lenin em um Menchevique”, em Workers Vanguard Número 164, 1 de Julho de 1977.
 
A mais ambiciosa releitura da história dos Bolcheviques é a de Tony Cliff, líder de longa data do movimentista e reformista SWP/IS. A corrente de Cliff carrega hoje um manto de “esquerda”; algumas vezes eles até aparecem em protestos com retratos de Lenin e Trotsky. Mas esse grupo se perdeu há muito tempo quando, em 1950, sob a tensão de intensa opinião pública anti-comunista, se recusou a defender a Coréia do Norte contra o imperialismo dos EUA e rompeu com o movimento trotskista em cima desta questão. E ainda assim, esta completamente descarada “CIA socialista” agora se propõe a reinterpretar o que Lenin realmente quis dizer em O Que Fazer? 
 
No passado, Cliff foi um proeminente e explícito defensor anti-leninista do menchevismo. O seu livro de 1959, Rosa Luxemburgo, atesta: “Para marxistas nos países industriais avançados, a posição original de Lenin serve muito menos como um guia do que a de Rosa Luxemburgo”. Esta declaração ousada foi retirada da segunda edição (1968), mas a posição substantiva de Cliff se manteve a mesma.
 
Apesar disso, os seguidores de Cliff não fazem nada além de seguir a última moda. E em contraste com os anos de 1950 e 60, o bolchevismo “rígido” está agora “na moda” entre jovens de esquerda. Então Cliff escreveu recentemente uma aparentemente simpática biografia de Lenin, da qual dois dos três volumes planejados já foram publicados. Aqui Cliff apresenta Lenin à sua própria imagem, como um movimentista eclético e nacionalmente limitado. A mensagem central de Cliff é de que não existem princípios e nem mesmo normas sobre a questão organizativa:
 
“A atitude de Lenin com relação a formas organizacionais sempre foi concreta, por isso a sua força. Ele nunca foi enganado por esquemas abstratos, dogmáticos de organização, mas esteve sempre pronto a mudar a estrutura organizativa do partido para refletir o desenvolvimento da luta de classes.
“A organização é subordinada à política. Isso não significa que não tenha influênciaindependente na política. Mas ela é, como deve ser, subordinada às necessidades concretas de cada dia. A verdade sempre é concreta, como Lenin reiterou diversas vezes. E isso também se aplica às formas organizativas necessárias para realizar tarefas concretas.” [ênfase no original]
 
Em outras palavras, o que quer que funcione num determinado período, faça. 
 
Leninistas verdadeiros reconhecem a prevalência dos princípios encarnados nos primeiros quatro congressos da Internacional Comunista acima da prática bolchevique anterior a 1914. Além do mais, Trotsky sistematizou e aprofundou os conceitos leninistas desenvolvidos ao longo do turbilhão revolucionário entre 1917-23 ao construir a Quarta Internacional. Negar a evolução do bolchevismo de 1903 até 1917 é apagar a oposição principista do leninismo contra o kautskismo. Apelar à prática bolchevique pré-1914 contra o centralismo democrático da Quarta Internacional de Trotsky é equivalente a citar a “ditadura democrática do proletariado e do campesinato” de Lenin contra a “revolução permanente” de Trotsky.  
 
O Partido Kautskista de Toda a Classe 
 
O primeiro volume da biografia de Cliff, cujo subtítulo é “Construindo o Partido”, termina em 1914. Esse trabalho menciona Kautsky exatamente duas vezes e a Segunda Internacional nenhuma! Essa inacreditável omissão já valeria para desacreditar o livro de Cliff como um estudo sério da posição de Lenin sobre a questão do partido.
 
Da oferta de August Bebel em 1905 para mediar o racha bolchevique-menchevique até a “conferência de unificação” marcada pelo escritório da Internacional Socialista na véspera da Primeira Guerra Mundial, a liderança da Internacional prestou um papel significativo na vida interna do POSDR. Os elementos pró-unidade em particular, acima de todos Luxemburgo e Trotsky, foram chamados a conseguir pela Internacional centrada na Alemanha o que não tinham conseguido no movimento russo.
 
Lenin era um revolucionário socialdemocrata e, como o próprio Cliff nota no segundo volume, Kautsky “era o único líder socialista vivo que Lenin respeitava profundamente”. (Isso na verdade é um exagero: em 1905, quando Kautsky apoiou os Mencheviques, Lenin o criticou duramente). Um entendimento da posição de Lenin sobre a questão do partido deve, então, começar com a posição ortodoxa de Kautsky; essa era a doutrina do “partido de toda a classe” ou “uma classe – um partido”. O conceito de Kautsky de um “partido de toda a classe” não significava o recrutamento de toda a população proletária para o partido. Ele reconhecia que os ativistas políticos na classe trabalhadora seriam uma pequena minoria. Nenhum socialdemocrata negava que o critério para ser membro envolvia certo nível de consciência socialista, ativismo e disciplina. O que a doutrina de Kautsky significava era que todas as correntes que se reivindicavam socialistas deveriam estar em um partido unitário. Kautsky replicava que socialdemocratas revolucionários poderiam se unir e mesmo ter uma colaboração com reformistas não-marxistas. Assim, a liderança do Partido Socialdemocrata Alemão (SPD) por vários períodos colaborou de forma próxima com o declaradamente reformista, eclético socialista francês Jean Jaures.
 
A liderança do SPD era imensamente orgulhosa de sua unidade disciplinada pelo partido, que eles reconheciam ser a sua maior fonte de força. Bebel/Kautsky desempenharam um papel decisivo na reunificação dos socialistas franceses em 1905, superando o racha entre o Partido Socialista Marxista da França, liderado por Jules Guesde, e o reformista Partido Socialista Francês de Jaures.
 
Durante a campanha para reunir os franceses, a Internacional adotou a doutrina de “uma classe – um partido” em conformidade com a resolução de seu Congresso de Amsterdã:
 
“Para que a classe trabalhadora possa estender toda a sua força na luta contra o capitalismo é necessário que em cada país onde existirem partidos burgueses de diversos tipos, haja apenas um partido socialista, como existe apenas um proletariado. Dessa forma, é o dever imperativo de todos os camaradas e organizações socialistas fazer o esforço para construir essa unidade baseada nos princípios estabelecidos nos congressos internacionais, uma unidade necessária aos interesses do proletariado, antes dos quais são esses camaradas responsáveis, assim como pelas consequências fatais de uma violação continuada”. [ênfase no original] 
– reproduzido em Olga Hess Gankin e H.H. Fisher, Os Bolcheviques e a Guerra Mundial(1940) 
 
Antes da Primeira Guerra Mundial, Lenin nunca desafiou o princípio acima e o afirmou numa ocasião. Quando, em 1909, os Bolcheviques expulsaram a ultra-esquerda Otzovita (os “Ultimatistas”) dos seus quadros, Lenin justificou isso contrastando a exclusividade de uma tendência com a inclusividade de um partido socialdemocrata:
 
“Em nosso partido o bolchevismo é representado pela tendência bolchevique. Mas uma tendência não é um partido. Um partido pode conter uma gama inteira de opiniões e correntes de pensamento, cujos extremos podem ser diretamente contraditórios. No partido alemão, lado a lado com a pronunciadamente ala revolucionária de Kautsky, vemos a ala ultra-revisionista de Bernstein.” [ênfase no original]
– “Relatório da Conferência do Conselho Editorial Estendido do Proletary” (Julho de 1909) 
 
Em prática na Rússia, Lenin trabalhou para criar uma vanguarda disciplinada, programaticamente homogênea e revolucionária. Até a Primeira Guerra Mundial, entretanto, ele não rompeu em princípio com a doutrina kautskista de “partido de toda a classe”. O resolvimento dessa contradição dialética foi um dos mais importantes elementos criadores do leninismo como uma doutrina histórica mundial, como o marxismo da nossa época.  
 
Análise de Kautsky sobre o Oportunismo 
 
A doutrina kautskista do partido inclusivo foi construída sobre uma teoria histórico-sociológica particular do oportunismo. Correntes oportunistas, como foi colocado, seriam uma sobrevivência da democracia pequeno-burguesa representada majoritariamente pela intelligentsia (intelectualidade) e condicionada pela imaturidade econômica e ideológica das massas trabalhadoras. O crescimento do proletariado e de sua organização acabaria por reforçar a socialdemocracia revolucionária. Assim, Kautsky podia tolerar uma corrente como a de Jaures como uma forma de transição inevitável da democracia radical para o marxismo revolucionário.
 
A identificação de Kautsky do oportunismo com correntes pré-marxistas derivava da história da esquerda européia nas décadas seguintes às revoluções de 1848. As principais correntes opostas ao marxismo (por exemplo, as de Proudhon, Lassale e Bakunin) expressavam todas o desejo de uma classe artesã de prevenir sua queda no proletariado industrial. Marx e Engels entendiam que o socialismo utópico artesão não poderia ser vencido simplesmente por propaganda e agitação, mas requeriam um verdadeiro desenvolvimento da sociedade capitalista. Foi reconhecido na Segunda Internacional que o marxismo iria superar essas correntes primitivistas, como o lassaleanismo na Alemanha e o proudhonismo na França, principalmente pela transformação da classe dos artesãos urbanos em proletariado moderno. O processo pelo qual o marxismo superou o lassaleanismo, o proudhonismo, bakuninismo, etc. se tornou para Kautsky o paradigma da luta contra o oportunismo em geral.
 
A visão do reformismo como um atraso histórico ou regressão se mostra nos objetivos limitados de Kautsky na controvérsia “revisionista” com Bernstein. Ele desenhou uma linha reta entre os ingênuos reformistas pré-marxistas, como Jaures, e os conscientes revisores do marxismo. Numa carta de 23 de Maio de 1902 para Victor Adler, Kautsky defendeu a liderança socialista belga da acusação de revisionismo com o fundamento de que eles nunca tinham sido marxistas, para começar, e nem fingiam ser:
 
“Eu mantenho uma atitude inteiramente sem preconceitos em relação a eles; o palavreado sobre o seu revisionismo não me exalta. Eles não tem nada para revisar, porque eles não têm teoria. O socialismo eclético e vulgar para o qual os revisionistas gostariam de reduzir o marxismo é algo além do que eles [os socialistas belgas] sequer começaram a desenvolver. Proudhon, Schaffle, Marx – são todos um para eles, sempre foi assim, eles não retrocederam na teoria e eu não tenho motivo para censurá-los.”
– citado em George Lichtheim, Marxismo (1961) 
 
O objetivo de Kautsky na controvérsia “revisionista” não ela limpar a Segunda Internacional de tendências, ou mesmo de práticas reformistas, mas preservar a integridade doutrinal do campo marxista. Se isso fosse atingido, acreditava Kautsky, o desenvolvimento da luta de classes acabaria por garantir o triunfo da socialdemocracia revolucionária.
 
Kautsky localizava a fraqueza da socialdemocracia revolucionária no atraso do proletariado, que refletia tanto uma contínua identificação com a pequeno-burguesia quanto uma falta de confiança no movimento dos trabalhadores:
 
“Mesmo após um grande tempo tirados da classe dos pequenos capitalistas e dos pequenos agricultores, muitos proletários carregam as conchas dessas classes sobre eles. Eles não sentem a si próprios como proletários, mas como se fossem donos de propriedade… Outros, novamente, foram mais além e reconheceram a necessidade de lutar contra os capitalistas que permanecem em antagonismo em relação a eles, mas não se sentem seguros o suficiente para declarar guerra contra todo o sistema capitalista. Estes buscam alívio nos partidos capitalistas e governos.”
– A Estrada Para o Poder (1909) 
 
Para Kautsky, o crescimento do proletariado, dos sindicatos, etc. fortalecia objetivamente as forças revolucionárias na sociedade. O que era necessário à socialdemocracia era uma paciente e pedagógica atitude com relação aos trabalhadores atrasados, embora Kautsky também reconhecesse que a consciência de classe poderia saltar durante uma crise revolucionária.
 
Com a exceção parcial de Luxemburgo, nenhum socialdemocrata no pré-guerra localizou a fonte principal do reformismo no conservadorismo da burocracia socialmente privilegiada criada pelo crescimento e força do movimento dos trabalhadores, dos partidos socialdemocratas e seus sindicatos afiliados.  
 
A Análise Sociológica de Lenin sobre o Menchevismo 
 
Lenin, seguindo a metodologia de Kautsky, considerou o menchevismo uma extensão do radicalismo pequeno-burguês do século XIX dentro do movimento dos trabalhadores. Porque considerava os Mencheviques uma tendência “intelectualista”, de certa forma estando de fora do movimento dos trabalhadores, ele podia romper com eles sem postular a existência de dois partidos socialdemocratas competidores, um revolucionário, o outro reformista. Lenin estava convencido de que o crescimento da organização socialdemocrata entre o proletariado russo iria garantir o triunfo do bolchevismo.
 
Lenin considerava o grupo de Martov de 1903 como uma expressão das atitudes e valores da velha, defensora de liberdades e individualista intelectualidade revolucionária, como uma rebelião do espírito dos círculos de debate contra a construção de um partido real de trabalhadores:
 
“Nós consideramos, entretanto, que a doença que afeta o partido é um problema de dores crescentes. Nós consideramos que a causa por trás dessa crise é a transição da forma de círculos de debate para a forma de partido, a forma de vida da socialdemocracia; a essência de sua luta interna é o conflito entre o espírito de círculos de debate e o espírito de partido. E, consequentemente, só nos livrando dessa doença, o nosso partido pode se tornar um partido verdadeiro….”
“Finalmente, os quadros da oposição tem em geral sido desenhados principalmente por aqueles elementos em nosso partido que consistem em intelectuais. A intelectualidade é sempre mais individualista que o proletariado, devido às suas próprias condições de vida e trabalho, que não envolvem diretamente uma combinação de esforços em larga escala, não a educam diretamente através do trabalho coletivo organizado. Os elementos intelectuais, então, acham difícil se adaptar à disciplina da vida de partido, e aqueles que não são iguais a eles naturalmente levantam a bandeira da revolta contra as necessárias limitações organizativas.” [ênfase no original]
– “Ao Partido” (Agosto de 1904) 
 
Lenin da mesma forma analisou o liquidacionismo menchevique durante o período entre 1908-12 (oposição ao partido clandestino) em termos de intelectuais lutando contra o proletariado:
 
“Os primeiros a fugir da clandestinidade foram os intelectuais burgueses que sucumbiram à pressão contra-revolucionária, aqueles ‘companheiros de viagem’ do movimento da classe trabalhadora socialdemocrata que, como aqueles na Europa, tinham sido atraídos pelo papel libertador desempenhado pelo proletariado … na revolução burguesa. É fato bem conhecido que uma massa de marxistas deixou a clandestinidade após 1905 e encontrou lugar para si própria em todos os tipos de cantos aconchegantes legais para intelectuais.”
– Como Vera Zasulich Desenvolve o Liquidacionismo (Setembro de 1913) 
 
A análise sociológica de Lenin do menchevismo era válida até onde foi. O grupo de Martov em 1903 representava em parte os hábitos da velha intelectualidade revolucionária; leve-se em conta Vera Zasulich nessa consideração. O liquidacionismo menchevique representava em parte a fuga de intelectuais do POSDR em direção à respeitabilidade burguesa durante o período de reação. Mas o menchevismo não era primariamente uma tendência externa ao movimento operário. Os mencheviques russos anteciparam o reformismo operário da Segunda Internacional como um todo, incluindo particularmente seus partidos de massa. Foi somente durante a Primeira Guerra Mundial, em estudos que levaram a Imperialismo, que Lenin localizou a fonte do oportunismo socialdemocrata dentro do movimento dos trabalhadores – numa burocracia operária descansando no estrato mais alto da classe trabalhadora.  
 
Iskraismo 
 
O marxismo russo organizado se originou em 1883 quando Plekhanov rompeu com a corrente populista dominante para formar o pequeno grupo Emancipação do Trabalho no exílio. Durante o fim dos anos de 1880 e começo dos 90, o marxismo na Rússia consistia de círculos de propaganda locais projetados para educar uma fina camada de trabalhadores avançados. No meio dos anos de 1890, os círculos de propaganda se viraram em direção à agitação de massa intervindo em uma grande onda de greves. Essa virada foi em parte inspirada pela Liga Judaica. Solidariedade étnica permitiu à intelectualidade judaica marxista alcançar e organizar trabalhadores judeus na frente da socialdemocracia russa como um todo.
 
Em parte por causa da prisão dos mais experientes líderes marxistas (por exemplo, Lenin, Martov), a virada em direção à agitação de massa rapidamente degenerou-se em reformismo. Esta tendência, apelidada de “economicismo” por um hostil Plekhanov, limitou sua agitação a demandas sindicais simples, enquanto passivamente apoiava os esforços da burguesia liberal para reformar o absolutismo czarista. Em termos de socialdemocracia internacional, os economicistas eram hostis ao marxismo ortodoxo e consequentemente eram frouxamente associados com Bernstein na Alemanha e opossibilismo na França. No fim dos anos de 1890, o economicismo era a tendência dominante entre os socialdemocratas russos.
 
Em 1900, a segunda geração de marxistas russos (Lenin, Martov) fez uma coalizão com os fundadores (Plekhanov, Axelrod, Zasulich) para retornar a socialdemocracia russa para as suas tradições revolucionárias como encorpadas no programa do Emancipação do Trabalho. A tendência marxista revolucionária foi organizada através de jornal Iskra. Lenin era o organizador do grupo do Iskra. Ele enviou agentes pela Rússia cuja tarefa era ganhar os comitês socialdemocratas locais, ou rachá-los, caso fosse necessário. O Iskra forneceu, pela primeira vez, um centro organizador para um partido socialdemocrata russo.
 
Polemizando contra as táticas divisionistas bem-sucedidas de Lenin, os economicistas apontaram que a seção alemã não tinha procurado excluir os seguidores de Bernstein. Lenin não brigou e, de certa forma não poderia brigar pela exclusão dos oportunistas do parido socialdemocrata como um princípio. No lugar, ele justificou suas táticas de divisão por uma série de argumentos baseados na particularidade da situação do partido russo. Até a primeira Guerra Mundial, Lenin iria apelar para um ou outro aspecto particular da Rússia para justificar a construção de um partido de vanguarda programaticamente homogêneo.
 
Qual eram os argumentos de Lenin para construir o POSDR sem e contra os economicistas? O partido alemão tinha fortes tradições revolucionárias e uma liderança de autoridade. O partido russo era embrionário e poderia facilmente cair no oportunismo. A liderança alemã, Bebel/Kautsky, era revolucionária, enquanto os bernisteinianos eram uma pequena minoria; em contraste, os economicistas eram temporariamente a tendência dominante na socialdemocracia russa. Os “revisionistas” alemães aceitaram a disciplina do partido, os economicistas russos eram incapazes de aceitar a disciplina do partido. E, de qualquer forma, o POSDR não era uma organização centralizada. Esses argumentos estão expressos em O Que Fazer? (1902):
 
“O importante é notar que a atitude oportunista em relação aos socialdemocratas na Rússia é o oposto àquela na Alemanha. Na Alemanha … os socialdemocratas revolucionários estão a favor de preservar o que são: eles permanecem a favor do velho programa e das táticas que são universalmente conhecidas…. Os “críticos” desejam introduzir mudanças e, como esses críticos representam uma insignificante minoria, e como são muito tímidos e hesitantes em seus esforços revisionistas, é fácil entender os motivos da maioria em limitar-se à seca rejeição de tal “inovação”. Na Rússia, entretanto, são os críticos e os economicistas que querem expressar o que são; os “críticos” desejam que continuemos a nos considerar marxistas e que lhes seja garantida a “liberdade de criticar”, a qual eles se aproveitam ao máximo (porque, na verdade, eles nunca reconheceram nenhuma forma de laços partidários e, além disso, nunca tivemos um órgão do partido com reconhecimento geral que pudesse “restringir” a liberdade de criticar até mesmo através de aconselhamento.” [ênfase no original]
 
Como é reconhecido de forma geral, O Que Fazer? de Lenin (1902) era a declaração de autoridade do Iskraismo. Apesar de sua suposta simpatia quanto a Lenin, Cliff é por demais um movimentista e menchevique para aceitar O Que Fazer?. De fato, uma proposta central da sua biografia é discutir que a polêmica de 1902 é uma declaração exagerada, unilateral que Lenin repudiou, no seu conteúdo, posteriormente.
 
Primeiramente, Cliff vulgariza a posição de Lenin e então polemiza contra sua própria invenção fantoche:
 
“Em geral a dicotomia entre luta econômica e política é estranha a Marx. Uma demanda econômica, se é setorial, é definida como ‘econômica’ nos termos de Marx. Mas se a mesma demanda é feita contra o estado de coisas ela é ‘política’ …. Em muitos casos lutas econômicas (setoriais) não dão origem a lutas políticas (com conteúdo de classe), mas não há uma muralha da China entre as duas, e muitas lutas econômicas se tornamlutas políticas.” [ênfase no original]
 
Lenin não ataca os economicistas por serem indiferentes à política governamental. Os economicistas russos agitavam por reformas econômicas iniciadas pelo Estado e apoiavam direitos democráticos, particularmente o direito à organização. Nesse sentido eles apoiavam passivamente os liberais. Em O Que Fazer? Lenin ataca o programa político dos economicistas como encapsulado no slogan “dar à luta econômica em si mesma um caráter político”:
 
“Dar ‘à luta econômica em si mesma um caráter político’ significa, então, se esforçar para assegurar a satisfação por estas demandas econômicas, a melhoria de condições de trabalho em cada ramo separado por meio de ‘medidas legislativas e administrativas’ …. Isso é exatamente o que os sindicatos fazem e sempre fizeram….”
“Assim, a pomposa palavra de ordem ‘dar à luta econômica em si mesma um caráter político’ que soa ‘incrivelmente’ profunda e revolucionária, serve como uma venda para esconder o que é, de fato, o esforço tradicional para degradar as políticas socialdemocratas ao nível das políticas sindicais!” [ênfase no original]
 
Para Lenin, consciência de classe política, ou consciência socialista, era o reconhecimento pelo proletariado da necessidade de se tornar a classe dominante e reconstruir a sociedade sobre bases socialistas. Qualquer coisa a menos era consciência sindical.
 
Como todas as outras correntes movimentistas e socialdemocratas atuais, Cliff deve atacar a famosa declaração de Lenin de que consciência socialista é levada aos trabalhadores de fora por intelectuais revolucionários, que consciência de classe não surge simplesmente através das lutas operárias para melhorar suas condições. Aqui estão as observações factuais de Cliff sobre essa questão:
 
“Não há dúvida de que essa formulação enfatizou exageradamente as diferenças entre espontaneidade e consciência. Por que, de fato, a completa separação de espontaneidade da consciência é mecânica e não-dialética. Lenin, como nós veremos depois, admitiu isso. Pura espontaneidade não existe na vida….”
“A lógica da justaposição mecânica de espontaneidade e consciência era a completa separação entre o partido e os verdadeiros membros da liderança da classe trabalhadora que já haviam se elevado na luta. Ela assumia que o partido tinha respostas a todas as perguntas que a luta espontânea pudesse trazer a tona. A cegueira dos muitos envolvidos na batalha é o trapézio invertido da omnisciência dos poucos.” [ênfase no original]
 
É importante citar a declaração de Lenin inteira para entender o que ela significa e não significa:
 
“Nós dissemos que pode não haver ainda consciência socialdemocrata entre os trabalhadores. Esta consciência só pode ser levada a eles de fora. A história de todos os países mostra que a classe trabalhadora, exclusivamente por seu próprio esforço, é capaz de desenvolver apenas consciência sindical, por exemplo, ela pode perceber por si própria a necessidade de participar de sindicatos, de lutar contra os empregadores e de se esforçar para fazer o governo aprovar legislação trabalhista suficiente, etc. A teoria do socialismo, entretanto, cresceu a partir das teorias filosóficas, históricas e econômicas que foram elaboradas pelos representantes cultos das classes possuidoras, os intelectuais. De acordo com seu status social, os fundadores do socialismo científico moderno, Marx e Engels, pertenceram à intelectualidade burguesa (intelligentsia). Similarmente na Rússia, a doutrina teórica da socialdemocracia surgiu de forma bem independente do crescimento espontâneo do movimento trabalhista; ela surgiu como resultado natural e inevitável do desenvolvimento de idéias entre a intelligentsia socialista revolucionária.” [ênfase no original]
– O Que Fazer? 
 
Esta não é uma declaração programática, mas antes uma análise histórica com implicações na questão organizativa. O movimento socialista precedeu o desenvolvimento das organizações econômicas de massa do proletariado industrial. O movimento socialista surgiu de dentro das correntes democrático-burguesas revolucionárias (a tradição babouvista representada pelo blanquismo na França e pela Liga dos Justos na Alemanha). Com exceção da Grã-bretanha, os primeiros sindicatos surgiram pela transformação do velho sistemas artesanal baseado em guildas.
 
Por exemplo, na revolução alemã de 1848 o movimento de sindicatos de massa de Stephan Born, a Irmandade dos Trabalhadores, era largamente baseada na tradicional estrutura de guilda. Os líderes dos sindicatos embrionários eram geralmente figuras tradicionais de autoridade da comunidade plebéia. Ministros metodistas, como o radical tory J. R. Stephens, desempenharam importante papel de liderança no movimento dos trabalhadores Britânicos no começo do século XIX. Padres católicos tiveram um papel semelhante nos primeiros sindicatos franceses, como por exemplo entre os revoltos trabalhadores têxteis de Lyon. Na maioria dos países o crescimento do movimento de trabalhadores socialistas resultou da vitória política da intelligentsia revolucionária contra os líderes tradicionalistas das primeiras organizações operárias. Quando Lenin escreveu O Que Fazer?, as organizações econômicas de massa da classe trabalhadora russa eram os sindicatos liderados pela polícia (zubatovitas), cujo mais proeminente líder era o padre Gapon.
 
Lenin era um dialético que entendia que a consciência e liderança da classe trabalhadora passava historicamente por mudanças qualitativas. Com a importante exceção dos Estados Unidos, o economicismo sindical (associado com ilusões burguesas liberais e obscurantismo religioso) não é mais a ideologia dominante do proletariado mundial. Nos países capitalistas avançados, é socialista reformista, levada a diante pelos atuais socialdemocratas e burocracias trabalhistas stalinistas, que grudam a classe trabalhadora à ordem burguesa. Em países atrasados, nacionalismo populista com coloração socialista (por exemplo, Perón, Násser) é a forma característica da dominação ideológica burguesa sobre as massas trabalhadoras.
 
Na Rússia de 1902, uma pequena e homogênea vanguarda marxista, composta por intelectuais saídos de sua classe, com uma fina camada de trabalhadores avançados, foi capaz de fazer a massa dos trabalhadores romper com o sindicalismo policial e com a Igreja Ortodoxa. Hoje é necessária uma vanguarda trotskista internacional, necessariamente composta em seus primeiros estágios por intelectuais saídos de sua classe, com relativamente poucos trabalhadores avançados, para fazer a classe trabalhadora do mundo romper com a dominação do reformismo socialdemocrata e stalinista e com o nacionalismo populista.
 
Em sentido exatamente oposto ao de Cliff, O Que Fazer? não pode ser considerado como o posicionamento leninista definitivo sobre a questão do partido. Apesar da angularidade dessas formulações, a polêmica obra de 1902 não vai além dos limites da socialdemocracia ortodoxa anterior a 1914. Se esse trabalho tivesse significado uma quebra radical com a socialdemocracia, Plekhanov, Martov, etc., nunca o teriam aprovado. Foi apenas depois do racha em 1903 que Martov, Axelrod e outros líderes mencheviques descobriram em O Que Fazer? alegadas concepções substituístas e blanquistas. Foi a atitude intransigente de Lenin na prática contra o oportunismo, espírito de círculo de debate e todos os outros obstáculos para construir um POSDR revolucionário que causou o racha menchevique, não particularmente as ideias presentes em O Que Fazer?. Se Cliff acha O Que Fazer?leninista demais para o seu gosto, é porque sua hostilidade ao bolchevismo é tão forte que ele rejeita Lenin mesmo quando o último era ainda um revolucionário socialdemocrata. Na realidade a obra de 1902 é uma antecipação, não uma exposição completamente acabada do comunismo pós-1917.
 
É comum na esquerda considerar O Que Fazer? como uma declaração leninista definitiva sobre a questão do partido. Por exemplo, o americano da corrente de Schatman, Bruce Landau, em uma revisão crítica da biografia de Cliff (Revolutionary Marxist Papers Num. 8), concentra-se no período do Iskra. Ele justifica seu foco estreito citando Trotsky a respeito da elaboração de Lenin:
 
“Foi precisamente durante este curto tempo que Lenin se tornou o Lenin que seria para sempre. Isso não significa que ele não evoluiu posteriormente. Ao contrário. Ele cresceu em tamanho … até Outubro e mais além; mas as condições desse crescimento já estavam realmente dadas.”
– Sobre Lenin: Anotações para uma Biografia (1924) 
 
Trotsky aqui se refere ao desenvolvimento da personalidade política de Lenin, não de suas idéias e suas expressões programáticas. O período decisivo para o desenvolvimento da doutrina comunista leninista foi entre 1914 e 1917, não 1900-1903.

Polêmica com o PSTU e com a LER-QI sobre a Líbia

PSTU, Fração Trotskista e a Defesa da Líbia Contra o Imperialismo
De que Lado da Trincheira?                

Por Rodolfo Kaleb
Novembro de 2011

Nenhuma corrente da esquerda brasileira tem influência política ou seção na Líbia. No entanto, a análise do processo de guerra civil e depois de intervenção imperialista que se abateu sobre o país é muito mais do que um exercício de teoria. As posições práticas das diversas organizações da esquerda indicam o quanto elas estão próximas ou distantes de uma aplicação revolucionária do marxismo, ou seja, quão estão preparadas para lutar pela revolução nos países onde estão presentes. Assim, mesmo com a guerra tendo chegado ao fim com uma vitória das forças apoiadas pelos imperialismos sobre os exércitos do ditador Kadafi, um dos eventos mais dramáticos da luta de classes deste ano exige um estudo profundo e um balanço da esquerda que se posicionou sobre esses eventos [1].

O maior partido que reivindica o trotskismo no Brasil, o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), teve uma posição de apoio aos rebeldes que tomaram Bengasi como sua capital e depois receberam apoio militar OTAN em sua luta contra Kadafi. Em todo o momento, o partido fez questão de classificar os rebeldes como um movimento “revolucionário” e não se abateram nem mesmo quando a “revolução” passou a se coordenar com os imperialismos francês, norte-americano e britânico para derrubar o regime decrépito de 42 anos do ditador líbio.

Já a Fração Trotskista, representada no Brasil pela Liga Estratégia Revolucionária – Quarta Internacional (LER-QI) não apoiou a vitória dos rebeldes aliados com a OTAN no fim da guerra, mas nutriu muitas ilusões com esse movimento nos seus períodos iniciais e mesmo após o início da sua colaboração com a OTAN. Isso a levou a não tomar a posição política consistente de defesa da Líbia, ou seja, o mesmo lado militar das forças leais a Muammar Kadafi mantendo contra ele o combate político. Essa posição estranha à tradição trotskista, que orientou os trabalhadores a uma aparente necessidade de combater com armas os dois lados do conflito, acaba igualando um regime autoritário numa nação oprimida com a opressão incomparavelmente maior das potências capitalistas, interessadas na exploração do trabalho e das riquezas naturais de uma semicolônia moderna.

Primavera Árabe”

Os movimentos que emergiram em alguns países no norte da África e no Oriente Médio, tendo como maiores exemplos até o momento a Tunísia e o Egito, tiveram características gerais similares. Eles são movimentos de revolta popular, que realizam protestos, atos de rua e outras ações radicalizadas contra a exploração e a repressão política de ditaduras burguesas de longa data. Tais revoltas também são sintomas da crise capitalista sobre as nações desta região pobre do globo, onde os governos vinham realizando “ajustes econômicos” (ataques à classe trabalhadora) como forma de sustentar as dívidas estatais e capitalistas. A base social desses movimentos é policlassista, com um componente destacado de juventude, contando com alguns setores proletários que não tiveram um papel de liderança até o momento. Em geral, os movimentos como o da Praça da Libertação (Tahrir) no Egito, não se utilizaram dos métodos históricos de luta dos trabalhadores. Quando o componente de apoio proletário se fez minimamente presente, ficou evidente, inclusive, o peso social da classe trabalhadora [2].

Entretanto, os movimentos sociais não se definem somente pela composição da sua base. Também é necessário analisar quem dirige politicamente essa base, qual é o seu programa político e qual é a dinâmica entre a base e a liderança para determinar a intervenção prática dos marxistas. Nesses países, devido à ausência de um partido revolucionário capaz de disputar as bases desses movimentos, a liderança que se colocou à frente das massas foi burguesa, personificada em antigos opositores democráticos. Essas lideranças burguesas, que prometiam “democracia”, buscaram evitar que qualquer liderança da classe trabalhadora pudesse tomar o seu lugar. Afinal, tinham o objetivo de garantir uma transição pacífica e tranquila para uma democracia onde só seriam concedidos os direitos democráticos que coubessem na ordem capitalista que lhes interessa, uma democracia da burguesia.

Ficou claro que essas lideranças oposicionistas tinham uma diferença de nuance com as ditaduras e podiam conviver muito bem com elas. Já a base do movimento tinha objetivos variados de liberdades democráticas e melhorias sociais. Mas enquanto essa base confiar que o caminho para seus objetivos (eles próprios postos de maneira vaga) se dará através do projeto da oposição burguesa, eles tendem a fracassar. Não foi à toa que todos os líderes oposicionistas no Egito e na Tunísia adotaram um discurso de “retorno aos lares e ao trabalho” assim que se viram ameaçados pela radicalização crescente do movimento.

É importante notar que isso aconteceu mesmo onde o máximo conseguido foi o afastamento pessoal do ditador e a manutenção de todo o aparato de governo (e de repressão) com a promessa de eleições futuras. Em outras palavras, não apenas a covarde liderança burguesa tem objetivos extremamente limitados, como não tem convicção suficiente nem nos próprios objetivos – teve mais medo do próprio movimento de massas que liderava do que das ditaduras, e preferiram chegar a acordos com estas do que arriscar abrir espaço para “radicais” advindos da massa. Esse foi o caso, por exemplo, do movimento de El-Baradei no Egito.

Nesse cenário de um movimento de luta por direitos democráticos (uma luta absolutamente justa e do interesse dos proletários) os comunistas devem intervir para desmascarar as lideranças burguesas e mostrar que os marxistas são os mais competentes para arrancar conquistas democráticas. Além disso, devem elevar a consciência de classe dos trabalhadores, mostrando que o seu objetivo não deve ser um “capitalismo mais humano” ou a democracia da burguesia, e sim o poder direto dos trabalhadores. Estes não devem dar o menor apoio a líderes do movimento que eventualmente componham um governo burguês.

É essencial o papel de vanguarda da classe proletária (sobretudo o seu componente industrial) dentre as massas. Rechaçamos qualquer ilusão sobre a necessidade (ou possibilidade) de uma etapa burguesa “democrática” na luta pelo socialismo. Qualquer suposta etapa democrática “necessária” se trata de um engodo para manter os proletários sob domínio burguês por tempo indeterminado. Da mesma forma, combatemos aqueles que, mesmo dizendo formalmente que lutam pelo socialismo, apostam ou tem uma postura ambígua diante das oposições burguesas, ou dão prioridade às demandas democrático-burguesas comuns entre todos os setores do movimento e não àquelas que preparam a moral e a consciência dos trabalhadores para a sua tarefa principal.

O método do marxismo na Líbia

O caso líbio foi, na maioria dos aspectos, muito diferente dos demais países da região. É inegável que houve um princípio de ações de protesto no leste do país, em janeiro e nos primeiros dias de fevereiro, com alguns setores populares lutando por direitos democráticos. Os trabalhadores petroleiros, inclusive, estavam presentes nesses primeiros protestos. Muitos apologistas de Kadafi tentam fazer crer que todos que contra ele lutam são “agentes do imperialismo”. Mas não havia nenhuma disputa econômica específica entre os imperialismos e o regime kadafista naquele momento (nem mesmo as querelas passadas envolvendo as nacionalizações da década de 1970) que justificasse a predisposição dos imperialistas para tal.

A diferença inicial no processo líbio se deu pelo fato de que a liderança das primeiras movimentações no país possuía um programa e uma estratégia diferente daquele dos outros movimentos da região. A liderança da oposição líbia, que veio depois a ser o núcleo formador do CNT, não adotou a estratégia de uma transição segura, em colaboração com o governo. O leste do país era o centro de várias tribos donas de propriedades que mantinham uma convivência pouco diplomática com o regime kadafista (que derrubou a monarquia líbia em 1969).

Esses líderes tribais pensavam na monarquia pré-Kadafi com nostalgia e perceberam na onda de protestos que aconteciam nos países vizinhos uma oportunidade para se alçar ao poder e acabar com a desgastada “república do Livro Verde”. Assim como as lideranças burguesas no Egito e na Tunísia, as tribos representavam interesses econômicos de certas alas da burguesia, ao buscar retirar do poder regimes que não mantinham mais a ordem econômica e social do seu interesse. Entretanto, pela sua história e desenvolvimento, a oposição líbia estava muito mais organizada e disposta a ações insurrecionais.

Os acontecimentos de 17 de fevereiro em Bengasi não são claros devido à ausência de informações. No entanto, é bastante improvável que os setores populares tenham espontaneamente obtido armas e organizado milícias que derrubaram o governo da cidade. Sem dúvida é muito mais crível que setores submetidos aos líderes tribais tenham organizado os destacamentos que tiraram Bengasi (assim como outras cidades menores) do controle do aparato kadafista. De qualquer forma, a tomada de Bengasi se colocou em menos de dois dias sob o comando do embrião do CNT, que logo receberia apoio de ministros do alto escalão do governo de Kadafi, incluindo o proeminente ex-ministro da justiça Mustafá Abdul Jalil (que se tornaria presidente do Conselho). Com a tomada de Bengasi, já não havia mais na Líbia um movimento popular, e sim um governo burguês instalado nas cidades a leste, que passou a disputar com Kadafi o comando do país. Também ocorre nesse momento um racha no exército líbio e se conformam todas as características de uma guerra civil encabeçada por duas frações da burguesia.

Não é impossível que tenha havido destacamentos rebeldes relativamente independentes da liderança reacionária durante um período curto. No entanto é evidente que todas as forças rebeldes foram rapidamente unificadas sob o comando do CNT. Não havia “povo armado” de forma independente, e sim combatentes (profissionais e não-profissionais) comandados pelo CNT. Por isso, para nós não havia no exército do CNT nenhuma investida “revolucionária”, como formularam correntes oportunistas. Dizer que é “revolucionário” um processo sem o protagonismo da classe trabalhadora e onde as massas são lideradas e tem amplas ilusões com um setor reacionário da burguesia é subestimar o fator essencial de consciência necessário para uma revolução. Não existe movimento “objetivamente revolucionário” que acontece mesmo que os seus agentes estejam presos à consciência burguesa, como discutiremos melhor mais à frente.

Nesse primeiro momento de guerra civil, não havia nenhum interesse objetivo para o proletariado em tomar qualquer uma das duas trincheiras. Tanto a ditadura kadafista quanto um regime das tribos buscariam oprimir e explorar a classe trabalhadora em colaboração com o imperialismo. A defesa da classe trabalhadora não estava associada a nenhum dos campos militares (como ficou evidente com a repressão desencadeada pelos rebeldes contra os trabalhadores negros). Tratava-se, pelo contrário, de uma disputa de interesses entre a burguesia líbia onde os trabalhadores só poderiam ter seus interesses objetivos realizados com a derrota de ambos os lados. Nesse momento, a tarefa dos revolucionários era lutar pela independência do proletariado nesse conflito, a luta de classes contra ambos os lados e a sua preparação revolucionária para o futuro.

Parece evidente agora que desde aquele momento os líderes tribais do CNT buscavam formar alianças, através da oferta de garantias econômicas, com as nações imperialistas. A possibilidade de uma intervenção imperialista foi amplamente anunciada, apesar de durante algum tempo líderes do CNT negarem que estivessem buscando por isso. Diante da boa vontade e de relativos sucessos do CNT no combate contra Kadafi, os imperialismos foram bastante rápidos em lhe dar apoio diplomático e reconhecimento. A diplomacia imperialista somente leva em conta os seus interesses econômicos e políticos. Obviamente não havia em nenhum dos líderes imperialistas qualquer interesse “humanitário” em derrubar Kadafi. Até porque os “amantes da paz” da Casa Branca e de Bengasi teriam muito que explicar sobre suas ações pouco “humanitárias” na própria Líbia e em outros países do Oriente Médio. Isso indicou a possibilidade (ainda não concreta nesse momento) de uma mudança no contexto da guerra.

Há relatos de que Kadafi bombardeou protestos de rua da oposição rebelde, matando civis desarmados [3]. Se não havia lado para os trabalhadores no conflito armado entre o CNT e o ditador, isso não significa que não havia interesses democráticos básicos a serem defendidos. Nós nos oporíamos com todos os meios disponíveis a atentados armados contra protestos de rua. Tais ataques, inclusive, impediriam a tarefa de intervenção dos comunistas nos setores de trabalhadores que pudessem romper com os líderes tribais. Mas isso não significaria nenhum apoio militar à luta do CNT pelo poder de Estado. A posição dos comunistas diante do governo de Bengasi era de oposição irreconciliável, um princípio que foi absolutamente traído pela maioria dos que se reivindicam trotskistas.

Ao mesmo tempo, desde o início da guerra civil, a oposição rebelde teve uma postura racista com relação aos emigrados negros de países do sul da África, que compõem uma parcela significativa da classe trabalhadora da Líbia. Milhares de negros, acusados de emigrar para compor exércitos de mercenários para Kadafi, foram revistados, presos e mesmo mortos sem nenhuma prova de que fossem “mercenários contratados” [4]. Os revolucionários deveriam se opor a tais ações pelo mesmo princípio. Nem precisamos dizer que os carniceiros imperialistas como Obama, que são responsáveis pelas mortes de milhares de trabalhadores e oprimidos todos os anos nas suas guerras no Iraque e Afeganistão, não têm a menor autoridade para justificar mais um atentado sob a desculpa de buscar a “paz e a liberdade” do povo líbio sob o cano do fuzil e a explosão das bombas.

Nesse momento, em plena guerra civil, o PSTU já classificava como “revolução” o que acontecia na Líbia. Ignorava que faltava à classe trabalhadora a mínima independência de classe, a orientação de um partido marxista revolucionário, órgãos (ou ao menos embriões) de duplo poder. Em outras palavras, faltavam os meios práticos e subjetivos para lutar pelo poder como classe. Mas os morenistas (apelido em razão de a corrente do PSTU ter sido fundada por Nahuel Moreno), já consideram há muito que pode haver uma etapa de “revolução socialista” sob comando da burguesia ou pequeno-burguesia enquanto ante-sala da luta revolucionária [5]. Foi com essa perspectiva que proclamaram:

“Neste processo, acontece uma unidade de ação muito ampla contra a ditadura, da qual participam trabalhadores, setores populares e, inclusive, com a adesão de setores burgueses, mais oficiais e tropas desertoras das forças armadas, e agora se agregam, também, altos funcionários do regime. Está claro que é necessária a mais ampla unidade de ação com todos os setores, inclusive os burgueses descolados do regime, para acabar com esta ditadura genocida e entrincheirada.”
Líbia a sangue e fogo, 24 de fevereiro de 2011.

“Acabar com uma ditadura genocida e entrincheirada” aliando-se à empreitada militar de líderes tribais reacionários e ex-membros do alto escalão de Kadafi que desejam tomar para si o poder só pode ter o efeito de criar outra ditadura da burguesia. A estratégia revolucionária de Lenin e Trotsky era o oposto dessa posição criminosa da liderança do PSTU. Colocavam a todo o tempo a necessidade de lutar pela independência da classe trabalhadora diante da burguesia. Essa foi a postura dos bolcheviques na revolução de Outubro desde que prevaleceu a posição das Teses de Abril, em que o grupo ao redor de Lenin corrigiu a linha vacilante do partido. Também foi a metodologia adotada pela Quarta Internacional em oposição aos blocos políticos do stalinismo e da socialdemocracia com a burguesia.

“A acusação capital que a IV Internacional lança contra as organizações tradicionais do proletariado é a de que elas não querem separar-se do semicadáver da burguesia.”
“De todos os partidos e organizações que se apóiam nos operários e nos camponeses falando em seu nome, nós exigimos que rompam politicamente com a burguesia e entrem no caminho da luta pelo governo operário e camponês.”
Programa de Transição, setembro de 1938.

            Com sua posição, o PSTU preparou a capitulação vergonhosa quando a “revolução com a burguesia” recebeu também apoio dos imperialismos através da OTAN. Como discutiremos mais à frente, a OTAN foi essencial para garantir a vitória militar dos rebeldes, que consistiu em uma derrota para os povos oprimidos de todo o mundo.

A OTAN e os “revolucionários” de Bengasi

            A intervenção da OTAN, iniciada em 20 de março, marcou uma mudança qualitativa na tendência do imperialismo de preferir o Conselho Nacional de Transição ao impopular e decadente regime kadafista. Ela significou que havia interesses econômicos tão sérios em jogo para o imperialismo, que valia a pena subsidiar mais uma incursão quando os gastos econômicos de muitos dos países envolvidos com duas guerras (Iraque e Afeganistão) já são imensos. Esses interesses econômicos, sobretudo o petróleo líbio, ficam evidentes agora quando, mal terminado o conflito, já começa a divisão dos direitos de exploração do país pelas burguesias imperialistas, havendo uma redistribuição em favor das nações que participaram dos bombardeios [6].

            Dias antes de a OTAN iniciar os ataques, a guerra civil parecia estar pendendo para Kadafi. Foi fundamental que se iniciassem os bombardeios contra alvos do governo e do exército leais a Trípoli e o treinamento com armas pesadas que o recém-reunido exército do CNT recebeu das nações imperialistas. Diante desses eventos, a posição dos revolucionários mudou. Não se tratava mais de uma guerra entre dois setores da burguesia líbia e sim o confronto entre um setor da burguesia líbia contra um bloco de outro setor dessa mesma burguesia com várias nações imperialistas. Nessa guerra, a classe trabalhadora definitivamente tinha um lado.

            A vitória do bloco CNT/OTAN significa a imposição de mais exploração e opressão sobre a população, mais barreiras ao desenvolvimento de uma nação independente, mais laços com o imperialismo. Obviamente Kadafi havia construído muitos desses laços. Sua colaboração com o imperialismo e seu regime ditatorial foram o que manteve a classe trabalhadora desmobilizada, sem partidos, sem sindicatos. Sem dúvida o tirano é o maior responsável pela prostração do país perante o imperialismo. Mas existe uma diferença qualitativa entre dois blocos da burguesia quando um deles é apoiado pelo maior inimigo dos povos. Nenhuma revolução autêntica (em oposição ao que são os rebeldes) pode triunfar enquanto não for derrotado o imperialismo, que é um opressor muito maior que Kadafi e cuja derrota é mais importante.

“A pressão do imperialismo sobre os paises atrasados não muda, na verdade, seu caráter social fundamental, já que o sujeito e o objeto da pressão não representam mais do que níveis diferentes do desenvolvimento de uma só e mesma sociedade burguesa. No entanto, a diferença entre Inglaterra e Índia, o Japão e a China, os EUA e o México, é tão grande, que estabelecemos uma rigorosa distinção entre os países burgueses opressores e oprimidos e consideramos nosso dever defender os segundos contra os primeiros. A burguesia dos países coloniais e semi-coloniais representa uma classe semi-dirigente e semi-oprimida.”
Um Estado não-operário e não-burguês
Leon Trotsky, novembro de 1937.

            Nessa guerra, a classe trabalhadora deveria defender incondicionalmente a nação oprimida da Líbia. Isso não significa apoiar as ações do regime Kadafi que fossem contra a classe trabalhadora, mas sim que a sua vitória militar contra um inimigo maior seria uma vitória para o povo líbio e vantajosa para o proletariado. Obviamente uma independência real da semicolônia somente será conseguida quando a classe trabalhadora tomar o poder e romper com o imperialismo. Mas ainda que limitada, uma vitória do ditador líbio contra o imperialismo seria um passo adiante nesse caminho, pois ao menos derrotaria um enorme obstáculo para a emancipação da classe trabalhadora. Como nós discutiremos melhor posteriormente, a tarefa dos revolucionários era defender o combate armado contra o Conselho Nacional de Transição e seus aliados imperialistas sem deixar de denunciar Kadafi, usando os métodos da classe operária e buscando a sua organização independente.

O que nos disseram as lideranças do PSTU? Obviamente a intervenção imperialista pegou esses senhores sem as calças. O que poderiam dizer aos seus próprios militantes e aos trabalhadores quando a sua “revolução” começou a receber apoio dos imperialismos através da OTAN, com bombardeios coordenados e treinamento militar? É demais sustentar que uma “revolução”, além de ser liderada pela burguesia, está sendo também apoiada pelo imperialismo. Em razão disso, foi necessário falsificar inteiramente a realidade.

Os líderes do PSTU aceitam formalmente que o apoio imperialista é uma contradição, mas não desenvolvem uma política coerente, não reconhecem que a intervenção imperialista mudou o caráter (que eles já enxergavam de maneira incorreta) dos rebeldes. Completamente confuso, o PSTU escreveu:

“A contradição é que, no terreno militar, existiu uma unidade de ação entre o imperialismo e as massas para derrubar Kadafi, mas com objetivos totalmente opostos: as massas querem libertar o país da opressão, mas o imperialismo quer deter a revolução para prosseguir o saque das riquezas líbias e do Oriente Médio.”

“Aqueles [nós] que dizemos ‘Otan não, fora Kadafi’, longe de neutralismo, deixamos clara nossa posição: estamos contra a intervenção imperialista e a favor de que a insurreição derrote Kadafi. Deixamos claro que estamos contra a intervenção imperialista, mas não somos neutros na guerra civil aberta, queremos que os rebeldes líbios não deixem nem rastro do regime pró-imperialista e tirano de Kadafi.”
Opinião Socialista 421, abril de 2011.

Não se pode simplesmente enumerar os combatentes e dizer “somos contra a OTAN, mas apoiamos os rebeldes” ignorando a relação que existe entre eles. Os marxistas não tomam posições diante de uma análise superficial da realidade. A OTAN não estava agindo de maneira concorrente, nem mesmo separada das tropas de CNT. Não havia uma disputa para ver quem derrubava Kadafi primeiro. Houve uma completa coordenação. Da mesma forma a guerra civil não seguiu em paralelo, como se a intervenção da OTAN fosse independente dos lados em luta. Ficou claro que a OTAN estava em profundo arranjo com o CNT.

“A mira da OTAN ficou mais precisa, disse um diplomata sênior, conforme os Estados Unidos estabeleceram uma vigilância a toda hora sobre as áreas decrescentes que as forças militares líbias ainda controlavam, usando drones [aviões não tripulados] Predator para detectar, rastrear e ocasionalmente atirar nessas forças. Ao mesmo tempo, a Grã-Bretanha, França e outras nações implantaram forças especiais no solo dentro da Líbia para ajudar a treinar e armar os rebeldes, o diplomata e outro oficial disseram.”
Surveillance and Coordination With NATO Aided Rebels
The New York Times, 21 de agosto de 2011.

Os bombardeios da OTAN ocorreram para preparar o terreno das investidas terrestres do CNT. A OTAN apoiou e se coordenou com o Conselho para levá-lo à vitória sobre Trípoli e o restante do país. Através da sua direção pró-imperialista, os rebeldes passaram a ser nada mais do que a força armada na Líbia sob comando dos imperialismos. Dizer que está contra os bombardeios da OTAN dando apoio às suas tropas na superfície é uma contradição incrível. Se estivesse na Líbia, o PSTU seria uma ala esquerda do exército do CNT, que se oporia formalmente à OTAN, mas cumpriria um papel submetido aos interesses dos países imperialistas na prática.

A forma desenvolvida pela liderança do PSTU para justificar essa posição foi aprofundar as suas concepções sobre movimentos “objetivamente revolucionários” com lideranças reacionárias. Em um de seus artigos, o PSTU comparou a situação na Líbia às revoltas populares no Egito e na Tunísia para afirmar que “Definir a natureza de um movimento por sua direção é tão comum entre alguns setores da esquerda como alheio ao marxismo” [7]. Em outras palavras, que é “anti-marxista” levar em conta o fator da direção política de um movimento.

Para nós não se trata de negar que há setores populares (e mesmo alguns proletários) na base dos rebeldes. Nem mesmo de reconhecer que há pouco em comum entre a base dos rebeldes e os líderes do CNT. Mas sim que, no caso do Egito e da Tunísia, as lideranças burguesas manobraram as massas (com algum sucesso) em protestos de rua e ocupações de praça. Já na Líbia, a liderança se usou da base para tomar em suas mãos o poder no país junto com o apoio militar das nações imperialistas. Sem dúvida julgar um movimento apenas pela sua direção é anti-marxista, sem considerar quem são os indivíduos que compõem a base, quais são seus anseios e objetivos, ideologias, etc. Fazer isso impediria uma intervenção prática dos marxistas em qualquer processo. Mas da mesma forma é anti-marxista julgar um movimento apenas pelos anseios da base, sem considerar que existe no movimento uma ligação orgânica entre os membros e a liderança, nesse caso burguesa, que tomou o rumo dos acontecimentos e usou as bases para chegar ao poder.

Há uma diferença marcante entre intervir num movimento popular por demandas democráticas e melhorias sociais que tem ilusões numa liderança burguesa e “apoiar as massas” quando elas estão organizadas numa força armada lutando para colocar uma liderança burguesa no poder. Os trotskistas deveriam alertar aos trabalhadores para não lutarem sob comando de um Conselho que invariavelmente trairia as suas aspirações, que iria desarmar e assassinar a todos que forem contra os seus interesses. Colocar o CNT e a OTAN no poder era o único resultado possível de dar apoio a uma força armada que luta sob o comando deles.

Se amanhã a liderança egípcia de El-Baradei reunisse uma milícia, um racha do exército, e tomasse o poder da junta militar com apoio suficiente das massas, o PSTU iria enfaticamente apoiar esse movimento. Nós também nutrimos ódio à junta militar egípcia, mas achamos que ela deve ser substituída pela democracia proletária, não por outro governo burguês. Buscaríamos romper os trabalhadores de qualquer ilusão com El-Baradei e por isso não apoiaríamos esse movimento que o colocasse no poder, nem nenhum governo burguês que daí emergisse.

Não existe tomada do poder independente de (ou sem) liderança. Ao entrar em uma guerra civil, os lados em luta refletem sempre interesses de classe, ou posições diferentes dentro da mesma classe. Os rebeldes líbios não são um contingente de vanguarda proletária e nem a sua liderança burguesa pode levá-los a realizar uma revolução socialista. No caso líbio, a base não tem uma independência “revolucionária” contra a sua própria liderança burguesa reacionária. Os laços que unem a base à sua direção são moldados pela ideologia, e não uma mera formalidade.

Ao estarem iludidos pelo CNT, os setores populares dos rebeldes (sem esquecer que os rebeldes também incluem combatentes profissionais) agem segundo os interesses dessa liderança. Somente poderia ser diferente se houvesse uma transformação de consciência nesses setores, o que exige a presença (inexistente nesse caso) de um movimento operário forte liderado por um partido revolucionário. Por isso, é fundamental um chamado que se faz ausente nas publicações do PSTU: pela construção de um partido revolucionário de trabalhadores líbios!

Diferente do PSTU, um partido revolucionário na Líbia não confiaria numa suposta “objetividade revolucionária” de setores populares liderados pelo imperialismo e sim lutaria por consciência comunista no seio da classe trabalhadora. A necessidade de uma liderança revolucionária é o centro da afirmação trotskista de que a “crise de liderança proletária é a principal causa da miséria da humanidade”. Mas essa é uma lição que o morenismo e PSTU nunca aprenderam.

Ao “apoiar a base apesar da sua direção”, o PSTU está inventando uma manobra para justificar o seu método, que leva diretamente a apoiar uma liderança reacionária bancada pelo imperialismo. Uma coisa é intervir num movimento para tentar quebrar as ilusões dos setores proletários e populares, mas isso não significa apoiar as demandas incorretas das massas, inclusive quando elas apóiam um governo burguês. O PSTU tentou através de inúmeras insinuações dar a entender que o governo apoiado pelos rebeldes é um governo “popular”, que a sua força armada é “o povo em armas”. Isso obscurece o fato de que o governo sediado em Bengasi é um governo burguês apoiado pelo imperialismo. Não existe “povo em armas” num sentido de duplo poder operário. O “povo” nesse caso está sob controle de uma força burguesa. O PSTU ignora isso para surfar na onda de popularidade dos rebeldes.

Os movimentos não devem ser analisados pelas ilusões (ainda que sejam aspirações justas) da sua base. Se grande parte da população líbia, iludida pelo CNT, acha que o caminho está em apoiar esse Conselho, é tarefa dos marxistas quebrar as suas ilusões com tal liderança reacionária e mostrar a necessidade de um partido revolucionário e da luta independente da classe trabalhadora. Ignorando que a base armada é nesse caso uma ferramenta nas mãos da burguesia reacionária aliada aos imperialistas, os líderes do PSTU puseram na cabeça que se trata de uma “revolução” e nada pode convencê-los do contrário. Assim, são levados a apoiar o lado errado da guerra. O PSTU chegou a proclamar a vitória da OTAN com o CNT em Trípoli como uma “grande vitória do povo líbio”.

Assim, as lideranças do PSTU abandonam completamente o método marxista de análise das forças de classe em luta, sua trajetória e sua transformação dialética, suas lideranças, etc. em troca de um apoio incondicional à “revolução”… apoiada pela OTAN. Ao fazerem isso, demonstram com clareza que preferem seguir cegamente um fenômeno reacionário que tem popularidade, ao invés de buscarem se posicionar corretamente para atrair os trabalhadores para uma perspectiva socialista. Fazendo isso, afastam a vanguarda trotskista de uma compreensão correta da sua tarefa. Ao invés de defenderem a nação oprimida e combaterem a investida do CNT/OTAN, os dirigentes oportunistas do PSTU levam os membros do seu partido a se considerarem parte da investida dos rebeldes, pintada como uma “revolução” inexistente nesse momento. Já as insinuações segundo as quais a intervenção imperialista foi para “desmobilizar os rebeldes”, não passam de cinismo barato, em completo desacordo com a realidade.

Como defender a Líbia sem capitular a Kadafi 

            A Fração Trotskista/LER-QI reconheceu muitas das contradições na posição do PSTU quando ocorreu a vitória do CNT/OTAN no fim de setembro. Em inúmeras polêmicas recentes, ela explicitou que o cerne da questão – a saber, o fato de que liderados pelo CNT, os rebeldes eram uma força armada que cumpriu objetivos reacionários junto ao imperialismo – era ignorado pelo PSTU. Da mesma forma ela apontou que os rebeldes haviam, pela dinâmica dos eventos, se tornado, na prática, a força terrestre da OTAN:

“Entretanto, em fins de fevereiro se constitui em Bengasi o Conselho Nacional de Transição, que reúne quarenta integrantes, dentre os quais muitos ex-membros do próprio governo de Kadafi (…) Isso marca um ponto de inflexão crucial para o desenvolvimento e a mudança do caráter do processo líbio. A partir de então, a direção burguesa do CNT passaria paulatinamente a tornar os rebeldes reféns de sua política, reprimindo a formação de brigadas independentes, levando a mobilização ao beco sem saída do chamado à OTAN para intervir no país.”

“Novamente aqui vemos a operação lógica que a LIT [organização internacional liderada pelo PSTU] está acostumada a fazer: o reconhecimento meramente formal das contradições existentes, e a ruptura da dialética como fundamento de uma apreciação marxista. A dialética existente na Líbia é que apesar de haver caído uma ditadura sangrenta, isso não se transformou em uma vitória para as massas, posto que está sendo capitalizado pelos imperialismo e pelo CNT. Esta conclusão é a derivação do fato de que não se pode separar a queda da ditadura da maneira como ela se deu. E não aconteceu a partir da ação independente das massas, mas sob o apoio da OTAN. A derrubada de uma ditadura não pode ser considerada em si um ‘tremendo triunfo para as massas’, se quem se beneficia são os imperialismos.”

“A preponderância da ação imperialista não foi um ‘detalhe’, como quer fazer parecer a LIT: ela negou a possibilidade de uma atuação independente das massas, fazendo com que os ‘rebeldes’ atuassem enquanto ‘tropa terrestre’ da intervenção aérea das potências, seguindo seus planos (…)”

            Mas apesar disso, a posição da Fração Trotskista no conflito, que passou a ter um caráter imperialista com a intervenção militar da OTAN em 20 de março (um mês após o início da guerra civil), foi combater militarmente os dois lados. A FT não priorizou o combate ao bloco do CNT com a OTAN e está ausente das suas declarações e artigos qualquer perspectiva de estar do mesmo lado militar que Kadafi. A primeira declaração da FT após o início da intervenção imperialista afirmou:

“Os marxistas revolucionários (sic) colocamos claramente que o imperialismo não intervém para que triunfe o levantamento popular contra Kadafi, senão para tratar de impor um governo títere a serviço dos seus interesses, como fez trás a invasão no Afeganistão e no Iraque. Tão pouco a saída é, como colocou Chávez e outros ‘progressistas’, se subordinar a Kadafi, que não só se transformou em um ditador pró-imperialista, senão que está em uma guerra contrarrevolucionária para esmagar o levantamento popular que colocou em questão seu domínio, como  parte dos levantamentos da região. A única saída progressista para o povo líbio é lutar energicamente tanto contra a intervenção imperialista como para derrotar a reacionária ditadura de Kadafi.”
23 de março de 2011

Ao fim, essa declaração resume a sua perspectiva com a consigna “Abaixo a intervenção militar imperialista na Líbia! Abaixo Kadafi!”. Na hora de determinar o lado correto no conflito, parece que a Fração Trotskista resolveu adotar a tese segundo a qual os rebeldes são um “levantamento popular” e parte dos “outros processos da região”. A crítica a Chávez só faria sentido se fosse direcionada ao fato de o Bonaparte venezuelano sair por aí aos namoricos com Kadafi dizendo que “para a Líbia, Kadafi é o que Bolívar é para nós”. Mas isso não significa que os trotskistas não tenham um lado a tomar no conflito. Num confronto, como a LER-QI reconheceu se tratar, entre nações imperialistas e um país oprimido (onde os rebeldes são a “tropa terrestre” do imperialismo), a posição da Quarta Internacional não era nem de se subordinar à burguesia nacional e nem igualar os dois lados em luta:

“Ao mesmo tempo em que sustenta um país colonial ou a URSS na guerra, o proletariado não deve solidarizar-se no que quer que seja com o governo burguês do país colonial nem com a burocracia Termidoriana da URSS. Ao contrário, deve manter sua completa independência política em relação a ambos. Ajudando uma guerra justa e progressiva, o proletariado revolucionário conquista as simpatias dos trabalhadores das colônias e da URSS e, deste modo, torna mais firme a autoridade e a influência da IV Internacional, podendo colaborar melhor na derrubada do governo burguês do país colonial, da burocracia reacionária da URSS.”
Programa de Transição, setembro de 1938.

            De forma alguma os revolucionários poderiam colocar no mesmo patamar combater Kadafi e os imperialismos. Se, como Trotsky colocou (e a LER-QI cita frequentemente) a guerra é a continuação da política por outros meios, então isso levaria a crer que, para a LER-QI, o imperialismo e a burguesia da Líbia são inimigos do mesmo calibre. Isso é alheio ao trotskismo. Como a LER-QI reconhece, a intervenção da OTAN atenta contra uma nação subjugada. Portanto, diferente da posição da Fração Trotskista, essa nação deve ser defendida pelos revolucionários apesar do seu regime ditatorial brutal, pois é interesse dos trabalhadores livrarem a Líbia do CNT/OTAN. Numa situação assim, os revolucionários devem se colocar do mesmo lado da barricada que o regime do ditador líbio (que pelos seus próprios interesses burgueses se vê combatendo o imperialismo) sem lhe dar a menor confiança, e lutar através dos métodos históricos da classe proletária: greves, ocupações de fábrica, destacamentos proletários independentes.

            “Mas isso não significa capitular a Kadafi?” podem questionar. Capitular a Kadafi seria assumir compromissos com o seu regime decrépito. Seria se abster das formas proletárias de luta e se unir ao seu exército burguês, seria elogiar o seu papel, sua política ou deixar de denunciá-lo como o maior culpado pela intervenção da OTAN e pelo seu regime ditatorial burguês. Não é isso que estamos colocando. Os revolucionários fariam todo o possível para polarizar a classe trabalhadora, com o objetivo de levá-la a conclusões revolucionárias, levantando demandas transitórias e democráticas contra seu governo. Os métodos de agitação e propaganda buscariam mostrar a necessidade não apenas de vencer o CNT/OTAN, mas de forjar uma democracia proletária contra Kadafi. No entanto, no campo militar, o combate se daria lado a lado com as tropas kadafistas, buscando vencer o inimigo principal imperialista. Uma forma de resumir essa perspectiva é “Defender a Líbia! Derrotar o CNT/OTAN! Nenhuma confiança no ditador Kadafi!” Uma vitória contra a OTAN seria um grande impulso para os povos oprimidos do mundo. De imediato, levantaria rebeliões nos países imperialistas que realizam a intervenção na Líbia. Os trabalhadores franceses, por exemplo, que desde 2010 vem travando lutas encarniçadas contra os ataques de Sarkozy, veriam na humilhação militar das tropas francesas a oportunidade perfeita de avançar contra este governo que ataca os trabalhadores dentro e fora das suas fronteiras.

No momento da intervenção, a única força social combatendo o imperialismo na Líbia era o governo de Kadafi. Numa situação como essa, não era possível realizar uma frente única no sentido clássico de “bater juntos” contra o imperialismo e “marchar separados” para objetivos diferentes. Os revolucionários devem formar uma frente única (mesmo com setores burgueses) sempre que for do interesse da classe trabalhadora, como era esse caso. Mas a ausência de uma organização proletária de peso, por culpa das décadas de repressão ao movimento operário pelo próprio Kadafi, impediu essa possibilidade. De qualquer forma, ainda somos pela vitória militar das forças de Kadafi contra o CNT/OTAN, mas dizemos em alto e bom som que a principal tarefa para o proletariado líbio na guerra contra o CNT/OTAN era armar-se em destacamentos politicamente independentes de Kadafi e lutar pela expropriação das empresas estrangeiras e nacionais sob controle dos trabalhadores, sem indenização. Poderia ocorrer até mesmo uma colaboração tática com os exércitos do ditador, mas sem nenhuma subordinação política, buscando sempre os interesses dos trabalhadores, jamais os da burguesia líbia. Ao mesmo tempo levantaríamos contra Kadafi demandas pelas liberdades democráticas suprimidas pelo ditador, como a liberdade de imprensa, organização política e uma assembleia constituinte eleita por sufrágio universal.

Não importa o quão assassino e corrupto é um governo burguês numa nação oprimida, os revolucionários estão do mesmo lado militar que eles se estes se confrontam com o imperialismo, sem lhes dar um milímetro de confiança ou de respaldo político. Para nós não se trata de discutir qual governo é mais tirano, se o governo de Kadafi ou Obama, Cameron e Sarkozy e sim que a vitória da Líbia é do interesse dos trabalhadores e nações oprimidas do mundo, já que o papel dos Estados imperialistas é infinitamente mais perverso (e um obstáculo muito maior ao socialismo). Nós tomamos o lado militar de todos os setores (mesmo os mais reacionários da burguesia) que estejam lutando contra o imperialismo, não importa o quão sejam tiranos ou impopulares. Certa vez em uma entrevista, Trotsky disse:

“Existe atualmente no Brasil um regime semi-fascista que qualquer revolucionário só pode encarar com ódio. Suponhamos, entretanto que, amanhã, a Inglaterra entre em conflito militar com o Brasil. Eu pergunto a você de que do conflito estará a classe operária? Eu responderia: nesse caso eu estaria do lado do Brasil ‘fascista’ contra a Inglaterra ‘democrática’. Por que? Porque o conflito entre os dois países não será uma questão de democracia ou fascismo. Se a Inglaterra triunfasse ela colocaria um outro fascista no Rio de Janeiro e fortaleceria o controle sobre o Brasil. No caso contrário, se o Brasil triunfasse, isso daria um poderoso impulso à consciência nacional e democrática do país e levaria à derrubada da ditadura de Vargas. A derrota da Inglaterra, ao mesmo tempo, representaria um duro golpe para o imperialismo britânico e daria um grande impulso ao movimento revolucionário do proletariado inglês.”
Entrevista de Leon Trotsky a Mateo Fossa, setembro de 1938.

Obviamente a intervenção imperialista se somou a uma situação de guerra civil precedente. A desculpa colocada pela Fração Trotskista é que Kadafi estava agindo de maneira contra-revolucionária, suprimindo um “levante popular”. Em primeiro lugar, isso é uma influência da política incorreta do PSTU e de outros na esquerda, como o influente Partido Obrero argentino (o maior partido reivindicando o trotskismo nesse país, onde está localizada a principal seção da FT) com relação aos rebeldes. Ela revela o quão a política da FT andava gravitando em torno de concepções oportunistas. A corrente tomou o lado dos levantes contra Kadafi desde a tomada de Bengasi, embora reconhecendo hoje que com o domínio do CNT, os rebeldes mudaram de natureza, embora não haja clareza sob quando essa transformação tenha se dado qualitativamente.

Num artigo publicado em 28 de março, uma semana após o início da intervenção da OTAN, a FT mostra que ainda não tinha clareza se os rebeldes eram um movimento popular independente da burguesia ou a força armada do CNT/OTAN e dizem que ambos os caminhos eram possíveis, elogiando o papel inicial dos rebeldes.

“Se for pela via da OTAN e da direção burguesa do CNT, a heróica ofensiva das massas e dos trabalhadores líbios será usurpada (…). Se for pela atuação independente da classe trabalhadora e do povo, seria um avanço importantíssimo para todos os processos parte da primavera árabe, e para os trabalhadores e povos de todo o mundo.”
“Viemos desde o início do conflito defendendo que a única saída de fundo capaz de responder aos anseios das massas e trabalhadores líbios, que heroicamente se levantaram contra a ditadura de Gadafi, é confiar em suas próprias forças, e atuar de maneira independente de quaisquer direções burguesas da CNT.”

No entanto, em setembro, a LER-QI parecia não ter dúvidas de que desde antes da intervenção imperialista os rebeldes já não eram uma força progressiva, nem um movimento “em disputa” que pudesse ser preenchido com qualquer conteúdo, levando em conta inclusive a opressão exercida pelos rebeldes contra os negros da Líbia.

“Havia uma possibilidade de que o levante popular iniciado em Bengasi se estendesse e derrubasse a ditadura de Kadafi por uma ação independente do movimento de massas, que nos primeiros dias passou a se armar espontaneamente. Mas essa possibilidade foi abortada. Rapidamente, o CNT, sob o qual passaram a ter crescente peso setores burgueses, lideranças das tribos opositoras, ministros e chefes militares que rompiam com Kadafi, tratou de conter a espontaneidade dos primeiros dias de levante e centralizar milícias sob sua completa e rigorosa direção. (…) O caráter reacionário rapidamente assumido pelo CNT, contraposto pelo vértice a qualquer ação emancipatória genuína das massas líbias, se demonstra não só em sua política de completa subordinação aos ditames do imperialismo, mas também em sua nefasta política em relação aos 2 milhões de negros imigrantes que compunham a classe trabalhadora no país.”

Discordamos da certeza com que a LER-QI afirma que os primeiros dias os movimento dos rebeldes foi “espontâneo”, devido à pouca quantidade de informações disponíveis. Mas de qualquer forma, isso demonstra que a LER-QI hoje concorda que, no mínimo “rapidamente” após a tomada de Bengasi, não havia nenhum movimento independente na Líbia, ao não ser que possamos falar de um “levante popular” submetido ao CNT e que desde então perseguia os imigrantes negros.

Sem decidir se o que ocorria no país era um levante popular (até mesmo “processo revolucionário” como descreveu em algumas declarações) ou uma guerra civil dominada por setores da burguesia, quando se tornou necessário combater o imperialismo que tomava um dos lados, a FT estava a voltas com um “levante popular” que era uma força armada do CNT. Assim, não levou em conta as consequências de um posicionamento correto com relação a Kadafi e continuou levantando a “derrubada revolucionária” do tirano. Mas quem faria isso naquele momento? Os rebeldes?

Somos contra a palavra de ordem “Abaixo Kadafi” em face da intervenção imperialista, precisamente porque naquele momento a única força existente buscando derrotar Kadafi era o CNT/OTAN. Obviamente a derrubada revolucionária de Kadafi era uma perspectiva estratégica para a classe trabalhadora, que deveria ser preparada para essa tarefa mesmo enquanto combatia o imperialismo. Mas usar essa consigna quando o ditador era atacado pelos rebeldes dirigidos pela OTAN só pode gerar confusão. Nesse caso, mostra que a Fração Trotskista ainda não tinha assimilado com precisão o que eram os rebeldes e, apesar de não ter apoiado a vitória do CNT/OTAN quando ela se deu, foi incompetente para defender a Líbia contra o imperialismo quando se deu a intervenção e não tomou lado nenhum na barricada.

Se a Fração Trotskista/LER-QI concorda que os rebeldes eram um movimento “capitalizado pelo CNT”, “tropa terrestre” das potências e que quem se “beneficia da sua vitória são os imperialismos”, então porque não estavam do outro lado da barricada, ainda que hegemonizada pela ditadura de Kadafi, defendendo a Líbia ao mesmo tempo em que denunciavam o regime do tirano? Em razão dessa vacilação, a Fração Trotskista não defendeu na prática o princípio bolchevique de defesa dos povos oprimidos contra os países opressores, temendo assim ir contra um “levante popular” inexistente.

Os motivos da Fração Trotskista


Nesse momento, muitos dos dirigentes da FT podem se fazer de desentendidos sobre qualquer possibilidade de estar do mesmo lado militar que Kadafi sem capitular a ele. Mas quando os Estados Unidos ocuparam o Iraque em 2003, a LER-QI foi bastante capaz de explicar essa perspectiva. A situação na Líbia hoje não é idêntica ao Iraque de 2003 (quando se tratou de uma ocupação terrestre), mas estava colocado o mesmo paradigma: defender a derrota dos EUA sem ter ilusões em Saddam Hussein e manter o combate político contra ele, preparando a consciência e a moral da classe para tomar o poder uma vez que o imperialismo fosse vencido.

“Por isso, o ponto de partida do programa revolucionário é definir que a guerra do Iraque é uma clara guerra de agressão imperialista contra uma nação oprimida. (…) Toda guerra de defesa e libertação nacional de uma nação oprimida é, para os revolucionários, uma guerra justa e legítima, como foi – por exemplo – a luta pela libertação nacional da Argélia contra os colonialistas franceses ou a guerra do Vietnã. Neste tipo de guerras, os revolucionários nos localizamos no campo militar dos países semicoloniais, independentemente do caráter do regime que os governe porque o triunfo do país imperialista significará duplas correntes para o povo da nação semicolonial, e padecimentos piores ainda do que com sua ditadura doméstica. No caso do Iraque nos localizávamos pela derrota militar do imperialismo norte-americano e de sua coalizão, apesar do caráter reacionário e ditatorial de Saddam Hussein.”

Essa posição da Fração Trotskista na Líbia, deliberadamente vaga e incoerente, é o reflexo da aproximação centrista que a corrente tem com partidos ditos trotskistas maiores: o PSTU no Brasil e o Partido Obrero na Argentina (locais em que estão suas duas maiores seções, o PTS e a LER-QI). O PO e o PSTU foram os campeões em saudar os rebeldes de Bengasi como “revolucionários” [8]. Obviamente a busca incessante que a Fração Trotskista realiza para formar blocos e estar politicamente próxima dos dois partidos tem efeitos na consciência dos seus membros e liderança. As posições do PO e do PSTU, ainda que recebam críticas, tem uma enorme influência na sua formulação, que nem sempre, como este caso demonstra, passa pelo filtro de uma visão crítica.

Nas últimas eleições burguesas argentinas, por exemplo, o Partido de los Trabajadores por el Socialismo (PTS) formou um bloco eleitoral com o Partido Obrero e outras organizações de esquerda (inclusive o PSTU argentino) – a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT). Essa foi a realização de uma política que o PTS vinha buscando há muitos anos, mas que só nas últimas eleições o PO aceitou [9]. Em um dos artigos de seu jornal, a LER-QI, comentando sobre o bloco formado pelos seus camaradas argentinos fez a seguinte caracterização:

“A FIT se coloca também como uma alternativa de esquerda classista e revolucionária em nível internacional. Entre as outras experiências da esquerda, como o NPA francês, o Respect inglês, a Frente de Esquerda em Portugal, ou mesmo a Frente de Esquerda (que se formou no Brasil em 2006 e 2008) a FIT argentina é a única que não mistura os interesses dos trabalhadores com nenhuma variante burguesa ou reformista. Que coloca seu centro na organização dos trabalhadores, em aliança com a juventude e os intelectuais de esquerda, que proclama abertamente sua posição revolucionária.”

            Está claro que a FIT argentina esteve muito à esquerda de formações eleitorais de colaboração de classes: ela era composta somente por partidos da classe trabalhadora. Também se posicionou melhor que formações dominantemente reformistas ao não defender políticas econômicas presas aos limites do capitalismo. Porém, existem posições localizadas entre o reformismo e uma consistente perspectiva revolucionária. Como explicar o fato de que o PO, o maior partido em um bloco “revolucionário” que “não capitula a nenhuma variante burguesa” tenha apoiado o lado do imperialismo nas trincheiras líbias, além de outras posições centristas ao longo de sua história, como ter apoiado a frente popular burguesa de Evo Morales (posições essas que a própria FT critica)?

Ainda mais importante: porque a Fração Trotskista deve seguir fazendo os seus numerosos esforços de construção internacional, recrutar militantes, ter publicações periódicas próprias, etc. se um bloco com o Partido Obrero é “revolucionário”? Não faria sentido simplesmente fundir com ele e dar origem a bloco permanente, um partido “revolucionário” maior?

Da mesma forma, a LER-QI no Brasil busca blocos eleitorais com o PSTU, faz chamados para que o partido cumpra um papel classista ou assuma a liderança em processos de mobilização. Por exemplo, no texto citado acima, fez um chamado ao PSTU para que “aprendesse” com seus camaradas argentinos – ou seja, propôs um bloco eleitoral com o PSTU nas próximas eleições burguesas no Brasil. Tais ações, que a liderança da LER-QI rotula como “táticas” estão submetidas não a uma estratégia revolucionária independente do centrismo, mas uma estratégia de quem deseja ser um flanco esquerdo do PSTU e isso acaba levando (ainda que esta não seja uma intenção premeditada) a uma adaptação política a esse partido.

Qual seria, por exemplo, a posição desse bloco da LER-QI com o PSTU sobre questões chave da luta de classes como as “greves” policiais, o Estado cubano ou a própria guerra imperialista sobre a Líbia, onde possuem posições divergentes? A liderança da Fração Trotskista, perseguindo uma unidade política com outras organizações que já rasgaram com muito mais vigor os princípios bolcheviques, é incapaz de uma perspectiva revolucionária. Os militantes críticos da Fração Trotskista (LER-QI) devem analisar de maneira séria a política da sua organização. As posições traiçoeiras, se não combatidas, certamente abrirão precedentes. Nesse caso, a posição do grupo em uma questão tão básica pode gerar efeitos imprevisíveis no futuro. Contra essa adaptação, levantamos o princípio imortal de Lenin e Trotsky de defesa incondicional dos povos oprimidos contra o imperialismo.

Notas

[1] Para críticas a outras posições da esquerda frente aos eventos aqui analisados, conferir Sobre a Vitória do Bloco CNT/OTAN na Líbia e o Centrismo do Coletivo Lenin, de setembro de 2011 (sobre apoiar ou não o CNT antes da investida imperialista) e Um Tirano Sem Aspas (sobre a capitulação política a Kadafi), de novembro de 2011.

[2] Em 8 de fevereiro de 2011, após mais de um mês da ocupação da Praça da Libertação, entraram em greve 6 mil trabalhadores do canal de Suez, em diferentes companhias e várias cidades. Nos dias que se seguiram, outras centenas de fábricas e plantas por todo o país cruzaram os braços, totalizando milhares de grevistas por todo o Egito. Os trabalhadores de praticamente todas as categorias, usando o método da greve geral, deram o golpe fatal e foram a principal força social na derrubada do ditador egípcio Hosni Mubarak, em 11 de fevereiro. Apesar disso, os proletários não assumiram um papel de liderança política no movimento, o que levou a manutenção de muitos aparatos da ditadura e mesmo do capitalismo.
  
[3] Um apanhado dos relatos divulgados por diferentes jornais pode ser encontrado na página Firedoglake(em inglês).


[5] Central na teoria de Nahuel Moreno, uma “revolução de fevereiro” seria caracterizada enquanto uma “revolução socialista” onde as massas trabalhadoras não são lideradas por partidos revolucionários (nesse caso são lideradas até mesmo pela burguesia) e não possuiriam consciência marxista. Para os morenistas, a sua principal tarefa é empurrar os partidos oportunistas para cumprirem tal função, ao invés de lutarem para desmascarar os líderes traidores das massas e ganhar os trabalhadores para uma perspectiva de oposição revolucionária (conferir MORENO, Nahuel. As Revoluções do Século XX. 1984). Isso leva os morenistas a uma série de adaptações às lideranças existentes no movimento e a enxergarem transformações “revolucionárias” onde elas não existiram. Frequentemente a “revolução de fevereiro” é identificada como uma revolução democrática que pode ser liderada por partidos burgueses, aos quais os morenistas estão prontos para apoiar.

[6] Conferir Líbia: França já assegurou um terço do petróleo futuro – Expresso, de 22 de agosto de 2011.

[7] Citado de Todo apoio ao povo líbio contra Kadafi, mas não à intervenção da Otan em Opinião Socialista 421, de abril de 2011.

[8] O Partido Obrero encerrou um artigo de 23 de março dizendo: “Nossa consigna é: fora Otan; armas para os revolucionários líbios; pela extensão e aprofundamento da revolução árabe. Desejamos que o Oriente Médio se converta na tumba do imperialismo mundial”.

[9] Nas duas eleições burguesas anteriores, o PTS havia conformado uma frente com a Esquerda Socialista (IS), corrente ligada à CST/PSOL brasileira e vinha fazendo chamados ao PO, que recusou. Nas eleições de 2010, foi posta em prática uma legislação eleitoral que proibiu a participação de chapas com menos que 1,5% de apoio nas primárias na disputa para a presidência. Isso acabou levando o PO a conformar a FIT para poder participar do processo eleitoral. Apesar de combatermos essa legislação reacionária, direcionada claramente aos partidos de esquerda, ela por si só não justifica a busca do PTS pela formação do bloco com o Partido Obrero.

Polêmica com a LBI sobre a questão Líbia

Tabu da LBI sobre o Caráter Ditatorial de Kadafi
Um Tirano sem Aspas

Por Rodolfo Kaleb
Novembro de 2011

Recentemente a Liga Bolchevique Internacionalista (LBI) apresentou em uma enorme coletânea de artigos, publicados sob o título de “Teses trotskistas acerca da guerra imperialista contra a Líbia”, uma perspectiva formalmente correta sobre o conflito entre as tropas leais a Muammar Kadafi e os rebeldes líbios liderados pelo Conselho Nacional de Transição, com apoio armado da Organização do Tratado do Atlântico Norte (principal aliança bélica das burguesias imperialistas). Nesses artigos, o grupo também combateu corretamente aqueles que tomam o lado do movimento liderado pelo CNT e apoiado pela OTAN, mostrando que tais correntes deixam de lado a tarefa de defender a nação oprimida da Líbia contra os imperialismos, chegando até mesmo ao ponto de chamar a vitória dos rebeldes de “revolução” (para um debate com essas posições, leia nosso artigo De que Lado da Trincheira?). Em uma seção intitulada “Pela vitória militar de Kadafi sobre a corja imperialista da ONU e da OTAN”, a LBI escreveu:

Em resposta a esses renegados revisionistas [as correntes que apóiam os rebeldes], os marxistas revolucionários sabem nadar contra a maré pró-imperialista que varre a esquerda e convocam publicamente a formação de uma frente única militar com Kadaffi contra a intervenção imperialista, sem depositar nenhuma confiança e com total independência em relação ao governo nacionalista burguês líbio.”

Essa é a afirmação formalmente correta de que a tarefa imediata na Líbia sob a intervenção da OTAN é combater o bloco dos imperialistas com o CNT sem capitular politicamente ao regime burguês de Kadafi. Manter-se independente de Kadafi e de seus aliados em termos político-organizativos não é um mero detalhe para os revolucionários. Nossa principal perspectiva é a de utilizar um programa anticapitalista como forma de apontar a necessidade dos trabalhadores tomarem o poder em suas mãos e construírem uma sociedade radicalmente diferente – o que seria impossível fazer se capitulássemos politicamente à burguesia e àqueles que se adaptam ao capitalismo de uma forma ou de outra.

Assim, a defesa da Líbia contra os imperialismos é uma tarefa política importante, mas que de forma alguma deve obscurecer uma campanha implacável de denúncias contra o regime de Kadafi e o nacionalismo burguês, mostrando à classe trabalhadora que ela tem interesses absolutamente distintos daqueles de Kadafi ou de quaisquer outros setores burgueses.

De um ponto de vista estratégico, demarcar a linha de classe é tão essencial para a vitória do proletariado quanto estar do lado certo de uma guerra contra o imperialismo. Quantos não foram aqueles (dentre os quais Hugo Chávez e diversos outros apologistas de Kadafi) que estiveram do lado certo da barricada na guerra da Líbia pelos seus próprios interesses burgueses? Ao terem semeado confiança em Kadafi, eles foram, para propósitos revolucionários, tão inúteis quanto aqueles que estiveram do lado errado, semeando ilusões em um movimento liderado pela burguesia tribal reacionária e apoiado pela OTAN. 


Nesse sentido, durante a intervenção da OTAN, a perspectiva da LBI com relação às demandas democráticas a serem levantadas pelo proletariado em uma ditadura burguesa como a da Líbia foram completamente diferentes daquelas tarefas estabelecidas pela Quarta Internacional liderada por Trotsky. Enquanto criticava corretamente os líderes tribais do CNT e os imperialistas, a LBI escreveu:

Os chacais imperiais como Obama, Sarkozy e Cameron já salivam o sangue assassino e exigem que o ‘ditador’ deixe o poder imediatamente, enquanto prosseguem os maiores bombardeios aéreos que a humanidade já presenciou em toda sua história.”
Resistência Líbia, site da LBI, 22 de Agosto.

Na Líbia, logo os apoiadores do antigo monarca Idris, apeado do governo pelos coronéis em 69, foram a ponta de lança inicial para fazer eclodir o suposto movimento de massas contra o ‘tirano sanguinário’ Muammar Kadaffi (…) Não demorou muito, os ‘rebelados’ contra o caudilho nacionalista já dispunham de sofisticadas armas pesadas que passaram a apontar contra o próprio povo líbio que insistia em permanecer ao lado da ‘ditadura sanguinária’ de Kadaffi.”

Em primeiro lugar, não existe “o povo líbio”, como algo monolítico, apoiando Kadafi. Obviamente Kadafi tinha apoiadores entre as classes populares. Mas também claramente o tinham os rebeldes, cuja base (diferente da liderança burguesa reacionária) é policlassista e possui mesmo alguns setores proletários. Em segundo lugar, as aspas colocadas pela LBI nesse trecho são absolutamente desnecessárias. Acaso Kadafi não era um ditador sanguinário? Parece que não para a LBI. A corrente é incapaz de afirmar o caráter ditatorial de Kadafi em qualquer parte desse ou dos outros textos publicados sobre a Líbia. Em um outro artigo da sua coletânea, a LBI diz que a acusação de “ditador” contra Kadafi não passa de “cantilena” (tática de propaganda) da oposição imperialista, “a mesma usada contra Chávez hoje”.

Obviamente não pautamos nossa posição na guerra imperialista com base no caráter do regime kadafista, e sim pelo fato de que este estava defendendo (por seus próprios interesses) um país semicolonial contra vários países imperialistas. Por mais sanguinário que tenha sido, sua opressão não pode ser comparada com a dos imperialistas. Como explicou Trotsky, a vitória dos imperialismos significa a imposição de duplas correntes aprisionando o povo líbio. Também não conferimos a menor autoridade ao discurso “democrático” dos imperialistas Obama, Sarkozy, Cameron e companhia, responsáveis pelas mortes de dezenas de milhares de líbios desde que se iniciaram os bombardeios.

Mas isso não nos impede de denunciar o caráter tirano de Kadafi e de seu regime. De fato, ele é o maior culpado pelo fato de o movimento dos trabalhadores na Líbia ser inexpressivo, senão inexistente:

Todos os outros partidos políticos foram banidos. Sindicatos foram incorporados à União Socialista Árabe [partido de Kadafi] e as greves proibidas. A imprensa, já submetida à censura, foi oficialmente alistada em 1972 como um agente da revolução [dos coronéis de 1969] [sic].”
Helen Chapin Metz. Libya: A Country Study. Washington: GPO for the Library of Congress, 1987.

As proibições à liberdade de imprensa e de organização sindical e de partidos políticos da classe trabalhadora, aplicadas por Kadafi por quase 40 anos, desprepararam o proletariado para qualquer forma de resistência. Também a ausência de qualquer experiência democrática na Líbia (desde antes de Kadafi e que ele manteve durante todo o seu governo), contribuiu para que ganhasse influência entre a população a propaganda do CNT/OTAN sobre a democracia burguesa para justificar o seu massacre.

Enquanto na Venezuela de Chávez essas liberdades democráticas existem e o “Bonaparte do século XXI” tem repetidamente recebido aprovação eleitoral para manter seu governo, na Líbia as acusações de ditadura são mais do que “cantilena”. Diante disso, as demandas democráticas cumpririam um papel importante em preparar politicamente os trabalhadores contra o ditador (sem aspas) líbio. No documento de fundação da Quarta Internacional há uma seção sobre o importante papel suplementar das demandas democráticas nos países capitalistas atrasados, que diz:

É impossível rejeitar pura e simplesmente o programa democrático: é necessário que as próprias massas ultrapassem este programa na luta. A palavra de ordem de Assembléia Nacional (ou Constituinte) conserva todo seu valor em países como a China ou a Índia. (…) É necessário, antes de tudo, armar os operários com esse programa democrático. Somente eles poderão levantar e reunir os camponeses. Baseado no programa democrático e revolucionário é necessário opor os operários à burguesia ‘nacional’.”
Programa de Transição, setembro de 1938.

Ao mesmo tempo em que combatesse o bloco CNT/OTAN com destacamentos de trabalhadores, um partido revolucionário na Líbia levantaria contra Kadafi a demanda de Expropriação sob controle operário das empresas imperialistas e nacionais, sem indenização para desmascarar o conteúdo burguês do governo de Trípoli. Também seria essencial para mobilizar os trabalhadores, usar as palavras de ordem democráticas de Liberdade de imprensa, de organização sindical e partidária! Assembléia Constituinte eleita por sufrágio universal!

A LBI fez várias críticas ao caráter burguês e de colaboração com o imperialismo de Kadafi, mas ignorou estas importantes demandas contra o seu caráter ditatorial. Essa omissão fica ainda mais evidente quando percebemos que não é levantada sequer uma demanda democrática contra Kadafi nas 80 páginas do seu livreto! Assim, a LBI mostrou que por trás da sua linha formal, nutria ilusões com o regime líbio. Em igual proporção, falharia na preparação dos trabalhadores para romper politicamente com esta ditadura burguesa. Outro efeito colateral seria lançar parte dos trabalhadores que se opusessem a Kadafi nos braços da reação tribal, que reconhece o caráter ditatorial de Kadafi ao mesmo tempo em que demagogicamente defende uma “democracia” burguesa inspirada pela lei islâmica e sob os escombros de milhares de corpos humanos dizimados pelo imperialismo.

Quebrar as ilusões com o regime burguês da Líbia e buscar conquistas democráticas e sociais com a perspectiva de levar os trabalhadores ao poder deveria permanecer sendo o objetivo dos revolucionários mesmo enquanto combatiam o maior inimigo dos povos, o imperialismo. Nisso consistia a “total independência política” com relação ao decrépito regime de Kadafi, que a LBI deixou de lado.

Mudança de Data do Ato Contra a Agressão Imperialista à Líbia

Há alguns dias atrás divulgamos em nosso blog o Ato Nacional Contra a Agressão Imperialista à Líbia, um ato nacional em solidariedade ao povo líbio, que vem sofrendo constantes agressões militares por parte do bloco CNT/OTAN, que busca recolonizar o país e melhor explorar seu proletariado em benefício das potências imperialistas. Encaramos como tarefa dos revolucionários a denúncia desses ataques e a defesa da soberania do povo líbio, o que passa pela defesa militar do país contra as agressões imperialistas.
Para nós, essa defesa inclui não só uma aliança militar com a resistência líbia, defensora do antigo regime de Kadafi, como também a denúncia política desse regime ditatorial que, ao reprimir a classe trabalhadora por décadas, fez com que esta não pudesse responder a altura à agressão imperialista devido à inexistência de um forte e organizado movimento operário.

Avisamos aos leitores e simpatizantes que a data do protesto foi alterada para o dia 17 de novembro. As organizações envolvidas avaliaram ser melhor alterar a data devido à convocação, por parte dos governos municipais e estaduais, de uma manifestação para o mesmo dia, relacionada à divisão dos royalties do petróleo.

Data: 17 de Novembro
Horário:  16 horas
Local: Em frente ao Consulado da França (principal potência por trás da empreitada da OTAN). Avenida Presidente Antônio Carlos, 58 – Centro do Rio de Janeiro. 

Para saber mais sobre a posição do Reagrupamento Revolucionário sobre a questão líbia, confira Sobre a Vitória do Bloco CNT/OTAN na Líbia e o Centrismo do Coletivo Lenin.

The I.W.W.

The I.W.W.

by James P. Cannon

[First printed in Fourth International, Summer 1955. Coped from http://www.marxists.org/archive/cannon/works/1955/iww.htm ]

The Bold Design

When the Founding Convention of the IWW — the Industrial Workers of the World — assembled in Chicago in June, 1905, the general strike movement initiating the first Russian revolution was already under way, and its reverberations were heard in the convention hall. The two events coincided to give the world a preview of its future. The leaders at Chicago hailed the Russian revolution as their own. The two simultaneous actions, arising independently with half a world between them, signalized the opening of a revolutionary century. They were the anticipations of things to come.

The defeated Russian revolution of 1905 prepared the way for the victorious revolution of 1917. It was the “dress rehearsal,” as Lenin said, and that evaluation is now universally recognized. The Founding Convention of the IWW was also a rehearsal; and it may well stand out in the final account as no less important than the Russian action at the same time.

The founders of the IWW were indubitably the original inspirers and prime movers of the modern industrial unions in the mass production industries. That is commonly admitted already, and that’s a lot. But even such a recognition of the IWW, as the precursor of the present CIO, falls far short of a full estimate of its historic significance. The CIO movement, at its present stage of development, is only a small down payment on the demands presented to the future by the pioneers who assembled at the 1905 Convention to start the IWW on its way.

The Founding Convention of the IWW brought together on a common platform the three giants among our ancestors — Debs, Haywood and De Leon. They came from different backgrounds and fields of activity, and they soon parted company again. But the things they said and did, that one time they teamed up to set a new movement on foot, could not be undone. They wrote a Charter for the American working class which has already inspired and influenced more than one generation of labor militants. And in its main essentials it will influence other generations yet to come.

They were big men, and they all grew taller when they stood together. They were distinguished from their contemporaries, as from the trade — union leaders of today, by the immensity of their ambition which transcended personal concerns, by their. far — reaching vision of a world to be remade by the power of the organized workers, and by their total commitment to that endeavor.

The great majority of the other delegates who answered the call to the Founding Convention of the IWW were people of the same quality. They were the non — conformists, the stiff-necked irreconcilables, at war with capitalist society. Radicals, rebels and revolutionists started the IWW, as they have started every other progressive movement in the history of this country.

In these days when labor leaders try their best to talk like probationary members of the Junior Chamber of Commerce, it is refreshing to turn back to the reports of men who spoke a different language. Debs, Haywood and De Leon, and those who stood with them, did not believe in the partnership of capital and labor, as preached by Gompers and Co. at the time. Such talk, they said in the famous “Preamble” to the Constitution of the IWW, “misleads the workers.” They spoke out in advance against the idea of the permanent “co — existence” of labor unions and the private ownership of industry, as championed by the CIO leaders of the present time.

The men who founded the IWW were pioneer industrial unionists, and the great industrial unions of today stem directly from them. But they aimed far beyond industrial unionism as a bargaining agency recognizing the private ownership of industry as right and unchangeable. They saw the relations of capital and labor as a state of war.

Brissenden puts their main idea in a nutshell in his factually correct history of the movement: “The idea of the class conflict was really the bottom notion or ‘first cause’ of the IWW. The industrial union type was adopted because it would make it possible to wage this class war under more favorable conditions.” (The I.W.W: A Study of American Syndicalism, by Paul Frederick Brissenden, p. 108.)

The founders of the IWW regarded the organization of industrial unions as a means to an end; and the end they had in view was the overthrow of capitalism and its replacement by a new social order. This, the heart and soul of their program, still awaits its vindication in the revolution of the American workers. And the revolution, when it arrives, will not neglect to acknowledge its anticipation at the Founding Convention of the IWW. For nothing less than the revolutionary goal of the workers’ struggle was openly proclaimed there 50 years ago.

The bold design was drawn by Bill Haywood, General Secretary of the Western Federation of Miners, who presided at the Founding Convention of the IWW. In his opening remarks, calling the convention to order, he said:

“This is the Continental Congress of the working class. We are here to confederate the workers of this country into a working class movement that shall have for its purpose the emancipation of the working class from the slave bondage of capitalism.” (Proceedings of the First Convention of the Industrial Workers of the World, p. 1)

The trade unions today are beginning to catch up with the idea that Negroes are human beings, that they have a right to make a living and belong to a union. The IWW was 50 years ahead of them on this question, as on many others. Many of the old Gompers unions were lily-white job trusts, barring Negroes from membership and the right to employment in their jurisdictions. Haywood, in his opening speech, indignantly denounced the policy of those unions “affiliated with the A. F. of L., which in their constitution and by-laws prohibit the initiation of or conferring the obligation on a colored man.” He followed, in his speech at the public ratification meeting, with the declaration that the newly-launched organization “recognizes neither race, creed, color, sex or previous condition of servitude.” (Proceedings, p. 575.)

And he wound up with the prophetic suggestion that the American workers take the Russian path. He said he hoped to see the new movement “grow throughout this country until it takes in a great majority of the working people, and that those working people will rise in revolt against the capitalist system as the working class in Russia are doing today.” (Proceedings, p. 580.)

Debs said: “The supreme need of the hour is a sound, revolutionary working class organization … It must express the class struggle. It must recognize the class lines. It must, of course, be class conscious. It must be totally uncompromising. It must be an organization of the rank and file.” (Proceedings, pp. 144, 146.)

De Leon, for his part, said: “I have had but one foe — and that foe is the capitalist class … The ideal is the overthrow of the capitalist class.” (Proceedings, pp. 147, 149.)

De Leon, the thinker, was already projecting his thought beyond the overthrow of capitalism to “the form of the governmental administration of the Republic of Labor.” In a post-convention speech at Minneapolis on “The Preamble of the I.W.W.’’, he said that the industries, “regardless of former political boundaries, will be the constituencies of that new central authority the rough scaffolding of which was raised last week in Chicago. Where the General Executive Board of the Industrial Workers of the World will sit there will be the nation’s capital.” (Socialist Reconstruction of Society, by Daniel De Leon.)

The speeches of the others, and the official statement adopted by the Convention in the Preamble to the Constitution, followed the same line. The Preamble began with the flat affirmation of the class struggle: “The working class and the employing class have nothing in common.” Following that it said: “Between these two classes a struggle must go on until all the workers come together on the political, as well as on the industrial field, and take and hold” the industries of the country.

These were the most uncompromising, the most unambiguous declarations of revolutionary intention ever issued in this country up to that time. The goal of socialism had been previously envisioned by others. But at the Founding Convention of the IWW the idea that it was to be realized through a struggle for power, and that the Power of the workers must be organized, was clearly formulated and nailed down.

The men of 1905 spoke truer than they knew, if only as anticipators of a historical work which still awaits its completion by others. Between that date of origin and the beginning of its decline after the First World War, the IWW wrote an inerasable record in action. But its place as a great progressive factor in American history is securely fixed by the brave and far-seeing pronouncements of its founding convention alone. The ideas were the seed of the action.

The IWW had its own forebears, for the revolutionary labor movement is an unbroken continuum. Behind the convention assembled in Chicago fifty years ago stood the Knights of Labor; the eight-hour movement led by the Haymarket martyrs; the great industrial union strike of the American Railway Union; the stormy battles of the Western Federation of Miners; and the two socialist political organizations — the old Socialist Labor Party and the newly-formed Socialist Party.

All these preceding endeavors were tributary to the first convention of the IWW, and were represented there by participants. Lucy Parsons, the widow and comrade-in-arms of the noble martyr, was a delegate, as was Mother Jones, the revered leader of the miners, the symbol of their hope and courage in trial and tribulation.

These earlier movements and struggles, rich and tragic experiences, had prepared the way for the Founding Convention of the IWW. But Debs was not far wrong when he said, in a speech a few months later: “The revolutionary movement of the working class will date from the year 1905, from the organization of the Industrial Workers of the World.” (Writings and Speeches of Eugene V. Debs, p. 226.)

An Organization of Revolutionists

The IWW set out to be an industrial union movement uniting all workers, regardless of any differences between them, on the simple proposition that all unions start with the defense of their immediate interests against the employers. As an industrial union, the IWW in its heyday led some memorable battles on the economic field, and set a pattern of organization and militant strike strategy for the later great struggles to build the CIO.

The CIO became possible only after and because the IWW had championed and popularized the program of industrial unionism in word and deed. That alone — the teaching and the example in the field of unionism — would be sufficient to establish the historical significance of the IWW as the initiator, the forerunner of the modern industrial unions, and thereby to justify a thousand times over all the effort and sacrifice put into it by so many people.

But the IWW was more than a union. It was also — at the same time — a revolutionary organization whose simple and powerful ideas inspired and activated the best young militants of its time, the flower of a radical generation. That, above all, is what clothes the name of the IWW in glory.

The true character of the IWW as a revolutionary organization was convincingly demonstrated in its first formative year, in the internal conflict which resulted in a split at its second convention. This split occurred over questions which are normally the concern of political parties rather than of unions. Charles 0. Sherman, the first general president of the IWW, was an exponent of the industrial-union form of organization. But that apparently was as far as he wanted to go, and it wasn’t far enough for those who took the revolutionary pronouncements of the First Convention seriously. They were not satisfied with lip service to larger principles.

When the Second Convention of the IWW assembled in Chicago in September, 1906, Haywood was in jail in Idaho awaiting trial for his life; and Debs, never a man for factionalism, was standing aside. Vincent St. John, himself a prominent figure in the Western Federation of Miners, and a member of its delegation to the Second Convention of the IWW, came forward as the leader of the anti-Sherman forces, in alliance with De Leon.

As is customary in factional fights, all kinds of secondary charges were thrown about. But St. John stated the real issue motivating him and his supporters in his own invariably forthright manner. This resolute man was on the warpath at the Second Convention because, as he said:

“The administration of the I. W. W. was in the hands of men who were not in accord with the revolutionary program of the organization … The struggle for control of the organization formed the second convention into two camps. The majority vote of the convention was in the revolutionary camp. The reactionary camp, having the Chairman, used obstructive tactics in their effort to gain control of the convention . . . The revolutionists cut this knot by abolishing the office of President and electing a chairman from among the revolutionists.” (The I.W.W: History, Structure and Method, by Vincent St. John.)

That action precipitated the split and consigned Sherman to a niche in history as a unique figure. He was the first, and is so far the only, union president on record to get dumped because he was not a revolutionist. There will be others, but Sherman’s name will live in history as the prototype.

This split at the Second Convention also resulted in the disaffiliation of the Western Federation of Miners, the only strongly organized union the IWW had had to start with. The other members of the WFM delegation, already turning to conservatism, supported Sherman in the split. But St. John, as was his nature and consistent practice, took his stand on principle.

Faced with a choice of affiliation between the widely advertised and well-heeled WFM, of which he was a paid officer, and the poverty-stricken, still obscure IWW, with its program and its principles, he unhesitatingly chose the latter. For him, as for all the others who counted in making IWW history, personal interests and questions of bread and butter unionism were secondary. The first allegiance was to revolutionary principle.

Sherman and his supporters, with the help of the police, seized the headquarters and held on to the funds of the organization, such as they were. St. John remarked that the newly elected officials “were obliged to begin work after the Second Convention without the equipment of so much as a postage stamp.” (Brissenden, p. 144.) The new administration under the leadership of St. John, who was thereafter to be the dominating influence in the organization for the next decade, had to start from scratch with very little in the way of tangible assets except the program and the ideal.

That, plus the indomitable spirit of Vincent St. John, proved to be enough to hold the shattered organization together. The Sherman faction, supported by the Western Federation of Miners, set up a rival organization. But it didn’t last long. The St. John wing prevailed in the post-convention conflict and proved itself to be the true IWW. But in the ensuing years it existed primarily, not as a mass industrial union of workers fighting for limited economic demands, but as a revolutionary organization proclaiming an all-out fight against the capitalist system.

As such, the IWW attracted a remarkable selection of young revolutionary militants to its banner. As a union, the organization led many strikes which swelled the membership momentarily. But after the strikes were over, whether won or lost, stable union organization was not maintained. After every strike, the membership settled down again to the die-hard cadre united on principle.

The Duality of the IWW

The IWW borrowed something from Marxism; quite a bit, in fact. Its two principal weapons — the doctrine of the class struggle and the idea that the workers must accomplish their own emancipation through their own organized power — came from this mighty arsenal. But for all that, the IWW was a genuinely indigenous product of its American environment, and its theory and practice ought to be considered against the background of the class struggle as it had developed up to that time in this country.

The experience of the American working class, which did not yet recognize itself as a distinct class, had been limited; and the generalizing thought, even of its best representatives, was correspondingly incomplete. The class struggle was active enough, but it had not yet developed beyond its primary stages. Conflicts had generally taken the form of localized guerrilla skirmishes, savagely conducted on both sides, between separate groups of workers and employers. The political power brought to bear on the side of the employers was mainly that of local authorities.

Federal troops had broken the ARU strike of the railroaders in ‘94 — “the Debs Rebellion,” as the hysterical press described it — and had also been called out against the metal miners in the West. But these were exceptional cases. The intervention of the federal government, as the executive committee of all the capitalists — the constant and predominant factor in capital-labor relations in modern times — was rarely seen in the local and sectional conflicts half a century ago. The workers generally made a distinction between local and federal authorities, in favor of the latter — as do the great majority, in a delayed hangover from earlier times, even to this day.

The all-embracing struggle of all the workers as a class, against the capitalist class as a whole, with political power in the nation as the necessary goal of the struggle, was not yet discernible to many when the IWW made its entrance in 1905. The pronouncements of the founders of the IWW, and all the subsequent actions proceeding from them, should be read in that light. The restricted and limited scope of the class struggle in America up to that time, from which their program was derived, makes their prevision of 50 years ago stand out as all the more remarkable.

In the situation of that time, with the class struggle of the workers still in its most elementary stages, and many of its complications and complexities not yet disclosed in action, the leaders of the IWW foresaw the revolutionary goal of the working class and aimed at one single, over-all formula for the organization of the struggle. Putting everything under one head, they undertook to build an organization which, as Vincent St. John, its chief leader and inspirer after the Second Convention, expressed it, would be “all-sufficient for the workers’ needs.” One Big Union would do it all. There was an appealing power in the simplicity of this formula, but also a weakness — a contradiction — which experience was to reveal.

One of the most important contradictions of the IWW, implanted at its first convention and never resolved, was the dual role it assigned to itself. Not the least of the reasons for the eventual failure of the IWW — as an organization — was its attempt to be both a union of all workers and a propaganda society of selected revolutionists — in essence a revolutionary party. Two different tasks and functions, which, at a certain stage of development, require separate and distinct organizations, were assumed by the IWW alone; and this duality hampered its effectiveness in both fields. All that, and many other things, are clearer now than they were then to the leading militants of the IWW — or anyone else in this country.

The IWW announced itself as an all-inclusive union; and any worker ready for organization on an everyday union basis was invited to join, regardless of his views and opinions on any other question. In a number of instances, in times of organization campaigns and strikes in separate localities, such all-inclusive membership was attained, if only for brief periods. But that did not prevent the IWW agitators from preaching the revolutionary overthrow of capitalism in every strike meeting.

The strike meetings of the IWW were in truth “schools for socialism.” The immediate issues of the strike were the take-off point for an exposition of the principle of the class struggle, for a full-scale indictment of the capitalist system all up and down the line, and the projection of a new social order of the free and equal.

The professed “non-political” policy of the IWW doesn’t stand up very well against its actual record in action. The main burden of its energies was devoted to agitation and propaganda — in soap-box speeches, press, pamphlets and songbooks — against the existing Social order; to defense campaigns in behalf of imprisoned workers; and to free-speech fights in numerous localities. All these activities were in the main, and in the proper meaning of the term, Political.

The IWW at all times, even during strikes embracing masses of church-going, ordinarily conservative workers, acted as an organization of revolutionists. The “real IWW’s,” the year-round activists, were nicknamed Wobblies — just when and why nobody knows — and the criterion of the Wobbly was his stand on the principle of the class struggle and its revolutionary goal; and his readiness to commit his whole life to it.

In truth, the IWW in its time of glory was neither a union nor a party in the full meaning of these terms, but something of both, with some parts missing. It was an uncompleted anticipation of a Bolshevik party, lacking its rounded-out theory, and a projection of the revolutionary industrial unions of the future, minus the necessary mass membership. It was the IWW.

Vincent St. John

The second split of the IWW, which broke off De Leon and SLP elements at the Fourth (1908) Convention, likewise occurred over a doctrinal question. The issue this time was “political action” or, more correctly, conflicting conceptions of working class action in the class struggle which — properly understood — is essentially political.

The real purpose of the split was to free the IWW from the Socialist Labor Party’s ultra-legalistic, narrowly restricted and doctrinaire conception of “political action” at the ballot box; and to clear the way for the St. John conception of overthrowing capitalism by the “direct action” of the organized workers. This, by a definition which was certainly arbitrary and inexact, was declared to be completely “non-political.”

In a negative gesture, the 1908 Convention merely threw the “political clause” out of the Preamble. Later, going overboard, the IWW explicitly disavowed “politics” altogether, and political parties along with it. The origin of this trend is commonly attributed to the influence of French syndicalism. That is erroneous; although the IWW later imported some phrasemongering anti-political radicalism from Europe, to its detriment. Brissenden is correct when he says:

“The main ideas of I.W.W.-ism — certainly of the I.W.W.-ism of the first few years after 1905 — were of American origin, not French, as is commonly supposed. These sentiments were brewing in France, it is true, in the early nineties, but they were brewing also in this country and the American brew was essentially different from the French. It was only after 1908 that the syndicalisme révolutionnaire of France had any direct influence on the revolutionary industrial unionist movement here.” (Brissenden, p. 53.)

The IWW brand of syndicalism, which its proponents insisted on calling “industrialism,” never acknowledged French origination, and had no reason to. The IWW doctrine was sui generis, a native product of the American soil. And so was its chief author, Vincent St. John. St. John, as all the old-timers knew, was the man most responsible for shaping the character of the IWW in its heroic days. His public reputation was dimmed beside the glittering name of Bill Haywood, and this has misled the casual student of IWW history. But Vincent St. John was the organizer and leader of the cadres.

Haywood himself was a great man, worthy of his fame. He presided at the Founding Convention, and his magnificent utterances there have already been quoted in the introductory paragraphs of this article. The “Big Fellow” conducted himself as a hero of labor in his celebrated trial in Idaho, and again called himself thunderously to public attention in the great IWW strikes at Lawrence, Paterson and Akron. In 1914 he took over from St. John the office of General Secretary of the IWW, and thereafter stood at its head through all the storms of the war and the persecution. There is historical justice in the public identification of Bill Haywood’s name with that of the IWW, as its personification.

But in the years 1906-1914, the years when the character of the IWW was fixed, and its basic cadres assembled, it was Vincent St. John who led the movement and directed all its operations. The story of the IWW would not be complete and would not be true if this chapter were omitted.

St. John, like Haywood, was a miner, a self-educated man who had come up to national prominence the hard way, out of the violent class battles of the western mining war. If “The Saint,” as all his friends called him, borrowed something from the writings of others, and foreigners at that, he was scarcely aware of it. He was not a man of books; his school was his own experience and observation, and his creed was action.

He had learned what he knew, which was quite a lot, mainly from life and his dealings with people, and he drew his conclusions from that.

This empiricism was his strength and his weakness. As an executive leader in practical situations he was superb, full of ideas — “enough to patch hell a mile” — and ready for action to apply them. In action he favored the quick, drastic decision, the short cut. This propensity had yielded rich results in his work as a field leader of the Western Federation of Miners. He was widely renowned, in the western mining camps and his power was recognized by friend and foe. Brissenden quotes a typical report about him by a mine-owners’ detective agency in 1906:

“St. John has given the mine owners of the [Colorado mining] district more trouble in the past year than any twenty men up there. If left undisturbed he would have the entire district organized in another year.”

In dealing with people — “handling men,” as they used to say — Vincent St. John had no equal that I ever knew. He “sized up” men with a quick insight, compounded of simplicity and guile, spotting and sifting out the phonies and the dabblers — you had to be serious to get along with The Saint — and putting the others to work in his school of learning by doing, and getting the best out of them.

“Experience,” “decision” and “action” were the key words in St. John’s criteria. He thought a man was what he did. It was commonplace for him to pass approving judgment on an organizer with the remark, “He has had plenty of experience,” or “He’ll be all right when he gets more experience.” And once I heard him say, with a certain reservation, of another who was regarded as a corner in the organization: “He’s a good speaker, but I don’t know how much decision he has.” In his vocabulary “experience” meant tests under fire. “Decision’ meant the capacity to think and act at the same time; to do what had to be done right off the bat, with no “philosophizing” or fooling around.

St. John’s positive qualities as a man of decision and action were contagious; like attracted like and he created an organization in his own image. He was not a back-slapper but a leader, with the reserve that befits a leader, and he didn’t win men by argument alone. In fact, he was a man of few words. The Saint lived his ideas and methods. He radiated sincerity and integrity, and unselfishness free from taint or ostentation. The air was clean in his presence.

The young men who fought under his command — a notable cadre in their time — swore by The Saint. They trusted him. They felt that he was their friend, that he cared for them and that they could always get a square deal from him, or a little better, as long as they were on the square with the organization. John S. Gambs, in his book, The Decline of the I.W.W, a postscript to Brissenden’s history, remarks: “I have heard it said that St. John, among outstanding leaders, was the best loved and most completely trusted official the I. W. W. have ever had.” He heard it right.

The IWW, as it evolved under the influence of St. John, scornfully rejected the narrow concept of “political action” as limited to parliamentary procedures. St. John understood the class struggle as a ruthless struggle for power. Nothing less and no other way would do; he was as sure of that as Lenin was. He judged socialist “politics” and political parties by the two examples before his eyes — the Socialist Party bossed by Berger and Hillquit and the Socialist Labor Party of De Leon — and he didn’t like either of them.

That attitude was certainly right as far as it went. Berger was a small-bore socialist opportunist; and Hillquit, although slicker and more sophisticated, wasn’t much better. He merely supplied a little radical phraseology to shield the cruder Bergerism from the attacks of the left.

De Leon, of course, was far superior to these pretentious pygmies; he towered above them. But De Leon, with all his great merits and capacities; with his exemplary selflessness and his complete and unconditional dedication to the workers’ cause; with the enemies he made, for which he is entitled to our love and admiration — with all that, De Leon was sectarian in his tactics, and his conception of political action was rigidly formalistic, and rendered sterile by legalistic fetishism.

In my opinion, St. John was completely right in his hostility to Berger-Hillquit, and more than half right in his break with De Leon. His objections to the parliamentary reformism of Berger-Hillquit and the ultra-legalism of the SLP contained much that must now be recognized as sound and correct. The error was in the universal opposition, based on these poor and limited examples, to all “politics” and all political parties. The flaw in his conceptions was in their incompleteness, which left them open, first to exaggeration and then to a false turn.

St. John’s cultivated bent to learn from his own limited and localized experience and observations in life rather than from books, and to aim at simple solutions in direct action, deprived him of the benefits of a more comprehensive theory generalized by others from the world-wide experiences of the class struggle. And this was true in general of the IWW as a movement. Over-simplification placed some crippling limitations on its general conceptions which, in their eventual development, in situations that were far from simple, were to prove fatal for the IWW. But this took time. It took the First World War and the Russian Revolution to reveal in full scope the incompleteness of the governing thought of the IWW.

The Long Detour

The IWW’s disdain for parliamentarism, which came to be interpreted as a rejection of all “politics” and political organizations, was not impressed on a body of members with blank minds. The main activities of the IWW, in fields imposed upon it by the conditions of the time, almost automatically yielded recruits whose own tendencies and predilections had been shaped along the same lines by their own experiences.

The IWW plan of organization was made to order for modern mass production industry in the eastern half of the country, where the main power of the workers was concentrated. But the power of the exploiting class was concentrated there too, and organizing the workers against the entrenched corporations was easier said than done.

The IWW program of revolution was designed above all to express the implicit tendency of the main mass of the basic proletariat in the trustified industries of the East. The chance for a wage worker to change his class status and become an independent proprietor or a small farmer was far less alluring there than on the western frontier, where such class transmigrations still could, and in many cases actually did, take place. If the logic of the class struggle had worked out formally — as it always does in due time — those workers in the industrial centers east of the Mississippi should have been the most class conscious and the most receptive to the IWW appeal.

But that’s not the way things worked out in practice in the time when the IWW was making its strongest efforts. The organization never succeeded in establishing stable unions among the workers in modern machine industry in the industrially developed East. On the contrary, its predominant activity expanded along the lines of least resistance on the peripheral western fringes of the country, which at that time were still under construction. The IWW found a readier response to its appeal and recruited its main cadres among the marginal and migratory workers in that region.

This apparent anomaly — which is really nothing more than the time lag between reality and consciousness — has been seen many times in international experience. Those workers most prepared for socialism by industrial development are not always the first to recognize it.

The revolutionary movement recruits first, not where it chooses but where it can, and uses the first recruits as the cadres of the organization and the carriers of the doctrine. Marxist socialism, the logical and necessary answer to developed capitalism, got its poorest start and was longest delayed in England, the pre-eminent center of world capitalism in the time of Marx and Engels, while it flourished in Germany before its great industrialization. The same Marxism, as developed by Lenin in the actual struggle for power — under the nickname of Bolshevism — is the program par excellence for America, the most advanced capitalist country; but it scored its first victory in industrially backward Russia.

The economic factor eventually predominates, and the class struggle runs its logical course everywhere — but only in the long run, not in a straight line. The class struggle of the workers in all its manifestations, from the most elementary action of a union organization up to the revolution, breaks the chain of capitalist resistance at the weakest link.

So it was in the case of the IWW. Simply having the right form of organization did not provide the IWW with the key to quick victory in the trustified industries. The founders, at the 1905 Convention, had noted and emphasized the helplessness of obsolete craft unionism in this field; that was their stated motivation for proposing the industrial union form of organization. But, for a long time, the same concentrated power that had broken up the old craft unions in modern industry was also strong enough to prevent their replacement by new unions in the industrial form.

The meager success of the IWW in establishing revolutionary industrial unions in their natural habitat was not due to lack of effort. Time and again the IWW tried to crack the trustified industries, including steel, but was beaten back every time. All the heroic attempts of the IWW to organize in this field were isolated and broken up at the start.

The employers fought the new unionism in dead earnest. Against the program of the IWW and its little band of agitators, they brought up the heavy guns of their financial resources; public opinion moulded in their favor by press and pulpit; their private armies of labor spies and thugs; and, always and everywhere, the police power of that “political state” which the IWW didn’t want to recognize.

In all the most militant years of the IWW the best it could accomplish in modern mass production industry were localized strikes, nearly all of which were defeated. The victorious Lawrence textile strike of 1912, which established the national fame of the IWW, was the glorious exception. But no stable and permanent union organization was ever maintained anywhere in the East for any length of time — not even in Lawrence.

From the formulation of the industrial union program of the IWW at the 1905 Convention to its eventual realization in life in the mass production industries, there was a long rough road with a wide detour. It took 30 years of propaganda and trial-and-error effort, and then a mass upheaval of volcanic power generated by an unprecedented economic crisis, before the fortresses of mass production industry could be stormed and conquered by industrial unionism. But the time for such an invincible mass revolt had not yet come when the IWW first sounded the call and launched its pioneering campaigns.

Meantime, defeated and repulsed in the industrialized East, where the workers were not yet ready for organization and the corporations were more than ready to prevent it, the IWW found its best response and concentrated its main activity in the West. It scored some successes and built up an organization primarily among the seasonal and migratory workers there.

The Wobblies as They Were

There was no such thing as “full employment” in the time of the IWW. The economic cycle ran its normal ten-year course, with its periodic crises and depressions, producing a surplus labor army squeezed out of industry in the East. Unemployment rose and fell with the turns of the cycle, but was always a permanent feature of the times. An economic crisis in 1907 and a serious depression in 1913-1914 swelled the army of the jobless.

Many of the unemployed workers, especially the young, took to the road, as those of another generation were to do again in the Thirties. The developing West had need of a floating labor force, and the supply drifted toward the demand. A large part of the mobile labor population in the West at that time, perhaps a majority, originated in the eastern half of the continent. Their conditions of life were pretty rough.

They were not the most decisive section of the working class; that resided, then as now, in the industrial centers of the eastern half of the continent. But these migrants, wherever they came from, responded most readily to the IWW program for a drastic change in the social order.

The IWW was right at home among footloose workers who found casual employment in the harvest fields — traveling by freight train to follow the ripening of the grain, then back by freight train again to the transportation centers for any kind of work they could find there; railroad construction workers, shipping out for temporary jobs and then shipping back to the cities into unemployment again; lumberjacks, metal miners, seamen, etc., who lived in insecurity and worked, when they worked, under the harshest, most primitive conditions.

This narrow stratum of the unsettled and least privileged workers came to make up the bulk of the membership of the IWW. It was often said among the Wobblies, only half facetiously, that the name of their organization, “Industrial Workers of the World,” should be changed to ‘Migratory Workers of the World.”

The American political system offered no place for the participation of this floating labor force of the expanding West. Very little provision of any kind was made for them. They were overlooked in the whole scheme of things. They lacked the residential qualifications to vote in elections and enjoyed few of the rights of political democracy accorded to settled citizens with a stake in their community. They were the dispossessed, the homeless outcasts, without roots or a stake any place in society, and with nothing to lose.

Since they had no right to vote anyway, it took little argument to persuade them that “political action” — at the ballot box was a delusion and a snare. They had already been convinced, by their own harsh experiences, that it would take more than paper ballots to induce the exploiters to surrender their swollen privileges. The IWW, with its bold and sweeping program of revolution by direct action, spoke their language and they heard it gladly.

The IWW became for them their one all-sufficient organization — their union and their party; their social center; their home; their family; their school; and in a manner of speaking, their religion, without the supernatural trimmings — the faith they lived by. Some of Joe Hill’s finest songs, it should be remembered, were derisive parodies of the religious hymns of the IWW’s rivals in the fight for the souls of the migratory workers milling around in the congested Skid Row sections of the western and mid-western cities.

These were not the derelicts who populate the present day version of the old Skid Row. For the greater part, they were the young and venturesome, who had been forced out of the main industries in more settled communities, or had wandered away from them in search of opportunity and adventure. They had been badly bruised and beaten, but not conquered. They had the courage and the will to fight for an alleviation of their own harsh conditions.

But when they enlisted in the IWW it meant far more to them than joining a union to promote a picayune program of immediate personal needs. The IWW proclaimed that by solidarity they could win everything. It gave them a vision of a new world and inspired them to fight for the general good of the whole working class.

These footloose workers, recruited by the propaganda and action of the IWW, became the carriers of its great, profoundly simple message wherever they traveled — the message expressed in the magic words: Solidarity, Workers’ Power, One Big Union and Workers’ Emancipation. Wherever they went, they affirmed their conviction that “there is power in a band of working men,” as stated in the singing words of Joe Hill — “a power that must rule in every land.”

They felt themselves to be — as indeed they were — the advance guard of an emancipating army. But it was an advance guard separated from the main body of troops in concentrated industry, separated and encircled, and compelled to wage guerrilla actions while awaiting reinforcements from the main army of the proletariat in the East. It was a singing movement, with confidence in its mission. When the Wobblies sang out the swelling chorus of “Hold the Fort,” they “heard the bugles blow” and really believed that “by our union we shall triumph over every foe.”

Recruits enlisted in the main from this milieu soon came to make up the main cadres of the IWW; to provide its shock troops in all Its battles, East and West; and to impress their own specific ideology upon it — the ideology which was in part ‘he developed result of their own experiences, and in part derived from teachings of the IWW. These teachings seemed to formulate and systematize their own tendencies. That’s why they accepted them so readily.

Many a worker recruited to the IWW under those conditions was soon on the move again, carrying his red card and his newly found convictions with him and transmitting them to others. All the progressive and radical sections of the labor movement were heavily influenced by the IWW in the years preceding the First World War.

The left-wing socialists were ardent sympathizers of the IWW, and quite a few of them were members. The same was true in large measure of the more militant trade unionists in the AFL. “Two-card men” were fairly numerous — those who belonged to the AFL unions for bread and butter reasons and carried the “red card” of the IWW for the sake of principle.

The IWW struck a spark in the heart of youth as no other movement in this country, before or since, has done. Young idealists from “the winds’ four quarters” came to the IWW and gave it all they had. The movement had its gifted strike leaders, organizers and orators, its poets and its martyrs.

By the accumulated weight of its unceasing propagandistic efforts, and by the influence of its heroic actions on many occasions which were sensationally publicized, the IWW eventually permeated a whole generation of American radicals, of all shades and affiliations, with its concept of industrial unionism as the best form for the organization of workers’ power and its program for a revolutionary settlement of the class struggle.

It was a long way from the pioneer crusade of the IWW among the dispossessed migratory workers on the western frontier, in the second decade of our century, to the invincible picket lines and sit-down strikes of the mass production workers in the eastern centers of concentrated industry, in the Thirties. A long way and not a straight one. But that’s the route over which the message of industrial unionism eventually reached those places where it was most applicable and could eventually explode with the greatest power.

The Turning Point

The whole record of the IWW — or at any rate, the best part of it, the positive revolutionary part — was all written in propaganda and action in its first 15 years. That is the enduring story. The rest is anti-climax.

The turning point came with the entrance of the United States into the First World War in the spring of 1917, and the Russian Revolution in the same year. Then “politics,” which the IWW had disavowed and cast out, came back and broke down the door.

These two events — again coinciding in Russia and America, as in 1905 — demonstrated that “political action” was not merely a matter of the ballot box, subordinate to the direct conflict of the unions and employers on the economic field, but the very essence of the class struggle. In opposing actions of two different classes the “political state,” which the IWW had thought to ignore, was revealed as the centralized power of the ruling class; and the holding of the state power showed in each case which class was really ruling.

From one side, this was shown when the Federal Government of the United States intervened directly to break up the concentration points of the IWW by wholesale arrests of its activists. The “political action” of the capitalist state broke the back of the IWW as a union. The IWW was compelled to transform its principal activities into those of a defense organization, striving by legal methods and propaganda, to protect the political and civil rights of its members against the depredations of the capitalist state power.

From the other side, the same determining role of political action was demonstrated positively by the Russian Revolution. The Russian workers took the state power into their own hands and used that power to expropriate the capitalists and suppress all attempts at counter-revolution. That, in fact, was the first stage of the Revolution, the pre-condition for all that was to follow. Moreover, the organizing and directing center of the victorious Revolution had turned out to be, not an all-inclusive union, but a party of selected revolutionists united by a program and bound by discipline.

The time had come for the IWW to remember Haywood’s prophetic injunction at the Founding Convention in 1905: that the American workers should look to Russia and follow the Russian example. By war and revolution, the most imperative of all authorities, the IWW was put on notice to bring its theoretical conceptions up to date; to think and learn, and change a little.

First indications were that this would be done; the Bolshevik victory was hailed with enthusiasm by the members of the IWW. In their first reaction, it is safe to say, they saw in it the completion and vindication of their own endeavors. But this first impulse was not followed through.

Some of the leading Wobblies, including Haywood himself, tried to learn the lessons of the war and the Russian Revolution and to adjust their thinking to them. But the big majority, after several years of wavering, went the other way. That sealed the doom of the IWW. Its tragic failure to look, listen and learn from the two great events condemned it to defeat and decay.

The governing role of theory here asserted itself supremely, and in short order. While the IWW was settling down in ossification, converting its uncompleted conceptions about the real meaning of political action and political parties into a sterile anti-political dogma, the thinking of others was catching up with reality, with the great new things happening in the world. The others, the young left-wing socialists, soon to call themselves Communists, lacked the battle-tested cadres of the IWW. But they had the correct program. That proved to be decisive.

The newly formed Communist Party soon outstripped the IWW and left it on the sidelines. It was all decided within the space of two or three years. By the time of its fifteenth anniversary in 1920 the IWW had already entered the irreversible road of decline. Its strength was spent. Most of its cadres, the precious human material selected and sifted out in heroic struggle, went down with the organization. They had borne persecution admirably, but the problems raised by it, and by all the great new events, overwhelmed them. The best militants fell into inactivity and then dropped out. The second-raters took over and completed the wreck and the ruin.

The failure of the main cadres of the IWW to become integrated in the new movement for the Communist Party in this country, inspired by the Russian Revolution, was a historical miscarriage which might have been prevented.

In action the IWW had been the most militant, the most revolutionary section of the workers’ vanguard in this country. The IWW, while calling itself a union, was much nearer to Lenin’s conception of a party of professional revolutionists than any other organization calling itself a party at that time. In their practice, and partly also in their theory, the Wobblies were closer to Lenin’s Bolsheviks than any other group in this country.

There should have been a fusion. But, in a fast-moving situation, a number of untoward circumstances, combined with the inadequacy of the American communist leadership, barred the way.

The failure of the IWW to find a place in the new movement assembling under the banner of the Russian Revolution, was not the fault of the Russians. They recognized the IWW as a rightful part of the movement they represented and made repeated attempts to include it in the new unification of forces. The first manifesto of the Communist International specified the American IWW as one of the organizations invited to join. Later, in 1920, the Executive Committee of the Communist International addressed a special Open Letter to the IWW, inviting its cooperation.

The letter explained, in the tone of brothers speaking to brothers, that the revolutionary parliamentarism of the Communist International had nothing in common with the ballotbox fetishism and piddling reformism of the right-wing socialists. Haywood says of that letter: “After I had finished reading it I called Ralph Chaplin over to my desk and said to him: ‘Here is what we have been dreaming about; here is the I.W.W. all feathered out!’” (Bill Haywood’s Book, p. 360.)

In war-time France Trotsky had found his best friends and closest collaborators in the fight against the war among the syndicalists. After the Russian Revolution, in a notable series of letters, published later as a pamphlet, he urged them to join forces with the communists. The theses adopted by the Communist International at its Second Congress recognized the progressive and revolutionary side of pre-war syndicalism, and said it represented a step forward from the ideology of the Second International. The theses attempted to explain at the same time, in the most patient and friendly manner, the errors and limitations of syndicalism on the question of the revolutionary party and its role.

Perhaps the chief circumstance operating against a patient and fruitful discussion, and an orderly transition of the IWW to the higher ground of Bolshevism, was the furious persecution of the IWW at the time. When the Russian Revolution erupted in the victory in November, 1917, hundreds of the IWW activists were held in jail under excessive bail, awaiting trial. Following their conviction a year later, they were sentenced to long terms in the Federal Penitentiary.

This inprisonment cut them off from contact with the great new events, and operated against the free exchange of ideas which might have resulted in an agreement and fusion with the dynamically developing left-wing socialist movement headed toward the new Communist Party. The IWW as an organization was compelled to divert its entire activities into its campaign to provide legal defense for its victimized members. The members of the organization had little time or thought for other things, including the one all-important thing — the assimilation of the lessons of the war and the Russian Revolution.

Despite that, a number of IWW men heard the new word from Russia and followed it. They recognized in Bolshevism the rounding out and completion of their own revolutionary conceptions, and joined the Communist Party. Haywood expressed their trend of thought succinctly, in an interview with Max Eastman, published in The Liberator, April, 1921.

“’I feel as if I’d always been there,’ he said to me. ‘You remember I used to say that all we needed was fifty thousand real I.W.W.’s, and then about a million members to back them up? Well, isn’t that a similar idea? At least I always realized that the essential thing was to have an organization of those who know.’”

As class-conscious men of action, the Wobblies, “the real IWW’s,” had always worked together as a body to influence the larger mass. Their practice contained the essential idea of the Leninist conception of the relation between the party and the class. The Bolsheviks, being men of theory in all their action, formulated it more precisely and developed it to its logical conclusion in the organization of those class-conscious elements into a party of their own.

All that seemed clear to me at the time, and I had great hopes that at least a large section of the Wobblies would recognize it. I did all I could to convince them. I made especially persistent efforts to convince Vincent St. John himself, and almost succeeded; I didn’t know how close I had come until later, when it was too late.

When he was released from the Federal Penitentiary at Leavenworth on bond — I think it was in the early part of 1919 — The Saint stopped over in Kansas City and visited me. We talked about the Russian Revolution night and day. I believe he was as sympathetic at that time as I was. The revolution was an action — and that’s what he believed in. But he had not yet begun to grapple with the idea that the Russian way would be applicable to this country, and that the IWW would have to recognize it.

His hostility to a “party” and “politicians,” based on what he had seen of such things in this country, was the fixed obstacle. I noted, however, that he did not argue back, but mainly listened to what I had to say. A year or so later we had several other discussions in New York, when he was still out on bail before he was returned to prison in the fall of 1921. We talked a great deal on those occasions; or rather, I did, and The Saint listened.

In addition to my proselytizing zeal for communism in those days, I had a strong personal motivation for trying to win over Vincent St. John to the new movement. Coming from the syndicalistic background of the IWW, with its strong anti-intellectual emphasis, I had been plunged up to my neck in the internal struggles of the young Communist Party and association with its leading people. They were nearly all young intellectuals, without any experience or feel for the mass movement and the “direct action” of the class struggle. I was not very much at home in that milieu; I was lonesome for people of my own kind.

I had overcome my own “anti-intellectualism” to a considerable extent; but I knew for sure that the Communist Party would never find its way to the mass movement of the workers with a purely intellectualistic leadership. I was looking for reinforcements for a proletarian counter-balance on the other side, and I thought that if I could win over St. John it would make a big difference. In fact, I knew it.

I remember the occasion when I made the final effort with The Saint. The two of us went together to have dinner and spend the night as guests of Carlo Tresca and Elizabeth Gurley Flynn at their cottage on Staten Island beach. We spent very little time looking at the ocean, although that was the first time I had ever seen it. All through the dinner hour, and nearly all through the night, we discussed my thesis that the future belonged to the Communist Party; and that the IWW militants should not abandon the new party to the intellectuals, but come into it and help to shape its proletarian character.

As in the previous discussions, I did practically all the talking. The Saint listened, as did the others. There was no definite conclusion to the long discussion; neither expressed rejection nor acceptance of my proposals. But I began to feel worn-out with the effort and let it go at that.

A short time later St. John returned to Chicago. The officials in charge of the IWW center there were hostile to communism and were embroiled in some bitter quarrels with a pro-communist IWW group in Chicago. I don’t know what the immediate occasion was, but St. John was drawn into the conflict and took a stand with the anti-communist group. Then, as was natural for him in any kind of a crisis, once he had made up his mind he took charge of the situation and began to steer the organization definitely away from cooperation with the communists.

Years later — in 1926 — when Elizabeth Gurley Flynn herself finally came over to the Communist Party and was working with us in the International Labor Defense, she recalled that night’s discussion on Staten Island and said: “Did you know you almost convinced The Saint that night? If you had tried a little harder you might have won him over.” I hadn’t known it; and when she told me that, I was deeply sorry that I had not tried just “a little harder.”

The Saint was crowding 50 at that time, and jail and prison had taken their toll. He was a bit tired, and he may have felt that it was too late to start over again in a new field where he, like all of us, had much to learn. Whatever the reason for the failure, I still look back on it regretfully. Vincent St. John, and the IWW militants he would have brought along, could have made a big difference in everything that went on in the CP in the Twenties.

The Heritage

The eventual failure of the IWW to remain true to its original self, and to claim its own heritage, does not invalidate its great contributions in propaganda and action to the revolutionary movement which succeeds it. The IWW in its best days was more right than wrong, and all that was right remains the permanent acquisition of the American workers. Even some of the IWW propositions which seemed to be wrong — only because the times were not ripe for their full realization — will rind their vindication in the coming period.

The IWW’s conception of a Republic of Labor, based on occupational representation, replacing the present political state with its territorial form of representation, was a remarkable prevision of the course of development which must necessarily follow from the victory of the workers in this country. This new and different form of social organization was projected at the Founding Convention of the IWW even before the Russian Bolsheviks had recognized the Workers’ Councils, which had arisen spontaneously in the 1905 Revolution, as the future governmental form.

The IWW program of industrial unionism was certainly right, although it came too early for fulfillment under the IWW banner. This has already been proved to the hilt in the emergence and consolidation of the CIO.

The IWW theory of revolutionary unionism likewise came too early for general acceptance in the epoch of ascending capitalism in this country. It could not be realized on a wide scale in the time of the IWW. But re rmist unions, in the present epoch of imperialist decay, have already become anachronistic and are confronted with an ultimatum from history to change their character or cease to be.

The mass industrial unions of workers, by the fact of their existence, instinctively strive toward socialism. With a capitalist minded leadership, they are a house divided against itself, half slave and half free. That cannot stand. The stage is being set for the transformation of the reformist unions into revolutionary unions, as they were projected by the IWW half a century ago.

The great contradiction of the labor movement today is the disparity between the mass unions with their organized millions and the revolutionary party which still remains only a nucleus, and their separation from each other. The unity of the vanguard and the class, which the IWW tried to achieve in one organization, was shattered because the time was not ripe and the formula was inadequate. The time is now approaching when this antithetic separation must give way to a new synthesis.

This synthesis — the unity of the class and the socialist vanguard — will be arrived at in the coming period in a different way from that attempted by the IWW. It will not be accomplished by a single organization. The building of a separate party organization of the socialist vanguard is the key to the resolution of the present contradiction of the labor movement. This will not be a barrier to working class unity but the necessary condition for it.

The working class can be really united only when it becomes a class for itself, consciously righting the exploiters as a class. The ruling bureaucrats, who preach and practice class collaboration, constitute in effect a pro-capitalist party in the trade unions. The party of the socialist vanguard represents the consciousness of the class. Its organization signifies not a split of the class movement of the workers, but a division of labor within it, to facilitate and effectuate its unification on a revolutionary basis; that is, as a class for itself.

As an organization of revolutionists, united not simply by the immediate economic interests which bind all workers together in a union, but by doctrine and program, the IWW was in practice, if not in theory, far ahead of other experiments along this line in its time, even though the IWW called itself a union and others called themselves parties.

That was the IWW’s greatest contribution to the American labor movement — in the present stage of its development and in those to come. Its unfading claim to grateful remembrance will rest in the last analysis on the pioneering role it played as the first great anticipation of the revolutionary party which the vanguard of the American workers will fashion to organize and lead their emancipating revolution.

This conception of an organization of revolutionists has to be completed and rounded out, and recognized as the most essential, the most powerful of all designs in the epoch of imperialist decline and decay, which can be brought to an end only by a victorious workers’ revolution. The American revolution, more than any other, will require a separate, special organization of the revolutionary vanguard. And it must call itself by its right name, a party.

The experimental efforts of the IWW along this line remain part of the permanent capital of those who are undertaking to build such a party. They will not discard or discount the value of their inheritance from the old IWW; but they will also supplement it by the experience and thought of others beyond our borders.

The coming generation, which will have the task of bringing the class struggle to its conclusion — fulfilling the “historic mission of the working class,” as the “Preamble” described it — will take much from the old leaders of the IWW — Debs, Haywood, De Leon and St. John, and will glorify their names. But in assimilating all the huge experiences since their time, they will borrow even more heavily from the men who generalized these experiences into a guiding theory. The Americans will go to school to the Russians, as the Russians went to school to the Germans, Marx and Engels.

Haywood’s advice at the Founding Convention of the IWW still holds good. The Russian way is the way to our American future, to the future of the whole world. The greatest thinkers of the international movement since Marx and Engels, and also the greatest men of action, were the Russian Bolsheviks. The Russian Revolution is there to prove it, ruling out all argument. That revolution still stands as the example; all the perversions and betrayals of Stalinism cannot change that.

The Russian Bolsheviks — Lenin and Trotsky in the first place — have inspired every forward step taken by the revolutionary vanguard in this country since 1917. And it is to them that the American workers will turn for guidance in the next stages of their evolving struggle for emancipation. The fusion of their “Russian” ideas with the inheritance of the IWW is the American workers’ prescription for victory.

Los Angeles, June, 1955.

Liga Bolchevique Internacionalista Sugarcoats Qaddafi

A Tyrant Without the Quotation Marks

Liga Bolchevique Internacionalista Sugarcoats Qaddafi

By Rodolfo Kaleb, November 2011

A rather thick collection of documents has recently been published in Brazil by the Liga Bolchevique Internacionalista titled “Trotskyist Theses on the Imperialist War on Libya”. The collection is of interest as, at first glance, the LBI takes a formally correct position on the key issue in the war which many others on the left simply failed, which side to take. The collection includes many polemics with groups and currents who betrayed the principle of defending oppressed countries against imperialism, including many who went so far as to praise the National Transitional Council/NATO takeover of Libya as a genuine “revolution.”

“Unlike revisionist traitors, the revolutionary Marxists swim against the pro-imperialist tide which the left has been swept up in, militarily blocking with Qaddafi against imperialist intervention, while at the same time remaining totally independent of and giving no confidence to his bourgeois nationalist government.”

“É possível ser anti-imperialista apoiando os “rebelados” pró-OTAN?” (March 2011)

While for socialists the primary immediate task during NATO’s intervention was to repel the imperialists and their domestic agents, remaining politically and organizationally independent of Qaddafi’s bourgeois forces, even while being in a military bloc, was not simply some minor detail.

The goal of revolutionaries is to mobilize the working class to overthrow capitalism and take power into their own hands. Political adaptation to any section of the bourgeoisie would make accomplishing that goal impossible. Our class reasons for being on the same side of the barricades with Qaddafi’s forces against the imperialists were different than his myriad apologists, which internationally included bourgeois populist figures such as Hugo Chavez. From the criterion of the capacity of leading the struggle for socialist revolution, groups which gave Qaddafi any confidence would be just as useless as those who took the wrong side in the war.

In that regard it should be noted that Leon Trotsky’s Fourth International had a highly different attitude towards the working class fighting for democratic demands in bourgeois dictatorships such as Qaddafi’s than the one advanced by the LBI in Libya.

The LBI writes;

“Imperialist wolves like Obama, Sarkozy and Cameron, mouths dripping with blood and saliva, demand the ‘dictator’ leave power immediately, while pursuing the largest air strikes mankind has witnessed in history.”

Libyan Resistance, LBI’s website, August 22

“Monarchist supporters of Libya’s former king, deposed by the colonels in 1969, were the initiators behind the supposed mass movement against the ‘bloodthirsty tyrant’ Muammar Qaddafi….   Soon those rebelling against the nationalist caudillo began receiving sophisticated heavy weaponry that they used instead against the Libyan people themselves who remained determined to stay loyal to Qaddafi’s ‘bloody dictatorship’”.

Resistência Líbia, LBI site August 22

To begin, there is the clearly false assertion that “the Libyan people” were solidly backing Qaddafi. It is obvious that Qaddafi had many supporters in Libya. But it is also obvious that so did the rebels, whose base, unlike the reactionary bourgeois leadership, also included supporters amongst all classes, including some sectors of the Libyan proletariat. Next there is the decision to constantly use the quotation marks. But wasn’t Qaddafi in reality actually a tyrant and bloody dictator? It seems the LBI did not think he was. The LBI seemed unable to acknowledge the Qaddafi regime’s dictatorial character in these or any of their other articles on Libya. In other articles the LBI argues that the description of “dictator” was nothing more than “cantilena” (blabber), a propaganda tactic used by his pro-imperialist opponents, “the same being used against Chavez today.”

Obviously we did not derive our position on the war from the undemocratic character of Qaddafi’s regime. We were defending a semi-colonial country against the imperialist powers. Objectively, in seeking to defend its own separate [bourgeois] interests, so was the ruling government. However oppressive and bloody, any regime installed by imperialism would be qualitatively worse. As Leon Trotsky noted [1], the victory of the imperialists would signify the imposition of “double chains” imprisoning the Libyan people.

Not the slightest credence should be given to the “democratic” claims of imperialists like Obama, Sarkozy, Cameron and company who are responsible for the deaths of tens of thousands of Libyans since the bombardments began. But that should not prevent us from denouncing Qaddafi and pointing to the tyrannical character of his government. It is due to his policies that the workers movement in Libya is almost non-existent.

“All other political parties were proscribed. Trade unions were incorporated into the ASU [Arab Socialist Union, Gaddafi’s party] and strikes forbidden. The press, already subject to censorship, was officially conscripted in 1972 as an agent of the [1969] revolution [of the colonels, sic].”

Helen Chapin Metz. Libya: A Country Study. Washington: GPO for the Library of Congress, 1987.

With a ban on all independent press, trade union and political activity for nearly 40 years, the working class was left unprepared for any form of independent resistance. Likewise the absence of democratic rights (which predated Qaddafi coming to power but whose continued existence he ensured) helped contribute to pushing many Libyans into accepting NTC/NATO propaganda about fighting for bourgeois democracy which was used to justify the slaughter.

While in Chavez’s Venezuela these democratic freedoms exist and the “Bonaparte of the twenty-first century” has repeatedly received voter approval to remain in power, the accusations of dictatorship in Libya are more than “cantilena”. Thus democratic demands would have played an important role in politically preparing workers against Libya’s dictator (without any quotation marks). In the 1938 founding document of the Fourth International authored by Leon Trotsky, there is an entire section devoted to explaining the important supplementary role played by democratic demands in backward [or dictatorial] capitalist countries.

“It is impossible merely to reject the democratic program; it is imperative that in the struggle the masses outgrow it. The slogan for a National (or Constituent) Assembly preserves its full force for such countries as China or India. (…)

“As a primary step, the workers must be armed with this democratic program. Only they will be able to summon and unite the farmers. On the basis of the revolutionary democratic program, it is necessary to oppose the workers to the ‘national’ bourgeoisie.”

The Transitional Program, September 1938.

While organizing workers in military detachments to help repel the NTC/NATO bloc, a revolutionary party in Qaddafi’s Libya would also raise the call for expropriation with no compensation and workers control of all imperialist and national industries to help highlight the ruling governments’ true class character. It would also be essential to mobilize the workers using democratic demands such as freedom of press, trade union and political organization and calling for a Constituent Assembly elected by universal suffrage.

  

The LBI has indeed pointed to the bourgeois character of Qaddafi and criticized his [economic] collaboration with imperialism, but has carefully avoided acknowledging issues and raising demands related to his regimes dictatorial character. This omission is underlined by the fact that not even one democratic demand is raised against Qaddafi in the LBI’s 80-page pamphlet! Reading between the lines it is clear the LBI nurtured some serious illusions about the Libyan strongman. Along with spreading those illusions to others, the LBI’s policy would assist in pushing many workers who opposed Qaddafi’s tyranny into the arms of the tribal reactionaries, who falsely presented themselves as fighting for the bourgeois democratic rights which clearly did not exist under Qaddafi. In the end, the bourgeois “democracy” they will have actually received will be in accordance with Islamic law and brought into being under the rubble of imperialist murder and destruction

The necessity of defeating the imperialists did not change the strategic goal of revolutionaries, leading the working class to power in their own name. This could not be done by glossing over key aspects of Qaddafi’s rule but only fully exposing him on all fronts. But by treating the issue of democratic rights in Libya as a taboo subject, an 800 pound elephant in the room whose presence they would pretend not to notice, the LBI in practice abandoned its “total political independence” from Qaddafi.

Note

(1) In an interview published in Novermber 1938, Trotsky explained

“In Brazil there now reigns a semifascist regime that every revolutionary can only view with hatred. Let us assume, however, that on the morrow England enters into a military conflict with Brazil. I ask you on whose side of the conflict will the working class be? I will answer for myself personally—in this case I will be on the side of “fascist” Brazil against “democratic” Great Britain. Why? Because in the conflict between them it will not be a question of democracy or fascism. If England should be victorious, she will put another fascist in Rio de Janeiro and will place double chains on Brazil. If Brazil on the contrary should be victorious, it will give a mighty impulse to national and democratic consciousness of the country and will lead to the overthrow of the Vargas dictatorship. The defeat of England will at the same time deliver a blow to British imperialism and will give an impulse to the revolutionary movement of the British proletariat. Truly, one must have an empty head to reduce world antagonisms and military conflicts to the struggle between fascism and democracy. Under all masks one must know how to distinguish exploiters”

http://www.marxists.org/archive/trotsky/1938/09/liberation.htm

Pelo Trotskismo!

Pelo Trotskismo!
Este documento é uma tradução da revista 1917, n° 3 (Março de 1987). Ele foi adotado originalmente como a base para a fusão, em 1986, entre a Tendência Bolchevique e a Tendência de Esquerda Trotskista, na América do Norte, e permanece como uma importante codificação das diferenças essenciais entre o centrismo e a política revolucionária. 

1. Partido e programa
Os interesses da classe (operária) não podem ser formulados de outra maneira que não seja em forma de programa; o programa não pode ser defendido de outra maneira que não seja criando um partido. 
A classe, tomada em si mesma, é somente material para a exploração. O proletariado assume um papel independente somente no momento em que passa a ser, de uma classe em si, uma classe para si. Isto não pode acontecer a não ser através da existência de um partido. O partido é aquele órgão histórico por meio do qual a classe toma consciência sobre a classe.” 
 —L. D. Trotsky, “E agora?” 1932 
A classe operária é a única classe completamente revolucionária na sociedade moderna, a única classe com a capacidade de terminar com a demência do regime capitalista internacional. A tarefa fundamental da vanguarda comunista é inculcar na classe (sobretudo em seu componente mais importante, o proletariado industrial) a consciência de seu papel histórico. Nós rechaçamos explicitamente todo estratagema que seja apresentado por centristas, reformistas e setorialistas, que vêem, em uma ou outra seção da população não proletária, um veículo mais viável para o progresso social. 
A libertação do proletariado e, com isso, a eliminação da base material de todas as formas de opressão social, depende da sua direção. O inventário das direções “socialistas” em potencial pode se reduzir, em última análise, a dois programas: reforma ou revolução. Pretendendo oferecer uma estratégia “prática” para a melhora gradual das injustiças das classes sociais, o reformismo trata de conciliar a classe operária com os requisitos do capital. Em contraste, o marxismo revolucionário está baseado no antagonismo entre capital e trabalho, e na conseqüente necessidade da expropriação da burguesia, por parte do proletariado, como pré-condição de qualquer progresso social importante. 

A hegemonia da ideologia burguesa, em suas várias formas, no proletariado, representa o baluarte mais poderoso do regime capitalista. Como escreveu James P. Cannon, o líder histórico do trotskismo americano, em seu livro Os primeiros dez anos do Comunismo Americano:

A força do capitalismo não se encontra nele mesmo e em suas instituições; ele sobrevive porque tem bases de apoio em organizações de trabalhadores. Como nós o vemos agora, à luz do que aprendemos com a Revolução Russa e seus efeitos, noventa por cento da luta pelo socialismo é a luta contra a influência da burguesia nas organizações dos trabalhadores, incluindo o partido.” 

A distinção chave entre uma organização revolucionária e uma centrista ou reformista não está tanto em declarações abstratas sobre metas finais e objetivos, mas sim nas posições que cada uma avança nas situações concretas postas pela luta de classes. Os reformistas e centristas costuram a sua resposta programática a cada novo acontecimento de acordo com as ilusões e preconceitos da sua audiência. Mas o papel de um revolucionário é dizer aos trabalhadores e oprimidos o que eles ainda não sabem.

O programa deve expressar as tarefas objetivas da classe trabalhadora, em vez do atraso dos trabalhadores. Deve refletir a sociedade como é e não o atraso da classe trabalhadora. É um instrumento para superar e vencer o atraso. Nós não podemos acelerar, não podemos modificar as condições objetivas, que não dependem de nós. Não podemos garantir que as massas resolverão a crise, mas devemos expressar como a situação é, e isso é a tarefa do programa.” 
Trotsky, “O Atraso Político dos Trabalhadores Americanos”, 1938

Procuramos enraizar o programa comunista na classe trabalhadora através da construção de colaterais programáticas nos sindicatos. Tais formações devem participar ativamente de todas as lutas por reformas parciais e melhoras na situação dos trabalhadores. Elas também devem ser os melhores defensores das tradições militantes de solidariedade de classes, por exemplo, dizendo que ”Os Piquetes Querem dizer Não Cruze’! Ao mesmo tempo, elas devem procurar recrutar os trabalhadores politicamente mais conscientes para uma perspectiva mundial, que transcenda a militância local na base, e ponha as questões políticas mais urgentes, de forma a apontar para a necessidade de eliminar a anarquia da produção voltada para o lucro, substituindo-a pela produção planificada racionalmente, para atender às necessidades humanas.

Nossa intervenção nas organizações de massa do proletariado é baseada no Programa de Transição, adotado pela Conferência de Fundação da Quarta Internacional, em 1938. Num certo sentido, não pode haver, para um marxista, algo como um “programa acabado” É necessário levar em conta os desenvolvimentos históricos nas cinco décadas passadas, e a necessidade de dar resposta a problemas postos por lutas específicas de setores oprimidos e/ou da classe, com que o esboço de 1938 não lida. Não obstante, em seu essencial, o programa sobre o qual a Quarta Internacional foi fundada mantém toda a sua relevância, porque propõe soluções socialistas aos problemas objetivos enfrentados pela classe trabalhadora hoje, no contexto da necessidade imutável do poder proletário. 

2. A Revolução permanente

Nos últimos quinhentos anos, o capitalismo criou uma única ordem econômica mundial, com uma divisão internacional do trabalho. Vivemos na época do imperialismo—a época do declínio capitalista. A experiência deste este século demonstrou que as burguesias nacionais do mundo neocolonial são incapazes de completar as tarefas históricas da revolução democrático-burguesa. Não há, em geral, nenhum caminho aberto para o desenvolvimento capitalista independente a estes países.

Nos países neocoloniais, as realizações das revoluções burguesas clássicas só podem ser conquistadas através do esmagamento das relações capitalistas de propriedade, separando-os dos tentáculos do mercado mundial imperialista, e estabelecendo a propriedade da classe trabalhadora (ou seja, coletivizada). Só uma revolução socialista—uma revolução realizada contra a burguesia nacional e os latifundiários—pode levar a uma expansão qualitativa das forças produtivas.

Rejeitamos a estratégia etapista menchevique-stalinista, de subordinação do proletariado aos supostos “setores progressistas” da burguesia. Defendemos a independência política completa e incondicional do proletariado em cada país. Sem exceção, as burguesias nacionais do “Terceiro Mundo” são agentes da dominação imperialista, e seus interesses são, num sentido histórico, muito mais próximos dos dos banqueiros e industriais da metrópole do que dos seus povos explorados.

Os trotskistas oferecem apoio militar, mas não político, a movimentos nacionalistas pequeno-burgueses (e inclusive a regimes burgueses) que entrem em conflito com o imperialismo, em defesa da soberania nacional. Em 1935, por exemplo, os trotskistas defenderam a vitória militar dos etíopes sobre os invasores italianos. No entanto, os leninistas não podem determinar automaticamente a sua posição numa guerra entre dois regimes burgueses a partir de seu nível relativo de desenvolvimento (ou subdesenvolvimento). Na sórdida guerra das Malvinas, de 1982, em que a defesa da soberania da Argentina nunca esteve em jogo, os leninistas defenderam que tanto os argentinos como os ingleses “apontassem as suas armas para seus governos”, ou seja, o derrotismo revolucionário de ambos os lados. 

3. Guerrilheirismo

A nossa estratégia para a revolução é a insurreição proletária de massas. Rejeitamos o guerrilheirismo como orientação estratégica (embora reconhecendo que, às vezes, as guerrilhas podem ter valor tático suplementar), porque relega politicamente a classe operária organizada e consciente ao papel de espectadora passiva. Um movimento guerrilheiro baseado no campesinato e dirigido por intelectuais de esquerda pequeno-burgueses não pode estabelecer o poder político da classe trabalhadora, independente da intenção subjetiva de sua direção.

Em várias ocasiões, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, foi demonstrado que, em determinadas circunstâncias objetivas favoráveis, tais movimentos podem ter êxito em expropriar a propriedade capitalista. Mas, como eles não são baseados na mobilização da classe trabalhadora organizada, estas lutas, no máximo conseguem estabelecer regimes burocráticos nacionalistas qualitativamente idênticos ao produto da degeneração stalinista da Revolução Russa (como a Iugoslávia, a Albânia, a China, o Vietnã e Cuba). Tais Estados Operários Deformados exigem revoluções políticas proletárias suplementares para abrir o caminho ao desenvolvimento socialista. 

4. Opressões específicas: A Questão Negra, a Questão da Mulher

A classe trabalhadora hoje é profundamente dividida em torno de linhas raciais, sexuais, nacionais etc. Mas o racismo, o chauvinismo e o machismo são comportamentos programados social, e não geneticamente. Não importa qual seja o seu nível de consciência atual, os trabalhadores do mundo têm uma coisa crucial em comum: eles não podem melhorar, fundamentalmente, a sua situação como classe, sem destruírem a base social de toda a opressão e exploração, de uma vez por todas. Esta é a base material para a afirmação marxista de que o proletariado tem como sua missão histórica a eliminação da sociedade de classes e a erradicação de todas as formas de opressão “específicas”.

Nos Estados Unidos, a luta pelo poder dos trabalhadores está inextricavelmente ligada à luta pela libertação negra. A divisão racial entre trabalhadores negros e brancos, historicamente, foi o maior obstáculo para a consciência de classe. Os americanos negros não são uma nação, e sim uma casta de cor, segregada nos setores mais inferiores da sociedade, e se concentram, sobretudo, na classe operária, particularmente nos setores estratégicos do proletariado industrial. Brutalizada, sofrendo abusos e sendo sistematicamente discriminada na “terra da liberdade”, a população negra tem sido, historicamente, relativamente imune ao patriotismo racista imperial, que envenenou muito do proletariado branco. Os trabalhadores negros provaram ser, em geral, o setor mais militante e combativo da classe. A luta pela libertação negra – contra a brutalidade racista da vida cotidiana na América capitalista—é central para a construção de uma vanguarda revolucionária no continente norte-americano. A luta contra as opressões especiais das minorias nacionais, lingüísticas e raciais, particularmente da crescente população latina, é uma questão que também será chave na revolução norte-americana.

A opressão das mulheres é enraizada materialmente na existência da família nuclear, a unidade básica e indispensável da organização social burguesa. A luta pela igualdade social completa para as mulheres é de importância estratégica em todos os países do globo. Uma forma de opressão especial relacionada é a que é experimentada pelos homossexuais, que são perseguidos por não conseguirem se adaptar aos papéis sexuais ditados pelo ”estado normal” da família nuclear. A questão gay não é estratégica como a da mulher, mas a vanguarda comunista deve defender os direitos democráticos do(a)s homossexuais e opor-se a todas e quaisquer medidas discriminatórias contra ele(a)s.

Nos sindicatos, os comunistas devem defender o acesso igual a todos os empregos; programas, organizados pelos sindicatos, para recrutar e melhorar a situação das mulheres e minorias em campos “não-tradicionais”, salário igual para trabalho igual e trabalho para todos. Ao mesmo tempo, nós defendemos o sistema de previdência como uma conquista histórica do movimento sindical, e nos opomos a esquemas anti-sindicais e de divisão de “dispensas preferenciais”. É responsabilidade histórica da vanguarda comunista lutar para unir a classe trabalhadora pelos seus interesses comuns de classe, atravessando as divisões artificiais promovidas pela sociedade capitalista. Fazer isto significa avançar os interesses do mais explorados e oprimidos, e lutar constantemente contra toda manifestação de discriminação e injustiça.

Os setores oprimidos da população não podem se libertar sem a revolução proletária, numa estrutura social que originou e perpetua a sua opressão. Como Lênin apontou em O Estado e a Revolução

Só o proletariado—em virtude do papel econômico que joga na produção em larga escala—é capaz de ser o líder de todas as massas trabalhadoras que a burguesia explora, oprime e esmaga, freqüentemente não menos que ele, mas que são incapazes de empreender uma luta independente pela sua emancipação”. 

Vivemos numa sociedade de classes, e o programa de cada movimento social deve, em última análise, representar os interesses de uma das duas classes com o potencial governar a sociedade: o proletariado ou a burguesia. Nos sindicatos, a ideologia burguesa toma a forma do economicismo estreito; nos movimentos dos oprimidos, manifesta-se como setorialismo. O que o nacionalismo negro, o feminismo e outras formas de ideologia setorialista têm em comum é que localizam a raiz da opressão em algo que não é o sistema capitalista e a propriedade privada.

A orientação estratégica da vanguarda marxista em relação às organizações setorialistas “independentes” (ou seja, policlassistas) dos oprimidos deve ser a de ajudar na sua diferenciação interna em torno de seus componentes de classe. Isto implica uma luta para ganhar tantos indivíduos quanto for possível para a perspectiva da revolução proletária e a conseqüente necessidade de um partido de vanguarda integrado. 

5. A Questão Nacional e os “Povos Interpenetrados”

O marxismo não pode ser reconciliado com o nacionalismo, nem mesmo na sua forma ‘mais pura’, ‘mais justa’ e ‘mais refinada’ e ‘civilizada’. Em lugar de todas as formas de nacionalismo, o marxismo avança o internacionalismo”. 
V. I. Lênin, “Comentários Críticos sobre a Questão Nacional.”

O marxismo e o nacionalismo são duas visões de mundo fundamentalmente contrapostas. Sustentamos o princípio da igualdade entre as nações, e nos opomos a quaisquer privilégios para qualquer nação. Ao mesmo tempo, os marxistas rejeitam todas as formas de ideologia nacionalista e, nas palavras de Lênin, aceitam ”todo o tipo de assimilação entre as nações, exceto os fundados na força e no privilégio”. O programa leninista sobre a questão nacional é principalmente negativo, feito para tirar a questão nacional da agenda, cortando o apelo dos nacionalistas pequeno-burgueses, para poder colocar melhor a questão de classe.

Em casos “clássicos” de opressão nacional (por exemplo, o Québec), nós defendemos o direito à autodeterminação, sem necessariamente advogar o seu exercício. Nos casos mais complexos, de povos interpenetrados num mesmo território geográfico (Chipre, Irlanda do Norte, Palestina/Israel) o direito abstrato de cada um à autodeterminação não pode ser exercido eqüitativamente dentro da estrutura de relações de propriedade capitalistas. Ainda assim, em nenhum destes casos, os povos opressores podem ser comparados com os brancos na África do Sul ou os colonos franceses na Argélia; ou seja, uma casta colonizadora privilegiada/aristocracia operária, baseada na super-exploração do trabalho nativo para manter um padrão de vida qualitativamente mais alto do que o da população oprimida.

Tanto a população protestante irlandesa como os israelenses de fala hebraica são povos com diferenciações de classe. Cada um tem uma burguesia, uma pequena burguesia e uma classe trabalhadora. Diferente dos moralistas burgueses com sentimento de culpa, os leninistas não apóiam simplesmente o nacionalismo dos oprimidos (nem as formações políticas pequeno-burguesas que o apóiam). Fazer isso, ao mesmo tempo, impede as possibilidades de explorar as contradições de classe reais nas fileiras dos povos opressores, e assegura a hegemonia do nacionalismo sobre os oprimidos. Os proletários dos povos ascendentes não podem ser ganhos por uma perspectiva nacionalista de simplesmente inverter a atual relação desigual. Uma seção significativa deles pode ser ganha para uma perspectiva de classe contra classe, não sectária, porque ela está de acordo com os seus interesses objetivos.

A lógica de capitulação ao nacionalismo pequeno-burguês levou grande parte da esquerda a apoiar os governantes árabes (a encarnação da assim chamada “Revolução Árabe”) contra os israelenses nas guerras do Oriente Médio em 1948, 1967 e 1973. Em essência, estas foram guerras inter-capitalistas, em que os trabalhadores e oprimidos da região não tinham nada a ganhar com a vitória de qualquer um dos lados. A posição leninista era, portanto, o derrotismo de ambos os lados. Tanto para os trabalhadores árabes como para os hebreus, o inimigo principal estava em casa. A guerra de 1956 foi uma questão diferente, naquele conflito, a classe trabalhadora tinha um lado: com Nasser, contra as tentativas dos imperialismos francês e britânico (ajudado pelos israelenses) de se reapropriarem do Canal de Suez, recentemente nacionalizado.

Embora se oponham ao nacionalismo por uma questão de princípio, os leninistas não são neutros nos conflitos entre os povos oprimidos e o aparato estatal opressor. Na Irlanda do Norte, nós exigimos a retirada imediata e incondicional das tropas britânicas, e defendemos os ataques feitos pelo Exército Republicano Irlandês (IRA) contra tais alvos imperialistas, como a Força Policial Real de Ulster, o Exército Britânico ou o hotel cheio de ministros Conservadores em Brighton. Do mesmo modo, nós apoiamos militarmente a Organização pela Libertação da Palestina contra as forças do Estado de Israel. Em nenhum caso defendemos atos terroristas dirigidos contra as populações civis. Isto, apesar do fato de que o terrorismo criminoso do Estado Sionista contra os palestinos, assim como o do exército britânico e seus aliados protestantes contra os católicos da Irlanda do Norte, é muitas vezes maior que os atos de terror dos oprimidos. 

6. Imigração/emigração

Os leninistas apóiam o direito democrático básico de qualquer indivíduo emigrar para qualquer país no mundo. Como no caso de outros direitos democráticos, isto não é nenhum tipo de imperativo categórico. Nós não defenderíamos, por exemplo, a emigração de qualquer indivíduo que significasse uma ameaça à segurança militar dos Estados Operários degenerados ou deformados. O direito de imigração individual, se exercido numa escala suficientemente larga, pode entrar em conflito com o direito à autodeterminação de uma nação pequena. Portanto, os trotskistas não levantam a bandeira de “Abrir as Fronteiras” como uma exigência programática geral. Na Palestina, por exemplo, durante as décadas de 1930 e 1940, o imenso influxo de imigração sionista criou a base para a expulsão forçada do povo palestino de sua própria terra. Nós não reconhecemos o “direito” de migração ilimitada dos Han ao Tibete, nem de cidadãos franceses à Nova Caledônia.

A exigência de “fronteiras abertas” geralmente é advogada por liberais ou radicais confusos e bem-intencionados, significando um desejo utópico de corrigir as desigualdades hediondas produzidas pela ordem mundial imperialista. Mas revolução socialista mundial—e não a imigração em massa—é a solução marxista para a miséria e a indigência da maioria da humanidade sob o capitalismo.

Nos EUA, nós defendemos os trabalhadores mexicanos presos pela Migra. Nos opomos a todas as cotas de imigração, todas as prisões e todas as deportações de trabalhadores imigrantes. Nos sindicatos, nós lutamos pela concessão imediata e incondicional de plenos direitos de cidadania a todos trabalhadores nascidos no estrangeiro. 

7. Centralismo democrático

Uma organização revolucionária deve ser estritamente centralizada, com os organismos superiores tendo plena autoridade para dirigir o trabalho dos organismos e membros inferiores. A organização deve ter o monopólio político sobre a atividade política pública de seus membros. A militância deve ter o direito garantido à plena democracia fracional (ou seja, o direito de conduzir luta política interna para mudar a linha e/ou substituir a direção atual). A democracia interna não é um enfeite decorativo—nem meramente uma válvula de segurança de uma panela de pressão, para a base —é uma necessidade crítica e indispensável para a vanguarda revolucionária, se esta quer lidar com os desenvolvimentos complexos da luta de classes. É também o meio principal pelo qual os quadros revolucionários são criados. O direito à democracia fracional interna, ou seja, o direito de lutar contra o revisionismo dentro da vanguarda, é a única ”garantia” contra a degeneração política de uma organização revolucionária.

As tentativas encobrir diferenças importantes e apagar linhas de demarcação políticas internamente só podem enfraquecer e desorientar um partido revolucionário. Uma organização coesionada por diplomacia, consenso no máximo denominador comum e a conseqüente ambigüidade programática (em vez de acordo programático e de princípios, e luta pela clareza política) apenas está esperando a primeira prova séria posta pela luta de classes para rachar. Por outro lado, as organizações em que a expressão de diferenças é proscrita—seja formal ou informalmente—são destinadas a se fossilizarem em seitas rígidas, hierárquicas e sem vida, crescentemente divorciadas do movimento real dos trabalhadores, e incapazes de reproduzir os quadros necessários para executar as tarefas de uma vanguarda revolucionária. 

8. Frentes populares

A questão das questões atualmente é a Frente Popular. O centristas de esquerda procuram apresentar esta questão como tática ou mesmo como uma manobra técnica, a fim de poder vender as suas mercadorias na sombra da Frente Popular. Na realidade, a Frente Popular é a questão principal da estratégia da classe operária nesta esta época. Também oferece o melhor critério para diferenciar o bolchevismo do menchevismo.
Trotsky, ”O POUM e a Frente Popular,” 1936

O frente-populismo (ou seja, um bloco programático, normalmente pelo poder governamental, entre organizações de trabalhadores e representantes da burguesia) é traição de classe. Os revolucionários não podem dar nenhum apoio, nem mesmo “crítico”, a participantes de frentes populares.

A tática de apoio eleitoral crítico a partidos operários reformistas é baseada na contradição, inerente em tais partidos, entre seu programa burguês (reformista) e sua base operária. Quando um partido social-democrata ou stalinista entra numa coalizão ou bloco eleitoral com formações burguesas ou pequeno-burguesas, esta contradição é efetivamente suprimida durante a duração da coalizão. Um membro de um partido operário reformista que concorre às eleições na chapa de uma coalizão de colaboração de classes (ou frente popular) é, de fato, o representante de uma formação política burguesa. Assim, a possibilidade de aplicação da tática de apoio crítico é excluída, porque a contradição que se procura explorar é suspensa. Em vez disso, os revolucionários devem ter como condição para o apoio eleitoral a ruptura da coalizão: “Abaixo os Ministros Capitalistas!”. 

9. Frentes Únicas e “Frentes Únicas Estratégicas”

A frente única é uma tática com que revolucionários procuram se aproximar de formações reformistas ou centristas para “jogar a base contra a direção”, quando há uma necessidade sentida e urgente de ação unida por parte das bases. É possível entrar em acordos de frente única com formações pequeno-burguesas ou burguesas, onde há um acordo episódico sobre um assunto particular, e onde é do interesse da classe trabalhadora (por exemplo, os bolcheviques fizeram frente única com Kerensky contra Kornilov). A frente única é uma tática que não só é projetada para realizar o objetivo comum, mas também demonstrar, na prática, a superioridade do programa revolucionário, e assim ganhar mais influência e aderentes para a organização de vanguarda.

Os revolucionários nunca empenham a sua responsabilidade como direção revolucionária a uma aliança de longo prazo (nem “frente única estratégica”) com forças centristas ou reformistas. Os trotskistas nunca fazem propaganda comum—declarações conjuntas de perspectiva política geral—com os revisionistas. Tal prática é tanto desonesta (porque inevitavelmente envolve calar sobre as diferenças políticas que separam as organizações) quanto liquidacionista. A “frente única estratégica” é uma manobra favorita dos oportunistas que, desesperados com a sua própria pequena influência, procuram compensá-la pela sua dissolução num bloco mais amplo, com um programa de maior denominador comum. Em “O Centrismo e a Quarta Internacional”, Trotsky explicou que uma organização revolucionária se distingue de uma centrista pelo seu “interesse ativo pela pureza de princípios, clareza de posição, consistência política e integralidade organizacional”. É justamente isto que a “frente única estratégica” é feita para apagar.

10. Democracia Operária e Linha de Classe

Os marxistas revolucionários, que se distinguem pelo fato de que contam a verdade aos trabalhadores, só podem beneficiar-se com o confronto político aberto entre as várias correntes que competem na esquerda. Não é assim com os reformistas e centristas. Os stalinistas, social-democratas, burocratas sindicais e outras direções traidoras da classe trabalhadora atacam a crítica revolucionária e procuram impedir a discussão e o debate políticos com gangsterismo e exclusões.

Somos contra a violência e o exclusionismo dentro da esquerda e do movimento operário, ao mesmo tempo em que defendemos o direito de todos à autodefesa. Também somos contra a violência “suave” – ou seja, as calúnias, que anda junta com (ou prepara o caminho para) os ataques físicos. A calúnia e a violência dentro do movimento operário são completamente estranhas às tradições do marxismo revolucionário, porque são usados, principalmente, para destruir a consciência, a condição prévia para a libertação do proletariado. 

11. O Estado e a Revolução

A questão do Estado ocupa um lugar central na teoria revolucionária. O marxismo ensina que o Estado capitalista (em última análise, “os corpos especiais de homens armados comprometidos com a defesa da propriedade burguesa”) não pode ser assumido e usado para servir aos interesses da classe trabalhadora. O poder da classe trabalhadora só pode ser estabelecido pela destruição da maquinaria burguesa de Estado atual, e sua substituição por instituições comprometidas com a defesa da propriedade proletária.

Nós somos terminantemente contra a intervenção do Estado burguês, em qualquer de suas formas, nos assuntos do movimento operário. Os marxistas são contra quaisquer “reformadores” sindicais que procurem corrigir a corrupção burocrática através das cortes capitalistas. Os trabalhadores devem limpar a própria casa! Nós também defendemos a expulsão, do movimento sindical, de todos os policiais e guardas de prisão.

O dever dos revolucionários é ensinar à classe trabalhadora que o Estado não é um árbitro imparcial entre interesses sociais conflitantes, e sim uma arma usada contra ela pelos capitalistas. Assim, os marxistas são contra as exigências reformistas/utópicas de que o Estado burguês ”proíba” os fascistas. Tais leis, invariavelmente, serão usadas muito mais agressivamente contra o movimento operário e a esquerda do que contra a escória fascista, que constitui as tropas de choque da reação capitalista. A estratégia trotskista de luta contra o fascismo não é fazer apelos ao estado burguês, e sim mobilizar o poder da classe trabalhadora e dos oprimidos, pela ação direta, para esmagar os movimentos fascistas em seu nascedouro, antes que possam crescer. Como Trotsky observou no Programa de Transição, “A luta contra o fascismo não começa na edição de jornais liberais, e sim na fábrica—e termina na rua”.

Os leninistas rejeitam totalmente a idéia de que tropas imperialistas possam ter um papel progressivo em qualquer lugar: seja “protegendo” alunos negros no Sul dos EUA, “protegendo” a população católica na Irlanda do Norte ou “mantendo a ordem” no Oriente Médio. Nem tentamos pressionar os imperialistas para agirem “moralmente” por embargos ou impondo sanções à África do Sul. Argumentamos, em vez disso, que os poderes do “Mundo Livre” estão fundamentalmente unidos com o regime racista do apartheid, em defesa do “direito” a super-explorar os trabalhadores negros. A nossa resposta é mobilizar o poder operário internacional, em ações eficientes de solidariedade classista aos trabalhadores negros da África do Sul.

12. A Questão Russa 

O que é a Stalinofobia? É ódio ao stalinismo, o temor desta ‘sífilis do movimento operário’ e a recusa irreconciliável de tolerar qualquer manifestação dele no partido? De jeito nenhum… 
É a opinião de que o stalinismo não é o líder da revolução internacional, e sim o seu inimigo mortal? Não, isso não é Stalinofobia; isso é o que Trotsky nos ensinou, o que nós aprendemos outra vez com a nossa experiência com o stalinismo, e o que nós sentimos na pele… 
O sentimento de ódio e temor ao stalinismo, com o seu estado policial e seus campos de trabalho escravo, suas emboscadas e seus assassinatos da oposição operária, é saudável, natural, normal, e progressivo. Este sentimento só vai mal quando leva à reconciliação com o imperialismo americano, e à designação da luta contra estalinismo a esse mesmo imperialismo. Na linguagem trotskista, isso é nada mais que isso é Stalinofobia”. 
James P. Cannon, “Conciliacionismo com o stalinismo e Stalinofobia”, 1953

Nos colocamos na defesa incondicional das economias coletivizadas do Estado Operário degenerado soviético e dos Estados Operários Deformados da Europa Oriental, Vietnã, Laos, Camboja, China, Coréia Norte e Cuba, contra a restauração capitalista. Mas nós não perdemos de vista nem um momento o fato de que somente revoluções políticas proletárias, que derrotem os burocratas anti-operários traidores que governam estes Estados, podem defender as conquistas existentes e abrir o caminho para o socialismo.

A vitória da fração stalinista na União Soviética, nos 1920, sob a bandeira do “Socialismo num só País”, foi consolidada com o extermínio físico dos principais quadros do partido de Lênin uma década mais tarde. Os usurpadores stalinistas subvertem decisivamente tanto a defesa da União Soviética quanto a revolução mundial. A perspectiva de uma insurreição proletária para restabelecer o domínio político direto da classe trabalhadora, portanto, não é contraposta, e sim indissoluvelmente ligada à defesa das economias coletivizadas.

A questão russa foi posta mais agudamente, em anos recentes, em dois acontecimentos: a supressão do Solidariedade polonês e a intervenção do exército soviético no Afeganistão. Nos emblocamos militarmente com os stalinistas contra ambos, o Solidariedade capitalista-restauracionista e a luta feudalista Islâmica para conservar a escravidão feminina no Afeganistão. Isto não implica que os burocratas stalinistas tenham qualquer papel histórico progressivo a desempenhar. Ao contrário. Não obstante, defendemos essas ações (como a supressão do Solidariedade em dezembro de 1981) porque eles são forçados a defender as formas de propriedade operárias. 

13. Pelo Renascimento da Quarta Internacional!

O trotskismo não é um novo movimento, uma nova doutrina, e sim a restauração, o renascimento, do genuíno marxismo, como foi exposto e praticado na Revolução Russa e nos primeiros dias da Internacional Comunista”. 
James P. Cannon, A História do Trotskismo Americano 

O trotskismo é o marxismo revolucionário do nosso tempo – a teoria política derivada da experiência destilada de mais de um século e meio de luta da classe operária pelo comunismo. Foi comprovado pela positiva durante a Revolução de Outubro de 1917, o acontecimento mais importante da história contemporânea e, desde então, pela negativa.

Depois do estrangulamento burocrático do partido bolchevique e da Internacional Comunista pelos stalinistas, a tradição do leninismo, a prática e o programa da revolução russa, foi levada adiante somente pela Oposição de Esquerda.

O movimento trotskista nasceu na luta pelo internacionalismo revolucionário, contra o conceito reacionário/utópico do “Socialismo num só país”. A necessidade de uma organização revolucionária em nível internacional é derivada da própria organização da produção capitalista. Os revolucionários em cada terreno nacional devem ser guiados por uma estratégia de dimensão internacional – e que seja elaborada através da construção de uma direção internacional da classe trabalhadora. Ao patriotismo da burguesia e de seus lacaios, social-democratas e stalinistas, o trotskistas opõem a palavra de ordem imortal de Karl Liebknecht: “O pior inimigo está em casa”. Nós nos baseamos nas posições programáticas básicas adotadas pela conferência de fundação da Quarta Internacional, em 1938, e nas tradições revolucionárias de Marx, Engels, Lênin, Luxemburgo y Trotsky.

Os dirigentes da Quarta Internacional fora da América do Norte foram, na sua maioria, aniquilados e dispersos durante a Segunda Guerra Mundial. A internacional foi definitivamente destruída politicamente pelo revisionismo pablista nos anos 50. Nós não somos neutros em relação à divisão que ocorreu em 1951-53 – estamos do lado do Comitê Internacional (CI) contra o Secretariado Internacional pablista (SI). A luta do CI tinha falhas profundas, tanto na sua elaboração política como em sua execução. Mesmo assim, em última análise, o impulso do CI para resistir à dissolução dos quadros trotskistas dentro dos partidos stalinistas e social-democratas (como foi proposto por Pablo), e a sua defesa da necessidade de um fator consciente na história, os fizeram qualitativamente superiores aos liquidacionistas do SI.

Dentro do CI, a seção mais importante era o Socialist Workers Party norte-americano (SWP). Também era a seção mais forte na época de fundação da internacional. Havia se beneficiado da colaboração direta de Trotsky e tinha quadros na sua direção que remontavam aos primeiros anos do Comintern. O colapso político do SWP como organização revolucionária, assinalado pelo seu entusiasmo acrítico em relação ao castrismo nos anos 60, e culminando com a sua unificação com os pablistas em 1963, foi um golpe enorme para todos os trotskistas.

Nós somos solidários com a luta da Tendência Revolucionária do SWP, que defendeu o programa revolucionário contra o objetivismo centrista da maioria. Nós nos baseamos nas posições trotskistas defendidas e elaboradas pela Liga Espartaquista revolucionária nos anos seguintes. Mesmo assim, sob a pressão de anos de isolamento e frustração, a SL se degenerou qualitativamente em uma seita grotescamente burocrática e um grupo de bandidos políticos que, apesar de terem uma capacidade residual para uma pose literária “ortodoxa”, têm demonstrado um impulso consistente de capitular sob pressão. A “tendência espartaquista internacional” hoje, não é politicamente superior, em nenhum sentido importante, a qualquer uma das dezenas de “Internacionais” pseudo-trotskistas, que falsamente reivindicam o manto da Quarta Internacional.

A fragmentação de vários dos pretendentes históricos à continuidade trotskista, e as dificuldades e giros à direita do resto, abrem um período fértil para a reavaliação e o realinhamento dos que não crêem que o caminho para o socialismo passe pelo Partido Trabalhista britânico, o Solidariedade capitalista/restauracionista de Lech Walesa ou a frente popular chilena. Nós pretendemos participar urgentemente num processo de reagrupamento internacional de quadros revolucionários baseado programaticamente no trotskismo autêntico, como um passo para o renascimento da Quarta Internacional, o Partido Mundial da Revolução Socialista.

Baseados em uma larga experiência histórica, podemos escrever como lei que os quadros revolucionários que se rebelam contra o seu meio social e organizam partidos para fazer a revolução podem, se a revolução demorar demais – se degenerar eles mesmo sob a constante influência e as pressões deste meio… Mas a mesma experiência histórica mostra que também há exceções a esta lei. A exceções são os marxistas que continuam a ser marxistas, os revolucionários fiéis à sua bandeira. As idéias básicas do marxismo, a única forma de criar um partido revolucionário, estão em aplicação contínua e têm estado assim há cem anos. As idéias do marxismo, que criam partidos revolucionários, são mais fortes que os partidos que criam, e nunca deixam de sobreviver à sua queda. Nunca deixam de encontrar representantes nas velhas organizações que dirigirão o trabalho da reconstrução
Estes são os continuadores da tradição, os defensores da doutrina ortodoxa. A tarefa dos revolucionários não corrompidos, obrigados pelas circunstâncias a começar o trabalho de reconstrução das organizações, nunca foi proclamar uma nova revelação – nunca faltaram tais Messias, e todos se perderam na confusão – e sim reinstalar o programa antigo e atualizá-lo.” 
James P. Cannon, Os Primeiros Dez Anos do Comunismo Americano

Polêmica com o Coletivo Lenin sobre a História do Trotskismo

Coletivo Lenin sobre James Cannon
Revisando a História do Trotskismo
 
Por Rodolfo Kaleb
Outubro de 2011
 
Esta é uma resposta a erros factuais, às vezes conscientemente desonestos, do Coletivo Lenin sobre a história do trotskismo e da Liga Espartaquista dos Estados Unidos (organização cujas posições e história de luta contra o revisionismo pablista nós defendemos até o fim da década de 1970) presentes em um comentário no blog Nova Dialética e reproduzido no blog do próprio Coletivo. O comentário foi feito após uma postagem (não reproduzida aqui) sobre a importância histórica e a figura política de James Cannon, um veterano trotskista norte-americano e quadro fundador a Quarta internacional que cumpriu também um papel progressivo nos primeiros anos da luta contra o revisionismo de Michel Pablo e Ernest Mandel.

Comentário do Coletivo Lenin
 
O Cannon foi uma figura fundamental em toda a história do trotskismo.
Foi ele que, no começo da Segunda Guerra, lutou contra a fração de Schatman, no SWP (Partido Socialista dos Trabalhadores), a seção americana da Quarta Internacional. A fração defendia que a URSS era um nova sociedade de classes e, por isso, não deveria ser incondicionalmente defendida contra a restauração do capitalismo.
O SWP, com Cannon como membro da direção, lutou contra o macartismo, inclusive defendendo militantes do PCUSA que fizeram espionagem para a URSS.
Em 1953, Cannon escreveu a “Carta Aberta aos Trotskistas do Mundo Inteiro”, onde denunciou a linha da direção da Quarta Internacional, que achava que os PCs do mundo inteiro poderiam cumprir um papel revolucionário.
A crítica de Cannon foi certa (pra ter uma ideia, uma minoria da Quarta Internacional rompeu em 1954 e se dissolveu dentro dos PCs), mas ele errou ao romper com a internacional e criar o Comitê Internacional, com os grupos de Lambert e Healy.
As duas organizações estavam totalmente adaptadas à socialdemocracia (Healy dentro do Partido Trabalhista inglês e Lambert, na central pelega Force Ouvrière) e, na verdade, por trás das críticas estava a stalinofobia (ou seja, elas consideravam que o stalinismo era completamente contrarrevolucionário e que, portanto, qualquer movimento contra o stalinismo seria progressivo). Ou seja, capitulavam ao clima anticomunista do primeiro mundo.
Como prova que o SWP era ainda uma organização saudável, ele logo saiu dessa canoa furada. Em 1956, depois do posicionamento fundamentalmente igual do Comitê Internacional e da Quarta Internacional sobre a revolução antiburocrática na Hungria, Cannon e Peng Shu-tse (da seção chinesa) começam a lutar pela reunificação dos trotskistas.
Essa reunificação acontece em 1963, formando o SU (Secretariado Unificado da Quarta Internacional). Infelizmente, a autocrítica do pablismo foi parcial (Pablo sai do SU em 1964), e não impediu que se repetissem as mesmas concepções centristas. Tanto Cannon como a maioria do SU, dirigido por Ernest Mandel, consideram a direção cubana como revolucionária e trotskista inconsciente. 
Por isso, a reunificação de 1963 foi uma puta (sic) de uma oportunidade perdida.
A Liga Espartaquista surgiu nessa época, lutando contra a posição sobre Cuba. Infelizmente, eles repetiram o mesmo erro de Cannon na época da Carta Aberta, e foram para o Comitê Internacional. Depois de serem expulsos de lá, criaram a sua própria corrente internacional, cada vez mais sectária e sempre capitulando ao stalinismo (por exemplo, não condenaram a invasão da Tchecoslováquia pela URSS em 1968).
Depois disso, Cannon continuou lutando pela fusão entre todas as correntes revolucionárias, como ele defendeu em “Novas Forças Revolucionárias estão Emergindo” (1962). Dentro do SU, ele combateu, junto com Moreno, a política de luta armada imediata na América Latina, que levou à destruição de várias seções. Infelizmente, mesmo a posição sobre a luta armada estando certa, tanto o SWP quanto o PST de Nahuel Moreno fizeram as críticas a partir de um ponto de vista muito próximo do social-pacifismo, refletindo as concepções centristas que já prevaleciam neles.
Resumindo: mesmo com todos os erros, James Cannon foi um grande revolucionário. A maior prova disso é que mesmo as correntes que romperam com o SWP quando ele estava na direção, como a Liga Espartaquista e o Partido da Liberdade Socialista (fundado por Clara e Dick Fraser), mesmo fazendo várias críticas (algumas corretas), se reivindicam cannonistas.

Crítica do Reagrupamento Revolucionário
O comentário do Coletivo Lenin é uma falsificação da história da Quarta Internacional que só pode servir para confundir a vanguarda trotskista. Também é um sintoma lamentável da degeneração de um grupo que antes, apesar de falhas e limitações, defendia o legado daqueles que combateram o revisionismo pablista do movimento fundado por Leon Trotsky, e que hoje se encontra mais precisamente do outro lado do muro, tentando enumerar qualidades para os pablistas ao invés de combatê-los (para saber mais leia nossa carta de ruptura O Coletivo Lenin é Destruído pelo Revisionismo!, de julho de 2011).

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A primeira crítica do Coletivo Lenin ao papel de Cannon na luta contra o pablismo se refere ao fato de ele ter cumprindo um papel de liderança no rompimento do SWP com a “Quarta Internacional” sob domínio pablista. Parece que o Coletivo Lenin considera acertado pontuar críticas ao pablismo, mas um verdadeiro crime romper com eles. O grupo diz que “A crítica de Cannon foi certa…, mas ele errou ao romper com a internacional e criar o Comitê Internacional, com os grupos de Lambert e Healy”. Parece que para o Coletivo Lenin a luta contra o revisionismo deveria ser um exercício de ideias sem daí retirar conclusões organizativas e políticas. Isto é algo alheio à seriedade com a qual o próprio Cannon tratava a questão. Ele e seus apoiadores não teriam dividido o movimento trotskista se não houvesse motivos relevantes para isso.
Algo ausente em todo o comentário do Coletivo é o fato de que os pablistas eram não apenas oportunistas políticos como também utilizavam métodos burocráticos. Não falam sobre as posições do Secretariado Internacional de Pablo (SI) na greve geral francesa nem no princípio de revolta operária em Berlim Oriental em 1953, ocasiões em que os pablistas defenderam as traições dos stalinistas. Não demonstram que a adaptação de Pablo a outras correntes do movimento que supostamente cumpririam papel “objetivamente revolucionário” se estendeu não somente ao stalinismo, mas também ao nacionalismo e à socialdemocracia e outras forças não-revolucionárias que seriam supostamente forçadas ao caminho da revolução por circunstâncias objetivas.
Os pablistas são responsáveis por vários desrespeitos burocráticos aos direitos da seção chinesa emigrada na Europa, que foram denunciados como fugitivos de uma revolução por não seguirem a liderança de Pablo, que considerou Mao um revolucionário e não defendeu os trotskistas chineses contra a repressão que se seguiu. Pablo inclusive suprimiu artigos que criticavam a liderança maoísta (como é relatado por Peng Shuzi). Não apenas os pablistas expulsaram burocraticamente a maioria da seção trotskista francesa (PCI, o “grupo de Lambert”), que discordava da sua visão política liquidacionista, como também tentaram fazer o mesmo com a seção norte-americana através da colaboração secreta com a fração de Cochran-Clarke do SWP. De fato, foi somente esta tentativa que fez o SWP despertar de sua apatia internacional e passar a cumprir um papel na luta contra Pablo, Mandel e seus aliados. Isso pode ser confirmado com a leitura da Carta Aberta aos Trotskistas do Mundo Inteiro, onde Cannon escreve:
 
“O jogo duplo de Pablo ao apresentar uma face à liderança do SWP enquanto secretamente colaborava com a tendência revisionista cochranista é um método que está fora da tradição do trotskysmo. Mas existe uma tradição à qual ela pertence — ao stalinismo. Tais instrumentos, usados pelo Kremlin, são os mesmo usados para corromper a Internacional Comunista. Muitos de nós experimentamos isso no período de 1923-1928.”
 
No mesmo documento podemos ter uma idéia dos motivos da liderança do SWP para preferir disputar os quadros do trotskismo por fora da “Quarta Internacional” pablista, ao invés de travar a luta por dentro:
 
“Resumindo: o abismo que separa o revisionismo pablista do trotskysmo ortodoxo é tão profundo que nenhum compromisso político ou organizativo é possível. A fração de Pablo demonstrou que não permitirá decisões democráticas que reflitam a opinião da maioria. Eles exigem a completa submissão à sua política criminosa. Eles estão decididos a eliminar da IV Internacional todos os trotskystas ortodoxos, a calá-los ou atar-lhes as mãos.”
 
O Coletivo Lenin não está apenas discordando de Cannon sobre a tática correta para combater os pablistas, mas sim rejeitando sob qualquer condição um racha com a liderança burocrática e revisionista de Pablo e Mandel. O Comitê Internacional expunha a necessidade de travar uma luta para derrotar politicamente as concepções pablistas, extingui-las do movimento trotskista mundial. Isso é algo que o Coletivo Lenin não reconhece e de fato esconde. O racha do SWP com o pablismo é descrito como algo despropositado, “um erro”.
É sempre preferível para aqueles que querem indevidamente reivindicar a trajetória de revolucionários honestos tentar transfigurá-los em oportunistas inconsequentes à imagem e semelhança dos primeiros. O Coletivo Lenin hoje não considera que o pablismo foi o principal responsável pela destruição da Quarta Internacional (colocando a culpa no próprio programa do trotskismo e em algumas de suas previsões imprecisas sobre o desenvolvimento do capitalismo). O líder do grupo, Paulo Araújo, acredita que o Secretariado Internacional pablista era uma organização revolucionária. O guia teórico do Coletivo Lenin pode ser resumido no seguinte trecho:
 
“Nos próximos capítulos, mostraremos que é impossível formular uma estratégia certa para a revolução mundial sem uma análise correta da decadência do capitalismo, e que essa estratégia é bem diferente da concepção leninista-trotskista de pequeno grupo que se torna, combatendo o reformismo das direções traidoras, um partido de quadros que mobiliza as massas através de reivindicações transitórias rumo ao poder. Ao mesmo tempo, veremos como a Quarta Internacional foi destruída não pelo revisionismo pablista, mas sim pela sua incapacidade de superar a herança da estratégia leninista e sua visão sobre a revolução mundial iminente.”

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Somos então informados pelo Coletivo Lenin de que o SWP era, no entanto, uma “organização saudável”, porque voltou atrás da sua decisão de 1953 e realizou uma fusão com os pablistas dez anos depois. Saudáveis aqueles que buscam aliança com o revisionismo?
O Coletivo tenta mostrar a fusão do CI com o SI (para formar o Secretariado Unificado) como uma necessidade urgente, independente do posicionamento político de ambos. Depois coloca que a “reunificação” foi uma “oportunidade perdida”, dando como exemplo a posição pablista do SU com relação à revolução cubana (Fidel Castro como um “trotskista inconsciente”). Isso não corresponde nem um pouco aos fatos concretos. Desde 1961 a liderança do SWP vinha tendo a mesma posição dos pablistas com relação a Cuba. No documento Gênese do Pablismo, escrito pela Liga Espartaquista em 1972 (e traduzido para o português pelo Coletivo Lenin na época em que ele era uma organização revolucionária) está escrito que:
 
“Quando a questão da reunificação, que se consumaria em 1963 com a formação do Secretariado Unificado, veio novamente à tona, o terreno político em sua totalidade havia mudado. O SI e o SWP convergiram com relação a Cuba. Mas a base já não era uma convergência aparente, senão o abandono por parte do SWP do trotskismo para abraçar o revisionismo pablista.”
 
Foi a adoção do método do pablismo pelo SWP que permitiu a fusão, e não uma mera necessidade de reunificar os trotskistas. Obviamente defendemos a necessidade de reunificar os quadros trotskistas, tanto naquela época quanto hoje. Mas essa reunificação deve se dar sob um programa que represente a perspectiva histórica revolucionária orientada para a classe trabalhadora, e não uma adaptação às lideranças traidoras (como o stalinismo, o nacionalismo, a socialdemocracia) existentes no movimento. A fusão do SWP com o SI pablista foi uma derrota que afastou, ao invés de aproximar, a reconstrução revolucionária de Quarta Internacional – o SWP foi perdido para o revisionismo e essa foi a base da fusão. Era assim que o próprio Coletivo Lenin colocava a questão quando seguia um programa político revolucionário:
 
“O colapso político do SWP como organização revolucionária, assinalado pelo seu entusiasmo acrítico em relação ao castrismo nos anos 60, e culminando com a sua unificação com os pablistas em 1963, foi um golpe enorme para todos os comunistas.”
 
De “um golpe enorme para todos os comunistas”, a aproximação e finalmente a fusão do SWP com os pablistas se transformou em uma “puta oportunidade perdida”. “Infelizmente”, diz o Coletivo Lenin, “a autocrítica do pablismo foi parcial… e não impediu que se repetissem as mesmas concepções centristas.” Aparece aqui como uma “infeliz” surpresa o que, na verdade, foi a própria base da reunificação que gerou o SU. Tal deformação da realidade só se explica pela adoração do atual líder do Coletivo Lenin ao centrismo de Mandel e do SU, que ele considera revolucionários (ainda que fazendo algumas críticas à parte de suas posições centristas). Como afirmou em um documento interno: “O SU, acho que em linhas gerais era revolucionário nas décadas de 50 e 60.” (outubro de 2010).

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É preciso ainda fazer alguns comentários sobre o Comitê internacional. Obviamente reconhecemos que ele cometeu erros políticos consideráveis. No entanto, o seu maior erro foi não ter combatido suficientemente bem o pablismo. Para isso, vamos citar o livreto O Pablismo e a Crise da Quarta Internacional, escrito em 2010 pelo Coletivo Lenin e disponível até hoje na página inicial do seu site, mas abandonado pelo próprio grupo na prática:
 
“Podemos vislumbrar que os objetivos táticos imediatos dessa nova organização [o CI] deveriam ser atrair os trotskistas remanescentes sob influência de Pablo e combater duramente o pablismo, se lançando para realizar as tarefas corretas diante do stalinismo (unidade na ação, mas clara diferenciação no programa), jogando luz sobre a estratégia traidora de Pablo. Infelizmente, essa perspectiva desafiadora jamais chegou a se concretizar. Apesar da atração dos quadros resistentes do trotskismo para fora da Quarta Internacional pablista, o Comitê Internacional nunca se tornou uma organização consequente de combate ao pablismo.”
 
A principal crítica que deve ser feita ao CI é pelo fato de não ter combatido o pablismo da maneira como deveria, não por ter rachado com Pablo e Mandel. No que diz respeito aos outros erros políticos do Comitê Internacional, não temos quaisquer ilusões. O CI cometeu erros graves, dentre os quais poderia ser incluído também o fato de nenhuma das suas seções ter dado uma resposta revolucionária à revolução boliviana de 1952, como é relatado pela Tendência Vern-Ryan do SWP.
Ao mesmo tempo há muitos lampejos prévios de desenvolvimentos que ocorreriam no futuro. A noção teórica incorreta de que os stalinistas eram “contrarrevolucionários de cabo a rabo” e dessa forma não poderiam, nem em circunstâncias excepcionais, derrubar o capitalismo foi adotada por todo o CI, incluído Cannon e o SWP. Ela foi um reflexo não de uma adaptação ao anticomunismo imperialista, mas uma tentativa com erros de combater as posições de Pablo de que os stalinistas haviam deixado de ser contrarrevolucionários e iriam agir para liderar a revolução mundial.
As afirmações de que o stalinismo era contrarrevolucionário de cabo a rabo, no fim, levaram a conclusões políticas stalinofóbicas sob circunstâncias diferentes, mas isso só iria acontecer muitos anos depois. A adaptação da seção britânica à socialdemocracia, por exemplo, foi real e teve sua origem em seguir a política de Pablo de entrismo profundo em todos os partidos de massas, fossem socialdemocratas ou stalinistas.
No entanto, a luta falha do CI foi, apesar de tudo, um luta contra o revisionismo. Essas falhas sem dúvida contribuíram para preparar a subsequente explosão do CI e a fusão do SWP com os pablistas. Mas o combate também gestou a continuidade da luta contra o revisionismo através da Liga Espartaquista, por exemplo. O Coletivo Lenin é absolutamente incoerente quando acusa (corretamente) a seção inglesa do CI de adaptar-se à socialdemocracia durante o período em que estava dentro do Labour Party ao mesmo tempo em que defende que foi correta uma fusão com os pablistas, adaptados por natureza à socialdemocracia, ao stalinismo e ao nacionalismo burguês.

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O Coletivo Lenin diz a Liga Espartaquista “repetiu o mesmo erro (sic) de Cannon da época da Carta Aberta”, ou seja, romper com os pablistas. Novamente o mesmo “crime”: formar uma organização independente dos revisionistas. A Liga Espartaquista reconheceu a necessidade de combater o pablismo e de tentar arrancar da liderança pablista os setores saudáveis do trotskismo. Em 1963, a sua precursora (a Tendência Revolucionária do SWP) se dispôs, inclusive, a adentrar a fusão que gerou o SU, com interesses táticos de disputar os trotskistas combativos do SWP – ou seja, realizar um entrismo. Isso está registrado no documento que traduzimos recentemente para o português, Rumo ao Renascimento da Quarta Internacional (julho de 1963):
 
“’Reunificação’ do movimento trotskista na base centrista do pablismo em qualquer das suas variantes seria um passo que afastaria, ao invés de aproximar, o genuíno renascimento da Quarta Internacional. Se, entretanto, a maioria dos grupos trotskistas atualmente existentes insistem em seguir em frente com tal ‘reunificação’, a tendência revolucionária do movimento mundial não deve virar suas costas para esses quadros. Pelo contrário: seria vitalmente necessário passar por esta experiência com eles. A tendência revolucionária entraria nesse movimento ‘reunificado’ como uma fração minoritária, com a perspectiva de ganhar uma maioria para o programa da democracia operária. A Quarta Internacional não irá renascer através da adaptação ao revisionismo pablista: somente com uma luta teórica e política contra todas as formas de centrismo é que o partido mundial da revolução socialista pode finalmente ser estabelecido.”
 
Não se trata de uma ignorância justificável do autor do comentário, visto que nós mesmos deixamos essa posição da Tendência revolucionária clara para a maioria do Coletivo Lenin na época de nossa luta fracional contra o oportunismo que atualmente domina o grupo, e que o documento em questão foi lido pelos camaradas. O líder do Coletivo Lenin havia feito essa mesma acusação anteriormente e reconheceu o seu erro em um email de 14 de fevereiro: “Eu realmente não sabia sobre a posição da SL de entrar no SU. Então, temos que corrigir as teses. Além disso, essa decisão mostra que eles eram ainda melhores do que eu pensava, e se propuseram à tarefa certa. Infelizmente, se perderam depois naquela religião do CI, e se destruíram”.
Em nenhum momento, entretanto, a TR deixava de classificar o SI e a maioria do SWP como centristas e de prometer contra eles uma luta teórica e política. Acontece que tal perspectiva não chegou a se realizar. A TR foi expulsa de maneira antidemocrática do SWP, decisão sobre a qual os pablistas europeus de Pablo e Mandel “lavaram as mãos”. Será que o Coletivo Lenin vai agora negar isso para tentar atestar que o Secretariado Unificado tinha um regime interno “democrático”?
O Coletivo Lenin argumenta que a Liga Espartaquista era sectária (por buscar formar uma corrente internacional própria) e que capitulava ao stalinismo. Em primeiro lugar, desconhecemos qualquer documento da Liga Espartaquista que aponte como algum tipo de “princípio” o seu isolamento. Na verdade, ela pontuou que a necessidade de construir uma corrente internacional revolucionária advinha do oportunismo e/ou burocratismo das organizações “trotskistas” existentes naquele momento. Na sua Declaração à Conferência de 1966 do Comitê Internacional, a Liga Espartaquista corretamente afirmou:
 
“Um camarada francês colocou muito bem: ‘não existe família do trotskismo’. Só existe o programa correto do marxismo revolucionário, que não é um guardachuva. No entanto, existem agora quatro correntes internacionais organizadas reivindicando serem trotskistas, e que são consideradas como ‘trotskistas’ em certo sentido convencional. Esse estado de coisas deve ser resolvido através de rachas e fusões. A razão para a presente aparência de uma “família” é que cada uma das quatro tendências – ‘Secretariado Unificado’, ‘Tendência Marxista Revolucionária’ de Pablo, ‘Quarta Internacional’ de Posadas, e o Comitê Internacional – é, em alguns países, o único grupo organizado reivindicando a bandeira do trotskismo. Dessa forma, eles atraem todos aqueles que querem se tornar trotskistas em suas áreas e suprimem a polarização; não há luta e diferenciação, ganha-se alguns e expulsa-se outros para forçá-los a abandonar suas pretensões como revolucionários e trotskistas. Assim, quando vários camaradas Espartaquistas visitaram Cuba, nós descobrimos que o grupo trotskista de lá, parte da Internacional de Posadas, era composto em maioria de excelentes camaradas lutando com valor sob difíceis condições. Os discursos feitos aqui pelos camaradas dinamarqueses e ceilaneses, representando alas de esquerda do Secretariado Unificado, refletem tais problemas.”
 
“O racha parcial e exposição crua das forças do Secretariado Unificado – a expulsão de Pablo, a traição no Ceilão, a linha de colaboração de classe do SWP na guerra do Vietnã, Mandel se rastejando diante dos herdeiros da socialdemocracia belga – provam que foi-se o tempo em que a luta contra o pablismo poderia ser travada num plano internacional por dentro de um mesmo espectro organizativo. E a experiência particular de nossos grupos nos Estados Unidos, que foram expulsos meramente pelas opiniões que mantinham, sem direito de apelo, demonstram que o Secretariado Unificado mente quando ele diz quere incluir todos os trotskistas.”
 
A Liga Espartaquista estava correta nisso e tinha razões profundas para não buscar construir uma organização com os pablistas, ou com Gerry Healy, o líder da seção inglesa do Comitê Internacional, com o qual ela buscava uma fusão até ter sofrido perseguições burocráticas.
“Sectário” é aquele que busca se isolar do movimento revolucionário sem motivos a não ser seus próprios fetiches. O Coletivo Lenin acha que é “sectário” negar unidade político-organizativa com os revisionistas? A Liga Espartaquista apresentava motivos políticos que consideramos extremamente importantes para não estar dentro das organizações que então se reivindicavam revolucionárias. Se o Coletivo Lenin acredita que os motivos políticos que separavam os pablistas dos trotskistas eram irrelevantes, então eles deveriam rejeitar qualquer aproximação com James Cannon ou com a Carta Aberta. O Coletivo Lenin também deveria, se agisse conforme suas palavras, liquidar em um grupo “revolucionário” maior. Já que o Coletivo reivindica atualmente reconhecer vários outros grupos como revolucionários, pelos seus próprios critérios a decisão de manter a sua própria organização separada não tem sentido ou justificativa exceto uma expressão verdadeira de “sectarismo”.

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A Liga Espartaquista é acusada de capitular ao stalinismo por, supostamente, “não ter condenado” a invasão soviética à Tchecoslováquia em 1968, que esmagou a “Primavera de Praga”, uma concessão de uma ala da burocracia (liderada por Alexander Dubcek) de diminuir a repressão do regime, o que poderia facilitar as possibilidades de uma revolução política proletária no país. Trata-se de uma calúnia.
              A Liga Espartaquista não publicou nenhum texto sobre essa questão em 1968. Essa foi uma falha em razão das suas limitações (ela possuía então apenas um jornal bianual). Mas ela teve uma posição pública, que foi de condenar a ocupação soviética (uma forma de garantir a manutenção dos aspectos repressivos do regime), ao mesmo tempo em que chamava a não confiar na ala Dubcek da burocracia, nem em qualquer outra, apostando na ação independente da classe trabalhadora. Esta posição estava de acordo com o que a Liga Espartaquista colocou como tarefa dos trotskistas nos Estados operários degenerados ou deformados: defender as conquistas sociais contra as tentativas de contrarrevolução capitalista e lutar para derrubar a burocracia governante através de uma revolução política. Essa posição pode ser facilmente constatada em trechos posteriores publicados pela Liga Espartaquista ou sua corrente internacional. Para não sermos maçantes, vamos citar apenas três:
 
“A invasão soviética na Tchecoslováquia em agosto de 1968 sublinhou a contradição central dos países stalinistas primeiramente analisada por Trotsky: a propriedade social dos meios de produção coexistindo com uma burocracia repressiva que havia usurpado o controle político do proletariado e deforma os vastos potenciais da economia. O ímpeto para a invasão não foi o medo de uma ameaça militar da Alemanha, mas o relaxamento da censura política e controle que a ala Dubcek da burocracia foi forçada a tolerar com o objetivo de ‘liberalizar’ a economia ao aumentar a exploração dos trabalhadores Tchecos. A Liga Espartaquista condena a invasão russa, ao mesmo tempo notando a ausência de oposição sindical de massa, que caracterizou a revolução húngara de 1956. (…)”
Developments and Tactics of the Spartacist League
Resoluções Adotadas na Segunda Conferência Nacional, 30 de agosto a 1 de setembro de 1969
Reimpresso no Boletim Marxista número 9
 
“A URSS e os Estados operários deformados devem receber defesa militar incondicional pela classe trabalhadora contra o imperialismo ou contrarrevoluções nativas. Ao mesmo tempo, entretanto, nós nos posicionamos em oposição a tentativas da burocracia soviética de defender os seus próprios interesses estreitos através de tais táticas como a invasão da Tchecoslováquia em 1968 e a supressão dos sovietes húngaros pelos tanques russos em 1956. Nos Estados operários degenerados e deformados nós lutamos por partidos trotskistas para liderar o proletariado na luta pela democracia soviética através da derrubada desses burocratas anti-proletários.”
Defend the Russian Revolution, publicado pela Liga Trotskista (seção canadense da Tendência Espartaquista Internacional), extraído de Spartacist Canada número 21, página 12, novembro de 1977.
 
O terceiro que está aqui traduzido do espanhol foi, há menos de seis meses (!), circulado internamente por nossa tendência dentro do Coletivo Lenin, já que dizia respeito ao fato de Fidel Castro, que era defendido pelo SU, ter apoiado a invasão soviética. Também na “Primavera de Praga”, o SU apoiou sem críticas a ala da burocracia stalinista, que queria construir um “socialismo menos repressivo” em um só país.
 
“Ainda que sob uma pressão considerável por parte do colosso imperialista ianque do norte (…) os cubanos aparentemente decidiram ‘melhorar’ suas relações com Moscou em troca de um incremento na ajuda militar e econômica. Assim, quando em 23 de agosto de 1968 os tanques soviéticos entraram em Praga, Castro fez um importante discurso radiofônico para apoiar a invasão do Kremlin à Tchecoslováquia. Seu discurso foi uma ducha fria para muitos castristas latinoamericanos e deve ter remexido ainda ao SU. Mas tanto haviam se acostumado estes ex-trotskistas a desculpar o indesculpável, que Joe Hansen escreveu um grande artigo (…) no qual ‘lamenta’ de passagem que Castro não tenha visto a invasão tcheca como um dos piores crimes do Kremlin…”.
Lugarteniente del Kremlin en Africa: Cuba exporta la traición estalinista
Spartacist em espanhol número 7, junho de 1979
 
Essa questão também foi apontada por nós em nossa luta interna, quando deixamos claro que a Liga Espartaquista foi contra a invasão das tropas do Pacto de Varsóvia à Tchecoslováquia. Apesar disso, o Coletivo Lenin publica essa falsa acusação sem a menor base documental, com o objetivo claro de desmoralizar uma corrente revolucionária que combateu o pablismo. Foi somente quando estava se tornando uma corrente degenerada política e organizativamente que a Liga Espartaquista começou a ter ilusões e a elogiar o papel da burocracia stalinista. Na Carta de ruptura do Coletivo Lenin com a IBT (escrita em dezembro de 2010), quando o grupo ainda defendia uma perspectiva revolucionária, ele colocou a questão da maneira correta:
 
“Vimos que a SL havia assumido uma série de posições estranhas a partir de fins dos anos 1970. Em 1979, paralelamente à posição correta de defender a aliança tática com o Exército Vermelho contra os fundamentalistas islâmicos apoiados pela CIA, eles também levantaram a palavra de ordem acrítica de ‘Viva o Exército Vermelho no Afeganistão!’, quando da ocupação do país. Outras adaptações pró-stalinistas muito semelhantes se seguiram a essa, com a organização de uma coluna em um ato nomeada ‘Brigada Yuri Andropov’, em homenagem ao líder da URSS na época e a resposta às críticas com a publicação de um poema em sua homenagem na primeira página de seu jornal, quando da morte do burocrata.”
 
Isso é bem diferente de ter publicação insuficiente e não responder a todos os fenômenos da luta de classes, o que é infelizmente natural para um grupo pequeno. A mesma coisa aconteceu com o Coletivo na ocasião das provocações militares da Coréia do Sul contra o Estado operário deformado da Coréia do Norte no fim de 2010. O Coletivo Lenin, que então dizia inequivocamente que o país era um Estado operário deformado, teve a posição pública de defender militarmente a Coréia do Norte, mas não publicou nenhum texto sobre o assunto. Será que isso nos permitiria dizer que o Coletivo Lenin “não condenou” a provocação? Obviamente não.

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Se em alguns momentos o atual líder do Coletivo Lenin realizou enganações conscientes em sua narrativa sobre a história do trotskismo, em outros pontos ele está simplesmente expressando sua própria ignorância em muitas questões. No entanto, falta de familiaridade com certas questões nunca o inibiram de proclamar a si próprio uma autoridade no assunto. O papel de Cannon na reunificação do SWP com os pablistas não foi central. Desde a época após o racha com os pablistas em 1953, Cannon, já um senhor idoso, havia se recolhido para cuidar da saúde na Califórnia. Ele prestou apoio à reunificação (uma parte da sua trajetória que nós não reivindicamos), mas não foi o seu artífice como o comentário do Coletivo Lenin poderia deixar a entender ao dizer que ele “continuou lutando pela reunificação entre todas as correntes revolucionárias (sic)”.
Também falsa, entretanto, é a afirmação segundo a qual “Dentro do SU, ele [Cannon] combateu, junto com Moreno, a política de luta armada imediata na América Latina… Infelizmente, mesmo a posição sobre a luta armada estando certa, tanto o SWP quanto o PST de Nahuel Moreno fizeram as críticas a partir de um ponto de vista muito próximo do social-pacifismo”. Cannon nunca chegou a participar das disputas internas do SU, quando a ala à direita de Joseph Hansen e Nahuel Moreno decidiu romper com as concepções guerrilheiras que haviam adotado ao capitular ao castrismo. Nessa época, o veterano trotskista já tinha a saúde muito debilitada, vindo a falecer pouco depois, em 1974, aos 84 anos. Cannon estava nessa época longe de contato com o centro do partido havia muitos anos e de acordo com relatos, lhe desagradava o rumo político que estava tomando o partido que ele havia fundado.
O legado de Cannon ao romper com a Internacional Comunista em 1928 segue como um exemplo para todos os revolucionários que colocam os princípios e as intenções revolucionárias acima dos interesses pessoais ou privilégios. É também um exemplo de que a perspectiva revolucionária está amplamente ligada a dizer a verdade à classe trabalhadora para livrá-la das concepções burguesas ou “realistas”. A tradução para o português que realizamos da carta de Cannon que intitulamos James Cannon Sobre sua “Poltrona de Couro” (citada na postagem de Nova Dialética) buscou despertar o espírito crítico e corajoso de Cannon nos revolucionários dispersos pelo mundo.
Esse sentimento se encontra não apenas no rompimento de Cannon com a Terceira Internacional stalinista, como também na sua coragem para encabeçar uma ruptura do movimento por ele fundado em colaboração com Trotsky, em nome da defesa de um projeto revolucionário contra o revisionismo. Essa luta contra o pablismo e a coragem necessária para tanto estão atualmente ausentes na prática e nas palavras do Coletivo Lenin. Essa postura impede que esse grupo possa contribuir positivamente para reconstrução revolucionária da Quarta Internacional.

El ala derecha de la YSL y la ‘crisis del estalinismo mundial’

El ala derecha de la YSL y la

‘crisis del estalinismo mundial’ (1957)

[Adaptada de la introducción a la edición en inglés, 8 de octubre de 1981. Esta versión en español fue impresa en Sindicato patronal de Polonia al servicio de los banqueros y la CIA — ¡Alto a la contrarrevolución de Solidarnosc!]

A continuación reproducimos la traducción de extractos de The Hungarian Revolution, editado en 1959 por un precursor de nuestra tendencia. El autor, Shane Mage, fue uno de los jóvenes shachtmanistas de izquierda que pasaron al trotskismo, fusionándose con el Socialist Workers Party (SWP) norteamericano en 1958. “El ala derecha de la YSL y la ‘crisis del estalinismo mundial”, reproducido en el folleto de 1959, se originó como documento fraccional dentro de la Young Socialist League (YSL), la organización de la juventud de la tendencia encabezada por Max Shachtman que se separó del entonces revolucionario SWP al rechazar el principio fundamental del trotskismo de la defensa incondicional de la Union Soviética contra el imperialismo. La defensa por la mayoría de los shachtmanistas de las “metas democráticas generales” en la Revolución Húngara de 1956 representó un paso importante hacia su liquidación en la socialdemocracia oficial norteamericana. Fue el curso de los shachtmanistas hacia una unificación con el partido “socialista de Guerra Fría” de Norman Thomas (que en poco tiempo fue dominado por ellos) lo que empujó al ala izquierda de la YSL, formada por Mage, James Robertson, el execrable Wohlforth y otros, hacia el trotskismo y el SWP.

Estos jóvenes trotskistas, un sector importante de los cuadros fundadores del grupo de la juventud del SWP, se encontraron otra vez en un partido que estaba derechizándose a paso rápido. Mage fue uno de los camaradas que surgieron como la oposición de izquierda del SWP, fueron expulsados en 1964 y luego formaron la Spartacist League. La tendencia espartaquista es la expresión del programa trotskista abandonado por el SWP, hoy en día una formación reformista execrable. Mage, por su parte, se apartó de la política revolucionaria en los años 60.

Al analizar las bases sociales potenciales para la  contrarrevolución en Europa del Este, Mage señaló en “El ala derecha de la YSL…” que no es necesario que los partidos contrarrevolucionarios se pronuncien por, o lleven a cabo de inmediato, la desnacionalización de la industria estatizada. Más bien preferirían subordinar la industria nacionalizada a los intereses de la pequeña burguesía nacional y el capital internacional. Con esto Mage no expresaba algún concepto particular sino que seguía a Trotsky, quien escribió en 1937: “En el caso del triunfo de una contrarrevolución burguesa en la URSS; el nuevo gobierno tendría que basarse durante un largo periodo en la economía nacionalizada” (“¿Un estado ni obrero ni burgués?”).

Al mismo tiempo, Mage insistía en que no fue contrarrevolución lo que estaba aconteciendo en Hungría en octubre-noviembre de 1956. Los órganos efectivos del poder eran los consejos obreros que expresaban una concienciasocialista confusa, aunque con desviaciones sindicalistas e ilusiones “neutralistas”, mientras las fuerzas clerical-reaccionarias agrupadas en torno al cardenal Mindszenty eran relativamente débiles y contrapuestas (a los obreros). Estos son factores importantes para los revolucionarios, dictando una orientación hacia los eventos de 1956 en Hungría como desarrollándose hacia una revolución política proletaria. La polémica de Mage destaca así tajantemente la línea de la tendencia espartaquista en la actual crisis polaca, donde la constelación de las fuerzas contrarrevolucionarias (que en Hungría representaban elementos decididamente subordinados) hoy manejan la fuerza dominante detrás del “sindicato” Solidarnosc. El que el enfoque teórico y los criterios programáticos utilizados por Mage en torno a Hungría en 1956 mantengan su validez, aunque necesitando conclusiones muy distintas, para Polonia en la actualidad, demuestra el poder del trotskismo como la guía leninista contemporánea para la acción revolucionaria.

La obra de Mage sobre Hungría no carece de debilidades. Como revolucionario subjetivo en transición del shachtmanismo, él mantuvo a esta altura una postura blanda hacia un “antiestalinismo” sin distinciones y el “neutralismo” defendidos por algunos de los disidentes húngaros. Más aun, al descartar el apoyo a una intervención rusa en cualquier circunstancia, Mage elevó en forma impermisible el derecho democrático-burgués a la autodeterminación nacional sobre la cuestión de clase de la defensa del poder estatal proletario en contra del capitalismo-imperialismo.

* * * * *

Extractos de “El ala derecha de la YSL y la ‘crisis del estalinismo mundial”

de Shane Mage

[Publicado por primera vez en Young Socialist Review, 1 de junio de 1957]

La cuestión clave es la siguiente: en términos teóricos, ¿era posible que las revoluciones polaca y húngara resultaran en la restauración del capitalismo? El proyecto de resolución del NAC [Comité Nacional de Acción — cuerpo directivo de la YSL] lo descarta, sosteniendo que la “democracia” es suficiente para definir “la revolución por el socialismo democrático”. Este punto de vista, a mi ver, sólo es posible sobre la base de una ignorancia extraordinaria, de las fuerzas sociales y económicas reales que determinan la evoluciFirst Printed in Young Socialist Reviewón de Polonia y Hungría, y del contexto mundial en el que ocurrían estas revoluciones…

Establecer la democracia formal, si ha de significar algo, quiere decir elecciones libres a un parlamento soberano. Las elecciones libres, por otro lado, significarían la instalación de un gobierno que refleje el sector numéricamente más importante de la población. En Polonia y Hungría esta mayoría no es la clase obrera. Es la pequeña burguesía rural y urbana, los campesinos, los pequeños comerciantes, los artesanos, la vieja clase media….

He aquí uno de los elementos más escandalosos del proyecto de resolución del NAC. Los autores del proyecto, han hecho la omisión más estúpida posible en una resolución sobre Polonia y Hungría: ¡no hay mención alguna de la iglesia católica, sea como instituto religioso o como fuerza social!

Sin embargo, tanto en Polonia como en Hungría la iglesia es la única organización dejada intacta bajo el régimen estalinista, con un aparato estable y altamente articulado, una larga tradición de continuidad, y un gran prestigio popular….

¿Cuál es el papel anhelado de la iglesia en estas revoluciones? El Proyecto de Resolución sostiene que en Polonia y Hungría “las fuerzas que se declaran por una restauración del capitalismo… eran sumamente restringidas, sin peso alguno.” Es verdad que en Polonia y en Hungría la iglesia no expuso un programa abiertamente capitalista. Pero no le es necesario hacerlo. La iglesia católica, por su propia naturaleza como organismo internacional controlado totalmente desde el Vaticano, cumple un papel determinado en la política mundial — él de un aliado importante del imperialismo estadounidense y de la reacción capitalista en todos los países. Si se sintiera en condiciones para hacerlo, ¿qué razón hay para pensar que la iglesia encabezada por un Mindszenty se comportaría en manera diferente de la iglesia en Italia, España o Austria? Y si unas elecciones libres dieran como resultado un parlamento con mayoría católica, reflejando así la mayoría católica en el campo, ¿no se sentiría la iglesia en condiciones de hacerlo?

Me parece que es altamente probable que unas elecciones auténticamente libres, tanto en Polonia corno en Hungría, resultarían en una mayoría clerical pequeñoburguesa. No hubo elecciones libres en Polonia después de la guerra, pero si se hubieran celebrado, pocos (salvo los estalinistas) negarían que las hubiera ganado el Partido Campesino de Mikolajczyk. Pero sí hubo elecciones libres en Hungría, y de estas salió una mayoría considerable para el Partido de los Pequeños Propietarios, dirigido por los clerical reaccionarios Ferenc Nagy y Mons. (¡!) Bela Varga.

¿Es que un gobierno Mindszenty-Ferenc Nagy o Mikolajczyk-Wyszinski hubiera podido restablecer el capitalismo?…

Creo que un gobierno pequeñoburgués en Polonia o Hungría, si se le permite estabilizarse y apoderarse del país, bien podría llevar a cabo un retorno al capitalismo, y en muy poco tiempo. El primer paso sería absolutamente necesario, para cualquier gobierno no estalinista, restaurar las relaciones capitalistas en la agricultura, la pequeña producción y el comercio al por menor. La NEP [Nueva Política Económica] en Rusia producía en forma continua tendencias restauracionistas, simbolizadas por el auge de los nepistas y los kulaks. En efecto, la política de Bujarin de otorgar concesiones a estos elementos capitalistas habría llevado a este tipo de restauración del capitalismo a pesar del deseo subjetivo del ala derecha de los Bolcheviques de evitarlo. La NEP en un país atrasado y agobiado es una cosa peligrosa en el mejor de los casos. Si se la confía a los representantes políticos de los kulaks y los nepistas (y los partidos campesinos y pequeñoburgueses no pueden ser otra cosa), llevaría sin duda directamente al capitalismo.

Otro aspecto decisivo de un retorno al capitalismo bajo una dirección pequeñoburguesa democrática serían los lazos de Polonia y Hungría con el mercado capitalista mundial, especialmente, por supuesto, con la poderosa fuerza económica del imperialismo norteamericano. No tiene nada de secreto que el principal programa político afirmativo del imperialismo estadounidense con respecto a Europa del Este se basa en una ayuda económica masiva en la forma de “préstamos” o aun regalos. Esta “ayuda” tendría un efecto doble: sería un as de triunfo político en manos de los políticos burgueses, los únicos con acceso a la abundancia norteamericana, y muy pronto serviría para reorientar las economías de Polonia y Hungría hacia su tradicional dependencia del capitalismo occidental. Lenin alguna vez dijo que le preocupaban mucho menos los ejércitos de Guardias Blancos que las mercancías baratas del Occidente que éstos traían consigo. Las mercancías norteamericanas que entrarían a Europa Oriental bajo gobiernos pequeñoburgueses serían más que baratas — ¡serían gratuitas!

¿Y qué pasaría con las industrias nacionalizadas? Su suerte seria servir los intereses de los campesinos y la pequeñaburguesía y las necesidades de comercio con los capitalistas occidentales. Hungría y Polonia pueden convertirse en estados capitalistas sin desnacionalizar una sola fábrica industrial de importancia; sólo hay que convertir la industria —democráticamente, por supuesto— en un apéndice de la economía campesina y del mercado mundial.

Balanço das Recentes Lutas Estudantis na UFRJ

Relato de um Participante
O Movimento Estudantil na UFRJ e a Confiança na Burocracia Acadêmica

Leandro Torres
Outubro de 2011
O artigo a seguir constitui o relato de um de nossos militantes sobre as recentes mobilizações e lutas ocorridas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O Reagrupamento Revolucionário esteve presente durante todo o processo, buscando através das intervenções de seus militantes fazer avançar a consciência dos estudantes envolvidos, rumo a um movimento estudantil de caráter realmente combativo e classista. O presente relato é essencial para um entendimento da realidade política existente no movimento estudantil, ainda mais levando em conta que a UFRJ passa por um processo eleitoral para a entidade representativa dos estudantes.

Nas três primeiras semanas de setembro, a UFRJ passou por um processo de considerável mobilização que levou para a luta centenas de estudantes e penetrou nos mais diversos cursos. Esse processo começou no campus da Praia Vermelha, onde o fechamento de um restaurante privado fez com que os estudantes, através de seus Centros Acadêmicos e do Diretório Central de Estudantes (DCE), se movimentassem em torno da luta pela construção de um restaurante universitário no local. No ápice dessa mobilização, ocorreu um ato-almoço como forma de demonstrar a necessidade por alimentação barata e assistência estudantil. A palavra de ordem central do ato foi “Bandejão no Fundão, na PV porque não?”. 
Com a repercussão do ato na Praia Vermelha, o DCE foi capaz de realizar um novo protesto na mesma semana, dessa vez no Conselho Universitário (CONSUNI). Compareceram cerca de 200 estudantes, que exigiram uma série de medidas que foram além da abertura de um bandejão na Praia Vermelha – bandejões nas demais unidades isoladas, creche para mães universitárias e reformas nas instalações físicas da universidade. Frente à mobilização dos estudantes, a Reitoria suspendeu a sessão de forma autoritária.
Esse tipo de autoritarismo é algo que os estudantes devem esperar sempre que suas demandas forem divergentes dos projetos da Reitoria, pois o CONSUNI é um órgão nada democrático, composto em sua imensa maioria por professores comprometidos com os projetos do governo Dilma para a educação e que tem estudantes e funcionários em número bem menor de representantes. Para piorar, os conselheiros não são eleitos por sufrágio universal entre todos os setores de universidade [1].
Porém, como veremos adiante, os principais grupos políticos que atuam no movimento estudantil da UFRJ e que compõem a atual gestão do DCE, por mais que reproduzam esse discurso de não-confiança no CONSUNI, acabam na prática por se adaptar aos limites que sua estrutura “aristocrática” impõe às lutas, impedindo a aprovação de demandas de caráter mais avançado.
Diferente de tais forças, nós defendemos uma alternativa real a este órgão que cumpre a função essencial de ser um braço do governo (e dos empresários) dentro da universidade: nenhuma confiança no CONSUNI, pelo controle da universidade através de órgãos dos estudantes e trabalhadores (funcionários efetivos e terceirizados e professores)! Esses setores são não só a maioria na universidade, mas também os mais interessados em um ensino de qualidade e acessível para os filhos da classe trabalhadora. Apenas quando a universidade for controlada por eles é que será realmente popular!

Um ascenso contra a precarização do ensino…

Após esta primeira investida, a Reitoria decidiu convocar uma sessão extraordinária do Conselho para a semana seguinte, voltada para discutir as demandas apresentadas pelos estudantes. Nessa segunda sessão, os estudantes compareceram em massa, em uma verdadeira demonstração de força que levou mais de 500 ao prédio da reitoria – quantidade que há muito não se via mobilizada dentro da UFRJ.
Passamos atualmente por um momento politicamente rico em várias partes do mundo, no qual setores da juventude e da classe trabalhadora têm saído às ruas contra ataques aos seus direitos e empregos, contra ditaduras que perduram há décadas e contra a sociedade extremamente desigual em que vivemos, onde alguns poucos patrões têm tudo e uma esmagadora maioria de trabalhadores e jovens precarizados não têm nada. E esse momento de intensa mobilização não se restringe à Europa ou a alguns países do “mundo árabe”. Também no Brasil temos visto importantes lutas sendo travadas, como a dos operários do PAC em Jirau, Pecém e Pernambuco. Em nossa própria cidade, a combativa greve dos educadores estaduais, e a recente ocupação estudantil da reitoria da UFF mostram que a luta é possível e necessária.
Constantemente bombardeados por notícias sobre mobilizações, muitos estudantes se dispuseram a deixar o campo do sonho e das reclamações vazias e adentrar a realidade, se organizando e lutando por uma educação de qualidade. Assim, vimos se espalhar pela UFRJ um intenso clima de mobilização e politização, que no segundo ato no CONSUNI demonstrou a disposição da juventude universitária em se movimentar, principalmente entre os calouros, que tiveram então uma primeira experiência com o movimento estudantil e que estavam presentes em peso.
Se tivesse sido levado até as últimas consequências, esse ascenso localizado poderia ter cumprido um importante papel de intensificar as mobilizações estudantis da cidade, que desde 2008 vêm sofrendo de uma paralisia que só fortalece os poderosos: quantos cortes, por exemplo, já não sofreu o passe estudantil dos secundaristas devido à incapacidade do movimento de se mobilizar?
E tal ascenso, como demonstra um documento de reivindicações formulado pela base dos estudantes, foi muito além da proposta inicial do DCE, de uma luta cujo centro era a construção de um bandejão na Praia Vermelha. Através de uma assembleia realizada com os estudantes presentes após a primeira sessão, além de outras reuniões ocorridas na semana que se seguiu, o DCE teve que preparar um extenso documento que condensava as principais reivindicações por assistência estudantil e ensino de qualidade. Entre elas constavam propostas bastante avançadas colocadas pelos diversos grupos que se encontram à esquerda da atual gestão do DCE – composta majoritariamente por simpatizantes e militantes do PSTU e do Enlace/PSOL, e que tem estado na direção desde 2007.
Destacamos as demandas de fim do vestibular e livre acesso à educação superior, efetivação imediata dos trabalhadores terceirizados da universidade e utilização apenas de mão de obra concursada, além da possibilidade de uso da creche e dos próprios bandejões por esses trabalhadores, extremamente precarizados e sem direitos. Também a construção de bandejões em todos os campi abertos em tempo integral e reajuste das bolsas de assistência estudantil para o valor de um salário mínimo. Propostas, portanto, capazes de dar um passo a frente na luta pela “educação pública, gratuita e de qualidade”, sem mão de obra precarizada e aberta aos filhos dos trabalhadores. Propostas que, obviamente, não seriam aprovadas de bom grado pela burocracia da universidade que controla o CONSUNI, menos ainda pelos lacaios do governo Dilma/PT que dominam a Reitoria.
A quantidade de propostas nesse documento de quase 15 páginas demonstra a precariedade do ensino público, que vem sofrendo constantes ataques por parte do governo do PT em aliança com os empresários. Com a força concentrada que tinha no momento do segundo ato, o movimento estudantil da UFRJ poderia ter arrancado muitas conquistas do CONSUNI e da Reitoria, porém não foi o que aconteceu.

… mas um ascenso que foi traído pela adaptação à burocracia acadêmica
         
Assim como fizeram na primeira sessão diante da força e da mobilização dos estudantes, os conselheiros, comprometidos com a Reitoria, suspenderam a segunda sessão e se retiraram do local. Muitos alegaram como desculpa para tal suspensão um forte sentimento de “insegurança”, já que a sala do Conselho estava completamente abarrotada de estudantes gritando palavras de ordem e exigindo que suas demandas fossem aprovadas imediatamente. Porém esses conselheiros não tinham nada a temer – o tempo inteiro os próprios representantes do DCE no CONSUNI pediram para que os estudantes se acalmassem, pois seria fundamental “garantir a sessão”, ou seja, garantir que ela não fosse suspensa, para assim poderem tentar colocar sob aprovação o documento com as demandas.
Com a suspensão da sessão, organizou-se uma grande assembleia entre todos os lutadores presentes, para decidir os rumos da mobilização. Nesse momento, os porta-vozes do Coletivo Levante e da direção majoritária da ANEL (ligados respectivamente ao Enlace/PSOL e ao PSTU) fizeram falas que defendiam a necessidade de se “retomar” a sessão, e isso depois dos conselheiros já terem até mesmo saído do prédio, fugindo da avalanche estudantil! Outras forças políticas, como o Movimento Correnteza, composto por militantes do PCR e independentes, foram pelo mesmo caminho, tentando apaziguar os ânimos e defender a necessidade de se retomar a sessão suspensa.
Graças à desorganização proposital imposta à assembleia pelas lideranças do DCE, os grupos de oposição à esquerda da atual gestão não conseguiram falar para defender que a tarefa colocada pelas circunstâncias era aprovar que se realizasse uma ocupação como forma de arrancar o máximo possível de conquistas das mãos da Reitoria. Apesar de não terem conseguido defender essa proposta, o coro de vozes que por vezes gritou “Ocupa, ocupa!” deixou clara a disposição dos estudantes e a única forma como eles viam ser possível garantir conquistas: ocupando!
Como sintoma da radicalização dos lutadores presentes, alguns representantes do bloco de apoio ao governo Dilma (PT/PCdoB) eram hostilizados após suas falas com vaias e protestos, pois defendiam abertamente que os estudantes deveriam tentar chegar aos seus objetivos “negociando” com o antidemocrático Conselho Universitário, dominado pela burocracia estatal-acadêmica que apoia tal governo.
Porém, em uma aparente contradição com sua identidade de “oposição de esquerda” a Dilma, as três forças citadas (Levante, ANEL e Correnteza) também preferiram apostar suas fichas em chamar de volta o CONSUNI, ao invés de aproveitar a justa raiva dos estudantes e realizar uma ação combativa e direta, que poderia ter combinado demandas de estudantes e trabalhadores em um forte movimento. Assim, a reação desses grupos de “oposição” a Dilma foi muito mais parecida com os defensores do governo do que eles gostariam de admitir: buscar conseguir conquistas através de um fórum da burocracia acadêmica ao invés de confiar inteiramente na mobilização dos estudantes e na aliança com os trabalhadores. Diferente desses grupos, para nós a oposição a governos e reitorias não se faz só com palavras, mas com atos. E naquele momento, o ato necessário de uma oposição consequente era ocupar a reitoria para arrancar conquistas.
A sequência de falas de militantes do Enlace, PCR e PSTU (para não falarmos dos defensores do governo e da Reitoria) cumpriu um nefasto papel de quebrar a disposição dos lutadores, espalhando ilusões no CONSUNI e na possibilidade de se obter vitórias profundas através desse fórum pertencente à burocracia universitária. Como resultado, após quase duas horas de uma infrutífera assembleia, cerca de um terço dos presentes já havia abandonado o local, descrentes de que aquilo chegaria a algum lugar.

Confiar nos estudantes ou na aristocracia da universidade?

Após mais algum tempo de assembleia, chegou um documento da Reitoria, entregue a uma comissão de negociação que não foi eleita por fórum algum, sendo formada pelos dirigentes das correntes que compõem a gestão do DCE. Tal documento não possuía praticamente nada de concreto, apenas uma série de propostas abstratas, sem prazo algum, sem orçamento, sem nada – apenas promessas vazias. Mas mesmo assim, os dirigentes do DCE resolveram colocar tal documento para aprovação da assembleia, alegando que bastava realizarmos “adendos” a ele. Ou seja, jogaram pela janela o documento aprovado pela base do movimento estudantil em uma série de fóruns democráticos e aceitaram negociar as propostas rebaixadas da Reitoria. Mais uma vez, graças principalmente aos grupos de oposição à esquerda do DCE, incluindo o Reagrupamento Revolucionário, a proposta aprovada na assembleia incluiu demandas avançadas, que ressaltaram inclusive a necessidade de combate à precarização do trabalho terceirizado que existe em larga escala na UFRJ.
            Ao final do processo de modificação do documento da Reitoria, muitos estudantes já estavam visivelmente abatidos pelo cansaço. Quando finalmente foram aprovados todos os adendos, menos da metade da quantidade de estudantes que havia no início permanecia no local. E não podemos de forma alguma criar mitos para justificar esse esvaziamento. Ele ocorreu por um motivo muito simples: as principais forças políticas que atuam no movimento estudantil da universidade preferiram confiar nos fóruns da burocracia acadêmica ao invés de confiar na força dos estudantes ali presentes.
            Adiou-se para mais uma semana a apreciação das demandas estudantis por parte do CONSUNI, quando elas poderiam ter sido arrancadas através de uma ocupação que podia ter começado com 500 e terminado com milhares. Graças à sua adaptação à ordem, as forças políticas mencionadas fizeram o jogo da Reitoria, de adiar e adiar as votações, desmobilizando assim a base do movimento e até mesmo quebrando sua confiança no caminho da luta.
            O discurso dos dirigentes do DCE era de que, adiando mais uma semana as votações, os estudantes poderiam comparecer em peso ainda maior e forçar o CONSUNI a aprovar mais demandas. Mas a realidade falou mais alto. Na semana seguinte estavam presentes tão poucos que, se chegaram a 200, número do primeiro ato, foi muito. Para piorar, as lideranças do DCE ainda acataram ao “pedido” dos conselheiros de não ter muitos estudantes dentro da sala do Conselho, dividindo assim os (já pouco) presentes em dois grupos, um menor do lado de dentro e outro maior do lado de fora, puxando palavras de ordem e assistindo à sessão através de uma TV!
            Resultado: não se aprovou praticamente nenhuma das demandas dos estudantes. Entre as poucas vitórias conseguidas chamamos atenção para aquela que mais tem sido alardeada pelo DCE como uma conquista “histórica”: o investimento de uma verba sobressalente para a construção de bandejão na Praia Vermelha – muito diferente, portanto, de “bandejão em todos os campi” [2]. Também foi importante a conquista de utilização dos bandejões existentes no período noturno. Infelizmente todo o restante das “conquistas” conseguidas contra a Reitoria é baseada em promessas abstratas, sem prazo e sem previsão de verbas.
            Aliás, falar em uma “vitória histórica” (como tem feito o DCE) diante de tão poucas conquistas reais [3] nada mais é do que mascarar a falta de sucesso em conseguir mais conquistas frente à Reitoria. O fracasso em obter as demandas estudantis mais avançadas foi imposto pelas lideranças estudantis que, completamente adaptadas à lógica do CONSUNI, cumpriram o nefasto papel de desmobilizar mais de 500 estudantes, em sua maioria dispostos a ocupar a reitoria. Hoje os representantes do DCE nos dizem, respondendo aos nossos questionamentos, que não havia “correlação de forças” para uma ocupação. Parece que os conselheiros que literalmente fugiram dos estudantes no segundo protesto tinham uma opinião bem diferente!
            Por último, importantes demandas que tinham como centro a aliança entre trabalhadores e estudantes foram completamente deixadas de lado pelo DCE no momento final, sendo completamente “esquecidas” no boletim publicado pela entidade, tais como a equiparação de todas as bolsas (e seus posteriores reajustes) ao salário mínimo, a imediata efetivação de todos os terceirizados da universidade e a utilização exclusiva de mão de obra concursada no futuro, além da utilização gratuita dos bandejões e creches pelos terceirizados e demais trabalhadores.
            É de extrema importância dizermos que, ao aprovar a construção de bandejões sem impor à Reitoria que não se utilize mão de obra terceirizada nos mesmos, faz com que a vitória (parcial) dos estudantes se expresse em ataques futuros para muitos trabalhadores e trabalhadoras pobres, que se vêm forçados a se submeterem cotidianamente às precárias e opressivas condições do trabalho terceirizado.
            Diferente dos conselheiros discentes no CONSUNI, diferente do Enlace/PSOL, do PCR e do PSTU, nós do Reagrupamento Revolucionário confiamos não na burocracia universitária e em seus fóruns/métodos, mas sim na intensa mobilização dos estudantes e da juventude em geral e em seus métodos de luta, em uma estreita aliança com a classe trabalhadora, dentro e fora da universidade. Confiamos não em meia dúzia de “iluminados” ou de conselheiros, mas nas assembleias da base do movimento e no seu potencial combativo. Foi essa a mensagem que buscamos passar aos mais de 500 lutadores que se dispuseram a ser realistas e exigir o “impossível”.
Fazemos aqui um chamado a todos aqueles que concordam com nossa avaliação a somarem forças pela aliança operário-estudantil como meio de conquistarmos uma universidade verdadeiramente popular!

Notas

[1] O CONSUNI é composto por 27 representantes docentes, 5 representantes dos funcionários e 5 representantes discentes, 14 conselheiros que são automaticamente empossados por comporem a Reitoria e demais cargos de direção dentro da estrutura universitária, além de 2 representantes dos governos estadual e municipal.

[2] Sobre os restaurantes universitários, temos que ter clareza da total insuficiência desses R$4 milhões, uma vez que apenas as obras de complementação do Bandejão Central custaram 8 milhões de reais (!).

[3] Entre as concessões consideravelmente abstratas feitas pela Reitoria encontram-se, por exemplo, a possibilidade de utilização da creche dos servidores por mães estudantes, a expansão do número de bolsas e o reajuste de seu valor, a expansão dos bandejões e do alojamento estudantil. É importante ressaltar que nenhuma delas possui determinação de prazo ou verba para implementação.

For a Socialist Federation of the Near East!

Zionist Cops Murder Arab Strikers

For a Socialist Federation of the Near East!

[reprinted from Workers Vanguard #105, 16 April 1976]

APRIL 12–The March 30 general strike in the Galilee, initiated by the Communist Party of Israel (Rakah) to protest Zionist plans for the confiscation of 5,000 acres of Arab land for new Jewish settlements, was viciously repressed. Newspaper headlines around the world announced that six Arabs had been killed, while 50 others were seriously injured and 300 arrested.

One of those murdered was a 15-year-old boy shot dead near Kfar Kana. For no other reason than malicious terrorizing, the home of Zayad Tewflik, the Rakah mayor of Nazareth was ransacked by Israeli troops. (Nazareth is the largest Arab town in Israel.)

To the north, in the town of Sakhnin, three men were murdered. Some 10,000 mourners from 36 villages and towns attended their funeral the following day. With raised fists they chanted, “With spirit and blood, we shall free Galilee!” After ten years of supposed civilian administration, military occupation has now returned to Galilee. The whole world is reminded that Arab Galilee (part of Israel since its birth), just as the Arab West Bank (which was conquered in the 1967 “Six Day War”), is “occupied territory.”

Israeli Settlements on the West Bank

A major caused the protest in Galileo was Zionist confiscation of Arab land (see “Blow-up in the Near East,” WV No. 102, 26 March 1976). In the West Bank this often takes the form of “spontaneous” settlements established by ultra-Orthodox Jews. With consum¬mate hypocrisy–believed by no one–Israel formally disclaims annexationist appetites toward the West Bank and makes token protests about the settlements. However, once a settlement is established, the Israeli government is quite obliging with material and military aid.

The only real difference within the government is whether to absorb the entire West Bank–the position of the National Religious Party (NRP) and defense minister Peres–or simply to annex a strategic strip along the bank of the Jordan River (the 1967 Allon Plan, named after the current foreign minister). The self-proclaimed “left-wing” Zionists of Mapam, who on paper oppose all annexation, threaten to leave the government if the settlements are not removed. The ultra-Orthodox NRP, in turn, threatens to leave the government if the settlements are not fully supported. As usual, the main government party. Mapai, to which both Peres and Alton belong, gives in to the NRP, while the Mapam, also as usual, capitulates to the Mapai. Thus the fragile coalition government survives and the settlements multiply. Already there are a total of 55, with 8,000 inhabitants.

One of the earliest was Kiryat Arba near Hebron. In 1968 a rabbi rented rooms in the area, ostensibly for Passover services. But the rabbi and his followers remained after Passover, defying expulsion orders. After a phony “confrontation” with the Zionist government, they were “temporarily” housed in an army camp and then provided with building materials. Now Kiryat Arba is an established community which numbers 1,500 on the outskirts of Hebron.

Kiryat Arba settlers periodically go into the neighboring Arab town and terrorize its inhabitants, often with weapons supplied by the Israeli army and attack dogs. (To be attacked by dogs is a special humiliation for Muslims.) Consequently, Arab protests have been particularly bitter in Hebron. A recent account by the Jerusalem Post (23 March) highlights the collaboration between settlers and the Israeli army:

“Kiryat Arba settlers went into Hebron, chased Arab stone throwers through alleys, beat them up and handed 50 over to the military government. Army and police commanders had put the settlers in charge of quarters and commanders gave them 3,000 bullets which they still had.”

The same issue of the Jerusalem Post also reported that Kiryat Arba leader rabbi Moshe Levinger went on television to tell the settlers to “shoot to hit” if they were attacked by Arabs while patrolling Hebron.

Ironically, Hebron’s mayor. Sheikh Mohammed Alt Jaabari, is often praised by the Zionists for his subservience to the Israeli military administration. The escalation of Israeli repression took place on the eve of elections for West Bank mayors and town councils on April 12. Even though Arabs are prohibited from forming political organizations or disseminating propaganda which can be given a pro-Communist or pro-nationalist interpretation, many candidates are identified with the Palestine Liberation Organization (PLO) or Rakah. Israeli authorities awarded Sheikh Jaabari for his collaboration by deporting his only opponent, Dr. Ahmad Hamzi, who is associated with pro-PLO and pro-Rakah intellectuals. Yet despite the Zionist terror, partially intended to manipulate the elections, many favorites of the military governors are expected to lose to left-wing candidates.

1929 Riots and 1936 General Strike

The recent rebellion in the West Bank is far from the first time that Arabs and Jews have clashed in this area. The ultra-Orthodox community at Kiryat Arba is motivated in large part by a desire for revenge for the brutal massacre of Jews during 1929 communal riots in Hebron. The fact that the current wave of struggles was set off by a dispute over the Aqsa mosque (which is also Temple Mount, and simultaneously considered a holy place by both Muslims and Jews), reinforces the importance of the 1929 riots in Palestine as an emotional factor in the present clashes.

The 1929 riots began with a conflict between Orthodox Jews and the British colonial administration over the “Wailing Wall,” a Jewish religious monument allegedly built with stones from the Temple of Solomon and located at the base of the Temple Mount in the predominantly Arab “Old City” of Jerusalem. (The worshippers put up a screen to separate males and females, and the British commissioner, unfamiliar with Jewish custom, ordered troops to remove it.) The Muslim religious leader of Jerusalem, the notorious grand mufti al-Haj Amin al-Husseini, got wind of this tiff and proposed to the receptive British district commissioner that the area in front of the Wailing Wall be made into an open thoroughfare. The extreme right-wing Zionist group Betar then held a provocative march to the wall, where it raised the Zionist flag. The grand mufti, in turn, inflamed the Muslim community by accusing the Zionists of wanting to seize the entire Temple Mount and circulating pictures with the Zionist flag raised over the Aqsa mosque.

Tension increased between the Muslim and Jewish communities in Jerusalem, and on 23 August 1929 Muslims poured down from Aqsa mosque, attacking Jewish quarters. The communal violence spread throughout Palestine, leaving 133 Jews and 119 Arabs murdered. The most brutal massacre occurred in Hebron:

“There was a Jewish population of over 700 people, an ancient community centered on a Talmudical college. Armed bands intent on slaughter reached Hebron on the 24th [of August]. The police were Arab and they stood passively by while their fellow Moslems moved into town…. There was an inn in town where some Jews had fled for their safety. The Arabs killed and dismembered 23 of them with daggers and axes in an upper room so that according to a witness, blood ran down the stairs and soaked through the ceiling and splashed onto the floor beneath…. In all the Moslems killed 60 Jews including children and wounded as many.”

–Christopher Sykes, Crossroads to Israel, 1973

Behind the 1929 riots was not simply inflamed religious fanaticism, but genuine grievances of the Arab peasantry, orfellahin. Land purchases by the Jewish National Fund dispossessed them and drove the landless Arabs into the cities, where they joined the ranks of the unemployed. The Shaw Commission, conducting an investigation of the causes of the 1929 riots, concluded that, “there is no alternative land to which persons evicted can remove. In consequence a landless and discontented class is being created…. Palestine cannot support a larger agricultural population than it at present carries unless methods of farming undergo radical change” (cited in Abu Lughod, TheTransformation of Palestine. 1971)

Of course, in order for the “methods of farming to undergo radical change,” feudalistic Palestinian Arab landlords like the Husseinis would have to be swept away through an agrarian revolution which would directly challenge British colonialism and capitalist property relations.

In 1929 the social discontent of the fellahin was manipulated by their direct oppressors, the Palestinian landlords who, like the grand mufti, were often religious leaders as well and distorted into pogroms and communal violence.

But the six-month-long 1936 general strike and subsequent rebellions and guerrilla warfare which lasted until the fall of 1938, while led by feudal families like the Husseinis, were genuinely anti-imperialist in character and akin to the recent demonstrations and strikes in the West Bank and Galilee. The 1936 strike was launched around three demands: 1) self-government, 2) prohibition of Arab land sales to Jews and 3) immediate cessation of Jewish immigration until the absorptive capacity of the country could be determined and immigration policies established. Since Jews were a minority in mandate Palestine, the Zionists always opposed any step away from British colonial administration toward self-government and independence.

U.S. “Tilts,” Israel Isolated

The stage for the current wave of Arab protests in Israel and the occupied territories was set by the 1947-48 partition of Palestine. In a 27 November 1947 United Nations resolution, the British mandate territory of Palestine (the result of an earlier imperialist partition of the remains of the Ottoman empire, carried out by the U N’s forerun¬ner, the League of Nations) was carved into Jewish and Arab sections. Even though the 600,000 Jewish inhabitants constituted only one third of the population and owned only 6 percent of the land, they received 55 percent of the territory, including the best agricultural districts.

They were also left with a large Arab minority of 400,000. Arab Palestine had been located mainly in the Galilee and the West Bank, the same areas in which mass anti-Zionist demonstrations and strikes have recently taken place. A myth assiduously propagated by Israeli apologists holds that these Arabs have equal rights with Jews. Yet the Arab territory annexed by Israel in 1948 was ruled under a military administration until 1966.

Now once again the “Palestinian Question” has been raised in the United Nations for another impotent debate–this time in the “central committee” of that august den of thieves, the Security Council. This time the “debate” centers around Zionist repression in the Israeli-occupied West Bank. In the past, the Israeli delegate has traditionally relied on the United States to run interference for Israel against the “Third World” majority. In recent years, however, U.S. support for Israel has been far from automatic and unconditional.

The last Security Council debate on the Near East was boycotted by Israel because the PLO had been invited. Israel claimed it could not sit at the same table with the PLO because the latter calls for a “democratic, secular Palestine.” This would entail the destruction of Israel, although denying the national rights of the Hebrew people: the Israeli state is neither democratic nor secular, and was created through the dispersal of the Palestinian people. This time, though, the Israeli delegates are present with the PLO.

In the Security Council debate on the West Bank the U.S. envoy condemned Israeli settlements in the occupied territories: “Indeed, the presence of these settlements is seen by my Govern¬ment as an obstacle to the success of the negotiations for a just and final peace between Israel and its neighbors.” Meanwhile, U.S. television networks have for once given generally accurate coverage of the behavior of the Israeli army during the Galilee general strike, coverage which was therefore highly unfavorable to Israel. Both the diplomats and the capitalist media are preparing U.S. public opinion for demanding concessions from Israel on the West Bank.

It is an important historical fact that the U.S. bourgeoisie did not unconditionally support the outcome of the 1967 war, nor is it now satisfied with the spoils of the Israeli victory: Zionist occupation of the Sinai, Golan Heights and the West Bank. While the United States is the principal patron of Israel, American imperialism is primarily interested in securing safe, cheap and preferably exclusive access to raw materials in general, and Near East oil in particular. The U.S. wants politically stable, pro-imperialist capitalist regimes in the Near East. It cares less whether that political stability is based on Koran-thumping sheiks or radical-sounding Arab nationalist colonels.

The political stability of all the reactionary Arab regimes is interdependent with the survival of a state of cold war with Israel and therefore with the survival of the Zionist state in order to deflect the discontent of the impoverished Arab masses into a jihad (holy war) against Zionism. Likewise, in order to maintain a state of siege mentality, treating any fundamental political opposition as treason, Israeli rulers are dependent upon the reactionary Arab regimes and their occasional threats to “drive the Jews into the sea.”

By discrediting several Arab regimes and bringing more than one million embittered Palestinian Arabs under Israeli military administration, the Six Day War directly threatened this fragile political stability. For example, the large influx of Palestinian refugees following the 1967 war led to major civil wars in Jordan (1970-71) and currently in Lebanon. American policy toward the occupied territories continues to be based on the 1967 Security Council Resolution 242, reaffirmed by the (U.S. secretary of state) Rogers Plan of 1970, which calls for Israel to give up most, if not all, of the occupied territories in exchange for Arab political recognition and a peace treaty.

Since the U.S. cannot simply force an immediate and unilateral Zionist withdrawal from the occupied territories without creating a major political crisis in Israel, Rogers’ successor Henry Kissinger engages in what has become known as the “step by step approach,” in which a “piece of land” is exchanged for a “piece of peace.” Now, especially in the aftermath of major Palestinian Arab strikes and demonstrations, U.S. diplomatic interest has shifted to the West Bank.

Smash Zionist Terror!

Israel is increasingly isolated, but this has had a contradictory impact on Israeli workers. On the one hand, there is a genuine sense of demoralization; for the first time since the 1948 war, many Israelis now question whether the Zionist state can survive. Further, the working population is being subjected to economic pounding from every side: military appropriations continue to rise; in early March the government announced a 25 percent rise in bus fares and the price of many basic foods; taxes have been increased, and the Israeli pound was devalued again.

Economic struggles on the part of the Israeli working class have become frequent. Last month there was a major walkout of civil servants, for instance. Nonetheless, a growing sense of isolation combined with economic discontent will not automatically lead Israeli workers to challenge their Zionist rulers. In the absence of a revolutionary leadership the growing political isolation simply reinforces a besieged fortress mentality, of which the Kiryat Arba settlers are only the most pathological and extreme expression.

Israel has no future in the Near East. As a weak ally of U.S. imperialism it will be sacrificed if Israel’s survival gets in the way of larger American capitalist interests. The U.S. is already busy arming both sides for the next Arab-Israeli war, which may rapidly escalate into a nuclear or even global confrontation.

The Israeli working class has a future only if it places at its head a revolutionary party which champions not only its economic and social grievances, which are many, but also links the economic struggles to the heroic Arab demonstrations and strikes in Galilee and on the West Bank. Such a Marxist party would champion the right to self-determination for the Palestinians, while not denying the national rights of the Hebrew people.

However, if the Israeli working class is to have a future it cannot exercise its national rights at the expense of the Palestinians; it cannot express them through the Zionist state of Israel, even such a Zionist state as would conform to the Rakah/Mapam/PLO dream and accept a Palestinian mini-state in the West Bank and Gaza strip. The right to self-determination for Palestinians and Hebrews can only be democratically resolved within the framework of a bi-national proletarian dictatorship on both sides of the Jordan River, as part of a socialist federation of the Near East.

Militant Longshoreman No. 20

Militant Longshoreman

No. 20,  March 24, 1987

Crowley Scabs Flee Port Of Redwood City

Last Friday the ILWU temporarily stopped a major attack on ILWU jurisdiction by Crowley. It all came together when Crowley, the largest tug and barge company in the world, brought three struck Hawaii Marine Lines barges into the port of Redwood City. At about 7:00 AM scabs began discharging containers from–one of the barges using Sheedy Drayage Company cranes, hysters and tractors. IBU-ILWU pickets stopped a line of trucks and two additional hysters from entering the port in spite of Redwood City Police harassment. After the word reached San Francisco Walking Bosses, Clerks, Longshoremen and Ship Scalers left every job in the Bay Area and headed for Redwood City. When several hundred ILWU members headed down the road toward the pier the scabs took off running and abandoned the barge. Not one container has left the port! For weeks these struck barges have been towed up and down the coast like the Flying Dutchman, while Crowley’s customers have been crying for their cargo.

Crowley Targets Longshore For Union Busting!

Since Crowley forced the IBU-ILWU into a strike to defend their jobs, we’ve been warning longshoremen that Crowley is laying the basis to break ILWU longshore jurisdiction on the West Coast. We didn’t expect the direct attack to come so soon, although we had a hint about two months ago. At that time a port of Redwood City official told our officers that if Levin’s non-union scrap iron operation at Richmond continued to underbid them, that the port of Redwood City would consider going non-union. Saturday the port got a Superior Court injunction limiting pickets to two at each gate. Crowley is now in Federal Court to get an injunction declaring our refusal to work the struck barges sitting at piers up and down the coast a *secondary boycott”. He figures that the Feds will overturn our picket line language that prevents PMA from making us scab on our own ILWU brothers.

Longshore Jurisdiction and Jobs At Stake!

If Crowley, the port of Redwood City, and Sheedy Drayage Company (now the first scab Stevedoring Company in California), succeed in unloading the barges and trucking off the cargo, the port of Redwood City will soon be booming with barges and ships loaded with autos, steel, containers, lumber etc., none of it worked by ILWU longshoremen. This non-union cancer will spread rapidly to Richmond, Selby, Pittsburg, Antioch and points north and south. Unless we stand fast here, it’s all over but the tears and 53 years of proud unionism will be history. We can end up like ILA longshoremen in New Orleans half of whom hang around the non-union piers hoping to pick up a days work at half the wages they were earning under ILA contracts.

There will be shrill voices raised (especially from Franklin Street), that we can’t win, that the police will bust heads, that the courts will seize our funds, that each longshoreman will have his savings seized, and that our noble leaders will be jailed if we refuse to surrender our jobs meekly. We can win only if we are prepared to fight to establish and defend our gains of the past 53 years as our brothers fought to establish our union in 1934. It’s not just the organized labor movement that is watching this battle and can be brought in to man our picket lines and stop Crowley cold. Millions of workers who yearn for job security and livable wages can be inspired by our successful battle that they too can hope to win union conditions and wages.

Fight or Roll Over Dead
No Middle Ground!

At the risk of sounding repetitious: We have to watch out that we’re not misled by our International officers and their week-kneed hangers-on in our local. Just last St. Patrick’s Day International officers Jimmy Herman, Rudy Rubio, Curtis McClain, Regional Director Leroy King and IBU President Don Liddle decended on the San Francisco IBU to tell them that they had no right to make any decisions on how to run their own strike. Herman shouted from the podium that the International officers and the top officers of the IBU would make all the decisions, and that he would order the IBU picket lines pulled down and would order longshoremen and clerks to discharge pineapples and personal effects of military personnel from those struck Crowley barges. When angry rank-and-filers loudly objected to Herman’s strikebreaking he charged threateningly forward into the crowd of angry boatmen and tankermen – loudly defended by our own Local 10 Secretary Treasurer Tommy Clark. The next day it turned out that all the tears over ‘perishable’ food was just an excuse to emasculate the IBU rank and file. There was no perishable cargo aboard the barges – just canned pineapple.

There is no place to hide – either we do what we have to do to defend our jobs, or roll over dead! Either we stop Crowley at Redwood City, or our union will be gutted by the union busters. That means we have to be.prepared to defy court orders!

Stand Our Ground!
Mass Pickets At Redwood City to Stop Scab Longshore Operations and Defeat Injunctions!

CORRECTION: In the rush of production the date on the last MILITANT LONGSHOREMAN No. 19 was incorrectly typed “February”; it should have read “March 13, 1987”.

I never claimed to be perfect, The Editor.

La virgen($) y los obreros

La virgen($) y los obreros

Esto artículo fue publicado en Espartaco Vol. I No. 2, Diciembre 1966.

Cuando una unión [sindicato] adquiere, a través de diarias luchas y esfuerzos, una conciencia obrera sólida y militante, puede tener por seguro que más tenaz, más cruda y brutal será la resistencia de la clase opresora. La burguesía utilizará todos los medios posibles para volver a tener ventaja sobre la organización obrera. Esto sucedió en el condado de Starr, en el valle del Río Grande en Tejas [EE.UU.].

La iglesia católica y la esterilidad política de la recién formada Asociación Obrera Independiente (AOI, IWA en inglés) fueron los canales utilizados efectivamente por la burguesía agricultora del condado. El liderazgo de esta unión probó ser un eficaz obstáculo para el desarrollo de la conciencia militante de los trabajadores agrícolas, quienes se lanzaron a una huelga absolutamente condenada desde el principio. Al no tomar el tiempo necesario para organizarse efectivamente, tomando todas las precauciones del caso que hubiesen al menos garantizado una derrota parcial, que hubiera enseñado tácticas a los obreros del lugar, adelantando su comprensión y endureciéndolos contra las arremetidas de los agricultores, el liderazgo traicionó a los obreros.

Los obreros locales empezaron a organizarse en la AOI el mayo pasado. Eugene Nelson, que babia estado en Tejas en nombre de la NFWA [Asociación  Nacional de Trabajadores Agrícolas (EE.UU.), en inglés] a desde marzo se afilió a la unión y trató de repetir las experiencias de la NFWA a de California.

El 29 de mayo la unión decía contar con 400 miembros. Al día siguiente Nelson decía contar con 1.000. La huelga fue planeada para el 1 de junio, o sea dentro de 48 horas, si es que los agricultores no accedían a la demanda de $1.25 como salario mínimo para los obreros. Nelson lanzó su ofensiva el 2 de junio: las granjas de Suntex, Los Puertos y La Casita fueron piqueteadas. El mismo día los agricultores obtuvieron una orden legal contra el piqueteo en masa a las granjas del condado. Nelson canceló el piqueteo y atentó la “desobediencia civil”, pose que terminó al ser arrestado tratando de obstruir un tren al servicio de las granjas.

Durante la huelga los agricultores siguieron como si nada, prometiendo que la cercana cosecha de melones no seda interrumpida. Negando que existía la tal huelga, siguieron produciendo a través de esquiroles y de “conmutadores” mexicanos y hasta empezaron a entrenar sus propios empaquetadores ya que los de la AFL-CIO de California respetaban los piquetes de la AOI.

En menos de 24 horas todo estaba perdido. Nelson desplegó con insuperable maestría los roles de padre, madre, comadre, sepultero y sacerdote de la huelga.

Pero Nelson no se intimidó frente al fiasco cometido por él y todo el liderazgo de la AOI: se empeñó en prolongar la farsa y la agonía de la unión, arrastrándola por el peor despeñadero de colaboración clasista. Aquí entra el rol de la iglesia católica, adueñándose de esta etapa y rematando la militancia obrera con toda la miasma que es la religión y el misticismo.

Nelson se lanzó histérico alas calles de Tejas, clamando por la clase media y la Virgen de Guadalupe. Procesiones religiosas estaban de moda para el liderazgo de la unión, enarbolando pabellones patrióticos y religiosos. Una de las primeras procesiones terminó en Garciasville, en donde la iglesia de la población presenció a los obreros, dirigidos por sus líderes, en misa piadosa. Las banderas estadounidense y mexicana y la Virgen de Guadalupe inspiraban a los obreros. ¡Nobles símbolos proletarios!

Pero seda erróneo pensar que estos fakires, estos consumados oportunistas y traficantes de los intereses obreros, son almas místicas: ¡Ni por uno momento! Sus garras se encuentran tan clavadas en la tierra como sus lenguas en el cielo. Margil Sánchez, líder de la unión, se oponía a la afiliación con la NFWA debido a los “revolucionarios” dentro del liderazgo de la misma. Sánchez pavonea, arrogante, que “cada uno de los líderes de la unión de Río Grande City ha jurado no pertenecer a ninguna organización subversiva a los ojos del Gobierno Federal”. (San Antonio Express, julio 6, 1966).

El corrupto liderazgo de la AOI no posee ningún programa intrínseco que represente a los intereses de sus miembros. Prefiere, en vez, limitarse a hacer puras demandas de sueldos, demandas que son supervisadas por la clase media y por los fakires mismos. Un cierto “sabor” chovinista es añadido por el “mexicanismo” de estos fakir es, que esconden su verdadero patriotismo: la ley del dólar. Su verdadera pasión es vilmente disfrazada de slogans que halagan huecamente a Zapata o a Villa.

Una unión fuerte no puede solo hacer demandas económicas “para el momento”; en vez, debe de tener como meta la organización y defensa de todos los trabajadores agrícolas del estado y debe de extenderse y evitar ser aislada, pues si lo es sucumbirá sin remedio en manos de los agricultores y sus esbirros indirectos como Margil Sánchez. Semejante unión sólo defraudaría a los obreros, frustrándolos y volviéndolos meros peones de la burguesía agricultora, la cual pasarla a la ofensiva.

Pero una unión fuerte, segura de sus derechos y militante en sus acciones, sería el primer paso para formar el núcleo de un partido laboral en el sur del país. Semejante partido luchada ya no sólo por los mendrugos que alegran a los Nelson y Ca., sino por el poder político de los obreros organizados.

Un Comité para un Partido Laboral Tejano fue formado el pasado abril pero ha fallado en funcionar debido a su aislamiento de las luchas por Derechos Civiles y las de las tradeuniones, además debido a su falta de virilidad política, ya que está compuesto por liberales de toda ralea y stalinistas que siguen al Partido Comunista. El revivir a semejante Comité beneficiaría mucho a una unión fuerte de los trabajadores agrícolas, a la vez que pondría en pié de lucha al Comité. Dicha unión ganaría mucho si es que levanta la demande de un partido laboral, poniéndola en práctica por medio de sus propios candidatos en el valle del Río Grande, los cuales se opondrían inconciliablemente al reformismo de los partidos Demócrata, Republicano, Mexicano-Americano y Anglo. El Comité, a su vez, ganaría tremendamente contando con el apoyo de una fuerte unión, posibilitando al Comité a coordinar sus esfuerzos hacia un partido laboral con los deseos de muchas otras unións del lugar.

Quien diga que esto no es posible solo defiende derrotas como las ocurridas en el condado de Starr, fracasos que no dejarán de repetirse mientras los trabajadores sigan soportando a los oportunistas que se pasan como líderes de la clase trabajadora.

¡Por un Partido Laboral en Tejas! ¡Por la liberación de los trabajadores agrícolas!

Abuso Burocrático na Tendência Bolchevique Internacional

O Caso de Peter de Waal 

Abuso Burocrático na Tendência Bolchevique Internacional 
Aqui estão reproduzidos dois documentos que dizem respeito a casos de abuso burocrático cometidos em 1993 por Bill Logan e Adaire Hannah, líderes do Grupo Revolução Permanente da Nova Zelândia (PRG), seção da Tendência Bolchevique Internacional (IBT). O primeiro é uma postagem feita em um grupo de discussão na internet (alt.politics.socialism.trotsky) em dezembro de 1998. Ele relata, com citações, a forma como os membros e líderes da IBT lidaram com o ocorrido na época. O segundo é um trecho de uma polêmica entre a IBT e a Liga Comunista Internacional (organização internacional da Liga Espartaquista) na qual a IBT reconhece esse tipo de acontecimento sob uma interpretação “inofensiva” que está em clara contradição com as citações do primeiro documento. A tradução de ambos é uma realização do Reagrupamento Revolucionário.

Enquanto nós consideramos que a Tendência Bolchevique Internacional contribuiu para o avanço do programa trotskista em determinado período, nós não pretendemos repetir os erros e abusos burocráticos realizados ao longo da sua história e que no fim determinaram a sua transformação em uma organização burocrática engessada, com uma liderança permanente que coloca o controle sobre os próprios membros acima de quaisquer princípios organizativos ou políticos. É com esse propósito que traduzimos e republicamos estes documentos. A sua publicação não indica nenhuma responsabilidade pelos comentários feitos pelo autor da postagem, Philip Ferguson, nem pelos comentários secundários de Peter de Waal, assim como não indica qualquer confiança na crítica da Liga Espartaquista (ela própria envolvida em uma série de abusos burocráticos semelhantes).

A perseguição a Peter de Waal por parte de Logan e Hannah (também antigos líderes na Liga Espartaquista e que nunca romperam completamente com suas técnicas inescrupulosas) marcou o início da transformação do PRG, de um grupo de algumas dezenas de membros (então o maior grupo neozelandês reivindicando o trotskismo), nos quatro idosos semiativos que ele é hoje. O regime destrutivo mantido no PRG foi o principal responsável pela incapacidade do grupo de se desenvolver e poder contribuir para o renascimento da Quarta Internacional. Na tradução para o português foram realizadas apenas pequenas modificações na organização espacial do primeiro documento, com o objetivo de facilitar a sua leitura. 

***

Documento 1 – Postagem em alt.politics.socialism.trotsky 

De: Philip Ferguson
Data: 17 de dezembro de 1998
Assunto: Peter West, Re: publique e seja condenado

Para Peter West,Peter: aqui estão algumas coisas que foram postadas em apst [alt.politics.socialism.trotsky] há algum tempo atrás por um antigo membro do PRG, lidando sobre como opera o regime de Logan. O ex-membro é um homem chamado Peter de Waal, que foi um de vários membros que Logan decidiu que constituíam um “núcleo menchevique” na organização. Na verdade, os movimentos contra esse “núcleo” eram parte da conduta de Logan para disciplinar a organização de uma forma que os membros entendessem que apenas aqueles que verdadeiramente o amassem e o vissem como o líder perdido do proletariado achariam espaço para permanecer no PRG.

Aqueles que recusassem tal obediência tinham que ser destruídos, tanto para se livrar deles como descrentes quanto para enviar uma mensagem clara para o restante dos membros. Essa é a metodologia na qual Alan Gibson e Barbara Duke foram treinados.

Eu retirei as referências aos nomes de uma série de outros membros do PRG que apoiaram o expurgo mas que desde então deixaram a cena. No final eu adicionei alguns comentários meus. Onde eventos ou pessoas precisaram de explicação, eu adicionei informação entre colchetes junto com as minhas iniciais [PF]. Outras coisas entre colchetes estavam no texto original. Onde os membros do PRG usam seus sobrenomes no texto, eu modifiquei por seus nomes de partido. 

—————————————————————————————– 

De: Peter de Waal

Citações do PRG – Aquilo que eles esperavam que nunca fosse aparecer” 

Aqui estão alguns exemplos do tipo de coisa que circulava no boletim internacional da IBT depois que eu deixei o PRG. Nas minhas postagens anteriores eu apenas aludi a esse tipo de coisa, aqui está a evidência! É bastante óbvio ao ler isso que essas pessoas são stalinistas não assumidos, sendo as palavras de Bill Logan e Harlan particularmente interessantes. Tudo isso me lembra de uma piada que ouvi certa vez – “nós vamos torturar você tão lentamente que você vai pensar que é uma profissão”. 

Como quebrar um camarada

Logan BL30526 26/5/93 – Desenvolvimentos no PRG

Página 3

“Nós não estamos acostumados a esse tipo de discussão política no PRG, embora é claro, não seja historicamente incomum para um camarada desmoralizado deixar uma organização revolucionária em uma discussão conturbada que envolve uma combinação de problema disciplinar e acusações de burocratismo. Em geral o importante a fazer é ter inúmeras e longas sessões com a intenção de expor ao camarada que está se retirando (e aos outros membros) as motivações subjetivas envolvidas e a profunda inadequação geral de quem se retira. Nestes casos, é claro, onde você está lidando fundamentalmente com desmoralização pessoal, questões de personalidade e programa estão fundidas. Tais camaradas extraem o programa a partir das suas necessidades pessoais.”

“Nós preferiríamos que tais pessoas tivessem tão pouco a ver com política quanto possível por um tempo, e uma martelada pode às vezes aprofundar a desmoralização, o que é para o bem.”

“Porque não houve qualquer tipo de preparação, e porque nós nunca havíamos tido tal situação antes, o processo nessa instância foi inusitadamente gentil dentro da minha experiência, embora possa haver camaradas que apesar disso acharam que o processo não foi suficientemente gentil com Peter.”

“E também pode haver camaradas que esperavam que um toque mais leve com ele fosse mais provável de nos permitir usá-lo em exercícios de controle de danos em Auckland e na Ilha Sul. Minha visão pessoal é de que qualquer perspectiva de usá-lo em tais exercícios – e isso parece improvável – só poderia acontecer após um confronto agudo no qual ele ganhasse uma surra política completa.”

“No meio da segunda sessão da discussão, Peter disse que ele era incapaz de continuar a discussão – e ela estava bastante amena. Eu ainda esperava que nós fôssemos capazes de extrair mais informação de Peter e acreditava que ele deveria de qualquer maneira encarar a discussão, então eu promovi uma moção deixando claro que ele estava sob disciplina para permanecer na reunião. Essa moção foi aprovada com apenas Peter contra.” 

Ainda Logan:

Página 4

“Minha sensação pessoal é que os camaradas estão sendo um pouco críticos demais de mim, um pouco escrupulosos demais sobre a maneira apropriada com a qual a luta política é conduzida. Há uma visão de que isto é um ataque pessoal ao invés de político. Eu não tenho muito a dizer quanto a arrependimentos aqui.”

“Além do mais, o meu julgamento sobre ele é que deixando claro para ele que ele tem pouco a oferecer à política pode bem ajudá-lo a seguir a direção da aposentadoria.” 

Rory RT30527 27/5/93 [PF – Rory era parte do “núcleo menchevique”]

Página 1

“Minha experiência nessa organização é de que ela não é um lugar para clarificar diferenças, mas sim um lugar para desmantelar a oposição.”

De um recado para Sari: “A psicopatologia de Bill havia ficado impressa na organização”. Aparentemente Rory estava se referindo a uma conversa que ele teve com Bill, quando Bill candidamente perguntou como um terapeuta treinado a Rory da sua opinião sobre o PRG. 

Harlan (Líder da IBT na Alemanha) 

Documento datado em 16/6/93, cópias para todas as localidades exceto Londres – Jill e Garry em Londres eram apenas apoiadores na época e Bill não queria assustá-los.

Página 1

“Apesar de tudo, eu estou levemente alarmado que um número de camaradas internacionalmente parecem não ter entendido que o tom e jeito empregados por Bill e Adaire na reunião de 25 de maio foram apropriados para lidar com um membro de uma organização revolucionária que encobriu o roubo de materiais internos do PRG, caracterizou o líder da seção como não-bolchevique, e se recusou a travar uma luta política.”

“Isso não foi uma luta política ‘normal’; nem mesmo uma que pudesse levar a um racha sobre diferenças políticas reais. Peter colaborou com um inimigo da organização ao qual ele havia dado sua fidelidade, uma organização que encarna as necessidades históricas da classe trabalhadora internacional.” [PF – Eu acho que isso se refere a alguém dos Socialistas Internacionais que estava hospedado na casa de Logan e surrupiou um documento do PRG, sendo que Peter de Waal sabia disso e não disse nada, mas eu não tenho certeza]. 

Harlan continua: 

“Ele inicialmente mentiu sobre essa colaboração. Eu acho que seria útil dizer como o PRG teria lidado com o traidor Peter no contexto de uma insurreição proletária ou uma guerra civil entre forças proletárias revolucionárias e forças capitalistas. Uma organização revolucionária liderando uma luta desesperada como essa teria imediatamente se desfeito fisicamente do traidor depois de extrair informação dele por quaisquer meios que fossem necessários.”

“Na presente situação as tarefas do PRG eram se livrar de Peter de uma maneira que alcançasse dois propósitos:
 Um: torna-lo ideologicamente e emocionalmente incapaz de causar dano ao PRG;
 Dois: deixar claro para os membros do PRG o escopo completo da traição de Peter e a sua inutilidade para o marxismo revolucionário.”

“A conduta de Bill e Adaire esteve dentro dos parâmetros EXIGIDOS. Confusão entre as normas desejadas de diferenças, de luta intra-partidária e a democracia operária de um lado e meios extraordinários apropriados para lidar com um traidor moralmente fraco de outro causa preocupação sobre a presente habilidade de alguns camaradas da IBT de distinguir entre as normas bolcheviques de vida interna das medidas brutais às vezes necessárias que uma organização deve usar ao lidar com os Peters deste mundo que acidentalmente adentram em uma organização de combate revolucionária.”

“A postura (político-pessoalmente) agressiva e abusiva de Bill em relação a Peter durante a ruptura foi um dispositivo apropriado para tentar obter fosse 
 (a) uma maior elucidação política da percepção dele sobre o PRG enquanto um grupo distorcido por práticas organizativas típicas de um Healy;
 (b) um colapso emotivo em autodesprezo (bastante apropriado) que poderia ajudar no controle de dano;
 (c) a reação de um rato encurralado de violência física que teria sido útil ao PRG para causar descrédito a Peter em sua provável carreira futura de ‘especialista’ anti-PRG;
 (d) conseguir mais informação.”

Página 2

“A questão preocupante é que alguns membros do PRG ainda pensam que a liderança tática de Bill e Adaire foi ‘deficiente, uma vez que houve um padrão de conduta da parte desses dois camaradas envolvendo comportamento no tom e estilo que foi excessivamente inflamatório e foi, portanto, inapropriado para essa situação particular (!)’ [citado de Marcus Hayes do PRG, com ênfase de Harlan] e que a intervenção de Adaire na sessão foi ‘extremamente desprezível’.”

[PF – Isto acima se refere ao fato de que nesta bizarra reunião, Peter de Waal foi sujeito a tiradas mordazes de Logan e da maluca Hannah, e que no rompimento, Logan tentou incitar Peter de Waal a atacá-lo. Isso teria sido usado para destruir Peter de Waal politicamente aos olhos de membros do PRG e sujar o seu nome na esquerda. Alguns membros do PRG, incluindo um dos seus líderes – Marcus Hayes – acharam que esse procedimento estava um pouco fora de ordem, e Marcus, para seu crédito, subsequentemente disse ou escreveu que se Peter de Waal tivesse atingido Logan, então Logan teria que carregar um pouco da responsabilidade moral. Isso levou Harlan, o maníaco encarregado da operação alemã da IBT a ir até o fundo do poço com Marcus, como evidenciado no que você vai ler agora].

Harlan continua: 

“Desprezo extremo era o único ‘tom’ apropriado com o qual caracterizar Peter e sua conduta como um membro prestes a ser expulso de uma organização revolucionária. Peter havia feito um compromisso com o marxismo proletário revolucionário. Se ele pessoalmente tinha maturidade emocional o suficiente e capacidade de uma avaliação objetiva das exigências desse compromisso, já não vem ao caso. Fazer de Peter um exemplo apropriado e empurrá-lo para o suicídio político era o resultado desejável da reunião de 25 de maio.”

“Eu não acho que a caracterização de Peter feita por Bill como um ‘pedaço patético de material humano’ foi inapropriada ou desnecessariamente abusiva, eu apenas acho que ela foi pouco científica e insuficientemente insultante.”

Página 3

“Nós queremos que os traidores como Peter saiam em um estado desmoralizado tanto quanto nós possamos ajudar a chegar. Nós não temos interesse nem perspectiva de manter contato com Peter, ou de resolver nossas diferenças com ele uma vez que ele esteja fora da organização. Nem nós estamos interessados e recrutá-lo novamente em uma outra possível conjuntura” 

Peter de Waal escreveu sobre isso: 

“Bastante simples de fato – (1) destruir Peter, (2) deixar uma marca no restante dos camaradas. Notável é a crença de Harlan de que a IBT encarna as necessidades históricas da classe trabalhadora. Bill costumava delirar sobre a idéia de que, como um ex-membro da Liga Espartaquista, ele estava conectado pelo método organizativo e aprendizado ao SWP/EUA das origens e, portanto, a Trotsky, Lenin, numa linha de sangue ininterrupta de comunistas. Eu costumava me referir a isso como a teoria DST (Doença Sexualmente Transmissível) da consciência marxista – você tem que pegar por contato pessoal e você só consegue uma dose do escolhido, por exemplo, Bill. Com relação à referência de Harlan sobre o que eles teriam feito comigo num quadro de comunismo de guerra, ela revela mais sobre o funcionamento da cabeça de Harlan do que é relevante para a discussão. Eu suponho que os sentimentos de impotência que surgem da experiência de vida dele acham expressão em tais chamados por justiça com sangue.” 

Intimidação Física – Boyd – BABT 15/6/93 [PF – Esta é uma contribuição para a discussão feita por um membro da IBT na Área da Baía de São Francisco, que também estava enojado pelo método de Logan].

Página 2

“Pior do que simplesmente ficar bem próximo de Peter, Logan admite ter conscientemente piorado com ele ao usar um tom alto, irritado e insultante. O comportamento de Logan foi, por todos os relatos, calculado para reduzir a situação a um combate a socos. Logan admite estar ciente de que Peter estava a beira de um colapso e poderia ter lhe atingido. Logan até mesmo escreveu que não teria sido mal se Peter o tivesse atingido. Esse não é o tipo de atmosfera que nós queremos criar internamente.”

“Nós devemos manter nossos camaradas, em particular nossa liderança mais antiga, como eu recentemente me mantive, num padrão mais alto de comportamento. O Secretariado Internacional [da IBT] deixou o camarada Logan solto e fazendo isso criou um precedente. Em que extensão esse precedente se torna uma prática nós teremos que ver.” 

Intimidação Indireta – Boyd, 9 de junho de 1993
Página 5

“Por último e mais importante, a minha experiência é de que camaradas mais jovens (observadores nas discussões nervosas e ríspidas) podem ficar intimidados. Eu acho que Adaire e Bill, em particular, não veem a questão da intimidação indireta. Tem sido minha observação que os camaradas com menos estômago, camaradas que podem já ser inseguros em seus pensamentos e sentimentos, ao observarem o tratamento com Peter serão ainda menos propensos a se colocarem. Não importa que esse não tenha sido o padrão usual de discussão no PRG. Para alguns camaradas pode bastar um incidente como esses para intimidá-los. Talvez isso seja também uma preocupação não expressa dos camaradas que votaram por criticar Bill e Adaire.”

“Eu posso dizer que vocês estarão em uma ladeira bastante escorregadia se vocês decidirem que uma confrontação irritada e carregada de emoção é a aproximação geral que vocês querem ter.”

“Esse estilo passa a ser comunicado aos novos recrutas que ou adotam-no ou silenciosamente aceitam-no. É a estrada rumo ao método de ‘explosões’ da SL [Liga Espartaquista], típico de seitas. Não é a aproximação geral que nós queremos ter. EM GERAL nós queremos encorajar o estilo e método que o PRG tradicionalmente usou. Nesse momento eu realmente não temo a sua degeneração ao estilo Smith/Ryker, mas eu estou um pouco incomodado pelas defesas escritas de Bill e Adaire que pareceriam aconselhar tal coisa.”

Aqui Boyd corretamente afirma a razão para a maneira com a qual a reunião de 15 de maio de 1993 foi conduzida, para deixar uma marca no restante da organização. A seguir está uma declaração de Nicci, feita para Sari: “Nicci disse que ela queria conversar com Adaire sobre a intervenção dela contra Peter, mas ela não se sentia capaz já que ela se sentia intimidada por Adaire e não achava que Adaire iria escutar de qualquer forma.” [PF – Essas são duas pessoas que saíram como parte do expurgo do “núcleo menchevique”]. 

Questões de Segurança 
“Moções na Reunião do PRG – terça-feira, 8 de junho de 1993”

“A executiva de 7 de junho votou por maioria recomendar o seguinte ao PRG: ‘Que nós notemos que atenção insuficiente foi dada pela executiva para as implicações de segurança de ter Glenn hospedado na casa de Bill enquanto ele estava em Wellington. Em vista da centralidade da casa de Bill para certos aspectos da nossa organização, ela requeria um nível de cuidado que atrapalharia muito, ou a instalação de uma trava na gaveta de estudo de Bill, para tornar o lugar seguro para alguém como Glenn. Adaire objetou a Glenn ser instalado com Bill em uma reunião informal dos membros da executiva, e Bill garantiu aos camaradas que estaria tudo bem, então ele deve assumir responsabilidade principal por isso. As precauções discutidas entre os membros da executiva (tendo a ver com segurança do computador), e outras precauções que foram tomadas, provaram ser inadequadas.’ ” 

Mais de Bill Logan no seu maldito BL30526 26/5/93 – Desenvolvimentos no PRG
Página 4

“Primeiro há o ponto de Adaire, que precede a reunião. Ela tinha avisado que Glenn era um desgraçado hábil e experiente e que não deveria ter permissão de entrar na minha casa. Em retrospectiva, é difícil discutir contra isso.” 

Documento de Harlan datado de 16/6/93

“Mas o aspecto mais alarmante desse incidente é a facilidade com a qual uma pessoa hostil teve acesso a materiais internos impressos lidando com questões pessoais. Frouxidão na segurança não se limita ao PRG. Depois que Smith foi posto em suspensão sem acesso à vida política interna da IBT, ele aparentemente teve acesso ao arquivo do computador até a intervenção de Jensen em questões de segurança técnica na Área da Baía. Eu suspeito que alguns dos materiais impressos no ‘documento histórico’ do CWG [1] são de data posterior à suspensão de Smith.” 

Sari: 

“Glenn foi convidado por Bill para usar a sua escrivaninha enquanto estava hospedado com ele. Ele viu o documento de 7 de maio sobre a escrivaninha e o leu. Ele disse a Peter naquela noite sobre o conteúdo e que eles tinham a intenção de ‘acabar com Peter’. No dia seguinte Glenn retornou à casa de Bill para recolher suas coisas e pegou uma cópia do documento de 7 de maio e a trouxe de volta para Peter antes de partir para Auckland.” [PF – Glenn é o homem dos Socialistas Internacionais que se hospedou na casa de Logan]. 

De David Wincop DW30604 “Táticas a Respeito de Peter” 30/06/93
Página 1

“Marcus diz que ‘se Peter tivesse atingido Bill, então Bill teria que dividir um tipo de responsabilidade em menor escala pela violência’. Eu tenho a impressão de que essa declaração precisa ser completamente contraposta e que Marcus deveria retirá-la. Se uma mulher vestida sensualmente, que dança de maneira sacana é estuprada em seguida (como representado por Jodie Foster na história baseada em fatos reais “Acusados”), isso significa que ela ‘teria que dividir um tipo de responsabilidade em menor escala pela violência’? É claro que não. Se Peter tivesse atingido Bill então a única pessoa responsável teria sido Peter.”

Bill como uma mulher sensual e Peter como um estuprador??!! Sexo = violência? Conversa de cachorro doido! David está hoje em exposição na seção de Londres da IBT. 

A vingança do núcleo menchevique
Sari: 

“Quando Peter saiu, permitiram que eu voltasse já que eles queriam refutar a percepção mantida em comum de que eles estavam realizando um ‘expurgo’. Eles foram a extremos para manter Nicci na organização e quando Spike saiu eles não disseram a ninguém por muito tempo que ele tinha saído. Aparentemente Spike tinha concordado em continuar com essa farsa, já que o PRG ainda parece ter algum tipo de influência moral sobre ele e ele ainda é amigo de alguns deles. Eu acho que ele se sente culpado a respeito de trabalhar numa estrutura que é devotada a jogar trabalhadores nas ruas. Infelizmente para eles, Rory saiu três semanas depois de Peter, depois de algumas discussões amargas sobre a estrutura e métodos do PRG e particularmente o seu comportamento com Peter.” 

———————————————————————————————– 

Desde essa época, 1993, o PRG mal recrutou alguém. Eles diminuíram ao invés de crescer em números. Todo esse episódio e o comportamento de Logan e Hannah mostraram conclusivamente que eles não haviam mudado dos dias em que estavam realizando operações da Liga Espartaquista na Austrália e na Grã-Bretanha como um par de sociopatas. Logan foi expulso pelos espartaquistas por ser um sociopata e lhe faltar a mais rudimentar decência humana. A Liga Espartaquista na verdade produziu três volumes lidando com o seu julgamento interno e o seu comportamento sociopata na Austrália e na Grã-Bretanha. Quando ele voltou para a Nova Zelândia, eles doaram cópias para todas as bibliotecas públicas para avisar a todos na esquerda sobre ele.

O episódio do núcleo menchevique dá um pequeno relance para dentro da natureza de uma organização totalmente doente e deformada, liderada por um par – Logan e Hannah maluca – que nenhuma organização de esquerda saudável deixaria chegarem a um quilômetro de distância.

A IBT está se desintegrando – a maior parte da IBT na América do Norte se levantou e saiu, uma massa na Alemanha foi embora, a operação britânica tem sido um fracasso sem reservas nos últimos três ou quatro anos desde que os filhotes de Logan estão lá, e na Nova Zelândia a tentativa de se expandir para Auckland viu a maioria das pessoas que se mudaram para lá os deixarem. O PRG não produziu nenhuma edição do seu “jornal” mortalmente maçante “O Bolchevique” nos últimos dois anos. A última edição foram algumas folhas A4 mal fotocopiadas grampeadas em um canto. A IBT não produziu o seu jornal soporífico e antiquado supostamente “trimensal” desde janeiro deste ano.

Toda pessoa envolvida em política de esquerda nesse país tem suas histórias favoritas sobre a psicopatologia chamada “PRG”, mas uma das minhas favoritas mais recentes é essa. Na última Conferência Estudantil Socialista em Wellington, Adaire Hannah fez o seu típico discurso, delirando a meio metro do chão (ela realmente é, como um ex-membro do PRG a descreveu, “o estereótipo de professora de escola solteirona de meia-idade vinda do inferno”. Outras pessoas simplesmente a chamam de “Hannah maluca” ou “Adaire, a louca”).

De qualquer forma, depois de certa sessão, os líderes do PRG mandaram seus membros circularem na hora do intervalo para espreitar as conversas das pessoas – esse tipo de ação de louco é o que a escola de Logan-Hannah considera um “procedimento organizativo bolchevique” inteligente. Um dos seus inocentes membros de base estava cumprindo as suas tarefas de espionagem, espreitando e ouvindo uma conversa que incluía uma mulher na qual o PRG estava de olho. Justo quando o coitado estava escutando, essa mulher começou a falar sobre Adaire Hannah ser maluca! O que o PRG acha que é algum tipo de tática inteligente (ficar escutando às escondidas) acabou resultando no típico pesadelo do espião – ouvir algo que ele preferia realmente não ter ouvido.

Um dos aspectos mais perturbadores do regime de Logan – e que é evidência ainda mais conclusiva do quão pouco ele mudou – é a maneira com a qual ele tenta inculcar lealdade. Isso parece consistir de dois truques:

Um é que ele é o líder perdido do proletariado que herdou o manto de Lenin (através de Trotsky, Cannon e Robertson). O segundo é se fazendo de vítima. A forma como isso funciona é que ele se apresenta como o pobre e velho Bill, ele é gay, ele foi realmente maltratado pelos espartaquistas, ninguém o entende ou o ama, até mesmo o seu amante cometeu suicídio há um tempo atrás. Assim todo mundo deve supostamente se agrupar em torno do pobre e velho Bill e ajudar a protegê-lo desse mundo cruel. Então as pessoas ficam psicologicamente presas a ele com essa particular porcaria de jogo mental. Conforme o tempo passou, qualquer pessoa saudável saiu do PRG e eles estão começando a decair para o núcleo duro de pessoas que sempre vão continuar com a patologia.

Por último, ao CPGB, se vocês querem um debate com o MB [Boletim Marxista, publicação britânica da IBT], vocês devem entender que Gibson e Duke não fariam ou escreveriam nada para vocês sem tudo ter sido acertado (quando não escrito) pelo maestro.

Às vezes, você sabe, grupos na esquerda só tem políticas ruins. Algumas outras vezes eles são casos diretos de psicose. O de Logan é o último.

Saudações,
Philip Ferguson 

***

Documento 2 – Polêmica entre a Liga Comunista Internacional (ICL) e a Tendência Bolchevique Internacional (IBT) 

Trecho extraído de  http://www.bolshevik.org/TB/TB5html.html 

ICL: 

Um relato do Grupo Revolução Permanente (publicado como parte da coleção do documento de Riker/Smith reimpresso em Odeie o Trotskismo, Odeie a Liga Espartaquista número 8) dá evidência de que Logan continua usando seus velhos truques. Esse relato positivamente descreve uma sessão de “autocrítica comunista” em que “esperava-se de todos os camaradas comentarem aberta e francamente sobre as características boas e más dos outros camaradas”. No fim deste tormento – que durou três dias – a dirigente organizativa, que tinha um bebê pequeno, se retirou do grupo por não mostrar suficiente “vigor e consistência”. Tais “métodos” foram usados por anos para quebrar críticos e moldar capachos sem cérebro em organizações stalinistas, e eles também foram adotados pelos moralistas da Nova Esquerda. Mas eles são antitéticos ao treinamento de quadros leninistas críticos. E olhe quem está nos chamando de “seita”! (Parágrafo 58) 

IBT: 

O exercício de “autocrítica comunista” no começo de 1993 foi perfeitamente inócuo. A organização estava necessitando de ajustes na divisão do trabalho, e um resultado do exercício foi a eleição de um novo encarregado da parte organizativa. Tendo passado alguns anos nessa posição exigente, a organizadora do PRG estava interessada em mudar seu posto na organização. Não houve nenhuma questão de qualquer perda de autoridade política.

Além de tais ajustes organizativos normais, também foi necessário resolver o fato de que o funcionamento político de alguns camaradas tinha começado a escorregar. Havia vários outros sintomas de desmoralização política e expressões de insatisfação os quais precisavam ser trabalhados. Estes variavam desde críticas à operação do grupo como um todo e o desempenho de vários membros (particularmente os camaradas de liderança) até colocar em questão a base programática fundamental do movimento marxista.

Inicialmente a executiva do PRG tinha a intenção de expor suas preocupações com o funcionamento de vários camaradas como pontos pessoais na reunião regular da seção de Wellington. Mas foi em seguida proposto que os pontos essenciais poderiam ser feitos igualmente bem se, ao invés de simplesmente focar nas deficiências de alguns, a discussão fosse expandida para incluir o funcionamento e desenvolvimento político do grupo como um todo, desde a liderança até o mais recente membro recrutado.

O exercício, que foi sempre projetado como um evento de “ocasião única” tomou espaço em três reuniões de seção. Enquanto alguns camaradas (incluindo alguns camaradas de liderança) o acharam um pouco desconfortável em alguns pontos, todos, incluindo os (agora não mais) camaradas que tinham sido a fonte inicial de preocupação, sentiram que ele foi uma experiência positiva e que havia ajudado a limpar a atmosfera.

Comentando sobre as alegações da SL [Liga Espartaquista] de que essas reuniões foram para “quebrar críticos” e “moldar capachos sem cérebro”, o camarada Marcus Hayes sublinhou:

“Eu não vejo objeção em princípio, e a única questão para mim é: o evento real foi na prática abusivo e nocivo? É uma questão inteiramente condicional…”

“Implicações baseadas sobre o que o exercício poderia ter sido em outras circunstâncias, ou no que essas coisas podem às vezes se transformar, etc., etc., de fato presumem circunstâncias diferentes daquelas que nós tínhamos de fato, isto é, algo diferente de um regime saudável.”

Ao projetar a sua própria vida interna sobre nós, os autores da SL conjuram o cenário de um verdadeiro pesadelo. A convicção deles de que deve necessariamente ter sido uma sessão de tortura psicológica abusiva é presumivelmente baseada na própria experiência deles. Num padrão similar, muitos ex-comunistas concluíram que o centralismo democrático de Lenin levava inexoravelmente ao gulag [campo de concentração] de Stalin.Mas em política a verdade é sempre concreta. 

Notas da tradução

[1] O documento aqui mencionado se chama “Bureaucratic Centralism in the International Bolshevik Tendency”. Foi publicado em 1993 pelo Communist Workers Group (CWG) dos EUA e também consiste em uma denúncia dos métodos burocráticos utilizados por dirigentes da IBT contra vozes críticas dentro da organização. Ele está disponível em inglês em: rr4i.org (Apêndice 3 da carta de ruptura de Samuel Trachtenberg com a IBT).

James Cannon Sobre sua “Poltrona de Couro”

A revelação de James Cannon sobre sua “Poltrona de Couro”

Esta é uma carta enviada em 27 de maio de 1959 para Theodore Draper, um historiador do movimento comunista norte-americano. A série completa de cartas enviadas por Cannon para Draper foi publicada sob o título de “Os Primeiros Dez Anos do Comunismo Americano” em 1962. Ela foi posteriormente reimpressa pela Pathfinder Press. A tradução para o português foi realizada por Rodolfo Kaleb e Leandro Torres em 2011.

Eu acho que já dei por encerrado o assunto sobre “O Nascimento do Trotskismo Americano” – no qual eu desempenhei um papel central apenas por estar no lugar certo, na hora certa, e não haver ninguém mais para fazê-lo. Eu não poderia acrescentar muito ao que eu já escrevi em A História do Trotskismo Norte-Americano, em minhas cartas a você, e no longo artigo – “A Degeneração do Partido Comunista e o Novo Começo” na edição do outono de 1954 de Fourth International. A situação é essa. Se eu fosse escrever sobre isso de novo eu só poderia repetir o que eu já disse.

Você vai encontrar uma exposição melhor e mais completa nesses escritos do que uma que eu pudesse escrever hoje em dia. Eu tenho a habilidade, que para mim é gratificante, de empurrar as coisas para o fundo da mente depois de ter escrito sobre elas. Para escrever um relato novo sobre a origem do trotskismo americano, eu teria que me forçar de volta a um estado de semicoma, relembrando e revivendo a luta de 31 anos atrás. Isso é demais para eu enfrentar de novo.


A  única coisa que eu deixei de fora dos meus extensos escritos sobre aquele período, que eu tentei excluir de todos os meus textos, foi o elemento especial de motivação pessoal para minha ação – no qual os cínicos jamais iriam acreditar e os pesquisadores do movimento operário nunca achariam nos arquivos e livros de atas. Eu falo do impulso de consciênciaque surge quando alguém está diante de uma obrigação que, nas circunstâncias dadas, cabe somente a essa pessoa aceitar ou recusar.

No verão de 1928 em Moscou, somada à revelação teórica e política que eu tive depois de ler a Crítica ao Programa da Internacional Comunista de Trotsky, houve uma outra consideração que me atingiu em cheio. Foi o fato de que Trotsky tinha sido expulso e deportado para a distante Alma Ata [no Cazaquistão], de que seus amigos e apoiadores tinham sido caluniados, expulsos e encarcerados, e que todas essas coisas eram umaconspiração!


Será que eu tinha saído de casa, ainda garoto, para lutar por justiça para Moyer e Haywood [1], para naquele momento trair a causa da justiça quando ela se colocava bem à minha frente, numa questão de importância transcendente para o futuro da humanidade? Um moralista de apostila poderia responder facilmente a essa pergunta dizendo: “É claro que não. A regra é clara. Você faz o que é certo fazer, mesmo se isso custar a sua cabeça”. Mas não era tão simples para mim no verão de 1928. Eu não era um moralista de apostila. Eu era um político partidário e um fraccionalista que tinha aprendido a agir de maneira premeditada. Eu já sabia disso a essa altura, e o meu autoconhecimento me deixou apreensivo.
  
Eu tinha gradualmente me estabelecido numa posição segura como representante do partido, com um escritório e uma equipe de assessores, uma posição que eu poderia facilmente manter – desde que eu me mantivesse dentro de limites e regras definidos, sobre os quais eu sabia tudo, e conduzisse a mim mesmo com a facilidade e a habilidade que havia se tornado quase uma segunda natureza para mim nas longas e persuasivas lutas fracionais.
  
Eu sabia disso. E eu sabia de mais uma coisa que eu nunca havia dito a ninguém, mas que tive que dizer a mim mesmo pela primeira vez em Moscou, no verão de 1928. O rebelde de espirito livre que eu costumava ser quando membro do IWW [2] tinha, sem que eu percebesse, começado a se ajustar de maneira confortável a uma poltrona de couro, protegendo a si mesmo e ao seu cargo por pequenas manobras e evasivas, e até permitindo-se uma certa presunção sobre sua acomodação astuta nesse jogo mesquinho. Eu vi a mim mesmo pela primeira vez como outra pessoa, um revolucionário que estava a caminho de se tornar um burocrata. A imagem foi terrível e eu me afastei dela com nojo.
  
Eu nunca enganei a mim mesmo sequer por um momento sobre as consequências mais prováveis da minha decisão de apoiar Trotsky no verão de 1928. Eu sabia que eu iria perder minha cabeça e também minha poltrona de couro, mas eu pensei: Para o inferno – homens melhores do que eu arriscaram suas cabeças e perderam suas poltronas de couro pela verdade e pela justiça. Trotsky e seus aliados estavam fazendo isso naquele mesmo instante nos campos do exílio e prisões da União Soviética. Não era mais do que a obrigação de um homem, por mais limitadas que fossem suas qualificações, lembrar pelo que ele tinha começado a lutar em sua juventude, e expor sua causa para fazer o mundo ouvir, ou ao menos para fazer os Oposicionistas russos exilados e presos saberem que eles tinham encontrado um novo amigo e aliado.
  
Em A História do Trotskismo Norte-Americano, na página 61, eu escrevi:
  
“O movimento que então começava nos Estados Unidos causou repercussões por todo o mundo. Da noite para o dia toda a perspectiva da luta havia mudado. O trotskismo, oficialmente declarado morto, foi ressuscitado na arena internacional e inspirado com renovada esperança, entusiasmo e energia. Denúncias contra nós foram colocadas na imprensa do partido americano e reimpressas mundo afora, incluindo o Pravda de Moscou. Os Oposicionistas russos na prisão e no exílio, quando cedo ou tarde chegasse até eles uma cópia do Pravda, saberiam da nossa ação, da nossa revolta nos Estados Unidos. Na hora mais sombria da luta da Oposição, eles saberiam que novos reforços haviam se unido à luta do outro lado do oceano nos Estados Unidos, que em virtude do poder e peso do país por si próprio, dava importância e peso aos atos dos comunistas americanos.”
  
“Leon Trotsky, como eu coloquei, estava isolado na vila asiática de Alma Ata. O movimento mundial fora da Rússia estava em declínio, sem líderes, suprimido, isolado, praticamente inexistente. Com essas novidades inspiradoras de um novo destacamento na distante América, os pequenos jornais e boletins dos grupos da Oposição explodiram com vida novamente. Mais inspirador do que tudo, para nós, era a certeza de que os camaradas russos sob imensa pressão tinham ouvido nossa voz. Eu sempre pensei nisso como um dos mais gratificantes aspectos da luta histórica que nós tomamos em 1928 – que as notícias de nossa luta haviam atingido os camaradas russos em todos os cantos das prisões e campos de exílio, inspirando-os com nova esperança e nova energia para continuarem na luta.”
  
Em Moscou, no verão de 1928, eu previ essa possível consequência da minha decisão e ação. E eu pensei que isso por si só a justificava, independente do que poderia acontecer depois. Muitas coisas mudaram desde então, mas essa convicção nunca mudou.
  
Notas do tradutor 
  
[1] Moyer e Haywood foram dois proeminentes sindicalistas norte-americanos, cujas prisões, quando decretadas pelo governo, desencadearam uma enorme campanha operária por sua libertação. 
  
[2] Industrial Workers of the World (Trabalhadores Industriais do Mundo), organização sindical anarquista de origem norte-americana e projeção internacional da qual James Cannon foi membro.

IG: Trotskyism with a Pre-Frontal Lobotomy

Internationalist Group:

“Trotskyism With a Pre-Frontal Lobotomy” Revisited

[First posted online on 9/23/02 at http://www.bolshevik.org/Leaflets/IG_Iraq_forum.html ]

The following is a reconstruction, from notes, of an intervention by Samuel T. [Trachtenberg] at a meeting sponsored by the Internationalist Group (IG) at Hunter College in New York on 17 September. The meeting, called to discuss the issue of the pending U.S. attack on Iraq, is the first public forum held by the Internationalist Group in New York since its break from the Spartacist League in the mid-1990s. In addition to IG comrades and unaffiliated students, five members of the SL were in attendance. There was considerable discussion of the SL’s opposition to calling for the defeat of the U.S. led coalition in Afghanistan last year (for our view on this issue see: “Where Is the ICL Going?” in 1917 No. 24). In the past the SL has frequently accused the IG of echoing criticisms originally put forward by the International Bolshevik Tendency.

“I’m speaking for the International Bolshevik Tendency. I agree with a lot of Comrade Norden’s presentation. The IG and IBT are two of very few groups in the left that militantly called for defeating U.S. imperialism in Afghanistan and we are likely to be among only a few that do so again when the U.S. attacks Iraq. We also happen to agree with the IG’s criticisms of the Spartacist League on these and other points. Much of this is explained by our common origins in the Spartacist League, our founding members being driven out in the early 80’s, the IG’s in the mid-90’s.

“Whether the younger IG comrades realize this or not though, the SL is substantially right when it asserts that the IG is doing little more than repeating criticisms we made of the SL for 15 years prior to its existence, whether the issue involved was adapting to the Democrats, its bureaucratic internal regime or betraying principles in response to fear of the bourgeoisie. (We saw this in Afghanistan recently; also with the SL’s demand that the Brazilian LFI comrades abandon the fight to keep the cops out of their union, i.e., ‘pull their hands out of the boiling water’; and also when the SL refused to support driving the U.S. Marines out of Lebanon in 1983 by any means necessary, one of our first political fights with them.)

“The 1960’s anti-war movement has been discussed. At the time the SL had a heavy orientation towards recruiting from a Stalinist group called Progressive Labor Party. PL was at the time in the process of renouncing various positions it inherited from its Stalinist heritage, (such as the popular front [multi-class alliance], adaptation to bourgeois nationalist forces in the Third World, a ‘stageist’ theory of revolution, etc.) without ever going to the root of the problem. PL refused to consider that Trotsky was making the same criticisms more coherently decades earlier. The then-revolutionary SL aptly characterized their politics ‘Trotskyism with a pre-frontal lobotomy.’

“It seems to me the IG is attempting to do something similar today in their stance of trying to find some middle ground between echoing the IBT’s correct historical criticisms and still defending many of the positions of the degenerating SL—‘Trotskyism with a pre-frontal lobotomy Part II” if you will.

“We urge IG comrades to study this history and discuss it with us, for without understanding the history of the SL’s degeneration, the IG, like PL, will be doomed to perpetual confusion and repetition of past errors.”

[PL ultimately “resolved” the contradiction between renouncing reformism while clinging to Stalin with the discovery that Stalin’s mistake was that he sought to build “Socialism in One Country.” According to PL, everything would have turned out well had he instead set as his goal…. “Communism” in one country, where “Communism means the Party leads society” (What We Fight For–PL). The IG leaders are too sophisticated for such stupidities, but if they refuse to critically re-examine their own history they must inevitably end up making further departures from Trotskyism.]

Em Defesa de uma Perspectiva Revolucionária

Declaração de Posição Básica
Em Defesa de uma Perspectiva Revolucionária

Este documento foi originalmente publicado como uma declaração interna das posições básicas da Tendência Revolucionária (RT) do Partido dos Trabalhadores Socialistas (SWP) norte-americano em junho de 1962. Posteriormente, ele foi publicado no Boletim Marxista nº1 da Liga Espartaquista (SL) dos Estados Unidos, formada pela RT depois de sua expulsão do SWP. Ele marca a consolidação da Tendência Revolucionária do SWP, que combateu o giro deste partido para o revisionismo pablista e sua perspectiva de apoio acrítico à liderança burocrática de Fidel Castro, além do seu prognóstico de fusão com os pablistas europeus de Ernest Mandel e Michel Pablo. Também foi incluído como apêndice o prefácio de 1965 da Liga Espartaquista, que dá detalhes sobre a importância e a forma como o texto foi redigido e os seus resultados. A tradução para o português foi realizada pelo Reagrupamento Revolucionário em setembro de 2011.

O instrumento decisivo da revolução proletária é o partido da vanguarda consciente de classe. Se falha a liderança de tal partido, as mais favoráveis situações revolucionárias, que surgem das condições objetivas, não podem ser levadas adiante à vitória final do proletariado e o início da reorganização planejada da sociedade sob bases socialistas. Isso foi demonstrado conclusivamente – e positivamente – na revolução russa de 1917. Essa mesma lição de princípio se deriva não menos irrefutavelmente – embora pela negativa – de toda a experiência mundial da época de guerras, revoluções e levantes coloniais que começou com o estouro da Primeira Guerra Mundial em 1914.

“Teses Sobre a Revolução Norte-Americana”, adotadas na Décima Segunda Convenção Nacional do SWP em Chicago, realizada entre 15-18 de novembro de 1946.

Introdução: o método do marxismo

O caráter contraditório do presente período histórico apresenta os mais graves perigos, assim como os mais altos potenciais, ao movimento trotskista. A combinação do grande levante revolucionário ao redor das partes coloniais e não-capitalistas do mundo com a aparente estabilização e progresso do capitalismo em seu centro; a prolongada crise de liderança proletária e dominação do movimento operário mundial por agentes socialdemocratas e stalinistas do capital combinada com o contínuo ressurgimento de lutas da classe trabalhadora; esses são os termos da situação na qual o nosso movimento mundial constantemente se arrisca a desorientação ideológica e o conseqüente colapso político como uma força revolucionária. Somente o máximo alcance do método dialético materialista, o constante desenvolvimento da teoria marxista, permitirá ao nosso movimento, numa realidade em permanente mudança, preservar e desenvolver a sua perspectiva revolucionária.

           A essência da metodologia política do marxismo é pôr todos os problemas ativamente do ponto de vista específico e proposital da única classe social consistentemente revolucionária da sociedade moderna, o proletariado. Esse ponto de vista de classe proletária tem a sua mais alta expressão na teoria científica do marxismo. Marxistas, em outras palavras, analisam todos os problemas em termos de uma estrutura teórica rigorosa e científica. Ao mesmo tempo, eles são participantes por completo do próprio processo histórico como o setor mais avançado da classe trabalhadora e sua ação é guiada pela teoria. Assim, as conclusões derivadas da teoria marxista, e logo a própria teoria, estão sendo continuamente testadas na prática.

“Revisionismo” é a visão de que cada novo desenvolvimento requer um abandono na prática dos aspectos básicos da teoria que se conhecia anteriormente. Em última instância, esse desvio para longe do materialismo dialético leva a um desvio para longe da própria classe trabalhadora. O marxismo, pelo contrário, se desenvolve através de uma contínua integração de novos elementos, novas realidades, na sua estrutura teórica. Ele explicitamente critica e rejeita, quando necessário, proposições erradas ou ultrapassadas, enquanto mantém a cada ponto o seu caráter como uma estrutura científica sistemática, rigorosa e unificada.

A pressão da classe capitalista é mais intensa precisamente contra a metodologia do marxismo, que os seus agentes ideológicos agridem como fanatismo dogmático. A não ser que os trotskistas sejam capazes de usar e desenvolver a teoria marxista, eles, como muitos outros marxistas antes deles, irão inevitavelmente sucumbir a essa pressão, cair em uma visão vulgar, pragmática, empirista da realidade, e converter a teoria marxista em um conjunto de dogmas sagrados úteis apenas para prover rótulos que podem ser jogados sobre uma realidade não-compreendida e sem leis.

Particularmente no presente período, quando a classe trabalhadora parece ao empirista estar sob a completa e eterna dominação das burocracias reformistas, essa pressão ideológica é o resultado de uma pressão social terrivelmente forte. Os grupos trotskistas sentem-se pequenos e isolados no exato momento em que significativas forças de esquerda estão em claro movimento ao redor do mundo. Estas forças, entretanto, estão sob a liderança de tendências não-proletárias: socialdemocratas “de esquerda”, stalinistas de uma ou outra variedade, e grupos “revolucionários” burgueses ou pequeno-burgueses nos países coloniais.

O partido revolucionário, se não possui uma compreensão real da metodologia do marxismo, está condenado a meramente refletir a contradição entre o seu próprio isolamento relativo e os levantes de massas. Essa postura reflexiva encontra expressão numa aparência objetivista onde se observa de longe o desenrolar de um processo panorâmico do qual o fator objetivo está completamente divorciado. Ao invés de colocar o problema da luta de princípios contra estas lideranças em última instância capitalistas, com o objetivo de desenvolver uma nova liderança proletária, o partido busca então simplesmente influenciar o movimento como ele se encontra, com o objetivo de afetar a política da liderança existente, entrando em um processo de acomodação política, organizativa e teórica com relação a essas tendências estranhas, e com elas se unindo.

Uma vez que o fio do marxismo está perdido, os conceitos de outras forças sociais passam a dominar o pensamento dos socialistas. O partido então começa a perder a sua perspectiva revolucionária – ele passa a ver em outros agrupamentos políticos e sociais, que não a classe trabalhadora liderada pela sua vanguarda marxista, a liderança da revolução. Os trotskistas relegam a si próprios um papel auxiliar no processo histórico.

O movimento trotskista mundial tem estado em uma crise política por mais de dez anos. Essa crise foi causada pela falha de teoria e de liderança da Quarta Internacional, resultantes de uma perda da perspectiva revolucionária por importantes setores do movimento trotskista sob condições de isolamento e sob pressão da classe capitalista através de seus agentes pequeno-burgueses dentro do movimento operário. Apenas o restabelecimento de uma perspectiva revolucionária em nosso movimento mundial e a completa eliminação de políticas derrotistas, acomodadas e essencialmente liquidacionistas das nossas fileiras pode criar a base para a reconstrução de nossos quadros mundiais e assim para a vitória da revolução mundial.

Foi a teoria de Pablo sobre a acomodação a tendências externas que levou aqueles trotskistas determinados a preservar a perspectiva revolucionária a romper com o Secretariado Internacional (SI) em 1953, um movimento que incapacitou a Internacional, mas que o partido julgou à época ser essencial para a preservação de um movimento revolucionário com princípios. Porém, a continuada paralisia de nossas forças mundiais desde aquele tempo e a atual divisão profunda dentro do Comitê Internacional (CI) são sinais de que as forças que operavam em Pablo também estavam afetando, em um grau menor, o Partido dos Trabalhadores Socialistas (SWP). Com o passar de oito anos desde o racha, os sinais dessa mesma doença em nossas próprias fileiras estão atingindo grandes proporções. Nós acreditamos que esse processo atingiu um ponto em que resistência é essencial.

Nesta declaração nós tentaremos acessar o grau que essa metodologia empirista e essas visões acomodacionistas penetraram em nosso partido e o que nós achamos que pode ser feito para reafirmar a nossa perspectiva mundial revolucionária. É apenas nessa base política que nós seremos capazes de reconstruir as nossas forças mundiais. Essa declaração é a nossa contribuição à plenária partidária que se aproxima e que, na nossa opinião, deveria preparar o partido para participar na discussão que está acontecendo agora em nosso movimento mundial. Como essa discussão é preliminar para o Congresso Mundial do Trotskismo próximo, convocado pelo Comitê Internacional da Quarta Internacional, a nossa participação política é essencial.

A natureza do pablismo

O pablismo é essencialmente uma corrente revisionista dentro do movimento trotskista internacional que perdeu qualquer perspectiva mundial revolucionária durante o período pós-guerra de boom capitalista e a subsequente inatividade relativa da classe trabalhadora nos países avançados. Os pablistas tendem a substituir o papel da classe trabalhadora e da sua vanguarda organizada – isto é, o movimento trotskista mundial – por outras forças que parecem oferecer chances maiores de sucesso. Fundamental para a apreciação política dos pablistas é um olhar “objetivista” sobre o mundo, que vê o capitalismo entrando em colapso e o stalinismo se dobrando sob o impacto de um abstrato processo histórico mundial panorâmico, removendo assim a necessidade de uma intervenção com consciência de classe através da vanguarda marxista. O papel dos trotskistas é relegado ao de um grupo de pressão sobre as lideranças existentes das organizações dos trabalhadores que estão sendo arrastadas por este processo revolucionário.

Em sua metodologia, o grupo de Pablo é essencialmente empirista. Ele reage à situação política mundial que está em constante mudança, com mudanças aparentemente radicais de linha política, mas sem reconhecer, e muito menos fazer um balanço teórico, dos seus erros passados. Sublinhar esses vai-vens, entretanto, é uma necessidade fundamental: a existência de uma “nova realidade mundial” na qual a correlação de forças estaria definitivamente em favor do socialismo e na qual, consequentemente, a resolução sobre a “crise de liderança proletária” não é mais condição sine qua non [sem a qual não pode haver] da revolução socialista mundial. Sobre esta base, os pablistas tem consistentemente mantido a sua análise objetivista, e tem proposto um substituto após o outro para o papel revolucionário da classe trabalhadora e de sua vanguarda marxista.

Em 1949, Pablo defendeu a sua concepção teórica de “séculos de Estados operários deformados”. Reagindo de maneira impressionista à expansão do stalinismo na Europa Oriental e China, ele previu uma época histórica inteira durante a qual dos Estados burocratizados de tipo stalinista, não a democracia operária, iria prevalecer. Essa teoria era profundamente revisionista, como aquela de Burnham e Shachtman, que projetaram uma era histórica de “coletivismo burocrático”. Como a teoria de Burnham-Shachtman, essa teoria negava uma perspectiva revolucionária para o nosso movimento e via no stalinismo a expressão objetiva das forças revolucionárias do mundo.

Pouco depois, Pablo, em suas “Teses sobre as Guerras/Revoluções” fez desse abandono teórico a base para uma nova linha política. A Terceira Guerra Mundial, ele previa, iria explodir num futuro imediato. Essa guerra iria ser essencialmente uma guerra de classe. Ela resultaria na vitória do Exército Vermelho (ajudado pelos trabalhadores europeus liderados pelos Partidos Comunistas), e na formação de “Estados operários deformados” na Alemanha, França e Inglaterra. A experiência da Europa Oriental e China iria se repetir nos países capitalistas avançados do Ocidente. Portanto, no breve período que restava antes do início da “Guerra/Revolução”, era essencial para a Quarta Internacional se integrar, em todos os termos e a qualquer custo, nos partidos stalinistas (onde eles fossem partidos de massa) que iriam em breve “projetar uma orientação revolucionária” e emergir como os líderes objetivos da revolução européia.

Estes conceitos (nunca repudiados por Pablo posteriormente) estavam presentes de forma um pouco escondida nas teses principais do Terceiro Congresso Mundial da Quarta Internacional (1951) e imediatamente depois foram abertamente revelados como a orientação prática da liderança de Pablo. Durante o período do Terceiro Congresso Mundial, Pablo levou adiante uma batalha fracional contra as seções francesa, britânica e canadense do movimento mundial com o objetivo de desenvolver forças capazes de levar em frente esse entrismo essencialmente liquidacionista nos partidos stalinistas. Em nosso país, o grupo de Cochran foi um reflexo legítimo do pablismo. Havia dois elementos envolvidos no grupo de Cochran. A ala Bartell-Clarke queria se adaptar ao movimento stalinista norte-americano, enquanto a ala de Cochran queria se adaptar à burocracia operária. Ambas seções dessa minoria liquidacionista dividiam com Pablo o mesmo objetivo liquidacionista que não davam ao nosso movimento mundial mais nenhum papel independente.

Os “Quarto (1954), Quinto (1957) e Sexto (1961) Congressos Mundiais” (que não foram para nós “Congressos Mundiais”, mas reuniões da fração revisionista do movimento mundial) dos pablistas todos expressaram esta mesma característica. Houve, é claro, mudanças políticas importantes, já que os pablistas respondiam de forma impressionista a mudanças na situação mundial. O último Congresso não enfatiza a iminência de guerra, nem todas as fichas são colocadas no papel avassalador do stalinismo. Ao invés disso, eles tendem a ver a burocracia stalinista entrando em colapso sem a necessidade da nossa própria intervenção consciente.

Como um novo substituto para a classe trabalhadora e sua vanguarda, a revolução colonial tende a tomar o espaço da burocracia stalinista, causando impacto crítico na importância da classe trabalhadora avançada e suas lutas. O Sexto Congresso Mundial formalmente declara que o novo “epicentro da revolução mundial é na região colonial”. Assim, o socialismo agora está indo na maré da revolução sem líderes dos países coloniais.

Em 1949 era uma forma de stalinismo que iria prevalecer por séculos; em 1951 era uma guerra iminente que iria forçar os stalinistas a projetar uma orientação revolucionária; hoje é a revolução colonial que está se desenrolando automaticamente. Em nenhum momento foi a classe trabalhadora organizada sob uma liderança marxista o ponto central na estratégia revolucionária mundial do pablismo.

No nível tático, os pablistas generalizaram a sua perspectiva de entrismo profundo para incluir os partidos socialdemocratas e centristas na Europa e as formações nacionalistas burguesas nas regiões coloniais. Eles entraram nesses partidos com uma linha política de adaptação; eles estavam buscando pressionar a liderança da oposição centrista a se tornar a liderança revolucionária; eles não estavam entrando com o objetivo de construir uma alternativa de liderança revolucionária baseada nos trabalhadores de base.

O papel do pablismo na Inglaterra e na Bélgica expressa claramente na ação a natureza dessa tendência. Na Inglaterra os nossos camaradas devotaram muitos anos ao desenvolvimento de uma alternativa de liderança revolucionária a ambos o direitista Partido Trabalhista e aos stalinistas. Eles basearam suas táticas em todo o tempo nos trabalhadores de base com consciência de classe. 

Os pablistas britânicos, com o total apoio do centro do Secretariado Internacional, tiveram uma orientação diferente. Eles tentaram funcionar como um grupo de pressão sobre as tendências centristas dentro do Partido Trabalhista Britânico. Por isso eles declaram no Socialist Fight (órgão dos pablistas ingleses): “Acima de tudo deve-se aplicar pressão nos níveis de Regional e de distrito” e a publicação Fourth International (Primavera de 1960) vê “A tarefa central dos marxistas revolucionários britânicos” não na construção de uma alternativa de liderança revolucionária, mas em “reagrupar dentro do Partido Trabalhista todas as forças espalhadas da esquerda trabalhista”. Quando os nossos camaradas britânicos organizaram a Liga Trabalhista Socialista (SLL), os pablistas se uniram aos lamentos da liderança do Partido Trabalhista e a imprensa capitalista e lhes atacaram como “aventureiros irresponsáveis”.

Desde a formação da SLL, os nossos camaradas tem ganhado continuamente membros de dentro do Partido Trabalhista Britânico, especialmente da sua juventude. Os pablistas, por outro lado, tem sido incapazes de construir um grupo efetivo na Inglaterra. A experiência britânica comprovou dramaticamente que somente uma política de entrismo baseada inteiramente numa tentativa de criar uma liderança revolucionária alternativa representando os interesses genuínos dos trabalhadores de base pode construir uma força efetiva. Tal política é baseada fundamentalmente na manutenção de uma perspectiva mundial para a classe trabalhadora sob uma liderança marxista. A política dos pablistas na Grã-Bretanha é um reflexo do seu abandono de uma perspectiva mundial revolucionária: o fato de que eles vêem em outros as forças com potencial revolucionário. Assim, as diferenças entre o pablismo e o trotskismo na Inglaterra são fundamentais e não simplesmente táticas.

A mesma lição pode ser aprendida da experiência belga. Na Bélgica os pablistas tinham um grupo funcionando por muitos anos sob a liderança de uma das figuras internacionais do centro do Secretariado Internacional. Esse grupo devotou suas energias a buscar posições de influência dentro dos círculos centristas na Bélgica e não em tentar desenvolver raízes na base da classe trabalhadora belga. Durante a greve geral belga de 1960-61, o mais importante evento radical no continente em muitos anos, os pablistas belgas foram incapazes de levar adiante uma política revolucionária independente dos círculos centristas nos quais eles estavam atuando. Por isso o trotskismo não desempenhou nenhum pape político independente nos eventos revolucionários e a greve falhou como um todo em razão da inadequação dos líderes sindicais centristas que os pablistas estavam apoiando. A inabilidade dos pablistas de prestar um papel independente nesses eventos cruciais foi simplesmente uma expressão de uma característica política central que põe pouca ênfase no papel revolucionário do nosso movimento.

Após 12 anos de experimentação, os pablistas tem pouco a mostrar pelos seus esforços. O movimento europeu foi dizimado sob a sua liderança. As seções latinoamericanas dos SI são pequenas e fracas. As únicas organizações do continente que tem alguma raiz real na classe operária estão afiliadas ao CI. Na Ásia tudo o que eles têm é a afiliação formal do LSSP (Ceilão) que, ao longo dos anos, se envolveu numa direção oportunista e no presente momento alcançou o ponto de dar apoio crítico ao governo burguês.

O Comitê Internacional, apesar de sua fragilidade organizativa e problemas políticos que o vem atormentando (devido à falta de clareza sobre o pablismo em alguns grupos), contém as únicas seções do nosso movimento mundial que mostraram crescimento substancial, sólido. O desenvolvimento da seção britânica de um grupo pequeno em uma organização efetiva, de tamanho visível, com raízes profundas na classe trabalhadora e significativo apoio na juventude é um grande desenvolvimento para o nosso movimento mundial. O crescimento da nova seção japonesa e dos chilenos e peruanos se baseou no seu racha contra Pablo.

A experiência do nosso grupo chileno ilustra esse padrão. Em 1954, o grupo trotskista chileno rachou em cima da decisão do “quarto Congresso Mundial” de que ele deveria realizar uma tática de entrismo profundo no Partido Socialista. Cinquenta membros do grupo seguiram as instruções do SI e entraram no PS, enquanto apenas cinco camaradas se recusaram a entrar e romperam com o SI. Esses cinco camaradas se tornaram o núcleo da atual seção do CI no Chile. Essa seção hoje é a mais forte formação trotskista no Chile, com importante influência no movimento sindical chileno e um grande potencial para o futuro.

A seção argentina do CI, entretanto, como o LSSP, caiu em uma linha política essencialmente pablista. A sua adaptação à atual liderança burguesa de esquerda da classe trabalhadora argentina levou-a a glorificar Perón e a se apresentar meramente como um movimento peronista de esquerda. Vantagens organizativas obtidas a tal preço só podem abrir o caminho para um desastre no fim. A evolução do grupo argentino pode ser atribuída à falha do CI em desenvolver a luta política contra o pablismo no período desde o racha de 1953.

Toda a nossa análise do problema do nosso movimento mundial deve, portanto, começar com uma compreensão de que o pablismo é uma corrente revisionista que nega o conteúdo essencial revolucionário do trotskismo enquanto ainda se agarra numa aderência formal ao trotskismo. Ele é um revisionismo do trotskismo tanto quanto o kautskismo foi do marxismo. A presente divisão das nossas forças mundiais é a crise mais fundamental e a de mais longa duração em toda a história do movimento trotskista mundial. O que está em questão é a própria sobrevivência do trotskismo! 

Em 1953, o nosso partido, na “Carta Aberta” [aos Trotskistas do Mundo Inteiro] (The Militant, 11 de setembro de 1953), declarou que “O abismo que separa o revisionismo pablista do trotskismo ortodoxo é tão profundo que nenhum compromisso político ou organizativo é possível”. A avaliação do pablismo como revisionismo está tão correta hoje como era então e deve ser a base para qualquer análise trotskista sobre tal tendência.

As Diferenças com a SLL

Ao longo do ano passado, as diferenças dentro das forças do CI que estiveram esquentando por algum tempo acabaram pegando fogo. As diferenças começaram a surgir entre o SWP e a SLL sobre as análises conflitantes com relação ao pablismo. A SLL insistia que havia chegado o tempo de lidar com o pablismo politicamente ao invés de simplesmente com propostas de unidade. Os britânicos achavam que uma análise política deveria começar com uma comprensão do pablismo como uma corrente política revisionista. Eles, portanto, insistiram que uma discussão política plena deveria preceder quaisquer movimentos de unificação internacionais, já que a unificação do movimento mundial deve ser firmemente baseada em um saudável programa político principista.

A maioria do SWP defendeu uma aproximação exatamente oposta. Eles viam as diferenças políticas entre eles próprios e os pablistas diminuindo. De maneira bastante lógica, deste ponto de vista, eles enfatizaram obviamente a base organizativa para unidade, tomando como certo que existia uma base política.

Quando ocorre uma situação dentro do nosso movimento criando confusão numa questão tão essencial quanto o papel do próprio movimento, é necessário preparar um documento que apresenta as visões principais do trotskismo em aplicação à atual situação mundial. Então se torna possível, na base de uma discussão em torno de tal documento básico, determinar exatamente onde estão os acordos e desacordos dentro de nossas forças mundiais. A SLL tomou essa responsabilidade e preparou a sua Resolução Internacional.

Essa resolução expõe todos os pontos essenciais de uma perspectiva revolucionária. Ela começa com os centros do capitalismo mundial, compreendendo que é a luta da classe trabalhadora nesses centros que é crítica para o desenvolvimento da revolução mundial. Ela substitui esperanças efêmeras em um processo revolucionário automático nos países coloniais com o otimismo revolucionário a respeito das futuras lutas da classe trabalhadora nos países avançados. Ela vê na classe trabalhadora a única força na sociedade moderna que pode derrubar o capitalismo em um nível mundial. Ela vê o movimento trotskista mundial como o único movimento capaz de levar em frente a revolução mundial. Ela vê nos quadros existentes do trotskismo mundial o essencial fator de consciência na sociedade moderna. Ela relaciona todas as táticas revolucionárias, toda estratégia revolucionária ao desenvolvimento da classe trabalhadora e de sua vanguarda – os quadros mundiais do trotskismo. Ela põe o trotskismo, encarnado nos seres humanos vivos organizados nos grupos e partidos existentes, de volta à nossa perspectiva histórica.

Significativamente, a maioria respondeu a essa iniciativa não com um apoio caloroso a esse importante esforço, mas produzindo uma resolução internacional própria. Enquanto o documento do SWP não foi planejado como uma alternativa teórica pronta contra a posição da SLL – ele é ambíguo, e contém num padrão eclético muitas posições essencialmente corretas – como um todo ele expressa uma posição política diferente daquela da SLL. Certamente, se ela própria não o fez, será difícil explicar porque a maioria escreveu a resolução imediatamente depois de receber a resolução da SLL. Também é significativo que a maioria tenha rejeitado os adendos da minoria contendo a mesma linha essencial que a resolução da SLL porque, segundo eles afirmaram, esses adendos projetaram uma linha contraditória com a resolução da maioria.

A Linha Internacional da Maioria do SWP

A resolução internacional da maioria marca um importante passo político na direção das características internacionais objetivistas e da metodologia dos pablistas. A resolução começa defendendo que a vitória da revolução chinesa “alterou definitivamente a relação de forças mundiais em favor do socialismo”. Este conceito permeia o documento e é repetido ao longo de todo ele de uma forma ou de outra.

A concepção de uma transformação qualitativa na situação mundial é a essência no termo pablista “nova situação mundial” que pode ser encontrada nos documentos do “Terceiro, Quarto, Quinto e Sexto Congressos Mundiais”. Na nossa resolução de 1953, “Contra o Revisionismo Pablista” (Boletim de Discussão A-12, novembro de 1953), que analisou o documento central do “Quarto Congresso Mundial” de Pablo, “A Ascensão e a Queda do Stalinismo”, nós rejeitamos esse conceito declarando que “Uma avaliação resumida da rede de resultados da marcha da revolução internacional de 1943 a 1953 leva à seguinte conclusão. Com todas as suas conquistas e grandes potencialidades, a falha da revolução em conquistar o poder em um dos grandes países industrializados preveniu, assim, as forças revolucionárias da classe trabalhadora de crescer forte o suficiente para derrubar a oligarquia do Kremlin e conferir ímpeto irresistível à desintegração do stalinismo. Ainda não houve tal alteração qualitativa na correlação de forças de classe no mundo.”

“Até o momento, a intervenção contrarrevolucionária da burocracia por si própria na política mundial tem estagnado as condições objetivas para tal consumação. Ela fez a revolução retorceder na Europa Ocidental, enfraqueceu a classe trabalhadora em relação ao inimigo de classe, e facilitou a mobilização da contrarrevolução mundial. A luta entre as forças da revolução e da contrarrevolução ainda não está decidida, e longe de terminar. Essa própria falta de conclusão, que luta para persisitir, no presente momento trabalha para a vantagem do Kremlin”.

Isso nos trás ao centro da questão. Em 1953 nosso partido rejeitou o conceito de que a correlação de forças estivesse agora em favor da revolução. Nós fizemos isso porque, em nossa opinião, o fator decisivo era o elemento consciente. Enquanto a classe trabalhadora não estiver no poder em um país capitalista avançado, as forças revolucionárias não poderão ser dominantes numa escala mundial. O stalinismo e a socialdemocracia são forças essenciais que impedem a classe trabalhadora de chegar ao poder nesses países – portanto a nossa tarefa é derrotá-los para criar uma vanguarda trotskista no movimento dos trabalhadores. Essa era a nossa orientação estratégica em 1953.

Hoje a resolução do SWP reivindica que as forças da revolução são dominantes apesar do fato de que a classe trabalhadora não chegou ao poder em nenhum país capitalista avançado desde 1953 e de que as nossas próprias forças permanecem fracas. Assim, conscientemente ou não, a lidernça do SWP aceitou a posição teórica principal do revisionismo pablista.

Este objetivismo é refletido de outras maneiras ao longo do documento. A resolução tende a minimizar o perigo do stalinismo como uma força contrarrevolucionária mundial. De fato, ela chega até mesmo a sugerir que Kruschev está dando um “giro à esquerda”, se alianhando com a revolução colonial. Sem especificar os objetivos e métodos contrarrevolucionários da diplomacia do Kremlin, a resolução “reconhece” que “na arena diplomática, desde a morte de Stalin a União Soviética tem demonstrado crescente audácia e flexibilidade, obtendo conquistas entre os países ‘neutros’ através de programas de ajuda e exposição das políticas agressivas de Washington” e que “nessa ‘nova realidade’ de enormes pressões, abertura de oportunidades e perigos mortais, a burocracia soviética teve que revisar, adaptar e mudar a sua linha”. Na discussão na plenária sobre Cuba no ano passado, o camarada Stein usou o mesmo argumento de forma mais flagrante, ao declarar: “(…) a União Soviética está compelida hoje, ao invés de prestar um papel contrarrevolucionário – a se colocar do lado da revolução” (Boletim de Discussãodo SWP, volume 22, número 2, página 21).

Em 1953, os pablistas tomaram uma posição idêntica na resolução deles. Eles não afirmaram que o stalinismo não era mais uma força contrarrevolucionária – ao invés disso eles disseram que ele não podia mais ser efetivo como força contrarrevolucionária por causa do objetivo ritmo avassalador da revolução. Na época, nós declaramos claramente:

“É verdade que as condições mundiais conspiram contra a consumação pelo Kremlin de quaiquer acordos duradouros com o imperialismo ou suas barganhas com a burguesia nacional. Mas as consequencias objetivas das suas tentativas de manter o status quo ou atingir tais acordos fizeram muito mais do que efeitos práticos ‘limitados e efêmeros’. Suas manobras ajudam a bloquear o avanço do movimento revolucionário e afetam adversamente a correlação de forças mundial; a burocracia age e reage na arena internacional como um fator potente em dar forma à última (…) Não apenas a vanguarda é deseducada pela minimização desses resultados perniciosos do curso do Kremlin, mas ela fica desarmada na luta para desfazer as ilusões sobre o stalinismo entre os trabalhadores com o objetivo de quebrar a influência stalinista entre eles. (…) O fato de que a burocracia soviética não pôde esmagar e reter as revoluções iugoslava e chinesa, onde a maré revolucionária quebrou os seus diques, não muda o fato de que em todos os outros lugares, em número muito maior, a burocracia foi bem sucedida em virar a maré revolucionária na direção oposta. Isso influenciou a correlação de forças por todo um período.”

Além de minimizar o perigo real do stalinismo como uma força contrarrevolucionária mundial, a resolução aceita a visão pablista de que as mudanças na situação objetiva mundial acabaram com o isolamento da União Soviética e declara cegamente: “A União Soviética não está mais isolada internacionalmente”. Mas em 1953 nós dissemos:

“Como pode então ser declarado de forma tão desqualificada na resolução que o isolamento da URSS desapareceu? O isolamento foi modificado e mitigado, mas de forma alguma removido. As pressões do ambiente imperialista pesam sobre toda a vida dos povos soviéticos.”

Naquela época nós insistimos que apenas o desabrochar de revoluções na Europa Ocidental poderia acabar com o isolamento da União Soviética.

Muito do tratamento sobre o stalinismo na resolução é dedicado a especulações sobre fissuras no seio da burocracia com a “quebra do monolitismo stalinista”. Entretanto, em 1953 nós claramente afirmamos:

“A proposição de que nenhum segmento significativo da burocracia vai se aliar com as massas contra os seus próprios interesses materiais não significa que a burocracia não iria manifestar profundas clivagens sob o impacto de um levante. Tal desorganização, desintegração e desmoralização foi observável na Alemanha Oriental. Mas a função de uma política revolucionária é organizar, mobilizar e ajudar a liderar as massas na luta, não procurar, muito menos apostar, em qualquer racha real na burocracia.”

Em 1953 nós reafirmamos o conceito principal do Programa de Transição de que a destruição do stalinismo requeria a intervenção consciente e a luta revolucionária da classe trabalhadora, ambos dentro dos países soviéticos e nos países capitalistas avançados. E para a vitória dessa luta um partido marxista de vanguarda era essencial. Falou-se muito na declaração de 1953 do fato de que, enquanto a resolução dos pablistas formalmente menciona a revolução política, ela não se refere especificamente à nossa estratégia de criar partidos trotskistas nesses países. A atual resolução do SWP não apenas não menciona a necessidade de criar tais partidos – ela nem mesmo menciona a revolução política. Ao invés disso a restauração da democracia soviética é tratada simplesmente como um reflexo das mudanças objetivas na situação mundial e dentro da União Soviética.

A resolução da maioria declara formalmente que a luta da classe trabalhadora nos países capitalistas avançados é a luta central e assim se diferencia da posição das resoluções pablistas do “Sexto Congresso Mundial”. Entretanto, essa proposição correta, longe de estar no centro da resolução e suas perpectivas de estratégia revolucionária, foi na verdade inserida apenas depois de o restante do documento ter sido escrito. Assim, em contraste com o otimismo acrítico impregnando suas seções sobre a revolução colonial, as seções dos países capitalistas avançados são meramente comentadas, faltando análise revolucionária e perspectiva. De fato, a resolução da SLL trata o cenário norte-americano e sua relação com a revolução mundial de forma mais ampla e mais adequada do que faz o próprio documento norte-americano.

Nossa tarefa central de criar partidos marxistas em todos os países do mundo não recebe ênfase apropriada na resolução. Num contexto geral que dá peso principal a fatores objetivos que já teriam pesado a balança em favor da revolução, declara-se: “Agora poderosas forças, reunindo-se em escala mundial, projetam a criação de tais partidos no próprio processo da revolução”. Enquanto cada esforço deve ser feito para criar partidos revolucionários durante um levante revolucionário, também é dever do nosso movimento explicar que isso não é uma tarefa simples. A falha da revolução europeia seguindo a Revolução Russa vitoriosa se deveu à falha em criar partidos marxistas efetivos nos vários países europeus anteriormente ao desenvolvimento de situações revolucionárias. A resolução não toma conhecimento desse ponto; ao invés disso a implicação é de que na “nova realidade mundial” as “poderosas forças” (quais forças? a maré objetiva da revolução?) irão cirar o partido tão necessário automaticamente, conforme a revolução se desenrole. Essa é, de fato, uma séria fraqueza da resolução e uma outra expressão de um aspecto “objetivista” que minimiza a importância da tarefa árdua de criar a vanguarda revolucionária.

É da nossa opinião que a resolução internacional da maioria representa um sério desvio das visões essenciais do nosso movimento na direção do pensamento político revisionista dos pablistas. Esse movimento político foi realizado de maneira hesitante, ambígua, e portanto a resolução é eclética. Mas o movimento, de uma forma ou de outra, está sendo feito. A falha do partido em combater o pablismo politicamente a nível internacional está agora levando ao crescimento de métodos pablistas de pensamento dentro do nosso próprio movimento.

Cuba, China e Guiné

Métodos pablistas de pensamento penetraram em diferentes camadas do partido em diferentes graus e a respeito de questões políticas diferentes. Por exemplo, a liderança nacional inteira do partido foi arrastada pelos eventos em Cuba e perdeu noção da aproximação estratégica básica que o nosso movimento deve ter em direção a tal revolução. Toda a orientação do partido foi em direção ao aparato governante em Cuba e os seus líderes. Esperava-se que através do seu apoio virtualmente acrítico a esse governo, a liderança [de Castro] pudesse simplesmente ser ganha para o trotskismo. Uma análise trotskista sobre Cuba, entretanto, deve começar com a classe trabalhadora, não o aparato governamental. Os trotskistas deveriam permanecer politicamente independentes do governo de Castro apesar de eles poderem julgar taticamente aconselhável entrar no partido único. Os trotskistas deveriam chamar forte atenção dos trabalhadores para lutar conscientemente por um controle democrático sobre o aparato governante ao invés de esperar passivamente que o governo entregue tal controle a eles por si próprio. Nossa orientação estratégica em Cuba, como em todos os países, deveria se nos basearmos nos próprios trabalhadores e não em outras forças que nós esperamos que se transformem em trotskistas por pressão das massas.

Outros no partido começaram a carregar as implicações lógicas dessa análise pablista em outras áreas, e os resultados dos seus esforços deveriam deixar qualquer membro do partido de cabelo em pé. Por exemplo, Arne Swabeck e John Liang demonstraram que eles enxergam a lógica da posição da maioria melhor do que o faz a própria maioria: Mao poderia, como Castro, produzir um verdadeiro Estado operário sem contar com o apoio dos trabalhadores na revolução, sem democracia operária, e sem, presumivelmente, um partido marxista tampouco. Swabeck e Liang proclamaram o PC chinês como não mais stalinista, e se não exatamente trotskista, alguma coisa a caminho disso. Eles declararam que o Estado operário chinês não é deformado, mas genuíno; e que o slogan chamando pela revolução política aplicado à China deve ser retirado. Aqui novamente, numa escala significativamente maior, democracia operária – controle dos trabalhadores – é considerada como opcional e acessória, o papel da classe trabalhadora é diminuído, e a tarefa revolucionária é dada a uma tendência política diferente e hostil. Tornar Mao um trotskista honorário não muda o significado dessa posição.

Frances James, em um artigo produzido durante a discussão sobre Cuba, sugere que Guiné está se tornando um Estado operário. No curto tempo desde que ela escreveu este artigo os eventos provaram o quão desastroso tal impressionismo pode ser. Sekou Toure colocou membros do Partido Comunista e outros oponentes na prisão, suprimiu uma importante greve de professores, e lançou um ataque contra os “marxistas causadores de rupturas”. A linha de Frances James na Guiné, ou Gana ou em Mali poderia ser completamente suicida para nossas forças nesses países.

Essas análises sobre Cuba, China e Guiné não são mais do que uma expressão concreta da linha objetivista dos pablistas. Nem a liderança do partido sobre Cuba, nem Swabeck sobre a China, nem James sobre a Guiné, tem uma orientação revolucionária que começa com a classe trabalhadora e a tarefa de organizar a sua vanguarda trotskista.

O Desvio para Longe da Internacional

As diferenças essenciais no nosso partido e nosso movimento mundial são trazidos à luz por uma questão, a questão da Internacional. Conforme a acomodação política vai abrindo brechas no SWP, o racha político com Pablo é cada vez mais visto como facilmente remediável. Nossas diferenças com Pablo, diz a maioria, estão diminuindo. Isso é verdade, mas é a maioria nos Estados Unidos que mudou de plano, não o SI. Conforme o pablismo se torna mais e mais aceitável para a maioria, ao mesmo tempo a SLL, com sua firme aderência à posição e princípios trotskistas da Carta Aberta, se torna um constrangimento. É óbvio pela troca de cartas publicadas entre a SLL e o SWP, pelas “Cartas para o Centro” de James P. Cannon, da crítica política da resolução internacional do SWP apresentada pela SLL dentro do CI, que a nossa solidariedade profunda e de longa data estabelecida com a seção britânica foi seriamente corroída. Que tal situação seja permitida de se desenvolver sem nenhum tipo de discussão entre os membros do nosso partido é um estado de coisas intolerável.

Foi a inspiração política do SWP com sua Carta Aberta que levou à existência do CI. Quando nós enviamos a Carta Aberta nós tomamos para nós a responsabilidade pelo racha da Internacional. No entanto, como os britânicos documentaram e reclamaram, nós temos sido politicamente negligentes com ele desde a sua fundação. Agora, quando um conflito político mais fundamental explode entre a maioria do partido e a seção britânica, a maioria faz tudo que pode para prevenir uma discussão política das sérias questões políticas que foram levantadas. A resolução internacional da maioria foi preparada originalmente como uma contribuição para a discussão internacional. Os camaradas britânicos apresentaram suas opiniões sobre essa resolução – agora é uma responsabilidade da maioria do partido defender a sua linha política dentro do movimento mundial. Os britânicos trouxeram responsavelmente a sua crítica da resolução do SWP para o Comitê Internacional. O Comitê, com apenas um voto contrário, expressou sua oposição à linha da resolução do SWP na sua reunião de julho. Então, em dezembro, o CI votou a favor da linha geral de uma versão revisada da resolução internacional da SLL.

Nós damos total apoio à linha geral da resolução internacional do Comitê Internacional da Quarta Internacional, embora nós discordemos com amplos aspectos da sua avaliação da revolução cubana. Nós estamos em solidariedade política fundamental com o Comitê Internacional e suas seções ao redor do mundo. É essa resolução e essa solidariedade que são as bases principais nas quais nos baseamos. O que defende a maioria? Por que ela não vai levar adiante a sua responsabilidade política de defender seus pontos de vista dentro de uma organização mundial que o partido trabalhou tanto para fazer existir?

Se o presente desvio do SWP continuar sem nenhum balanço ele irá levar a uma de duas situações igualmente desastrosas. A maioria do SWP pode levar em frente a sua aproximação política com os pablistas à sua conclusão apropriada e anunciar solidariedade com o SI ou alguma fração dentro dele contra o CI. Ou, a maioria do SWP pode se desviar de qualquer relação política com o CI ou o SI. Dessa forma ela iria romper com os seus 30 anos de solidariedade política e apoio ao partido da revolução mundial, a Quarta Internacional. Tal desvio para longe da organização mundial do trotskismo seria um sinal de que um provincianismo, que não esteve completamente ausente do SWP no passado, adquiriu uma aderência profunda sobre a organização, uma aderência que só pode ser destrutiva também para o rumo nacional do partido. Foi o aspecto essencialmente provincial do LSSP, a sua verdadeira falta de preocupação profunda ou conexão com a Quarta Internacional, que contribuiu para o seu atual rumo oportunista no seu país nativo. Esse será inevitavelmente o futuro do SWP se ele continuar a se desviar da Quarta Internacional. Um retorno a um apoio real e a uma participação política na Internacional é o primeiro passo indispensável rumo à reafirmação de uma perspectiva mundial revolucionária.

Teses Sobre a Revolução Norte-americana

Em 1946, o Partido dos Trabalhadores Socialistas desenvolveu um importante documento, as “Teses Sobre a Revolução Norte-americana”. Esse documento projetou um curso revolucionário para o partido, e foram as idéias contidas nesse documento – o conceito de que todas as táticas, toda a estratégia deve ser relacionada com o objetivo de criar o partido leninista que irá liderar a revolução norte-americana – que manteve o partido firme diante dos difíceis anos que se encontravam à frente. Por volta de 1952, uma importante seção dos quadros centrais do partido havia sucumbido às pressões do isolamento e da prosperidade e haviam perdido esta perspectiva revolucionária. O camarada Cannon colocou adiante este documento uma vez mais e insistiu de forma correta que, apesar da sua avaliação inexata das perspectivas econômicas do capitalismo norte-americano, o seu essencial estava ainda correto e deveria ser a política central do nosso partido. Ele chamou pela reeducação dos quadros do partido em torno dos princípios encarnados na “Teses”.

A forma como essa questão surgiu em 1952-53 é bastante instrutiva para os problemas que o partido enfrenta hoje. Os seguidores de Cochran afirmavam que as decisões do Terceiro Congresso Mundial dominado pelos pablistas colocavam em questão as “Teses” e que as haviam superado. Assim, eles viam na visão de mundo do pablismo a base teórica para se livrar de uma perspectiva revolucionária neste país.

Em primeiro lugar, a maioria do partido tentou responder a este ataque nos próprios fundamentos do programa do nosso partido, afirmando apoio a ambos as “Teses” e às decisões do Terceiro Congresso Mundial. Assim, eles pareciam manter que as decisões do Terceiro Congresso Mundial valiam para o resto do mundo enquanto as “Teses” se mantinham válidas para os EUA. Essa era uma posição politicamente insustentável, já que as próprias “Teses” destruíam teoricamente qualquer conceito de “excepcionalidade norte-americana”, deixando claro que as leis do desenvolvimento capitalista mundial também valiam aqui. Assim, se as “Teses” se aplicavam aos EUA elas também deviam valer para os outros países capitalistas avançados, e o mesmo se aplicaria às decisões do Terceiro Congresso Mundial. Esta associação teórica foi finalmente resolvida quando a maioria do partido decidiu levar adiante uma luta política contra o pablismo numa escala mundial com o objetivo de manter a sua perspectiva revolucionária nacional.

Hoje novamente nós encaramos uma situação onde uma perspectiva mundial revolucionária está sendo desafiada – desta vez pela própria maioria do partido. É nossa forte convicção que o partido não pode manter uma perspectiva revolucionária nesse país enquanto ao mesmo tempo falhar em uma perspectiva revolucionária mundial. Essa contradição entre a perspectiva nacional e internacional será resolvida em algum momento. Pelo bem do movimento revolucionário mundial, ela deve ser resolvida projetando a orientação revolucionária das “Teses” numa escala internacional, ao invés de pôr as “Teses” no armário e permitir que um espírito acomodacionista penetre também em nosso trabalho neste país.

Até agora o partido manteve a sua perspectiva revolucionária neste país. Entretanto, há muita confusão no partido sobre para onde exatamente nós estamos indo, e às vezes parece que o partido está se arrastando de campanha em campanha sem ter comando completo sobre seu próprio curso político. Nós devemos a todo o momento ter em mente que nós buscamos nos tornar a vanguarda da classe trabalhadora norte-americana. Isto significa que todo o nosso trabalho deve ser relacionado à tarefa central de desenvolver raízes no movimento sindical e no movimento negro. Isto não é simplesmente uma questão de ganhar recrutas aqui ou acolá; na verdade, se trata do desenvolvimento dos próprios membros do partido como líderes da classe trabalhadora em sua luta contra a classe capitalista e contra os seus próprios falsos líderes.

Alguns no partido tentam contrapor a expressão vazia de “construção partidária” a essa tarefa essencial de construir o partido desenvolvendo as suas raízes na classe. Estas pessoas tenderam a ver o nosso trabalho de reagrupamento ou o de defesa de Cuba como um substituto, ao invés de um auxiliar, para as nossas tarefas centrais. Nós não afirmamos que essas tendências de afastamento de uma perspectiva revolucionária neste país se tornaram dominantes no partido. Mas nós sentimos fortemente que uma atitude de complacência sobre o nosso partido e suas perspectivas seriam muito danosas desta vez.

O Que Defendemos

Em suma, nós acreditamos que a falha da liderança do SWP em aplicar e desenvolver a teoria e o método do marxismo resultou em um perigoso desvio de uma perspeciva revolucionária mundial. A adoção na prática de uma análise objetivista e empiricista com relação aos pablistas, a minimização da importância central da criação de uma nova liderança proletária marxista em todos os países, o consistente encobrimento do papel contrarrevolucionário e potencial do stalinismo, as fortes tendências em direção à acomodação a lideranças não-proletárias, particularmente na revolução colonial – todas colocam, se não levadas em conta, uma séria ameaça ao desenvolvimento futuro do próprio SWP.

O que contrapomos a este desvio?

1.     Nós nos orientamos para a classe trabalhadora e somente para a classe trabalhadora como força revolucionária na sociedade moderna.
2.     Nós consideramos a criação de partidos marxistas revolucionários, ou seja, partidos trotskistas, como essencial para a vitória do socialismo em cada país do mundo.
3.     Nós chamamos pelo renascimento da ênfase trotskista tradicional na democracia operária como parte essencial do nosso programa e na nossa propaganda.
4.     Nós defendemos que o stalinismo é contrarrevolucionário na essência, que é o inimigo mortal da revolução, que permanece sendo a maior ameaça dentro do campo da classe trabalhadora para o sucesso da revolução mundial.
5.     Por essas razões nós chamamos por um pleno apoio à linha geral da Resolução Internacional do Comitê Internacional da Quarta Internacional.
6.     Nós chamamos por uma luta política contra o pablismo internacionalmente e contra as idéias e metodologia pablistas dentro do nosso movimento, reconhecendo no pablismo uma doença centrista que induz nossos quadros mundiais ao liquidacionismo.
7.     Nós somos a favor da reunificação da Quarta Internacional na base política da reafirmação dos fundamentos do trotskismo e a aplicação desses fundamentos à atual situação mundial. Nós chamamos pelo apoio a qualquer passo que leve adiante o processo de discussão internacional, já que isso nos aproxima do nosso objetivo e um movimento internacional saudável e forte, capaz de se expandir em uma poderosa força mundial.
8.     Nós chamamos por um retorno ao verdadeiro internacionalismo, no espírito no qual o nosso partido foi construído. Nós devemos participar plenamente no processo de discussão que está acontecendo agora no nosso movimento mundial; nós devemos dar total apoio ao Comitê Internacional e sua luta para reconstruir nossas forças mundiais dispersas. Nós devemos reconhecer que nós só podemos construir um partido efetivo nos Estados Unidos desempenhando um importante papel político no desenvolvimento do nosso movimento mundial.
9.     Nós devemos continuar a educar todos os membros no espírito dos princípios fundamentais estabelecidos nas “Teses Sobre a Revolução Norte-americana”. Nós defendemos que estes fundamentos estão tão válidos hoje como eram em 1946 e como eram em 1952. Nós mantemos que estes fundamentos são internacionalistas até a medula.
10.  Finalmente, nós consideramos o SWP, assim como a YSA [Aliança Socialista Jovem, juventude do SWP], no sentido político, como a seção norte-americana do nosso partido mundial. Em nosso partido se encontram os marxistas mais desenvolvidos e principistas em nosso país e a encorporação das ricas experiências de nossos 30 anos de batalha pelo leninismo e pelo trotskismo. Ao apresentar nossas visões para o partido nesses assuntos críticos nós estamos agindo no mais fundamental interesse do partido e do movimento revolucionário mundial. Este documento, tomado com a Resolução Internacional do CI, expressa os pontos essenciais do aspecto político ao qual o nosso partido deve retornar.

Nós nos apresentamos ao nosso partido no espírito das “Teses Sobre a Revolução Norte-americana”, que terminam com os seguintes trechos:

“O partido revolucionário de vanguarda destinado a liderar este tumultuoso movimento revolucionário nos EUA não precisa ser criado. Ele já existe e seu nome é PARTIDO DOS TRABALHADORES SOCIALISTAS. Ele é o único herdeiro legítimo e continuador do pioneiro comunismo norte-americano e dos movimentos revolucionários dos trabalhadores norte-americanos dos quais ele surgiu. Seu núcleo já tomou forma em três décadas de trabalho incessante e nado contra a corrente. Seu programa foi forjado em batalhas ideológicas e sucessivamente defendido contra todo tipo de ataque revisionista contra ele. O núcleo fundamental de uma liderança profissional foi estabelecido e treinado no espírito irreconciliável de um partido de combate da revolução.”

“A tarefa do PARTIDO DOS TRABALHADORES SOCIALISTAS consiste simplesmente nisso: permanecer fiel ao seu programa e bandeira; torna-los mais precisos a cada novo desenvolvimento e aplica-los corretamente na luta de classes; e se expandir e crescer com o crescimento do movimento revolucionário de massas, sempre aspirando levá-lo à vitória na luta pelo poder político.

Assinado por

Joyce Cowley (São Francisco)
J. Doyle (Filadélfia)
Ray Gale (São Francisco)
Margaret Gates (Filadélfia)
Ed Lee (Berkeley-Oakland)
Shane Mage (Nova Iorque)
Jim Petroski (Berkeley-Oakland)
Albert Philips (Detroit)*
Liegh Ray (São Francisco)
Jim Robertson (Nova Iorque)
Geoffrey White (Berkeley-Oakland)
Tim Wohlforth (Nova Iorque)

(*) Apesar de diferenças na avaliação sociológica, quero indicar apoio à idéia geral desta declaração e suas conclusões políticas.

Apêndice
Prefácio de 1965 da Liga Espartaquista
O material lidando com a história e as lutas da Tendência Revolucionária dentro do Partido dos Trabalhadores Socialistas (SWP/EUA) ocupa um lugar especial na série de Boletins Marxistas [publicação teórica da Liga Espartaquista]. Sem uma atitude séria e crítica com relação ao seu próprio desenvolvimento, nenhuma formação política pode ir além dos primeiros estágios de resolver o desafio central diante dos marxistas revolucionários nos Estados Unidos – a construção de um partido revolucionário.

Os Boletins Marxistas números 1, 2, 3 e 4 são todos devotados ao período que vai da consolidação da Tendência Revolucionária (RT) dentro do SWP à expulsão da liderança da RT do partido, que ocorreu num período de dois anos entre 1962-1963.

Origem da Tendência Revolucionária

O núcleo da RT foi originado na liderança central da Aliança Socialista Jovem [grupo de juventude do SWP] e se uniu pela primeira vez como uma oposição de esquerda à linha majoritária acrítica do SWP com relação ao rumo da revolução cubana. Essa disputa preliminar culminou na adoção de uma posição completamente revisionista pela maioria do SWP na convenção do partido de 1961. O revisionismo teórico do partido, assim como a sua prática oportunista e abstencionista, foi levado à sua linha internacional geral e começou a levar o partido para longe de uma perspectiva revolucionária também nos Estados Unidos. (As causas dessa dramática degeneração do SWP constituem o principal tema do Boletim Marxista número 2, “A Natureza do SWP”).

A Necessidade de um Documento Básico

Os oposicionistas de esquerda responderam ao ataque geral da maioria contra as antigas posições do partido contrapondo um programa revolucionário. Este documento, “Em Defesa de uma Perspectiva Revolucionária” (EDPR, para simplificar), atingiu três resultados que levaram à cristalização da RT: (1) EDPR analisou e tornou explícita a base política da oposição de esquerda; (2) ao ganhar co-autores e apoiadores, EDPR lançou na oposição organizada um número considerável de membros antigos do partido, dando à RT uma autoridade que ia além dos seus números; (3) EDPR ligou a oposição norte-americana à maioria do Comitê Internacional (CI) da Quarta Internacional ao aprovar a resolução internacional preparada pela Liga Trabalhista Socialista (SLL) britânica e adotada pelo CI, “A Perspectiva Mundial para o Socialismo”.

Escrevendo EDPR

“Em Defesa de uma Perspectiva Revolucionária” foi o resultado de um longo esforço coletivo. A necessidade de tal declaração foi primeiramente apontada por Tim Wohlforth no outono de 1961, por conselho de Gerry Healy na Grã-Bretanha. Geoffrey White foi o autor do primeiro rascunho; os camaradas Shane Mage e Cliff Slaughter fizeram contribuições nas seções e críticas sobre a teoria e o método marxista; Wohlforth fez o acabamento e a expansão editorial, e muitos outros fizeram pequenas contribuições.

A versão final aprovada foi apresentada pela Tendência Revolucionária ao Comitê Nacional do SWP em março de 1962. Após a reunião expandida do partido em junho de 1962, onde o documento foi voto vencido por 43 a 4, ele foi impresso para os membros do SWP no Boletim de Discussão Interno (volume 23, número 4, julho de 1962). Essa declaração de posição básica da RT agora se torna disponível pela primeira vez para o público geral da esquerda.

Depois de EDPR

Mesmo enquanto EDPR estava sendo introduzido na discussão partidária, a contradição entre o curso do SWP e uma posição revolucionária estava se tornando cada vez mais agudo e aparente. Assim, a RT havia acabado de afirmar em EDPR que a oposição considerava o SWP como a “seção norte-americana de nosso partido mundial” (seção “O Que Defendemos”, ponto 10). Entretanto os colaboradores da RT na Grã-Bretanha, a Liga Trabalhista Socialista [SLL], se sentiu obrigada, em julho de 1962, a atacar o SWP num longo documento intitulado “O Trotskismo Traído – SWP Aceita o Método do Revisionismo Pablista”. Em setembro do mesmo ano, representantes do CI em uma reunião internacional declararam oficialmente que “eles não representavam politicamente o SWP”.

Desde que o CI, que dessa forma repudiou seus antigos laços com o SWP, era então equivalente ao partido mundial, a relação da maioria do SWP com a RT nos Estados Unidos foi colocada em dúvida. Surgiu dentro da tendência norte-americana uma discussão política necessária para examinar a natureza do SWP e clarificar a relação entre a RT e a maioria do SWP (ver os Boletins Marxistas subsequentes).

Apesar da degeneração do SWP enquanto organização revolucionária, “Em Defesa de uma Perspectiva Revolucionária” continua incomparável até hoje como uma declaração de posição básica.

Comitê Editorial da Liga Espartaquista
Janeiro de 1965

A Gênese do Pablismo

O SWP e a Quarta Internacional
A Gênese do Pablismo

O seguinte artigo foi originalmente publicado pela tendência Espartaquista internacional (iSt) na primavera de 1972, na 21ª edição de Spartacist. Sua tradução para o português foi realizada pelo Coletivo Lenin (coletivolenin.org) em 2010, a partir da versão em inglês disponível no site da Liga Comunista Internacional (ICL) e publicado na revista Revolução Permanente número 4.

Introdução

O Socialist Workers Party (SWP) norte-americano e os pablistas europeus andaram a velocidades diferentes e seguindo diferentes caminhos ao revisionismo até convergirem, nos primeiros anos da década de 1960, em uma “reunificação” sem princípios políticos que se consolida agora ao completar o SWP a transição do centrismo pablista a um reformismo descarado. O “Secretariado Unificado” que resultou da “reunificação” de 1963 tenta se equilibrar ao redor de uma divisão aberta; o “antirevisionista” “Comitê Internacional” se desfez no ano passado. O colapso dos vários competidores pelo manto da Quarta Internacional provê uma oportunidade decisiva para o surgimento de uma autêntica tendência trotskista internacional. O que é a chave para a tarefa de reconstruir a Quarta Internacional através de um processo de rupturas e fusões é um entendimento das características e das causas do revisionismo pablista e a reação defeituosa dos anti-pablistas que lutaram, pouco e tardiamente, em um terreno nacional, enquanto, de fato, abandonavam o movimento mundial.

A Segunda Guerra Mundial: Estados Unidos e França

Antes de começar a guerra, Trotsky e a Quarta Internacional haviam acreditado que a decadência do capitalismo e o crescimento do fascismo haviam eliminado a possibilidade de existência do reformismo e, portanto, de ilusões democrático-burguesas entre as massas. Porém, não puderam se dar conta que, cada vez mais, o repúdio ao fascismo por parte da classe trabalhadora e a ameaça de ocupação fascista fizeram surgir o chauvinismo social e uma renovada confiança na burguesia “democrática” que permeou as massas proletárias em toda a Europa e Estados Unidos. Diante de tal contradição, as fortes pressões do nacionalismo retrógrado e as ilusões democráticas no meio da classe trabalhadora tenderam a desgarrar as seções da Quarta Internacional. Algumas adotavam posições sectárias enquanto outras capitulavam ao social-patriotismo que se espalhava entre as massas. O SWP adotou durante um curto período a “política militar proletária”, que reivindicava o serviço militar sob controle dos sindicatos, semeando implicitamente a idéia utópica de que os trabalhadores norte-americanos poderiam lutar contra o fascismo alemão sem que existisse um Estado operário nos Estados Unidos, através do “controle” do exército do imperialismo estadunidense. O trotskista inglês Ted Grant foi mais longe e referiu-se em um dos seus discursos às forças armadas do imperialismo britânico como o “nosso Oitavo Exército”. O IKD alemão regrediu a um menchevismo descarado com a teoria de que o fascismo trouxera consigo a necessidade de “um Estado intermediário equivalente fundamentalmente a uma revolução democrática” (Três Teses, 19 de outubro de 1941).

O movimento trotskista francês, fragmentado durante o curso da guerra, constituiu o maior exemplo dessa contradição. Um de seus fragmentos subordinou a mobilização da classe trabalhadora aos apetites políticos da ala gaulista da burguesia imperialista; outro grupo renunciou a toda luta na resistência e dedicou-se exclusivamente a fazer trabalho entre os operários das fábricas. Depois, sem reconhecer o nível de reformismo existente entre os trabalhadores, de maneira aventureira tentou ocupar fábricas durante a “liberação” de Paris enquanto as massas trabalhadoras estavam em casa. O documento da “Conferência Européia” de fevereiro de 1944, que constituiu a base para uma fusão entre dois grupos franceses para formar o Partido Comunista Internacionalista, caracterizava os dois grupos da seguinte maneira:  

“Em vez de distinguir entre o nacionalismo de uma burguesia derrotada, que continua sendo uma expressão de suas preocupações imperialistas, e o ‘nacionalismo’ das massas, que é apenas uma expressão reacionária de sua resistência contra a exploração das forças de ocupação imperialistas, a direção do POI considerava a luta de sua própria burguesia como progressista (…)”

“(…) o CCI, (…) sob o pretexto de manter intacta a herança do marxismo-leninismo, recusou obstinadamente a fazer a distinção entre o nacionalismo da burguesia e o do movimento de resistência das massas.”

I. O Isolamento do SWP

O trotskismo europeu e o trotskismo norte-americano responderam inicialmente de diferentes maneiras às diferentes tarefas e problemas que surgiram após a Segunda Guerra Mundial. O internacionalismo do SWP norte-americano, mantido através da uma íntima colaboração com Trotsky durante seu exílio no México, não sobreviveu ao assassinato deste, em 1940, e ao começo da Segunda Guerra Mundial. Os trotskistas norte-americanos se refugiaram em um isolamento que somente parcialmente lhes havia sido imposto pela desintegração das seções européias sob as condições do triunfo fascista e da ilegalidade.

Prevendo as dificuldades de coordenação internacional durante a guerra, um residente Comitê Executivo Internacional havia sido instalado em Nova York. Seu único feito importante, porém, parece ter sido convocar uma “Conferência de Emergência” da Internacional, que ocorreu em 1º de maio de 1940 “em algum lugar do hemisfério ocidental” por iniciativa das seções norteamericana, mexicana e canadense. Essa foi uma conferência parcial à qual compareceram menos da metade das seções e foi convocada com o propósito de tratar das ramificações internacionais da separação do grupo de Shachtman da seção estadunidense, que havia resultado na saída da maioria do Comitê Executivo Internacional residente. A reunião se solidarizou com o SWP na luta fracional e reconheceu sua condição de única seção estadunidense da Quarta Internacional. A conferência adotou também um “Manifesto da Quarta Internacional sobre a guerra imperialista e a revolução proletária mundial”, escrito por Trotsky. Depois da morte de Trotsky, no entanto, o CEI residente desapareceu.

A seção norteamericana da Quarta Internacional deveria ao menos ter estabelecido um Secretariado clandestino em um país neutro da Europa, com membros competentes do SWP e emigrados de outras seções, para centralizar e supervisionar diretamente o trabalho dos trotskistas nos países ocupados pelos fascistas. Porém, o SWP se contentou em limitar suas atividades internacionais durante a guerra à publicação em seus boletins internos de cartas e documentos fracionais dos grupos trotskistas europeus. A aprovação da Lei Voorhis em 1941, proibindo os grupos estadunidenses de filiarem-se a organizações políticas internacionais – que até hoje nunca foi colocada à prova – deu ao SWP uma desculpa para minimizar suas responsabilidades internacionais.

O trabalho do SWP durante a guerra revelou certa perspectiva internacionalista. Estivadores do SWP usaram a oportunidade de barcos provenientes de Vladivostok atracando na Costa Oeste para distribuir clandestinamente cópias em russo da “Carta aos Trabalhadores Russos”, de Trotsky, aos marinheiros soviéticos. O SWP concentrou seus camaradas da marinha mercante nas viagens de abastecimento a Murmansk, até que baixas extremamente graves forçaram o partido a interromper a concentração sobre Murmansk. (Foi em resposta a tais atividades que a GPU iniciou a rede de espionagem anti-trotskista de Soblen. Anos mais tarde, descobriu-se que o telefone de Cannon havia sido grampeado pela GPU e que o diretor administrativo da revista “Quarta Internacional” do SWP, um certo “Michael Cort”, era um agente infiltrado). Porém, a manutenção da direção da Quarta Internacional era parte da responsabilidade internacionalista do SWP, e deveria ter sido uma prioridade tão urgente quanto o trabalho que o SWP realizou por conta própria.

A direção do SWP passou pelo período da guerra essencialmente intacta, mas com seu isolamento reforçado e teoricamente mal equipada para orientar-se no pós-guerra.

Durante os últimos anos da guerra e no período imediato do pós-guerra, o SWP havia obtido algumas vitórias notáveis ao inserir seus quadros na indústria durante o boom e ao recrutar uma nova coluna de militantes proletários que se aproximaram dos trotskistas devido à oposição destes à política do social-patriotismo e de conciliação de classes o Partido Comunista.

Otimismo e ortodoxia

O SWP entrou no período do pós-guerra com um alegre otimismo em relação a perspectivas de uma revolução proletária. A convenção de 1946 do SWP e sua resolução, “A Iminente Revolução Norteamericana”, fizeram a projeção da continuidade de vitórias por tempo indefinido. A perspectiva isolacionista do partido se pôs em evidência nessa convenção. Reconheceu-se o caráter necessariamente internacional das crises e das revoluções, mas não o caráter internacional concomitante do partido de vanguarda. Como conseqüência, a resolução apresentava desculpas para o atraso político da classe operária dos Estados Unidos e, ao mesmo tempo, exaltava sua disposição de luta concluindo com o seguinte silogismo: “as batalhas decisivas da revolução mundial serão travadas nos países avançados, onde os meios de produção se encontram altamente desenvolvidos e onde o proletariado é forte – acima de tudo nos Estados Unidos”; assim, é suficiente fazer a revolução norteamericana e o capitalismo mundial será derrotado. Um impressionismo profundo levou o SWP a ver o mundo através dos olhos do capitalismo norte-americano, que havia saído da guerra inquestionavelmente como um pré-iminente poder mundial.

A estabilização do capitalismo europeu no pós-guerra; o surgimento de partidos stalinistas e de partidos operários e reformistas na Europa; a expansão do stalinismo no Leste Europeu (aparentemente negando a análise trotskista de que o stalinismo só pode trair), a destruição do capitalismo por grupos nacionalistas e stalinistas baseados em camponeses em países como Iugoslávia e China – todos esses fatos colocavam novos problemas teóricos para o movimento trotskista aos quais o SWP, desprovido de uma coluna de intelectuais de talento, decepado com a ruptura do pequeno-burguês Shachtman e, logo depois, desprovido da liderança de Trotsky, não tinha condições de fazer frente. A resposta imediata do SWP foi refugiar-se em uma “ortodoxia” estéril desprovida de todo conteúdo teórico real, tornando assim seu isolamento ainda mais completo.

Os anos 1950 trouxeram uma nova onda de lutas operárias espontâneas na Europa Ocidental e Oriental; mas para o SWP trouxeram o começo da caça às bruxas da Guerra Fria: os julgamentos de membros e antigos membros do Partido Comunista por causa da Lei Smith; o aniquilamento de todo aspecto da vida social e intelectual; a perseguição implacável de conhecidos “vermelhos” e militantes do movimento sindical, cortando a conexão do SWP com o movimento operário que havia levado anos para construir; o abandono de uma coluna completa de trabalhadores recrutados pelo SWP durante a última parte dos anos de 1940. A pressão objetiva para converter-se em uma simples seção de aplauso para os sucessos europeus e coloniais era forte, mas o SWP se apegou a seu compromisso verbal ortodoxo de levar a cabo a revolução norteamericana.

II. A Ruptura da Continuidade na Europa

A vulnerabilidade do movimento trotskista europeu perante o revisionismo girava em torno das debilidades históricas das organizações européias combinadas com a total destruição de sua continuidade no período anterior. Quando Trotsky lançou a luta pra fundar a Quarta Internacional em 1934, a classe operária européia, confrontada com a escolha decisiva entre o socialismo ou a barbárie, carecia de uma direção comunista. A tarefa colocada para os membros da Quarta Internacional estava clara: mobilizar a classe contra as ameaças do fascismo e da guerra, ganhá-la para o partido revolucionário mundial que defenderia o internacionalismo proletário frente à marcha de uma guerra imperialista e a capitulação social-chauvinista da Segunda e da Terceira Internacionais. Mas, Trotsky sabia da imensa dificuldade que a vanguarda tinha para marchar adiante em um período de derrota total para a classe e da “terrível desproporção entre as tarefas e os meios” (Lutando contra a corrente, abril de 1939). A debilidade do movimento europeu foi exemplificada pela seção francesa, que foi criticada repetidamente por Trotsky. Seu desvio “obreirista” pequeno-burguês e seu diletantismo foram tema de uma resolução especial na conferência fundadora da Quarta Internacional em 1938.

A Quarta Internacional se preparou para sua luta decisiva contra o fascismo e a guerra; e perdeu. Durante o curso da guerra e as ocupações nazistas, os meros rudimentos de coordenação internacional, e até nacional, foram destruídos. A Internacional se desintegrou em pequenos grupos militantes que implementavam políticas improvisadas: alguns oportunistas, outros heróicos. Os 65 camaradas franceses e alemães que foram fuzilados pela Gestapo em julho de 1943 devido a sua confraternização revolucionária derrotista e pela construção de uma célula trotskista nas forças armadas alemãs são um monumento ao valor internacional de um movimento revolucionário débil em luta contra dificuldades insuperáveis.

Quadros trotskistas dizimados

Em agosto de 1943 se tentou o restabelecimento dos rudimentos de uma organização na Europa. O Secretariado Europeu, estabelecido em uma reunião na Bélgica, incluiu exatamente um só membro remanescente da direção de antes da guerra. E, principalmente pela inexistência de quadros experientes, é que Michel Pablo (Raptis), um habilidoso organizador clandestino, não precisamente conhecido por sua habilidade como líder teórico e político, pôde emergir na direção da Internacional. Quando, em junho de 1945 se reuniu o Comitê Executivo europeu para preparar a reunião de um congresso mundial, os quadros dirigentes experientes e os mais promissores dos jovens trotskistas (A. Leon, L. Lesoil, W. Held) haviam sido assassinados pelos nazistas ou pela GPU. Havia sido rompida a continuidade do trotskismo na Europa. Esse trágico processo se reproduziu em outros lugares com a prisão e a suposta execução de Ta Thu Tau e os trotskistas vietnamitas, a possível extinção dos trotskistas chineses e a liquidação dos restantes dos trotskistas russos (incluindo, além do próprio Trotsky, Ignace Reiss, Rudolph Klement, e Leon Sedov). Os europeus estavam aparentemente tão famintos de quadros dirigentes com experiência que Pierre Frank (membro dirigente do grupo Molinier, que Trotsky denunciou como “centristas desmoralizados” em 1935 e os expulsou em 1938, por se recusarem a romper com a social-democracia francesa após a “Virada Francesa” [como a tática de entrismo foi nomeada na época]) pôde assumir a direção da seção francesa no pós-guerra.

Nessa conjuntura crucial, a intervenção e a direção de um partido trotskista norte-americano verdadeiramente internacionalista poderia fazer uma grande diferença. Porém, o SWP, que deveria ter assumido a direção da Internacional ao longo dos anos da guerra, estava ocupado em suas próprias preocupações nacionais. Cannon fez notar mais tarde que a direção do SWP havia deliberadamente reforçado a autoridade de Pablo, chegando “a minimizar uma grande parte de nossas diferenças” (junho de 1953). A responsabilidade urgente do SWP, que independente de suas deficiências era a organização trotskista mais forte e experimentada, era precisamente fazer o oposto.

III. A Ortodoxia Reafirmada

A tarefa imediata frente aos trotskistas no pós-guerra era reorientar seus quadros e reavaliar a situação da vanguarda e da classe à luz das projeções prévias. As previsões dos trotskistas de regimes capitalistas enfraquecidos na Europa ocidental e de renovação da luta de classes de forma violenta em toda a Europa, especialmente na Alemanha, onde o colapso do poder estatal nazista deixou um vácuo, haviam sido confirmadas. Entretanto, os reformistas, particularmente os partidos stalinistas, se reforçaram em suas intenções de conter a agitação espontânea dos operários. A direção da classe operária francesa passou da social democracia (SFIO), que havia dirigido a CGT antes da guerra, para as mãos dos stalinistas franceses. Assim, apesar do espírito manifestamente revolucionário da classe operária européia e as grandes greves gerais, especialmente na França, Bélgica, Grécia e Itália, em toda a extensão da Europa ocidental o proletariado não tomou o poder e o aparato stalinista surgiu com renovada força e solidez.

A Quarta Internacional respondeu retrocedendo a uma ortodoxia estéril e a uma férrea negação a crer que essas lutas haviam sido derrotadas para o período imediato:
“Sob estas condições, derrotas parciais (…) períodos de retirada temporária (…) não desmoralizam o proletariado (…) A repetida demonstração por parte da burguesia de sua inabilidade para reestabilizar uma economia e um regime político da mais mínima estabilidade oferece aos trabalhadores novas oportunidades de avançar a estágios ainda mais altos da luta.”

“O aumento das fileiras das organizações tradicionais na Europa, acima de tudo os stalinistas (…) tem alcançado seu auge em quase todas as partes. A fase de declínio está começando.” (Comitê Executivo Europeu, abril de 1946)
Os críticos oportunistas de direita no movimento trotskista (o IKD alemão, a fração do SWP de Goldman-Morrow) estavam corretos em ressaltar o otimismo exagerado de tais análises e ao indicar que as direções reformistas tradicionais da classe operária são sempre os primeiros herdeiros de uma renovação na combatividade e luta. Sua “solução”, entretanto, foi defender a limitação do programa trotskista a demandas democrático-burguesas, como apoio crítico à constituição francesa burguesa do pós-guerra. Seu conselho de levar a cabo a política de entrismo nos partidos reformistas europeus foi rechaçada de antemão pela maioria, que esperava que os trabalhadores se organizassem mais ou menos espontaneamente sob a bandeira trotskista. Essa atitude preparou o caminho para uma brusca reviravolta na questão do entrismo quando a posição implícita de ignorar a influência dos reformistas não pôde ser mantida por mais tempo.

A perspectiva da Quarta Internacional no pós-guerra imediato foi resumida por Ernest Germain (Mandel) em um artigo intitulado “A primeira fase da revolução européia” (Fourth International, agosto de 1946). O título implicou o seguinte enfoque: a “revolução” estava implicitamente redefinida como um processo metafísico durando continuamente e progredindo inevitavelmente a uma vitória, em vez de um confronto brusco e necessariamente limitado no tempo sobre a questão do poder estatal, e cujo resultado dará forma a todo o período seguinte.

Stalinofobia

A capitulação subsequente, pablista, ao stalinismo foi preparada pelo exagero impressionista de seu oposto: a stalinofobia. Em novembro de 1947, o Secretariado Internacional de Pablo escreveu que a União Soviética havia se convertido em 

“um Estado operário degenerado até o ponto de que todas as manifestações progressistas que restavam das conquistas de Outubro estavam mais e mais neutralizadas pelos desastrosos efeitos da ditadura stalinista.”

“O que resta das conquistas de Outubro está perdendo mais e mais seu valor histórico como premissa para o desenvolvimento socialista.”

“(…) das forças de ocupação russas ou dos governos pró-stalinistas, que são completamente reacionários, nós não exigimos a expropriação da burguesia (…).”
No SWP, circulava um rumor de que Cannon estaria flertando com a caracterização de que a União Soviética havia se convertido em um Estado operário totalmente degenerado, isto é, um regime de “capitalismo de Estado” – uma posição que foi abraçada pouco depois por Natalia Trotsky.

Sobre a questão da expansão stalinista no Leste Europeu, a Quarta Internacional estava unida em uma ortodoxia simplista. Uma discussão extensa do “Kremlin no Leste Europeu” (Fourth International, novembro de 1946), por E. R. Frank (Bert Cochran) foi aguda em seu tom anti-stalinista e tendeu a uma visão de que os países ocupados pelo Exército Vermelho seriam deliberadamente mantidos como Estados capitalistas. Uma polêmica contra Shachtman, travada por Mandel em 15 de novembro de 1946 foi ainda mais categórica: declara simplesmente como “absurda” a teoria de “instalação de um Estado operário degenerado em um país sem uma revolução proletária previa”. E Mandel pergunta retoricamente: “Pensa [Shachtman] realmente que a burocracia stalinista conseguiu derrotar o capitalismo em metade do nosso continente?” (Fourth International, fevereiro de 1947).

O método aqui é o mesmo seguido mais cinicamente pelo “Comitê Internacional”, anos mais tarde, sobre a questão de Cuba (perplexo? Então negue a realidade!), com a diferença de que o caráter de classe do Leste Europeu, com instituições econômicas capitalistas, mas com o poder estatal nas mãos do exército de ocupação de um Estado operário degenerado, era muito mais difícil de entender. Os empiristas e os renegados, é claro, não tiveram nenhuma dificuldade em caracterizar os Estados do Leste Europeu:
“Todo o mundo sabe que nos países onde os stalinistas tomaram o poder, estes procederam, a uma ou outra velocidade, para estabelecer o mesmo regime econômico, político e social que existe na Rússia. Todo o mundo sabe que a burguesia está sendo rapidamente expropriada, desprovida de todo o seu poder econômico e, em muitos casos, desprovida de sua existência (…) Todo mundo sabe que o que resta do capitalismo nesses países não será nem sequer restos amanhã, que a tendência em sua totalidade é estabelecer um sistema social idêntico ao da Rússia stalinista.” (Max Shachtman, “O congresso da Quarta Internacional”, outubro de 1948, New International).
Por mais penoso que esse ridículo tenha sido para eles, entretanto, os trotskistas ortodoxos estavam atrapalhados por suas análises porque não podiam constituir uma teoria para explicar a transformação do Leste Europeu sem abraçar conclusões não-revolucionárias.

Mandel, como lhe era típico nesses anos, ao menos colocava o dilema teórico claramente: é correto o entendimento trotskista do stalinismo se o stalinismo se mostra capaz em alguns casos de levar a cabo algum tipo de transformação social anticapitalista? Apegados à ortodoxia, os trotskistas haviam perdido uma compreensão real da teoria e suprimido uma parte do entendimento dialético de Trotsky do stalinismo como uma casta parasitária e contra-revolucionária assentada sobre as conquistas da Revolução de Outubro, uma espécie de intermediário traiçoeiro colocado entre o proletariado russo vitorioso e o imperialismo mundial. Fazendo isso, reduzindo o materialismo dialético a um dogma estático, sua desorientação foi completa. Quando era necessário responder à pergunta de Mandel de maneira afirmativa, se preparou o caminho para o revisionismo pablista ocupar o vazio teórico.

A Quarta Internacional flerta com Tito

Virtualmente sem exceção, a Quarta Internacional foi desorientada pela revolução iugoslava. Depois de uns 20 anos de monolitismo stalinista, os trotskistas estavam pouco dispostos a sondar a fundo o PC iugoslavo anti-Stalin. Os titoístas iugoslavos foram descritos como “camaradas” e “centristas de esquerda”, e a Iugoslávia como “um Estado operário estabelecido por uma revolução proletária”. Em uma das várias “cartas abertas” a Tito, o SWP escreveu: “A confiança das massas operárias nele [o partido de Tito] crescerá imensamente e se tornará a expressão coletiva efetiva dos interesses e dos desejos do proletariado em vosso país”. A revolução iugoslava colocava um novo problema (mais tarde recapitulado pelos sucessos chinês, cubano e vietnamita): diferentemente do Leste Europeu, onde as transformações sociais foram realizadas pelo exército de um Estado operário degenerado, a revolução iugoslava foi claramente uma revolução social nativa, que, sem a intervenção da classe operária ou a direção de um partido trotskista, conseguiu estabelecer um Estado operário (deformado). A Quarta Internacional evitou o problema teórico chamando a revolução de “proletária” e aos titoístas “centristas de esquerda”. (O SWP evitou uma caracterização sem ambiguidades do regime maoísta como um estado operário deformado até 1955. Ainda em 1954, dois artigos da tendência de Phillips, que caracterizavam a China como capitalismo de Estado, foram publicados na revista Fourth International do SWP).

Novamente se manteve a ortodoxia, porém desprovida de conteúdo. O impulso, ao qual se havia resistido até que Pablo lhe deu uma expressão consistente, era de reconhecer que a capacidade das forças não proletárias, não trotskistas, de conquistar qualquer forma de mudança social tiraria da Quarta Internacional sua razão de existir. A diferença qualitativa e crucial entre um Estado operário e um Estado operário deformado – gravada com sangue na necessidade de uma revolução política para abrir caminho ao desenvolvimento socialista e a extensão da revolução a todo o mundo – havia sido perdida.

IV. O Pablismo Triunfa

Os quadros da Quarta Internacional do pós-guerra, débeis numericamente, isolados socialmente, teoricamente desarmados e sem experiência, foram uma presa fácil para a desorientação e a impaciência em uma situação de repetida agitação pré-revolucionária, cujo curso não podiam influenciar. Surgindo no princípio de 1951 como um novo revisionismo, o pablismo começou a se fazer valer respondendo à situação objetiva frustrante ao propor uma saída artificial do isolamento da Quarta Internacional em relação ao grosso do movimento da classe operária. O pablismo foi a generalização desse impulso em um corpo teórico revisionista que oferecia respostas impressionistas que eram mais consistentes que a ortodoxia unilateral da Quarta Internacional no pós-guerra imediato.

O crucial é não igualar simplesmente a debilidade organizacional, a falta de profundas raízes no proletariado e a incapacidade teórica e desorientação que foram precondições para a degeneração revisionista da Quarta Internacional com a consolidação e a vitória desse revisionismo. Apesar de graves erros políticos, a Quarta Internacional no período do pós-guerra imediato era, todavia, revolucionária. O SWP e a Internacional se apegaram a uma ortodoxia estéril como a um talismã  para proteger-se de conclusões não revolucionárias sobre os sucesos mundiais que já não podiam entender. A história tem demonstrado que em momentos cruciais os marxistas revolucionários tem sido capazes de superar uma teoria inadequada. Lenin, antes de abril de 1917, não estava equipado teoricamente para projetar uma revolução proletária em um país atrasado como a Rússia. Trotsky, até 1933, havia igualado o Termidor russo com o regresso ao capitalismo. O pablismo era algo mais que uma teoria simétrica falsa, mais que simplesmente uma exagerada reação impressionista contra a ortodoxia. Era uma justificativa teórica  para um impulso não revolucionário baseado no abandono da perspectiva da construção de uma vanguarda proletária nos países avançados e coloniais.

Em janeiro de 1951 Pablo se aventurou no reino da teoria com um documento chamado “Para Onde Vamos?”. Apesar de parágrafos cheios de confusões e equívocos sem sentido, a estrutura revisionista, em sua totalidade, aparece claramente:
A relação de forças no tabuleiro internacional está evoluindo agora em desvantagem para o imperialismo.

Uma época de transição ente o capitalismo e o socialismo, uma época que já começou e está bastante avançada (…) Esta transformação provavelmente requererá um período completo de vários séculos de regimes transicionais entre o capitalismo e o socialismo e necessariamente se desviarão de formas e normas ‘puras’.

O proceso objetivo é, em última análise, o único fator determinante, sobrepondo-se a todos os obstáculos de ordem subjetiva.”

Os partidos comunistas conservam a possibilidade, em certas circunstâncias, de delinear uma orientação revolucionária.
A elevação feita por Pablo do “processo objetivo” ao “único fator determinante”, reduzindo o fator subjetivo (a consciência e a organização do partido de vanguarda) à categoria de trivial, a discussão de “vários séculos” de “transição” (mais tarde caracterizado pelos oponentes de Pablo como “séculos de Estados operários deformados”), e a sugestão de que a direção revolucionária podia ser dada pelos partidos stalinistas ao invés de ser dada pela Quarta Internacional, consistem na estrutura analítica completa do revisionismo pablista.

Em outro documento, “A Guerra Que Se Aproxima”, Pablo propôs sua política de “entrismo sui generis” (entrismo de tipo especial):
Para integrarmos o movimento de massas real, para trabalhar e permanecer nos sindicatos de massas, por exemplo, ‘artimanhas’ e ‘capitulações’ não são somente aceitáveis, mas necessários.
Em essência, os trotskistas deveriam abandonar a perspectiva de um entrismo a curto prazo cujo propósito havia sido sempre o de rachar as organizações não revolucionárias, baseando-se em um programa sólido, como uma tática para construir um partido trotskista. A nova política entrista provinha diretamente das análises de Pablo. Dado que a afirmação de uma mudança na relação de forças mundiais a favor do avanço da revolução impusionaria os partidos stalinistas a desempenhar um papel revolucionário, era lógico que os trotskistas deveriam ser parte desses partidos, seguindo uma política que consistiria essenssialmente em pressionar o aparato stalinista.

Tudo isto deveria ter feito explodir uma bomba nas cabeças dos quadros trotskistas internacionais. Pablo era, afinal, a cabeça do Secretariado Internacional, o corpo político dirigente da Quarta Internacional! Mas há pouca evidência sequer de preocupação, quanto mais da necessária formação de uma fração anti-revisionista  internacional. Um extenso documento escrito por Ernest German (“Dez Teses”), e talvez um certo rumor subterrâneo, forçou Pablo a produzir uma tentativa de explicação ortodoxa quanto à questão do “período de transição”, mas nenhuma outra polêmica por escrito questionou o ataque mais descarado de Pablo contra o programa trotskista.

Mandel resiste

Em março de 1951, Mandel publicou suas “Dez Teses”, que era um ataque velado contra “Para Onde Vamos?”, mas não atacou a Pablo nem a seus documentos. Mandel voltou a estabelecer o uso marxista do “período transicional” como o período entre a vitória da revolução (a ditadura do proletariado) e a vitória do socialismo (a sociedade sem classes). Sem referir-se explicitamente à posição de Pablo, escreveu: “Assim como a burguesia, [o stalinismo] não sobreviverá a uma guerra que se transformará no surgimento de uma revolução.”. Mandel insistiu no caráter contraditório bonapartista do stalinismo, baseado em formas de propriedade proletárias enquanto protege a posição privilegiada da burocracia contra os operários. Realçou a natureza dos partidos comunistas de massas fora da URSS, determinada por sua base proletária por um lado, e a subserviência às burocracias stalinistas no poder por outro.

Mandel tentou apresentar uma resposta ortodoxa ao impulso pablista de que a destruição do capitalismo no Leste Europeu, na China e na Iugoslávia sem uma direção trotskista tornava a Quarta Internacional supérflua. Novamente, não referiu-se às posições que estava atacando; alguém poderia pensar que as “Dez Teses” simplesmente caíam do céu com um exercício teórico interessante, ao invéz de ser uma resposta ao surgimento de uma corrente revisionista, completamente oposta à linha de Mandel. Ao insistir que um novo levante revolucionário mundial não estabilizaria o stalinismo, mas que, pelo contrário, seria um perigo mortal para ele, escreveu:
É precisamente por que a nova onda revolucionária contém um embrião da destruição dos partidos stalinistas como tais que deveríamos estar hoje muito mais com os operários stalinistas. Esta é somente uma fase de nossa tarefa fundamental: construir novos partidos revolucionários (…)

“ ‘Estar mais com os operários stalinistas’  significa, então, ao mesmo tempo,  afirmar mais do que nunca nosso próprio programa e nossa própria política trotskista.
As “Dez Teses” mostraram que todas as ramificações do movimento trotskista eram incapazes, porém, de entender a natureza das transformações sociais que haviam ocorrido no Leste Europeu (ainda que a análise da maioria do RCP britânico de Hanston/Grant, incorporado pelo grupo de Los Angeles do SWP de Vern-Ryan, tenha conseguido o princípio – mas apenas o princípio – da sabedoria ao reconhecer que no período do pós-guerra imediato um exame das formas de propriedade nativas não seria suficiente, uma vez que o poder estatal no Leste Europeu era um exército de ocupação estrangeiro, o Exército Vermelho). Em 1951 Mandel considerava, porém, o processo de “assimilação estrutural” incompleto (!) e previa uma assimilação dos exércitos dos Estados do Leste Europeu ao exército soviético – isto é, que o Leste Europeu seria simplesmente incorporado  à União Soviética. Mandel reconheceu que a transformação do Leste Europeu destruía o capitalismo, mas continha em si, ainda que vitorioso, um obstáculo burocrático decisivo ao desenvolvimento socialista; destacou que a expansão do modo de produção não capitalista da URSS “é infinitamente menos importante que a destruição do movimento operário vivo que lhe há precedido.”

Não se havia reconhecido um obstáculo semelhante com relação à China e, especialmente, Iugoslávia. Os trostskistas eram incapazes de desassociar o fenômeno do stalinismo da pessoa de Stalin; a ruptura de Tito com o Kremlin obscureceu qualquer reconhecimento de que a Iugoslávia seguiria necessariamente uma política interna e diplomática qualitativamente idêntica para salvaguardar os interesses de seu próprio regime nacional-burocrático contra a classe operária. Mandel, não querendo admitir que forças stalinistas na direção das massas camponesas pudessem consumar uma revolução socialista, chamou aos sucessos na Iugoslávia e China em suas “Dez Teses” de revoluções proletárias e também propôs que “sob tais condições esses partidos deixam de ser stalinistas no sentido clássico da palavra.”

Enquanto Pablo interpretava esses sucessos como um modelo revolucionário novo que tornavam inválidas “as formas e normas ‘puras’” (isto é, a Revolução Russa), Mandel – novamente sem referir-se a Pablo – destacou que estes eram resultados de circunstâncias excepcionais que, em qualquer caso, não se poderiam aplicar a países industriais avançados.  Ele opunha “a frente única de fato existente entre revoluções coloniais na Ásia e a burocracia soviética, que tem sua origem objetiva no fato de que ambas se encontram ameaçadas pelo imperialismo…” às possibilidades para a Europa. Estava de acordo com a previsão de que uma terceira guerra mundial iminente entre “a frente única imperialista por um lado e a URSS e as revoluções coloniais por outro”, e lhe chamava de guerra contra-revolucionária.

A essência do argumento de Mandel era:
“O que importa acima de tudo no presente período é dar ao proletariado uma direção internacional capaz de coordenar suas forças e de proceder à vitória mundial do comunismo. A burocracia stalinista, forçada a voltar-se com uma fúria cega contra a primeira revolução proletária vitoriosa fora da URSS (Iugoslávia), é incapaz socialmente de levar a cabo tal tarefa. Aqui reside a missão histórica do nosso movimento (…) reside na incapacidade do stalinismo de derrotar o capitalismo mundial, uma incapacidade da natureza social da burocracia soviética.”
Com a vantagem da visão a posteriori e a experiência dos últimos 20 anos – a natureza contra-revolucionária do stalinismo, reafirmada mais claramente na Hungria em 1956; a Revolução Cubana de 1960, na qual um nacionalismo pequeno-burguês na direção de guerrilheiros camponeses destruiu o capitalismo tão somente para unir-se ao aparato stalinista interna e externamente; as políticas consistentemente nacionalistas e stalinistas do PC chinês no poder – é fácil reconhecer que as “Dez Teses” estão equivocadas em suas análises e previsões. O que é muito mais importante, entretanto, é o tom não fracional consistente e deliberado do documento, que pressagia a negação de Mandel de colocar-se no campo anti-pablista. Empenhado em não lutar por uma linha correta na Quarta Internacional, a defesa teórica de Mandel da necessidade do trotskismo queria dizer muito pouco. Isto era simplesmente pablismo de segunda mão, a negação do fator subjetivo no processo revolucionário.

O Terceiro Congresso Mundial

O Terceiro Congresso Mundial da Quarta Internacional ocorreu entre agosto e setembro de 1951. O principal informe político tentou distinguir entre os partidos comunistas e os partidos reformistas sobre a base de que somente os primeiros eram contraditórios, e projetava que sob a pressão de um forte auge do movimento de massas os PCs poderiam converter-se em partidos revolucionários. A natureza oportunista da versão de Pablo da tática de entrismo se revelou claramente pelo rechaço do entrismo de princípios, cuja finalidade é polarizar e dividr: “As possibilidades de rachas importantes nos PCs (…) são substituídas por um movimento à esquerda por parte das bases dos PCs.” Não se reconheceu nenhuma deformação decisiva nos Estados operários do Leste Europeu e China; assim, implicitamente, o Congresso estabelecia apenas uma diferença quantitativa entre a União Soviética de Lenin e os Estados operários degenerados e deformados. O informe projetava a possibilidade de que Tito poderia “dirigir um reagrupamento de forças revolucionárias independente do capitalismo e do Kremlin (…) que jogaria um papel importante na formação de uma nova direção revolucionária.” Não se mencionava para nada a perspectiva da revolução permanente nos países coloniais.

A aplicação da política de Pablo de “entrismo sui generis” foi elaborada na Comissão Austríaca:
A atividade de nossos membros no SP [Partido Socialista] será guiada pelas seguintes diretrizes: a) Não apresentar-se como trotskistas com nosso programa total. b) Não apresentar questões programáticas e de princípios (…)
Nem a maior quantidade possível de ortodoxia verbal nas resoluções poderia obscurecer durante mais tempo os olhos daqueles que quisessem ver.

O Partido Comunista Internacionalista da França submeteu as “Dez Teses” de Mandel a voto (depois que o próprio Mandel havia aparentemente decidido não fazê-lo) e propôs emendas ao documento principal. Não se votaram as “Dez Teses” ou as emendas francesas. O PCI votou contra a adoção da linha geral do documento principal; foi a única seção que o fez.

Nos meses que seguiram, a linha pablista foi elaborada de maneira revelada já antes e durante o Terceiro Congresso Mundial:
Estamos entrando [nos partidos stalinistas] para permanecermos neles durante muito tempo, contando com a grande possibilidade de ver esses partidos, sob novas condições [“um período pré-revolucionário genericamente irreversível”], desenvolverem tendências centristas que estarão na direção de um estado completo de radicalização das massas e de processos revolucionários objetivos…” (Pablo, Informe ao Décimo Pleno do Comitê Executivo Internacional, fevereiro de 1952)
Pressionada entre a ameaça imperialista e a revolução colonial, a burocracia soviética se viu obrigada a aliar-se com a segunda contra a primeira (…) A desintegração do stalinismo nesses partidos não deveria ser entendida (…) como uma desintegração organizacional (…) ou como uma ruptura pública com o Kremlin, senão como uma transformação interna progressiva.” (“O ascenso e o declínio do stalinismo”, Secretariado Internacional, setembro de 1953)
V. Os Anti-pablistas

Com a capitulação de Mandel, cujo papel nos conflitos preliminares sobre as políticas pablistas é ambíguo, mas em quem os franceses parecem haver depositado uma certa confiança, a tarefa de lutar contra o pablismo racaiu sobre a maioria do PCI francês de Bleibtreu-Lambert e no SWP norte-americano. Apesar de existir uma considerável mitologia que defende o contrário, tanto o PCI como o SWP vacilaram quando o revisionismo se manifestou na direção da Quarta Internacional, colocando obstáculos somente à aplicação em suas próprias seções. Ambos os grupos se comprometeram por sua inquieta conformidade (combinada, no caso do PCI, com resistência esporádica) a apoiar a política de Pablo, até que as consequências organziacionais suicídas para suas seções fizeram necessárias duras batalhas. Ambos abdicaram da responsabilidade de levar a luta contra o revisionismo a todos e cada um dos grupos e seções da Quarta Internacional, e ambos se retiraram da luta por meio da fundação do “Comitê Internacional”, baseado “nos princípios do trotskismo ortodoxo”. O CI, desde o seu começo, era apenas o esqueleto de uma tendência internacional formada por grupos que já haviam se dividido entre ramificações pablistas e ortodoxas.

O PCI luta contra Pablo

A maioria do PCI, depois de sofrer intervenção pelo Secretariado Internacional (que havia instalado uma minoria leal a Pablo conduzida por Mestre e Frank como direção da seção francesa), continuou afirmando sua conformidade com a linha do Terceiro Congresso Mundial, argumentando que Pablo, o SI e o Comitê Executivo Internacional estavam violando suas decisões: segundo os franceses, o pablismo “utiliza as confusões e contradições do Congresso Mundial – no qual não pôde impor-se – para se fazer valer após o Congresso” (“Declaração da tendência Bleibtreu-Lambert sobre os acordos concluídos no CEI”, sem data, março ou abril de 1952).

Uma importante carta fechada de Renard a Cannon, publicada em 16 de fevereiro de 1952 em nome da maioria do PCI, apelava ao SWP. A carta de Renard afirmava sua conformidade com o Terceiro Congresso Mundial, incluindo sua Comissão Francesa, e opunha o Congresso Mundial supostamente não pablista (citando vagas trivialidades para demonstrar seu impulso presumivelmente ortodoxo) às ações e linhas subsequentes de Pablo no CEI e no SI. Renard afirmava que “O pablismo não triunfou no Terceiro Congresso Mundial.” (Astutamente, não tentou explicar por que sua organização votou contra os principais documentos do Congresso!). O argumento principal da carta é um apelo contra a intervenção da direção internacional pablista na seção francesa.

A resposta de Cannon, de 29 de maio, acusa a maioria do PCI de oportunismo estalinofóbico no movimento sindical (fazer um bloco com os anticomunistas progressistas contra o PC) e negava a existência de alguma coisa como o pablismo.

A maioria do PCI mostrou um claro entendimento das implicações do entrismo pablista. Em uma polêmica contra o teórico da minoria, Mestre, a maioria havia escrito:
Se essas idéias são corretas, deixemos de chacotas sobre a tática do entrismo, até mesmo o entrismo sui generis, e implementemos claramente nossas novas tarefas: as de uma tendência mais consistente, nem sequer uma oposição de esquerda (…) cujo papel é ajudar o stalinismo a vencer suas dúvidas e colocar sob as melhores condições possíveis o enfrentamento decisivo com a burguesia (…) Se o stalinismo se transformou… [quer dizer] que já não refletiria os interesses particulares de uma casta burocrática cuja existência mesma depende do equilíbrio entre as classes, que já não é bonapartista, mas que reflete somente (…) a defesa de um Estado operário. Admitir que uma transformação tal possa ter ocorrido sem a intervenção do proletariado soviético (…) mas, ao contrário, pela evolução da própria burocracia (…) nos levará não somente a corrigir o Programa de Transição [mas também] todas as obras de Leon Trotsky desde 1923 e a fundação da Quarta Internacional.” (“Primeiras indicações de zigue zague”, Boletim Interno do PCI No. 2, fevereiro de 1952)
Mas a maioria do PCI, como o SWP, demonstrou uma falta de internacionalismo concreto quando se enfrentou com a possibilidade de levar a cabo por si só a luta contra o pablismo.

Em 3 de junho de 1952, a maioria do PCI pediu o reconhecimento de duas seções francesas da Quarta Internacional, permitindo assim à maioria levar a cabo sua própria política na França. Isto era uma violação clara dos estatutos de fundação da Quarta internacional e supunha a liquidação da Internacional como um organismo mundial disciplinado. O que era necessário era uma luta fracional internacional em cima da linha política da Quarta Internacional. Mas a maioria do PCI não estava disposta a subordinar seu trabalho na França à luta crucial a favor da legitimidade e continuidade da Quarta Internacional. A negação de Pablo a essa demanda conduziu diretamente ao racha da maioria do PCI.

O SWP entra na luta

O SWP se uniu à luta contra o revisionismo somente quando uma tendência pró-pablista, a ala de Clarke na fração Cochran-Clarke, surgiu no interior do partido norte-americano. Em sua resposta a Renard, com data de 29 de maio de 1952, Cannon havia dito:
Não vemos [nenhum tipo de tendência pró-stalinista] na direção internacional da Quarta Internacional, nem nenhum sinal ou sintoma disso. Não vemos nenhum revisionismo [nos documentos] (…) consideramos estes documentos como completamente trotskistas (…) é a opinião unânime dos dirigentes no SWP que os autores destes documentos têm feito um grande serviço ao movimento.
A história de que o SWP havia preparado algumas emendas aos documentos do Terceiro Congresso Mundial que Clarke (o representante do SWP na Internacional) havia queimado em vez de apresentá-los é possivelmente verdade, mas não muito significativa, dado que Cannon declarou sua lealdade política a Pablo no momento crucial e recusou solidariedade com a maioria anti-pablista do PCI.

Contra a defesa da fração Cochran-Clarke de um foco nos “companheiros de viagem” do PC, a maioria do SWP insistia em uma espécie de excepcionalismo norte-americano, opondo os partidos de massas europeus ao patético PC norte-americano, sem base operária e repleto de intelectuais de terceira categoria, mas em geral afirmou seu apoio à tática pablista de entrismo nos PCs.

Em resposta à ameaça de Cochran-Clarke, Cannon se dispôs a formar uma fração no SWP, ajudado pela direção local de Weiss em Los Angeles. Cannon buscava alinhar os velhos quadros do partido ao redor da questão de conciliação com o stalinismo e apelou aos sindicalistas do partido, como Dunne e Swabeck, fazendo uma analogia entre a necessidade de uma luta fracional no partido e a luta no meio da classe trabalhadora contra os reformistas e vendidos, como processos paralelos de luta fracional contra uma ideologia estranha. Disse ao pleno do SWP em maio de 1953:
Durante o curso do ano passado, tive sérias dúvidas sobre a possibilidade de SWP sobreviver (…) Pensei que nosso esforço de 25 anos (…) havia terminado em um fato catastrófico, e que, mais uma vez, um pequeno punhado teria que recolher os destroços e se empenhar de novo a construir os novos quadros de outro partido sobre os velhos fundamentos.” (Discurso de encerramento, 30 de maio)
Mas Cannon escolheu outro caminho. Em vez de perseverar na luta para onde quer que esta conduzisse, formou um bloco com o aparato de Dobbs-Kerry-Hansen frente às implicações organizacionalmente liquidacionistas da linha de Cochran-Clarke. Como preço por seu apoio, Cannon prometeu à administração rotineira e conservadora de Dobbs o controle do SWP sem mais ingerências de sua parte (“um novo regime no partido”).

A resposta do SWP ao encontrar a disputa da Internacional refletindo-se dentro da seção norteamericana foi aprofundar seu isolamento até um virulento anti-internacionalismo. O discurso de Cannon na reunião da maioria do SWP de 18 de maio de 1953 afirmava: “Não nos consideramos uma sucursal norteamericana de um negócio internacional que recebe ordens de um chefe” e culminava a discussão dizendo que “formaríamos, se fosse possível [!], uma linha comum”. Cannon negou a legitimidade da direção internacional e se referiu a “uma quanta gente em Paris” [o CEI]. Contrastou a Quarta Internacional com o Comintern de Lenin, que tinha poder estatal e uma direção cuja autoridade era reconhecida amplamente, e assim negava que a Quarta Internacional contemporânea poderia ser um organismo com centralismo democrático.

Cannon se opôs com atraso à conduta de Pablo contra a maioria francesa, mas somente sobre a questão organizativa, de acordo com a ideia de que a direção da Internacional não deveria intervir nos assuntos das seções nacionais. Escreveu:
“(…) Tivemos dúvidas ante as táticas usadas no recente conflito e racha na França e ante o precedente organizacional inconcebível que ali se estabeleceu. Esta é a razão por que demorou durante tanto tempo a minha resposta a Renard. Queria ajudar ao SI publicamente, mas não via como podia aprovar os passos organizacionais tomados contra a maioria de uma direção eleita. Finalmente resolvi o problema simplesmente ignorando essa parte da carta de Renard.” (“Carta a Tom”, 4 de junho de 1953)
A “Carta a Tom” também reiterava a posição de que o Terceiro Congresso Mundial não era revisionista.

Os defeitos cruciais na luta anti-pablista do PCI e do SWP foram devidamente utilizados pelos pablistas. O pleno do CEI criticou Cannon por seu conceito de Internacional como “uma união federativa”. Apontou que o SWP não se opusera nunca à política de entrismo pablista em princípio e acusava o SWP-PCI de um bloco sem princípios políticos sobre a China. Aproveitando-se da ortodoxia unilateral do SWP (a defesa de Hansen da formulação de um membro da maioria do SWP de que o stalinismo era “contra revolucionário de cabo a rabo”, uma caracterização que cabe somente à CIA) os pablistas foram capazes de vestir sua liquidação do programa trotskista independente com o manto de inocentes reafirmações das contradições do stalinismo como uma casta contra-revolucionária que repousa sobre formas de propriedade estabelecidas pela Revolução de Outubro.

O CI é fundado

Depois do racha de Cochran-Clarke, o SWP rompeu publicamente com Pablo de súbito. Em 16 de novembro de 1953, The Militant [o jornal do SWP] publicava “Uma Carta Aberta aos Trotskistas de Todo o Mundo”, que denunciava Cochran-Clarke e Pablo e se solidarizava tardiamente com a maioria do PCI, “injustamente expulsa”. As caracterizações anteriores do SWP do Terceiro Congresso Mundial como “completamente trotskista” necessitavam de uma tentativa, nesta chamada “Carta Aberta”, de localizar no tempo o surgimento do pablismo depois do Congresso, o que condenava o SWP a apresentar um caso pouco convincente, apoiando-se fundamentalmente em um ou dois panfletos da minoria pablista francesa de 1952. Aproximadamente nessa mesma época o SWP imprimiu seu documento “Contra o Revisionismo Pablista”, com data de novembro de 1953 e que continha uma análise mais competente da acomodação liquidacionista de Pablo ao stalinismo:
O conceito de que um Partido Comunista de massas tomará o caminho até o poder, necessitando somente de uma pressão suficiente das massas, é falso. Passa a responsabilidade das derrotas revolucionárias da direção às massas (…)

A classe operária se transforma [segundo as teorias de Pablo] em um grupo de pressão e os trotskistas, em um agrupamento de pressão a seu lado, que empurra uma seção da burocracia à revolução. Dessa maneira, a burocracia, de um dique e uma traidora da revolução, se transforma em uma força motora auxiliar dela.
Em 1954 se formou o “Comitê Internacional”. Incluía a maioria do PCI francês, o SWP norte-americano (fraternal) e o grupo de Healy (Burns) na Inglaterra. O último não jogou nenhum papel significativo ou independente na luta contra o revisionismo. O racha de Healy-Lawrence no Revolutionary Communist Party, que estava se desintegrando após a guerra, impulsionado pela perspectiva de fração de Healy-Lawrence de entrismo profundo no Partido Trabalhista britânico, havia sido respaldado pelo Secretariado Internacional de Pablo, que reconhecia duas seções na Inglaterra e lhes dava igual representação no Comitê Executivo Internacional. Healy era o “homem de Cannon” na Inglaterra e o SWP lhe havia apoiado consistentemente em suas disputas com o RCP. Quando o SWP se separou de Pablo, a fração Healy-Lawrence se dividiu, Healy se alinhou com o SWP e Lawrence com Pablo (Lawrence mais tarde passou ao stalinismo, assim como a minoria pablista do PCI). Apesar de ser parte do novo bloco internacional anti-pablista, o grupo de Healy continuou seu oportunismo arquipablista com relação ao Partido Trabalhista. Não teve nenhum peso no bloco do Comitê Internacional até que recrutou uma coluna impressionante de intelectuais e membros do PC nos sindicatos (muitos dos quais perdeu mais tarde), depois da Revolução Húngara em 1956, e isto lhe fez consideravelmente mais importante na esquerda britânica.

O Comitê Internacional também reivindicava possuir a adesão da seção chinesa (emigrados), que já havia sofrido uma divisão, e da pequena seção suíça.

O Comitê Internacional conseguiu imprimir um par de boletins internos no princípio de 1954, mas nunca se reuniu como um verdadeiro organismo internacional, nem nunca elegeu uma direção centralizada. A tática adotada pelo SWP era a de boicotar o Quarto Congresso Mundial, alegando que era simplesmente uma reunião da fração de Pablo, que não tinha nenhuma legitimidade como representante da Quarta Internacional.

O movimento mundial pagou um alto preço por essa fuga. Para citar um exemplo: o Ceilão (atual Sri Lanka). O LSSP ceilanês adotou uma posição não fracional sobre o pablismo, apelando ao SWP para que não se separasse e participasse do Quarto Congresso. Uma dura luta deveria ter sido agressivamente travada com os ceilaneses cheios de dúvidas, forçando uma polarização e forjando sólidos quadros através do enfrentamento. Em vez disso, os ceilaneses foram arrastados até Pablo. Uns sete anos mais tarde, a reputação revolucionária do trotskismo foi manchada aos olhos de militantes em todo o mundo pela entrada do LSSP no governo de coalizão burguês do Ceilão. Se houvesse sido travada uma dura luta antirrevisionista com sólidos princípios na seção do Ceilão de 1953, teria sido possível criar então uma sólida organização revolucionária que poderia ter reclamado para si de forma independente a continuidade do trotskismo, impedindo a associação do nome do trotskismo à traição do LSSP.

Assim, a luta antirevisionista foi deliberadamente não levada ao movimento mundial – o Comitê Internacional constituído principalmente daqueles grupos que já haviam tido suas rupturas em torno da aplicação da política de Pablo em seus próprios países – e a luta para derrotar o revisionismo e reconstruir a Quarta Internacional sobre as bases de um trotskismo autêntico foi abortada.

Do flerte à consumação

Em 1957, o Secretariado Internacional de Pablo e o SWP flertaram com uma possível reunificação (a correspondência de Hansen-Kolpe). A base nesse momento foi uma ortodoxia formal – a similaridade de linhas entre o SI e o SWP em resposta à Revolução Húngara de 1956. O SWP, esperando talvez ingenuamente, uma repetição da posição de Clarke em 1953 sobre a possibilidade de uma auto-liquidação das burocracias stalinistas, tendeu a receber conclusões formalmente trotskistas do SI sobre a Hungria, como se fossem boa coisa. Essas primeiras proposições de reunificação não avançaram devido à oposição dos grupos do Comitê Internacional ingleses e franceses, assim como às suspeitas de Cannon de que Pablo estaria manipulando. Havia-se colocado a questão simplesmente como um acordo empírico aparente sem examinar as diferenças passadas e a direção presente.

Quando a questão da reunificação, que se consumaria em 1963 com a formação do Secretariado Unificado, veio novamente à tona, o terreno político em sua totalidade havia mudado. O SI e o SWP convergiram com relação a Cuba. Mas, a base já não era uma convergência aparente, senão o abandono por parte do SWP do trotskismo para abraçar o revisionismo pablista (o qual o SWP, em sua linha de colaboração de classes sobre a guerra do Vietnã, supera agora em seu caminho até um reformismo descarado).

A base para a reunificação de 1963 foi um documento intitulado “Pela Total Reunificação do Movimento Trotskista Mundial – Declaração do Comitê Político do SWP”, de 1º de março de 1963. A chave da nova linha era a seção 13:
No caminho de uma revolução que comece com simples demandas democráticas e termine com a ruptura das relações de propriedade capitalistas, a guerra de guerrilhas conduzida por camponeses sem terra e forças semi-proletárias, sob uma direção que se vê forçada a levar a cabo a revolução até a conclusão, pode jogar um papel decisivo em precipitar a queda de um poder colonial e semi-colonial. Esta é uma das lições principais que se deve tirar da experiência desde a Segunda Guerra Mundial. Deve ser incorporada conscientemente na estratégia da construção de partidos marxistas revolucionários nos países coloniais.
No documento “Rumo ao Renascimento da Quarta Internacional”, de 12 de junho de 1963, a tendência Espartaquista contrapunha:
A experiência desde a Segunda Guerra Mundial tem demonstrado que a guerra de guerrilhas baseada nos camponeses sob uma direção pequeno burguesa não pode ir além de um regime burocrático antioperário. A criação de tais regimes tem sido possível sob condições de decadência do imperialismo, a desmoralização e desorientação causadas pela traição stalinista e a ausência de uma direção revolucionária marxista na classe operária. A revolução colonial pode ter um signo inequivocamente progressista somente sob uma direção do proletariado revolucionário. Para os trotskistas, incorporar à sua estratégia o revisionismo sobre a questão da direção proletária na revolução, é uma profunda negação do marxismo-leninismo, qualquer que seja o beato desejo expressado ao mesmo tempo de ‘construir partidos marxistas revolucionários nos países coloniais’. Os marxistas devem opor-se resolutamente a qualquer influência aventureirista da via ao socialismo através da guerra de guerrilha camponesa – análoga historicamente ao programa tático dos Socialistas-Revolucionários russos em contraposição ao que lutou Lenin. Esta alternativa seria um curso suicida para os socialistas do movimento e, talvez, fisicamente, para os mesmos aventureiros.
Ironicamente, a contínua evolução à direita do SWP leva-o agora a repudiar a linha da seção 13, mas pela direita. A preconização por parte do SU de luta armada pequeno burguesa era demasiado aventureirista para o legalístico SWP, que pretende converter-se no partido de massas do reformismo norte-americano.

Espartaquistas e a Quarta Internacional

Em sua luta por fundar a Quarta Internacional, Trotsky destacou repetidamente a imperiosa necessidade de uma organização revolucionária sobre uma base internacional. O isolamento nacional prolongado dentro de um país deve finalmente desorientar, deformar e destruir qualquer grupo revolucionário, por mais firme que seja subjetivamente. Somente uma colaboração internacional disciplinada e com princípios pode prover um equilíbrio às fortes pressões ao isolamento e o social chauvinismo gerados pela burguesia e seus agentes ideológicos no meio do movimento operário. Como Trotsky reconheceu, aqueles que negam a necessidade de um partido mundial centralizado democraticamente e fundado programaticamente, negam o mesmo conceito leninista de partido de vanguarda. A destruição da Quarta Internacional pelo revisionismo pablista, em paralelo com a fratura organizacional em numerosos blocos internacionais competidores, necessita de uma luta incessante pelo seu renascimento.

Nos dez anos de nossa história, a tendência Espartaquista tem enfrentado e resistido a importantes pressões objetivas ao abandono de uma perspectiva internacionalista: cortada a possibilidade de laços internacionais disciplinados como resultado do sectarismo organizativo e da degeneração política subsequente do Comitê Internacional de Gerry Healy, a Liga Espartaquista tem recusado a consentir passivamente com o isolamento nacional que nos havia sido imposto. Temos rechaçado enfaticamente o “internacionalismo” postiço que conseguia conexões internacionais ao preço de um pacto de não agressão federalista renunciando de antemão à luta por uma organização internacional disciplinada. Temos buscado o desenvolvimento de laços fraternais com grupos de outros países como parte de uma coerente tendência internacional, democrática-centralista baseada na unidade de princípios programáticos; o embrião de uma Quarta Internacional reconstruída.

A atual separação dos diversos blocos “trotskistas” internacionais provê agora uma melhor oportunidade para a intervenção da tendência Espartaquista no movimento mundial. Nossa história e nosso programa podem servir como um “guia” para correntes que agora estão em movimento até o trotskismo autêntico porque, apesar do isolamento nacional involuntário durante um certo tempo, mantivemos nossa determinação internacionalista e continuamos nossa luta de princípios contra o revisionismo.

Os destroços das pretensões revisionistas e centristas a uma organização internacional – a revelação de que o Secretariado Unificado, o Comitê Internacional, etc., não foram mais do que blocos federativos apodrecidos – combinado com o renascimento mundial da combatividade proletária no contexto da agudização de rivalidade interimperialista e a intensificação da profunda crise capitalista, nos provê uma oportunidade objetiva sem precedentes para a cristalização e o desenvolvimento da tendência Espartaquista internacionalmente. Enquanto os cadáveres políticos dos blocos revisionistas continuam corrompendo-se, a Quarta Internacional, o Partido Mundial da Revolução Socialista, deve renascer.

PELO RENASCIMENTO DA QUARTA INTERNACIONAL!
Devido à sua própria natureza o oportunismo é nacionalista, uma vez que ele se apóia nas necessidades locais e temporárias do proletariado, e não em suas tarefas históricas. Oportunistas encaram o controle internacional como sendo intolerável e reduzem seus laços internacionalistas a inofensivas formalidades (…) sob a condição de que cada grupo não impeça os outros de conduzirem uma política oportunista em relação à sua tarefa nacional (…). Unidade Internacional não é uma fachada decorativa para nós, mas o próprio eixo de nossas visões teóricas e de nossa política. Ao mesmo tempo, não há poucos ultra-esquerdistas (…) [que] travam uma batalha semi-consciente para dividir a Oposição de Esquerda em grupos nacionais independentes e para liberá-los do controle internacional.” (Leon Trotsky, “A Defesa da União Soviética e a Oposição”, 7 de setembro de 1929)

Defendemos não a democracia em geral, mas a democracia centralizada. É precisamente por este motivo que colocamos a direção nacional acima da direção regional e a direção internacional acima da nacional.
(Leon Trotsky, “Carta Aberta a Todos os Membros do Leninbund [fração de esquerda do PC alemão, expulsa em 1928], 6 de fevereiro de 1930)

Arquivo Histórico: Oportunismo e Empirismo

Oportunismo e Empirismo
Comitê Nacional da Socialist Labour League

[Escrito em 1963 por Cliff Slaughter e aprovado em 23 de março de 1963 pelo Comitê Nacional da Liga Trabalhista Socialista (SLL), então seção inglesa do Comitê Internacional, o documento a seguir representa uma polêmica com Joe Hansen, dirigente do Partido dos Trabalhadores Socialistas (SWP) dos Estados Unidos. Até então principal seção do Comitê Internacional, nesse ano o SWP rompeu com tal organização para se reunificar com os setores organizados no Secretariado Internacional da Quarta Internacional, originando assim o Secretariado Unificado. Apesar da séria falha em reconhecer que Cuba havia se tornado um Estado operário deformado, o documento apresenta um valioso debate metodológico contra o pragmatismo e o empirismo. Como importante crítica ao significado do Comitê Internacional nessa época, sugerimos a Declaração da Liga Espartaquista à III Conferência do Comitê InternacionalA versão aqui presente foi copiada do site do Movimento Negação da Negação, movimentonn.org.]

     “Apenas aprendendo a assimilar o resultado do desenvolvimento da filosofia nos últimos dois mil e quinhentos anos é que ela [a ciência econômica] estará apta a livrar-se, por um lado, de qualquer filosofia natural e isolada, estranha e externa a ela, assim como, por outro lado, do seu mesquinho método especulativo, herdado do empirismo inglês”.


       Nesta passagem fica claro como Engels considerava o empirismo umabarreira à concepção dialética de mundo. O discurso de Hansen sobre o “empirismo consistente” é absolutamente absurdo. A tese central do empirismo, a confiança nos “fatos conforme eles são percebidos”, é inconsistente.

      O empirismo — e seu irmão caçula do outro lado do Atlântico, o pragmatismo — recusa-se a admitir a possibilidade de responder à questão: “qual é a natureza do mundo exterior objetivamente existente?” Assim, eles abrem caminho para o idealismo subjetivo, que explica o mundo a partir da opinião individual. O empirismo, ignorando a história da filosofia, rejeita a teoria dialética do conhecimento, como se esta fosse “metafísica”. Apenas a visão materialista dialética pode explicar o mundo, porque ela inclui uma explicação materialista do desenvolvimento dos nossos conceitos, bem como do mundo material que eles refletem. O empirismo deve ser rejeitado e não tornado “consistente”. Há muitos aspectos nesse erro metodológico de Hansen.


Em seus últimos escritos, Trotsky advertiu a direção do SWP sobre a necessidade de realizarem um esforço teórico contra a filosofia “americana” do pragmatismo, o desenvolvimento mais recente do empirismo; se isto não fosse feito, afirmava Trotsky, não haveria um desenvolvimento real do marxismo nos EUA. Hoje, Hansen e Cannon estão “confirmando” as advertências de Trotsky de modo negativo. Nas discussões que dizem respeito ao futuro da IV Internacional, Hansen lidera a tendência que defende a “unificação” — em cima de um acordo político puramente prático nas tarefas mais imediatas — com uma tendência revisionista. Partindo desse ponto de vista, ele se nega a examinar a história da cisão [1] e as diferenças entre as tendências. Isso é apenas parte da substituição das análises científicas pelo impressionismo (veja Trotskyism Betrayede a resposta de C.S. ao artigoReport to the Plenum de J.H. [2], Boletim Internacional n°11). Qual é a base metodológica da posição de Hansen? A questão principal, para ele, é sempre “o que funcionará melhor?” — baseada na estreita visão das aparências políticas mais imediatas. Esse é o ponto central do pragmatismo, o desenvolvimento “americano” do empirismo realizado por Pierce, James e Dewey. Isso leva Hansen a defender a unidade com o grupo de Pablo, já que “funcionaria” melhor para atrair as pessoas que se aproximam da esquerda — mesmo que as causas da cisão nunca sejam esclarecidas. Conforme explicamos em documentos anteriores, tal proposta destrói a base teórica do movimento. Os conceitos e os métodos incorretos do nosso trabalho político só podem ser superados através do trabalho teórico e prático conscientes, e não os varrendo para debaixo do tapete.

O pragmatismo e a crise cubana

A carta de Cannon para Dobbs, na qual a crise cubana é resumida, poderia servir igualmente como modelo do método pragmático. Após uma vida inteira dedicada à luta pelo marxismo revolucionário, particularmente contra o stalinismo, ele nega sua trajetória toda em duas páginas com uma política que os patéticos ensaios “teóricos” de Hansen pretendem justificar: “O que mais ele poderia ter feito sob as circunstâncias dadas?” pergunta Cannon. E quais eram essas “circunstâncias dadas”?

“1. Foi estabelecido um bloqueio naval americano para chocar-se com os navios soviéticos, o que aumentaria a possibilidade de uma guerra nuclear. Kennedy afirmou claramente que os EUA não impediriam o uso de medidas ainda mais drásticas;

“2. O pentágono estava pronto para bombardear e invadir Cuba, esmagando a revolução. Os jornais relatavam que essa era uma ação que havia sido considerada desde o início, e que seria colocada em prática caso Moscou não recuasse em relação às suas bases de mísseis.”

Cannon substitui a análise do caráter de classe das forças sociais e das tendências políticas por preceitos pragmáticos. As então chamadas “circunstâncias dadas” (equivalentes aos “fatos” de Hansen) são oproduto da política de colaboração de classes de Khrushchev e da burocracia stalinista com o imperialismo americano. Nós devemos avaliar a conduta de Khrushchev como parte do processo que produziu tais circunstâncias. Apenas dessa forma os marxistas poderão compreender seu programa político em relação a outras tendências de classe.

Empirismo versus Política Revolucionária

A carta de Cannon sobre Cuba ilustra bem o caráter de classe do empirismo e do pragmatismo, aquelas tendências da filosofia que aceitam o “fato dado” etc. Essa aceitação se torna, inevitavelmente, o que Trotsky certa vez chamou de “culto do fato consumado”. Com efeito, isso significa aceitar formas de consciência adaptadas à estrutura existente, como a da burocracia soviética e do movimento sindical. Estes desenvolvem suas idéias como formas de racionalizar e justificar sua própria posição intermediária entre o capitalismo e a classe trabalhadora. A justificativa de Cannon sobre Khrushchev, assim como as recentes contribuições de Murry Weiss justificando a burocracia stalinista, bem como, ainda, a constante fuga das discussões, por parte do porta-voz do SWP e dos pablistas, a respeito da necessidade de uma revolução política e da construção de partidos revolucionários nos estados operários, são o abandono da política revolucionária principista, que é, por sua vez, a conseqüência da substituição do materialismo dialético pelo empirismo. A análise dialética consiste em ver os fatos no contexto de uma série de processos correlacionados, não como fatos acabados, entidades independentes sobre as quais as decisões “práticas” devem ser tomadas. Na esfera política, isso significa submeter cada situação ao desenvolvimento internacional da luta de classes, avaliar o programa das várias forças políticas existentes naquele momento com base em sua relação com as forças da luta de classes, além da sua relação com todo o movimento anterior. Por isso, é totalmente absurdo colocar o problema cubano como Cannon o coloca — “o que mais ele poderia ter feito sob as circunstâncias dadas?”. Considerando suas conseqüências lógicas, esse tipo de argumento poderia ser usado para justificar qualquer coisa. Não é nem mesmo surpreendente, uma vez que a amplitude deste afastamento teórico do marxismo é compreendida, que Cannon afirme um absurdo como “(…)aqueles que não foram afetados pela propaganda imperialista respiram, creio eu, aliviados com a situação e agradecem a Khrushchev por ter agido com base na razão. Bertrand Russell e Nehru se expressaram baseados nessa linha”. Quem poderia imaginar que, ao mesmo tempo, Nehru era o chefe de um governo envolvido em um conflito armado, com o apoio imperialista, contra a república da China? No decorrer desse conflito foram feitas prisões em massa de comunistas indianos. E, ao mesmo tempo, Khrushchev fornecia aviões de combate para o governo indiano! Sem dúvida, Nehru exaltou Khrushchev (assim como a Kennedy e a Macmillan) por essa amostra de “sabedoria” prática. Talvez Cannon perguntasse: “o que mais ele poderia ter feito sob as circunstâncias dadas?” O método de Cannon leva a esse fim não por uma artimanha do desenvolvimento lógico, mas porque as forças que ele defende estão, na realidade, amarradas ao imperialismo e suas necessidades atuais. O trotskismo não poderia estar imune às leis da história mais do que qualquer outra fase do desenvolvimento do marxismo ou do movimento operário. Uma vez que o movimento teórico cessa, ele se torna vítima das ideologias dominantes de seu tempo, por mais gradual e sutil que seja seu processo e por mais venerável que seja o “quadro”.

O método de Hansen

O documento Cuba — The Acid Test [3], de Hansen, é uma importante contribuição à discussão internacional. Ele deixa explicitas as basesempiristas e anti-dialéticas do método das tendências políticas oportunistas do SWP; bem como sua posição sem princípios e ahistórica na questão da unificação e do desenvolvimento do movimento trotskista mundial. Desde o começo da discussão, a SLL, descrita por Hansen como “os sectários ultra-esquerdistas”, insiste que as diferenças básicas de método fundamentam diferentes linhas políticas e ações para as organizações. Hansen agora confirma isso. Sua insistência sobre “os fatos”, como sendo os mesmos para o empirismo e para o marxismo, é efetivamente respondida por Lukács:

“Sem dúvida, esses fatos não estão apenas em constante mudança, mas também eles são — precisamente na estrutura de sua objetividade — os produtos de uma época historicamente determinada: o capitalismo. Consequentemente, essa ‘ciência’, que reconhece como fundamental ao seu valor enquanto tal o fenômeno imediatamente dado e o toma como ponto de partida para sua conceituação científica objetiva, essa ciência se encontra simples e definitivamente no terreno da sociedade capitalista, aceitando acriticamente sua essência, sua estrutura ‘objetiva’, suas leis, enquanto um fundamento inalterável da ciência. A fim de avançar desses ‘fatos’ para os fatos no real sentido do mundo, deve-se penetrar nas suas condições históricas como tais e abandonar o ponto de vista que parte deles enquanto imediatamente dados: eles devem ser submetidos à análise histórico-dialética…” (História e Consciência de Classe).

Como suporte à sua capitulação ao empirismo, Hansen cita o veredicto de Hegel:

“Genericamente falando, o empirismo encontra a verdade na aparência do mundo; mesmo isso permitindo um mundo supra-sensível, ele detém o conhecimento de que este mundo é impossível, restringindo-nos ao campo da percepção-sensitiva. Essa doutrina, quando sistematicamente desenvolvida, produz o que tem sido recentemente chamado de materialismo. O materialismo desse tipo considera a matéria, como matéria, como o genuíno mundo objetivo.” (A Lógica de Hegel, traduzido da Encyclopaedia of the Philosophical Sciences, p. 80).

A oposição de Hegel ao empirismo é correta em um sentido. Se “o empirismo sistematicamente desenvolvido” levasse ao materialismo dialético, como poderia Hegel, o Idealista Absoluto, figurar tão decisivamente no desenvolvimento do marxismo? O “materialismo” ao qual o empirismo leva, de acordo com Hegel, é evidentemente um materialismo mecânico, que permanece incapaz de explicar o papel da consciência e da unidade material do mundo, incluindo a ação e o pensamento humanos. A “deficiência de todo o materialismo até agora existente”, como diz Marx, significa que ele não pode ser tornado consistente e que abre a porta para o dualismo e para o idealismo subjetivo. Hegel superou a dicotomia entre o subjetivo e o objetivo introduzindo uma concepção unificada de um todo dialeticamente interconectado ao fazer do espírito a matéria de toda a realidade. Marx teve apenas que “colocá-lo de cabeça para cima” para chegar ao materialismo dialético. Foi dessa forma, na verdade, que o materialismo dialético se desenvolveu — através da contradição, e não através da fórmula lógica mecânica de Hansen de “empirismo sistematicamente desenvolvido”. A relação entre empirismo e materialismo dialético tem uma história, que mostra a luta do materialismo dialético contra os empiristas e seu desenvolvimento no positivismo e no pragmatismo. É contrário ao método do marxismo examinar o empirismo por seus “pontos fortes e fracos”. Como uma tendência filosófica, ele formou as bases mais sólidas para ataques pseudo-científicos ao materialismo desde a época de Marx, sendo que na política ele sempre representou a base filosófica do oportunismo.

Hansen evita esse tipo de discussão citando Hegel e procurando introduzir sua própria paráfrase de Hegel. Hegel disse que o desenvolvimento sistemático do empirismo resultou no “materialismo”, falando, naturalmente, do materialismo de seu próprio período. Nós devemos avaliar historicamente o que Hegel pretendeu dizer ao afirmar que o “desenvolvimento sistemático do empirismo” conduziu ao materialismo, e que este “considera a matéria, como matéria, como o genuíno mundo objetivo”. O materialismo vulgar daquela época tinha uma visão metafísica de mundo, considerando os fatos dados pela experiência como fixos, mortos, produtos acabados, que interagem segundo princípios mecânicos, com a mente refletindo essa realidade de modo mecânico e morto. Hansen, seguramente, tem de concordar que era esse o tipo de materialismo que Hegel ataca aqui. Hegel muito dificilmente teria considerado a teoria do materialismo dialético como produto do “desenvolvimento sistemático do empirismo”. O método de pensar do materialismo dialético nasceu apenas depois de Hegel, através de um esforço contrário ao idealismo dialético de Hegel. E ainda assim Hansen, com uma artimanha muito fraudulenta e grosseira, usa as citações de Hegel para identificar o “empirismo sistematicamente desenvolvido” com o materialismo dialético:

“Eu diria que ‘Lênin e outros’ não trazem de Hegel a oposição ao empirismo nos campos do idealismo e da religião. Por outro lado, o marxismo compartilha com Hegel a posição de que o empirismo vulgar é arbitrário, estreito e não dialético. Mas e o “empirismo sistematicamente desenvolvido”? Essa é a visão segundo a qual o ‘mundo objetivo genuíno’, o mundo material, tem primazia sobre o pensamento e onde uma relação dialética existe entre eles. O que é isso senão o materialismo dialético?”

“Fatos” são abstrações

A frase vital “onde uma relação dialética existe entre eles” (matéria e pensamento) é introduzida de forma externa por Hansen. . Ele salta todo o desenvolvimento do materialismo dialético passando por cima da escola hegeliana, para, para, assim, “colocar Hegel de cabeça para cima, ou melhor, de cabeça para baixo!” Todo o respeito que Hansen tem pelos “fatos” parece não tê-lo ajudado a prosseguir do simples “fato” de que as idéias têm uma história, que são parte do processo social-histórico, e que o materialismo vulgar da burguesia não pode ser sistematicamente desenvolvido até chegar ao materialismo dialético por uma mera canetada. Para alcançar tal resultado foram necessários muitos anos de luta, de conflito teórico e prático junto ao desenvolvimento da sociedade burguesa durante a primeira metade do século XIX.

Quando atacamos o empirismo, atacamos o método de análise que diz que todas as afirmações, para serem significativas, devem se referir a dados observáveis e mensuráveis na sua forma imediatamente dada. De acordo com esse método, qualquer conceito “abstrato” que reflita as implicações gerais e históricas desses “fatos” é insignificante. Ele negligencia completamente que os nossos conceitos gerais refletem as leis de desenvolvimento e a interconexão dos processos que esses “fatos” ajudam a construir. Na verdade, os assim chamados fatos da experiência concreta são, eles próprios, abstrações desse processo. Eles são o resultado da primeira aproximação de nossos cérebros com as inter-relações essenciais, leis do movimento, contradições do eternamente mutável e complexo mundo da matéria… do qual eles, os fatos, formam parte. Apenas elevadas abstrações, numa teoria superior, podem nos revelar os significados desses fatos. Aquilo que Lênin chama de “análise concreta de uma situação concreta” é o oposto do empirismo. Para ser concreta, a análise deve considerar os fatos dados em sua inter-conexão histórica e deve começar com as descobertas teóricas no estudo da sociedade, com a necessidade de fazer uma análise do caráter de classe de cada evento, de cada fenômeno. O empirista, que pretende restringir-se ao fundamento dos “fatos”, acaba apenas impondo aos “fatos” uma série de conexões cujas bases são ilusórias. Segundo Hansen e os pablistas, a nova realidade atual é uma lista de abstrações, como “a revolução colonial”, “o processo de desestalinização”, “forças que se movem à esquerda”, “pressão das massas” etc. Como todas as afirmações sobre fenômenos sociais, elas não têm significado algum, a menos que possuam um conteúdo declasse específico, que se refiram à luta de classes e à exploração, sendo esses, sim, o conteúdo de todo fenômeno social. Essa descoberta de Marx é o ponto teórico central esquecido por Hansen com todo o seu discurso sobre “os fatos”.

Empirismo: um método burguês

Todos esses argumentos de que “os fatos” são a realidade objetiva e que nós devemos “partir deles”, são, na verdade, uma preparação para justificar políticas de adaptação a lideranças alheias à classe trabalhadora.

O empirismo, já que “parte dos fatos”, nunca irá além deles e aceita o mundo como é. Esse método burguês de pensamento enxerga o mundo do ponto de vista do “indivíduo isolado na sociedade civil”.

Ao invés de colocar a situação objetiva como um problema a ser resolvido sob a luz da experiência histórica da classe trabalhadora, generalizada na teoria e prática do marxismo, o empirismo toma “os fatos” como eles são. Eles são produzidos sob circunstâncias que estão além do nosso controle.

O marxismo arma a vanguarda da classe trabalhadora em sua luta por uma ação do movimento operário independente da burguesia; o empirismo a adapta à situação existente — ao capitalismo e aos seus agentes no interior das organizações da classe trabalhadora.

“No começo foi a ação”, cita Hansen. Mas, para os marxistas, a ação não é uma adaptação cega aos “fatos”, mas sim o trabalho dirigido teoricamente para a ruptura da classe trabalhadora com as lideranças pequeno-burguesas. A proposta de “unir-se na ação” orientada por essas direções, na busca meramente por “ajudar a construir um partido socialista revolucionário durante o próprio processo da revolução” é a renúncia ao marxismo e a abdicação à responsabilidade em favor da pequena-burguesia.

Hansen diz:

“Se podemos expressar nossa opinião, é exagero dizer que alguém um se encontra “prostrado diante de líderes nacionalistas e pequeno-burgueses de Cuba e da Argélia” pelo simples fato de se recusar a seguir a idéia do Comitê Nacional da SLL segundo a qual um trotskista pode livrar-se de qualquer responsabilidade futura ao colocar a etiqueta de “traição” em tudo o que esses líderes fazem. É um erro de primeira ordem acreditar que o nacionalismo pequeno-burguês não possui nenhuma diferenciação ou contradição interna e não pode, possivelmente, ser afetado pelas forças de massa que o empurram para frente.”

Em primeiro lugar, ninguém disse que não há nenhuma diferenciação dentro do movimento nacionalista pequeno-burguês ou que ele permanece intacto às pressões de massa. Quem é que negou isso? O que está em questão é o método com que esse “fato” é analisado e qual a conseqüência disso para a construção de partidos revolucionários independentes que possam liderar a luta da classe trabalhadora. Hansen e os pablistas, de outro modo, usam o “fato” dessas mudanças à “esquerda” para justificar a capitulação a essas forças. Poderíamos considerar essa questão isolada das diferenças sobre método e filosofia? Certamente não: a análise marxista de toda a época moderna estabeleceu que direções políticas que representam camadas sociais alheias à classe trabalhadora podem ir apenas até certo ponto na luta contra o imperialismo. Os limites objetivos da sua revolução podem até mesmo, eventualmente, leva-los a virar-se contra a classe trabalhadora, cujas reivindicações são independentes e correspondem à revolução socialista internacional. Apenas o caminho da construção de partidos independentes da classe trabalhadora, com o objetivo de estabelecer a ditadura do proletariado, baseado no programa da Revolução Permanente, pode evitar que cada revolução nacional se transforme numa nova forma de estabilização do imperialismo mundial. A luta para criar partidos como esses é uma luta contra tendências oportunistas e contra-revolucionárias dentro do movimento, principalmente contra o Stalinismo, que submete a classe trabalhadora aos nacionalistas, burgueses e pequeno-burgueses na base da teoria das “duas etapas”, que se assemelha mais à linha da burocracia stalinista de um entendimento internacional com o imperialismo. Seguindo os “fatos” estabelecidos através das lutas e do trabalho teórico de Lênin, Trotsky e outros, é que nós avaliamos as posturas e ações das tendências políticas de hoje, e não considerando estas como fatos “em si mesmos” ou como “circunstâncias dadas” à laHansene J.P. Cannon.

É necessária uma análise de classe

Hansen e a direção do SWP analisam toda a situação internacional a partir dessa visão empirista e não-marxista. Hansen queixa-se de que a SLL ignora os fatos e recusa-se a analisar a “nova realidade”, uma vez que ela não se encaixa nas prescrições de Lênin e Trotsky. Pelo contrário, os camaradas na SLL iniciaram uma análise da real base de classe oculta na superfície dos “fatos” da situação atual. Hansen se satisfaz em listar as “poderosas forças da revolução colonial e do processo inter-relacionado de desestalinização”. Nós publicamos diversos artigos (ver Labour Review [4], 1961 e 1962, artigos escritos por Baker, Kemp, Jeffries, e a resolução Perspectiva Mundial para o Socialismo) que contêm uma análise do conteúdo de classe e da relação desses dois processos (lutas nos países coloniais e crise no stalinismo) com a revolução internacional da classe trabalhadora contra o imperialismo. Nós tentamos encontrar qualquer tentativa como esta nas publicações do SWP ou dos pablistas. Somente encontramos um exame das tendências mais positivas ou progressistas dentro dos movimentos nacionalistas e stalinistas. Isso significa que eles se baseiam em “fatos” de superfície, como os pronunciamentos de líderes stalinistas russos ou chineses, atribuindo-lhes valores positivos ou negativos. Germain [5], por exemplo, assumiu uma posição totalmente estranha a uma Internacional revolucionária. Segundo ele, existiriam “pedaços” do programa trotsquista de forma “fragmentada” em vários partidos comunistas do mundo, desde a Iugoslávia, com seus comitês de fábrica, e mesmo na Itália, Rússia e China, como até Albânia, com sua insistência nos direitos dos pequenos partidos! Não há dúvidas de que isso é um ótimo exemplo de empirismo sistematicamente desenvolvido. Seria interessante perguntar às minorias, digamos, do Partido Comunista Albanês, quais as conseqüências “pragmáticas” que esse “empirismo sistemático” trouxe a eles! (Ver também o “apoio crítico” às várias alas do stalinismo na Resolução do SI [6] no 22º Congresso).

Evian foi uma vitória?

Voltemos à resposta de Hansen. É muito interessante que a Argélia já esteja afastada quase por completo do seu argumento. Isso acontece porque a acusação da SLL sobre “prostração” diante dos líderes nacionalistas é melhor exemplificada aqui.

Em documentos anteriores, Hansen ridicularizava as condenações da SLL referentes ao acordo de Evian, entre o governo argelino e o imperialismo francês. Nós dissemos que isso significava vender o movimento. Hansen disse que cometemos um erro ultra-esquerdista, argumentando que, pelo menos, o acordo de Evian incluiu a independência nacional e, por isso, deveria ser considerado como uma vitória. Nós realizamos uma análise de classe que foi confirmada pelo acordo feito entre a direção da FLN (Frente de Libertação Nacional) e o imperialismo francês, acordo que evitou que o povo argelino chegasse à vitória através de suas próprias reivindicações revolucionárias. Aqueles que apoiaram a “vitória” e especularam sobre a possibilidade de Ben Bella continuar na mesma direção que Fidel Castro apenas ajudaram Ben Bella a iludir as massas, enfraquecendo as energias dos socialistas através de alianças com a burguesia — ao invés de trabalhar pela construção de um partido revolucionário independente. Nós caracterizamos isso como uma forma bem conhecida de oportunismo e agora dizemos que, dessa maneira, ao invés de assumirem a responsabilidade de marxistas revolucionários, de construir partidos da classe trabalhadora, os pablistas e o SWP se unem para preparar derrotas para os trabalhadores da Argélia.  O próprio Pablo trabalha, ele mesmo, no governo argelino como um funcionário técnico e capacitado. Por si só esse fato poderia ou não significar algo. Mas o que importa é a sua linha política e a de sua organização. Não resta a menor dúvida de que essa linha política não colocará em risco sua posição na administração (o que não significa dizer, absolutamente, que ele não possa ser demitido). Os artigos de Hansen no The Militant [7] e a campanha dos pablistas em “apoio à revolução argelina” estão restritos a um apelo por ajuda os pobres duramente atingidos pela herança do imperialismo francês. Ao invés de realizar uma campanha no movimento operário, o que eles fazem é um apelo humanitário. Pablo e seus amigos sempre defenderam o envio de técnicos e administradores voluntários à Argélia para servirem no governo de Ben Bella, a fim de se contrapor à possível influência reacionária dos funcionários e das forças humanitárias francesa e americana. Dessa forma, serão criadas as condições “objetivas” movendo Ben Bella à esquerda e afastando-o da direita. No decorrer disso, o Partido Comunista Argelino foi banido, um novo programa de ajuda humanitária do governo francês foi anunciado e a camarilha de Ben Bella assumiu o controle direto dos sindicatos. Enquanto isso, Ben Bella encena acabar com a farra dos “puxa-sacos” e toma a “firme” posição de fechar um acordo com os franceses, para que estes explodam suas bombas bem longe dali, no extremo sul do Sahara. Não estariam, esses “trotsquistas” sendo coniventes com a retirada de todos os direitos democráticos da classe trabalhadora, enquanto o líder nacionalista realiza medidas de “esquerda em nome” das massas? Não seria essa uma atitude de prostração diante da burguesia nacional? Onde no mundo já se viu prostração maior? Hansen alega que “todo mundo sabe” que precisamos de partidos revolucionários, a única diferença está no modo de construí-lo. Mas, na prática, os pablistas não estão trabalhando pela construção de partidos revolucionários. Na verdade, eles fogem a necessidade dessa construção. Se desenvolvimentos objetivos na “nova” realidade empurrarão inevitavelmente os nacionalistas pequeno-burgueses ao marxismo revolucionário, talvez o papel dos trotsquistas seja apenas o de encorajar essas “forças objetivas”.

Pierre Frank, líder proeminente do grupo de Pablo, visitou recentemente a Argélia e relatou suas observações no The Internationalist(suplemento do Quatrième Internationale, Nº 17, 17 de fev. de 1963). É de suma importância comentar o significado das seguintes passagens:

“Mesmo que o governo seja composto de elementos políticos e sociais variados, o núcleo central, núcleo decisivo encontrado atualmente no Bureau Político da FLN (Frente de Libertação Nacional) é, entretanto, baseado nas massas mais empobrecidas da cidade e do interior do país. Essa é sua força principal. Mas ele não pode conduzir automaticamente a uma extensiva nacionalização da estrutura econômica sem correr o risco de produzir conseqüências catastróficas. É preciso permitir, durante alguns anos, o desenvolvimento das forças burguesas, comprometer-se em certas esferas com o capital estrangeiro e criar apoio nas cidades e no interior do país como forma a passar, mais tarde, à construção de uma sociedade socialista. Isso não será feito sem crises ou sem desenvolvimentos nacionais e internacionais, que entrarão em choque com essa difícil orientação.
“Para concluir: tudo está em movimento. Isso é um experimento, é uma luta que deve ser apoiada em todo o mundo, mas que exige a determinação constante das ações para que o desenvolvimento das várias forças que atuam na área possa ser estimado. Nesse sentido, nós podemos contribuir com essa nova experiência revolucionária em todos os seus momentos, suas dificuldades e suas potencialidades, e em ajudá-la a ser conduzida rumo a um resultado socialista.”

No nível metodológico, isso ilustra as conseqüências extremas de uma atitude “contemplativa” ao invés de uma atitude “prático-revolucionária”. Para a primeira, o reconhecimento empirista das “circunstâncias dadas”, “dos fatos”, é o ponto de partida natural (e ponto final). No nível político, isso ilustra a capitulação às forças e às formas existentes de consciência no movimento político, conduzindo, por fim, ao apoio aos servos do imperialismo — tudo isso é o resultado do abandono do método dialético.

Quem corrigiu o erro de quem?

Hansen diz que estávamos retornando às diferenças originais de 1953, ao invés de demonstrar que, na verdade, as revisões pablistas daquele ano resultarm do rumo oportunista da “Internacional” Pablista. O fato de Hansen aceitar a atual posição dos pablistas na Argélia não faz com que essa posição deixe de ser oportunista. Em todo o caso, Hansen deve responder nossa questão (ver réplica do C.S. ao artigo de HansenReport to the Plenum, no Boletim Internacional Nº 11) ligada a esse assunto da “correção de erros”. Ele defende a unificação dizendo que os pablistas corrigiram seus erros de 1953. Mas o comitê executivo pablista insiste que a unificação é possível pela razão oposta — o SWP teria superado seus erros a tempo de “entender” o programa de Pablo (Declaração a respeito da Reunificação do Movimento Trotsquista Mundial, 23/24 de Junho de 1962).

Temos chamado atenção à atual política dos pablistas também nos países desenvolvidos. Hansen considera que nossas críticas resultam da essencialização de afirmações isoladas feitas pelas seções pablistas; “Nem mesmo os panfletos lançados por esse grupo de camaradas (o grupo de Pablo) nesta ou naquela situação específica escapam dos detetives. Uma frase tirada de um panfleto distribuído na fábrica da Renault, em Paris, em defesa de Cuba e contra o imperialismo dos EUA, vai parar na capa do The Newsletter [8], em Londres, de tão desesperados que estavam os dirigentes da SLL em encontrar evidencias de revisionismo no SI.” (Cuba — The Acid Test, p. 30).

Em primeiro lugar, nossa réplica ao último Report to the Plenum de Hansen sobre a unificação (Boletim Internacional Nº 11) discorre sobre o material pablista a respeito das mais importantes questões políticas da atualidade, portanto é um absurdo afirmar que a SLL não fez nenhuma crítica geral. Se Hansen escreveu Cuba — The Acid Test antes de ler essa réplica, é provável que, agora, ele defenda os pablistas contra o que escrevemos. Segundo: o que há de errado em examinar os panfletos lançados pelas seções pablistas? É precisamente a forma como as políticas se desenvolvem no trabalho das seções que ilustra mais claramente suas diferenças de método. Com certeza a seção de Paris é um bom exemplo de uma seção pablista — o centro nervoso da “Internacional” Pablista se encontra lá. Seria o caso da fábrica da Renault apenas “uma ou outra situação específica”? A Renault representa uma concentração vital de trabalhadores franceses. O SWP, quando tornou pública a sua cisão com Pablo, não realizou um ataque sistemático a um panfleto lançado na fábrica da Renault em 1953? Em terceiro lugar, se Hansen afirma que a passagem criticada pelo jornalThe Newsletter estava fora de contexto, por que ele não esclarece o contexto e explicita nossa distorção metodológica? Ele não faz isso porque não pode fazer isso; a passagem referida coloca uma ação solidária da classe trabalhadora internacional no mesmo nível da “ajuda” dada pela burocracia stalinista. Hansen prefere não considerar uma única palavra, nem do panfleto nem da crítica do The Newsletter!

(Omitimos aqui uma breve referência à seção italiana do SI, pelo fato de estar baseada na tradução de um artigo de seu jornal, ao qual não tivemos acesso)

Cuba e Espanha

A maior parte do ataque de Hansen aos “ultra-esquerdistas sectários” se baseia na atitude da SLL em relação a Cuba. Hansen começa seu documento tentando fazer um amálgama entre a SLL e de seus apoiadores do CI, por um lado, e o grupo de Posadas que rompeu com o SI, por outro. Hansen sabe que essas são duas tendências absolutamente separadas e distintas. Ele não faz avaliação alguma, qualquer que seja, sobre seus conteúdos políticos ou sobre a evolução de suas posições presentes. Ambas se opõem à “unificação”, portanto, ele conclui, devem estar respondendo às mesmas forças sociais e devem ser essencialmente similares. Aqui, novamente, temos uma ótima ilustração do método do pragmatismo. As relações objetivas entre essas tendências, sua história e suas respostas aos principais problemas políticos são ignoradas. Identificá-las como sabotadoras da unificação, como “correntes ultra-esquerdistas”, é muito conveniente, “funciona” muito bem. Hansen observa que o grupo de Posadas considera em seu programa a possibilidade de uma guerra nuclear contra o capitalismo. Conjuntamente a isso é afirmado o fato de a SLL se opor a caracterizar Cuba como um Estado Operário. Mas Posadas, diz Hansen, por outro lado, deve concordar que Cuba é um Estado Operário, pois seria “morte política”, na América Latina, pensar de outra forma. As diferenças, para Hansen, portanto, devem então ser explicadas geograficamente. Politicamente o grupo de Posadas e a SLL são a mesma coisa — sectários ultra-esquerdistas que têm medo da unificação. Mas como isso pode ser explicado? Hansen não é claro: a direção das principais correntes do trotskismo (a liderança do SWP e o SI pablista) que rumam para a unificação vem das “poderosas forças da revolução colonial e dos processos inter-relacionados de desestalinização”.

“O movimento trotskista também não escapou de seu abalo. A vitória chinesa, a desestalinização e a insurreição húngara se refletiram em ambas as organizações ultra-esquerdistas e capitulacionistas, assim como, por outro lado, fortaleceram as principais correntes trotskistas. O que nós temos realmente testemunhado em nosso movimento são diversos testes — e o quão bem têm respondido os diversos agrupamentos trotskistas e similares à série de eventos revolucionários que culminaram na mais importante ocorrência no hemisfério ocidental desde a Guerra Civil Americana. O movimento pela unificação, assim como a resistência a ele, não são mais do que as conseqüências lógicas resultantes da leitura da realidade, sobretudo daqueles que passaram pela prova de fogo das poderosas ações cubanas.”

Onde se encontra a explicação? Dois pontos de vista opostos são “explicados” aqui como sendo a mesma coisa. Como sendo apenas dois diferentes resultados “lógicos” dos mesmos eventos. Algo poderia ilustrar mais claramente as conseqüências absurdas de se recusar a lidar com a história das controvérsias e das cisões e, ainda, tentar estabelecer suas bases sobre a teoria e o método? Hansen achou ser mais “prático” produzir, com um truque de mágica, uma identificação entre as posições do seu oponente, a SLL, e as do grupo de Posadas.

A observação dos camaradas franceses, anexada a esta resposta, levanta pontos semelhantes sobre os resultados demagógicos desses métodos de discussão. Como eles apontam, seu documento sobre Cuba também é atacado por Hansen, mas não foi apresentado aos membros do partido dele. Eles ainda indicam corretamente a falta de princípios do argumento seguinte: ninguém que atua na América Latina concordaria com a caracterização de Cuba feita pela SLL; portanto, a posição deles é suspeita e mostra o quão estúpidos e sectários eles são. Conforme observam os camaradas franceses, as “opiniões” das pessoas soviéticas e espanholas também foram constantemente usadas contra a caracterização de Trotsky a respeito do estado e das facções dominantes em ambos os países. Além disso, eles comentam as piadas feitas por Hansen das observações que fizeram em um documento anterior, onde falavam do “fantasma” de um estado burguês em Cuba. O que Hansen deve fazer é explicar o porquê de tal conceito ser motivo de piada, e de que forma ele acha que isso parte do tipo de análise feita por Trotsky a respeito das forças de classe na Espanha em 1936-1937. Hansen esqueceu-se, ou decidiu não lembrar seus leitores, do conceito levantado por Trotsky àquela época, sobre uma “aliança com a sombra da burguesia”. Talvez ele conheça algumas boas piadas sobre isso também.

Seria desnecessário acompanhar todos os passos do documento de Hansen dessa forma. Todo o seu método é de argumentar sobre incidentes e impressões, combinados com as mais vagas generalizações como “força da revolução colonial” e “processos inter-relacionados de desestalinização”.

Nossos documentos sobre Cuba

Na questão propriamente sobre Cuba, Hansen não traz novos argumentos à discussão nem novos fatos acerca do regime. Não vemos nenhuma necessidade de responder detalhadamente à caricatura feita por Hansen de nossos documentos sobre Cuba no The Newsletter,antes e durante o bloqueio de Novembro-Outubro de 1962. Hansen se preocupa demasiadamente com os artigos do The Newsletter: nós assumimos toda a responsabilidade por tudo o que foi escrito em nosso jornal, mas também apontamos que Hansen estava na Europa durante a crise. Ele e o correspondente do The Militant em Londres não fizeram o menor esforço em informar-se sobre a campanha que estava sendo conduzida pela SLL nesse período. Hansen diz corretamente que havia diversas manifestações contrárias ao bloqueio — e ele as contrasta com o “provinciano” Newsletter! Isso é uma calúnia. Os membros da SLL estiveram à frente de todas as manifestações. Eles estimularam e lideraram muitas delas. Os primeiros encontros e manifestações de massa na Inglaterra foram liderados e realizados por nossos membros. Ninguém, exceto a SLL, organizou manifestações em porta de fábrica contra o bloqueio. Nossos camaradas ainda lutaram com unhas e dentes para levar os protestos principalmente ao movimento operário e às fábricas. Eles tiveram de lutar com afinco contra a direita e o stalinismo para conseguir isso. Eles lideraram essas manifestações contra o imperialismo e em defesa da revolução cubana, ao mesmo tempo em que educavam os estudantes e os trabalhadores sobre o papel da burocracia soviética. Eles explicaram as causas das políticas contraditórias de Khrushchev, ao invés de apoiar Russell e os pacifistas na glorificação de sua “brilhante” diplomacia. Para tanto, tiveram de lutar contra o stalinismo, uma luta que ganhou o apoio de diversos membros do Partido Comunista. Isso não poderia ter sido feito sem que se treinasse a SLL no espírito dos métodos de trabalho do comunismo revolucionário contra o revisionismo. Quão bem nossos camaradas teriam atuado se estivessem armados com a herança do pablismo — “a nova situação restringe mais e mais a capacidade da burocracia em assumir posições contra-revolucionárias” — ou com a apologia de Cannon: “o que mais ele poderia ter feito sob as circunstâncias dadas?” ou, ainda, se tivessem chamado Nehru e Russel para apóiá-los, uma vez que estes estão “intactos à propaganda imperialista”? Nós nos orgulhamos de nossas posições diante dos acontecimentos cubanos do Outono passado, e nos envergonhamos da identificação do “trotskismo” com a capitulação de Cannon e dos pablistas à burocracia soviética. As longas citações do The Newsletter por Hansen são, na verdade, somente uma forma de mascarar sua capitulação.

Normas abstratas

O caso de Hansen é basicamente o mesmo de Pablo em 1953. As forças “objetivas” que pressionam em direção ao Socialismo teriam tornado impossível a traição da burocracia soviética e, ao mesmo tempo, estariam pressionando os agrupamentos pequeno-burgueses a adotarem um caminho revolucionário. Já vimos acima como na Argélia isso simplesmente significava convidar marxistas para contribuir com as forças “objetivas” que empurrariam Ben Bella e seu governo nacionalista para a esquerda. Apesar de toda a fraseologia sobre firmeza contra o imperialismo, que supostamente implicaria em chamar Cuba de “Estado Operário”, a atual defesa da Revolução Cubana pelo SWP e pelos pablistas foi incapaz até mesmo de separá-los da burocracia contra-revolucionária de Khrushchev!Essaé uma das coisas que queremos dizer quando falamos que Hansen não está analisando Cuba do ponto da vista do desenvolvimento internacional da luta de classes, mas pela aplicação de normas abstratas a casos isolados.

Hansen levanta a questão da definição do estado cubano ao relacioná-la à história de tal discussão dentro do movimento trotskista. A análise de tal debate é certamente uma parte vital da resposta marxista ao problema apresentado por Cuba hoje, mas isso deve se dar por uma linha diferente da adotada por Hansen. Ele tenta ridicularizar a posição do Comitê Nacional da SLL, segundo o qual não se pode transportar de forma abstrata a definição da URSS feita por Trotsky para o atual sistema econômico e político de Cuba. Ele diz que assim nós “desfazemos a conexão” entre a discussão do presente e a do passado.

Hansen chega até a dizer que nós excluímos a definição de Trotsky da URSS “declarando que ela não tem nenhuma relevância para a discussão cubana”. Seria isso a mesma coisa que dizer que a questão do estado Cubano não pode ser resolvida abstratamente por um “critério” da discussão anterior? É sempre mais fácil acabar com seu oponente se você reescreve os argumentos dele com suas próprias palavras. O verdadeiro objetivo de uma análise histórica do desenvolvimento de nossos conceitos é o de estabelecer o caminho em que eles se desenvolvem cientificamente quando refletem o mundo objetivo. Assim como as definições de Trotsky sobre a URSS foram elaboradas com base nas condições que se modificavam na URSS e no mundo — de lutas contra tendências revisionistas e pela construção de uma nova Internacional — também os fios históricos da discussão devem ser vistos hoje como parte da luta pela construção de uma Internacional revolucionária capaz de levar a classe operária ao poder. Toda a linha política das diferentes tendências do movimento trotskista a esse respeito deve ser objeto de análise e discussão. O que parece uma análise “histórica” recebe, das mãos de Hansen, o tratamento mais estático e ahistórico.

Lideranças pequeno-burguesas e a classe trabalhadora

Por exemplo, ele critica o texto Trotskyism Betrayed por não fazer a caracterização da burocracia stalinista como sendo uma burocraciapequeno-burguesa. Há uma motivação específica na insistência de Hansen neste ponto: “o que era novo nessa situação — e esse é o ponto central da posição de Trotsky em relação a isso — era que uma organização reacionária pequeno-burguesa dessa espécie, depois de uma contra-revolução política, poderia exercer o poder num Estado Operário e até mesmo defender as bases desse estado caso estivesse em primeiro plano a preocupação com seus próprios interesses particulares”. Segue-se então que, sob certas circunstâncias, as organizações pequeno-burguesas seriam forçadas a liderar as revoluções de trabalhadores e camponeses e a abolir o estado capitalista. Hansen diz: os líderes da SLL aceitaram isso para a Europa do Leste e a China, por que não para Cuba? (eles deveriam estar mais propensos a isso, sugere ele, uma vez que a “liderança cubana é em todos os aspectos superior à chinesa”). Nós vemos, agora, o que Hansen quer dizer com “continuidade” da discussão. Trotsky viu que uma burocracia pequeno-burguesa poderia conduzir e até mesmo “defender” um Estado Operário. Após a II Guerra Mundial, inclusive, essa burocracia pequeno-burguesa poderia até mesmo tomar a liderança da revolução e estabelecer um novo “Estado Operário deformado”. Então por que a SLL deveria excluir Cuba da noção de que lideranças pequeno-burguesas poderiam estabelecer estados operários? Aí se encontra todo o jogo de Hansen com a “história da discussão”. Ele escolhe um aspecto da história, como a caracterização de certos grupos sociais como pequeno-burgueses. Esse aspecto é selecionado por ser o essencial para a justificação de seu atual direcionamento político. Mas é, na verdade, absolutamente essencial que a caracterização de “pequeno-burguês” seja muito precisa. Essa classe é frequentemente caracterizada como intermediária entre as principais classes da sociedade, burgueses e proletários. Seus vários representantes refletem essa posição intermediária, dependente e instável. Eles não são capazes de ter uma linha de atuação política independente e consistente. Somente se o intelectual pequeno-burguês se alia ao proletariado, nas palavras de Marx, ele poderá alcançar independência e consistência tanto teórica quanto política. A burocracia do movimento operário era frequentemente caracterizada por Lênin e Trotsky como pequeno-burguesa, graças à sua forma de vida, sua aproximação dos padrões e aceitação da ideologia da classe média, o que transformava, nas condições especiais dos países ricos imperialistas, seu próprio modo de vida e sua função social na de classe média. Nos países imperialistas, portanto, eles formam uma “nova casta média” da sociedade. Na URSS, o grupo dominante da burocracia consiste nos elementos listados por Hansen — “um reflexo do campesinato, os remanescentes das velhas classes, aqueles elementos que trocaram a lealdade ao czar pela lealdade ao novo regime — todos estes e os níveis administrativos político-militares do novo governo, que, juntamente, sob pressão do ocidente capitalista, afastaram-se da posição do socialismo revolucionário, ou se destacaram sem nem mesmo terem compreendido esta posição.”

O termo pequeno-burguês não é suficiente para caracterizar essa burocracia para o propósito da presente (e qualquer outra) discussão. Um setor decisivo da burocracia soviética foi a facção stalinista no controle do partido bolchevique e do estado soviético. A relação histórica entre esse partido, esse Estado e a classe operária soviética deu um caráter específico à burocracia. Não é simplesmente uma questão de relação entre a velha classe média e a nova elite governante. A existência de relações de propriedade nacionalizadas estabelecidas pela revolução socialista, com o partido bolchevique no poder, originou historicamente um extrato pequeno-burguês na direção do primeiro Estado Operário, um grupo que representava, como Trotsky analisou cuidadosamente, não as leis gerais do desenvolvimento das classes na transição do capitalismo para o socialismo, mas uma refração particular e única a essas leis na condição de um Estado Operário atrasado e isolado. Levando adiante essa “capacidade” dos pequeno-burgueses, enquanto pequeno-burgueses, de defender e mesmo encabeçar Estados Operários, Hansen e companhia fazem precisamente aquilo que Trotsky combateu na discussão. Nossos camaradas franceses estão certíssimos em insistir que a avaliação histórica dessa discussão no movimento trotskista dura mais do que um dia de trabalho, e que a pré-condição para qualquer resultado útil terá de ser um cuidado muito mais sério e científico com os conceitos marxistas, muito mais do que Hansen tem demonstrado com sua identificação simplista entre a “formação pequeno-burguesa” da burocracia no primeiro Estado Operário com a liderança pequeno-burguesa do movimento 26 de Julho de Cuba.

Hansen e a Revolução Permanente

Nos próximos meses as seções francesa e inglesa do CI publicarão contribuições acerca da historia da discussão dos “Estados Operários”. Enquanto isso, nos ateremos à discussão do método de Hansen, particularmente em relação a Cuba. Nada do que Hansen diz em Cuba — The Acid Test responde ao nosso principal argumento exposto na seção sobre Cuba do Trotskyism Betrayed. Mas, antes de observarmos os pontos específicos do documento de Hansen, é necessário afirmar a posição geral da qual acreditamos que os marxistas devem partir. O motivo para fazermos isso é que Hansen nos acusa de tratarmos Cuba somente como uma “exceção”, e de não vermos continuidade entre a discussão do passado e a do presente sobre o caráter do Estado. Fidel Castro despontou como o líder do partido nacionalista pequeno-burguês. Seu partido liderou uma revolução e foi capaz de tomar o poder em Cuba. Como isto foi possível? Qual a importância deste fato?

Na revolução russa, a pequena-burguesia (a “democracia”) não pôde, resolutamente, segurar o poder em suas próprias mãos e muito menos “manter-se” no poder, por causa da força do proletariado e seus aliados camponeses naquele momento. Dada sua liderança revolucionária, a classe trabalhadora provou ser capaz de derrubar a “democracia” e chegar ao poder. Esse poder, na visão de Lênin e Trotsky, representava o início da revolução mundial. O poder nesse país atrasado era considerado por eles como algo a ser defendido “até que os trabalhadores da Europa Ocidental viessem ajudá-los”.

Nisso consistem as idéias fundamentais da “Revolução Permanente”. Aqueles países que chegaram ao estágio da revolução democráticatardiamente não podem realizar essa revolução sob a liderança da burguesia. Os porta-vozes dos partidos pequeno-burgueses são incapazes de um desenvolvimento independente. Suas relações com o capital internacional e o seu medo do proletariado tornam sua tarefa impossível, logo eles correrão para a proteção da reação. O proletariado é a única classe que pode realizar as tarefas da revolução democrático-burguesa. Mas, no curso de suas ações revolucionárias e da criação de seus próprios organismos de luta, o proletariado desenvolve suas reivindicações independentes. Do primeiro estágio da revolução há uma rápida transição para o poder operário. A condição para a manutenção e o desenvolvimento desse poder e sua base social é a revolução socialista mundial.

A pequena-burguesia na luta anti-imperialista

As nações lançadas à luta contra o imperialismo recobrem, agora, todo o globo. A composição de classe dessas nações varia enormemente. Em muitas delas não há um proletariado industrial que se compare nem mesmo com o russo de 1905, ou o chinês de 1919. Em várias, o desenvolvimento da indústria foi forçosamente restringido pelos interesses especiais das forças imperialistas no poder, de forma que a população se constitui quase que inteiramente de uma classe camponesa muito pobre. Esse “campesinato” não é exatamente igual ao dos textos marxistas do século XIX. Em diversos casos a maioria dos cultivadores não possui terra e ocasionalmente realizam trabalho assalariado. As necessidades especiais das indústrias de base e extrativista criam ocasionalmente um tipo especial de trabalhador — é o trabalhador migrante, que gasta metade do seu tempo em minas ou plantações recebendo baixos salários, e a outra metade desempregado ou em pequenas plantações de agricultura de subsistência. A atual relação de exploração entre o capital internacional, os bancos, os agiotas nativos e comerciantes, de um lado, e os produtores diretos, camponeses e operários, de outro, apresenta formas novas e originais. Essas formas freqüentemente são terríveis combinações entre a cruel busca pelo lucro do avançado capital financeiro e o atraso das relações sociais pré-capitalistas. No nível político, os povos desses países sofrem dessas mesmas combinações mortais. Eles são vítimas de todos os horrores da guerra moderna, tanto em conflitos diretos entre as forças imperialistas, quanto por meio das igualmente eficazes atividades “pacíficas” da ONU. Em ambos os casos, devemos ver uma combinação específica das forças e das leis analisadas por Lênin e Trotsky em seus trabalhos sobre o Imperialismo e a Revolução Permanente.

Cuba é um daqueles países em que o desenvolvimento capitalista tem sido determinado quase que exclusivamente pelos investimentos e controle estrangeiro. A dependência das economias de países da América Latina a um único produto (como o açúcar, em Cuba) já foi várias vezes comentada. A burguesia nacional jamais poderia ser uma força social independente em Cuba. Ela só poderia funcionar como um comitê executivo comercial e político dos investimentos norte-americanos. Sob essas condições, os ideólogos da democracia pequeno-burguesa não poderiam mais exercer seu papel clássico na revolução burguesa — que é o de fornecer uma liderança política que una os operários e os camponeses primeiramente numa luta burguesa contra o absolutismo e pela independência, para, depois, incorpora-los ao novo regime. Na Revolução Russa, os Socialistas Revolucionários e os Mencheviques se esforçaram para isso. A direção dos Bolcheviques sobre um proletariado concentrado em poucos núcleos avançados, particularmente em Petrogrado, na vanguarda de uma guerra camponesa, conquistou o poder soviético. A alternativa poderia ter sido um regime repressivo, fundado na capitulação dos partidos pequeno-burgueses à contra-revolução. Mesmo na Alemanha e na Itália, países mais desenvolvidos com uma classe operária bem mais expressiva, o insucesso da revolução proletária foi substituído em pouco tempo não por uma democracia burguesa, mas pela opressão explícita de regimes fascistas. A humanidade entrou num período no qual as alternativas são socialismo ou barbárie, na forma de reação fascista.

Capitulação à burocracia soviética

Em nosso mundo de hoje observamos um estágio mais avançado da mesma situação. Não apenas a barbárie, mas a destruição completa apresenta-se como alternativa ao socialismo. Esse fato, considerado em escala mundial, associado à manutenção do Estado Operário sob dominação burocrática na União Soviética e a instituição de regimes semelhantes em outros países atrasados (Leste Europeu e China), levou alguns “marxistas” a considerarem a situação atual como qualitativamente diferente. Os stalinistas concluíram que a ameaça de uma guerra e seu próprio poder bélico tornaram possível uma estratégia de coexistência pacífica com as principais potências imperialistas mundiais, o que abriu, assim, várias vias pacíficas e parlamentares para se chegar ao socialismo dentro de cada nação. Isso não é, obviamente, uma teoria, mas uma apologia ideológica da atual capitulação da burocracia soviética, determinada, sobretudo, a preservar seus privilégios e se equilibrar entre a classe trabalhadora e o imperialismo. A atual disputa Sino-Soviética levanta tais questões para discussão nos Partidos Comunistas. Nunca a clareza teórica e a determinação política foram tão necessárias ao movimento trotskista. Somente o desenvolvimento científico da teoria da Revolução Permanente pode dar uma resposta aos problemas levantados. Em nossa opinião, as revisões do trotskismo feitas por Pablo, levando à cisão de 1953, e agora expressas em políticas oportunistas para os países desenvolvidos, Estados Operários e países coloniais, constituíram uma capitulação política a forças que se situam entre a classe trabalhadora e a derrocada do imperialismo. O poder da burocracia soviética e a lentidão dos movimentos operários do leste europeu e dos Estados Unidos em solucionar a crise da direção nas décadas de 1930 e 1940, tiveram impacto nas idéias de Pablo e de seu grupo, não sendo resolvidas por eles cientificamente, de forma marxista, mas de uma forma impressionista. Tal abandono do método dialético, do critério de classe da análise da sociedade e da política, resultou na conclusão de que outras forças que não o proletariado organizado por partidos marxistas, poderiam liderar o próximo passo histórico da luta contra o capitalismo. Nós vimos como Hansen defende isso para a China e para o Leste Europeu. Nós nos lembramos da insistência de Pablo de que os partidos stalinistas em países como a França poderiam levar a classe operária ao poder. Nós temos visto, desde então, a “restauração do campesinato revolucionário” de Pablo e a atual crença de que lideranças da pequena-burguesia nacionalista podem liderar a criação e a manutenção de Estados operários. De acordo com esses “marxistas”, em Cuba se estabeleceu um “regime incorruptível dos trabalhadores”. Tudo isso é possível porque há uma “nova realidade”, como diz Hansen: “a isso devemos acrescentar que a situação mundial hoje é completamente diferente (?) do que era em 1936-39. Em lugar da (?) posição defensiva contra o fascismo europeu, a União Soviética se consolidou enquanto uma das duas maiores potências mundiais. A estrutura econômica soviética se espalhou pela Europa. A China se tornou um Estado Operário. A revolução colonial trouxe centenas de milhões aos seus pés. A desestalinização alterou a capacidade da burocracia em impor sua vontade de forma tão flagrante como fazia nos anos trinta…”.

A semelhança da posição de Hansen com as análises da “nova situação” apresentada pelos stalinistas é notável. Ambos falam da “força do campo socialista”, “da revolução colonial” e do “crescimento da economia soviética”. Ambos tentam impedir a formação de novos partidos revolucionários argumentando que o que garante o futuro do movimento comunista é a reação defensiva de “desestalinização” feita por eles.Aqueles que se referem a Lênin são “dogmáticos”! A capitulação à burocracia em questões políticas acarretará, conseqüentemente, na degradação de seu método de análise ao empirismo e ao pragmatismo estreitos, combinados com generalizações demagógicas. Essa é a forma de pensar que está por trás do atual bloqueio revisionista à construção da Quarta Internacional.

A posição da SLL sobre Cuba

Deixem-nos resumir, brevemente, as “refutações” feitas por Hansen às nossas posições em relação a Cuba, publicadas no documentoTrotskyism Betrayed, e vejam como elas se sustentam.

1. Nós criticamos o método “normativo” de aplicar de maneira estanque um “critério” abstrato e ahistórico sem uma específica análise histórica e de classe. Por outro lado, nós exigimos uma análise do caráter de classe das forças políticas do governo e do Estado cubanos. Hansen responde acusando-nos de ignorarmos a atualidade histórica da discussão sobre o caráter de classe da URSS, da China, do Leste Europeu e de Cuba. Vimos acima como ele demonstra essa atualidade — procurando a justificativa para a submissão da classe trabalhadora às direções pequeno-burguesas. Tentamos, antecipando futuras análises, estabelecer as bases gerais para uma discussão marxista. Sugerimos, portanto, que as análises feitas durante os dois últimos anos na LaborReview constituam a base para uma avaliação do caráter de classe das forças nacionalistas e stalinistas em Cuba e em outros países.

2. Nós afirmamos categoricamente que o novo partido unificado (ORI) [9], de Castro e dos stalinistas, não poderia substituir a construção do partido marxista revolucionário em Cuba. Hansen não discute essa questão em nenhum momento. Ele supostamente defende a posição declarada anteriormente por Cannon, de que os trotskistas deveriam manter fidelidade dentro das ORI. Hansen responde aos camaradas franceses que, nos documentos deles, “a importância dada aos ataques aos trotskistas cubanos (feitos pelo governo e seus porta-vozes) é exagerada e foi colocada em lugar errado, além de não ser corretamente estimada a influência ideológica que o trotskismo exerce sobre um setor significativo da vanguarda revolucionária cubana” [10].

Ainda falta a ele explicar a afirmação categórica de Guevara de que não deveriam existir facções dentro das ORI, cujo “centralismo democrático” seria, deste modo, de tipo stalinista. Ele precisa explicar também quem foi responsável pelos ataques aos trotskistas. E ele que não espere que levemos a sério sua sutil insinuação de que o SWP ou alguma outra pessoa tem amigos influentes e secretos ao lado de Castro. Quando isto se tornou um argumento marxista e como se relaciona com a questão da possibilidade da construção de um partido marxista? Não é difícil que nos digam que na Argélia também há “influência ideológica” de trotskistas como Pablo sobre um “setor significativo da vanguarda revolucionária”, o difícil é nos entusiasmarmos com isso. Hansen, nesse momento da discussão, teve a oportunidade de desenvolver seu tema anterior: “todos nós sabemos o beabá — precisamos de partidos revolucionários — mas a questão é como ir em frente e construí-los”. Porém, ele não tem nada a dizer, exceto que é “exagerado” defender os trotskistas cubanos de ataques vindos do aparato estatal e que devemos nos lembrar de que temos alguns amigos por lá lá.

3. Nós declaramos nossa opinião de que a ditadura do proletariado não foi estabelecida em Cuba, e que, por essa razão, classificá-la como Estado Operário era errado. Hansen não encara a realidade de frente — ou talvez isso seja um daqueles antigos “modelos” de Lênin, obsoletos demais para serem aplicados. Ao nosso argumento de que a máquina estatal manteve uma estrutura burguesa apesar da ausência da burguesia, Hansen responde apenas com escárnio, a despeito do fato de que, como bem apontaram os camaradas franceses, a sua posição implica na necessidade de revisar as conclusões de Trotsky a respeito da Espanha Republicana dos anos trinta (Lições da Espanha —Última Advertência,1937). A SLL, diz Hansen, deveria rever sua opinião porque: os imperialistas discordam quanto ao caráter burguês do Estado cubano; a população da URSS e de outros estados operários discordam (!); a população de Cuba discorda; outros marxistas discordam; e, finalmente, porque a mesma posição da SLL havia sido declarada uma vez por Pablo, antes dele estudar melhor a questão. Todos esses argumentos não significam, absolutamente, nada (ver carta de F. Rodriguez neste boletim).

Hansen não se ocupa das questões a respeito dos sovietes ou dos conselhos operários como uma forma de poder estatal, nem mesmo do significado da existência de uma “milícia” sem tal governo operário. Ele não diz como tal “milícia” — controlada, na verdade, pelo exército do aparato estatal centralizado — difere do “povo em armas”. E não é verdade que o suprimento de armas é regulado pelo do exército e nãopelas milícias? Pelo aparato estatal e não pelos conselhos e comitês operários? Por que Hansen não responde ao nosso argumento de que a velha máquina estatal não foi destruída, mas preenchida por funcionários do movimento de Castro, depois substituídos por burocratas stalinistas? Seriam os “modelos” de Marx e de Lênin que deveriam ser descartados agora? Nós insistimos que a permanência da liderança pequeno-burguesa de Castro na máquina estatal, burocraticamente independente de qualquer órgão de poder operário, controlando o poderda sociedade cubana, é a principal esperança da burguesia para retornar a Cuba, apesar das nacionalizações.

4. Essencialmente conectada a esse último ponto está nossa caracterização do governo de Castro como um regime Bonapartista, sustentado em bases estatais burguesas (Trotskyism Betrayed , p. 14). Certamente, Castro se apoiou bastante no proletariado e nos camponeses pobres até agora, mas também foi cuidadoso o suficiente para preservar uma boa relação com os camponeses ricos — e as exigências da economia podem forçá-lo a confiar neles mais e mais. Hansen deveria pensar quão longe está disposto a ir com Castro numa aventura dessas. Já Pablo, com quem Hansen quer se unificar, está se esforçando para formular uma linha teórica que justifique a insistência de Ben Bella de que na Argélia os camponeses são mais importantes que os operários. Se Hansen responder o caso dizendo que Castro é um Bonaparte de esquerda, equilibrando-se entre o imperialismo e a classe trabalhadora, então ele deve dar uma outra explicação para a ausência de uma democracia operária em Cuba. Se Cuba é realmente um regime operário não corrompido, como poderíamos explicar a ausência de conselhos de trabalhadores? Existe alguma outra explicação para isso, a não ser a preservação da independência do poder estatal por Castro e o seu movimento, contra a classe operária assim como contra o imperialismo? O regime Stalinista também foi caracterizado por Trotsky como um regime Bonapartista. Isso significa que Cuba é, portanto, um Estado Operário? Não: dizemos que o regime Stalinista era um regime burocrático apoiado em bases estatais proletárias conquistadas pelos Sovietes em 1917; O regime de Castro é um regime Bonapartista que ainda repousa sobre as bases burguesas. Se a revolução cubana ainda pode ser defendida de invasões externas com sucesso, então o próximo período será um curto período de dualidade de poder, com os trabalhadores e camponeses liderados nos Sovietes por um novo partido revolucionário sob o programa da ditadura do proletariado.

5. Hansen não responde nosso seguinte argumento: “O ataque a Escalante [11] foi motivado por um desejo de manter o poder centralizado em suas próprias mãos [de Castro] e não por hostilidade à burocracia ou qualquer coisa do tipo”. (Trotskyism Betrayed, p. 14). Hansen ainda escreve, como se não precisasse de provas, que a remoção de Escalante do cargo foi uma medida contra a burocracia Stalinista. Mas precisamos repetir que ele deixa vários pontos sem resposta. Por que, então, a maioria da liderança stalinista cubana também condenou Escalante e por que o Pravda considerou a expulsão como um golpe contra o sectarismo? Isso significa que eles estão agora se posicionando a favor da cruzada de Castro contra o stalinismo? Mas isso não implicaria numa reforma à direita por parte do movimento stalinista? Ou isso significa que o PC cubano e o Pravda decidiram conciliar com Castro por enquanto, sabendo de sua sólida posição em Cuba? Neste caso, a natureza da relação entre o Movimento 26 de Julho e os Stalinistas deveria ser exposta pelo SWP e suas implicações quanto à natureza do novo “partido revolucionário unificado” (ORI) deveriam ser reconhecidas.

A principal base para interpretar o caso da remoção de Escalante parece ser o pronunciamento de Castro “Contra o Sectarismo e a Burocracia”. Nesse pronunciamento, Castro deu vários exemplos de favorecimento e discriminação burocrática na administração estatal. Escalante e seu grupo, de acordo com Castro, usavam seu poder para aparelhar todos os níveis do aparato estatal com seus próprios nomeados (do Partido Comunista). Tudo isso parece ser normal, mas se o pronunciamento for lido claramente, e comparado com pronunciamentos anteriores e outros escritos, fica claro que há muito mais por trás do processo aparente.

Condenando os homens nomeados por Escalante, Castro ressalta, repetidamente, que eles não eram revolucionários de fato, mas intelectuais do partido, alguns dos quais estavam debaixo de suas camas enquanto os verdadeiros revolucionários arriscavam suas vidas contra o regime de Batista. A clara intenção dessa parte do pronunciamento é a de reafirmar a liderança do Movimento 26 de julho sobre o Partido Comunista [o PSP], e de ameaçá-los chamando o apoio do povo aos “verdadeiros revolucionários”. Foi provavelmente diante dessa ameaça às suas próprias posições burocráticas que os Stalinistas decidiram apoiar o ataque a Escalante, para diminuir, assim, suas perdas. É muito interessante comparar esse discurso com outro igualmente bem conhecido de Castro, também publicado pelo SWP, onde ele diz ter estado, ao menos, sempre perto do comunismo. Nesse pronunciamento posterior, feito num período em que ele era ainda mais dependente do Partido Comunista para o aparelhamento da Burocracia Estatal, Castro praticamente se desculpa por qualquer hostilidade que tenha mostrado ao Stalinismo no início de sua carreira. Ele explicou que somente a sua “falta de compreensão” o impediu de ser um comunista; assim ele mascarou a traição do Stalinismo Cubano no passado. Ele chamou os militantes do Movimento 26 de Julho para aprender o marxismo das velhas mãos do Partido Comunista. De que mais poderíamos chamar essas rápidas mudanças de eixo, se não de adaptação de um Bonaparte à necessidade de preservar sua dominação? Poderia alguém sugerir que elas tinham alguma avaliação séria do Stalinismo como uma tendência política?

O pronunciamento de Castro para a população, em cima dessa questão, guarda alguma relação com o processo de “educar as massas” ao qual ele supostamente é adepto? Um artigo de Hansen sobre isso seria interessante. Em Cuba — The Acid Test, ele faz uma referência brevíssima: “A pretensa tomada das forças castristas pelo PC Cubano foi suficientemente despedaçada pelos acontecimentos” (p.28).

Hansen opta, aqui, por ignorar que, mesmo se tivesse razão a respeito do significado das ações de Castro “contra o burocratismo”, isto só confirmaria amplamente o que foi dito a respeito do perigo à Revolução Cubana que causava a dependência de Castro dos stalinistas para o aparelhamento da burocracia estatal. Ele não faz análise alguma a respeito das relações atuais entre o Movimento 26 de Julho e o Partido Comunista, e simplesmente se refere, mais uma vez, às “medidas tomadas pelo regime de Castro contra o burocratismo Stalinista” (Cuba — The Acid Test, p. 16), como se, assim, fosse inquestionável o caráter progressista ou “revolucionário” de Fidel Castro. Mas, uma leitura do pronunciamento de Castro torna o assunto muito claro. Ao condenar a indicação burocrática de membros do Partido Comunista ao Estado, feita por Escalante, Castro não defende a ditadura do proletariado ou o poder operário, mas sim a independência da máquina estatal. Ele enfatiza queo Estado deve ter o direito de escolher suas pessoas. Esses oficiais serão leais ao Estado e não a qualquer organização externa. O argumento do valor dos combatentes do 26 de Julho contra aqueles que estavam “debaixo de suas camas” é a justificativa desse poder independente do aparato estatal, centralizado sob o controle do governo de Castro. Os pronunciamentos de Guevara, contra o controle operário da indústria e atacando os trotskistas cubanos, vão todos no mesmo sentido.

6. Hansen repete todos os argumentos em relação às nacionalizações feitas pelo governo de Castro, sem introduzir nada de novo à discussão. Nós indicamos que nacionalizações podem, hoje, significar muitas coisas diferentes e serem freqüentemente levadas a cabo por governos burgueses, particularmente em países atrasados. Quanto mais o capitalismo avança — não havendo a vitória do proletariado nos países desenvolvidos — mais a economia capitalista terá de adotar medidas que se adaptem ao caráter da indústria moderna, à divisão do trabalho e à comunicação, restringindo, mais ainda, a economia às contradições do capitalismo. Hansen faz uma terrível confusão na argumentação desse ponto. Ele diz: se nacionalizações como aquelas em Cuba podem ser levadas adiante por um Estado Burguês, isso não nos leva a conclusão de que o capitalismo ainda pode ter um papel progressista? Esse é o único argumento que os revisionistas têm em mente (“O capitalismo ainda pode dar certo”). Hansen está afirmando aquilo que é dito pelos governos e porta-vozes do capitalismo. O fato é que, assim, a economia de Cuba, de Israel, do Egito ou de qualquer outro país é impedida de se tornar parte da economia internacional racionalmente planejada do socialismo. Será que o uso da fissão nuclear prova que a ciência e a indústria ainda podem avançar sob o capitalismo e que o marxismo está errado? Ou isso demonstra exatamente o contrário, que cada avanço tecnológico, enquanto o capitalismo não for abolido, se transforma em seu oposto, i.e., que todo o desenvolvimento tecnológico envolve contradições econômicas e políticas ainda maiores?

Hansen não leva em consideração a relevância de seu critério de “nacionalização” para dizer onde, se no Egito ou em Burma, um governo militar-nacionalista recentemente nacionalizou os bancos e demais propriedades estrangeiras. Talvez estes tenham de ser chamados de Estados Operários caso alguém (um governo burguês ou pequeno-burguês) nacionalize essas empresas, o que deve implicar em futuros papéis progressistas à classe e ao sistema capitalistas. Nós levantamos a questão da avaliação do SWP em relação a esses estados num documento anterior, mas Hansen não nos deu qualquer resposta. Sobre a questão da nacionalização da terra, um pequeno detalhe demonstrará a limitação da apresentação de Hansen. Ele diz que a alienabilidade da terra (uma vez que ela pode ser comprada e vendida) está “fora do cerne dessa discussão”, e ainda aproveita a oportunidade para atacar a “ignorância dos fatos em relação a isso” por parte da SLL. Ele continua: “acontece que a Lei da Reforma Agrária especifica que o ‘mínimo vital’ de terra, cuja propriedade o camponês recebe, ‘será inalienável’. Isenta de impostos, essa terra não pode ser anexada, não é sujeita a contrato, arrendamento, aluguel ou usufruto. Ela só pode ser transferida por meio da venda para o Estado, ou por herança passada apenas a um herdeiro com a morte do proprietário, ou, no caso de não haver herdeiros, pela venda numa audiência pública a compradores que devem ser ou camponeses ou operários agrícolas”. Mas, uma omissão muito interessante dessa passagem — da qual o único significado que se pode extrair é o de que o governo Castro tentou criar uma classe média camponesa, estável e pequena em Cuba — é a de que, apesar do “mínimo vital”, existem, também, propriedades muito maiores, até um máximo de 1.000 acres. E que, estando num número entre o mínimo e o máximo, a terra pode ser comercializada no mercado. A correção de Hansen à nossa “ignorância”, aqui, talvez sirva de exemplo sobre como começar com “os fatos”.

7. Por fim, nós levantamos a questão da necessidade de um novo partido revolucionário em Cuba. Hansen ignora isso completamente. Ele prefere ficar com “os fatos”.

O silêncio de Hansen

Em nossa resposta a Cuba — The Acid Test, nos restringimos aos princípios metodológicos levantados por Hansen e demos vários exemplos das diferenças entre estes e os nossos, particularmente sobre Cuba. Outras questões que citamos em Trotskyism Betrayed foram ignoradas por Hansen — e ainda esperamos sua resposta. Por exemplo, nós discorremos várias páginas para responder a acusação de “subjetivismo” em nossa avaliação da situação mundial. Tomando oPrograma de Transição [12] de Trotsky e a resolução internacional da SLL (Perspectiva Mundial para o Socialismo) nós demonstramos que a nossa avaliação da relação entre a direção e as contradições objetivas do capitalismo é a mesma de Trotsky. Hansen não dedica nenhum esforço a responder este ponto; talvez ele pense ser suficiente dizer que “o mundo hoje é completamente diferente daquele de 1936-1939” (p. 28). Nós fizemos, ainda, uma resposta detalhada, defendendo nossa caracterização da liderança da Argélia e do entreguismo do acordo de Evian. Mais uma vez, nenhuma resposta de Hansen (veja a seguir). Que tipo de discussão Hansen pretende fazer? Nós tentamos abordar todos os pontos levantados, para levá-los até o fim, mas Hansen simplesmente os ignora. Tal discussão logo se tornará estéril. Tratamento similar é dado à questão da construção de partidos leninistas. Nós estabelecemos, com evidências documentais, a falsidade das afirmações de Hansen de que Lenin e Trotsky haviam construído o Partido principalmente por meio de rupturas e fusões. Nós apontamos a firmeza teórica essencial e a habilidade características de Lênin para levar a cabo essas rupturas, bem como o reconhecimento dessas qualidades por Trotsky. Hansen não respondeu uma única palavra sobre isso.

Por fim, levantamos mais uma vez a relação entre a revolução nos estados capitalistas desenvolvidos e nos países atrasados. Nós insistimos, especialmente, nas implicações políticas da declaração do SWP, de que “o citado atraso no oeste, essa característica negativa, (era) o mais importante elemento da realidade atual”. Toda a conversa dos revisionistas acerca das “forças objetivas favoráveis” se soma, na verdade, ao oposto do que pode parecer. Os tempos estão bons, e cada vez melhores, dizem eles. Mas para quê? Para a construção de partidos revolucionários em torno do programa da Quarta Internacional? Não! Para a ascensão de marxistas nos agrupamentos políticos pequeno-burgueses, uma política à qual o trotskismo deveria dirigir todos os seus esforços! Isso é o máximo que se pode esperar de Hansen e dos pablistas. Seu “aprofundamento” e seu silêncio em questões de princípio a respeito de novos partidos revolucionários, da democracia soviética e da revolução política, têm a função de encontrar caminhos para “começar a participar da ação”. Alguém tem que fazer o trabalho, e, nesse momento, quem o está fazendo são a burocracia stalinista e os líderes nacionalistas. E para os países desenvolvidos: “Na verdade, a experiência nos parece mostrar que a dificuldade de chegar ao poder nos países imperialistas aumentou, de alguma forma, desde o tempo dos bolcheviques”. Isso é dito por Hansen para fazer uma contraposição, argumentando que a construção de partidos revolucionários é, mesmo assim, uma “necessidade absoluta nos países capitalistas desenvolvidos”. Nesses países, portanto, é justamente esta é a questão: são necessários partidos marxistas. Mas, de qualquer forma, o epicentro da revolução está hoje em outro lugar e, nele, ela pode ser realizada por outros grupos. Na verdade os “partidos” de Hansen e dos pablistas nos países desenvolvidos se tornam “chefes de torcida” para os pequeno-burgueses nacionalistas da Argélia, Cuba, etc. Hansen opta por ignorar a linha desses pablistas na Europa, que “mantêm suas cabeças rebaixadas” diante da social-democracia, esperando serem descobertos por algum partido centrista ao invés de construir partidos independentes em oposição às lideranças reacionárias.

O documento de Hansen, Cuba — The Acid Test, é uma séria advertência aos marxistas. Ele é uma séria contribuição para uma discussão internacional, mas ignora várias questões vitais levantadas anteriormente, questões acerca de todo o passado e orientação do bolchevismo.

Ao invés disso, Hansen insiste nos “fatos” e, em particular, no fato da revolução cubana. Nessa parte da discussão ele não introduz nada de novo, a não ser a distorção demagógica das posições da SLL — numa tentativa inconsistente de tirar alguma vantagem em cima das avaliações diferentes sobre Cuba feitas pelas seções francesa e britânica do CI.

Tudo isso indica que Hansen está fugindo da questão política fundamental. Sua insistência na “prova de fogo” de Cuba é, na verdade, a defesa de que o “senso comum” se sobreponha à teoria. É isso que embasa as concepções completamente diferentes de construção da Internacional, agora dividindo o SWP e a SLL. Sem teoria revolucionária, não há partido revolucionário.

O grande benefício a ser extraído de Cuba — The Acid Test é que torna explícito o fundamento desse abandono da teoria revolucionária, do materialismo dialético. Hansen agora estabeleceu abertamente a defesa do empirismo como um método, um método que tem uma expressão natural nas políticas do oportunismo. A essas políticas que os métodos de Hansen levam. É por esse motivo que ele e Cannon caminham para unificação com o pablismo, cujas revisões oportunistas e liquidacionistas de 1953 estão longe de serem corretas. O que aconteceu foi que a estagnação teórica dos trotskistas americanos levou-os inevitavelmente ao mesmo fim.

Adaptado por unanimidade pelo Comitê Nacional da Socialist Labour League, em 23 de março de 1963.

Adendo

É uma característica do regime castrista que nenhum órgão dirigente das ORI seja eleito.

Enquanto Castro incentiva o sectarismo e o dogmatismo no partido, ele é ao mesmo tempo o responsável pela instalação de uma burocracia autocrática que se perpetua.

Por exemplo, o “processo de reorganização” nas ORI é conduzido pelo Comitê Nacional — que é nomeado. Quem organiza o Comitê Nacional? Presumidamente Castro. Não existe liberdade para tendências dissidentes nem provisões para a representação da minoria.

Todas as decisões políticas são feitas a portas fechadas por uma pequena quadrilha de Castro e seus apoiadores. Não existe debate democrático e nem mesmo pequenas discussões. Por exemplo, durante a última crise dos mísseis, transpareceu que “algumas pessoas” das ORI haviam favorecido uma inspeção da ONU. Ninguém soube quem eram essas pessoas e que chance elas tiveram de se manifestar. Nós tivemos que esperar que Castro falasse para captar os fatos que conseguíssemos.

Há pouco tempo, mais uma vez, os trabalhadores de Havana foram tratados com uma desonestidade de organização sem precedente na revolução. Esse foi o motivo que levou à decisão de dissolver o Comitê de Província (37) de Havana, seu comitê executivo e seu secretariado. Foi substituído por um reduzido comitê executivo provisório (11) com “funções limitadas, consideradas indispensáveis nesse estágio”.

A aparente razão — a oficial — para essa ação arbitrária foi a falência desse importante órgão de liderança em conduzir o “trabalho de reorganização”, mas a real razão foi provavelmente de cunho político — a eliminação dos remanescentes das forças de Escalante nas ORI.

O Comitê de Província — um dos mais importantes em Cuba — não teve o direito de apelar a qualquer congresso das ORI, pela simples razão de que não houve reuniões democráticas do congresso e há poucas possibilidades de que isso se realize no futuro.
Ao mesmo tempo, também, todas as organizações de partidos na Província de Havana foram estabelecidas sob a direção de onze comissões regionais, que não estão submetidas a eleições e renovações.

A centralização burocrática atual nas ORI é a antítese da democracia da classe trabalhadora e o mais claro sintoma de bonapartismo na revolução.

Nós não desejamos fazer da democracia um fetiche — nem minimizar a importância da disputa eleitoral numa revolução. Mas se a ditadura for permanecer popular e viável, ela deve ser baseada numa ampla democracia. O camarada Cannon, em seu próprio estilo inimitável, expressou esse pensamento sucintamente quando escreveu:

“Quando os fundadores do socialismo científico disseram que os trabalhadores deveriam se emancipar, eles quiseram dizer que ninguém o faria, nem poderia, por eles. O mesmo se aplica às suas organizações, seus instrumentos de luta pela emancipação. Se eles realmente servem ao seu propósito, essa organização deve pertencer aos trabalhadores e ser democraticamente controlada e operada por eles. Ninguém pode fazer isso por eles. Assim pensaram os grandes democratas, Marx e Engels” (Caderno de um Agitador, p.239, Publicações Pioneer, 1958).

Não temos mais nada a dizer.

NOTAS

1. Refere-se o autor, aqui, à cisão de 1953, que criou o Comitê Internacional, opondo-o ao Secretariado Internacional pablista.

2. Ambos os textos, Trotskyism Betrayed (O Trotskismo Traído) e Report to the Plenum (Relato Ao Pleno), foram publicados no volume III doTrotskyism Versus Revisionism. Já as iniciais referem-se, aqui, a Cliff Slaughter (C.S.) e Joseph Hansen (J.H.).

3. Cuba— The Acid Test: A reply to the Ultra-left sectarians (Cuba — A Prova de Fogo: uma resposta aos sectarios ultra-esquerdistas), de Joseph Hansen, publicado em 20 de novembro de 1962.

4. Revista teórica da SLL

5. “Germain” era o nome com o qual Ernest Mandel assinava seus textos.

6. Secretariado Internacional da Quarta Internacional, SI, corrente internacional que existia antes da “unificação”, dirigida por Pablo e Mandel.

7. Jornal do SWP, na época a seção norte-americana do CI.

8. Jornal da SLL.

9. Em julho de 1961 foram formadas as Organizações Revolucionárias Integradas, ORI, pela fusão entre o Movimento 26 de Julho de Fidel Castro, o Partido Socialista Popular (antigo Partido Comunista) dirigido por Blas Roca e o Diretório Revolucionário 13 de Março, dirigido por Faure Chomón. Em 26 de março de 1962 as ORI tornaram-se o Partido Unido da Revolução Socialista Cubana (PURSC), que, por sua vez, tornou-se o Partido Comunista de Cuba em 3 de outubro de 1965, tendo Castro como seu secretário geral.

10. O SWP, que inicialmente defendia os trotskistas cubanos contra a repressão do regime Castro, dentro de alguns meses mudou de posição e apoiou a repressão.

11. Aníbal Escalante, influente figura das ORI, era o líder do stalinista do PSP.

12. Trata-se do programa histórico da Quarta Internacional.

Arquivo Histórico: Carta Aberta aos Trotskistas do Mundo Inteiro

Uma Carta Aberta aos Trotskistas do Mundo Inteiro [1]

O texto a seguir foi publicado em 16 de novembro de 1953 por James P. Cannon, principal dirigente do Partido dos Trabalhadores Socialistas (SWP) dos Estados Unidos. Ele representa um importante marco da luta contra a degeneração pablista da Quarta Internacional e impulsionou a criação do Comitê Internacional, organização que visava se opor à tal degeneração. A versão aqui presente foi copiada do Arquivo Marxista da Internet, marxists.org.

Caros Camaradas:

No 25º aniversário de fundação do movimento trotskysta nos Estados Unidos, a Plenária do Comitê Nacional do Partido Socialista dos Trabalhadores (Socialist Workers Party—SWP) envia saudações socialistas revolucionárias aos trotskystas ortodoxos de todo o mundo.

Apesar de o SWP, devido às leis antidemocráticas promulgadas pelos democratas e republicanos, não mais ser filiado à IV Internacional — o Partido Mundial da Revolução Socialista fundado por Leon Trotsky para carregar e realizar o programa traído pela II Internacional dos social-democratas e pela III Internacional dos stalinistas — defendemos o desenvolvimento da organização mundial criada sob a direção de nosso líder assassinado. [2]

Como todos sabemos, há 25 anos, os precursores trotskystas americanos atraíram a atenção da opinião pública mundial ao programa de Trotsky, censurado pelo Kremlin. Esse ato mostrou-se decisivo para quebrar o isolamento imposto a Trotsky pela burocracia stalinista e para lançar as bases para a fundação da IV Internacional. Em seu exílio pouco tempo depois, Trotsky iniciou uma colaboração estreita e de confiança com a direção do SWP que durou até o dia de sua morte.

A colaboração incluiu um esforço conjunto para organizar partidos socialistas revolucionários em vários países. Isso culminou, como se sabe, na fundação da IV Internacional em 1938. O Programa de Transição, que permanece como chave do programa do movimento trotskysta internacional hoje, foi escrito por Trotsky em colaboração com os dirigentes do SWP e a seu pedido foi assumido por eles em seu Congresso de fundação.

A proximidade e plenitude da colaboração entre Trotsky e a direção do SWP pode ser avaliada pela trajetória de luta em defesa dos princípios trotskystas ortodoxos em 1939-40 contra a oposição pequeno-burguesa liderada por Burnham e Shachtman. Essa atuação teve profunda influência nos rumos da IV Internacional nos últimos 13 anos.

A partir do assassinato de Trotsky por um agente da polícia secreta de Stalin, o SWP assumiu a direção da defesa de seus ensinamentos. Assumimos a direção não por escolha, mas por necessidade — a II Guerra Mundial obrigou os trotskystas ortodoxos a passar para a clandestinidade em muitos países, especialmente na Europa sob os Nazistas. Junto aos trotskystas da América Latina, Canadá, Inglaterra, Ceilão, Índia, Austrália e outras partes, nós fizemos o possível para levantar a bandeira do trotskysmo ortodoxo ao longo dos difíceis anos de guerra.

Com o fim da guerra, estávamos contentes com a saída da clandestinidade, na Europa, dos trotskystas que empreenderam a reconstituição da organização da IV Internacional. Desde que fomos impedidos de fazer parte da IV Internacional devido a leis reacionárias, lançamos nossas maiores esperanças na emergência de uma liderança capaz de continuar a grande tradição legada por Trotsky ao nosso movimento mundial. Acreditamos que à jovem e nova direção da IV Internacional na Europa devemos dar toda confiança e apoio. Quando, por iniciativa dos próprios camaradas, sérios erros foram corrigidos, sentimos que nosso caminho se mostrava correto.

Todavia, nós temos que admitir que o fato de não termos, nós e mais alguns, lançado uma crítica severa a essas lideranças, isso facilitou a consolidação de uma fração fora de nosso controle, secreta e personalista na administração da IV Internacional, fração que abandonou o programa fundamental do trotskysmo.

Essa fração, centrada em Pablo, está agora trabalhando consciente e deliberadamente para quebrar, romper e dilacerar os quadros do trotskysmo historicamente formados em vários países e para liquidar a IV Internacional.

O Programa do Trotskysmo

Para demonstrar precisamente o que está em jogo, retomemos os princípios fundamentais sob os quais o movimento trotskysta internacional está construído:

1. A agonia mortal do sistema capitalista ameaça a civilização de destruição através do aprofundamento das crises, guerras mundiais e manifestações de barbárie como o fascismo. O desenvolvimento das armas atômicas, hoje, enfatiza o perigo na sua forma mais grave possível.

2. A queda ao abismo só pode ser evitada substituindo o capitalismo pela economia planejada do socialismo em escala mundial, retomando assim a espiral de progresso aberto pelo capitalismo no seu início.

3. Isso pode apenas ser realizado sob a direção da classe trabalhadora, a única e verdadeira classe revolucionária na sociedade. Mas a própria classe trabalhadora enfrenta uma crise da sua direção, apesar de as forças sociais não terem sido nunca tão favoráveis como hoje para os trabalhadores se lançarem no caminho para a tomada do poder.

4. A fim de organizar-se para cumprir essa tarefa histórica mundial, a classe trabalhadora em cada país deve construir um partido socialista revolucionário segundo o modelo desenvolvido por Lênin; ou seja, um partido combativo capaz de combinar dialeticamente democracia e centralismo — democracia na tomada de decisões e centralismo para leva-las a cabo; uma direção controlada pela militância, uma militância capaz de seguir adiante, debaixo de fogo, de maneira disciplinada.

5. O principal obstáculo a isso é o stalinismo, que atrai trabalhadores explorando o prestígio da Revolução de Outubro de 1917 na Rússia, para depois, traindo sua confiança, arremessa-los nos braços da social-democracia, na apatia ou de volta às ilusões no capitalismo. Essa traição é paga pela classe trabalhadora sob a forma de consolidação das forças fascistas e monarquistas, e da deflagração de novas guerras criadas e preparadas pelo capitalismo. Desde seu início, a IV Internacional coloca como uma de suas principais tarefas a derrota revolucionária do stalinismo dentro e fora da URSS.

6. A necessidade de táticas flexíveis para as muitas seções da IV Internacional, e de partidos ou grupos simpáticos ao seu programa, torna imperativo que eles saibam lutar contra o imperialismo e todas as agências pequeno-burguesas (tais como os grupos nacionalistas ou a burocracia sindical) sem capitular para o stalinismo; e, por outro lado, saber lutar contra o stalinismo (que em última análise é uma agência pequeno-burguesa do imperialismo) sem capitular ao imperialismo.

Esses princípios fundamentais apresentados por Leon Trotsky mantêm toda a validade na política cada vez mais complexa e fluida do mundo atual. De fato, as situações revolucionárias que se abrem em todos os lugares, como previu Trotsky, apenas agora trazem concretude para o que uma vez pode ter aparecido como abstrações remotas não diretamente ligadas à realidade viva do tempo. A verdade é que esses princípios hoje se sustentam com mais força tanto nas análises políticas como na determinação da direção da ação prática.

Revisionismo de Pablo

Esses princípios foram abandonados por Pablo. Ao invés de enfatizar o perigo de uma nova barbárie, ele vê o caminho ao socialismo como algo “irreversível”; todavia, não vê o socialismo para esta geração ou para as próximas. Ao contrário, ele desenvolve a idéia de uma onda “avassaladora” de revoluções que darão origem a Estados Operários “deformados”, do tipo stalinista, que durarão por “séculos”.

Isso revela um grande pessimismo em relação à capacidade da classe trabalhadora, pessimismo que está totalmente de acordo com a ridicularização que ele faz da luta em construir partidos socialistas revolucionários independentes. Em vez de manter como caminho principal, a construção de partidos socialistas revolucionários independentes a partir de meios táticos, Pablo considera a burocracia stalinista — ou, pelo menos, uma de suas seções principais — capaz de mudar sob pressão das massas, podendo chegar a aceitar as “idéias” e o “programa” do trotskysmo. Sob o pretexto de uma “diplomacia” necessária — segundo ele — para aproximar trabalhadores no campo do stalinismo em alguns países como a França, ele agora encobre as traições do stalinismo.

Esse caminho já levou a inúmeras deserções das fileiras do trotskysmo para o campo dos stalinistas. A ruptura pró-stalinista no partido do Ceilão é um aviso aos trotskystas de todo o mundo sobre as trágicas conseqüências das ilusões com o stalinismo que o pablismo promove.

Em outro documento, apresentamos uma detalhada análise do revisionismo de Pablo. Nessa carta, nos limitaremos a algumas provas recentes que mostram no campo fundamental da ação o quão longe foi Pablo em suas conciliações com o stalinismo e o quão grave é o perigo para a existência da IV Internacional.

Com a morte de Stalin, o Kremlin anunciou uma série de concessões na URSS, nenhuma delas de caráter político. Em vez de caracterizá-las como apenas parte de uma manobra destinada a um posterior entrincheiramento da burocracia usurpadora e parte da preparação de um burocrata dirigente para assumir o capote de Stalin, a fração pablista tomou tais concessões como legítimas, apresentando-as como concessões políticas, e até projetou a possibilidade de que a burocracia stalinista “dividisse o poder” com os trabalhadores. (IV Internacional, jan-fev, 1953, p.13).

O conceito de “dividir o poder”, expressado na sua forma mais direta por Clarke, [3] um dos sumo sacerdotes do culto a Pablo, foi indiretamente proclamado como dogma pelo próprio Pablo em uma questão não respondida, mas obviamente fundamental. 

Pablo pergunta: “A liquidação do regime stalinista tomará a forma “de lutas interburocráticas violentas entre os elementos que lutarão para manter o status quo — se não para voltar para trás — e os elementos cada vez mais numerosos lançados pela poderosa pressão das massas?” (IV Internacional mar-abr, 1953, p.39).

Essa linha dá novo conteúdo ao programa trotskysta ortodoxo de revolução política contra a burocracia do Kremlin; ou seja, contra a posição revisionista de que as “idéias” e o “programa” do trotskysmo irão purificar e penetrar a burocracia, ou uma de suas importantes seções, destruindo então o stalinismo de maneira imprevista.

Na Alemanha Oriental, em junho [de 1953], os trabalhadores se levantaram contra governo dominado pelo stalinismo em uma das maiores manifestações na história da Alemanha. Esse foi o primeiro levante proletário de massas contra o stalinismo, desde que este usurpou e consolidou o poder na União Soviética. Como Pablo respondeu a esse notável acontecimento?

Ao invés de expressar claramente as aspirações políticas revolucionárias dos trabalhadores insurgentes da Alemanha Oriental, Pablo encobriu os dirigentes stalinistas contra-revolucionários que mobilizaram tropas soviéticas para derrotar o levante (“os dirigentes soviéticos e aqueles das várias `democracias populares´ e Partidos Comunistas não poderiam continuar falsificando ou ignorando o profundo significado de tais acontecimentos por muito tempo. Eles foram obrigados a continuar no caminho de dar concessões ainda mais amplas e genuínas para evitar o risco de perder para sempre o apoio das massas e para evitar explosões ainda maiores. A partir de agora eles não mais poderão parar no meio do caminho. Serão obrigados a fazer concessões para evitar explosões mais sérias no futuro imediato e, se possível, efetuar uma transição `de maneira fria´ da situação presente para uma situação mais tolerável para as massas.”) (Declaração do Secretariado Internacional da IV Internacional publicado em The Militant, [6] de julho).

Ao invés de exigir a retirada das tropas soviéticas — a única força que sustenta o governo stalinista — Pablo criou a ilusão de que “concessões mais amplas e genuínas” estariam vindo dos gauleiters [4] do Kremlin. Poderia Moscou ter tido melhor apoio enquanto procedia monstruosamente em falsificar o profundo significado daqueles acontecimentos, estigmatizando os trabalhadores em luta de “fascistas” e de “agentes do imperialismo americano”, e abrindo uma onda de bárbara repressão contra eles?

A Greve Geral na França

Em agosto [de 1953], na França, aconteceu a maior greve geral na história do país. Deflagrada pelos próprios trabalhadores, contra a vontade das suas lideranças oficiais, ela apresentou uma das mais favoráveis aberturas na história da classe trabalhadora para o desenvolvimento de uma luta real em direção à tomada do poder. Além dos trabalhadores, os camponeses franceses somaram-se com manifestações, indicando sua grande insatisfação com o governo capitalista.

A liderança oficial, tanto a social-democrata quanto a stalinista, traiu o movimento, fazendo o máximo para conte-lo e evitar o perigo ao capitalismo francês. Seria difícil encontrar, na história das traições, outra mais abominável se a compararmos à oportunidade que ali se apresentava.

Como a fração de Pablo respondeu a esse acontecimento colossal?

Eles consideraram a ação da social-democracia uma traição — mas pelas razões erradas. A traição, diziam eles, consistia na negociação com o governo pelas costas dos stalinistas. Essa traição, no entanto, era secundária, derivava de seu maior crime: a recusa em lançar-se no caminho da tomada do poder.

Quanto aos stalinistas, os pablistas encobriram sua traição e com isso foram cúmplices a ela. A critica mais severa que foram capazes de formular contra o caminho contra-revolucionário dos stalinistas, foi acusá-los de uma “falha” política.

Isso era mentira. Os stalinistas não fizeram uma “falha” política. Sua política consistia em manter o status quo dos interesses da política externa do Kremlin e assim, ajudar a sustentar o capitalismo francês em crise.

Mas isso não era tudo. Até para a educação interna do partido dos trotskystas franceses, Pablo recusou-se a caracterizar a ação stalinista como traidora. Ele afirmou “o papel de freio realizado, em maior ou menor medida, pela direção das organizações tradicionais” — uma traição é um mero “freio”! — “mas também sua capacidade — especialmente da direção stalinistas — em ceder à pressão das massas quando essa pressão se torna poderosa, como foi o caso dessas greves”. (Political Note no. 1) [5]

Poderíamos pensar que isso já é uma conciliação suficiente com o stalinismo por um líder que abandonou o trotskysmo ortodoxo, mas ainda procura encobrir-se sob a IV Internacional. No entanto, Pablo foi ainda mais longe.

Um Panfleto Vergonhoso

Um panfleto de seus seguidores, dirigido aos trabalhadores da fábrica Renault em Paris, declarava que na greve geral as lideranças stalinistas da CGT (maior central sindical na França) “estavam corretas em não apresentar demandas outras que as exigidas pelos trabalhadores”. Isso, lembrando o fato de que os trabalhadores, através de suas ações, estavam reivindicando o governo operário e camponês!

Arbitrariamente separando os sindicatos stalinistas do Partido Comunista — evidência do pensamento mais mecânico ou evidência do projeto deliberado de encobrir os stalinistas? — os pablistas declararam em seu panfleto que, em relação ao significado da greve e de suas perspectivas,

“isso apenas se refere ao sindicato de maneira secundária. A crítica a isso não se aplica à CGT que é uma organização sindical, que deve primeira e principalmente agir como tal, mas sim aos partidos cujo papel era apontar o profundo significado desse movimento e de suas conseqüências” (Panfleto “Às organizações de trabalhadores e aos trabalhadores da Renault”, 3 de setembro de 1953. Assinado por Frank, Mestre e Privas.)

Nessas afirmações, vemos o completo abandono de tudo o que Trotsky nos ensinou sobre o papel e as responsabilidades dos sindicatos na época da agonia mortal do capitalismo.

Portanto, o panfleto pablista “critica” o Partido Comunista Francês por seu “afastamento do caminho”, por simplesmente colocar-se no nível do movimento sindical ao invés de explicar aos trabalhadores que essa greve era uma importante etapa(!) na crise da sociedade Francesa, o prelúdio (!) para uma grande luta de classes, onde o problema do poder dos trabalhadores seria colocado na ordem do dia para salvar o país da armadilha capitalista e abrir o caminho ao socialismo”.

Se os trabalhadores da Renault acreditassem nos pablistas, os burocratas stalinistas franceses traidores seriam culpados apenas de serem sindicalistas, e não de uma traição deliberada à maior greve geral na história da França.

A aprovação de Pablo à política da direção da CGT parece pouco verossímil, mas esse outro fato ainda salta aos olhos: na maior greve geral já vista na França, Pablo brandamente caracteriza como “correta” uma versão francesa da política burguesa de Gomper, a de manter os sindicatos fora da política. E isso em 1953!

Se é incorreto para as lideranças da CGT avançarem reivindicações políticas em consonância com necessidades objetivas, incluindo a formação de um governo operário e camponês, então por que o SWP exige dos atuais Gompers do movimento sindical americano que eles organizem um Partido dos Trabalhadores? Um Partido dos Trabalhadores que objetive colocar um governo operário e camponês no poder nos Estados Unidos?

A aprovação de Pablo parece ainda mais estranha se nos lembrarmos que a liderança da CGT é altamente política. Ao menor sinal do Kremlin, essa liderança não hesita em convocar os trabalhadores para a mais precipitada aventura política. Lembremos, por exemplo, seu papel nos acontecimentos iniciados com as manifestações anti-Ridgway no ano passado. Esses dirigentes sindicais stalinistas não hesitaram em chamar greves para protestar contra a prisão de Duclos, um líder do Partido Comunista.

O fato é que a direção da CGT revelou seu alto caráter político mais uma vez em greves gerais. Com toda a habilidade de anos de traição e jogo duplo, ela deliberadamente tentou eliminar os trabalhadores, sufocar suas iniciativas, impedir de avançarem suas reivindicações políticas. As lideranças sindicais stalinistas foram conscientemente traidoras. E esse caminho de traições é o que Pablo considera “correto”!

E isso não é tudo. Um dos principais objetivos do panfleto pablista é denunciar os trotskystas franceses que atuaram durante a greve na fábrica Renault como genuínos revolucionários. O panfleto nomeia especificamente 2 camaradas que “foram expulsos da IV Internacional e da seção francesa há mais de um ano.” Declara também que esse “grupo foi expulso por razões de indisciplina; e a orientação que seguiram, especialmente durante o último movimento grevista, era oposta àquela realmente defendida pelo PCI (Seção francesa da IV Internacional).” A referência ao “grupo” é, na verdade, à maioria da Seção Francesa da IV Internacional que foi arbitraria e injustamente expulsa por Pablo. [6]

O movimento trotskysta internacional alguma vez ouviu tamanho escândalo como a denúncia de militantes trotskystas a stalinistas e ainda a apresentação de tal fato aos trabalhadores justificando-o como uma traição stalinista abominável?

Deve-se observar que a denúncia pablista desses camaradas aos stalinistas, se dá depois de um veredito do tribunal dos trabalhadores, absolvendo os trotskystas da fábrica da Renault das calúnias que lhes fizeram os stalinistas.

Os Pablistas Americanos

O exame desses acontecimentos mundiais é suficiente, na nossa opinião, para indicar a profundidade da conciliação entre o pablismo e o stalinismo. Mas nós gostaríamos de submeter à análise de todo o movimento trotskysta internacional alguns fatos adicionais.

Por mais de um ano e meio o SWP esteve comprometido em uma luta contra uma tendência revisionista liderada por Cochran e Clarke. A luta contra essa tendência foi uma das mais duras na história do nosso partido. Na verdade, se tratavam das mesmas questões fundamentais que nos dividiram do grupo de Burnham e Shachtman e do grupo de Morrow e Goldman no começo e final da II Guerra Mundial. Essa é uma nova tentativa de revisar e abandonar nosso programa fundamental. Suas posições comprometem a perspectiva da revolução americana, o caráter e o papel do partido revolucionário e seus métodos de organização, e as perspectivas para o movimento trotskysta internacional.

Durante o período pós-guerra, uma poderosa burocracia consolidou-se no movimento operário americano. Essa burocracia apóia-se sobre uma ampla camada de trabalhadores privilegiados, conservadores, que foram “amolecidos” pelas condições da prosperidade da guerra. Essa nova camada privilegiada saiu em grande medida das fileiras dos setores militantes da classe trabalhadora, da mesma geração dos que fundaram a CIO.

A relativa segurança e estabilidade das suas condições de vida paralisaram temporariamente a iniciativa e o espírito de luta daqueles trabalhadores que anteriormente estavam na linha da frente em todas as ações militantes de classe.

O Cochranismo é a manifestação da pressão dessa nova aristocracia operária, com sua ideologia pequeno-burguesa exercida sobre a vanguarda proletária. Os ânimos e tendências das camadas de trabalhadores passivos e relativamente satisfeitos atuam como um mecanismo poderoso transmitindo pressões contrárias para o nosso movimento. O slogan dos Cochranites, “abaixo o velho Trotskysmo”, expressa esse sentimento.

A tendência cochranista vê um grande potencial revolucionário da classe trabalhadora americana como um projeto distante. Eles acusam de “sectária” a análise marxista que revela os processos moleculares de criação de novos setores de luta no proletariado norte-americano.

À medida que há tendências progressistas no interior da classe trabalhadora nos Estados Unidos, eles as vêem apenas nas fileiras ou periferia do stalinismo e entre “sofisticados” políticos dos sindicatos — o restante da classe é considerada irremediavelmente adormecida, e somente o impacto de uma bomba atômica poderia acordá-la.

Sinteticamente, suas posições revelam: falta de confiança na perspectiva da revolução norte-americana; falta de confiança no papel do partido revolucionário em geral e no SWP em particular.

Características do Cochranismo

Como bem sabem todas as seções do movimento internacional a partir de suas duras e difíceis experiências, as pressões que existem são maiores que as que se criaram com a prolongada prosperidade da guerra e com a onda de reação como a que ocorreu nos Estados Unidos. Mas o fator que sustenta os quadros sob as mais difíceis circunstâncias é a total convicção da concretude teórica do nosso movimento, é saber que eles são os meios reais para seguir adiante na tarefa histórica da classe trabalhadora, é compreender que, de uma maneira ou de outra, o destino da humanidade depende do que eles fazem, é a firme convicção de que quaisquer que sejam as circunstâncias momentâneas, a linha principal do desenvolvimento histórico exige a criação de partidos leninistas combativos que resolverão a crise da humanidade a partir da revolução socialista vitoriosa.

Cochranismo é a substituição desta visão de mundo trotskysta ortodoxa pelo cepticismo, improvisações teóricas e especulações jornalísticas. Foi isso que tornou irreconciliável a luta no SWP, no mesmo sentido em que a luta com a oposição pequeno-burguesa em 1939-40 era irreconciliável.

Os Cochranistas manifestaram as seguintes posições ao longo da luta:

1. Desrespeito à tradição do partido e à sua tarefa histórica. Os cochranistas dificilmente perdem uma oportunidade para denegrir, ridicularizar e desprezar os 25 anos de tradição do trotskysmo norte-americano.

2. Uma tendência a substituir a política fundamentada em princípios marxistas por combinações sem princípios contra o “regime” do partido. Assim, a fração cochranista é composta por um bloco de elementos contraditórios. Um grupo, centrado principalmente em Nova Iorque, favorece uma espécie de tática “entrista” no movimento stalinista norteamericano.

Outro grupo, composto por elementos conservadores do sindicato, centrados originalmente em Detroit, considera que pouco será ganho na aliança com os stalinistas. O grupo baseia sua perspectiva revisionista em uma super-estimação da estabilidade e duração do poder da nova burocracia operária.

Também se vêem atraídos pelos cochranistas indivíduos cansados que não mais podem suportar a pressão das condições adversas atuais e que estão buscando uma justificativa plausível para afastarem-se para a inatividade.

O cimento que une este bloco sem princípios é a comum hostilidade ao trotskysmo ortodoxo.

3. Uma tendência a afastar do partido aquilo que deve ser nosso principal campo de luta na América, os trabalhadores politicamente adormecidos das grandes indústrias. Os cochranistas, de fato, eliminaram do programa as palavras de ordem e reivindicações transitórias as quais o SWP tem usado como ponte a esses trabalhadores e argumentam ainda que a maioria que permanece nesse caminho está se adaptando ao atraso dos trabalhadores.

4. Uma convicção de que se deveria descartar toda a possibilidade da classe trabalhadora norte-americana avançar em oposição radical ao imperialismo norte-americano antes da III Guerra Mundial.

5. Uma absurda teorização experimental com o stalinismo de “esquerda” que se reduz à extravagante crença de que os stalinistas “já não podem mais trair”, de que o stalinismo inclui um lado revolucionário que torna possível aos stalinistas liderarem uma revolução nos Estados Unidos, no processo no qual eles absorveriam “idéias” trotskystas, de tal maneira que a revolução eventualmente “entraria para o caminho correto”.

6. Adaptação ao stalinismo diante dos novos acontecimentos. Eles apóiam e defendem a conciliação com o stalinismo baseados na interpretação de Pablo sobre a queda de Béria [7] e as conseguintes desobstruções na URSS. Eles repetem todos os argumentos pablistas que encobrem o papel contra-revolucionário do stalinismo no grande levantamento dos trabalhadores da Alemanha Oriental e na Greve Geral na França. Eles chegam a interpretar a aproximação do stalinismo norte-americano com o Partido Democrata como uma mera “oscilação” à direita dentro de um “processo de esquerdização”.

7. Desprezo pelas tradições do leninismo em relação à organização. Durante algum tempo eles tentaram implementar um “poder dual” no partido. Quando foram rechaçados pela esmagadora maioria do partido na Plenária de Maio de 1953, eles aceitaram por escrito submeter-se à decisão da maioria e à linha política tal como fora decidido na Plenária. Posteriormente romperam o acordo renovando sua sabotagem fracionista às ações do partido sobre bases mais febris e histéricas.

O cochranismo, cujas principais características mencionamos acima, nunca foi mais que uma fraca minoria no partido. Não teria tido mais que uma insignificante e fraca expressão de pessimismo, se não tivesse a ajuda e apoio de Pablo por trás das lideranças do partido.

A ajuda e apoio secretos dados por Pablo foram desmascarados logo depois da nossa Plenária de Maio, e desde então, Pablo vem colaborando abertamente com a fração revisionista no nosso partido, sendo inspirador da sua campanha de sabotagem das finanças do partido, destruição do trabalho do partido e da preparação para uma ruptura.

A fração Pablo-Cochran, por fim, culminou sua conduta desleal em um boicote organizado à celebração do 25º Aniversário do Partido, que se realizou em Nova Iorque, combinada com uma manifestação para a campanha às eleições municipais de Nova Iorque, que finalmente foram canceladas.

A ação traidora e de quebrar a greve constituiu, de fato, uma manifestação organizada contra a luta de 25 anos do trotskysmo norte-americano e, ao mesmo tempo, um ato de apoio direto ao stalinismo, que havia expulsado os núcleos iniciadores do trotskysmo norte-americano em 1928.

O boicote organizado a esse encontro foi, de fato, uma demonstração contra a campanha do SWP nas eleições municipais de Nova Iorque.

Todos os que participaram deste ato traidor anti-partido, obviamente consumaram a ruptura com o partido, a qual vinham planejando há muito tempo e perderam o direito de fazer parte do nosso partido.

Em um reconhecimento formal desse fato, a Plenária do 25o Aniversário do SWP expulsou os membros do Comitê Nacional que organizaram o boicote, e declarou que todos os membros da fração Pablo-Cochran que participaram dessa ação traidora e de quebra da greve ou que se negaram a repudiar esses atos, colocavam-se, por isso, fora das fileiras do SWP.

Métodos do Comintern [8]

O jogo duplo de Pablo ao apresentar uma face à liderança do SWP enquanto secretamente colaborava com a tendência revisionista cochranista é um método que está fora da tradição do trotskysmo. Mas existe uma tradição à qual ela pertence — ao stalinismo. Tais instrumentos, usados pelo Kremlin, são os mesmo usados para corromper a Internacional Comunista. Muitos de nós experimentamos isso no período de 1923-1928.

A evidência agora é clara de que aquela forma de atuação não é uma aberração isolada por parte de Pablo. Um padrão consistente aparece.

Por exemplo, em uma das principais seções européias da IV Internacinal, um destacado dirigente do partido recebeu uma ordem de Pablo, segundo a qual ele deveria conduzir-se como alguém que “defende até o 4o Congresso Internacional, a linha e a disciplina da IV Internacional”. Junto a esse ultimato, Pablo anunciava represálias àqueles que não obedecessem às ordens. [9]

A “maioria” a que Pablo se refere é simplesmente a modesta etiqueta que ele coloca sobre si mesmo e sobre a pequena minoria hipnotizada pelas suas novidades revisionistas. A nova linha de Pablo está em violenta contradição com o programa fundamental do trotskysmo e está apenas começando a ser discutida em muitas partes do movimento trotskysta internacional. Não havendo sido sustentada por qualquer organização trotskysta, ela não constitui a linha oficial aprovada da IV Internacional.

Os primeiros informes que temos recebido indicam a indignação que provoca sua vontade arbitrária de introduzir à força suas concepções revisionistas na organização em nível mundial, sem esperar por uma discussão ou votação. Já temos informações suficientes para afirmar que a IV Internacional está decidida a rechaçar a linha de Pablo por esmagadora maioria.

A exigência autocrática de Pablo a um dirigente da IV Internacional, de abster-se de criticar a linha política revisionista de Pablo, já é ruim o suficiente. Mas Pablo não para por aí. Enquanto tenta silenciar esse líder e impedi-lo de participar de uma discussão na qual a militância se beneficiaria de sua experiência, conhecimento e percepção, Pablo continuava a intervir organizativamente, tratando de consolidar uma fração minoritária revisionista que levasse adiante a luta pela liderança da seção.

Esse fato é típico da asquerosa tradição do Comintern, quando este caiu em degeneração sob a influência do stalinismo. Se não houvesse outro problema como este, seria necessário vencer o pablismo até o final para salvar a IV Internacional da corrupção interna.

Tais táticas têm um objetivo claro. Fazem parte da preparação de um golpe pela minoria pablista. Utilizando o controle administrativo de Pablo, eles pretendem impor sua linha revisionista na IV Internacional e onde encontrarem resistência, provocarem rupturas e expulsões.

O método organizativo stalinista começou, como podemos perceber agora, com o brutal abuso do controle administrativo por Pablo na sua campanha contra a maioria da seção francesa da IV Internacional, há mais de um ano e meio.

Por ordem do Secretariado Internacional, a maioria eleita da seção francesa foi proibida de exercer seus direitos de liderar o trabalho político e de propaganda do partido. Em vez disso, o Bureau Político e a imprensa foram colocados sob o controle de uma minoria, a partir do modelo cominternista de uma “comissão paritária”.

Nesse momento, nós desaprovamos profundamente essa ação arbitrária na qual uma minoria foi usada para contrariar e derrubar arbitrariamente uma maioria. [10] Assim que soubemos disso, nós comunicamos nosso protesto a Pablo. No entanto, nós devemos admitir que cometemos um erro em não tomar atitude mais vigorosa. Esse erro foi devido a uma insuficiente apreciação da nossa parte dos reais problemas que estavam envolvidos. Pensamos que as diferenças entre Pablo e a seção francesa eram táticas, o que nos levou para o lado de Pablo, apesar de nossa desconfiança quanto aos seus procedimentos organizativos, quando, depois de meses de uma luta destruidora de frações, a maioria foi expulsa.

No fundo, as diferenças eram de caráter programático. O fato é que os camaradas franceses da maioria viram o que estava acontecendo de maneira mais clara do que vimos. O 8º Congresso do seu partido declarou que “um grave perigo ameaça o futuro e inclusive a existência da IV Internacional… Concepções revisionistas, produto da covardia e do impressionismo pequeno-burguês apareceram no interior da sua direção. A fragilidade ainda grande da IV Internacional, separada da vida de suas seções, facilitaram momentaneamente a instalação de um sistema de domínio pessoal, que baseia a si mesmo e os seus métodos anti-democráticos no revisionismo do programa trotskysta e no abandono dos método marxista.” (La Verité, 18 de setembro de 1952)

Toda a situação francesa deve ser reexaminada à luz dos acontecimentos subseqüentes. A atuação da maioria da seção francesa na greve geral demonstrou de maneira decisiva que eles, sim, sabem carregar os princípios fundamentais do trotskysmo ortodoxo. A seção francesa da IV Internacional foi injustamente expulsa. A maioria francesa, agrupada em torno do periódico La Verité, são os verdadeiros trotskystas da França, e o SWP os reconhece abertamente como tais.

Particularmente repugnante é a declaração caluniosa de Pablo sobre as posições políticas da seção chinesa da IV Internacional. A fração pablista os apresentou como “sectários” e “desertores da revolução”.

Contrariamente à impressão deliberadamente criada pela fração de Pablo, os trotskystas chineses atuaram como verdadeiros representantes do proletariado chinês. Eles foram escolhidos como vítimas do regime de Mao, da mesma maneira que Stalin condenou à morte toda a geração de bolcheviques leninistas na URSS, imitando os Noskes e Scheidemanns alemães que decidiram executar os Luxemburgos e Liebknechts da revolução de 1918. [11] Mas a linha de Pablo, de conciliação com o stalinismo, a leva inevitavelmente a defender o regime de Mao, enquanto ataca a posição principista de nossos camaradas chineses.

O Que Fazer

Resumindo: o abismo que separa o revisionismo pablista do trotskysmo ortodoxo é tão profundo que nenhum compromisso político ou organizativo é possível. A fração de Pablo demonstrou que não permitirá decisões democráticas que reflitam a opinião da maioria. Eles exigem a completa submissão à sua política criminosa. Eles estão decididos a eliminar da IV Internacional todos os trotskystas ortodoxos, a calá-los ou atar-lhes as mãos.

Seu plano tem sido introduzir a conciliação com o stalinismo de forma fragmentada e, ao mesmo tempo, livrar-se daqueles que vêem o que se passa e levantam objeções. Esta é a explicação da estranha ambigüidade de muitas das formulações e evasões diplomáticas pablistas.

Até agora, Pablo tem tido um certo êxito em suas manobras maquiavélicas e sem princípios. Mas chega-se a um ponto em que há uma mudança qualitativa. As questões políticas se apresentam liquidando as manobras, e a luta é agora um enfrentamento aberto.

Se pudermos dar um conselho às seções da IV Internacional, da nossa posição forçada de estarmos fora das filas, [12] pensamos que é o momento de atuar, e atuar de maneira definitiva. É chegada a hora da maioria da IV Internacional mostrar sua vontade contra a usurpação da autoridade feita por Pablo.

Eles deveriam, além disso, salvar a direção da IV Internacional retirando Pablo e seus agentes de seus cargos, e levando para lá, quadros que têm demonstrado na ação que sabem conduzir o trotskysmo ortodoxo e manter o movimento no caminho correto tanto do ponto de vista político como organizativo.

Saudações fraternas trotskystas,
Comitê Nacional do SWP.

Notas:

(1) A Letter to Trotskyists Throughout the World. A carta foi publicada em 16 de novembro de 1953, no The Militant. Ficou conhecida como “A carta de Cannon de 1953”. Este documento tornou-se o símbolo do trotsquismo ortodoxo. Documento escrito em 1953, que serviu de base para a fundação do Comitê Internacional da Quarta Internacional. Foi a partir deste documento, defensor do trotsquismo ortodoxo, que se iniciou a luta histórica contra as teorias revisionistas de Michel Pablo e Ernest Mandel. A carta de 1953 ainda deve ser lida por todos aqueles que querem conhecer os princípios da luta histórica do trotsquismo contra a burocracia stalinista e contra o revisionismo pablista.

(2) Devido à repressão da “democracia” americana dos anos 50, o SWP não se podia declarar filiado à IV Internacional.

(3) Dissidente do SWP que em 1953 sabotava o trabalho da seção americana.

(4) Delegacias de repressão e controle nazistas.

(5) Ou seja, a noção de “freio” encobria aquilo que era, na verdade, traição!

(6) Trata-se dos militantes comandados por Pierre Lambert.

(7) Dirigente da burocracia que assumiu o poder na URSS, após a morte de Stálin.

(8) Ou seja, refere-se aos métodos burocráticos da III Internacional corrompida pelo stalinismo.

(9) Referência ao ultimato dado a Gerry Healy, líder da seção inglesa.

(10) A maioria era liderada por Lambert.

(11) Referência aos líderes da social-democracia alemã que colaboraram na repressão e assassinato dos revolucionários alemães, Rosa Luxemburgo e Liebknecht.

(12) Mais uma referência à situação delicada da seção americana que não podia se declarar como pertencente à IV Internacional, devido à repressão da “democracia” americana.

Militant Longshoreman No 11

Militant Longshoreman

No #11  November 27, 1984

SOUTH ‘AFRICAN CARGO STOPPED COLD!
LET’S KEEP IT THAT WAY!
EXTEND THE BOYCOTT!

Since Saturday morning Bay Area longshoremen have refused to unload South African cargo at Pier 80. This boycott of cargo to and from South Africa stands in militant solidarity with the struggle of South African blacks against the murderous, apartheid regime and in support of the powerful stay-away strikes waged by the black trade unions. In support of the courageous actions of Local 10 members, hundreds of people from labor, socialist and community organizations demonstrated at Pier 80 in our support and got largely favorable TV coverage for our action.

Saturday morning the gangs for the Nedlloyd Kimberley were not filled, so the ship was not worked at all. Saturday night the gangs discharged Australian cargo but when they got to the South African cargo the brothers and sisters refused to work It. They were fired for “failure to work as directed”.

Monday the PMA demanded that the union be found guilty of an “illegal work stoppage”. Instead, the arbitrator ruled against the men who refused to handle the cargo for reasons of consciousness. Nothing is left on the ship except South African cargo and every longshoreman dispatched has refused to handle it.

The employer has now two choices: either to pursue the arbitration procedure and then seek a court injunction to try to force us to work the cargo or to move the ship on to another port.

If the courts issue an injunction we should singly ignore it. An injunction is just a piece of paper. Our brothers and sisters in South Africa almost daily stand up to anrty and police bullets, beatings, arrests, mass firings, and deportations. The capitalist courts are our enemies as they’ve proven again and again when we are dragged into court as in the Gibson and Golden cases. In the case of South African cargo, with the Reagan regime closely and openly allied to the apartheid butchers, a judge can easily be found to order us to work the cargo.

But we proved during the Levin strike in Richumd that injunctions can be beaten. When the employer hired non-ILWU labor to steal our jobs, we responded to the injunction and to the presence of Richmond’s racist killer cops with mass pickets and by shutting down every ship in the Bay Area. The employer backed down and the injunction was quickly forgotten.

If Nedlloyd moves the Kimberley on to another port, Local 10 should immediately request that the other ILM locals honor and join our action by refusing to work the South African cargo. They joined us during the week long cargo boycott in 1977 in support of the Soweto uprising. And our action could also inspire solidarity from the heavily black East Coast ILA.

We should also request the groups, which demonstrated in our support at Pier 80, build similar demonstrations up and down the coast wherever the Nedlloyd Kimberley puts in.

So far, International President Herman has given us no real support. There is no middle ground. Either Brother Herman supports our courageous and principled stand or he is giving ground to Reagan, and the system of apartheid which Reagan supports. Our membership should demand Jimmy Herman’s public support.

Our act, like that of Australian maritime workers who have refused to work ships bound for South Africa, is a powerful demonstration of internationalism. It is concrete acts of solidarity like this, not ineffectual divestmeant, schemes,which can aid the South African working class in smashing apartheid and establishing a black-centered workers government.

Labor’s ability to wage solidarity strikes is a powerful political weapon. If U.S. unions had struck against the Vietnam war, the U.S. government would have been forced to withdraw much earlier. From continuing actions in support of the South African masses, to a general strike in defense of San Francisco restaurant workers as requested by Local 2, to a coastwise port shut down if Reagan invades Nicaragua; these are actions which by defending all workers will give us strength and make a reality the ILWU motto “An Injury to One Is An Injury to All

Militant Longshoreman No. 16

Militant Longshoreman

No. 16,  February 7, 1986

MASS PICKETS TO PUT NON-UNION BARGE OPERATORS OUT OF BUSINESS!

ORGANIZE THE UNORGANIZED!

When the Coast Longshore Caucus meets February 10 the hottest issue on the agenda will be the substandard contract for longshore work signed by the International with a northwest barge operator. This contract grants not only substandard wages and manning but provides that ILWU Inland Boatmen – not registered longshoremen – will perform the work. Local 10 delegates are under instructions from the membership to oppose this and any substandard contracts for longshore work. The militant posturing on the part of Stan Gow, who put up the motion, and the brothers who spoke passionately on substandard contracts covers up the fact that they have no program to combat the growing threat to our job jurisdiction.

LONGSHORE JOB JURISDICTION UNDER ATTACK

At the recent Longshore Division meeting in San Francisco a Local officer from the Northwest reported that there are 20 non-ILWU barge loading operations in the Puget Sound area; several ships had been loaded without ILWU longshoremen, and a non-union tug company from the Gulf is now operating in a big way in the off-shore barge trade on the Pacific coast.

In recent years dozens of non-ILA stevedoring operations have sprung up on the Atlantic and Gulf coasts. Some 20 non-union stevedoring companies have become so bold that recently they demanded permission by port authorities to carry their scab operations into publicly owned port facilities threatening to put them out of business if they weren’t allowed to compete directly for ILA jobs. In Baltimore and Houston longshoremen fought pitched battles with cops to protect their jobs.

WHAT IS HERMAN’S PROGRAM?

The strategy of the International to protect our jobs is best revealed by peaceful “area standards” picketing of Seaways in Seattle combined with their equally ineffectual legal actions. Now President Jimmy Herman has come up with a new gimmick – try to establish jurisdiction by using the IBU (Inland Boatmen) to negotiate substandard contracts for longshore work. This strategy will prove to be at least as much of a failure as the strategy of signing substandard CFS contracts. So, who has an alternative? When Brother Herman challenged the officers of the longshore, clerks, and walking bosses locals to propose another strategy no one responded. Judging by their performance at previous Caucuses it doesn’t look like any of the delegates will propose anything better than a “head in the sand” attitude. The best we can expect is a lot of rhetoric about how undemocratic President Herman was to sign this contract without Caucus agreement.

HOW TO WIN!

There’s only one way to defend our jobs against non-union attacks; a strategy of mobilizing the full strength of the union in mass picket lines and of building solidarity actions of all maritime unions to smash non-union employers and organize the unorganized seamen and longshoremen. The 1983 shut down of Levin’s in Richmond by Bay Area ILWU and the Columbia River longshore mass mobilization against a non-union barge operation in Vancouver, Washington, show that waterfront workers aren’t afraid to do what is necessary to defend the union, even when it means defying court injunctions. We must organize our forces, select the weakest non-union barge company and put him out of business; then move on to the next weakest. By the time we get to Seaways we could be on a real labor crusade that would draw in thousands of maritime unionists and convince the unorganized that the trade union movement can protect them.

In his December 15 Dispatcher editorial on organizing Jimmy Herman accepts as an unchangeable fact that under the present laws unions can’t protect workers from employer firing and victimizing when they try to organize. He believes that unionized workers won’t fight even to protect their own job jurisdiction and conditions, let alone join in mass picket lines and secondary boycotts to defend other workers. This cynical, defeatist and wrong-headed view about workers ignores the historic lessons of the labor movement which showed that the broader and more militant labor struggles become, the more workers were encouraged to join in defending their own and other workers struggles. The last few years have seen a series of heroic desperate battles by workers – struggles isolated and betrayed by the union bureaucrats.

NO ENDORSEMENTS!

Militant Longshoreman is making no endorsements in this election. While there are a number of honest rank and filers running for various offices who are loyal to the union and want to defend their conditions, none of these brothers are running on a program which commits them to a militant class-struggle strategy – a program that shows they won’t be confused or misled by the narrowly selfish, short-sighted and fearful arguments that have dominated union politics for too long.

Brother Stan Gow’s continued refusal to run on a program reflects his disorientation and opportunism. Two incidents reveal Stan’s irresponsibility. In the November meeting Stan made a motion to defend the striking Chilean Longshoremen by refusing to handle Chilean cargo. During and since our 11-day boycott of South African cargo in 1984 Brother Stan Gow has viciously attacked Howard Keylor for playing a leading role in that cargo boycott, arguing that only a ship boycott  is supportable, even at a public meeting in Europe last year. But inconsistency is not the worst aspect of Brother Gow’s actions. He got up and made the motion without even trying to build up support in the local by getting brothers and sisters to second and speak on the motion. We can only conclude that he and the Militant Caucus are just interested in making the record, that they don’t really believe that longshoremen will act militantly in solidarity with their working class brothers.

When Gow and Keylor were collaborators Stan struggled hard to defuse conflict between our local and other ILWU locals. He understood that we must have unity  between waterfront locals. Only the PMA profits when clerks and longshoremen fight each other. At the January membership meeting Brother Gow joined in on the cheap demagogic attacks on the settlement between Locals 10 and 34 pertaining to extra clerks work, even though he knows how important it is to continue to build ILWU unity.

This leaflet is already too long. The Militant Longshoreman will be issued more frequently in 1986.

ELECT THE CLASS STRUGGLE CANDIDATE!
HOWARD KEYLOR 25-B
CAUCUS & CONVENTION

Sandinistas expulsan a “Brigada Simón Bolívar”

Sandinistas expulsan a “Brigada Simón Bolívar”

SWP traiciona a sus “compañeros”

La revolución en Nicaragua y la izquierda

[Extracto de Workers Vanguard No. 240, 28 de septiembre de 1979. Traducido en Spartacist No. 11, diciembre de 1982]

Costó 18 meses de lucha amarga, incluyendo dos insurrecciones de combates sangrientos durante once semanas, para echar a la hiena de Managua. De una población de 2,3 millones de habitantes, murieron casi 50.000. Las ciudades actualmente están en ruinas, la población sobreviviente está al borde de morir de hambre y tres cuartas partes de la fuerza laboral están en paro. Quienes tanto han sacrificado en la lucha ahora aspiran fervientemente a desarraigar todo rastro de la odiada dinastía que desangró al país. Reclamando lo que por derecho les pertenece, las masas nicaragüenses ya están invadiendo la propiedad de la burguesía tardíamente opositora, la cual durante décadas ha extraído grandes lucros del sudor de los trabajadores en Somozalandia.

Ahora el lema del triunfante Frente Sandinista de Liberación Nacional (FSLN) es “la reconstrucción nacional”. ¿Sobre qué base? Con su programa de un “gobierno de unidad de todas las fuerzas antisomocistas” los dirigentes sandinistas esperan limitar la revolución a un simple reemplazo de la rapaz dictadura de familia por un régimen capitalista reformado, “democrático-popular”. Como prueba de “la generosidad de la Revolución Nicaragüense” se han negado a ajusticiar a ninguno de los criminales de la Guardia Nacional que en forma indiscriminada torturaron a la población y arrojaron bombas de alto poder explosivo sobre sus propias ciudades. Mientras por un lado expropian las propiedades del tirano y sus colaboradores más estrechos, los nuevos gobernantes han declarado que protegerán los bienes de los demás capitalistas.

Ha sido muy claro desde el comienzo que el “gobierno” de Managua es muy inestable. Los fusiles están evidentemente en manos de los sandinistas, nacionalistas radicales pequeño burgueses. Pero un FSLN unido sólo fue establecido al último momento mediante una unificación de papel de las tres fracciones escindidas desde hace varios años. Aunque en el momento actual la “burguesía antisomocista” se muestra dócil, y a medida que se intensificaba la lucha declinó su influencia, no es pasiva ni ha sido desacreditada por el estigma de colaboración con el dictador como lo fueron los capitalistas cubanos para con Batista. Por otro lado, las masas trabajadoras son un factor mucho más activo de lo que fueron las masas durante la Revolución Cubana, ya que en el caso de Nicaragua se han armado y han luchado en batallas críticas en las calles de la capital y en otras ciudades. Ya que el enemigo común ha sido derrotado, resulta imposible frenar la lucha de clases simplemente ordenando a los combatientes que se vuelvan a casa.

La correlación de fuerzas en la Nicaragua postsomocista lleva dentro de si una potencialidad para varias confrontaciones explosivas – al interior de la inestable coalición imperante, entre esta coalición y las masas trabajadoras impacientes, o entre un sector del FSLN radical-jacobino y los sectores reaccionarios de la burguesía criolla. Esta situación cargada constituye una verdadera prueba de fuego para los revolucionarios. Mientras la gran mayoría de la izquierda, en un grado u otro, sigue a la cola de los aclamados sandinistas, la tarea de los trotskistas, cuya lucha se basa en el programa de la revolución permanente, es de mantenerse como el partido de intransigente oposición obrera. Quienes proclaman que la revolución proletaria y socialista puede llevarse a cabo en Nicaragua en forma pacífica, al empujar al actual régimen bonapartista paulatinamente hacia la izquierda, bien pueden ser las primeras víctimas de sus propias ilusiones.

Puede que los dirigentes del FSLN crean que su programa de “revolución democrático-popular” representa una etapa intermedia entre el capitalismo y la dictadura del proletariado. Pero la experiencia pronto demostrará que sólo una exhibición de fuerza podrá detener la tendencia de las masas trabajadoras a transformar la victoria sobre Somoza en una revolución social en gran escala. Y si acaso ellos no lo sabían ya, se están dando cuenta rápidamente. Cuando la agencia de noticias cubana, Prensa Latina, le preguntó al alto comandante del FSLN Humberto Ortega, “¿Cómo es que enfrentarán Uds. la lucha de clases que se desarrollará en esta etapa?”, él respondió:

“Para impedir que esta lucha se agudice, es necesario, implementar el programa apoyado por el Frente y la burguesía antisomocista. Luego, debemos luchar contra  diferentes tipos de desviaciones.”

Granma [edición semanal en inglés], 2 de septiembre de 1979

Que la lucha contra las “desviaciones” significa represión contra la clase obrera pronto quedó muy claro, sobre todo en torno a la reforma agraria. Aún cuando de alcance extenso – afecta hasta un 60 por ciento de la tierra arable de Nicaragua – se ha limitado a aquellas propiedades pertenecientes a Somoza y sus secuaces. Esto es justificado por el ministro de reforma agraria, Jaime Wheelock, con el siguiente argumento: “Debemos mantener la solidaridad con los miembros del sector privado que apoyaron el desalojamiento de Somoza” (New York Times, 5 de agosto de 1979). Pocos días después, responsables del FSLN chocaban con un grupo sindical maoísta (Frente Obrero) que organizaba tomas de tierras cerca de la ciudad de León. De acuerdo con Wheelock, “las pocas ocupaciones desordenadas” eran atípicas; las haciendas fueron “devueltas a sus propietarios originales” y los campesinos recibieron tierras de Somoza en su lugar (Granma [edición semanal en inglés], 12 de agosto).

Expulsión de la Brigada Simón Bolívar

La supresión de las tomas de tierras “desordenadas” no es el único ejemplo de medidas tomadas para impedir que la lucha de clases “se agudice”. La más notoria fue la expulsión de varias decenas de militantes de izquierda extranjeros, en su mayoría autoproclamados trotskistas, relacionados con la “Brigada Simón Bolívar” (BSB) que se precipitaron hacia Nicaragua en las últimas etapas de la lucha contra Somoza. El incidente fue descrito en la revista Time (3 de septiembre) al final de un artículo que alababa a la “revolución misericordiosa” que seguía “un rumbo intermedio”:

“De modo sorprendente, la primera amenaza seria ha venido de un grupo de extrema izquierda. Sesenta trotskistas latinoamericanos denominándose la Brigada Simón Bolívar, descontentos con los proyectos del gobierno para la construcción de una economía mixta incorporando empresas públicas y privadas, incitaron una manifestación de 3.000 obreros industriales de Managua reivindicando compensación por los salarios perdidos durante la revolución. La reacción del gobierno revolucionario fue ordenar a sus fuerzas armadas que arrojasen a los trotskistas en un avión rumbo a Panamá.”

De acuerdo con el Washington Post (21 de agosto), en la manifestación de Managua del 15 de agosto las pancartas llevaban las consignas “La Revolución está en las manos de la burguesía” y “Proletariado al poder”. Sin embargo, los expulsados brigadistas bolivarianos fueron acusados de “contrarrevolucionarios” y “provocadores extranjeros”.

Por cierto, esta expulsión ha sido un golpe en contra de toda agitación independiente de izquierdas entre los obreros nicaragüenses y debe ser condenada rotundamente por todos aquellos que se dicen socialistas. Pero el Socialist Workers Party (SWP) norteamericano lo ha visto de otra manera. El SWP no protestó en absoluto. Al contrario, dió cuatro “explicaciones” distintas de la represión sandinista contra los dirigentes seudotrotskistas de la Brigada Simón Bolívar, de las cuales una consistía en la citación sin comentarios de la declaración del ministerio del interior nicaragüense. Es más, estas explicaciones del SWP no sólo apoyan descaradamente al gobierno del FSLN en contra de sus propios “camaradas”, sino participan en la caza de brujas ellos mismos. Una declaración del 21 de agosto del Comité Político del SWP titulada “Propaganda imperialista contra Nicaragua” dice:

“La Brigada Simón Bolívar fue organizada por 1o Partido Socialista de los Trabajadores (PST) de Colombia bajo la dirección de una agrupación internacional conocida como, la ‘Fracción Bolchevique’, dirigida por Nahuel Moreno, …

“En lo que concierne a la Brigada Simón Bolívar, la Fracción Bolchevique nunca consultó a la Cuarta Internacional sobre este proyecto o sobre la política que la Brigada seguía. Esta política iba en contra de la política trazada por la dirección elegida de la Cuarta Internacional.

“Por medio de la Brigada Simón Bolívar la Fracción Bolchevique llevó a jóvenes militantes de varios países latinoamericanos – militantes que querían ayudar en la lucha contra Somoza – a una aventura sectaria. Posando como una sección del Frente Sandinista de Liberación Nacional, la Brigada Simón Bolívar vino a Nicaragua desde afuera para participar en sus propios esfuerzos organizativos cuyos fines eran flanquear a los sandinistas desde la izquierda. Su táctica fue responder con propuestas más extremas a todo lo que los sandinistas decían, intentando así conformar una contrafuerza a éstos.

“Esta grotesca idea – que gente de afuera puede mediante maniobras capturar la dirección de la revolución de aquellos que surgieron como sus dirigentes en el curso de la lucha – no tiene nada que ver con el trotskismo, con el socialismo revolucionario.

“El desafortunado episodio de la Brigada Simón Bolívar era justamente lo que la administración Carter necesitaba.”

Perspectiva Mundial, 24 de septiembre de 1979

En otro artículo del Militant del 31 de agosto, que trata de “Los hechos sobre la Brigada Simón Bolívar”, el SWP califica de “choque provocador” la manifestación obrera de Managua y acusa a los dirigentes de la Brigada de “haber actuado de manera irresponsable”. Una vez más, el informe de los “hechos” sostiene que los intentos de la Brigada en el sentido de “flanquear [al FSLN] desde la izquierda” no tenían “nada en absoluto en común con la política de la Cuarta Internacional”. Y con ostentación se lava las manos de cualquier asociación: “La Cuarta Internacional no es, en ninguna forma, responsable de las actividades de la Brigada.” Para venir de la boca de gente que formalmente pertenecen a la misma “Internacional”, es bastante.

La respuesta del SWP ante la expulsión de los brigadistas bolivarianos ha sido la puñalada por la espalda más vergonzosa por parte de una sección del seudotrotskista Secretariado “Unificado” (S.U.) desde cuando sus partidarios portugueses se encontraron en lados opuestos de las barricadas durante el verano de 1975. Pero, ¿qué hay de las demás alas de esta falsa IV Internacional, acostumbrada desde hace tiempo a trucos fraccionales de lo más sucios? Los ataques a la Brigada lanzados por aquellas secciones asociadas con la antigua Tendencia Mayoritaria Internacional (TMI) de Ernest Mandel han sido menos virulentos que los del SWP, como máximo cloqueando las lenguas contra la represión ordenada por el FSLN. Así, el periódico de la LCR francesa, Rouge (24-30 de agosto), se vio obligado a condenar las declaraciones del ministro de reforma agraria Jaime Wheelock quien al anunciar las deportaciones lanzó una diatriba contra “’el trotskismo y todos aquellos que quieren acelerar la evolución del régimen en Nicaragua”. Por supuesto, en la siguiente página los redactores publicaron una entrevista amistosa con el mismo Wheelock, comentando con aprobación sus credenciales revolucionarias.

En cuanto a las expulsiones, la declaración de la LCR sólo decía: “Es poco probable, cualesquiera sean las diferencias políticas, que 60 extranjeros pudiesen presentar un verdadero problema para una dirección revolucionaria que disfruta de un inmenso apoyo popular.” Por lo tanto, se supone que si los militantes de izquierda hubieran representado una verdadera amenaza al régimen sandinista, la LCR empezaría a ladrar igual que el rabioso SWP. En el número siguiente, Rouge (31 de agosto-6 de septiembre) tan sólo logró quejarse de que “los términos en que el gobierno de Nicaragua decretó la expulsión de los militantes ‘extranjeros’ constituyen un precedente inquietante.” Finalmente, una resolución del comité central de la LCR (publicada en Rouge del 7-13 de septiembre) cobró suficiente ánimo como para pronunciar la más blanda protesta formal, declarando que las expulsiones en sí “constituyen un precedente inaceptable”. Quien se fía de tal “solidaridad militante” en contra de la represión anticomunista, mejor la olvida.

Pero mientras Rouge intensificaba los adjetivos desde “inquietante” a “inaceptable”, su hombre en Managua tomaba una línea radicalmente distinta. Según Perspectiva Mundial (8 de octubre de 1979), publicada por el SWP, una delegación del S.U. que incluía el “experto” sobre Latinoamérica de la LCR, Jean-Pierre Beauvais (junto con Hugo Blanco, Peter Camejo, Barry Sheppard y otros) entregó una declaración a los sandinistas que aclamaba a “la dirección revolucionaria del FSLN” y declaraba que: “Toda actividad que trate hoy de crear una división entre las masas movilizadas y el FSLN va en contra de los intereses de la revolución.” Poniendo los puntos sobre las íes, añadía: “Este fue el caso de la actividad concreta de la ‘Brigada Simón Bolívar’” a la cual denomina de “sectaria”. Y para colmo, la delegación del S.U. explícitamente aprobaba la expulsión:

“En una situación política y económica en que es necesaria una gran unidad en la lucha, la dirección del FSLN tenía razón en exigir a los miembros no nicaragüenses de este grupo, el cual se definía ante todo como una organización militar, que abandonaran el país.”

No se informó si Blanco/Camejo/Sheppard/Beauvais y Cía. recibieron sus treinta monedas de plata, aunque claramente esperan sacar alguna ganancia de su perfidia, transformándose en los agentes publicitarios autorizados del FSLN. Pero las raíces de tal traición son políticas y se remontan a hace más de un cuarto de siglo, hasta la negativa por parte de Michel Pablo, entonces secretario de la IV Internacional, de defender a los trotskistas chinos encarcelados por Mao. Pablo les calificó de “refugiados de una revolución” por su negativa a inclinarse delante de los nuevos gobernantes burocráticos de Pekín. Para Pablo, todo esto era parte de su programa liquidacionista que condujo a la destrucción de la IV Internacional en cuanto vanguardia organizada de la revolución mundial. En el caso de sus epígonos, es consecuencia de su política pablista, que conduce a todas las alas del S.U. a correr detrás de direcciones no proletarias y antimarxistas – desde los estalinistas chinos hasta los oficiales militares portugueses y ahora los nacionalistas sandinistas.

El SWP: Reformista de cabo a rabo y hasta la médula

Más adelante tendremos mucho que decir sobre el aventurero charlatán Nahuel Moreno y su Fracción Bolchevique seudoizquierdista. Pero con respecto al SWP, para quien tuviera dudas todavía, el estallido en torno a la Brigada Simón Bolívar y el apoyo político incondicional y casi histérico del SWP al FSLN son prueba concluyente de que la organización encabezada por Jack Barnes es reformista de cabo a rabo. Durante más de una década, la tendencia espartaquista ha estado sola en insistir que el SWP, ex-trotskista desde hace mucho tiempo, estaba dedicado a apoyar al orden burgués. Esto ha sido disputado por quienes temen romper definitivamente con la “familia” del S.U., y por consiguiente sostienen que una declaración de trotskismo formal indica una voluntad subjetivamente revolucionaria. (¿Y qué hay de los estalinistas brezhnevistas, maoístas y castristas que se declaran leninistas?) Aquí tenemos pues deletreado para que ni los ciegos intencionales lo puedan ignorar: apoyo a un gobierno de capitalistas contra sus adversarios de izquierdas, frentepopulismo explícito, advertencias en contra de asustar a la burguesía, un programa parlamentarista y un llamado a los imperialistas a “ayudar”, es decir ahorcar, la revolución.

Habiéndose lanzado este año en una campaña de adulación desenfrenada del régimen castrista de La Habana – Jack Barnes, en un discurso conmemorando el vigésimo aniversario de la Revolución Cubana, ¡caracterizó a Castro y Cía. como “superiores a la dirección bolchevique, con la excepción de Lenin, Trotsky, Sverdlov, y gente como esa”! – el SWP trata a la Nicaragua sandinista como si ya se tratara de la “segunda Cuba” tan temida por Washington. Y siguiendo su propio precedente cubano al justificar su ataque por la espalda a los morenistas, Barnes claramente recuerda la negativa del SWP a defender a los trotskistas cubanos encarcelados por Castro. (La tendencia espartaquista denunció esta represión estalinista y llamó la atención del público socialista al caso. Ver “For Workers Political Revolution in Cuba!,” Workers Vanguard Nos. 223 y 224, 19 de enero y 2 de febrero de 1979, y “In Defense of the Cuban Trotskyists,” Workers Vanguard No. 225,16 de febrero de 1979, para la historia de la traición del SWP y el análisis, trotskista del desarrollo de la Revolución Cubana.)

Sin embargo, en el momento en que el SWP se convirtió en abogado de la represión por Castro contra los trotskistas cubanos, una revolución social ya había ocurrido en la isla. Joseph Hansen defendía a la dirección estalinista de un estado obrero burocráticamente deformado en contra de militantes que se reclamaban del comunismo y quienes reivindicaban que se abriera el camino hacia el socialismo mediante la internacionalización de la revolución y la implementación de la democracia soviética. En el presente caso, los aprendices de Hansen están encubriendo el flanco izquierdo de un gobierno que incluye a varios ministros capitalistas y que se ha comprometido a proteger las propiedades de la “burguesía antisomocista”. Y el SWP defiende este régimen contra todos los que intentan “flanquear a los sandinistas desde la izquierda” – es decir, contra cualquiera que tiene la más mínima pretensión de movilizar a las masas trabajadoras alrededor de consignas que sobrepasan el programa democrático del derrocamiento de la dictadura de Somoza.

Asimismo, en una declaración de primera plana del Militant del 31 de agosto [traducido en Perspectiva Mundial del 24 de septiembre de 1979], el candidato del SWP para vice-presidente, Matilde Zimmermann, alaba sin reservas al régimen del FSLN: “Creemos que el gobierno sandinista que está tratando de poner a Nicaragua de pie está haciendo un buen trabajo.” Y un articulo escrito desde Managua por Pedro Camejo, Sergio Rodríguez y Fred Murphy empieza con la afirmación categórica de que: “La revolución socialista ha comenzado en Nicaragua” (Perspectiva Mundial, 3 de septiembre). Si es así, entonces ¿porqué se necesita una vanguardia trotskista independiente? El SWP se opone no sólo a los actos “irresponsables” de la Brigada Simón Bolívar tales como la movilización de obreros de Managua planteando sus reivindicaciones al régimen sandinista, sino también a la existencia de todo grupo de izquierda al exterior del FSLN, incluyendo la sección oficial del S.U. en Nicaragua. De todos los artículos sobre la revolución sandinista que han salido en los órganos principales del S.U., ni uno llega siquiera a mencionar la Liga Marxista Revolucionaria (“sección simpatizante de la Cuarta Internacional”).

De acuerdo con Camejo/Rodríguez/Murphy, “El poder que existe hoy en Nicaragua es un poder revolucionario.” Y esta alabanza no se debe confundir con alguna clase de “apoyo crítico” al FSLN. La fórmula clásica de tal política traicionera hacia el “poder revolucionario” burgués la suministró Stalin en marzo de 1917, antes del regreso de Lenin del exilio para presentar las Tesis de Abril con la consigna “Todo el poder a los soviets”. Los bolcheviques apoyarían al Gobierno Provisional, decía Pravda bajo la redacción de Stalin y Kamenev, “en la medida en que este luche contra la reacción o la contrarrevolución”. Pero el SWP de hoyes peor que el Stalin de 1917, porque estos incondicionales entusiastas del FSLN, proporcionan un cheque en blanco: “La única manera como los socialistas revolucionarios de todo el mundo pueden ayudar al avance de la revolución nicaragüense es si reconocen las capacidades revolucionarias de esta dirección, si se identifican y unen sus fuerzas con ella en la lucha para defender y extender la revolución” (Perspectiva Mundial, 3 de septiembre de 1979).

El apoyo de Stalin al Gobierno Provisional en 1917 anticipó su degeneración reformista de los años 30, cuando ataba los obreros a su enemigo de clase mediante la política del Frente Popular. Y es un sello del reformismo floreciente del SWP que hoy defiende abiertamente el frentepopulismo contra los críticos de izquierda. Sus artículos sobre Nicaragua virtualmente llaman a la “revolución por etapas” estalinista-menchevique. Camejo y sus amigos reconocen que “Los capitalistas y los que están decididos a defender sus intereses siguen siendo un factor en el gobierno.” Pero esto no es criticado eh ninguna parte, sino presentado como una mera “concesión” – y acertada además:

“En la lucha contra Somoza los sandinistas trataron conscientemente de crear el frente más amplio posible, incluyendo a fuerzas burguesas opositoras de Somoza. Esa fue obviamente una política correcta, inteligente y revolucionaria.” [subrayado nuestro]

No se podría esperar aprobación más clara de la política traicionera del frente popular. Como decía León Trotsky después de la experiencia trágica de España y Francia de los años 30: “No puede haber crimen más grave que la coalición con la burguesía en una época de revolución socialista” (“El ‘trotskismo’ y el PSOP”, julio de 1939).

No sólo la política es igual a la de Stalin, hasta el lenguaje y las justificaciones son idénticos. Así, al polemizar contra el peligro presentado por las acciones “provocadoras” de la Brigada Simón Bolívar, el SWP dice que la dirección del FSLN “debe hacer incursiones en el orden burgués, sin dar a los imperialistas pretextos fáciles para fomentar propaganda a favor de una intervención” (Militant, 31 de agosto). ¿No hemos visto esto ya alguna vez? En efecto. Fue la famosa carta de Stalin, Molotov y Voroshilov (del 21 de diciembre de 1936) al primer ministro español Largo Caballero explicando la necesidad de no asustar a la burguesía: “Esto es necesario para impedir que los enemigos de España la consideren una república comunista y así evitar su intervención abierta, la cual representa el peligro máximo que enfrenta la España republicana.”

Naturalmente, el SWP adereza a su manera esta receta reformista tradicional de traición de clase, concretamente una dosis grande de cretinismo constitucional – en un país actualmente en pleno tumulto revolucionario. Ultimamente el S.U. ha tendido a esquemas de “constituciones socialistas” que sirven de vehículo para la presentación de su parlamentarismo socialdemócrata en países bajo la bota de dictaduras bonapartistas. Por consiguiente, el SWP quedó extasiado cuando el FSLN proclamó una “Carta de Derechos”, y publicó el texto completo, con todos sus 52 artículos, en Perspectiva Mundial. La disposición social más “avanzada” del nuevo estatuto nicaragüense es una cláusula sobre la “función social de la propiedad” la cual no es más radical que el derecho de dominio eminente (del estado) de la ley consuetudinaria anglosajona.

Y por supuesto hay la igualación constante de Nicaragua bajo el dominio del FSLN con la Cuba de Castro. Así, el SWP aclamó el discurso de Castro del 26 de julio sobre Nicaragua, reproduciéndolo en cada una de sus publicaciones. Pero rehusaron señalar que el eje del discurso lo formaban las palabras tranquilizadoras de Castro para aquellos (p. ej., los EE.UU.) que expresaron “temores de que Nicaragua se iba a convertir en una nueva Cuba”. Según el dirigente cubano, la respuesta de “los nicaragüenses” es: “No, Nicaragua se va a convertir en una nueva Nicaragua, que es una cosa muy distinta” (Perspectiva Mundial, 3 de septiembre). El Militant (10 de agosto), sin embargo, subrayó que en el discurso de Castro el voto de la OEA en contra de la propuesta por parte de los EE.UU. De mandar a Nicaragua una “fuerza interamericana de paz” “fue correctamente aclamada como una ‘gran victoria de los pueblos de nuestra América’” No mencionó que Castro aclamó la formación de un “gran frente democrático independentista, anti-intervencionista” abarcando los gobiernos de Panamá, Costa Rica, Mexico y los países del Pacto Andino, ni que finalmente incluso los EE.UU. votaron en contra de la propuesta.

Si de esta manera el SWP se unió con Castro en propagar ilusiones en la posibilidad de una “coexistencia pacífica” hemisférica con el rapaz coloso imperialista del norte, su principal consigna política – por “ayuda masiva de EE.UU. a Nicaragua” – es mucho más siniestra. En apariencia un llamado utópico al leopardo imperialista a cambiar sus manchas, en realidad significa pedir un bloque con la burguesía liberal norteamericana para impedir la revolución socialista en Centroamérica. Esta consigna encapsula toda la perspectiva reformista – es decir, contrarrevolucionaria – del SWP para Nicaragua. Como señalamos en una nota en Workers Vanguard No. 239 (del 14 de septiembre – “Reformistas que no saben ortografia”), estos “socialistas de Departamento de Estado” literalmente recogen la línea del Departamento de Estado, que está diciendo al Congreso que si los EE.UU. no proporcionan ayuda, Nicaragua muy bien puede “hacerse comunista”. Esta es también, por ejemplo, la política del presidente mexicano Lopez Portillo, quien declaró al New York Times (23 de septiembre) que:

“Yo, sí, pienso que la mejor forma de disuadir al gobierno nicaragüense de tomar posiciones extremas sería proveerlo con ayuda económica generosa y sin condiciones.”

Los últimos números del Militant parecen anuncios de la CARE pidiendo ayuda filantrópica para los hambrientos nicaragüenses. Pero detrás de los dólares “humanitarios” siempre está la política. ¿Ayuda para reconstruir qué? – ¿una economía capitalista o colectivizada? ¿Y ayuda de quién? Lo que aquí comprobamos es la conmovedora fe del SWP en la posibilidad de reformar al imperialismo norteamericano, a los carniceros de My Lai y autores de la invasión de Playa Girón. Es igual a su llamado por tropas federales a Boston para “proteger” a los niños negros, pero esta vez a gran escala. ¿Acaso habrían llamado los marxistas revolucionarios por “ayuda masiva de los aliados a la Revolución Rusa” después de la revolución de febrero de 1917 que derrumbó al zar? Por supuesto que no, porque tal ayuda – con o sin compromisos – necesariamente habría tenido el objetivo de evitar que los bolcheviques tomasen el poder y de evitar que Rusia se retirara de la guerra.

La “ayuda” principal que necesitan urgentemente los trabajadores nicaragüenses es la dirección de una vanguardia comunista con un programa de revolución permanente, que sobrepase el programa democráticoburgués del FSLN, para movilizar las fuerzas para la revolución proletaria. Y no la van a recibir del SWP reformista, que apoya a los sandinistas en contra de la izquierda y que llama a los imperialistas liberales a detener la revolución.

Charlatanes y aventureros morenistas

Entonces, ¿qué hay de la Brigada Simón Bolívar y su cuna, la Fracción Bolchevique? Desde luego, en comparación con las traiciones repugnantes del SWP y de la mayoría mandelista del S.U., más avergonzada, el aparato morenista podría parecer una alternativa combativa. Una mirada a la carrera política camaleónica de Moreno, a su notoriedad por turbias estafas financieras y su programa ultrarreformista en Argentina, haría añicos esta fachada. En efecto, el SWP se apresura a exhumar algunos de estos materiales, llenando las páginas de Intercontinental Press/Perspectiva Mundial con un sinfín de historias escandalosas sobre el aventurero de mala fama, Nahuel Moreno. Sin duda Barnes y Mandel se aprestan a expulsar a este elemento perturbador. Pero éstos no están en condiciones de quejarse. Desde años atrás han convivido en la misma Internacional (yen el caso del SWP en la misma fracción) con este notorio charlatán, tanto después como durante sus peores traiciones. Tienen las manos sucias.

Cuando no se prestan a repetir las calumnias de los dirigentes sandinistas, de que el organizar a los obreros en torno a reivindicaciones anticapitalistas es una “provocación”, el SWP/S.U. acusan a Moreno de ser un impostor viajando con pasaporte falso. Según la declaración de la delegación del S.U., “para aprovecharse del prestigio del FSLN” la Brigada Simón Bolívar “se cubrió con el manto de las banderas sandinistas”. De hecho, los informes noticieros de la protesta del 15 de agosto en Managua dan la impresión de que muchos de los manifestantes creían apoyar a un ala del FSLN (aún cuando esto no disminuye la importancia de una manifestación de varios miles de trabajadores en contra de la política procapitalista del gobierno). Pero ¿a quién creen engañar Barnes y Mande!? Su campaña internacional de “solidaridad con Nicaragua” tiene precisamente el mismo objetivo de envolver al S.U. en el rojinegro sandinista, exactamente como el Fair Play For Cuba Committee a principios de los años 60 intentó sacar partido de la popularidad del castrismo. La diferencia se ubica en que el S.U. prefiere hacerlo a larga distancia.

Además, Moreno tiene una larga historia de imitación de otras tendencias. Empezó en Argentina haciéndose pasar por un peronista de izquierda. A fines de los años 50, su revista Palabra Obrera se describía como un “órgano del peronismo obrero revolucionario” y llevaba como subtítulo la consigna “bajo la disciplina del Gral. Perón y el Consejo Superior Peronista” [véase “Argentina: La lucha contra el peronismo” de WV No. 24, 6 de julio de 1973]. Cuando el peronismo ya se había pasado de moda, Moreno se fusionó con un grupo castrista y publicó un sinfín de fotografías del Che Guevara en la primera plana de sus periódicos. Luego de una breve aventura como criptomaoísta (aclamando a los Guardias Rojos), Moreno sentó cabeza a una vida más mundana como social demócrata – y con este fin se fusionó con un ala del Partido Socialista Argentino histórico, para apoderarse de su renglón en la lista electoral. Siendo un tipo que no se preocupa por pequeñeces, pronto elaboró un programa socialdemócrata que correspondiera a su sigla nueva (véase Intercontinental Press, 13 de noviembre de 1972). En verdad Moreno es, tal como lo hemos caracterizado frecuentemente, un camaleón político.

En una polémica dirigida contra la Brigada Simón Bolívar, los mandelistas del PSR colombiano acusan a los morenistas de haber emprendido una pura aventura: “La Brigada como tal nunca entró en combate. No hubiera podido hacerlo sin entrenamiento adecuado y a menos que estuviera dispuesta a acatar la disciplina del FSLN” (retraducido de Intercontinental Press, 17 de septiembre de 1979). En realidad, parece que a grosso modo la Brigada de Moreno, a pesar de su propaganda rimbombante, observó la batalla desde Costa Rica. Incluso, sus partidarios en los EE.UU., los Sandinistas por el Socialismo en Nicaragua, no partieron hacia Managua ¡sino hasta el día siguiente a la caída de Somoza! Así que la imagen de guerrilleros heroicos en armas (el “comandante” Kernel George del PST colombiano se habría presentado en verde olivo a un mitin para reunir fondos en Bogotá) es ciertamente inmerecida.

No es verdad, sin embargo, que la Brigada Simón Bolívar no estuviera dispuesta a “acatar la disciplina del FSLN”. Es probable que el concepto de “disciplina” de Moreno no sería al gusto de los sandinistas (ni de la dirección del S.U.), pero la Brigada se construyó sin ambages sobre la base de subordinación al FSLN. Lo cual intensifica la ironía de su situación actual. La “Carta Abierta” del PST colombiano (morenista) anunciando la formación de la Brigada pedía voluntarios para luchar en Nicaragua “bajo la dirección militar” del Frente Sandinista; y ostentaba cartas de los dirigentes sandinistas Edén Pastora (“Comandante Cero”) y Plutarco Hernández Sánchez indicando que sus miembros “se encuentran en acción … bajo la dirección del Estado Mayor”. (Por supuesto, el contenido real de esta pretensión “militar” tiene que entenderse a la luz de la inactividad en el campo de batalla de esos guerrilleros de último minuto.)

Políticamente, los morenistas exigieron “un gobierno sandinista” – aún cuando, para salvar las apariencias, añadían que éste debería surgir de supuestos “órganos de poder popular” y basarse en un programa de “ruptura con la burguesía y el imperialismo” (El Socialista, 22 de junio). Prescindiendo de estas frases huecas, finalmente obtuvieron su gobierno sandinista, y – ¡qué sorpresa! – son echados del país. Pero esto suele acontecer cuando se sigue a la cola de bonapartistas. Y de este modo la Brigada Simón Bolívar consiguió dotarse de una imagen combativa a pesar de sí misma. Con respecto a sus detractores en el PSR colombiano, estos notan que el envío de la Brigada fue ante todo un truco publicitario y no un verdadero acto de internacionalismo proletario. Eso es cierto. Los trotskistas auténticos, de tener los recursos, hubieran intentado construir un núcleo comunista entre los obreros urbanos en lugar de ir a la cola del Comandante Cero en el Frente Sur. Pero lo que el PSR propone en su lugar no es la lucha por una dirección trotskista independiente en Nicaragua sino inofensivas manifestaciones de “solidaridad” en Bogotá. La diferencia entre morenistas y mandelistas es la diferencia entre aventureros y espectadores entusiastas, entre estafadores y agentes publicitarios.

La polémica del PSR termina refiriéndose al “punto más sensible, las finanzas de la Brigada Simón Bolivar”. Informan que mucha gente “ha comenzado a tener dudas acerca del destino de los fondos reunidos por el PST”. Y el dinero sí es siempre el punto álgido con Moreno. Para aquellos que conocen su pasado, la respuesta involuntaria al enterarse de que los morenistas colombianos estaban organizando una “brigada internacional” para Nicaragua, fue gritar: “¡Nicaragüenses, colombianos, cuiden sus carteras!” Pero el S.U. puede difícilmente hacer esa acusación hoy. En Argentina el grupo Política Obrera (PO) se ha quejado durante años que la Editorial Pluma de Moreno contrató de PO 50.000 ejemplares de obras de Trotsky, demoró intencionadamente el pago durante meses hasta el golpe de Videla en marzo de 1976, y luego alegando falta de fondos se negó a pagarlos.

Los embustes financieros de Moreno son legendarios en la izquierda latinoamericana. El caso más sensacional trata de la aseveración de que no entregó fondos destinados a la operación guerrillera de Hugo Blanco en el Perú en 1962, y su papel en la desaparición de varios miles de dólares tomados en una expropiación bancaria llevada a cabo por el grupo Túpac Amaru y destinados para Blanco (una descripción detallada del caso se encuentra en Richard Gott, Guerrilla Movements in Latin America [1972]). En una reseña del libró groseramente inexacto de Robert Alexander, Trotskyism in Latin America, Joseph Hansen notaba en 1977 que Moreno nunca ha respondido a estas acusaciones. Pero en vista de lo escandaloso del cargo, llama la atención el que Hansen aparentemente nunca se molestó en conseguir una explicación de Moreno durante los seis años en que fueron codirigentes de la minoría del S.U.

Moreno ha sido condenado ya innumerables veces ante el movimiento obrero por charlatanismo político y violaciones de la moral proletaria. Sin embargo, su operación es de tal naturaleza que frecuentemente se esconde bajo una cubierta de radicalismo programático con propósitos puramente fraccionales. En varias ocasiones esto ha llevado a los morenistas a asumir posiciones imitando (¿o tomadas de?) el trotskismo auténtico de la tendencia espartaquista internacional (TEI). Así al polemizar contra un artículo sobre el eurocomunismo y los “disidentes” soviéticos, escrito por el morenista Eugenio Greco, el imbécil mercenario del SWP Gerry Foley notaba que el “premio a la originalidad” por defender estas posiciones correspondía a “sectarios” como la TEI (Intercontinental Press, 5 de diciembre de 1977). Y, en efecto, el artículo de Greco (Revista de América, agosto de 1977) exhibe una semejanza aleccionadora con nuestros escritos sobre el tema (salvo que – ¡cosa graciosa! – los morenistas identifican el estalinismo con la dependencia del oro de Moscú).

En particular, al fundar la Tendencia Bolchevique luego de su ruptura con el SWP a fines de 1975/principios de 1976, Moreno asumió posiciones sobre Portugal y Angola extraordinariamente parecidas a las de la tendencia espartaquista. Sobre Portugal, denunció el seguidismo del SWP tras la cola del Partido Socialista de Mário Soares, financiado por la CIA, así como el apoyo político de la TMI mandelista al bloque estalinista/MFA (Movimiento de las Fuerzas Armadas). Sobre Angola, reivindicó el apoyo militar al MPLA contra la invasión CIA/sudafricana, al mismo tiempo que se oponía formalmente a dar apoyo político a ninguno de los tres grupos nacionalistas en pugna. Las características principales de estas posiciones formalmente ortodoxas son que se tratan de asuntos lejanos, y que son totalmente arbitrarias – no se derivan de una visión del mundo programáticamente coherente.

Así, mientras Moreno condena el apoyo desvergonzado del SWP al PS portugués, en Argentina él mismo se fusionó con los restos de la socialdemocracia de Juan Carlos Coral en 1971. Criticando la claudicación de Mandel ante los eurocomunistas, sus partidarios venezolanos ahora están profundamente empotrados en el MAS “eurocomunista”. Criticando el apoyo de la TMI al demagogo Carvalho y al MFA en Portugal, el PST colombiano de Moreno llamaba a “apoyar la política nacionalista de Torrijos” en Panamá, calificando a este demagógico oficial militar (amigo de Castro y del Chase Manhattan Bank) de “progresista” en su “confrontación con el imperialismo” (ver ¡EE.UU. fuera de Panamá ya!”).

Fingiendo la ortodoxia cuando ésta es “barata” – en lugares remotos y cuando le conviene para sus maniobras sin principios – en casa donde realmente importa, el oportunismo de Moreno rebasa aquél de las demás alas del S.U. Criticando mordazmente al dirigente del POR boliviano Guillermo Lora por incorporarse a un “frente antiimperialista” con el General Torres en Bolivia en 1971 (lnternational Socialist Review, febrero de 1973), dos años más tarde el mismo Moreno se incorporaba al frentepopulista Grupo de los Ocho, junto con el PC argentino y los principales partidos burgueses, jurando su apoyo al gobierno bonapartista de Juan Perón (ver “PST atrapado con las manos en la masa”). Hoy, cuando los sandinistas son figuras mundialmente famosas, Moreno es un guerrillero entusiasmado; pero cuando el PRT/ERP castrista (en ese entonces afiliado al S.U.) estaba revolviendo el ajo en Argentina con sus secuestros y ataques al ejército, el PST de Moreno igualaba a “la guerrilla y su réplica, el terrorismo de la AAA y otras organizaciones de ultraderecha” (Avanzada Socialista, 10 de octubre de 1974).

El historial de Nahuel Moreno es el de un sinvergüenza que se ha vestido con el ropaje de casi toda tendencia en boga en la izquierda latinoamericana – peronismo, castrismo, maoísmo y ahora el sandinismo. Sus posiciones de “izquierda” sobre temas internacionales no tienen ninguna relación con sus posiciones derechistas en casa. El que hoy tenga un aspecto combativo frente a Nicaragua se explica únicamente en que fue atrapado en plena maniobra con el FSLN, y que mientras él hace de las suyas, el resto del S.U. ha girado claramente hacia la derecha. Hasta la toma del poder por el FSLN en Managua, la consigna morenista por un gobierno sandinista estaba formalmente a la derecha de las otras tendencias del S.U., quienes hacían críticas sueltas de los lazos del FSLN con la burguesía de oposición. Pero apenas Mandel y Barnes se dieron cuenta de la posibilidad de unirse a una causa popular saltaron por encima de Moreno, dejándolo en el papel poco acostumbrado de polo de extrema izquierda.

Finalmente, debemos hacer constar que al dotarse con el nombre de Brigada Simón Bolívar, Moreno escogió un mote de lo más apropiado. Quizás pensaba imitar a la Brigada Lincoln en la guerra civil española – a pesar de que sería más apropiado comparar a Bolívar, de familia terrateniente esclavista, con George Washington. Pero en términos militares el gran héroe de las guerras de independencia fue un desastre en todo sentido: perdió casi todas las decenas de batallas que libró, abandonando repetidamente a sus tropas en momentos de infortunio. Su especialidad, escribió Marx en un artículo sobre Bolívar, era “entradas triunfales, manifiestos y proclamaciones de constituciones”. El fue, decía Marx en una carta a Engels, el “canalla más cobarde, brutal y miserable”. Así también Nahuel Moreno.

PCE se declara eurocomunista

Reformistas aunque se vistan de seda…

PCE se declara eurocomunista

Traducido y amplificado de Workers Vanguard, No. 205, 12 de mayo de 1978. Esta versión fue impresa en Spartacist en español No. 6, julio de 1978.

En su informe de tres horas al Noveno Congreso del Partido Comunista de España (PCE), el primero celebrado en la legalidad dentro del país en 46 años, el líder del PCE, Santiago Carrillo, resumió la nueva orientación del partido: “Hemos optado, con todas las consecuencias, por hacer un auténtico partido ‘eurocomunista’.” Al adoptar las 15 tesis presentadas por el comité central, los 1.500 delegados aprobaron la política carrillista de una “ruptura pactada” con el gobierno Suárez; aceptaron la monarquía; aprobaron el Pacto de la Moncloa, un programa político y económico firmado conjuntamente por el consejo de ministros y la “oposición”; y renunciaron formalmente al leninismo. Carrillo subrayó en su informe que el “entronque” con los orígenes del partido “no significa hoy dependencia de ningún Estado socialista concreto ni aceptación de un centro dirigente determinado” (Mundo Obrero, 20 de abril de 1978).

Los propósitos del congreso eran tres: formalizar la adherencia del partido a la política eurocomunista de Carrillo; demostrarle a la burguesía la moderación de los dirigentes del PCE y su entrega a la “democracia”; y emprender una homogeneización de las filas, por medio de un debate restringido. En total, la operación debe considerarse un éxito, puesto que las tesis fueron adoptadas por una abrumadora mayoría y el nivel de debate y de oposición interna permitido sobrepasa fácilmente todo lo conocido en un partido estalinista. Sin embargo, la proyección internacional del Noveno Congreso del PCE queda por determinarse (los dirigentes de los partidos comunistas italiano y francés reaccionaron con reservas a la iniciativa de Carrillo), y el nivel de disidencia plantea la posibilidad de grandes escisiones hacia la izquierda.

Enterrando al leninismo

El eje principal del congreso y de la discusión que lo precedió fue la cuestión del “leninismo”. El término debe ponerse entre comillas, pues mientras la dirección no disimuló su rechazo de todas las contribuciones de Lenin al marxismo, la oposición estaba lejos de presentar un auténtico programa leninista. Puesto que durante los últimos 50 años el PCE no ha conocido sino el programa y la práctica antileninista del estalinismo, el debate fue en  gran parte simbólico. Sin embargo, la intención (lograda) de la propuesta, en la tesis número 15, de abandonar la autodenominación de “marxista-leninista” y reemplazarla con “marxista, revolucionario y democrático” era de señalar una renuncia formal de la revolución proletaria.

Así pues, la discusión, junto con la anterior renuncia del PCE a la dictadura del proletariado, confirmó que el partido está enteramente entregado a la defensa del poder de su “propia” burguesía, excluyendo toda lealtad rival a la burocracia del Kremlin. Es el mérito de Carrillo el haber planteado el debate con franqueza. Por lo tanto, en su discurso en la reunión del CC del 21-22 de enero, rechazó específicamente el concepto del “partido internacional centralizado, sometido a una fuerte disciplina que era la Internacional Comunista”,  junto con la idea de “un partido proletario revolucionario, vanguardia de la revolución.” Concluye:

“Y es cierto que nosotros, y no solamente nosotros, sino otros partidos comunistas de Occidente tampoco practican el leninismo como concepción global que inspire su estrategia…

“Es evidente que nosotros llevamos muchos años en los que en toda una serie de aspectos concretos de nuestra lucha política práctica hemos prescindido de concepciones concretas de leninismo.”

En su intervención en la discusión del CC Carrillo desafió a quienes se opusieran al cambio propuesto:

“Si hubiese una oposición en el Partido a esto que acordamos hoy, yo no le pido más que una cosa, que sea consecuente y que diga ‘¡sí, dictadura del proletariado!’ y que diga ‘¡sí, Internacional Comunista!’ y que diga ‘¡sí, toma del poder por la insurrección armada!’ y que diga ‘¡sí, la política que ha seguido desde hace largos años el Partido es equivocada!’”

Mundo Obrero, 26 de enero de 1975

El secretario general no encontró a nadie que le aceptara el reto. Sin embargo, sí se topó con bastante oposición en algunos de los baluartes principales del partido. En Asturias, provincia natal de Carrillo y de Dolores Ibárruri (la Pasionaria), presidente del PCE, las agrupaciones del partido en las tres ciudades principales (Oviedo, Gijón y Avilés), se opusieron al abandono de la definición de “marxista-leninista”. El 29 de marzo, la prensa en la ciudad andaluza de Málaga publicó una declaración por 200 miembros del partido denunciando fuertemente a los dirigentes del PCE por sus críticas excesivas a la Unión Soviética. Subsecuentemente los congresos provinciales de Badajoz y de Soria, regiones agrarias, rechazaron igualmente la tesis 15.

Pero el centro de oposición fue Cataluña, la región que proporcionó ocho de los 20 diputados comunistas a las Cortes. El semiautónomo PSUC (Partit Socialista Unificat de Catalunya), que se define como “partido hermano” del PCE, tiene 46.000 militantes de un total de 200.000 a nivel estatal. Por lo tanto, es comprensible el desconcierto de la dirección del PCE cuando a finales de marzo la conferencia del PSUC reafirmó su autodesignación como marxista y leninista por un voto de 97 contra 81 en el comité central. Este voto provocó la dimisión en masa del presidente del PSUC, Gregorio López Raimundo, del secretario general Antonio Gutiérrez Díaz y del comité ejecutivo entero. Por fin, después de una semana de reuniones a puerta cerrada; el CC del partido catalán aprobó una segunda moción, apoyando la tesis 15 y declarando:

“no existe contradicción de fondo entre las enmiendas aprobadas por la Primera Conferencia Nacional del PSUC y las tesis del IX Congreso del PCE….”

Mundo Obrero. 13-19 de marzo de 1978

Congreso eurocomunista

Bajo un enorme estandarte proclamando “un debate comunista para la democracia y el socialismo”, el congreso del PCE se inició el 19 de abril en el suntuoso Hotel Meliá-Castilla en Madrid. Carrillo también destacó la temática de la democracia en su informe y, en tonos grandilocuentes, ofreció su dimisión como secretario general en el caso de que los delegados lo desearan. Declaró en su propia defensa que “en lugar de hacer de este un partido abierto transparente y democrático, la dirección podría haberlo hecho un partido hermético, cerrado, sin posibilidad alguna de discrepancias.” Sin embargo, esto no conmovió a algunos de los delegados, quienes razonaron que si la dirección podía hacer todo eso, por sí sola, también lo podía deshacer ella sola (Le Monde, 23-24 de abril).

Según la prensa, las opiniones en contra de la dirección se expresaron ampliamente en las conferencias regionales, aunque fueron menos notables en el congreso mismo. En Asturias, en respuesta a la intervención imperiosa de Simón Sánchez Montero, uno de los primeros tenientes de Carrillo, 115 de 500 delegados se salieron de la reunión. En la conferencia del PSUC en Barcelona, incluso hubo objeciones a la participación de Carrillo en defensa de sus tesis eurocomunistas, dado que formalmente sólo es miembro de un “partido fraternal”. En la conferencia provincial de Madrid hubo protestas contra la imposición de Sánchez Montero como líder de la organización regional.

En el mismo congreso los delegados se quejaron bastante entre sí sobre el análisis político presentado por la dirección. La tesis 1, evaluando la actual situación política en España, fue criticada por su “triunfalismo” ― es decir, por su pretensión de que el régimen había logrado él fin buscado por el PCE de una “ruptura democrática”, aunque por medios diferentes. Enmiendas a esta tesis insistieron en el importante papel que han jugado las movilizaciones de masas en lograr avances como la legalización del PCE. La Tesis 4, alabando el Pacto de la Moncloa (y por lo tanto el programa de austeridad fijando topes salariales, aprobado e impuesto por el PCE), fue revisada en comisión a fin de suprimir un pasaje entero elogiando los beneficios del pacto. Estos beneficios, decían los delegados, no se habían realizado dado que el programa sólo había sido parcialmente puesto en vigor.

Esta exhibición ostentosa de democracia en el congreso no era únicamente para el beneficio de la prensa. Era también un síntoma de la heterogeneidad del PCE, cuyos efectivos son hoy día diez veces aquellos cuando la muerte de Franco a fines de 1975. Nuevos militantes, que no han sido educados en la escuela estaliniana, han engrosado las filas del partido. De momento se tolera bastante disensión (aunque 23 de los disidentes de Málaga fueron suspendidos por su declaración en contra de la dirección), pero la burocracia carrillista del PCE busca abiertamente imponer la ley y el orden a su partido revoltoso. Esto ya se ha puesto en marcha con la instalación de gran número de funcionarios sindicales de las Comisiones Obreras (CC.OO.) como delegados y responsables del partido a nivel provincial, reemplazando a menudo a los intelectuales disidentes.

Otro índice de la agitación interna que amenaza al aparato partidario es la ola de sentimientos nacionales dentro del PCE. Además del PSUC y las secciones gallegas y vascas ―cada una de las cuales ha tenido tradicionalmente su propio comité central― durante el último año se han organizado secciones en Asturias, Andalucía, las Islas Canarias y los Baleares. El sentimiento nacional es tan fuerte en el País Vasco que el año pasado la antigua dirección centralista del PC de Euskadi fue reemplazada con nuevos dirigentes “abertzales” quienes, contrarios a la línea oficial autonomista del PCE, reivindican la autodeterminación para los vascos.

La tesis 15

Como consecuencia de la filtración de los delegados, la fuerte oposición a la supresión del término “marxista-leninista” que se mostró en las conferencias regionales (contando con más de la tercera parte de los delegados) había disminuido considerablemente en magnitud y en vehemencia. Además de la etiqueta, dijo Manuel Azcarate, encargado de relaciones internacionales del PCE y el expositor más destacado (después de Carrillo) de la línea eurocomunista, es necesario depurar al PCE de otras connotaciones del término leninista; la toma de poder por medio de la lucha armada, la dictadura del proletariado, la alianza obrero-campesina, la hegemonía de la clase obrera. En lugar de estas frases (vaciadas de su contenido leninista desde hace mucho tiempo en la práctica reformista de los estalinistas), el PCE se sirve hoy de tonterías como “la alianza de las fuerzas del trabajo y de la cultura”.

El debate formal sobre el “leninismo” fue muy corto ―diez minutos en total― la dirección del partido permitió sólo un orador en contra de la tesis 15, Francisco Frutos del PSUC. Cabe anotar su intento de mostrar la compatibilidad del leninismo y del eurocomunismo, un absurdo patente puesto que un aspecto principal de la línea carrillista ha sido de generalizar, hasta el nivel de “teorías” vulgares propias de los socialdemócratas, la colaboración de clases reformista que practican los estalinistas desde hace mucho tiempo. La tarea de responder a este seudoleninista patético le tocó al desgraciado Sánchez Montero, quien escandalizó a los delegados al repetir el comentario de Lenin cuando los bolcheviques rusos cambiaron el nombre de su partido de socialdemócrata a comunista: “Es necesario quitarse una camisa vieja y ponerse ropa limpia.” (Tales citas erradas de los clásicos marxistas parece ser una afición universal entre los enanos teóricos de la dirección del PCE. Al justificar el abandono formal del leninismo, Carrillo comentó que tanto había cambiado desde la Primera Guerra Mundial que, de hecho, “el mundo ha cambiado ya de base” parafraseando así un verso de la Internacional que se refiere al triunfo de la revolución).

En la votación final, 968 delegados votaron a favor de la tesis 15 y 248 en contra. Sin embargo, en la elección de los 45 miembros del comité ejecutivo, no se incluyó ni un solo, representante de la “minoría leninista”.

Significado del Noveno Congreso

A nivel internacional, el impacto inmediato del Noveno Congreso del Partido Comunista de España no ha sido gran cosa. Fuera del PCE, los partidos más importantes de Europa occidental que se han asociado con el término “eurocomunista”, el francés y el italiano, ya se habían enfriado hace tiempo ante la actitud acerba de Carrillo respecto a la Unión Soviética. En la “cumbre eurocomunista” en Madrid en marzo de 1977, Marchais del PCF y Berlinguer del PCI rechazaron la demanda por parte del PCE de una condena conjunta de la represión de disidentes por el Kremlin. Y cuando no se le permitió a Carrillo hablar en el 60 aniversario de la Revolución de Octubre en Moscú, Berlinguer se negó a emitir una protesta junto con el dirigente comunista español.

En el reciente congreso, el saludo del PCI se refirió a “divergencias, incluso profundas,… en las propuestas políticas” de los dos partidos (Corriere della Sera, 21 de abril). Esto se interpretó como una crítica de la eliminación de la frase “marxista-leninista” de la constitución del PCE. Las relaciones con el partido francés son aún más tensas, puesto que el PCE le echó la culpa a Marchais por la derrota de la Unión de la Izquierda en las elecciones parlamentarias de marzo. La respuesta del PCF vino en forma de comentario sobre el congreso madrileño:

“Haciendo desaparecer todo el carácter ideológico específico del PC español, proponiéndole a los socialistas que se olviden de la ruptura de 1921 y que construyan un partido laborista conjunto, Carrillo espera superar su desventaja electoral. En esencia, ha hecho la operación inversa a aquella emprendida por los comunistas en Francia para ganar nuevo terreno.”

L’Humanité, 20 de abril

La reacción internacional decisiva, sin embargo, vendrá de Moscú. Y durante el congreso del PCE parecía que un pacto de no agresión se había acordado tácitamente entre Brezhnev y Carrillo. Por lo tanto, no hubo una sola crítica directa a la Unión Soviética durante los actos, y sólo la objeción a la subordinación a un “estado socialista determinado” en el informe de Carrillo. El Partido Comunista de la Unión Soviética (PCUS) envió un saludo que, aunque generalmente amistoso, declaró elípticamente:

“La existencia de un Partido Comunista fuerte y combativo, que se rige por las teorías científicas del marxismo-leninismo es la garantía de la transformación democrática de la lucha por el progreso social.”

El mensaje no podía ser más claro, pero en la versión que se publicó en el Mundo Obrero del PCE suprimieron esta frase.

Durante el congreso mismo, fueron ampliamente solicitados, y obtenidos, comentarios por parte del jefe de la delegación del PCUS, Viktor Afanasiev, el director de Pravda. Demostrando que según los términos del Kremlin él no figuraba como ningún “liberal”, Afanasiev comentó desvergonzadamente: “En la Unión Soviética sufrimos de un exceso de democracia” (!). Interrogado sobre su opinión acerca de las discusiones del congreso. Respondió secamente:

“Algunas discusiones son útiles, otras no. Temo que un debate sobre principios sólo debilitará al partido. La fuerza de un Partido Comunista se basa en su unidad. Pero no encontré gran unidad en el curso del congreso.”

Le Monde. 25 de abril

El delegado soviético mencionó de paso que había distribuido centenares de insignias con el retrato de Lenin a delegados del congreso que se los habían pedido.

Aprovechando toda oportunidad para hacer un comentario positivo acerca de Carrillo (como alabar la frase vacía del PCE de la “unidad de las fuerzas del trabajo y de la cultura”), al mismo tiempo Afanasiev puso un punto de interrogación en los lugares claves. Cuando se le preguntó si el PCE se estaba convirtiendo en un partido socialdemócrata, respondió que “la política que ha aplicado hasta ahora no indica que ha dejado de ser revolucionario. Veremos lo que pasa en el futuro.”

Ni Carrillo, ni el Kremlin quisieron hacer de esta reunión la ocasión para una ruptura dramática. No obstante, está claro que la intención de la dirección del PCE fue hacer de éste el “congreso eurocomunista”. Antes de la votación sobre la eliminación de la designación “marxista-leninista”, el primer delegado soviético dijo al periódico madrileño Informaciones, “El eurocomunismo no existe.” (Sus razones fueron que ni Marchais ni Berlinguer asistieron ―un hecho significante― y que en su informe Carrillo sólo mencionó el término una vez). Después del voto sobre la tesis 15, Carrillo replicó: “Hemos demostrado que el eurocomunismo existe” (Corriere della Sera, 23 de abril).

La evolución del PCE

El IX Congreso señala la formalización de la ruptura con el estalinismo por parte del PCE. Este evento no ha marcado, por supuesto, un viraje brusco de la dirección carrillista sino la culminación de un proceso, de una trayectoria que tiene sus raíces en la degeneración de la Internacional Comunista bajo Stalin. Utilizando la vieja terminología leninista del internacionalismo proletario, en realidad un partido estalinista se caracteriza en primer lugar por su subordinación a los intereses de la burocracia dirigente de un estado obrero degenerado (la URSS) o deformado. Esta es la característica primordial que distingue su reformismo ―la defensa del dominio capitalista― de aquél de los socialdemócratas. Pero a través de sus vínculos con el Kremlin y directamente en el terreno nacional, los partidos estalinistas también se someten a los intereses de su “propia” burguesía. Con el tiempo este aspecto pasa a dominar sobre el primero en la medida en que los PC se ajustan a su política de colaboración de clases y los recuerdos de su procedencia leninista se desvanecen. Como escribió León Trotsky a finales de los años 30:

“En lo referente a la ex-Comintern, su base social hablando con propiedad, tiene una doble naturaleza. Por una parte vive de los subsidios del Kremlin…. Por otra parte, los diferentes aparatos de la ex-Comintern se alimentan en la misma fuente que la socialdemocracia, a saber, las sobreganancias del imperialismo. El crecimiento de los partidos comunistas durante los últimos años, su infiltración en las filas de la pequeña burguesía, su instalación en el aparato del estado, los sindicatos, los parlamentos, las municipalidades, etcétera, fortalecieron extremadamente su dependencia con respecto a los imperialismos nacionales, en detrimento de su dependencia tradicional con respecto al Kremlin.”

Escritos, 1938-39

En la época de la Guerra Civil y después de la Segunda Guerra Mundial, no había partido más estalinista que el PC español. Fue el modelo casi caricaturesco, donde absolutamente todo aquello de importancia se efectuó según las directivas de Stalin y sus emisarios. Fue entonces cuando la línea de defender la propiedad privada vino directamente de la pluma del Gran Organizador de Derrotas (carta de Stalin a Largo Caballero en diciembre de 1936), cuando la persecución de los anarquistas y del POUM se anunció desde las páginas de Pravda, cuando la eliminación de Largo Caballero de su puesto de primer ministro de la República española fue ordenada por Togliatti. El PCE, que antes del inicio de la ayuda militar soviética no tenía influencia alguna en el seno del proletariado español, fue el más incondicional de todos.

Carrillo sitúa su primer paso hacia la ruptura con Moscú en 1956, luego del famoso informe secreto de Kruschev al XX Congreso del PCUS. Como los dirigentes soviéticos, él se mostró indignado de haber descubierto los crímenes de Stalin, tratando así de ocultar su propia participación en dichos crímenes: ¿acaso el actual líder del PCE ha olvidado la reunión del buró político en mayo de 1937 cuando fue informado por los delegados de la Comintern del arresto de Nin?; ¿o acaso “ignoraba” los fusilamientos masivos de valientes veteranos de las Brigadas Internacionales, ordenados por Stalin a finales de los años 40? Pero Carrillo va más lejos que la irrisoria “desestalinización” emprendida por Kruschev, y en un informe al comité central del PCE a finales de 1956 califica de insuficiente la explicación en base a un “culto de la personalidad”.

Sin embargo, el resultado de este proceso de ruptura con el estalinismo por parte del PCE no ha sido el regreso al leninismo auténtico, a una crítica revolucionaria de la perversión y desviación de la Revolución de Octubre por los usurpadores del Kremlin, sino todo lo contrario, la aceleración de la socialdemocratización como expresión y consecuencia de su política nacional-reformista. La estrecha vinculación entre este proceso y el fortalecimiento de los lazos que unen los partidos estalinistas al orden capitalista se ve con claridad meridiana en el caso español. El mismo informe de Carrillo al CC en el 56 es donde por primera vez se esboza la nueva política del PCE de “reconciliación nacional”, un tipo de “compromiso histórico” anticipado. (Esta expresión, dice Carrillo en broma, siempre causó problemas al intentar de explicarse a los dirigentes soviéticos, porque la traducción en ruso sonaba como algo que había condenado mil veces Lenin).

Claro que desde años atrás los dirigentes del PCE se comprometieron al mantenimiento del orden capitalista. Pero luego del inicio de la guerra fría, cuando se dieron cuenta que no habría ni intervención soviética ni apoyo de las “democracias” occidentales al lado antifranquista en una reedición de la Guerra Civil española, se reorientaron hacia una vía estrictamente nacional de lograr posiciones de influencia en el aparato estatal burgués. Sabiendo que la burguesía abrigaba un temor mortal a las consecuencias de un nuevo período de movilización obrera, y que no se prestaría a una repetición del frente popular clásico, el PCE planteaba la formación de un bloque político compuesto de todas las fuerzas que querían “superar la Guerra Civil” ― o sea, todas salvo un puñado de franquistas a ultranzas.

De este modo los primeros pasos del PCE hacia la “desestalinización” iban mano a mano con su enfeudación cada vez mayor en el régimen capitalista. El próximo paso, el que marcó el punto de partida del eurocomunismo, fue su reacción a la invasión soviética a Checoslovaquia en agosto de 1968. Anteriormente había habido varias discrepancias con el Kremlin: una nota publicada en Mundo Obrero en 1964 criticando la explicación dada para la defenestración de Kruschev; la protesta contra el encarcelamiento de los escritores disidentes Sinyavsky y Daniel en 1966; la protesta airada contra un artículo aparecido en Izvestia en 1967 que daba a entender que el PCE preconizaba la restauración de la monarquía en España. Hasta aquí, dice Manuel Azcarate, responsable del PCE por relaciones internacionales, hay “una fase de actitud crítica hacia la Unión Soviética”. En cambio, su protesta contra la supresión de la “Primavera de Praga” abre “una discusión a fondo en todo el Partido sobre nuestra relación con la Unión Soviética” (“El eurocomunismo y la URSS”, Viejo Topo Extra No. 2 [1978]).

Por una parte los dirigentes del PCE tenían grandes simpatías con el equipo de Dubcek. Checoslovaquia había sido durante largo tiempo uno de los centros del partido español en la emigración, y fue desde Praga que se transmitían los programas de la “Radio España Independiente”. Así observaron de cerca el repudio de la población checoslovaca a la invasión por fuerzas del Pacto de Varsovia. Inmediatamente después del anuncio de la invasión, el mismo 21 de agosto de 1968, Carrillo e Ibárruri se dirigen a Moscú para presentar su protesta ante los mandatarios soviéticos. Se entrevistan con Suslov, uno de los halcones más notorios del Kremlin, quien con abierto desdén hace caso omiso de las súplicas del PCE que a fin de cuentas, dice, es un “partido pequeño”.

Había otro aspecto., igualmente importante en la denuncia por el PCE de la invasión soviética a Checoslovaquia: el deseo de dar pruebas convincentes a la burguesía española de su absoluta independencia de Moscú. Tanto Carrillo como los políticos burgueses de la “oposición democrática” al franquismo conservaban recuerdos vivos de la prepotencia ejercida por los arrogantes “asesores” soviéticos en casi todas las instituciones gubernamentales de la República durante la Guerra Civil. Podrían evocar imágenes de cárceles secretas y secuestros de dirigentes políticos llevados a cabo por la siniestra KGB. Con esta visión, el 28 de agosto de 1968 la emisora del PCE transmite una declaración del comité ejecutivo que plantea:

“No podemos concebir ni admitir la hipótesis que ahora nuestros enemigos pueden formular ―de que el día en que nuestro partido llegue al poder en España, en alianza con las fuerzas del trabajo y de la cultura, otra potencia socialista, cualquiera que sea, nos dicté su política y menos aún, intervenga militarmente en nuestro territorio, sin nuestra más enérgica resistencia.”

Mundo Obrero, septiembre de 1968

No sorprende, entonces, el que las fuerzas de ocupación soviéticas clausuraron Radio España Independiente.

Habiendo sufrido así el impacto de la invasión en el pellejo propio, en cierto sentido, y afanándose en demostrar su compromiso “pluralista” ante la opinión pública burguesa, el PCE de repente se vio envuelto en una lucha fraccional con los defensores del Kremlin. Todo esto coadyuvó en dar mayor trascendencia a la desvinculación del PCE de la URSS en ese momento crítico. Según Azcarate:

“Y hay que decir en favor de los soviéticos que nos ayudaron con sus intentos de dividir al Partido (Líster, García); estos intentos nos ayudaron porque las zonas aferradas a una apologética total, a la incondicionalidad a la Unión Soviética, incapaces de reflexionar, se fueron del Partido; y a través de una discusión muy profunda que llegó hasta la base, con una unanimidad grande en torno a la posición de total independencia crítica…”

― “El eurocomunismo y la URSS”

La lucha fraccional emprendida por Eduardo García (entonces secretario de organización del PCE) y Agustín Gómez recibió un apoyo tácito pero inconfundible de la URSS. Luego de una denuncia virulenta de los “fraccionalistas” por Mundo Obrero en octubre de 1969 se publicaba en Moscú una carta abierta firmada por más de 200 militantes del PCE, acusando la dirección de “calumnias antisoviéticas”.

La respuesta del comité central fue la expulsión de García y Gómez del PCE por fraccionalismo. Pero no logró con esto extirpar de inmediato a los adeptos del Kremlin de sus filas. Enrique Líster ―el “General Líster” de la Guerra Civil― quien hasta mediados de 1969 compartía las posiciones de la mayoría, protestó la expulsión de García-Gómez, lo que le costó su propia expulsión en septiembre de 1970, elevando el total de expulsados a siete miembros del CC. Aunque las pérdidas parezcan reducidas, representan un sector significativo de los cuadros dirigentes del partido; y la lucha fraccional, apoyada y animada por el Kremlin, convenció a Carrillo y Cía. de la imposibilidad de una reconciliación con sus antiguos amos.

Sin embargo, Carrillo tardó mucho en romper definitivamente con la URSS. No obstante la casi unanimidad del repudio por los partidos comunistas de Europa occidental a la invasión de Checoslovaquia, la dirección del PCE se sintió aislada en sus ataques dirigidos no solamente contra acciones específicas del Kremlin, sino contra el “modelo soviético” en sí. En un importante informe al comité central del PCE en septiembre de 1973, Azcarate sistematizó las críticas a la política exterior de la URSS e hizo un llamamiento por la confluencia de los PC europeos en una tendencia independiente de Moscú:

“Creemos que hoy día es necesaria cierta ‘descentralización’ del proceso unitario; es decir, los encuentros bilaterales, las reuniones de partidos con problemas comunes que viven situaciones cada vez más similares…. Una tarea esencial para los partidos comunistas de Europa occidental es de elaborar conjuntamente una ‘imagen característica’ de lo que el socialismo puede y debe ser en esta parte del mundo.”

Les PC espagnol, français et italien face au pouvoir (1976)

Algunos meses más tarde se inició el ciclo de reuniones bilaterales que dio origen al término “eurocomunismo” y que correspondía a la letra al llamamiento de Azcarate en 1973.

La gestación y el nacimiento del eurocomunismo no ha sido un proceso sin contradicciones. En la reunión de los partidos comunistas de Europa en julio de 1976, Carrillo declaró rotundamente: “No existe el eurocomunismo….” Pero ya a principios de 1977 aparece su libro Eurocomunismo y estado, donde caracteriza a la URSS como “totalitarismo socialista” con “rasgos formales similares a las dictaduras fascistas”. El tratado de Carrillo constituye el único intento de formalizar una doctrina eurocomunista, y es notable por su presentación de un reformismo socialdemócrata consecuente. Rechaza el partido leninista de vanguardia y el ¿Qué hacer? Rechaza la dictadura del proletariado y Estado y revolución. Aboga por la transformación del estado capitalista, cuestiona si resta cualquier cosa de socialista en la URSS, y reivindica superación de la división entre socialdemócratas y comunistas. Lo único que faltaba fue el rechazo explícito del “marxismo-leninismo”, el término estalinista para su deformación del auténtico comunismo leninista ― pero esto vino pocos meses después en la gira en EE.UU. por Carrillo.

Los seudotrotskistas del Secretariado Unificado (SU) de Ernest Mandel naturalmente no se identifican abiertamente con los eurocomunistas tipo Carrillo. Pero en su afán de acercarse a elementos críticos dentro de los PC sí tratan de esconder el carácter nítidamente derechista y reformista del eurocomunismo. Así durante los actos del Noveno Congreso del PCE, un representante de la Liga Comunista Revolucionaria, afiliada al SU, hizo un saludo descarado, casi sin crítica alguna, pidiéndole al partido de Ramón Mercader (el asesino de León Trotsky), al partido de Carrillo e Ibárruri (“autores intelectuales” del fusilamiento de Andrés Nin), que “rehabilitase” a Nin y a Trotsky!

Tanto hoy como a finales de los años 50 cuando, por primera vez el PCE propuso la política de “reconciliación nacional”, y durante la Guerra Civil, el partido ha seguido fiel a su herencia: un enemigo jurado de la revolución proletaria. La Pasionaria, con su aspecto fingido de abuelita cariñosa, hoy día presidente de un partido que defiende la democracia “sin clases”, era durante los años 30 la inquisidora rabiosa de trotskistas y anarquistas. Estos crímenes de sangre no se pueden borrar de la historia, y el papel del PCE al desbaratar la fuerte oleada hacia una huelga general contra el régimen franquista durante 1976-77 recapitula su papel contrarrevolucionario de cuando aplastó el levantamiento obrero de Barcelona de 1937.

“Eurocomunista por el rey y la patria”

El futuro del eurocomunismo como corriente internacional está aún por determinarse. En todo caso, esta categoría ―ambigua que es, correspondiendo a un invento periodístico en vez de a una caracterización científica― no es ninguna morada final; sólo puede ser una posición pasajera en el proceso de la socialdemocratización de los partidos estalinistas. Aunque por lo visto los PC francés e italiano no están dispuestos a dar un paso tan dramático y llamativo como la renuncia al “leninismo” del PCE, está claro que en el caso del partido de Carrillo ha habido una ruptura definitiva con la burocracia de Moscú, de tal modo que ya no puede ser denominado estalinista. Es más esto se afirma en la disputada tesis 15:

“… rechazamos como algo ajeno al marxismo, el fenómeno del burocratismo y del estalinismo…. Los comunistas españoles hemos superado autocríticamente, en lo fundamental, el estalinismo, y estamos recuperando las esencias democráticas y antiburocráticas del marxismo.”

Para subrayar el significado, a su ver, de este cambio, la revista soviética Nuevos Tiempos le advirtió al PCE ya a principios de año (en una polémica dirigida contra una entrevista de Azcarate) que consideraba el mantenimiento de “marxismo-leninismo” como una cuestión decisiva.

La renuncia del “marxismo-leninismo” por el PCE constituyó una ruptura formal con la burocracia del Kremlin, entendiéndose como un rechazo a toda traza restante de la doctrina sobre la que se fundó la URSS. El PCUS así lo indicó en su saludo al Noveno Congreso, y fue sobre esta cuestión que la dirección carrillista buscó la aprobación formal por el partido de su programa eurocomunista. Si no hubo una escisión durante el mismo congreso señalando esta ruptura del estalinismo, ello se explica en parte porque los adictos incondicionales del Kremlin ya habían salido años atrás con Líster y García (y más del 95 por ciento de la militancia del partido ha sido reclutado después de esta lucha fraccional formativa); además hay posibilidades de escisiones por elementos anticarrillistas a raíz del Noveno Congreso.

La decisión de Santiago Carrillo de romper con Moscú se tomó mucho antes de abril de 1978. Después del enfrentamiento con la URSS sobre Checoslovaquia, Carrillo ya había quemado todos sus barcos, y nunca más podría ser el hombre del Kremlin. Como un traidor reformista  jurado a la clase obrera, Carrillo aprovechó agresivamente su única opción: buscando comprobar su confiabilidad no solamente como sostén del capitalismo, sino también como defensor de la monarquía franquista. Cuando el PCE recibió un triste 9 por ciento en las elecciones a las Cortes del 15 de junio de 1977, la dirección ni siquiera analizó las causas de esa débil votación y continuó sin interrupción su apoyo incondicional al rey Juan Carlos y a su primer ministro Adolfo Suárez. Ya había hecho su decisión irrevocable.

Es evidente que esto va más allá de un mero rechazo kruscheviano del “culto de la personalidad”. Hoy día, la foto de Trotsky puede aparecer en las páginas de la revista teórica del PCE, Nuestra Bandera, e incluso Carrillo escribe en su libro Eurocomunismo y el estado que fue un mito que Trotsky era agente de los nazis y que “Es más que tiempo de que se haga esta presentación objetiva del papel de Trotsky en la revolución…”. Pero la evolución del Partido Comunista español no se dirige en ningún sentido hacia la izquierda. Santiago Carrillo ha escogido entre la “Tercera Roma” del Kremlin y su “propia” burguesía. Como se ha comprobado durante todo el período posfranco, el PCE busca ser el sostén más fiel del estado que ha surgido de la dictadura franquista, “con todas las consecuencias”. Santiago Carrillo es un eurocomunista “por él rey y la patria” y no por la URSS.

A Vitória do CNT/OTAN na Líbia e o Centrismo do Coletivo Lenin

Derrota para os Trabalhadores na Líbia
Combater o Governo do Conselho Nacional e o Imperialismo!

Setembro de 2011

Kadafi foi um tirano que oprimiu a classe trabalhadora da Líbia por mais de quatro décadas. Sob a fachada de algumas nacionalizações progressivas contra a burguesia imperialista na década de 1970, enganou os operários e oprimidos e garantiu a manutenção do capitalismo no país sob as formas mais brutais. Após a década de 1980, alargou seus laços com os países centrais do capitalismo, sobretudo a Itália, e removeu passo a passo até as pequenas medidas progressivas que havia realizado. Apesar disso, sua derrota por uma coalizão dominada por setores da burguesia nacional – o Conselho Nacional de Transição (incluindo líderes tribais, monarquistas e militares anteriormente aliados a Kadafi) – e o poderio militar da OTAN (organização militar dos países imperialistas) foi uma derrota para os trabalhadores.

Os trabalhadores não poderiam ter nenhuma segurança com Kadafi. Era necessário preparar a cada momento a sua derrubada revolucionária, que poderia criar um governo operário revolucionário de liberdade, encerrando as condições de pobreza e exploração do povo, e de igualdade, principalmente para as mulheres de um país que era, e continua sendo, marcado pela opressão. Entretanto, e apesar das ilusões de muitos dentro e fora da esquerda, o governo que agora vai dominar a Líbia nada tem a ver com isso, muito pelo contrário. É um governo com laços próximos aos países que exploram a Líbia, um governo que não mediu esforços (sacrificando a população) em busca de seus próprios interesses mesquinhos de exploração dos trabalhadores, quando chamou a OTAN a intervir militarmente no país. A vitória do CNT sob a tutela da OTAN vai intensificar a exploração imperialista sobre a Líbia e manter a opressão às mulheres e outros setores.

Era papel dos revolucionários na Líbia e nos outros países desde o começo quebrar as ilusões nesse Conselho. O movimento de massas que ele passou a dominar deveria encarar a sua liderança, programa e trajetória reacionários – concluindo, assim, que as promessas do CNT por democracia não mereciam confiança alguma. Os trabalhadores não deveriam lutar do mesmo lado que os setores militares, tribais e monarquistas que tomaram metade do país e se enfrentavam com Kadafi desde fevereiro. Apoio ao CNT quando este tomou o poder em Bengasi (e outras cidades do Leste do país) seria uma traição contra a classe proletária. Essa era uma guerra civil entre frações equivalentes da burguesia líbia, cada uma dominando parte do país e onde a defesa da classe trabalhadora não estava associada a tomar o mesmo lado militar de algum dos combatentes. Era uma luta, portanto, que não dizia respeito aos proletários, os quais deveriam lutar por uma via classista.

Com o apoio militar dos países imperialistas ao Conselho Nacional Transitório a partir de meados de março, a situação mudou. Tornou-se necessário formar um bloco tático entre o movimento dos trabalhadores e os setores burgueses do governo de Kadafi que fossem contra o ataque imperialista, que tinha o interesse de impor uma opressão qualitativamente maior sobre os trabalhadores do país. O objetivo imediato dos revolucionários era vencer o bloco CNT/OTAN, mas isso não mudava a sua perspectiva de preparar a derrubada de Kadafi ao mesmo tempo em que a ameaça imperialista era vencida. Em suas táticas, os revolucionários jamais devem colocar de lado a luta pelo socialismo. Os trabalhadores revolucionários na Líbia deveriam dizer: “Não vamos deixar os imperialistas derrubarem Kadafi, porque isso é tarefa nossa!”.

Os setores amplos da esquerda que consideram a vitória do CNT (em razão de uma base de massas possuir ilusões em suas promessas) como uma vitória dos trabalhadores, enganam cruelmente a vanguarda que se reivindica revolucionária. Como se não fosse suficiente dar apoio a uma insurreição liderada pela burguesia reacionária da Líbia, esses demagogos ignoram o fato de que essa “vitória dos trabalhadores” foi apoiada pelo imperialismo. Invertem a lógica da luta de classes e passam a defender que o imperialismo pode ser um aliado na luta dos trabalhadores. Os revolucionários, porém, tem a tarefa de dizer a verdade por mais amarga que ela possa ser. Somente assim podemos ser coerentes diante das tarefas que se colocam diante de nós na luta pela revolução proletária.


 ***


Na época em que a guerra civil estourou, assim como no início dos ataques aéreos da OTAN, fomos incapacitados de dar uma resposta pública coerente sobre este tema porque estávamos engajados em uma luta fracional com a maioria do Coletivo Lenin (confira nossa carta de ruptura O Coletivo Lenin é Destruído pelo Revisionismo!), que teve uma posição traiçoeira diante destes eventos. Como verdadeiros leninistas, respeitamos o princípio do centralismo democrático e discutimos nossas posições apenas internamente. Agora temos a oportunidade de publicar alguns trechos de nossa polêmica interna, que denunciam a degeneração do Coletivo Lenin enquanto organização revolucionária.

A posição atual do Coletivo Lenin, após a ocupação imperialista, é correta no fundamental, mas pode ser usada para tentar disfarçar a adaptação centrista que o grupo teve diante da guerra civil em seus primeiros momentos. Naquela época, o atual líder do Coletivo, Paulo Araújo, tinha amplas ilusões com o CNT, defendendo que ele tinha “formas democráticas” e que iria garantir a democracia para o povo líbio. Paulo Araújo defendeu que era necessário apoiar a derrubada de Kadafi pelo CNT e que era necessário tomar o lado militar do governo de Bengasi. Ignorava, portanto, o programa, trajetória e liderança do movimento liderado pelo Conselho e o fato de que sua dominação de metade do país era um regime inimigo dos proletários, além do fato de este governo chamar pela “ajuda” da OTAN.

Curiosamente, depois da ocupação imperialista chamada pelo CNT, o Coletivo Lenin deu um giro de 180 graus, passando para o outro extremo da barricada. Antes, Paulo Araújo chamava os trabalhadores a darem seu sangue por líderes traidores que supostamente lhes dariam democracia para, logo depois, dizer que era necessário lutar contra estes “democratas” armados com o fuzil imperialista. Esse é um típico ziguezague centrista baseado em apoiar um movimento que conta com certa popularidade enquanto se ignora o seu programa e liderança burgueses para depois, quando a liderança do movimento executa seu programa, “descobrir ingenuamente” que ele tem um conteúdo reacionário.

Para clarificar a posição do Reagrupamento Revolucionário, pautada na elaboração de nossa tendência dentro do Coletivo Lenin, estamos publicando trechos de um documento interno que escrevemos na época. O documento intitulado “Dilma e Líbia: Dois Sintomas de Uma Doença Revisionista” fazia um paralelo entre a posição de Paulo Araújo no conflito líbio e sua posição de “apoio crítico” a Dilma nas eleições brasileiras de 2010. Para facilitar a compreensão do conteúdo do texto, limitamos nossa publicação a trechos que dizem respeito à guerra civil líbia, fazendo pequenas modificações indicadas entre colchetes. É importante ressaltar que o texto discute a posição do Coletivo Lenin no momento anterior aos ataques aéreos da OTAN em apoio ao CNT e com o objetivo de estabilizar a situação no país. Nossas perspectivas com relação ao CNT, e os erros do Coletivo Lenin, podem ser facilmente comprovados pelo curso posterior dos acontecimentos.

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O Coletivo Lenin na Líbia e as Tarefas dos Revolucionários

Os trechos a seguir foram extraídos do documento interno “Dilma e Líbia: Dois Sintomas de uma Doença Revisionista”, publicado em abril de 2011 pela tendência de Rodolfo Kaleb e Leandro Torres no Coletivo Lenin. As fontes consultadas para a primeira parte do texto foram o site do governo do Conselho Nacional Transitório líbio (que continha todas as declarações públicas feitas por este até então) e também a versão em inglês da Wikipédia.

Um resumo dos acontecimentos na Líbia

Antes de partir para a interpretação das posições políticas é necessário conhecer concretamente [a trajetória] dos fatos. Esse é um componente fundamental do materialismo histórico e portanto base de qualquer análise marxista. Em fins de janeiro houve os primeiros chamados a uma rebelião contra Kadafi após a queda dos ditadores na Tunísia e Egito. Os confrontos começaram em 15 de fevereiro com uma passeata de 500 pessoas em frente ao quartel policial de Bengasi, que foi reprimida violentamente. O processo se alastra por outras três cidades do leste do país. Também em 15 de fevereiro acontece o primeiro encontro para organizar a Oposição – a Conferência Nacional da Oposição Líbia, que chama uma manifestação para o dia 17 de fevereiro.
Forma-se o exército da Oposição a partir de deserções das forças armadas e derrubam-se vários quartéis policiais e do exército na região leste do país no dia 17, “coincidindo” com o dia das manifestações. A oposição também toma controle dos meios de comunicação das cidades tomadas e começa a ganhar largo apoio dos setores populares. No dia 18 já estão sob controle da Oposição Bengasi e outras cidades menores no leste. O movimento oposicionista é composto por muitos setores populares, além de professores, estudantes e petroleiros. Kadafi acusa os rebeldes de receberem ajuda da Al Qaeda. A OTAN diz que houve indícios de atividade da Al Qaeda no exército da Oposição, sem confirmar as acusações. A Oposição negou o fato.
Em 20 [de fevereiro] muitas cidades do leste do país, inclusive Bengasi (segunda cidade do país, importante para o transporte marítimo), estabelecem um governo provisório. Desde essa data, segundo a Oposição, Kadafi tem ordenado para que o exército atirasse contra protestos com o objetivo de dizimar os manifestantes (o número de mortos é completamente incerto, com várias fontes dizendo números muito distintos entre 1000 e 8000 mortos). Também há relatos inúmeros da contratação de exércitos de mercenários nos países próximos para perseguir os manifestantes.
O embrião do CNT se reúne em 24 de fevereiro para organizar o Conselho, ato que se conclui no dia 27. É formado por 31 membros (líderes militares, líderes tribais, empresários e acadêmicos). Seu presidente é Mustafa Abdul Jalil, antigo ministro da justiça de Kadafi. Já nessa primeira reunião, muitos dos líderes do CNT pediram por uma intervenção das Nações Unidas. A importante cidade de Zawiyah (cidade estratégica a meio caminho entre Trípoli e Bengasi) é tomada em 24 de fevereiro. As forças do exército de Kadafi tentam retomar a cidade e são repelidas em 28 de fevereiro. Em 26 de fevereiro a oposição ganha mais duas cidades importantes.
O CNT surge em 27 de fevereiro com o objetivo de ser a “face política da revolução” segundo ele próprio. Em 5 de março ele se intitula o “único representante de toda a Líbia”, chamando o Estado de “República Líbia”. Ganhariam assentos no CNT apenas as cidades e vilas que ficassem sob controle da Oposição. As identidades dos 31 membros não foram reveladas, apenas o presidente, o porta-voz e dois cargos públicos. O exército do CNT se chama “Exército do Povo Líbio” e é um racha das forças armadas líbias, utilizando as armas pesadas e os tanques capturados. O CNT promete eleições livres e uma nova constituição para o país em suas declarações de 5 de março.
Em 6 de março o jogo começa a virar e Kadafi recupera algumas cidades perdidas, além de parar o avanço do CNT pelo país. Em 10 de março, Kadafi recupera Zawiyah. Em 17 de março a ONU aprova um ultimato exigindo cessar fogo do governo de Kadafi. Em 18 de março Kadafi aceita o cessar fogo mas ocorrem relatos de combate contra o exército da Oposição, com os soldados do governo ainda se aproximando de Bengasi.
A resolução 1.973 da ONU estabelece a criação de uma zona de exclusão aérea (que significa destruir as baterias antiaéreas para permitir tráfego de qualquer aeronave pelo espaço aéreo líbio). Em 19 de março começaram os bombardeios realizados por Inglaterra, França, Itália e Estados Unidos. A ação militar da França se concentrou em proteger as cidades dominadas pela oposição, com o envio de 19 caças da força aérea francesa. Até 22 de março 161 mísseis já haviam sido lançados contra alvos militares do governo líbio por aviões comandados pela OTAN. As forças da OTAN foram bem sucedidas em parar o avanço das forças leais a Kadafi, mas não conseguiram tomar o país e nem permitir o avanço da Oposição. Desde então há especulações sobre um cessar fogo e possíveis acordos entre o governo e a Oposição diante do conflito estagnado.

[CNT: “Defensores da democracia”?]

No caso líbio, a confiança do camarada Paulo na boa vontade da burguesia se estendeu a uma formação inteiramente burguesa, ainda que o camarada Paulo tenha achado em certo momento que era uma frente popular (opinião essa que, por sua “ousadia” organizativa [de postar uma nota no blog da organização sem consultar os demais membros ou a Direção Executiva], rendeu ao Coletivo Lenin uma crítica mais do que merecida na imprensa da esquerda). Em um email sobre a questão líbia, Paulo diz:

O que os trabalhadores teriam a ganhar com o CNT? Ora, a democracia burguesa! Essa é a verdadeira polêmica. O companheiro [Rodolfo] subestima a reivindicação democrática e as formas democráticas mantidas pelo CNT”

Achávamos que democracia era uma promessa do Conselho Nacional. Promessa essa que um marxista deveria ouvir e em nenhum momento acreditar como verdadeira. Como disse certa vez a Tendência Bolchevique, quando [era] uma organização revolucionária:

É um axioma do marxismo que os movimentos sociais e políticos devem ser julgados por sua liderança, programa, trajetória e composição de classe — não pelas ilusões da base. As mobilizações de massas contra o Xá do Irã em 1978-79 fornecem um caso exemplar. Apesar das esperanças e das intenções de muitos milhares de trabalhadores iranianos e esquerdistas que participaram (assim como as correntes pseudo-marxistas diversas que saudaram este suposto movimento ”objetivamente revolucionário”), o fato era que a direção estava firmemente nas mãos dos reacionários teocráticos ao redor do Aiatolá Khomeini. A contradição objetiva entre a base e o topo indica que uma tarefa chave dos marxistas era lutar para destruir as ilusões que as massas tinham no resultado final de um movimento com tal liderança e programa, levando os trabalhadores à oposição aos mulás, assim como ao Xá.” (Teses Sobre o Solidariedade, 1986).

Os marxistas não deveriam se basear nas promessas do movimento do Conselho, nem nas ilusões da sua base, que são justamente as de que o Conselho vai lhes dar democracia. Mas são nessas ilusões que o camarada Paulo parece se basear. Os marxistas deveriam avaliar a liderança (burguesia pró-imperialista, líderes tribais [reacionários] e chefes militares desertores), o seu programa (república democrática, pedido de ajuda ao imperialismo), a sua trajetória (formação no dia 15/02, tomada do poder de várias cidades no dia 18/02, consolidação em sua forma atual no dia 27/02 e continuidade da sua luta armada pelo poder de Estado, pedindo ajuda ao imperialismo, recebendo-a no dia 20/03) e composição [da base] (setores populares urbanos, setores de classe média e ao menos um setor operário, os petroleiros).
A conclusão que os marxistas devem tirar dessa análise é precisamente que o Conselho Nacional não pode ser um defensor dos direitos democráticos. Existe uma linha que separa “lutar por direitos democráticos” de “lutar por democracia burguesa”. Essa linha é completamente apagada pelo camarada Paulo.
Os marxistas defendem as liberdades democráticas e lutam por elas no sistema capitalista. Essas liberdades garantem ao proletariado melhores condições de se organizar e lutar pela sua emancipação. Por isso os revolucionários estão presentes nos movimentos que lutam por direitos democráticos, sempre que possível integrando-os. Em todos os momentos, defendemos que os revolucionários na Líbia deveriam levantar bandeiras democráticas e que deveriam intervir em todos os espaços possíveis influenciados politicamente pela Oposição líbia.
Isso é muito diferente de conceder ao Conselho a tarefa, ou melhor, a capacidade de garantir esses direitos democráticos. Não devemos dizer, como faz o camarada Paulo, que ajudar a “República Líbia”, que foi como o Conselho Nacional chamou o seu Estado, a se consolidar é lutar pelos direitos democráticos. Vamos lembrar que, apesar das suas promessas, o Conselho é composto pelos militares que por décadas estiveram com a ditadura. Ele é liderado também pelos serviçais do imperialismo e pelos líderes religiosos que apoiavam a monarquia líbia. Que o próprio presidente do Conselho foi o ministro da Justiça de Kadafi por mais de 20 anos!
Dizer que a vantagem em colocar o Conselho Nacional no poder é obter democracia é uma contradição incrível. É estender a luta por liberdades democráticas ao apoio ao governo do Conselho, ou seja, acreditar que apoiar militarmente o Conselho é lutar pelos direitos democráticos. O Conselho Nacional é inimigo dos direitos democráticos da classe operária! Se ele organizar eleições, vai ser só depois de ter certeza que a classe [trabalhadora] foi politicamente controlada e esmagada (o que o imperialismo já está fazendo, com o seu apoio) e com certeza haverá restrições inúmeras de direitos, manutenção dos aparatos de repressão, etc.

[“Frente única contra Kadafi”?]

A frente única é uma tática com que revolucionários procuram se aproximar de formações reformistas ou centristas para ‘jogar a base contra a direção’, quando há uma necessidade sentida e urgente de ação unida por parte das bases. É possível entrar em acordos de frente única com formações pequeno-burguesas ou burguesas, onde há um acordo episódico sobre um assunto particular, e onde é do interesse da classe trabalhadora (por exemplo, os bolcheviques fizeram frente única com Kerensky contra Kornilov). A frente única é uma tática que não só é projetada para realizar o objetivo comum, mas também demonstrar, na prática, a superioridade do programa revolucionário, e assim ganhar mais influência e aderentes para a organização de vanguarda.” (Programa do Coletivo Lênin)

Na questão Líbia, o camarada Paulo supõe a existência de uma “frente única contra Kadafi”, não em torno de ações práticas que fossem vantajosas para a classe operária, mas sim com o objetivo de colocar o Conselho Nacional no poder. Isso tem que ficar claro para todos: desde o dia 18 de fevereiro o Conselho controla cidades do país e luta para se consolidar como o representante de toda a burguesia na Líbia. Nisso consiste a luta do Conselho contra Kadafi. Apoiar esse movimento militarmente não pode ter outro significado que não ajudar o Conselho a se consolidar.
Os revolucionários deveriam lutar por direitos democráticos independente do governo do Conselho Nacional, que é o inimigo desses direitos. Isso significa não apoiar as investidas militares do Conselho Nacional contra Kadafi. Mas quando se defende “dar apoio militar ao Conselho” é justamente essas investidas que se está apoiando. Cria-se a ideia de que se pode ter uma “frente única” quando o objetivo dessa frente não é obter direitos democráticos, mas colocar o Conselho Nacional no poder. Os revolucionários só entram em frentes únicas “onde é do interesse da classe trabalhadora”. Se acha que é do interesse da classe trabalhadora colocar o Conselho Nacional no poder, então o camarada Paulo deveria expor de forma clara a sua tese, coisa que ele não fez nas reuniões.
Só pode-se conceber uma “frente única contra Kadafi” em relação ao que acontece hoje na Líbia se (1) considera-se que a guerra civil é uma luta por direitos democráticos, e não uma luta entre interesses burgueses (onde o CNT seria o “defensor do lado democrático”) e que, portanto, (2) o Conselho Nacional é o representante dos direitos democráticos na Líbia e que é “tático” para os revolucionários colocar esse governo burguês no poder.
Os revolucionários fazem frente única para lutar por direitos democráticos, onde tentam demonstrar que os partidos burgueses são incapazes de cumprir essas tarefas de maneira consequente. Já apoiar a tentativa do governo do Conselho de se consolidar não é uma “frente única”, mas sim um liquidacionismo. Assim se desmancha a retórica revisionista. Usa-se de um termo revolucionário – frente única – para apagar completamente o seu conteúdo, para defender que é “tático” para os revolucionários colocar no poder o Conselho Nacional.

[“Apoio aos atos de base”?]

No caso da Líbia, a falsificação do camarada Paulo ganha bases inteiramente concretas. Na proposta de declaração que escreveu sobre a Líbia, o camarada comparou o que acontecia no país com a redemocratização brasileira.

Por isso, é correto lutar pelo fim da ditadura de Kadafi, mesmo se existe um grande setor pró-imperialista na oposição. Os melhores exemplos que conhecemos dessa situação são do Brasil. Primeiro, a luta contra o Estado Novo, em 1945. Na época, o Partido Socialista Revolucionário, a seção brasileira da Quarta Internacional, levantou a palavra de ordem de Abaixo Vargas! Assembleia Constituinte!, mesmo sabendo que o governo era nacionalista e o maior setor da oposição, a UDN, era pró-americana, tendo inclusive apoio dos militares. […]”

O segundo exemplo foi o movimento pelas Diretas Já! Por acaso alguém nega que o MDB era pró-imperialista? E, por acaso, alguém acha que o caráter pró-imperialista do MDB era motivo para estar fora do movimento de massas que era dirigido pelos setores burgueses desse partido?” (Proposta de nota de Paulo sobre a Líbia).

Enquanto os trotskistas brasileiros estavam num movimento por direitos democráticos junto com setores da burguesia, não houve dúvidas para os trotskistas quando essa burguesia ascendeu ao poder: eles eram oposição e não ajudaram esse governo “democrático” (que reciclou todos os aparatos da ditadura) a se consolidar. Dizer que o que acontece na Líbia é um simples movimento é falsificar a sua natureza. De fato, a declaração sobre a Líbia em momento algum faz menção ao fato de o Conselho Nacional ter inúmeras cidades sob seu domínio na hora de avaliar a política correta. Em outro email, o camarada Paulo fez essa mesma falsificação se referindo ao Conselho Nacional como uma liderança em atos de rua:

A grande confusão do companheiro [Rodolfo] é que deveríamos ‘intervir’ nas mobilizações da oposição, mas sem apoiá-las. Aí existe um duplo erro: primeiro, nunca apoiamos as direções das mobilizações, por mais progressivas que forem, se as direções não forem revolucionárias. Não apoiar a direção não significa que não era para apoiar os atos, mesmo criticando as suas palavras de ordem.”

Nossa preocupação aqui não é avaliar a tática correta para os atos [de rua]. Acreditamos que os revolucionários deveriam intervir neles e disputar a consciência dos trabalhadores envolvidos. Mas não se toma o poder através de atos. Para tomar o poder são necessários armas e elementos conscientes. É a nossa posição diante do governo de Bengasi, e se vamos ou não ajudar esse governo a se consolidar, que está em jogo aqui. Em outubro de 1917, mencheviques e socialistas-revolucionários participavam dos atos. Eles participavam até mesmo dos sovietes. No entanto, diante da tomada do Palácio de Inverno e de algumas poucas cidades, nenhum deles teve dúvida: todos foram contra e nenhum deles trabalhou para consolidar o Estado operário soviético.
Da mesma forma, existe uma diferença brutal entre intervir em movimentos de massas com ilusões numa direção reacionária e apoiar essas direções reacionárias na sua tentativa de tomar o poder. Como exemplo, citamos a política da Tendência Bolchevique [que o Coletivo Lênin reivindicava como uma aplicação do defensismo revolucionário] na tentativa do [reacionário] Solidariedade [polonês] de tomar o poder em 1981.   

A intenção contrarrevolucionária da liderança do Solidariedade inequivocamente foi revelada (para os que quiseram ver) pelos acontecimentos do período imediatamente anterior ao contragolpe de Jaruzelski:
(a) as tentativas de estender o Solidariedade ao exército e à polícia;
(b) as discussões abertas sobre a necessidade de derrubar o Estado na reunião da direção geral do Solidariedade em Radom, em 3 de dezembro;” 
(c) a reunião de 12 dezembro em Gdansk de líderes do Solidariedade, que propôs ”fazer um plebiscito nacional por conta própria sobre um voto de confiança no General Jaruzelski, e para estabelecer um governo provisório não-comunista e organizar eleições livres” (New York Times, 14 dezembro 1981).”

Uma organização trotskista na Polônia no outono de 1981 teria se oposto intransigentemente ao curso pró-capitalista de Walesa & Cia. enquanto continuasse a intervir em reuniões de massa do Solidariedade nos locais de trabalho, e em cada outra arena onde fosse possível receber uma audiência da classe trabalhadora para cristalizar uma oposição anti-estalinista pró-socialista à direção do Solidariedade.” (Teses Sobre o Solidariedade, ênfase nossa).

Enquanto os revolucionários interviriam na base de massas do Solidariedade, eles não dariam nenhum apoio ao Solidariedade para obter os meios de consolidar um governo capitalista (rachar a polícia e o exército, derrubar o Estado, estabelecer um governo provisório). É exatamente isso que estamos contestando na atual posição do Coletivo Lenin. É claro que os revolucionários deveriam agir diante do que está acontecendo na Líbia. O que está em questão é se apoiar o governo do Conselho Nacional avança ou retrocede a luta por conquistas democráticas para o proletariado.
Na declaração que o camarada Paulo propôs, nem mesmo se coloca nossa posição diante do atual governo de Bengasi. Para nós não há a menor dúvida: deveríamos ser oposição a esse governo e não ter lhe dado nenhum “apoio tático” para se consolidar. Podem até nos perguntar: não iríamos lutar contra Kadafi e por liberdades democráticas? É claro que vamos! Mas entre essas duas coisas existe uma linha divisória que o camarada Paulo cruza de maneira irresponsável. Poderíamos até mesmo organizar uma frente única para resistir aos ataques contra os manifestantes por parte do governo Kadafi. Mas em nenhum momento isso pode ser confundido com dar apoio militar ao governo do Conselho Nacional.
Diante disso, chamamos os camaradas a reconsiderarem a posição aprovada pelo Coletivo Lenin e lutarem ao nosso lado por uma modificação da atual posição.

Polêmica com o PSTU no Combate à Homofobia

Somente os Trabalhadores Podem Defender Efetivamente os LGBT!

Por Rodolfo Kaleb, agosto de 2011

A opressão contra a diversidade de opção [*] ou identidade sexual vem crescendo no Brasil. O Grupo Gay da Bahia publicou recentemente uma pesquisa que mostra que o Brasil é o país recordista mundial em assassinatos de gays, lésbicas e travestis – 260 foram assassinados só no ano passado. Segundo pesquisa do Grupo, esse tipo de crime aumentou 113% nos últimos cinco anos. [1] Os casos de agressão nas grandes e pequenas cidades têm ganhado as páginas dos jornais e manchetes de televisão.

PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado) diz frequentemente que o fim definitivo da opressão contra pessoas com identidades ou opções [*] sexuais diferentes só é possível numa sociedade controlada pelos trabalhadores. Concordamos com tal afirmação. Entretanto, é preciso pontuar que se o fim definitivo da homofobia só é possível no socialismo, então é necessário que aqueles que lutam por ele tenham em mente, nas batalhas diárias por direitos na sociedade capitalista, que só os trabalhadores são capazes de defender os Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais, Travestis e Intersexuais. Esperar que os elementos da sociedade burguesa como a polícia, a Justiça ou os governos defendam os LGBT é uma política que pode se esperar de alguém que, conscientemente ou não, tem ilusões na sociedade capitalista ou busca uma versão “menos pior” da mesma.

Em março deste ano, o companheiro Guilherme Rodrigues do PSTU de São Paulo foi atacado por um grupo de agressores homofóbicos. O PSTU divulgou bastante este ataque, que é mais uma de tantas das agressões crescentes contra os LGBT brasileiros. Mais um, porém um ataque contra um homossexual membro de um partido da esquerda, e que cria uma oportunidade fenomenal para que os revolucionários desmascarem os demagogos e mostrem que são os mais combativos na luta pelos direitos democráticos. Comentando sobre a agressão do seu militante, assim como sobre as ameaças de morte sofridas pelo deputado Jean Wyllys (PSOL/RJ), o PSTU escreveu que:

É muito importante lembrar que nestes casos a polícia e a justiça não podem punir os agressores exatamente pela inexistência de uma legislação que criminaliza as agressões motivadas pelo preconceito, tal como foi o caso do companheiro Guilherme. (…)”

Dia 18 de maio: exigir a criminalização da homofobia, Opinião Socialista 423, 11 de maio

Está claro que o Estado capitalista na maior parte do tempo simplesmente não faz nada e deixa que os LGBT sejam agredidos ou mortos. De nenhuma maneira conseguimos ver como a polícia e a Justiça estão “impedidas” de punir os grupos homofóbicos fascistas simplesmente pela inexistência da lei de criminalização da homofobia. Não nos parece que elas estejam ansiosas por uma legislação como essa para começar a “mostrar serviço”. A falta de ação do Estado burguês tem razões muito mais profundas. Nem a existência da lei resolveria a questão. Ela seria uma vitória, mas uma vitória bastante limitada. Afinal, a sua aplicação seria feita pela mesma instituição que deixa impune os atacantes e restringe os direitos dos LGBT. Acaso a lei criminalizando o racismo resolveu as agressões, o preconceito e a super-exploração sofridos pelos trabalhadores e trabalhadoras negros? Assim como o Estado capitalista é essencialmente racista, ele também é machista e homofóbico.

Imediatamente após o ataque contra Guilherme, o PSTU publicou no seu site uma declaração reclamando sobre a forma como o seu militante havia sido tratado pela polícia. A declaração mostrou que a policial que estava no local tratou Guilherme em pé de igualdade com seus quatro agressores, tentou encerrar o assunto como se nada tivesse acontecido e que, depois de levados para a delegacia, Guilherme foi liberado junto com os homofóbicos, sem nenhum tipo de proteção, estando à mercê de um novo ataque. O artigo conclui:

Apesar de tudo, o BO [Boletim de Ocorrência] foi registrado. Foram consumados os crimes de lesão corporal (art. 129), injúria (art. 140) e ameaça (art. 147). No entanto, a formalização da denúncia só se deu pela persistência e coragem de Guilherme e não por que a polícia tenha cumprido sua tarefa.” (ênfase nossa)

Mais um ataque homofóbico: liderança GLBT sofre agressão em São Paulosite do PSTU, 24 de março

É esclarecedor que o PSTU reclame da ação policial dizendo que a polícia “não cumpriu sua tarefa”. Existe na concepção do PSTU uma dose considerável de esperança de que a polícia seja usada para ou tenha a tarefa de proteger os setores oprimidos. Na verdade, a polícia como um todo (e não apenas a policial envolvida) tem a tarefa de repressão profissional dos trabalhadores, sobretudo aqueles mais explorados e oprimidos. Qualquer trabalhador negro ou LGBT que já foi parado pela polícia sabe que a “tarefa” da polícia não é cuidar do bem deles.

O PSTU e a Política Revolucionária

O PSTU tem concentrado os seus esforços no campo das opressões na luta pela aprovação da PLC 122, o projeto de lei que criminaliza a homofobia. Em nenhum momento os dirigentes do partido explicam que a aprovação da lei, pela qual lutar é uma tarefa de todos os militantes combativos, não vai garantir uma proteção real para os LGBT. Recentemente, o partido publicou um texto defendendo a politização das Paradas Gays pelo Brasil após a sua participação na Parada de São Paulo:

José Maria de Almeida, o Zé Maria, falou em nome da central [CSP-Conlutas, dirigida pelo PSTU] no carro de abertura, e foi aplaudido pelos milhões de ativistas ao exigir a criminalização da homofobia e a aplicação do kit ‘Escola sem homofobia’ em todas as escolas. Também denunciou a negociata política em Brasília com nossos direitos. (…)”

Parada do Orgulho LGBT: a necessidade de politização, Opinião Socialista 426, 13 de julho

Claramente é desejo de todos na esquerda que as Paradas do Orgulho LGBT sejam politizadas. Mas elas devem passar a ter uma política revolucionária. Qual líder demagogo do governo não diz que também acha que a homofobia deve ser crime (o PLC 122 é de autoria da senadora paulista Marta Suplicy, do PT)? O projeto “Escola Sem Homofobia” foi uma proposta do próprio Governo Federal. Obviamente combatemos a sua suspensão, com a qual Dilma fortaleceu os reacionários como Jair Bolsonaro (PP/RJ) e a bancada evangélica, mas não devemos limitar a isso as nossas demandas e as nossas ações. Da mesma forma, o PSTU tem alimentado ilusões no governo Dilma, cobrando que ela “mobilize os parlamentares” para criminalizar a homofobia:

O movimento LGBT que vai à Brasília neste dia 18 precisa ter alguns objetivos claros. O primeiro é que estamos exigindo a aprovação do PLC-122. Porém, não estamos exigindo isso somente dos parlamentares, mas estamos exigindo da presidente Dilma. O PT possui maioria no Congresso Nacional e um forte poder de centralização de sua base aliada. A maior prova disso foi o rolo compressor do governo para aprovar o vergonhoso reajuste do salário mínimo. Estamos exigindo de Dilma que faça o mesmo movimento para aprovar o PLC-122.”

Dia 18 de maio: exigir a criminalização da homofobia, Opinião Socialista 423, 11 de maio

O programa que o PSTU levanta é insuficiente para educar os trabalhadores sobre a importância da sua unidade como classe, independente das diferenças de opção [*] ou identidade sexual. E também é inútil para diminuir concretamente a opressão contra os LGBT. A própria raiz do interesse de inúmeros setores da burguesia em manter os direitos restritos dos LGBT e a opressão contra eles é a mesma necessidade que possuem em dividir os trabalhadores em linhas étnicas, nacionais, sexuais, etc. Há mais de 100 anos, Lenin escreveu que:

(…) o socialdemocrata [como se chamavam os revolucionários na época] não deve ter por ideal o secretário do sindicato, mas o tribuno do povo, que sabe reagir contra toda manifestação de arbitrariedade e de opressão, onde quer que se produza, qualquer que seja a classe ou camada social atingida, que sabe generalizar todos os fatos para compor um quadro completo da violência policial e da exploração capitalista, que sabe aproveitar a menor ocasião para expor diante de todos as suas convicções socialistas e suas reivindicações democráticas, para explicar a todos e a cada um o alcance histórico da luta emancipadora do proletariado.”

O Que Fazer? (1902)

Os revolucionários têm o dever de unir os trabalhadores contra as formas de opressão. Eles não devem buscar ser um “funcionário de sindicato” acomodado às limitações que a sociedade capitalista impõe. Eles devem tentar fazer com que os trabalhadores sejam ativos na defesa dos seus direitos democráticos à diversidade. Isso não se consegue tentando apenas aprovar uma lei ou um kit escolar. Essa separação entre o ideal futuro professado (um mundo socialista sem opressão) e a ação prática no presente (de cobrar do governo que proteja os LGBT) nada tem a ver com a estratégia revolucionária. 

O maior objetivo dos revolucionários deve ser organizar a autodefesa dos trabalhadores e oprimidos, que inclua trabalhadores de todas as opções [*] e identidades sexuais para proteger os LGBT contra agressões com todos os meios disponíveis, revidando contra os grupos de homofóbicos fascistas ativos no país. Assim os revolucionários protegem na prática os LGBT ao mesmo tempo em que ensinam aos trabalhadores a não confiar na polícia e na Justiça da burguesia para nada – e fazerem eles próprio a sua proteção.

Acreditamos que a autodefesa deve ser construída como uma frente única, ou seja, uma unidade de ação baseada no acordo comum entre militantes e ativistas de várias correntes ou independentes sobre a necessidade prática de defender os homossexuais. Com sua influência na juventude e nos sindicatos, o PSTU teria facilmente capacidade de organizar comitês de autodefesa para garantir a segurança dos LGBT. Propomos ao PSTU e demais organizações da esquerda (partidos, sindicatos, grupos de defesa dos direitos dos LGBT), organizar frentes como esta para escoltar e proteger aqueles que precisam.

Um comitê de autodefesa, por exemplo, pode ser organizado para garantir a segurança dos jovens e trabalhadores que participarão da próxima Parada do Orgulho LGBT do Rio de Janeiro, a ocorrer em outubro. Desde já nos dispomos a integrar uma iniciativa nessa ocasião. Não acreditamos, entretanto, que o PSTU tenha interesse em ajudar a construir esse ato de combatividade classista contra os homofóbicos, uma vez que tem preferido cobrar da polícia que cumpra a sua suposta “tarefa” e se limita a pedir proteção do Estado burguês.

Uma ação como a organização de comitês de autodefesa de trabalhadores, ainda que pequena no início, pode plantar uma semente que inspire e seja reproduzida pelo Brasil afora, o que trará resultados reais em defesa dos LGBT. Os homofóbicos e fascistas não se assustam com a polícia. O PLC 122 pode inibir, mas não vai impedir que essa corja da reação continue perseguindo os oprimidos. Além disso, os agressores homofóbicos recebem apoio financeiro e ideológico dos partidos e políticos burgueses, como é o caso do DEM, que aprovou na Câmara de Vereadores de São Paulo o infame “Dia do Orgulho Hétero” (a ser “comemorado” no terceiro domingo de dezembro para protestar contra os “excessos e privilégios” dos LGBT). Os homofóbicos só vão parar quando perceberem que não vão conseguir agredir os LGBT e passarem a sentir medo dos trabalhadores, que estarão defendendo aqueles com unhas e dentes. Comentando sobre a agressão que sofreu, o militante do PSTU disse que:

Hoje não queremos justiça só para este caso. Estamos aqui em nome de todas e todos que foram agredidos e que sabem que seus agressores continuam impunes. Queremos punição aos quatro covardes que me atacaram e que sirva de exemplo para esses bandos homofóbicos neofascistas. (…) Se não fui destroçado pelo bando é porque pude contar com a solidariedade daqueles que impediram o pior de acontecer.”

Basta de Silêncio”, Opinião Socialista 421, 6 de abril

Mas a punição definitiva contra o bando covarde de agressores de Guilherme Rodrigues, assim como os de tantos outros, não pode ser dada pelo Estado, como esperam passivamente os dirigentes do PSTU, mas somente pelos trabalhadores. Somente com a “solidariedade” entre trabalhadores e oprimidos, empunhando uma estratégia combativa e revolucionária, é que tamanha opressão pode ter fim.

É Preciso Romper com o Centrismo!

Centrismo é o nome aplicado àquela política que é oportunista na essência e que procura aparecer como revolucionaria na forma. Oportunismo consiste na adaptação passiva diante da classe governante e do regime existente, àquilo que já existe, incluindo obviamente os limites do Estado. O centrismo divide completamente esse traço com oportunismo, mas ao adaptar-se aos operários insatisfeitos, o centrismo se cobre de discursos radicais.” [2]

Esta definição de Leon Trotsky sobre o centrismo se encaixa como uma luva na política do PSTU sobre a homofobia (e não apenas sobre a homofobia). Nos últimos meses o partido tem dado mais ênfase do que nunca à sua “tática” de exigir do governo que tome medidas em favor dos trabalhadores. Somente em agosto, por exemplo, ele exigiu do Ministro da Defesa que retirasse as tropas brasileiras do Haiti e também exigiu de Dilma que rompesse relações diplomáticas e comerciais com a Síria (cujo ditador assassinou milhares de manifestantes que lutam por direitos democráticos). [3] 

Enquanto nós apoiamos legislação anti-homofobia e outras reformas parciais que podem ser alcançadas no capitalismo, e também apoiamos a prisão de intolerantes violentos que ataquem os LGBT e outros setores oprimidos, fazer exigências para que a classe dominante procure realizar uma política externa positiva (em oposição a demandas negativas contra as incursões predatórias como a do Brasil no Haiti) só pode criar ilusões nos oprimidos.

Não apenas essa política fracassada alimenta ilusões em Dilma, como também coloca os trabalhadores no papel secundário de exigir que o governo burguês se movimente em sua defesa, fazendo do movimento operário e popular nada mais do que um instrumento de pressão sobre os governos da burguesia. Pior é o fato de que essas “cobranças” acontecem sem que o PSTU faça nada de ativo para tornar os trabalhadores protagonistas do internacionalismo ou da derrota das tropas brasileiras no Haiti. A CSP-Conlutas poderia tentar organizar uma greve política contra o governo Sírio ou contra as tropas brasileiras nas categorias onde tem atuação. Esse seria um ato de solidariedade de classe que sem dúvida se faria ouvir pelos trabalhadores nesses países. Mas a estratégia e o programa centristas do PSTU, adaptados aos limites do Estado capitalista, impedem esse tipo de ação.

O PSTU, por seu tamanho e pelo seu discurso “radicalizado”, atrai muitos militantes com objetivos revolucionários e que acabam caindo numa teia de políticas que, na sua essência, são incoerentes e oportunistas – o que afasta os trabalhadores de uma verdadeira consciência marxista. Mas essas políticas estão em contradição com o impulso revolucionário, que tem confiança na força de uma classe proletária com consciência de seus interesses – e que não precisa nem “exigir” nem “pedir” nada aos seus carrascos, mas que é capaz de impor suas demandas, sejam elas imediatas ou históricas. Cabe aos militantes combativos do PSTU que possuem esse impulso romper com tais políticas centristas e lutar para construir uma organização revolucionária sem essa tradição recuada.

Reunir esses militantes de impulso revolucionário, hoje dispersos nas organizações centristas e oportunistas de todo gênero, é o principal objetivo do Reagrupamento Revolucionário. Mas, diferente de outros grupos que clamam possuir a mesma perspectiva, tomamos como base uma política coerente, testada na luta prática e teórica dos que nos precederam. Rumo ao renascimento da Quarta Internacional!

Notas

[*] O uso do termo “opção” não quis refletir aqui uma conotação de que a orientação sexual é uma “escolha individual”, independente de elementos sociais e biológicos. A escolha imprópria do termo refletiu o pouco amadurecimento da discussão sobre a temática LGBT na esquerda e pelo autor do artigo à época em que ele foi escrito (2011).

[1] De acordo com o Relatório Anual de Assassinato de Homossexuais de 2010, disponível na página do Grupo Gay da Bahia.

[2] Citado do artigo “A Independência da Ucrânia e os Sectários Confusos” de 1939.

[3] As exigências foram feitas respectivamente nos artigos Celso Amorim: retire as tropas do Haiti, de 5 de agosto e PSTU exige que o governo Dilma rompa relações do Brasil com a ditadura da Síria, de 12 de agosto, ambos publicados no site do partido.

 

To the Brink and Back: French Revolution

To the Brink and Back: French Revolution

[First printed in Spartacist No. 12, September-October 1968. Copied from http://www.bolshevik.org/history/Other/To%20the%20Brink%20and%20Back.html ]

The immediate origins of the French struggles can be traced to student activity at Nanterre and the Sorbonne, but these student rebellions had revolutionary significance only insofar as they were the spark which set off a conflagration within the working class. It was the social crisis, not the student movement, which led to the workers’ occupation of factories, the paralyzing of French commerce and industry and the largest and most powerful general strike in history.

The struggle is reminiscent of the Hungarian workers’ revolt of 1956, although in France it did not result in the spontaneous generation of workers’ councils. Thus, the elements of dual power were not clearly present. But both exemplified, in laboratory situations, the counterrevolutionary nature of Stalinism, just as in both cases struggles on the part of students and intellectuals struck a chord within the working class. This has become almost a classic model of social upheaval in our era.

Revolutionary Leadership Lacking

There was a period of about a week, the high-tide of which was 29 May, when France was in the grip of a pre-revolutionary situation. The initiative was with the workers; it was within their grasp to take state power and establish the proletarian dictatorship. The old order and the Gaullist government were incapable of ruling, incapable of imposing their order on the subordinate classes or of solving the social crises tearing apart the nation. General discontent among parts of these subordinate strata–students, some farmers, the urban petty-bourgeoisie–was acute. The French state, racked by its own internal contradictions, the crisis of bourgeois order and far-reaching discontent, was for the period of a week more fragile than at any other time in a generation.

Yet the situation did not reach the point of dual power, which is characteristic of all revolutionary crises. In a few cases, factory committees, replacing the existing representation in the several trade-union federations, were elected by the striking workers, but this embryonic form of workers’ councils was limited to perhaps ten factories. The comités d’action which sprang up all over France were essentially district or neighborhood groups, not based specifically on the working class in the enterprises.

What was missing in France was a revolutionary party which could have raised the necessary demands to take the situation from a general strike to dual power, to shatter the control of the Confederation Générale de Travail (CGT) over the strike through the building of workers’ councils. That the revolutionary French workers were unable to take power was principally, although not solely, due to the treachery of the French Communist Party (PCF).

Communist Party Sabotages

The PCF leaders, along with the CGT, their trade union arm, did everything in their power to derail the movement. They attempted to split the initial student-worker alliance at the factory gates, slandering the students as “provocateurs.” In their patriotic fervor they German-baited Cohn-Bendit. They attempted to steer the whole thrust of the demonstrations, strikes and factory occupations into narrow, exclusively economic demands. They established back-to-work movements. They misdirected the struggle back into the parliamentary swamp. They allowed De Gaulle a breathing space, allowed him to retrieve the initiative and to rally back to himself wavering middle-class elements, to ally himself with the military command and a whole bloc of proto-fascist elements. The PCF’s betrayals in May led directly to De Gaulle’s victory at the polls on 23 June.

The PCF, long the most “Stalinized” party in Western Europe, has in its Brezhnevite transfiguration maintained the same rotten policies it upheld in 1936, 1945 and 1947. Through the lack of a revolutionary communist alternative, the PCF and CGT have until now managed to maintain the loyalty of the French workers. The French events demonstrate once more the necessity of building an alternative for the communist workers to the PCF–that is, a communist party which will honor its program and fight for state power in its own right. It is not enough that this party break formally with the PCF or with “Khrushchevite revisionism”; it must also break with the methods and policies of Stalinism. What is needed is not another left-talking agency, but a Leninist-Trotskyist party. Only the kind of party which won the 1917 October Revolution in Russia will be able to get to the roots of the PCF’s betrayals.

De Gaulle Cracks Down

The government’s crackdown on all the major organizations to the left of the PCF becomes an even more serious threat in this context. To date, there have been eleven working-class and student groups ordered dissolved–most of them, according to the bourgeois press, “Trotskyite.” These proscribed organizations are forbidden to publish their propaganda; militants who continue their work are subject to prison terms.

The ban on these organizations is a fierce attack on the civil liberties of French workers and students. It is a class-determined ban: while the government illegalized the French left, it was at the same time releasing from jail extreme rightists, proto-fascists and the conspirators of the attempted paramilitary coup d’état of 1958. And what makes the ban especially damaging now is that it is the militants of many of the banned organizations who best appreciate the pernicious role of the PCF and can draw the necessary conclusions.

Both the Gaullists and the PCF benefit from these decrees; to assume that the PCF was not an accomplice to the crackdown is to stretch credibility beyond the breaking point. It has been acknowledged that from the beginning of the crisis the CGT leadership was in secret, daily contact with the government. At any rate, neither L’Humanité nor The Worker has to date said one word in regard to these bans.

Proletarian Revolution vs. New Leftism

Many “new” ideas about revolution have surfaced within the American left in the 1960’s, and France offers us a laboratory in which to test them. Since so much of late has been made of Herbert Marcuse, considered the mentor of European radical youth, his ideas are of central importance. In one or another variant, his theories permeate the writings and speeches of practically the whole constellation of the New Left “heroes”–Mao, Guevara, Castro, Fanon, Debray, Paul Sweezy, Lin Piao, C. Wright Mills.

Marcuse’s thesis is that the working class has become socially moribund and obsolete. This thesis, an attempt to explain the twenty-year hiatus in revolutionary workers’ struggles in the post-war period, dovetailed quite nicely with the liberal capitalist line that “post-industrial” society was sufficiently flexible to comfortably integrate the working class and dispense with class struggle. This theory deepened petty-bourgeois contempt for the workers and gave impetus to all kinds of elitist conceptions of historical change. By shifting the blame onto the victims of these policies of non-struggle rather than onto the perpetrators, onto the workers rather than the assorted bureaucrats who mislead them, this theory dismisses the workers as a revolutionary class and searches instead for a new “vanguard agency.” In favor of Mao’s peasants or Guevara’s guerillas, the militant of the industrial West is encouraged to become not a revolutionary but a vicarious enthusiast of “other” forces.

The French workers did more than shake up French bourgeois society: their struggle rendered obsolete the whole carefully constructed myth–Marcuse, liberalism, the New Left and its heroes. The “bought-off” workers in action, the strikes, factory occupations, the red flag everywhere, the workers’ drive for power and their rejection of the concessions exacted from the terrified French bourgeoisie–these events show concretely where the social agency for change is to be found in our era.

Role of the French Left

The pro-Chinese groupings seemed out of their depth in the complex situation. The question facing the working class was the fracturing of the CGT’s power, a situation in which the “thoughts of Chairman Mao” must have appeared even more gloriously irrelevant than usual. The Maoist students understood the necessity of involving themselves in the workers’ struggles and managed to build themselves an industrial base, but seemed to have no idea what to do with it. But whatever they did must have had little support from their chosen leaders in Peking; the Chinese themselves consider De Gaulle a “progressive” anti-imperialist. The political work of the Paris anarchist students appears largely to have consisted in “confronting” the police. In three weeks they moved from their traditional concept of super-individuality to participating in the demonstrations in the manner of a super-organized lockstep action squad.

There are three distinct “Trotskyist” tendencies operating in France, all presently banned. Two groups are affiliated with assorted “Fourth Internationals,” the Organization Communiste Internationale (OCI) with the Healyite International Committee, and the Parti Communiste Internationale (PCI) with the Pabloite United Secretariat. Also associated with the Pabloites is the Jeunesse Communiste Revolutionaire (JCR), a left split from the PCF student federation. The third tendency, the Union Communiste, which publishes Voix Ouvrière (Workers Voice), is organizationally independent of these “Internationals” but has fraternal relations with groups in other countries, among them the Spartacist League in the U.S.

Healyites Screw Up

Despite attempts by the British Newsletter and the U.S. Bulletin (Healy’s English-language propaganda apparatus) to make it appear that the OCI was leading the entire rebellion, its presence in the working class was limited to a few important factory concentrations; its influence in the radical student movement was non-existent. Over-reacting against “student vanguardism,” a real problem, the French Healyites went so far as to oppose student struggle at the very moment the students were building the barricades which triggered the whole revolt.

This reaction was objectively defeatist. After the barricades-building episode many of their rank and filers functioned in the various comités d’action as individuals disgusted with their group’s policies. The OCI did not even have a propaganda stall at the Sorbonne (although every other left organization did).

Pabloite Revisionism

The Pabloites were limited in a more subtle manner, deriving from their estrangement from the working class and a concept of “student vanguardism.” Thus, within the student milieu they played an active role, with some increase in influence and leadership. But central to their weakness was their inability to break out of the student arena. Their isolation was of course not accidental but stemmed from tactical and theoretical shortcomings of many years’ duration, characterized chiefly by a renunciation of the necessity for revolutionary leadership and a consequent adaptation to existing petty-bourgeois and Stalinist leaderships. This revisionist trend has been codified in a number of notorious resolutions on the part of the United Secretariat which declared that the “epicenter” of revolutionary struggle had shifted to the colonial world, and away from the industrial working class.

Their line is only a capitulation, decked out in “revolutionary” verbiage, to a variant of the Marcuse-Mao-Guevara thesis preaching contempt for the workers while looking about for other “agencies.” That this theory has borne little fruit has not dissuaded them from their search. In practice the Pabloites have done little more than participate in popular front “peace” demonstrations and lend themselves as a left cover for Stalinists, pacifists and liberals.

And so it happened that, precisely when the French workers went into motion and even a small combat-oriented Marxist nucleus could have by example alone wielded enormous influence, the Pabloites were outside the trade union movement. And then when the issue was posed of linking the students with the workers, it came to little more than an expression of solidarity rather than pointing the way to the assembling of the communist party.

Voix Ouvrière

The Voix Ouvrière comrades are the only organization claiming to be Trotskyist which has carried out a working-class line. Initially, their cadres were concentrated in the factories to the extent that they lacked an adequate base within student and petty-bourgeois arenas. They were, however, able to establish permanent liaison committees with the Pabloite organizations, enabling them to coordinate their intervention with the radical students of the JCR. Such increase in contact between these organizations may in the future allow the V.O. comrades to aid Pabloite youth in breaking away from the revisionism in their movement and orienting decisively toward a revolutionary proletarian perspective.

However, the axis upon which the V.O.-Pabloite unity of action is based is a false one. The joint statement called upon “all organizations claiming to be Trotskyist to join in this move.” The V.O. comrades feel the recent events constitute “the French 1905.” Let us remember that the sequel to the 1905 Russian Revolution was a unification of the Bolsheviks and Mensheviks! It took Lenin several years to break this over-fraternal unity. What has been pointed up in France by the latest CP-CGT betrayal is not the need for a “Trotskyist regroupment” but the need for a new revolutionary party based on the vindicated Bolshevik program, uniting all those, even from such tendencies as the Maoists and syndicalists, who stand in favor of workers’ committees of power. We hope that V.O., the French Bolsheviks, have not been disoriented as were the Russians in 1905.

British and U.S. Left

The Healyite organizations appear incapable of learning any of the lessons of France. As of this writing they seem inclined simply to brazen it out with wild claims. A Socialist Labour League congress passed a resolution containing these grotesqueries:

“Congress contemptuously rejects the allegations of cowardice leveled against our comrades as baseless… The International Committee of the Fourth International and its French section is the only one that has prepared theoretically and organizationally for this crisis… . The general strike called by the CGT on May 13, as a result of the intervention of our comrades … is adequate proof of the correctness of their policies and their courage.” (our emphasis)

Further evidence that according to the Healyites all you need to make the revolution is a printing press and a lot of brass!

The Pabloite press has smothered itself in a general line of: “If the French (or any other) revolution hasn’t yet taken place it’s all the fault of the Stalinists.” This serves only as a convenient–if by now rather boring–scapegoat. The Stalinists have been functioning as agents of the bourgeoisie at least since 1933; this has been codified in the Trotskyist movement at least since the 1938 Transitional Program. Yet the central premise of Pabloism is that the Stalinist parties are subject to “left” pressure to such a degree that they can at times play a revolutionary role. Thus the Pabloite co-thinkers of the USec in the U.S. (Socialist Workers Party-Young Socialist Alliance) find themselves caught in a classic centrist trap.

On the one hand, the Militant has done an accurate and enthusiastic job reporting the French revolt although seriously flawed by “student vanguard” substitutionism and a vacuous position on the need for the Trotskyist party. And in New York and the Bay Area the SWP-YSA did praiseworthy jobs in building united fronts defending the outlawed French organizations. On the other hand, their pervasive opportunism and capitulation to bureaucratic forces, nationalism, student vanguardism, etc., had already led them to give up on the workers and the vanguard party. The Pabloite press now applauds itself for its formal, generally ignored “Trotskyism,” but its “Third Worldism” has certainly done nothing to lay the groundwork for the French events or to push them towards victory.

Trotskyism Vindicated

For those who held to a position of consistent Trotskyism, the French revolt was a tremendous vindication. For the revisionists it was only a setback, an exposé and a tragedy. How can anyone seriously committed to the position that the “epicenter” of world revolution has shifted away from the industrial working class to the colonial world see the French workers’ uprising as anything but an embarrassment? They can only try to straddle, like one Bay Area YSAer’s picket-line slogan, “Che Viva in France,” or SWP leader Fred Halstead’s statement that “The colonial revolutionaries no longer fight alone.” These incidents alone should raise some interesting questions in the minds of serious revolutionaries still in the SWP.

One best aids the French communist workers not by tail-ending their rebellion but by furthering revolutionary struggle here. One helps them by building, both in France and here, sections of an international communist party which will take power. One only harms the French revolutionary movement by refusing to learn its lessons.

Arquivo Histórico: Liga Espartaquista e a Autodefesa Operária

Família Negra Ameaçada em Chicago
Regional do UAW Organiza Autodefesa Negra e Operária

Publicado originalmente em abril de 1975 pela Liga Espartaquista (Workers Vanguard número 67). A tradução para o português foi realizada pelo Coletivo Comunista Internacionalista em 2007. Esta versão foi copiada daquela disponível em coletivolenin.org.

Chicago, 18 de abril de 1975 – C. B. Dennis, negro e membro do UAW (Sindicato Unido dos Trabalhadores Automobilísticos), tentou se mudar para o bairro de classe média branca de Broadview. A sua casa foi queimada e apedrejada repetidas vezes. Mas hoje à noite, como em todas as noites desde a semana passada, a casa da família Dennis está sendo protegida por uma auto-defesa inter-racial de seus companheiros sindicalistas. A regional 6 do UAW votou unanimemente, na sua assembléia de domingo, organizar a auto-defesa.


Num momento em que há um aumento dramático do terror racista contra os negros em todo o país, a ação da regional do UAW é um poderoso exemplo do que pode ser feito para parar os ataques noturnos. E esta é a melhor resposta possível para os que pregam a confiança na polícia da burguesia, se escondendo atrás do lamento desesperado: “os trabalhadores não vão defender os negros dos ataques racistas – não existe solução a não ser chamar a polícia”.

Os ataques, que causaram um prejuízo de milhares de dólares à casa, e impediram a família de se mudar, são parte de um padrão de terror contra os negros nos bairros brancos, onde a direita tenta espalhar o ódio racial. Em outra vizinhança, na Zona Sul, quatro famílias negras foram forçadas a viver virtualmente sob estado de sítio, com o Partido Nacional-Socialista do Povo Branco (Nazista) fazendo tudo, menos assumir os ataques.
  
Os primeiros voluntários da regional 6, incluindo o presidente local, Norman Roth, estavam a postos do lado de fora da casa, poucas horas depois da assembléia. C. B. Dennis, que trabalha na manutenção na planta da International Harvester de Melrose Park há 15 anos, foi entrevistado em casa pelo jornal Workers Vanguard [jornal da Liga Espartaquista]. Ele falou que não conseguiu proteção policial adequada.
  
“Eles falaram que iam chegar em vinte minutos. Mas não tem proteção nenhuma” Dennis falou, observando que só acontecem patrulhas de duas em duas horas à noite. “Isto é a melhor coisa que poderíamos fazer”, disse, referindo-se à auto-defesa, “Eu estou realmente orgulhoso do sindicato hoje. Eu acho que isso é uma grande coisa”. Um velho trabalhador negro que estava ouvindo concordou, dizendo que não conseguia lembrar de uma ação como essa feito pelo sindicato em toda a sua história. Ele comparou com as atividades de auto-defesa das campanhas em que participou nos anos 1930.
  
A ação de auto-defesa da regional do UAW recebeu uma atenção considerável em Chicago. Apareceram artigos na segunda-feira nos dois jornais diários, e Dennis e os dirigentes da regional 6 foram entrevistados por dois canais de televisão à noite. Também houve, no mínimo, três reportagens no rádio.
  
Na segunda noite, os sindicalistas foram xingados por passantes, e um vizinho a duas casas de distância mandou-os “para o inferno”. Outro morador branco, entretanto, veio mais cedo para conversar com Dennis por vinte minutos, expressando simpatia e dizendo que algumas pedras também atingiram a sua casa.
  
É evidente que a polarização racial é profunda, mas a vizinhança não chegou ainda a ser toda aterrorizada. Os voluntários da regional 6 falam em impedir outra mobilização racista, como aconteceu em Boston. Não houve novos ataques desde que o grupo de voluntários começou a vigiar a casa diariamente. A base votou que eles devem ficar “o tempo que for necessário” para assegurar que a família se mude com segurança para a casa.
  
Os ataques a famílias cresceram desde uma ofensiva organizada dos grupos fascistas e racistas de Chicago. Além dos ataques a quatro famílias negras na Zona Sul, houve ataques anteriores a outras famílias em Broadview. O Partido Nazista lançou candidatos para xerife em cinco distritos nas últimas eleições, e a Ku Klux Klan recentemente também esteve se organizando mais ativamente.
  
Esta escória se aproveita do desespero causado pelos altos índices de desemprego e inflação na classe trabalhadora, e seus esforços para dividir os trabalhadores pelas suas raças só podem beneficiar os patrões. Ações corajosas, como a feita pela regional 6 podem, se prosseguirem e forem adotadas pelo resto do movimento operário, impedir futuros ataques e, rapidamente, mandar o pequeno mas mortal movimento fascista para a sepultura que ele merece.
  
O terceiro ataque à casa de Dennis, que aconteceu dois dias antes da assembléia, revoltou particularmente muitos membros da regional. A moção para organizar as auto-defesas voluntárias foi feita por um membro da Corrente de Luta Operária, que distribuiu um boletim na planta da empresa antes da assembléia, chamando uma resposta militante à onda de terror racista. A Corrente de Luta Operária é um agrupamento na regional 6 com um programa classista que esteve ativo, recentemente, em lutas bem-sucedidas contra a proibição de panfletagem na planta pela empresa, e contra a extensão dos mandatos dos representantes sindicais para três anos. A sua resolução na assembléia de domingo apoiava a “luta pela integração dos negros na moradia, na educação e nos empregos” como “um interesse vital de todos os trabalhadores”, e denunciava a confiança na polícia, que “serve aos patrões, e da qual não podemos depender para defender os direitos dos negros ou dos sindicatos”. A moção também exigia que as auto-defesas fossem estendidas às famílias negras da Zona Sul, assim como de Broadview.
  
Depois da assembléia, a regional lançou um número especial de seu boletim. Embora ele não tenha sido bem distribuído, uma reunião especial na terça-feira foi assistida por 25 membros de todas as correntes políticas da regional, assim como por um canal de televisão, que filmou tudo. O presidente Roth estava na mesa e recebeu várias críticas pela distribuição ineficiente do boletim especial da regional que, foi dito, faria a reunião ser bem maior.
  
Ele também voltou atrás, sob pressão, da sua objeção anterior à formação de um comitê especial para organizar as auto-defesas. Um comitê foi então formado, sob a direção do sindicato. Ele inclui dois membros da Corrente de Luta Operária, um membro do grupo sindicalista Voz Operária, e outros membros da regional. Os membros do comitê imediatamente começaram a procurar voluntários na planta.
  
Houve apoio à atividade de auto-defesa, pelo menos verbalmente, pela direção do UAW na área, incluindo o diretor regional Robert Johnston. O boletim especial da regional declarou que “estes esforços estão de acordo com os princípios e políticas do UAW”.
  
Por outro lado, a direção do UAW pareceu preocupada, em primeiro lugar, em conseguir a intervenção do governo, tirando assim a responsabilidade das mãos do sindicato. Na casa de Dennis no domingo à noite, Roth disse ao Workers Vanguard que a sua intenção era “exercer toda a pressão política para obrigar as autoridades a fazerem alguma coisa”. Depois, ele disse que “Em alguns casos, a polícia deu alguma proteção”.
  
Roth, que é um famoso apoiador dos Sindicalistas por Ação e Democracia, o grupo sindical apoiado pelo reformista Partido Comunista, não surpreende ao confiar no Estado dos patrões. Nem a justiça, nem a polícia, o exército ou a Guarda Nacional vão proteger os negros da violência racista. Isso pode ser visto claramente pela situação de Boston, onde a justiça está conciliando com os racistas e dando um passo gigantesco para trás na questão do plano contra o apartheid nos ônibus.
  
Em Boston, houve duas linhas fortemente opostas sobre a questão de como defender os negros dos ataques racistas. De um lado, estavam os liberais, com o Partido Comunista e o SWP [que na época era seção do Secretariado Unificado (SU), corrente internacional reivindicada pelo Enlace/PSOL], que exigiram as tropas federais. Contra esta confiança mortal nas forças armadas do Estado capitalista, a Liga Espartaquista lutou por auto-defesas inter-raciais. Em Chicago, Boston, ou em qualquer lugar, as autodefesas negras e operárias podem eliminar rapidamente os terroristas racistas, neutralizar os elementos oscilantes da população branca e, finalmente, desmobilizar manifestações racistas.
  
A ação da regional 6 poderia ser o início de uma resposta militante e classista ao terror racista na grande Chicago, mas somente se toda a regional, incluindo a direção, trabalhasse seriamente nela e espalhasse a idéia para as outras regionais. Se a direção da regional 6, em vez disso, semeia ilusões no Estado, isso vai abrir o caminho para a piora da polarização racial. A auto-defesa não pode ser encerrada prematuramente, com a promessa de que o exército ou a polícia vão ser garantidos pelo Estado.

GADAFI DERRUMBADO POR LOS IMPERIALISTAS EN LIBIA

Gadafi derrumbado por los imperialistas en Libia

Combatir el gobierno del Consejo Nacional y de la OTAN!

Septiembre 2011

Gadafi fue un tirano que oprimió a los trabajadores de Libia durante cuatro décadas. Bajo la fachada de algunas nacionalizaciones progresivas contra los imperialistas en la década del 70, engañó a los proletarios y garantizó el mantenimiento del capitalismo en el país bajo las formas más brutales. Después de la década de 1980, estrechó sus lazos con los países centrales del capitalismo y revirtió mismo sus medidas parciales. A pesar de eso, su derrota a manos de una coalición dominada por sectores de la burguesía nacional – el Consejo Nacional de Transición (incluyendo jefes tribales, monarquistas y jefes militares) – y la OTAN  (una organización militar imperialista) es una derrota para los trabajadores.

Los trabajadores jamás hubieran podido tener ninguna confianza política en Gadafi. Era necesario preparar a cada momento su destitución revolucionaria que hubiese podido crear un gobierno revolucionario de los trabajadores, de libertad y de igualdad; principalmente para las mujeres de un país que estaba – y continúa estando – marcado por la opresión. Sin embargo, y a pesar de las ilusiones de muchos, el gobierno que ahora va a dominar Libia es lo opuesto de ello. Es un gobierno que llegó al poder con el apoyo de la OTAN y que va a intensificar la explotación imperialista sobre el pueblo de Libia y mantener la opresión sobre las mujeres y los trabajadores.

Era, desde el comienzo, responsabilidad de los revolucionarios en Libia y en los otros países romper la ilusión de que ese Consejo podría garantizar cualquier tipo de progreso social o democracia. En febrero, cuando este tomó el poder en Bengasi y el país se sumergió en una guerra civil, la clase trabajadora no tenía ningún interés en adherir a ninguno de los bandos en lucha. Esa era una guerra de fracciones equivalentes de la burguesía de Libia, en la cual la defensa de la clase trabajadora no estaba asociada con tomar el mismo lado militar que alguno de los combatientes.

Con el apoyo militar de los países imperialistas al CNT, a partir de mediados de marzo la situación cambió. Se volvió necesario formar un bloque militar temporario entre los movimientos de los trabajadores y el gobierno de Gadafi para combatir a los imperialistas y sus aliados, quienes tenían el interés de imponer una opresión cualitativamente mayor sobre los trabajadores del país. No obstante, mientras el objetivo inmediato de los revolucionarios era vencer el bloque CNT/OTAN, eso no cambiaba su perspectiva de denunciar a Gadafi y preparar su derrumbe al mismo tiempo en el que la amenaza imperialista era combatida. En sus tácticas, los revolucionarios jamás deben colocar de lado la lucha por el socialismo.

Los líderes de los grupos de izquierda que consideraron la victoria de los rebeldes, debido a su popularidad, una victoria de los trabajadores, engañan cruelmente a sus seguidores. Como si no fuera suficiente el apoyar una insurrección liderada por la burguesía reaccionaria de Libia, estos demagogos ignoran el hecho de que esa “victoria de los trabajadores” fue apoyada por el imperialismo (como si este pudiera ser un aliado de la clase trabajadora), e invierten la lógica de la lucha de clases. La tarea por delante de los trabajadores en lucha por el socialismo, por lo tanto, sólo puede avanzar consistentemente si estos no temen a una impopularidad temporaria, y le dicen la verdad a los trabajadores, por más amarga que esta pueda ser.

Libya: A Defeat for Workers and Victory for the Imperialists

Qaddafi Ousted by Imperialist Stooges in Libya 

A Defeat for Workers and Victory for the Imperialists

September 2011

Muammar Qaddafi was a tyrant who oppressed Libya’s working people for more than four decades. While deceiving many by coming into conflict with the imperialists at a time when Libya instituted some progressive reforms and nationalizations in the 1970’s, his brutal regime remained committed to maintaining Libya as a capitalist country. With the end of the 1980’s, Qaddafi proceeded to reverse many of those reforms as he mended fences and re-established ties with the imperialist powers (Italy in particular). Nevertheless, his overthrow by the imperialist backed National Transitional Council (lead by the national bourgeoisie, tribal leaders, monarchists and Qaddafi’s former government and military officials) and NATO represented a defeat for workers internationally.

Workers could not give Qaddafi any political support. It was necessary at every step to prepare for his future overthrow with the aim of creating a revolutionary workers’ government which would establish democratic freedoms, abolish poverty and exploitation, and establish full equality for women. But despite the false illusions of some on the left, the new regime’s aims are the diametric opposite of these goals. Having come to power through NATO’s military support, Libya will now be even more subjugated to the imperialist powers who seek to exploit it.

From the beginning it was necessary for revolutionaries to point to the NTC’s reactionary political trajectory and seek to dispel its claims to be fighting for any kind of progress or democracy. In February, as the NTC started taking over many regions and civil war engulfed the country, workers initially had no class interest in supporting either side in what were essentially two equivalent bourgeois forces. Those left groups which supported the NTC’s bid to take over the country therefore betrayed those class interests.

The nature of the civil war changed in mid-March with NATO’s direct intervention on the side of the NTC. It then became necessary for revolutionaries to enter into a temporary military bloc with Qaddafi to repel the imperialists and their allies, with their aim of tightening the imperialist grip on Libya. While the immediate goal was to militarily defeat the NATO/NTC bloc, this would not change the necessity for workers to also prepare for Qaddafi’s overthrow. The struggle for socialist revolution can never be strategically subordinated to any temporary tactical necessity. But it was in the interests of the working class that Qaddafi be overthrown by them rather than the imperialists.

Those left organization that tail after any popular movement of the moment and shared in the celebration of the NTC’s triumph as a working class victory are deceiving their supporters. If it was not enough that this particular “popular movement” was led by the most reactionary sections of the Libyan bourgeoisie, it in addition came to power directly through imperialist support. They invert the logic of the class struggle by portraying the possibility of imperialist global intervention in defense of working class interests. The interests of socialism though, can only be consistently advanced through the willingness of revolutionaries to not fear temporary unpopularity and telling the working class the truth.

James Cannon Sobre o Movimento Negro Norte-americano

A Revolução Russa e o Movimento Negro Norte-americano 

por James P. Cannon

  
James P. Cannon foi um dos fundadores e principais dirigentes do Partido Comunista dos Estados Unidos. Expulso em 1928 por apoiar a Oposição de Esquerda Internacional dirigida por L.D. Trotsky, ele fundou o movimento trotskista norte-americano. O seguinte artigo foi publicado em 1959 e logo formou parte do seu livro The First Ten Years of American Communism (Os primeiros dez anos do comunismo norte-americano), publicado em 1962. Esta edição baseia-se na primeira tradução no português feita e distribuída pela Luta Metalúrgica (agora a Liga Quarta-Internacionalista do Brasil) em 1995.

Durante seus dez primeiros anos, o Partido Comunista dos EUA estava preocupado com a questão do negro, e gradualmente chegou a uma política que era diferente e superior à do radicalismo norte-americano tradicional. Não obstante, nas minhas memórias publicadas relacionadas a este período, a questão do negro não aparece em nenhuma parte como tema de controvérsia interna entre as frações principais. A explicação era que nenhum dos dirigentes norte-americanos colocou nenhuma nova idéia sobre esta questão explosiva por conta própria; e nenhuma das frações propôs nenhuma das mudanças de política, atitude e forma de abordar a questão que se haviam realizado gradualmente quando o partido chegou ao fim de sua primeira década.


As principais discussões sobre a questão do negro ocorreram em Moscou, e a nova forma de ver a questão foi elaborada lá. Já no Segundo Congresso da Comintern (Internacional Comunista), em 1920, “Os Negros na América” foi um ponto na ordem do dia e uma discussão preliminar sobre esta questão foi levada a cabo. As investigações históricas comprovarão decisivamente que a política do PC sobre a questão do negro recebeu seu primeiro impulso de Moscou, e também que todas as seguintes elaborações desta política, incluindo a adoção da palavra-de-ordem de “autodeterminação” em 1928, vieram de Moscou. 

  
Sob a constante pressão e estímulo dos russos na Comintern, o partido começou com o trabalho entre os negros durante seus primeiros dez anos; mas não conseguiu incorporar muitos e sua influência dentro da comunidade negra não chegou a muito. Disto seria fácil tirar a conclusão pragmática de que toda a discussão e preocupação sobre a política com respeito à questão nessa década, desde Nova Iorque até Moscou, era muito barulho sobre nada, e que os resultados da intervenção russa foram completamente negativos. 
  
Esta pode ser a avaliação convencional nestes dias da Guerra Fria, quando a animosidade contra todas as coisas russas é o substituto convencional pela opinião considerada. Porém, está longe de ser a verdade histórica. Os primeiros dez anos do comunismo norte-americano são um período curto demais para permitir uma avaliação definitiva da nova forma de abordar a questão do negro que foi imposta ao partido norte-americano pela Comintern. 
  
A discussão histórica sobre a política e ação do Partido Comunista sobre a questão do negro, e sobre a influência russa na formação das mesmas, durante os primeiros dez anos da existência do partido, por exaustiva que seja, não pode ser suficiente se a investigação não projeta-se até a seguinte década. O jovem partido tomou os primeiros dez anos para fazer um começo neste terreno até então não explorado. As façanhas espetaculares dos anos 30 não podem ser entendidas sem referência a esta década anterior de mudanças e reorientações. As posteriores ações e resultados vieram disto. 
  
 *   *   * 
  
Uma análise séria de todo o processo complexo tem que começar com o reconhecimento de que os comunistas norte-americanos na primeira parte dos anos 20, tal como todas as outras organizações radicais deste período e períodos anteriores, não tinham nada com que podiam começar sobre a questão do negro senão uma teoria inadequada, uma atitude falsa ou indiferente e a aderência de alguns indivíduos com tendências radicais ou revolucionárias. 
  
O movimento socialista anterior, do qual o Partido Comunista surgiu, jamais reconheceu a necessidade de um programa especial sobre a questão do negro. Esta era considerada pura e simplesmente um problema econômico, uma parte da luta entre os operários e os capitalistas; a idéia era que não se podia fazer nada sobre os problemas especiais da discriminação e a desigualdade antes da chegada ao socialismo. 
  
Os melhores dos socialistas do período anterior foram representados por Debs, [1] [veja notas ao final do texto] que se mostrava simpático a todas as raças e completamente livre de preconceitos. Porém, a limitação do ponto de vista deste grande agitador, sobre esta questão complexa, foi expressada na sua declaração: “Nós não temos nada especial para oferecer ao negro, e não podemos fazer chamamentos separados a todas as raças. O Partido Socialista é o partido de toda a classe operária, seja qual for a cor – de toda a classe operária de todo o mundo” (Ray Ginger, The Bending Cross). Esta foi considerada uma colocação muito avançada nesse período, mas não colocou o apoio ativo à exigência especial do negro por um pouco de igualdade aqui e agora, ou no futuro previsível, no caminho rumo ao socialismo. 
  
Inclusive Debs, com a sua fórmula geral que ignorou o ponto principal – a questão ardente da constante discriminação contra os negros em todos os aspectos – era muito superior nesta questão, tal como em todas as outras, a Victor Berger, que era um racista declarado. [2] O seguinte é um pronunciamento de um editorial de Berger no seu jornal na cidade de Milwaukee, o Social Democratic Herald: “Não há dúvida de que os negros e mulatos constituem uma raça inferior”. Esta foi a colocação do “socialismo de Milwaukee” sobre a questão negra, como foi expressada por seu ignorante e insolente líder e chefe. Um negro perseguido e atacado jamais conseguiria digerir tal posição com uma simples cerveja de Milwaukee, inclusive se tivesse cinco centavos e pudesse encontrar uma cantina dos brancos onde pudesse beber um copo de cerveja, na parte dos fundos do bar. 
  
O chauvinismo declarado de Berger nunca foi a posição oficial do Partido Socialista. Havia outros socialistas, tais como William English Walling, que foi partidário da igualdade de direitos para os negros e um dos fundadores da National Association for the Advancement of Colored People (NAACP – Associação Nacional pelo Avanço das Pessoas de Cor) em 1909. Mas tais indivíduos foram uma pequena minoria entre os socialistas e radicais antes da Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa. 
  
A insuficiência da política socialista tradicional sobre a questão do negro tem sido amplamente documentada pelos historiadores do movimento, Ira Kipnis e David Shannon. Shannon resume a atitude geral que prevalecia no Partido Socialista sobre os negros da seguinte forma: 
  
“Não eram importantes no partido, o partido não fazia nenhum esforço especial para atrair militantes negros, e se o partido não era realmente hostil ao esforço dos negros para melhorar sua posição dentro da sociedade capitalista norte-americana, este esforço geralmente não lhe interessava.” E mais adiante: “O partido mantinha que a única salvação do negro era a mesma que a única salvação do branco: ‘o socialismo’.” 
  
Esta foi a posição tradicional que o Partido Comunista dos primeiros anos herdou do movimento socialista anterior, do qual havia surgido. A política e a prática do movimento sindical era ainda pior. A organização IWW (Industrial Workers of the World – Trabalhadores Industriais do Mundo) não excluia ninguém da militância pela sua “raça, cor nem credo”. Mas os sindicatos predominantes da AFL (American Federation of Labor – Federação Norte-Americana do Trabalho), com só umas poucas exceções, eram compostos exclusivamente pelos brancos da aristocracia operária. Estes também não tinham nada especial que oferecer aos negros; na realidade, não tinham absolutamente nada que oferecer-lhes. 
  
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A diferença – e foi uma diferença profunda – entre o Partido Comunista dos anos 20 e os seus antecessores socialistas e radicais, foi mostrada pela sua ruptura com esta tradição. Os comunistas norte-americanos dos primeiros anos, sob a influência e pressão dos russos na Comintern, estavam aprendendo lenta e dolorosamente a mudar sua atitude; a assimilar a nova teoria da questão negra como uma questão especial de gente duplamente explorada e posta na situação de cidadãos de segunda classe, o que requeria um programa de reivindicações especiais como parte do programa geral – e a começar a fazer algo sobre esta questão. 
  
A verdadeira importância desta mudança profunda, em todas suas dimensões, não pode ser medida adequadamente pelos resultados que ocorreram nos anos 20. É necessário considerar os primeiros dez anos principalmente como o período preliminar de reconsideração e discussão, e de mudança na atitude e política sobre a questão dos negros – como preparação para a atividade futura neste terreno. 
  
Os efeitos desta mudança e esta preparação nos anos 20, produzidos pela intervenção russa, manifestaram-se explosivamente na década posterior. As condições muito favoráveis para a agitação e organização entre os negros, produzidas pela Grande Depressão, encontraram o Partido Comunista preparado para atuar neste terreno como nenhuma outra organização radical havia feito neste país. 
  
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Tudo de novo e progressista sobre a questão do negro veio de Moscou depois da revolução de 1917, e como resultado da revolução – não só para os comunistas norte-americanos, que responderam diretamente, mas também para todos os que se interessavam na questão. 
  
Sozinhos, os comunistas norte-americanos nunca inventaram nada novo ou diferente da posição tradicional do radicalismo norte-americano sobre a questão negra. Essa posição, como mostram as citações anteriores das histórias de Kipnis e Shannon, foi bastante fraca na teoria e ainda mais fraca na prática. A fórmula simplista de que a questão dos negros era meramente econômica, uma parte da questão do capital contra o trabalho, jamais inspirou os negros, que sabiam que não era assim, mesmo se não o dissessem abertamente; eles tinham que viver com a discriminação brutal, cada hora de cada dia. 
  
Esta discriminação não era sutil nem dissimulada. Todo mundo sabia que ao negro se dava o pior em todo momento, mas quase ninguém estava interessado ou queria fazer algo para procurar moderar ou mudar esta situação. A maioria branca da sociedade norte-americana, que constituia [nesse período] 90% da população, incluindo seu setor operário, no Norte como no Sul, estava saturada com preconceitos contra o negro; e o movimento socialista refletia bastante este preconceito – embora, para não contradizer o ideal da irmandade humana, esta atitude dos socialistas era oculta e tomava a forma de evasiva. A velha teoria do radicalismo norte-americano mostrou na prática ser uma fórmula para a falta de ação sobre a questão dos negros e, incidentalmente, uma cobertura conveniente para os latentes preconceitos raciais dos radicais brancos. 
  
A intervenção russa transformou tudo isto, drasticamente e num sentido benéfico. Ainda antes da Primeira Guerra Mundial e da Revolução Russa, Lenin e os bolcheviques se distinguiam de todas as outras tendências no movimento socialista e operário internacional por sua preocupação com os problemas das nações e minorias nacionais oprimidas, e seu apoio positivo às lutas destas pela liberdade, a independência e o direito da autodeterminação. Os bolcheviques davam este apoio a toda a “gente sem igualdade de direitos”, de uma forma sincera e honesta, mas não havia nada “filantrópico” nesta posição. Reconheciam também o grande potencial revolucionário na situação dos povos e nações oprimidos, e os viam como aliados importantes da classe operária internacional na luta revolucionária contra o capitalismo. 
  
Depois de novembro de 1917, esta nova doutrina, com ênfase especial nos negros, começou a ser transmitida ao movimento comunista norte-americano com a autoridade da Revolução Russa. Os russos na Comintern começaram a enfrentar os comunistas norte-americanos com a exigência brusca e insistente de que abandonassem seus próprios preconceitos não declarados, que dessem atenção aos problemas e queixas especiais dos negros norte-americanos, que trabalhassem entre eles e que se convertessem em campeões de sua causa dentro da população branca. 
  
Para os norte-americanos, que tinham sido educados numa tradição diferente, levou tempo para assimilar a nova doutrina leninista. Mas os russos seguiam, ano após ano, montando os argumentos e aumentando a pressão sobre os comunistas norte-americanos até que estes finalmente aprenderam, mudaram e começaram a trabalhar a sério. E a mudança na atitude dos comunistas norte-americanos, que se efetuou gradualmente nos anos 20, exerceria uma influência profunda em círculos muito mais amplos durante os anos posteriores. 
  
 *   *   * 
  
A ruptura do Partido Comunista com a posição tradicional do radicalismo norte-americano sobre a questão negra coincidiu com mudanças profundas que estavam ocorrendo entre a população negra. A migração em grande escala das regiões agrícolas do Sul dos Estados Unidos para os centros industriais do Norte se acelerou muito durante a Primeira Guerra Mundial, e continuou nos anos posteriores. Isto produziu algumas melhorias em suas condições de vida em comparação com o que haviam conhecido no Sul (“Deep South”), [3]  mas não foram suficientes para compensar o desencanto de encontrar-se relegados aos guetos e submetidos ainda à discriminação por todos os lados. 
  
O movimento negro, tal como era então, apoiou patrioticamente a Primeira Guerra Mundial “para tornar o mundo seguro para a democracia”; e 400.000 negros serviram nas forças armadas. Quando regressaram aos Estados Unidos, buscaram um pouquinho de democracia para eles mesmos, mas não puderam encontrar muito em nenhum lado. O seu novo espírito de reclamar algo para si mesmos foi contestado com cada vez mais linchamentos e uma série de distúrbios raciais em todo o país, tanto no Norte como no Sul. 
  
Tudo isto – as esperanças e as decepções, o novo espírito de decisão e as represálias bestiais – contribuiu para o surgimento de um novo movimento negro. Rompendo decididamente com a tradição de Booker T. Washington [4] de acomodação a uma posição de inferioridade no mundo do homem branco, uma nova geração de negros começou a impulsar suas exigências de igualdade. 
  
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O que o novo movimento emergente dos negros norte-americanos – uma minoria de 10% da população dos Estados Unidos – mais necessitava, e que carecia quase por completo, era de apoio efetivo dentro da comunidade branca em geral e, em particular, dentro do movimento operário, seu aliado necessário. O Partido Comunista, defendendo vigorosamente a causa dos negros e propondo uma aliança do povo negro e o movimento operário combativo, entrou na nova situação como um agente catalizador no momento preciso. 
  
Foi o Partido Comunista, e nenhum outro, que converteu os casos de Herndon e Scottsboro [5] em questões conhecidas nacional e internacionalmente, e que pôs os grupos de linchamento legal dos “Dixiecratas” (políticos racistas sulistas do Partido Democrata) na defensiva pela primeira vez desde a derrubada da Reconstrução. [6] Os militantes do partido dirigiram as lutas e as manifestações para conseguir consideração justa para os negros desempregados nos postos de ajuda, e para colocar novamente nos seus apartamentos os móveis dos negros jogados na rua pelos donos das casas. Foi o Partido Comunista que de forma demonstrativa apresentou um negro como candidato a vice-presidente em 1932 – algo que nenhum outro partido radical ou socialista jamais havia contemplado. 
  
Por meio deste tipo de ação e agitação nos anos 30, o partido sacudiu todos os círculos mais ou menos liberais e progressistas da maioria branca, e começou a produzir uma mudança radical na atitude sobre a questão negra. Ao mesmo tempo, o partido se coverteu num verdadeiro fator entre os negros, que avançaram em seu status e sua confiança em si mesmos – em parte como resultado da vigorosa agitação do Partido Comunista sobre a questão. 
  
Não se pode descartar esta realidade dizendo que “os comunistas atuaram assim porque tinham um interesse por trás disto”. Toda agitação a favor dos direitos dos negros favorece o movimento negro; e a agitação dos comunistas foi muito mais enérgica e eficaz que qualquer outra naquele período. 
  
Estes novos acontecimentos parecem conter um aspecto contraditório, e este, que conheço, jamais tem sido confrontado ou explicado. A expansão da influência comunista dentro do movimento negro durante os anos 30 ocorreu apesar do fato de que uma das novas palavras-de-ordem impostas ao partido pela Comintern nunca pareceu adequar-se à situação real. Esta foi a palavra-de-ordem da “autodeterminação”, sobre a qual se fez o maior alvoroço e se escreveu o maior número de teses e resoluções, sendo inclusive apregoada como a palavra-de-ordem principal. [7]  A palavra-de-ordem da “autodeterminação” teve pouca ou nenhuma aceitação na comunidade negra. Depois do colapso do movimento separatista dirigido por Garvey, [8]  a tendência dos negros foi principalmente em direção à integração racial, com igualdade de direitos. 
  
Na prática o PC passou por cima desta contradição. Quando o partido adotou a palavra-de-ordem da “autodeterminação”, não abandonou sua vigorosa agitação a favor da igualdade e os direitos dos negros em todas as frentes. Ao contrário, intensificou e estendeu esta agitação. Isto era o que os negros desejavam ouvir, e isso é o que fez a diferença. A agitação e ação do PC sobre esta última palavra-de-ordem foi o que produziu resultados, sem a ajuda e provavelmente apesar da impopular palavra-de-ordem da “autodeterminação” e todas as teses escritas para justificá-la. 
  
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Durante o “Terceiro Período” de ultra-radicalismo [da Comintern], os comunistas convertidos em stalinistas realizaram sua atividade entre os negros com toda a desonesta demagogia, os exageros e distorsões que lhes são próprias e das quais eles são inseparáveis. Apesar disto, a reivindicação principal em torno da igualdade de direitos foi ouvida e encontrou eco na comunidade negra. Pela primeira vez desde a época dos abolicionistas, [9] os negros viram um grupo enérgico, dinâmico e combativo de gente branca que defendia sua causa. Desta vez não foram uns quantos filantropos e liberais tímidos, mas sim os pertinazes stalinistas dos anos 30, que estavam à frente de um movimento radical de grande alcance que, gerado pela depressão, estava em ascensão. Havia uma energia em seus esforços naqueles anos e esta foi sentida em muitas esferas da vida norte-americana. 
  
A resposta inicial de muitos negros foi favorável, e a reputação do partido como uma organização revolucionária identificada com a União Soviética provavelmente era mais ajuda que obstáculo. A camada superior dos negros, buscando respeitabilidade, tendia a distanciar-se de todo o radical; porém as bases, os mais pobres entre os pobres que não tinham nada que perder, não tinham medo. O partido incorporou milhares de militantes negros nos anos 30 e se converteu, por um tempo, em uma força real dentro da comunidade negra. A causa principal disto era sua política sobre a questão da igualdade de direitos, sua atitude geral – a qual havia aprendido dos russos – e sua atividade em torno da nova linha. 
  
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Nos anos 30, a influência e a ação do Partido Comunista não se restringia à questão dos “direitos civis” em geral. Também atuava poderosamente para dar nova forma ao movimento operário e auxiliar os operários negros a conseguir neste movimento o lugar que anteriormente lhes havia sido negado. Os mesmos operários negros, que haviam contribuido nas grandes lutas para criar os novos sindicatos, pressionavam a favor de suas próprias reivindicações mais vigorosamente que em nenhum período anterior. [10]  Mas necessitavam de ajuda, necessitavam de aliados. 
  
Os militantes do Partido Comunista começaram a desempenhar este papel no momento crítico dos dias formativos dos novos sindicatos. A política e a agitação do Partido Comunista neste período fizeram mais, dez vezes mais, que qualquer outra força para ajudar os operários negros a assumir um novo status de, pelo menos, semi-cidadania dentro do novo movimento sindical criado nos anos 30 sob a bandeira do CIO. 
  
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É freqüente atribuir o progresso do movimento negro, e a mudança da opinião pública a favor de suas reivindicações, às mudanças produzidas pela Primeira Guerra Mundial. Mas o resultado mais importante da Primeira Guerra Mundial, o acontecimento que mudou tudo, incluindo as perspectivas para os negros norte-americanos, foi a Revolução Russa. A influência de Lenin e da Revolução Russa – apesar de ser degradada e distorcida como foi posteriormente por Stalin, e depois filtrada através das atividades do Partido Comunista dos Estados Unidos – contribuiu, mais que qualquer outra influência, de qualquer fonte, para o reconhecimento, e a aceitação mais ou menos geral, da questão negra como um problema especial da sociedade norte-americana; um problema que não pode ser colocado simplesmente sob o cabeçalho do conflito entre capital e trabalho, como fazia o movimento radical pré-comunista. 
  
Se acrescenta algo, mas não muito, ao dizer que o Partido Socialista, os liberais e os dirigentes sindicais mais ou menos progressistas aceitaram a nova definição e outorgaram algum apoio às reivindicações dos negros. Isso é exatamente o que fizeram: aceitaram. Não tinham nenhuma teoria nem política independente desenvolvidas por eles mesmos. De onde iam tirá-las? De suas próprias cabeças? De nenhuma maneira. Todos iam atrás o PC sobre esta questão nos anos 30. 
  
Os trotskistas e outros grupos radicais dissidentes – que também tinham aprendido dos russos – contribuiram com o que puderam para a luta pelos direitos dos negros; mas os stalinistas, dominando o movimento radical, dominavam também os novos acontecimentos no terreno da questão negra. 
  
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Tudo o que havia de novo sobre a questão negra veio de Moscou, depois que começava a ressoar em todo o mundo a exigência da Revolução Russa pela liberdade e a igualdade para todos os povos subjugados e todas as raças, para todos os desprezados e rechaçados do mundo. O estrondo continua ressoando, mais forte que nunca, como atestam as manchetes diárias dos jornais. 
  
Os comunistas norte-americanos responderam primeiro, e mais enfaticamente, à nova doutrina que veio da Rússia. Mas o povo negro, e setores significativos da sociedade branca norte-americana, responderam indiretamente, e seguem respondendo, mesmo não reconhecendo isto. 
  
Os atuais líderes oficiais do movimento pelos “direitos civis” dos negros norte-americanos, mais que um pouco surpreendidos frente à crescente combatividade do movimento e o apoio que está conseguindo na população branca do país, pouco suspeitam o quanto o ascendente movimento deve à Revolução Russa que todos eles patrioticamente rechaçam. 
  
O Reverendo Martin Luther King afirmou, ao tempo da batalha do boicote em Montgomery, que o seu movimento fazia parte da luta mundial dos povos de cor pela independência e a igualdade. [11]  Deveria haver acrescentado que as revoluções coloniais, que efetivamente são um poderoso aliado do movimento negro nos Estados Unidos, conseguiram seu impulso inicial da Revolução Russa – e são estimuladas e fortalecidas dia a dia pela contínua existência desta revolução na forma da União Soviética e da nova China, que o imperialismo branco subitamente “perdeu”. 
  
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Indiretamente, mas de uma forma ainda mais convincente, os mais raivosos anti-soviéticos, entre eles os políticos liberais e os dirigentes sindicais oficiais, testemunham isto quando dizem: O escândalo de Little Rock e coisas do mesmo tipo não devem acontecer porque favorecem a propaganda comunista entre os povos coloniais não-brancos. [12]  Seu temor à “propaganda comunista”, tal como o temor de outras pessoas a Deus, lhes faz virtuosas. 
  
Agora tornou-se convencional, para os líderes sindicais e os libe-rais do Norte, simpatizar com a luta dos negros por alguns poucos direitos elementares como seres humanos. É “O Que Se Deve Fazer”, um símbolo da inteligência civilizada. Até os ex-radicais convertidos em uma espécie de “liberais” anti-comunistas – uma espécie muito fraca – são agora orgulhosamente “corretos” em seu apoio formal aos “direitos civis” e em sua oposição à segregação dos negros e outras formas de discriminação. Mas como chegaram a isso? 
  
Os liberais de hoje jamais perguntam-se por quê – salvo algumas notáveis exceções – nunca ocorreu a seus similares de uma geração anterior esta nova e mais esclarecida atitude sobre os negros antes que Lenin e a Revolução Russa puseram de pernas pro ar à velha, bem estabelecida e complacentemente aceitada doutrina de que as raças deviam ser “separadas e desiguais”. [13]  Os liberais e líderes sindicais anti-comunistas norte-americanos não sabem, mas algo da influência russa que odeiam e temem tanto lhes contagiou. 
  
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Como todo mundo sabe, finalmente os stalinistas atrapalharam a questão negra, assim como atrapalharam todas as demais questões. Traíram a luta pelos direitos dos negros durante a Segunda Guerra Mundial, em serviço à política exterior de Stalin – do mesmo modo, e pelo mesmo motivo fundamental, que trairam os operários grevistas norte-americanos e aplaudiram os representantes do governo quando pela primeira vez se utilizou a Lei Smith, no julgamento contra os trotskistas em Minneapolis em 1941. [14]
  
Agora todo mundo o sabe. Ao final se colheu o que se semeou, e os stalinistas mesmos têm-se visto obrigados a confessar publicamente algumas de suas traições e ações vergonhosas. Mas nem o suposto arrependimento por crimes que não podem ser ocultados nem os alardes sobre virtudes passadas que outros estão pouco dispostos a recordar, parecem servir-lhes de nada. O Partido Comunista, ou melhor, o que fica disso, é tão desprestigiado e desprezado que hoje se reconhece pouco ou nada de seu trabalho na questão dos negros durante aqueles anos anteriores, quando teve conseqüências extensas que em sua maior parte foram progressistas. 
  
Não é meu dever nem meu propósito prestar ajuda aos stalinistas. O único objetivo desta descrição resumida é esclarecer alguns fatos acerca da primeira época do movimento comunista norte-americano para o benefício dos estudiosos de uma nova geração, que desejam conhecer toda a verdade, sem temor nem favor, e aprender algo dela. 
  
A nova política sobre a questão negra, aprendida dos russos durante os primeiros dez anos do comunismo norte-americano, deu ao Partido Comunista a capacidade de avançar a causa do povo negro nos anos 30; e de estender sua própria influência entre os negros em uma escala da qual nenhum movimento radical tinha-se aproximado até então. Estes são os fatos históricos, não somente da história do comunismo norte-americano, mas também da história da luta pela emancipação dos negros. 
  
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 Para aqueles que olham para o futuro estes fatos são importantes, uma antecipação das coisas por vir. Através de sua atividade combativa durantes os anos anteriores, os stalinistas deram um grande ímpeto ao novo movimento negro. Posteriormente, sua traição à causa dos negros durante a Segunda Guerra Mundial preparou o caminho para os gradualistas que têm sido os dirigentes incontestados do movimento desde esse período. 
  
A política do gradualismo, de prometer liberdade ao negro dentro do marco do sistema social que o subordina e degrada, não está dando resultado. Não vai à raíz do problema. Grandes são as aspirações do povo negro e grandes também as energias e emoções em sua luta. Porém as conquistas concretas de sua luta até agora são lastimosamente escassas. Têm avançado alguns milímetros, mas a meta da verdadeira igualdade se encontra a muitos, muitos quilômetros de distância. 
  
O direito de ocupar um banco vazio em um ônibus; a integração de um punhado de meninos negros em algumas escolas públicas; algumas vagas abertas para indivíduos negros na administração pública e algumas profissões; direitos de emprego iguais no papel, mas não na prática; o direito à igualdade, formal e legalmente reconhecido mas negado na prática a cada momento: este é o estado de coisas na atualidade, 96 anos depois da Proclamação da Emancipação. 
  
Tem havido uma grande mudança na perspectiva e nas reivindicações dos negros desde a época de Booker T. Washington, mas nenhuma mudança fundamental em sua situação real. O crescimento desta contradição está levando a uma nova explosão e uma nova mudança de política e liderança. Na próxima etapa do seu desenvolvimento, o movimento negro norte-americano se verá obrigado a orientar-se a uma política mais combativa que a do gradualismo e buscar aliados mais confiáveis que os políticos capitalistas do Norte, que estão vinculados com os “dixiecratas” do Sul. Os negros, mais que ninguém neste país, têm motivo – e direito – para ser revolucionários. 
  
Um partido operário honesto da nova geração reconhecerá este potencial revolucionário da luta dos negros e proporá uma aliança combativa do povo negro e o movimento operário em uma luta revolucionária comum contra o sistema social existente. 
  
As reformas e as concessões, muito mais importantes e significativas que as obtidas até agora, serão subprodutos desta aliança revolucionária. Em cada fase da luta se lutará a seu favor e elas serão conseguidas. Porém o novo movimento não se deterá com reformas, não será satisfeito com concessões. O movimento do povo negro e o movimento operário combativo, unificados e coordenados por um partido revolucionário, resolverão a questão dos negros da única maneira em que pode ser resolvida: mediante uma revolucão social. 
  
Os primeiros esforços do Partido Comunista nesta questão, durante a geração passada, serão reconhecidas e assimiladas. Nem sequer a experiência da traição stalinista será desperdiçada. A lembrança desta traição será uma das razões porque os stalinistas não serão os dirigentes na próxima vez. 
  
 Los Angeles 
 8 de maio de 1959

Notas dos tradutores
  
1. Eugene V. Debs (1855-1926) foi dirigente de uma importante greve dos ferroviários e depois do Partido Socialista dos Estados Unidos. Foi encarcerado por sua oposição à Primeira Guerra Mundial. Embora tenha declarado sua simpatia pela Revolução Bolchevique, não uniu-se ao Partido Comunista.
  
2. Victor Berger: um dirigente da ala direita do Partido Socialista.
  
3. Nos Estados Unidos, a região do Sudeste que foi o coração da confederação escravocrata durante a Guerra Civil (1860-65) é conhecida como o “Deep South”.
  
4. Booker T. Washington (1856-1915) foi um dirigente negro que colocou a “auto-melhoria” da população negra e se opôs às lutas diretas contra a opressão.
  
5. Angelo Herndon foi um jovem comunista negro perseguido por um embuste da polícia em Atlanta, Georgia em 1932 e acusado de “incitar à insurreição”. Os acusados de Scottsboro, Alabama foram oito jovens negros vítimas de um embuste racista nos anos 30. Foram condenados à morte mas logo foram perdoados como resultado da campanha em sua defesa.
  
6. A Reconstrução (1865-77) foi o período depois da derrota da Confederação escravocrata na Guerra Civil norte-americana, quando, sob a proteção de tropas do Norte, foram concedidos direitos de cidadania aos antigos escravos e se desmantelou uma parte do poder dos latifundiários (antigos escravistas) do Sul. Em várias partes do Sul foram eleitos governos locais compostos em grande parte de negros, junto com radicais brancos do Norte. A Reconstrução foi traída pela burguesia do Norte no seu Compromisso de 1877 com os políticos racistas do Sul; as tropas federais foram retiradas e o terror racista esmagou os direitos básicos dos negros.
  
7. A palavra-de-ordem da autodeterminação dos negros na “faixa negra” formada por várias áreas do Sul dos Estados Unidos foi promulgada pelo Sexto Congresso da Internacional Comunista (1928). Já então essa “faixa negra” era semi-fictícia, devido à migração de grande parte da população negra às cidades industriais do Norte e centro do país, Califórnia, e outras áreas. Na realidade, o povo negro (que entre outras coisas não tinha um território em comum) não era uma nação mas sim uma “casta de cor e raça”, integrada na economia capitalista mas segregada nos níveis inferiores da mesma. A palavra-de-ordem da autodeterminação encontrou resistência da maioria dos dirigentes negros do PC dos Estados Unidos. Porém, a Comintern stalinizada insistiu e se começou a propagar a palavra-de-ordem mais energica-mente em 1930.
  
8. Marcus Garvey (1887-1940) dirigiu o movimento pelo “retorno à África”.
  
9. Os abolicionistas foram os que agitaram a favor da abolição da escravidão nos Estados Unidos antes da emancipação dos escravos em 1863, proclamada por Abraham Lincoln durante a Guerra Civil.
  
10. Com o impulso das três greves gerais de 1934 (as de Minneapolis, dirigida pelos trotskistas; Toledo, dirigida pelo American Workers Party, que pouco depois se unificou com os trotskistas; e São Francisco, dirigida pelos stalinistas), em 1935 se formou uma nova agrupação sindical: o Congress of Industrial Organizations (CIO – Congresso de Organizações Industriais). O CIO rompeu com a velha e conservadora confederação, a American Federation of Labor (AFL – Federação Norte-Americana do Trabalho), cujos sindicatos, organizados por profissões, geralmente haviam agrupado somente os operários mais qualificados. Os novos sindicatos do CIO foram “industriais”, quer dizer, baseados na organização de todos os trabalhadores de uma indústria em um só sindicato. Em 1953 a AFL e o CIO se fundiram para formar a AFL-CIO, que na atualidade é a única confederação sindical nos Estados Unidos.
  
11. Em 1955, o movimento pelos direitos civis chegou à atenção nacional nos Estados Unidos quando a população negra de Montgomery, Alabama, realizou, durante todo um ano, um boicote dos ônibus municipais, que eram racialmente segregados.
  
12. Em Little Rock, Arkansas, em setembro de 1957, racistas brancos atacaram estudantes negros que, sob um mandado judicial contra a segregação racial, freqüentaram pela primeira vez uma escola secundária que anteriormente havia sido reservada para os brancos. Quando a população negra mobilizou-se para defender-se, o presidente Eisenhower enviou tropas para ocupar a cidade e impedir este esforço de auto-defesa dos negros.
  
13. “Separadas e desiguais”: referência irönica à doutrina da primeira metade do século XX de que os negros iam ser “separados” (quer dizer, segregados) dos brancos, mas “iguais” aos mesmos. Esta doutrina havia sido avalizada também por alguns “líderes” negros.
  
14. Pregando a “união anti-fascista” com o presidente Roosevelt na Segunda Guerra Mundial, o Partido Comunista stalinizado se opôs raivosamente tanto às greves como aos protestos contra a segregação racial. A Lei Smith contra a “subversão” foi usada para encarcerar 18 trotskistas, entre eles Cannon e dirigentes do sindicato dos caminhoneiros de Minneapolis, devido a sua oposição revolucionária à Segunda Guerra Mundial imperialista. Logo, sob o macartismo, a mesma lei foi usada para encarcerar muitos dirigentes do Partido Comunista

Una Tricontinental Castrada

Una Tricontinental Castrada

Originalmente publicado en ESPARTACO Vol. 1 No. 1, Octubre 1966.

Fidel Castro y la burocracia cubana han pasado a las filas de la contrarrevolución. El ataque al trotskismo lanzado al final de la conferencia tricontinental en la Habana no tiene propósitos más que los de desarmar el programa socialista. Sus ataques, sin base política honesta, se escudan en su prestigio y autoridad como líder de la revolución cubana. Debido a esto Castro es el mameluco requerido por la burocracia rusa y la pequeñaburguesía “radical” del mundo colonial para aplastar todo intento de realización socialista. No sin razón los slogans de la tricontinental hablan solamente de derrotar al “imperialismo, neocolonialismo y colonialismo.” Nada se refiere al proletariado mundial y su vanguardia como agente propulsor revolucionario.

Estos son momentos de aguda crisis económica-política para el imperialismo. Frente a esto la burocracia rusa se repliega defensivamente y predica sólo coexistencia pacífica. Esto ayuda al imperialismo pues la crisis lo obliga a atacar cada vez más violentamente al proletariado dentro de sus propios confines y fuera de ellos. De la misma manera, la pequeñaburguesía colonial también quiere “paz” para ser ellos los que exploten o usen a su proletariado en vez de los imperialistas. La cuestión no es la de “paz” sino la de quién procederá, científica y revolucionariamente, contra el imperialismo en estos momentos cruciales. Sólo el proletariado lo puede hacer pues en éste mundo no pueden existir dos sistemas económicos opuestos sin que la cuestión se decida en términos de lucha de clases. Esto de “liberación nacional” es un truco de los oportunistas pequeñoburgueses. Conferencias como la tricontinental no hacen sino evadir la crisis actual y la dirigen por sendas que posponen el triunfo socialista. El internacionalismo proletario es substituido por “chovinismo tricontinental,” la lucha de clases es falsificada por “lucha nacional” y los filisteos se autotitulan “revolucionarios.”

No decimos que la burocracia que se implantó en Cuba a través de Castro manifieste estas características abiertamente. No, la burocracia siente el peso del proletariado cubano, latinoamericano y mundial. Por lo tanto debe de aparentar ser revolucionaria. Por eso la palabrería ultra-radical, por eso el chovinismo jacobino, por eso la mediocridad casi-socialista. Pero en la práctica la burocracia procede exactamente en contra de lo que proclama: denuncia el programa socialista del MR13 en Guatemala, defiende al chacal Turcios en sus maquinaciones en contra del MR13 y en su colaboración con la burguesía nacional y la pequeñaburguesía reaccionaria, excusa la desaparición “misteriosa” de Guevara, ataca a la China con argumentos insostenibles, aniquila la voz del proletariado cubano (en nombre de “unidad nacional”), obstaculiza la industrialización cubana sometiéndola a una falsa división de la labor socialista y se acomoda como un-sacerdote a los designios traidores de los enemigos de la clase obrera (como Allende en las pasadas elecciones Chilenas).

Así como el estalinismo tuvo y tiene razones políticas para defenderse del trotskismo y el programa revolucionario del proletariado, Castro las tiene también. La mentira de que el trotskismo es un agente del imperialismo es el subterfugio usado por aquéllos que tratan de lavarse las manos de los mismos crímenes que achacan al trotskismo.

La burocracia rusa no tiene ya la autoridad para dirigir al proletariado colonial. Sus traiciones son incontables y una nueva “Comintern” es necesaria para seguir defendiendo la estructura burocrática y aplazando el triunfo socialista. La tricontinental reluce así como la nueva “comintern” con la diferencia de que nació degenerada en vez de sufrir el proceso degenerador de la formada por los bolcheviques y disuelta en 1943 por Stalin. Pero esta nueva comintern no puede ser controlada tan firmemente.

La pequeñaburguesía “nacionalista” colonial se siente “liberada” y actuará más por cuenta propia. Pero harán, quiéranlo o no, lo que la burocracia rusa desea. Comparten con ésta, un pavor religioso hacia el imperialismo. A esto añaden otro pavor más, hacia el proletariado. Al definirse como la clase revolucionaria, el proletariado presiona a los burócratas para que tomen medidas revolucionarias contra el imperialismo. Esto crea una contradicción social que tendrá que solucionarse con una guerra civil. La pequeñaburguesía colonial contiene entonces los mismos intereses clasistas de castas burocráticas como las de Rusia y China. Las traiciones no serán fáciles de hacer pues las masas coloniales demuestran ser mucho más revolucionarias que hace 20 años. Pero desastres como los de Argelia, Indonesia y Ghana se repetirán frecuentemente.

Los movimientos que estos oportunistas dirigirán tal vez lleguen a ciertas conclusiones socialistas en una u otra parte del globo. Pero lo harán a tremendos costos del proletariado, confusamente y sin haberlo planeado (como paso en Cuba). La cuestión vital de la dictadura del proletariado seguirá en pie en el mundo colonial.

Sólo una vanguardia proletaria con el programa socialista de la Cuarta Internacional puede llevar a su culminación el triunfo final de la clase obrera sobre esta sociedad clasista y depravada.

Sólo la Cuarta Internacional posee un programa transitorio y siempre revolucionario para el proletariado mundial. La Cuarta Internacional no se estanca en las metas del estalinismo, fidelismo y socialdemocracia. No lo hace pues estas deformaciones políticas se oponen al avance del proletariado y sirven al status quo burgués. La Cuarta Internacional, en estos momentos agónicos del capitalismo, enlaza estas demandas transitorias de hoy con el programa socialista que llevará al proletariado a derrumbar al capitalismo. Si ahora demandamos libertad para los presos políticos, empleos con menos horas y más salario, condiciones decentes de vida, trabajo para todos, derecho a organizarnos fuera de los sindicatos estatales, libertad de palabra política, mañana demandaremos nuestro poder político, nuestro derecho a gobernar nuestra producción y nuestra misión histórica de establecer una sociedad socialista.

A Greve do Sepe-RJ e a Luta dos Trabalhadores da Educação

Lutar por uma educação pública, universal, gratuita e de qualidade 
Abaixo a Burocracia Sindical, pela União da Classe Trabalhadora!

Por Leandro Torres
Agosto de 2011

         O mês de junho foi tido como um marco para setores da esquerda do Rio de Janeiro, que incorretamente enxergaram na insubordinação de parte do Corpo de Bombeiros Militares do estado um ascenso de “trabalhadores”. Porém, os BMs não foram os únicos a se movimentar na cidade. Os professores e funcionários da rede estadual de educação, organizados através Sepe-RJ (Sindicado Estadual dos Profissionais da Educação), protagonizaram uma importante mobilização por melhores salários e direitos, marcada por uma combativa greve que durou 66 dias. As principais organizações da esquerda do Rio de Janeiro (PSTU e PSOL), entretanto, acabaram dando mais atenção à insubordinação dos bombeiros, repleta de demandas reacionárias, do que à luta dos educadores, da mesma forma como fez a mídia burguesa. [1]

          Tais educadores (o que inclui professores, animadores culturais, merendeir@s, inspetores e porteir@s), além de terem realizado uma greve e erguido um acampamento de 32 dias em frente à Secretaria Estadual de Educação, também engrossaram as fileiras de outras lutas, como a manifestação ocorrida em 30 de julho “Por uma Copa do Povo”, organizada contra as ações de repressão e despejo realizadas pelo governo contra os trabalhadores pobres do estado. Isso demonstrou a disposição da categoria em transformar sua luta em uma ampla campanha contra o governo estadual de Sérgio Cabral (PMDB) e seus aliados, como o prefeito do Rio, Eduardo Paes (também PMDB).
   Entretanto, a greve foi “suspensa” no dia 12 de agosto, após uma sessão da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) que discutiu as demandas dos educadores e aprovou algumas delas – mesmo que parcialmente. Em tal sessão, a proposta inicial dos lacaios de Cabral e dos patrões, de um aumento salarial de 3,5% para os professores, acabou sendo levemente elevada para 5%. Além do aumento salarial para professores (e animadores culturais, que foi de 14,6%), foram aprovadas algumas outras medidas importantes, como o descongelamento do Plano de Carreira dos funcionários e o abono dos dias paralisados.
Para alguns, a conquista de 5% de aumento aos professores e descongelamento do Plano de Carreira dos funcionários pode soar como uma vitória plena dos trabalhadores, mas quando lembramos que a pauta de greve incluía reivindicações como aumento de 26% para os educadores e eleições diretas para os diretores escolares, vemos que o desfecho não foi tão positivo quanto a direção do Sepe faz parecer, intitulando o boletim publicado no último dia 18 de “Greve Histórica Derrota Cabral e Risolia [Secretário de Educação]”. No mesmo boletim de título demasiado otimista, a própria direção do Sepe reconhece:

“É verdade que nossos salários ainda estão baixos, que o Plano de Metas ainda está vigorando e que não conquistamos a eleição direta para diretores, entre outras coisas.”
Boletim do Sepe, disponível em seperj.org.br

A “suspensão” da greve após um acordo que só obteve algumas das reivindicações se explica em parte pela intransigência do Governo de Sérgio “Caveirão” Cabral em negociar um aumento e também pela sua atitude repressora, que conseguiu aprovar no Legislativo o corte do ponto daqueles educadores que não voltassem ao trabalho no retorno das férias escolares (medida que foi revertida na sessão da Alerj).

Como afirma reportagem do Portal G1, “segundo o Sepe, a categoria vai se manter em estado de mobilização para acompanhar o cumprimento [das medidas aprovadas] da parte do governo”, que ainda precisa sancioná-las (Professores da rede estadual decidem suspender greve no RJ, de 12 de agosto). Porém, tal “ameaça” por parte da direção do Sepe, composta majoritariamente pelo PSTU e por setores do PSOL (APS/MTL/Enlace), [2] parece com a de um general que acaba de retirar suas tropas do campo de batalha. Sem dúvida alguma o Sepe deveria ficar atento ao cumprimento das medidas já aprovadas na Alerj (e ainda não sancionadas pelo governo estadual), mas isso deveria ter sido feito permanecendo na greve e no acampamento até que as conquistas se concretizassem, e também para lutar por aquelas ainda não obtidas.
Com o acampamento desfeito e os educadores de volta às escolas e salas de aula pouco após o retorno das férias, Cabral conseguiu a normalização da situação e a categoria viu parte das demandas de sua aguerrida luta de mais de 2 meses não se concretizar. Certamente, se as conquistas obtidas na Alerj fossem mais avançadas, haveria uma grande chance de Cabral não sancioná-las, o que torna a atitude dos dirigentes do Sepe extremamente irresponsável e deseducadora, por apostar mais na legalidade burguesa do que na mobilização da classe trabalhadora. Nesse momento os dirigentes do Sepe podem apenas “torcer” para que as conquistas sejam aprovadas por Cabral e sua corja.
Mas a pressão do governo dos patrões não foi o único fator envolvido. A burocracia sindical do Sepe certamente tem culpa no cartório. Acovardada pelas consequências (inclusive as eleitorais) de um corte no ponto dos educadores e incapaz de responder a essa ameaça a altura, optou por aceitar as negociações rebaixadas e voltar para casa com uma algumas conquistas para apresentar às suas bases.
Esse medo de perder parte da influência que possui sobre a categoria fica ainda mais claro se levarmos em conta que a radicalização do movimento fez surgir atritos entre a burocracia sindical e setores da base, como ficou claro no já citado ato do dia 30 de julho. Nessa ocasião, o “Comando do Ato” (composto pelos dirigentes do Sepe, principalmente os do PSTU), contrariando o clima radicalizado e combativo dos manifestantes, optou por não ocupar a rua em frente à Marina da Glória. Para piorar, o PSTU e sua base se retiraram durante a ocupação da mesma por cerca de metade dos manifestantes presentes, dividindo e enfraquecendo a mobilização enquanto havia companheiros na luta. Assim como em relação à greve e a muitos outros momentos, também nessa manifestação o PSTU optou pela via de menor resistência.
Não raro, o PSTU e o PSOL ainda tem a cara de pau de jogar parte da culpa nas costas dos trabalhadores e trabalhadoras, alegando que não foi possível ir mais além em determinada campanha devido ao “isolamento”, à “falta de apoio” e etc. Usam, assim, a desmobilização de parte da classe trabalhadora para trair suas lutas, quando na verdade o papel daqueles que se dizem revolucionários é justamente o de nadar contra a corrente e fazer o possível para avançar a consciência da classe, trazendo setores cada vez mais amplos do proletariado para uma postura combativa.
No caso da greve, como em tantos outros, ao invés de tentarem fazer avançar ainda mais a mobilização dos educadores estaduais, ampliá-la através de alianças com outros setores e lutar até o fim por suas demandas mais avançadas, o PSTU e o PSOL optaram por recuar após conseguirem algumas migalhas que os patrões resolveram ceder de seu enorme banquete, obtido através do suor dos trabalhadores.
Como os partidos que se encontram hoje a frente da classe trabalhadora não cumprem o papel de lutar pelas melhorias através de um projeto revolucionário, que tenha como cerne preparar os trabalhadores para derrubar do poder econômico, político e militar das mãos da burguesia, então estes partidos acabam inevitavelmente circunscritos a uma lógica reformista, que mantém o capitalismo intacto. No caso da greve dos educadores, ambos PSTU e PSOL não só se limitaram a uma postura reformista como também extremamente recuada, não deixando nada a desejar se comparados aos setores majoritários da CUT, que eles tanto condenam (corretamente) enquanto grandes inimigos dos trabalhadores. Para os revolucionários, uma greve deve ser uma “escola de guerra” na qual os trabalhadores devem aprender os mecanismos para expandir as lutas e melhor se organizar contra os patrões e o Estado, assim como perceberem os interesses comuns de toda a classe e sua necessidade de romper com o capitalismo.
Após aprovação da “suspensão” da greve pela assembleia da categoria, realizada em seguida à sessão na Alerj, convocou-se nova reunião do movimento para o dia 27 de agosto. Como já dissemos, entretanto, com os educadores de volta às escolas e com o acampamento desfeito, essa reunião provavelmente servirá apenas para que a burocracia realize seu balanço positivo da greve e pese na balança os riscos de reiniciá-la, contra as demandas (parcialmente) conquistadas, tentando assim convencer a base de que o mais “sensato” seria terminá-la de vez e esperar o próximo ano para uma nova campanha salarial (na qual, sem dúvidas, outras demandas políticas figurariam apenas de forma secundária).
Para aqueles que estão distantes, o fim da greve pode parecer uma perspectiva “realista”, tendo em vista a truculência de Cabral e de seus aliados. Mas estes não devem se deixar enganar: diversas entidades e grupos vinham prestando ativa solidariedade à greve dos educadores, dispondo-se não só a engrossar suas fileiras, como também a contribuir materialmente para a continuação do movimento, doando parte de suas finanças para o Fundo de Greve (destinado a pagar os professores que tivessem o ponto cortado por estarem em luta). Esse Fundo, aliás, poderia ter recebido uma considerável ajuda do voluptuoso caixa do Sepe, mas a direção majoritária do sindicato não tomou a menor iniciativa para organizá-lo.
Além disso, tem sido deflagradas em todo o Estado diversas outras greves e mobilizações ligadas ao setor da educação. Assim, na assembleia do dia 27 de agosto, todos os professores e funcionários combativos devem lutar pela continuação da greve, até que todas as suas reivindicações sejam atendidas. Passar por cima da burocracia sindical e levar a greve até o fim! Pela derrota de Cabral e de seus aliados!

A luta pela educação cresce em todo país…

Indo na contramão da atitude da burocracia sindical do Sepe, poucos dias após a saída de campo dos educadores do Rio de Janeiro, os servidores e professores dos Colégios Pedro II declararam greve, realizando logo após uma manifestação no centro da cidade com cerca de 1500 trabalhadores e estudantes. O mesmo fizeram aqueles ligados ao Instituto Federal e ao Instituto de Educação de Surdos. E seguem por caminho parecido os docentes de diversas universidades, que organizaram uma paralização nacional no dia 24 de agosto. Tais mobilizações se inserem em um conjunto ainda maior, a “Jornada Nacional de Lutas”, que aglomera importantes setores do funcionalismo público, entidades como o MST, dentre outros, em torno de uma campanha por melhorias sociais e trabalhistas.
Fora esses setores, também os educadores ligados à rede municipal do Rio de Janeiro estão mobilizados, preparando-se para um ato-paralização junto a diversos outros trabalhadores ligados ao funcionalismo público do município, contra medidas do governo que visam atacar sua previdência. Já os educadores da rede municipal de Niterói, cidade vizinha ao Rio, estão em greve desde o início de agosto! O irônico é que ambos setores se organizam através Sepe-RJ, porém o PSTU e o PSOL nada fizeram para unificar tais mobilizações, o que as tornaria muito mais poderosas. Pelo contrário, enfraqueceram-nas ao buscarem acabar nesse momento com a greve da rede estadual.

…mas é preciso ir além!

Nesse contexto de lutas do setor da educação, onde pautas como aumentos e reposições salarias, melhorias e descongelamento de Planos de Carreira, além da abertura de novos concursos, são quase onipresentes, o movimento dos educadores estaduais teria muito a oferecer enquanto um importante exemplo de combatividade a ser seguido por seus mais variados companheiros. Se unificadas, essa série de mobilizações seriam capazes de uma verdadeira “vitória histórica”, ao expandir e interligar a luta dos trabalhadores, mostrando seus interesses comuns contra o Estado capitalista e os patrões. Mas, ao retirar a categoria da luta, a direção do Sepe presta um verdadeiro desserviço à integração das mobilizações por melhores condições de trabalho e por uma educação pública, universal, gratuita e de qualidade. Portanto, cabe aos educadores não só passarem por cima dos burocratas de sua direção e lutarem pela continuação da greve, mas também pela aliança com os demais setores em luta.
É fundamental que os trabalhadores deixem as (péssimas) tradições corporativistas herdadas de anos de marasmo, que consistem em pensar apenas nos interesses específicos de sua própria categoria, e lutem pela unificação das suas campanhas. É verdade que as esferas de negociação são diferentes (Municipal, Estadual e Federal; Ensino Fundamental, Médio e Universitário; etc.), mas os trabalhadores não podem se deixar dividir por tal modelo fragmentador imposto pelo Estado dos patrões. Se queremos mudanças amplas e profundas na sociedade em que vivemos,  então temos que ter como perspectiva a unificação das diversas lutas. Uma só classe, uma só luta!
Mas quando falamos de unificar as diversas mobilizações em andamento, não nos restringimos à perspectiva de um ato nacional unificado, como é o caso da “Jornada Nacional de Lutas” comentada – o que sem dúvida possui peso e importância, mas não é suficiente. Ainda mais quando a principal demanda da “Jornada”, no que diz respeito à educação, se limita a exigir que o governo aumente para 10% do PIB a verba do setor. Ou seja, não só não apresenta um programa próprio com medidas práticas para a educação, como não questiona a ordem vigente, buscando apenas arrancar mais verbas do governo Dilma. “Exigir” mudanças por parte de Dilma e do PT, aliás, tem sido o carro-chefe de praticamente todas as campanhas do PSTU, que prefere mobilizar não para fortalecer e educar a classe sobre os limites do capitalismo, mas para “cobrar” melhorias do governo dos patrões.

Por um comitê unificado de trabalhadores da educação!

Na perspectiva de unificação das lutas, seria um grande avanço se @s profissionais da educação se unificassem em um Comitê de Luta dos Trabalhadores da Educação. Tal comitê deveria incluir não só os sindicatos de professores e funcionários em greve, mas também entidades estudantis. Esse tipo de iniciativa fortaleceria enormemente a luta dos grevistas e, com a adesão dos estudantes, daria fim ao discurso demagógico da mídia burguesa de que “greve na educação prejudica a juventude”, como se os educadores não estivessem lutando justamente por melhoras na educação dada aos jovens. Isso é algo importante, porque tal discurso ajuda a isolar as campanhas dos educadores em relação ao resto da classe.
Além desses setores, também seria fundamental buscar organizar os profissionais dos estabelecimentos privados de ensino, muitas vezes submetidos a condições mais precárias e com direitos muito mais restritos. É o caso, por exemplo, dos funcionários e funcionárias terceirizad@s que cuidam da faxina e de outros serviços, não só nas escolas privadas, como em praticamente todas as universidades, públicas ou não. Tais funcionári@s são em sua maioria mulheres negras, com salários de fome e sem nenhum direito trabalhista. Esse tipo de profissional, super-explorado pelo capitalismo, teria muito a ganhar em uma luta conjunta, que traria menos riscos de demissões e retaliações, já que contaria com o suporte de outras categorias e setores efetivos e com direitos sindicais.
Fora que um comitê assim teria grande força para conquistar demandas históricas ligadas à educação, como o passe livre e ilimitado para estudantes de todos os níveis; alojamentos, creches e bandejões gratuitos para estudantes, professores e funcionários (principalmente @s terceirizad@s) nivelamento nas três esferas (Municipal, Estadual e Federal) dos salários de acordo com os mais altos; etc. Mais importante ainda, uma luta desse tipo seria capaz de arrastar atrás de si outras categorias, inflamadas pelo exemplo combativo. Mas essas demandas avançadas, que representam um forte ataque aos lucros dos patrões, só podem ser conquistadas com união e combatividade. Elas apontam para as enormes possibilidades de melhorias sociais que podemos alcançar caso os trabalhadores estejam no poder, utilizando de forma planejada e democrática a enorme riqueza que produzem.
Porém, algo dessa magnitude só será possível quando, primeiro, os profissionais da educação romperem com o recuo e as capitulações de suas direções ante os ataques do Governo, como estão fazendo atualmente o PSTU e o PSOL à frente do Sepe. Segundo, superarem a lógica corporativista e atuarem enquanto uma só classe, unificada contra os patrões e contra o capitalismo. E terceiro, quando os estudantes passarem por cima da mentalidade de atuarem sozinhos e se aliarem à classe trabalhadora, como é o caso do exemplo que têm dado os estudantes chilenos, ainda que de maneira limitada. Romper com a burocracia sindical e o corporativismo. Avançar rumo a uma luta unificada pela educação pública, universal, gratuita e de qualidade!

Notas

[1] Nossas análises sobre esse processo foram recentemente publicadas no artigo O Vermelho Deles e o Nosso (13 de agosto, blog do RR).

[2] Nas últimas eleições, realizadas em maio de 2009, a Chapa 1 (Enlace e MTL) obteve 18 diretores, enquanto a Chapa 4 (PSTU, APS, PCB e Coletivo Paulo Romão, um racha do Enlace) obteve 16, de um total de 48 cargos para a Diretoria Central. As demais chapas (2 e 3 – encabeçadas pela corrente Democracia Socialista do PT e pelo PCdoB, respectivamente) obtiveram juntas 14 cargos. Cerca de dois terços da Chapa 4 foram compostos por membros do PSTU. Confira o resultado das eleições, no site do Sepe e a composição das chapas, no site do PSTU. Em abril desse ano, o Coletivo Paulo Romão deixou o PSOL junto com outro grupo, o Alternativa Socialista (centrado no Rio Grande do Sul). Os dois formaram uma nova organização, denominada Construção Socialista (CS).

Arquivo Histórico: A Contrarrevolução Triunfa na URSS

Defender os Trabalhadores Soviéticos Contra os Ataques de Yeltsin!
A Contrarrevolução Triunfa na URSS

A declaração a seguir foi publicada pela Tendência Bolchevique Internacional em setembro de 1991. Sua tradução para o português foi realizada pelo Coletivo Comunista Internacionalista em novembro de 2007. Ela permanece enquanto uma importante avaliação da situação política que culminou na destruição da URSS e as posições aqui apresentadas demonstram um correto entendimento do programa do defensismo revolucionário como formulado pela Quarta Internacional.

O golpe abortado em Moscou de 19-21 agosto foi tão mal concebido e executado que quase não aconteceu. Mas será lembrado como um dos acontecimentos decisivos na história do século 20. A vitória da corrente abertamente pró-capitalista ao redor de Boris Yeltsin, depois que o golpe fracassou, destruiu o poder de estado criado pela revolução de outubro de 1917. Isto representa uma derrota catastrófica não só para a classe trabalhadora soviética, mas para os trabalhadores em toda a parte.
Os acontecimentos de agosto foram a culminação de lutas recentes por poder dentro do Kremlin e no país como um todo. Mas, num sentido mais amplo, eles são o ato final na degeneração da burocracia stalinista, uma camada privilegiada que usurpou o poder político dos trabalhadores soviéticos desde meados da década de 1920. Em vez dos sovietes operários democraticamente eleitos de1917, os estalinistas erigiram um estado autoritário policial. Em vez do internacionalismo proletário de Lenin e Trotsky, eles criaram a doutrina do ”socialismo em um país”, que justificou a traição das revoluções no exterior para ganhar vantagens diplomáticas triviais. Apesar disso, mesmo com todos os seus crimes, a burocracia estalinista se sustentava sobre a economia coletivizada criada pela Revolução de Outubro e, da sua própria forma deturpada, frequentemente tentou defender estas fundações econômicas da pressão imperialista no estrangeiro e da contrarrevolução no interior. O fracasso do golpe de agosto acabou com o domínio desta casta burocrática, e levou à sua substituição por um grupo de regimes nacionalistas comprometidos a desmontar a economia de propriedade estatal, e recolocar o capital no poder.
Há mais de meio século, o líder da Oposição Esquerda, Leon Trotsky, advertiu que, a longo prazo, um sistema social baseado na propriedade coletiva nem poderia ser desenvolvido nem defendido com métodos burocráticos policiais. A estagnação da economia soviética durante os anos de Brezhnev representou uma confirmação poderosa desta predição. Numa tentativa inverter o declínio econômico da URSS, Mikhail Gorbachev avançou suas célebres reformas de mercado. O caos econômico e político causado pela Perestroika polarizou a burocracia Soviética, e as divisões internas tornaram-se particularmente agudas durante o ano passado. De um lado, uma ala da elite governante—identificada com o dirigente anterior do partido em Moscou, Boris Yeltsin—abraçou abertamente a restauração capitalista. Do outro lado, uma aliança de militares e burocratas do partido e do Estado, a assim chamada “linha-dura”, via o rumo em direção ao mercado e à desintegração nacional como uma ameaça a seu poder. Gorbachev agiu como um intermediário entre estas duas frações, inclinando-se alternadamente em direção ao ”reformadores” e à “linha-dura”.

Os Ziguezagues de Gorbachev
Começando em outubro de 1990, a linha-dura desencadeou uma ofensiva dentro do Partido Comunista Soviético. Forçaram Gorbachev a impedir o plano de 500 dias de Shatalin para a privatização da economia. Enviaram unidades ”boinas pretas” para tomar medidas contra os governos separatistas pró-capitalistas das repúblicas bálticas. Projetaram uma limpeza no escalões mais altos do partido, levando Gorbachev a retirar os ”reformadores” de postos-chave do partido e do governo, e substituí-los por servidores leais do aparato. Esta movimentação levou muitos dirigentes “reformadores” —mais notavelmente o ministro do exterior de Gorbachev, Eduard Shevardnadze—ao campo de Yeltsin, e à especulação comum nos meios de comunicação ocidentais de que Gorbachev tinha desistido da Perestroika.
Ainda, diante de manifestações enormes dos ieltsinistas em Moscou já na primavera passada, e do temor de que os imperialistas talvez fossem menos generosos com a ajuda econômica, Gorbachev recuou, e outra vez tentou cerrar fileiras com as forças de Yeltsin. Recusou-se a levar a intervenção báltica à sua conclusão lógica e depor os governos de lá. Mais uma vez, começou a avançar as medidas de mercado. Pior ainda do ponto de vista da linha-dura, ele aceitou o acordo “nove mais um”, que transferiu mais poderes governamentais da URSS para suas quinze repúblicas constituintes. As tentativas de conciliação de Gorbachev só incentivaram Yeltsin, que respondeu com uma série de decretos proibindo o Partido comunista dentro da polícia e das fábricas na República Russa. A linha-dura concluiu que o terreno internediário ocupado por Gorbachev estava desaparecendo rapidamente, e que eles não podiam mais depender dele para resistir a Yeltsin. Isto abriu o terreno para a formação do Comitê de Emergência e seu sequestro do presidente soviético na manhã de 19 agosto.

A Classe Trabalhadora Tem um Lado
À luz do fracasso abjeto do golpe, a discussão das posições das frações rivais agora pode parecer um exercício acadêmico infrutífero. Mas, só tendo uma orientação correta a respeito dos acontecimentos passados, a classe trabalhadora pode se armar para as lutas futuras. A tentativa de golpe de agosto era um confronto em que a classe trabalhadora tinha um lado. Uma vitória dos líderes do golpe não teria salvado a URSS do impasse econômico a que estalinismo a levou, nem iria acabar com a ameaça de restauração capitalista. Poderia, no entanto, diminuir o poder dos restauracionistas, ao menos temporariamente, e daria um tempo precioso para a classe trabalhadora soviética. A derrota do golpe, por outro lado, levou inevitavelmente à contrarrevolução, que está agora a todo vapor. Sem deixar de expor a falência política dos líderes do golpe, o dever dos revolucionários marxistas era tomar partido com eles contra Yeltsin e Gorbachev.
Não é surpreendente que a maioria da esquerda reformista e centrista se juntasse a Gorbachev e Yeltsin. Estes pseudo-marxistas são tão temerosos de ofender opinião liberal burguesa que sempre podemos esperar que eles tomem partido da “democracia”, mesmo quando as bandeiras democráticas são uma camuflagem para a a contrarrevolução capitalista. Um pouco mais confusos são os argumentos de grupos centristas que reconhecem Yeltsin como o restauracionista que é, admitem que o seu triunfo seria uma grave derrota para a classe trabalhadora, mas não obstante se recusam a tomar partido no golpe. Os proponentes desta posição “nem a favor nem contra” incluem a Liga Espartaquista dos EUA e seus satélites estrangeiros na Liga Comunista Internacional, que durante anos se proclamaram como os defensores mais incondicionais da União Soviética.
Os advogados da neutralidade dizem que os líderes de golpe não eram menos comprometidos com a restauração capitalista que Gorbachev e Yeltsin. Alguns apontam trechos na declaração principal do Comitê de Emergência, em que seus líderes prometeram honrar os tratados existentes com o imperialismo e respeitar os direitos da iniciativa privada na URSS. Os trotskistas, no entanto, nunca basearam sua atitude política nos pronunciamentos oficiais dos estalinistas, mas sim na lógica interna dos acontecimentos. Qualquer um que reivindique que não havia nenhuma diferença essencial entre as frações opostas terá dificuldade em explicar, em primeiro lugar, por que os líderes do golpe decidiram entrar num jogo tão desesperado. Quando uma fração da burocracia detém o presidente, tenta suprimir os principais restauracionistas e envia tanques para as ruas; quando membros dirigentes desta fração executam pactos de suicídio com suas esposas e se enforcam quando fracassam, está abundantemente claro que há mais envolvido do que uma querela sobre táticas.
As razões para as ações dos líderes de golpe são óbvias. Representaram a fração estalinista que tinha mais a perder com um retorno ao capitalismo. Viam a agressividade de Yeltsin, o poder crescente dos nacionalistas pró-capitalistas e a prostração de Gorbachev diante destas forças como um perigo mortal para o aparelho centralizado sobre o qual seus privilégios e prestígio estavam baseados. Agiram, mesmo se irresolutamente e no último momento, para deter a maré.
Não pode haver nenhuma dúvida de que a linha-dura foi completamente desmoralizada: tinham perdido a fé num futuro socialista de qualquer espécie, abrigado muito das mesmas noções pró-capitalistas de seus adversários, e eram apenas fracos demais para rebaixarem-se ao chauvinismo grão-russo e mesmo ao anti-semitismo para proteger o seu monopólio político. Mas a posição trotskista de defesa incondicional da União Soviética sempre significou a defesa do sistema de propriedade coletivizada contra as ameaças restauracionistas, independentemente da consciência ou das intenções subjetivas dos burocratas. O status quo que a linha-dura tentou proteger, embora incompetentemente, incluía a propriedade estatal dos meios de produção—uma barreira objetiva ao retorno da escravidão assalariada capitalista. O colapso da autoridade central do estado abriu o caminho para a torrente da reação que agora se desenrola no território da antiga URSS. Para conter o avanço desta torrente, os revolucionários deve estar preparados para fazer alianças militares táticas com qualquer seção da burocracia que, por qualquer razão, fique na frente da maré.

Derrotar a Contrarrevolução!
De forma alguma está tudo perdido para a classe trabalhadora da União Soviética. Os governos pró-capitalistas que se alçaram ao poder são ainda extremamente frágeis, e ainda não consolidaram seus próprios aparelhos repressivos de estado. A maioria da economia permanece nas mãos do estado, e os ieltsinistas encaram a tarefa formidável de restaurar o capitalismo sem o apoio de uma classe capitalista nativa. A resistência dos trabalhadores aos ataques iminentes aos seus direitos e bem- estar, portanto, envolverá uma defesa de muitos elementos do status quo sócio-econômico. Os regimes burgueses embrionários que estão se formando agora na ex-URSS podem ser varridos muito mais facilmente do que estados capitalistas maduros.
Nada disto, no entanto, pode mudar o fato de que os trabalhadores agora serão forçados lutar em um terreno fundamentalmente alterado em sua desvantagem. Eles não se constituíram ainda como uma força política independente, e continuam extremamente desorientados. O aparelho estalinista—que tinha um interesse objetivo em manter a propriedade coletivizada—foi destruído. Mais resistência por parte dos estalinistas é improvável, já que eles fracassaram num teste político decisivo, e os quadros que tentaram resistir estão agora em aposentadoria forçada, presos ou mortos. Em resumo, o maior obstáculo organizado à consolidação de um estado burguês foi eficientemente retirado. Antes do golpe, a resistência massiva da classe trabalhadora à privatização teria rachado a burocracia estalinista e seus defensores armados. Agora, os trabalhadores lutando para inverter a onda restauracionista vão encarar “corpos de homens armados” dedicados aos objetivos dos capitalistas ocidentais e seus aliados internos. Este poder incipiente de estado deve ser desarmado e destruído pelos trabalhadores.
A transição de um Estado Operário Degenerado para um Estado Burguês consolidado não é algo que possa acontecer em um mês nem um ano. Em 1937 Trotsky predisse isso:

”Se uma contrarrevolução burguesa prosperasse na URSS, o novo governo, durante um período prolongado, teria que basear-se sobre a economia nacionalizada. Mas, o que tal um tipo de conflito temporário entre a economia e o estado quer dizer? Significa uma revolução ou uma contrarrevolução. A vitória de uma classe sobre outra significa que a economia será reconstruída no interesse da vencedora.”
— ”Nem Um Estado Operário nem um Estado Burguês?”

Era claro para ele, assim como para nós, que tal transformação só pode ocorrer como o resultado de um processo em que o estado operário é subvertido por graus. A tarefa da análise é localizar o ponto decisivo nesta transformação, ou seja, o ponto além do qual as tendências dominantes não podem ser invertidas sem a destruição do poder de estado. A aceleração em direção à restauração capitalista estava sendo construída na União Soviética há muitos anos. Todas as evidências disponíveis levam-nos a concluir que a derrota do golpe e a ascensão ao poder dos elementos comprometidos com a reconstrução da economia numa base capitalista constituiu um salto qualitativo decisivo.
A ação revolucionária não pode ser baseada em ficções agradáveis. A luta pelo o futuro socialista exige a capacidade de encarar realidade duramente e ”falar a verdade às massas, não importa o quanto amargo possa ser”. A vitória do ieltsinistas é uma derrota enorme para a classe trabalhadora. A tentativa de reimpor o capitalismo na União Soviética envolverá ataques aos interesses mais básicos de dezenas de milhões de trabalhadores. Ainda resistindo a estes ataques, os trabalhadores soviéticos poderão redescobrir suas próprias tradições heróicas. As idéias revolucionárias do bolchevismo, as únicas que correspondem à necessidade do progresso histórico para a humanidade, podem superar qualquer obstáculo. Mas estas idéias só se tornam um fator na história através da ação de um partido do tipo que dirigiu a revolução em 1917—um partido educado no irreconciliável espírito revolucionário de Lenin e Trotsky. A luta por tal partido, uma Quarta Internacional renascida, permanece a tarefa central de nosso tempo.

Irán: La historia se venga

SWP/SU: Seguidismo criminal

Irán: La historia se venga

Traducido de Workers Vanguard No. 239, 14 de septiembre de 1979. Esta versión fue impresa en Spartacist en español no. 8, agosto de 1980.

Se arrodillaron ante sus verdugos.

Cuando el ayatolá Jomeini subió al poder en Irán luego del derrocamiento del sangriento sha, el Socialist Workers Party (SWP) norteamericano aclamó el suceso en su periódico con un titular de primera plana que se verá inmortalizado en la crónica de la traición de clase: “¡VICTORIA EN IRAN!” (Militant, 23 de febrero de 1979). Y ahora SWP, ¿de quién fue la victoria?

Cada día desde la caída del Trono del Pavo Real, los sucesos en Irán han confirmado que los resultados de esta “victoria” son la represión salvaje de las minorías nacionales, el fusilamiento de huelguistas, homosexuales, adúlteros y otros acusados de “crímenes contra dios”; el apedreamiento de mujeres sin velo, la supresión de todos los partidos y la prensa de oposición. La masacre actual de centenares de kurdos en el noroeste de Irán es sólo la medida represiva más reciente de esta teocracia chiita en su empeño en consolidar su victoria.

La tendencia espartaquista internacional (TEI) fue la única de la izquierda que dijo la verdad, confirmada día tras día en la “República Islámica” de Jomeini: la victoria de los mulahs resulta en un régimen tan reaccionario como el del sha. El SWP y sus correligionarios, en el HKS iraní, en contraste, enmascararon y ofuscaron a cada paso el carácter reaccionario del régimen islámico oscurantista de Jomeini. Hoy día, el HKS experimenta las consecuencias de la “victoria” que aclamó hace ni siquiera seis meses: junto con otros grupos de izquierda y laicos, ha sufrido el saqueo y clausura de sus oficinas, mientras su prensa es suprimida, sus militantes están golpeados, encarcelados y amenazados de fusilamiento.

A pesar del hecho de que la brutal represión islámica contra la izquierda, las mujeres, las minorías nacionales y los homosexuales empezó el Día Uno del régimen de los mulahs, el notoriamente mal llamado “Secretariado Unificado de la IV Internacional” (S.U.), al cual están “fraternalmente” afiliados tanto el SWP norteamericano como el HKS iraní, caracterizó al ayatolá de “progresista” y “antiimperialista”. El mismo ataque del ayatolá contra sus camaradas del HKS solo originó una reacción rutinaria. Lo único que el SWP sí hizo en forma enérgica fue excluir a los espartaquistas de la defensa de los amenazados socialistas iraníes. Sólo ahora que estos seguidistas incurables, cegados por su oportunismo, por fin se han dado cuenta de que ellos sí puedan tener que pagar por su traición, es que el S.U. salta tardíamente a la defensa y empieza a gritar desde las páginas de sus periódicos, “¡Alto a la ejecución de los socialistas en Irán!”

En manera reformista ya tradicional, tratan de borrar sus huellas enfatizando el peligro que se cierne sobre los militantes encarcelados del HKS. Los estalinistas usaron el mismo truco luego del golpe de Pinochet en 1973, tratando de hacer enfocar las protestas en la liberación del dirigente comunista preso Luis Corvalán. La TEI, que defendió a Corvalán, también señaló que las llamadas del PC chileno por prestar confianza a la oficialidad “constitucionalista” prepararon el camino para la contrarrevolución sanguinaria. Una vez más, hoy día señalamos a los culpables. Los apuros actuales del HKS fueron preparados por su propia política criminal. La verdad es ésta: sus camaradas no son sólo mártires-son las víctimas expiatorias del apoyo a Jomeini por el S.U.

Pero a estos caballeros socialistas no les gusta hablar de la responsabilidad por crímenes. En una conferencia reciente en los EE.UU., el dirigente del S.U. Ernest Mandel reaccionó airadamente ante acusaciones espartaquistas de que él y su organización habían traicionado a la clase obrera con su apoyo al frentepopulismo en Chile, Portugal y otros lugares:

“No veo ninguna lucha obrera traicionada por la organización que defiendo… La palabra ‘traición’ está completamente fuera de lugar… Uds. pueden decir que fue una política errónea o un error político. Pero hablar de traiciones — no se puede poner en la misma categoría a gente que es responsable por la muerte de cientos de miles y millones de obreros.”

Para socialistas de salón de conferencias como Mandel, las palabras no tienen consecuencias. Si el S.U. llamó a la juventud latinoamericana a echarse al monte siguiendo la catastrófica estrategia guerrillera de Guevara, si el SWP apoyo las movilizaciones contrarrevolucionarias lanzadas por los socialistas portugueses financiados por la CIA — no importa, es sólo un “error político”.

No compañeros, esto se llama traición — del proletariado, del marxismo, de todo aquél que sigue vuestros consejos. Y eso es lo que ha sucedido en Irán. Es verdad, el S.U. no es lo suficientemente influyente como para llevar a “cientos de miles y millones de obreros a sus muertes” — pero al menos 14 de sus propios compañeros del HKS iraní enfrentan hoy la cadena perpetua o pena de muerte, habiendo sido encarcelados por el régimen cuya victoria fue aclamada por estos seguidistas seudotrotskistas.

Decimos al S.U., SWP, HKS — Ernest Mandel, Jack Barnes y los demás: vosotros habéis cometido un crimen, del cual el juicio de la historia os hará responsables. Debéis vivir con él porque vuestros camaradas pueden morir a causa de él.

Encubrimiento

Luego de empeñarse durante meses en enmascarar el carácter reaccionario del régimen islámico de Jomeini, ahora el S.U. trata desesperadamente de cambiar de línea sin que nadie se dé cuenta. Hoy el Socialist Challenge (30 de agosto de 1979), periódico del International Marxist Group (IMG) británico, proclama en negrilla en su última página, “Terror blanco en Irán” y anuncia que “Jomeini se ha convertido en el sha de Irán”. El IMG se olvida de explicar cómo es que este régimen reaccionario reemplazó el gobierno “progresista” de Jomeini que aplaudieron solo ayer. En forma similar, el periódico de la Ligue Communiste Révolutionnaire francesa, Rouge (24-30 de agosto de 1979), llega al extremo de hablar del “golpe de fuerza” de Jomeini. ¿Contra sí mismo?

Por su parte, el SWP estadounidense también empieza (aunque de puntillas) a disociarse del sanguinario ayatolá. Hoy escriben:

“Las acciones de Jomeini contra los trabajadores iraníes dirigidas a proteger las ganancias mal adquiridas de los terratenientes y capitalistas – le conducen a la subordinación al imperialismo estadounidense, a pesar de la postura antiimperialista que ha tratado de asumir hasta ahora.”

Militant, 7 de septiembre de 1979.

Pero fue el SWP quien actuó de timador principal de la “postura antiimperialista de Jomeini” entre la izquierda norteamericana. Hace menos de un año el SWP aclamaba a Jomeini por “progresista” en el Militant (17 de noviembre de 1979):

“Aunque Jomeini adhiere a una ideología religiosa, la base de su atracción no es la reacción religiosa. Por el contrario, él se ha ganado el amplio apoyo de las masas iraníes debido a que su firme oposición al sha y a su ‘modernización’ es progresista.”

El SWP está tan enredado en su capullo de ilusiones democrático-burguesas que no reconoce la importancia candente para los países atrasados de la separación de la iglesia del estado. La ideología religiosa de Jomeini es su programa político: una teocracia islámica oscurantista basada en el chauvinismo gran persa y los códigos morales de los beduinos del desierto.

Cuando la TEI dijo la verdad sobre el significado de la victoria de la reacción islámica y lanzó la consigna, “¡Abajo el sha, abajo los mulahs!” el SWP replicó que estábamos “cegados por el sectarismo” y nos tachó de “chauvinistas”. Pero los verdaderos chauvinistas son aquellos que rehusaron llevar a cabo su deber internacionalista de advertir a las masas trabajadoras iraníes que la “Revolución Islámica” de Jomeini sería tan antiprogresista como la “Revolución Blanca” del sha. Para muchos sectores oprimidos (o sea, las minorías religiosas y las mujeres) ya ha probado ser aún más represiva. Y esto es reconocido incluso en las publicaciones del mismo SWP.

Un número reciente de la Intercontinental Press (10 de septiembre de 1979) reproduce una traducción de un informe hecho por un destacado abogado argelino que visitó a los prisioneros de la cárcel de Karoun en el Khuzistán, la región que abarca a la minoría árabe de Irán. Según él, los prisioneros árabes explican:

“… que según ellos la revolución iraní no ha producido cambio alguno. Para ellos las exigencias del antiguo régimen basadas en los señores feudales locales siguen oprimiéndolos tanto económica como socialmente. Los mismos señores feudales hoy están aliados a los representantes del nuevo régimen creando así una continuidad de la represión.”

Oportunistas criminales del SWP, os preguntamos: ¿Dónde está la “victoria” para la minoría árabe del Khuzistán?

Cretinismo parlamentario teocrático

El HKS trató de presentar sus credenciales como oposición socialdemócrata leal a la dictadura de los mulahs al presentar candidatos a la mal llamada Asamblea de Expertos en agosto. Pero en una teocracia la socialdemocracia no rinde, ni siquiera para los oportunistas de vista corta y miras estrechas. De acuerdo con la declaración electoral publicada en el último número del periódico del HKS Kargar (Obrero) antes de su supresión y fechada el 8 de agosto:

“Dentro de tres días se llevarán a cabo las elecciones para la Asamblea de Expertos. Este cuerpo tiene la tarea de ratificar la nueva constitución iraní… Esta constitución debe defender las conquistas de la revolución y extenderlas… La nueva constitución debe preparar el camino para el establecimiento de un tal gobierno de la mayoría oprimida.”

En realidad, la Asamblea de Expertos estaba restringida por la farsa del referéndum por una República Islámica de Jomeini, que excluía explícitamente una asamblea constituyente. La Asamblea de Expertos sólo podía enmendar el proyecto de constitución de Jomeini en la medida que armonizaba con la institucionalización de la República Islámica y con la hegemonía social y política de los mulahs. La Asamblea de Expertos tiene tanto de “asamblea constituyente” como tiene el colegio de cardenales. Y su “elección” fue tan democrática como la del mencionado apéndice papal.

Dado el resultado predeterminado de una dictadura clerical chiita, muchos partidos políticos de grupos laicos y de las varias minorías boicotearon los comicios, entre ellos todos los partidos árabes. Incluso el principal partido burgués liberal, el Frente Democrático Nacional (FDN), rehusó participar como “protesta en principio contra la falta de atención por el régimen revolucionario a los derechos humanos fundamentales”. En el Kurdistán iraní, menos del 10 por ciento del electorado inscrito acudió a las urnas. Así el HKS presentó el absurdo espectáculo de autoproclamados “trotskistas” compitiendo para un escaño en la Asamblea de Expertos con mulahs que discutían si tal o cual cláusula fuera consistente con el Corán.

El número del 10 de septiembre de la Intercontinental Press cita párrafos enteros del último número de Kargar entusiasmándose por la participación del HKS en las elecciones de “expertos” islámicos. Pero el SWP suprime la existencia de un artículo en el mismo número de Kargar titulado, “Último minuto antes de ir a la imprenta”, que declara que: “Una importante discusión se está llevando a cabo en el partido sobre si boicotear o participar en las elecciones a la Asamblea de Expertos.” Aparentemente, la participación en las elecciones para una “asamblea” puramente decorativa de la República Islámica fue tan repugnante que incluso un sector importante de los seguidistas de mulahs del HKS protestó. El artículo de Kargar informa que: “Como es sabido, tres de nuestros 18 candidatos boicotearon las elecciones”.

Fruto de la traición

Al escribir apologías del régimen reaccionario de Jomeini y ocultar sus propias relaciones con Jomeini, el SWP se ha visto forzado a recurrir a la mentira intencionada. Un ejemplo típico de las bobadas calumniosas escritas sobre esa “secta sin importancia”, la Spartacist League, que han llenado tantas páginas del Militant en los últimos tiempos es un artículo publicado en el número del 6 de julio de 1979 titulada, “Espartaquistas frustrados en intento de sabotear defensa”. De acuerdo con el artículo, la Spartacist League fue excluida de un piquete de protesta contra el encarcelamiento del HKS debido a que trajo “carteles provocadores”. Utilizando citaciones parciales, el SWP falsea las consignas de nuestros carteles: “Derrocar la reacción islámica” y “Abajo Jomeini” en lugar de “Por la revolución proletaria para derrocar la reacción islámica” y “Abajo Jomeini, por la revolución proletaria”.

De acuerdo con el SWP, estas consignas “hacían eco directo de la propaganda imperialista contra los obreros y campesinos iraníes” – de lo cual uno sólo puede concluir que el SWP cree que el gobierno Carter está llamando por la revolución obrera en Irán. El artículo declara que la SL fue “informada por los que organizaban el piquete que la manifestación no estaba abierta a quienes se oponen a la revolución iraní” – es decir, a la “Revolución Islámica” de Jomeini. Así que, según la metodología del SWP, ¡para “defender” a los militantes encarcelados del HKS uno debe defender simultáneamente a sus torturadores, carceleros y potenciales verdugos – o por lo menos no atacarlos abiertamente!

A escala internacional los socios de bloque del SWP en el llamado Secretariado Unificado, no tienen historiales mejores. En una discusión acalorada con militantes de la SL y su sección de la juventud, la Spartacus Youth League, en la Universidad de Boston el 17 de julio de 1979, Mandel defendió el titular del SWP “Victoria en Irán” diciendo:

“Sí, algunos de nuestros camaradas están en la cárcel — pero nuestra organización está legalizada. Nuestro periódico está legalizado: se vende por decenas de millares de ejemplares igual que todos los otros periódicos de izquierda de Irán. ¿Estaban legalizados bajo el sha?… Así que hemos presenciado un paso qué se aleja de una dictadura reaccionaria, que era burguesa, en dirección a lo que se podría llamar una democracia burguesa parcial… Dijimos que es el comienzo del proceso de revolución permanente….”

Workers Vanguard No. 237,3 de agosto de 1979

Un mes después el HKS, junto con todas las demás organizaciones de izquierda y laicas se encontraba ilegalizado, su prensa estaba prohibida, sus dirigentes estaban encarcelados. ¿Es eso lo que Ud. llama la etapa siguiente en el “proceso de revolución permanente”, profesor Mandel?

El secretario nacional del IMG mandelista de Inglaterra, Brian Grogan, estaba tan envuelto en el “proceso de revolución permanente” cuando estuvo en Teherán que se juntó a las mujeres cubiertas con el chador y a los hombres llevando imágenes de Jomeini, cantando “alá akbar” (“dios es grande”). En una manifestación reciente contra el terror de Jomeini frente a la embajada iraní en Londres, la cual fue auspiciada por la asociación de estudiantes kurdos y apoyada por el IMG: la repugnante acción de Grogan no se olvidó. Bajo la mirada de los militantes del IMG allí presentes -una fracción ínfima de sus fuerzas y esto en el medio de la supuesta “campaña de emergencia” del S.U.- el bloque de 50 personas de la Spartacist League/Britain coreó: “2, 4, 6, 8 — Does Grogan still think god is great?” (“2, 4, 6 ,8 — ¿Cree Grogan todavía que dios es grande?”) Otra consigna de la SL fue: “El otoño pasado dijisteis que os gustaba Jomeini, ahora es un poco tarde para cambiar vuestra línea”.

La consigna central escrita en las pancartas de la SL/B era: “Política del S.U./IMG mata árabes, kurdos e izquierdistas.” Entre los demás letreros espartaquistas habían: “Aplaudisteis a Jomeini, pero no aplaudís hoy”, “Libertad para los militantes del HKS y de los Fedayín” y “La revolución de Jomeini significa masacre de kurdos”. En varias ocasiones cuando los espartaquistas y los estudiantes kurdos cantaron juntos “Abajo el nuevo sha” y “Abajo Jomeini, por la revolución obrera”, el IMG trató de ahogar los cantos con consignas que no atacaran al ayatolá. Estos seudotrotskistas no sólo rehúsan denunciar abiertamente el dominio de los mulahs, sino que además sabotean la defensa de sus propios camaradas encarcelados en Irán. El IMG tardó un mes en convocar su primera manifestación de defensa (el 7 de julio) y aun entonces sólo envió a un puñado de sus militantes a la protesta.

Según las apariencias, la “defensa” de sus camaradas montada por el S.U. parecería sectaria y derrotista — eso es, si suponemos que lo que les preocupaba era defender a los militantes de izquierda encarcelados. Pero el S.U. apenas dio un mínimo apoyo formal a la defensa de los Fedayín, que representan un irritante mucho mayor para el régimen de Jomeini, cuando estos fueron atacados. El HKS también abandonó la demanda por el derecho a la autodeterminación de los kurdos cuando las cosas se calentaban. No, su propósito primordial es de defender a Jomeini. Y, por lo menos hasta el momento, no son ellos quienes han pagado el precio final de su traición, sino que lo están pagando las masas oprimidas de Irán. Pero ahora ellos piden apoyo.

En los últimos meses de 1979, conforme la oposición encabezada por los mulahs se fortalecía, la TEI advirtió que los clérigos islámicos eran tan reaccionarios como el verdugo sha. Pero cuando dijimos “¡Abajo el sha, abajo los mulahs!” el S.U. y el SWP replicaron que eso no era sino propaganda imperialista, que éramos apologistas del sha. En febrero cuando dijimos “Vencieron los mulahs”, el SWP proclamó “Victoria en Irán” y denunció la posición de la TEI de “contrarrevolucionaria”. Dijimos, “Vuestros camaradas pueden morir, pero todavía apoyáis a Jomeini” — y los seudotrotskistas nos expulsaron físicamente de sus piquetes “privados” de defensa del HKS, rehusando marchar con todo aquél que no jure su lealtad al “imam”. Os arrodilláis ante Jomeini, y mientras estáis de rodillas, viene el verdugo y está a punto de cortaros la cabeza. Y ahora queréis simpatía.

Todos los que defienden los derechos democráticos deben exigir libertad para los partisanos kurdos presos, los trabajadores petroleros árabes encarcelados, los militantes del HKS y otros grupos de izquierda que sufren la prisión y todas las víctimas del terror reaccionario de Jomeini. Pero la clase obrera no debe olvidar nunca que esos seudoizquierdistas aclamaron a Jomeini como una alternativa “progresista” al sha, esperando subir en popularidad o al poder a la cola de la reacción islámica. Están manchados de sangre.

Stalin mismo criticó a Chiang Kai-shek luego de la masacre de Shanghái. El descubrimiento repentino por el S.U. de que, después de todo, Jomeini no es tan progresista, sobrepasa incluso a Stalin en hipocresía. Chiang Kai-shek se decía nacionalista revolucionario y amigo de la Revolución Rusa cuando solicitaba a Stalin su ayuda. Pero Jomeini hizo claro desde un principio que era un oscurantista islámico reaccionario y un chauvinista gran persa que buscaba aplastar a los “comunistas satánicos”. El oportunismo criminal del S.U. en torno a Irán no puede ser enterrado bajo sus actuales críticas (todavía débiles) y sus llamados por la solidaridad internacional con sus militantes en Irán, quienes son víctimas tanto de su línea miserable como del terror capitalista. El renacimiento de la IV Internacional depende de marcar con fuego esta traición y sus consecuencias en la memoria colectiva del movimiento marxista.

Bombeiros: O Vermelho Deles e o Nosso

As “Greves” Policiais, os Bombeiros e a Esquerda
O Vermelho Deles e o Nosso

Por Rodolfo Kaleb
Agosto de 2011

No início de junho as recentes reivindicações dos Bombeiros Militares do estado do Rio de Janeiro chegaram a um ápice quando o Quartel Central da corporação foi ocupado após uma passeata no centro da capital. Esse foi o ponto de maior tensão num processo que se estendia desde abril, incluindo muitas passeatas e aquartelamentos (ato de permanecer nos quartéis nos fins de semana) realizados pelos bombeiros na busca pelos seus interesses. Em grande parte dessas ações, os bombeiros receberam apoio de membros da Polícia Militar do Rio de Janeiro, inclusive fazendo parte das passeatas. Na ocupação do Quartel Central, entretanto, a polícia manteve uma posição mais “moderada”, e tentou retirar os bombeiros do Quartel. Diante dos fracassos na negociação, o Batalhão de Operações Especiais (BOPE) da Polícia Militar reprimiu violentamente os bombeiros e prendeu 439 deles. Essa não foi a primeira situação em que se projetou uma repressão aos bombeiros por parte da polícia – em abril as passeatas já vinham sendo acompanhadas pelo Batalhão de Choque da PM, armado com gás lacrimogêneo, armas de efeito moral e cassetetes (que geralmente são usados para dispersar mobilizações operárias, populares e estudantis).

A cidade foi impactada pela repressão aos bombeiros. Do dia para a noite as fitas, adesivos, cartazes e faixas vermelhos prestavam apoio e solidariedade aos bombeiros. Sem dúvida grande parte da população apoiou a luta da corporação. Infelizmente, essa não foi uma expressão de consciência de classe por parte dos trabalhadores (como muitos na esquerda pretenderam), mas um reflexo do seu estado de nível de consciência recuado (e do oportunismo gangrenoso na esquerda brasileira). Os bombeiros são parte da Polícia Militar do Rio de Janeiro e como tal são utilizados (ainda que com menor frequência) em tarefas de repressão da classe trabalhadora e outros setores populares. Essa não é uma situação atemporal no Brasil e nem comum a todos os países, mas a atual subordinação dos bombeiros militares (armados e treinados) à polícia os caracteriza como parte dos “corpos profissionais de homens armados” sob controle da burguesia brasileira e os torna aptos como os inimigos, e não os aliados, dos trabalhadores em sua luta pelo socialismo.

A natureza complexa dos Bombeiros Militares

A paralisação e as mobilizações dos bombeiros militares abriram uma situação relativamente nova para a esquerda. Embora muitos tenham suas posições sobre apoiar ou não greves policiais definidas há muito tempo, a condição dos bombeiros não é exatamente a mesma do restante da polícia, o que sem dúvida gerou confusão entre grupos que normalmente se opõem às “greves” policiais. É necessário reconhecer, antes de tudo, que a condição dos bombeiros militares é complexa, uma vez que eles não são, por essência, profissionais de repressão. A Liga Comunista (uma pequena organização centrada em São Paulo) foi uma das que tentou simplificar a realidade ao extremo para facilitar uma resposta política, igualando os bombeiros à polícia em todos os países, apagando qualquer diferença entre eles:
“Somos pela destruição dos bombeiros porque são uma polícia burguesa, por serem, repetindo mais uma vez os ensinamentos do velho Engels, um destacamento especial de homens armados do Estado capitalista, não simplesmente por serem militarizados. (…) Por sua vez, os bombeiros são militarizados no Brasil e não militarizados nos EUA, Japão e Austrália, e nem por isto deixam de ser uma força coadjuvante da repressão policial nesses países”

Diferente do que propõe a Liga Comunista, os bombeiros não são por natureza uma “força de repressão coadjuvante” ou uma “polícia burguesa igual a qualquer outra”. Na maioria das democracias burguesas, como é o caso nos Estados Unidos, eles cumprem apenas tarefas de resgate, manutenção, prevenção de acidentes, etc. Nos Estados Unidos e na maioria dos países dos quais temos conhecimento, os bombeiros cumprem um papel necessário e seus interesses podem ser considerados os mesmos dos proletários. Sem dúvida alguma, os bombeiros brasileiros também cumprem tarefas socialmente úteis. Entretanto, o fato de estarem subordinados à Polícia Militar e ao Exército, e de amplos setores receberem armas e treinamento de combate, faz com que eles sejam elementos aptos a reprimir a classe operária, e que se identificam conscientemente e os seus interesses com os da polícia.

A condição de policiais militares só foi incorporada aos bombeiros no Brasil após a Segunda Guerra. Durante um breve período, na década de 1930, os corpos de bombeiros foram desmilitarizados, quando o governo bonapartista de Getúlio Vargas quis diminuir o poderio militar dos estados. A sua condição de corpos armados subordinados à polícia foi acentuada durante o regime militar (1964-85), quando eles foram completamente integrados à hierarquia das polícias a nível nacional [1]. Isso se deveu a uma necessidade do Estado brasileiro por mais forças de repressão. Foi nesse período que os bombeiros foram mais utilizados em ações repressivas. Uma das situações mais comentadas pela esquerda foi o atentado a bomba no Riocentro em primeiro de maio de 1981. Na época, um setor militar planejou um atentado à bomba contra um show de comemoração do dia do trabalhador, que por sorte foi frustrado e acabou matando um dos seus executores. Nesse momento, muitos bombeiros eram parte do GOESP (Grupo de Operações Especiais), ao qual o atentado foi atribuído, que perpetrava ações qualificadas de investigação e repressão contra a esquerda e o movimento dos trabalhadores. Mesmo após o fim do regime militar, os bombeiros foram mantidos na estrutura policial e mantiveram todos os treinamentos que qualificam grande parte deles para a repressão, o que os deixa preparados para serem utilizados como policiais sempre que o Estado burguês sentir necessário.

O nível relativamente baixo de luta de classes faz com que os bombeiros sejam utilizados com menor frequência em atividades oficiais de repressão. Mas apenas porque isso não tem sido necessário. Não há dúvida de que, em sua condição atual, diante de um levante na mobilização dos trabalhadores, os bombeiros podem e serão utilizados para atacar o movimento dos proletários. Talvez a prova mais cabal disso seja o fato de que eles têm reprimido violentamente a população atuando nas milícias que dominam vários ramos comerciais nas periferias do Rio de Janeiro, explorando e oprimindo a população pobre. De acordo com o próprio Secretário de Segurança do Rio de Janeiro, 25% dos milicianos são membros do corpo de bombeiros [2].

Uma das organizações que diz ser contra as greves de policias, e que mesmo assim apoiou o motim dos bombeiros, foi o Coletivo Lenin, do Rio de Janeiro. Esse grupo, que antes era uma tentativa honesta, ainda que com falhas, de construir um partido revolucionário [3], manteve até agora a sua posição traiçoeira mesmo após o panfleto que tentou distribuir no acampamento dos bombeiros ter sido proibido pela liderança do “movimento” porque fazia críticas à polícia. Apesar de já ter ficado evidente para a maioria dos militantes honestos da esquerda que os bombeiros são parte da polícia, o Coletivo Lenin insiste que:
Mas acreditamos que a luta dos Bombeiros deve ir além da demanda por um piso salarial decente. Diferente da polícia e das Forças Armadas, os Bombeiros não cumprem nenhum papel repressivo na sociedade, pelo contrário, o papel deles sim é ajudar e socorrer.”

Nenhuma justificativa de confusão honesta explica porque o Coletivo Lenin mantém a sua posição sem nenhum balanço público desse erro. Agindo assim, o grupo apoia um aumento salarial para profissionais treinados para repressão, coisa que era terminantemente contra até então. Talvez pior, diz para a vanguarda dos trabalhadores que o papel dos bombeiros é simplesmente “ajudar e socorrer”, despreparando-os para futuras situações radicalizadas da luta de classes, em que os bombeiros serão instrumentos de repressão utilizados com frequência muito maior do que hoje. A explicação para essa posição não é uma falta de informação, mas simplesmente uma adaptação do Coletivo ao nível atual da luta de classes, um pessimismo com relação às possibilidades de a classe operária e se radicalizar.

Sem dúvida seria vantajoso para os trabalhadores se os bombeiros deixassem de ter treinamento de repressão, armas e fossem desvinculados da polícia, já que assim suas características de repressão seriam destruídas. No entanto, esse era o conteúdo oposto ao da reivindicação dos Bombeiros, que o Coletivo Lenin e muitos outros na esquerda apoiaram. Os bombeiros no Rio de Janeiros são parte das mesmas organizações “sindicais” que os policiais e uma a uma, as suas reivindicações propunham aproximá-los do aparato policial, e não afastá-los.

A principal reivindicação dos bombeiros era um aumento salarial e “melhores condições de trabalho”, como o vale transporte. Essas reivindicações, por si sós, tornam a profissão de bombeiro militar muito mais atraente. Em outras palavras, fazem pressão para que os proletários se sintam tentados a se tornar parte do aparato de repressão burguês. “Melhores condições de trabalho” para os policiais só pode significar melhores armas, carros e munições a serem usados contra os trabalhadores e a população pobre, como nós discutiremos melhor mais a frente.

Outra reivindicação dos bombeiros era serem transferidos para a Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro. Os bombeiros haviam recentemente sido alocados na Secretaria de Saúde, uma posição afastada dos demais policiais e que eles claramente repudiavam. Uma nota no blog “SOS Bombeiros” reclama dessa situação de maneira visivelmente reacionária:
“Todos os Bombeiros Militares e certos setores da sociedade civil sabem o desastre que foi e é a inclusão do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro na Secretaria de Saúde. Contrariando o artigo 144 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, nossa Carta Magna, o CBMERJ [Corpo de Bombeiros Militares do Estado do Rio de Janeiro] está subordinado à Secretaria de Saúde e Defesa Civil, e não a Secretaria de Segurança Pública ou de Defesa Civil. Pasmem! Estamos inconstitucionalmente recebendo ordens de um secretário paisano, médico cirurgião ortopédico, que manda no Comandante Geral.”

Blog SOS Bombeiros, 31 de maio
Depois de reclamarem por “receberem ordens” de um civil, os bombeiros militares conseguiram parte do que queriam. Após a repressão no Quartel Central no início de junho, o Governador Sergio “Assassino” Cabral já criou uma Secretaria de Defesa Civil que é composta unicamente pelo corpo de bombeiros. E o Secretário é o Comandante Geral da corporação. Essa medida, que cumpre uma das exigências dos bombeiros, torna mais fácil a sua utilização em atividades de repressão contra os trabalhadores, já que passam a “receber ordens” diretamente do Comandante.

Outra reivindicação dos bombeiros é a aprovação da PEC 300, um projeto de emenda à Constituição para aumentar o piso salarial dos policiais militares (e também dos bombeiros militares) em todo o Brasil. O movimento dos bombeiros está abertamente convocando uma marcha para Brasília para lutar por essa medida. Somente as organizações que tomam a “melhoria das condições” dos policiais como algo vantajoso para os trabalhadores teriam interesse em apoiar o motim dos bombeiros. Diante de um confronto como esse, em que todas as reivindicações dos bombeiros são negativas para os trabalhadores, a única posição revolucionária é de nenhum apoio a qualquer dos lados, e de sair em defesa dos interesses da classe proletária.Nenhuma confiança na polícia ou nos bombeiros! Pela destruição de todos os aparatos de repressão da burguesia! Nenhum apoio ao motim de 3 de junho! Qualquer outra posição é uma traição.

Os revolucionários deveriam dar apoio a ações dos bombeiros somente se a sua manifestação refletisse um conteúdo representando setores que não são treinados para reprimir, em oposição à polícia e em repúdio às atividades de repressão para as quais muitos bombeiros são treinados. Levantando a bandeira de oposição às ações repressivas, os bombeiros estariam, momentaneamente, defendendo algo que também é interesse dos trabalhadores. Mas isso não mudaria nossa oposição aos aparatos de repressão. Aqueles que escolhem permanecer membros das ferramentas de combate da burguesia são inimigos da classe trabalhadora. A única solução definitiva é a destruição dos órgãos de repressão capitalistas. Somente os trabalhadores podem fazer isso, organizando a sua própria segurança, de forma independente dos patrões e contra estes. Pela autodefesa dos trabalhadores e oprimidos! Destacamentos operários contra os policiais da burguesia!

A esquerda e as “greves” policiais

O mais entusiasmado de todos com o levante dos bombeiros militares foi sem dúvida o PSTU, que adotou um adesivo com o lema “Somos todos bombeiros”. Ignorando o fato de que as reivindicações dos bombeiros fortaleciam os aparatos repressivos, assim como as greves policiais por “melhores salários e condições de trabalho”, o PSTU deu “total apoio” à luta dos bombeiros:
“O PSTU vem a público manifestar total apoio à luta dos trabalhadores do corpo de bombeiros, que durante meses vem exigindo do governador Sergio Cabral que sente para negociar suas reivindicações por melhores condições de trabalho, por um aumento decente dos salários, pelo pagamento do vale transporte, e pelo fim das gratificações.”

Somos Todos Bombeiros, site do PSTU, 4 de junho
Provavelmente a posição do PSTU não seria muito diferente se aqueles que lutassem por “melhores condições de trabalho” fossem os policiais que são usados, não apenas em conjunturas específicas, mas diariamente, na repressão dos movimentos sociais e da esquerda. Numa declaração de seu dirigente sindical Zé Maria, o PSTU explicou que:
“Essa luta [dos bombeiros no Rio de Janeiro], por si só, é na verdade a ponta de um verdadeiro iceberg, do descontentamento dos bombeiros e policiais civis e militares de todo o País, que lutam pela aprovação da PEC 300, que estabeleceria um piso salarial digno para o setor.”

Curiosamente, a PEC 300 une não apenas os policiais militares, civis e bombeiros, como também todos os partidos da direita reacionária brasileira. O DEM e o PSDB têm estado na ponta de lança do projeto e agora recebem o apoio “inesperado” de um dos partidos da “extrema esquerda” para fortalecer os carrascos da classe trabalhadora. É especialmente deseducativo para a vanguarda da classe trabalhadora que um partido que reivindica o legado do trotskismo e com considerável influência na juventude tenha essa postura plenamente adaptada ao sistema capitalista e ao Estado burguês. Por isso é nosso papel, mesmo com nosso pequeno alcance, desmistificar esta posição adaptada ao senso comum de que “policial também é trabalhador” e quebrar os argumentos pseudo-ortodoxos que o PSTU coloca.

Numa polêmica que chamou a atenção da maior parte da esquerda, o PSTU (através de Eduardo Almeida Neto, seu principal dirigente político) acusa a Liga Estratégia Revolucionária – Quarta Internacional (LER-QI), de criar “manobras” para, corretamente, não apoiar a luta dos bombeiros:
“A primeira é que, como os policiais não são trabalhadores, é errado apoiar suas greves. Evidentemente os policiais não são partes do proletariado, e trabalham em uma instituição repressora do Estado burguês, uma superestrutura a serviço da classe dominante. Entretanto, essa é só uma parte da realidade. A outra parte é que, por serem recrutados no proletariado, os policiais também vendem sua força de trabalho e sofrem com a péssima qualidade de vida como qualquer outro trabalhador, pois recebem baixos salários, pegam ônibus e metrôs lotados, moram nas periferias.”

Antes de tudo, o próprio PSTU disse inúmeras vezes ao longo de muitos anos que os policiais eram trabalhadores. Ele aceita sindicatos policiais na central sindical que dirige (a CSP-Conlutas) e sempre levanta, em protestos, a palavra de ordem dirigida aos policiais “Você aí fardado, também é explorado”. Por exemplo, num texto de 2007, o PSTU diz com todas as letras:
Esta é realidade de todas as categorias (policiais, professores/as, trabalhadores/as da saúde, da universidade, do transporte, operários/as, etc.) que formam uma única classe. O nosso desafio está em nos unirmos, nossa luta é uma só. Por isto, damos todo o apoio aos/às trabalhadores/as da segurança pública que se encontram no estado de Santa Catarina paralisados/as por melhores condições de trabalho (…)

O primeiro trecho de Eduardo Almeida é interessante porque ele nega que os policiais sejam trabalhadores numa tentativa de se manter na ortodoxia formal (renegando o próprio passado das formulações do PSTU),  apenas para “aparecer bem” na polêmica. No entanto, logo Eduardo Almeida conclui que, apesar de não serem trabalhadores, os policiais são praticamente a mesma coisa: são recrutados do proletariado, pegam metrô lotado, etc. De fato, para Eduardo Almeida, teríamos que olhar num microscópio para achar uma diferença entre um metalúrgico, professor ou terceirizado e um policial. Para Trotsky, a questão era bem diferente:
“O fato de que os agentes de polícia tenham sido recrutados em grande parte entre os operários social-democratas não quer dizer absolutamente nada. Aqui também a existência determina a consciência. O operário que se torna um policial a serviço do Estado capitalista é um policial burguês, não um operário”.

A Revolução Alemã e a Burocracia Stalinista, Leon Trotsky, 1932, citado na resposta da LER-QI
Nenhum outro “trabalhador”, a não ser os policiais (inclusive, nesse caso, os bombeiros também) podem ser usados para reprimir uma greve, uma passeata ou uma ocupação de fábrica. Nenhuma outra “categoria” é tão condicionada material e ideologicamente para a atividade de obedecer às ordens de atirar, espancar e bater em trabalhadores, pobres e negros.

Não é preciso lembrar as lições de séculos da classe operária, aprendidas pelos verdadeiros revolucionários: muitos militantes do PSTU sofrem repressão da polícia frequentemente. No entanto, mesmo com a resposta bem diante do seu nariz, os líderes do PSTU surfam na onda da popularidade das greves policiais, ao invés de aproveitar estas oportunidades para lembrar aos trabalhadores (inclusive os mais combativos, que são presos, recebem golpes e gás de pimenta) que não podem contar com a polícia para nada de positivo.

O PSTU costuma dizer que, apesar de a polícia ser repressora, os movimentos da base dos policiais são progressivos, pois colocam os policiais “tipo trabalhador” contra os seus superiores. Essa é uma concepção absolutamente irracional, que imagina que uma luta de alguém que ganha menos contra alguém que ganha mais é sempre positiva, em qualquer situação. Será que Eduardo Almeida e os demais líderes do PSTU já pensaram qual é o resultado de uma luta vitoriosa dos policiais por “melhores salários” ou “melhores condições de serviço”? É claro que já, e há muito tempo, mas preferem continuar reproduzindo sua posição para se manterem adaptados ao que pensa a maior parte da população (e a maior parte dos trabalhadores, por sinal): que a polícia é igual a eles. Acontece que, mantendo o atual nível de consciência dos trabalhadores, nenhuma revolução socialista será possível, com a possível exceção de uma “revolução de fevereiro” [4] que nada mude na condição essencial dos explorados e oprimidos.

Se os policiais recebem mais verbas públicas, para melhorar suas “condições de trabalho” isso significa mais dinheiro para os mecanismos de repressão (carros, armas, munição, bombas, serviço de espionagem e inteligência). Salários mais altos para os policiais (como proposto pela PEC 300) significa que mais e mais proletários se sentirão pressionados a se tornarem elementos de repressão da burguesia, e também, logicamente, o aumento de fardados para reprimir os trabalhadores, oprimidos e a esquerda (inclusive o próprio PSTU)! Eduardo Almeida e os outros líderes de PSTU não devem conseguir dormir tranquilamente a noite ao pensarem que a sua política pode, e irá, se os policiais forem bem sucedidos, resultar em mais repressão ou até mesmo prisões de militantes dentro do seu próprio partido (como aconteceu na visita de Obama no Rio, no final de março).

Outro argumento que os dirigentes do PSTU sempre levantam quando questionados é que as lutas dos policiais acontecem junto às dos “demais trabalhadores públicos”. Essa é uma situação real, embora não tão comum como o PSTU pressupõe. Isso porque a maioria dos cortes no setor público acontece sempre nos setores que são necessários à população, como saúde e educação, enquanto as áreas fundamentais para a burguesia, como a de segurança, justiça ou o parlamento, dificilmente sofrem cortes. Mas e quando os policiais parecem estar lutando contra os mesmos ataques que os trabalhadores? Mesmo nessas situações, o papel dos revolucionários deve ser de buscar separar os trabalhadores dos seus carrascos. Devemos dizer “Eles estão aqui hoje para nos reprimir melhor amanhã!” Diferente dos setores públicos que são úteis para os trabalhadores, uma situação melhor para os policiais significa uma situação mais difícil para os trabalhadores na luta por sua emancipação. O mesmo vale para os policiais que se organizam em “sindicatos” para lutar por melhores condições. Os revolucionários devem fazer ouvir a palavra de ordem de Policiais para fora das centrais sindicais! Nenhum reconhecimento aos inimigos organizados da classe trabalhadora.

É preciso notar que essas ilusões na polícia estão presentes mesmo naqueles grupos que se reivindicam os mais ortodoxos. Um desses casos é o Movimento Negação da Negação (MNN), centrado em São Paulo, e que busca ser parte do Comitê Internacional liderado por David North. Uma notícia publicada no site do MNN em 12 junho compara explicitamente os bombeiros e policiais com “outras categorias” de trabalhadores.
A revolta dos bombeiros, que culminou na ocupação do quartel da corporação, ganhou o apoio de uma multidão de cerca de 30 mil pessoas hoje na orla de Copacana, no Rio de Janeiro. Além de, no meio da última semana ter tido manifestações de apoio de outros estados e outras categorias. Na quarta-feira, por exemplo, os policiais militares do Rio também aderiram ao movimento. O movimento recebeu manifestações de apoio desde sindicatos até deputados.”

O Comitê Internacional faz inúmeras críticas à corrente histórica do PSTU, fundada por Nahuel Moreno (e por isso apelidada de “morenista”). No entanto, o grupo de David North acaba, ao menos no seu apoio às “greves” e “lutas” dos policiais, trilhando o mesmo caminho que os seguidores de Nahuel Moreno, e um caminho diferente daquele de Trotsky.

Talvez alguns membros do MNN (que traduziram grade parte da seção em português do site do Comitê Internacional) ignorem o fato que o apoio a esses tipos de movimentos policiais de conteúdo reacionário é uma tradição da organização americana do Comitê Internacional, a Workers League (Liga dos Trabalhadores), precursora do atual SEP (Partido da Igualdade Socialista) norte-americano. Em 1971, a Workers League deu apoio a uma enorme “greve” policial em Nova Iorque, considerando que os policiais seriam aliados da luta dos trabalhadores contra a prefeitura da cidade [5].

Mais do que nunca é essencial que os militantes honestos (dentro ou fora destas organizações) encarem de frente a verdadeira natureza da polícia, que os seus próprios dirigentes parecem ignorar, confiando que a luta dos policiais pode se unir a dos trabalhadores numa perspectiva socialista. Somente com uma vanguarda que desmascare brutalmente a polícia diante das massas é possível que os trabalhadores criem consciência dos seus interesses de classe e se revoltem contra a ordem e a ideologia da burguesia.

As “manobras” do PSTU e a proposta incoerente da LER-QI

Na já citada polêmica entre o PSTU e a LER-QI, é impossível não perceber que a LER-QI, ao menos na maior parte dos argumentos colocados, levou a melhor. Ela respondeu à maioria das formulações pseudo-ortodoxos do PSTU e mostrou corretamente que os aprendizes de Nahuel Moreno, como Eduardo Almeida, abandonam qualquer tipo de estratégia revolucionária para seguir conforme a música dos bombeiros e dos policiais. É sintomático de organizações centristas, como o PSTU, tentar manter a pose revolucionária enquanto a natureza de sua posição é absolutamente reformista, adaptada aos limites do capitalismo. No entanto, o PSTU tentou fazer passar uma série de “argumentos” falaciosos, tentando mostrar que a política da Terceira Internaconal Comunista e do trotskismo com relação ao aparato repressivo burguês era semelhante à sua própria. Esses argumentos são os mais nocivos e deseducativos para a vanguarda.
“O partido bolchevique sempre defendeu uma estratégia de luta pelo poder que incluía uma faceta militar que começava com o objetivo de dividir as forças armadas burguesas antes da insurreição. Essa tarefa preparatória é fundamental para que no momento da crise revolucionária a vitória militar seja possível.”

“Nas instruções da III existiam propostas concretas de como desenvolver esse tipo de trabalho que incluíam ‘Reivindicações a serem levadas no domínio dos direitos e condições materiais dos soldados: 1) Elevação dos soldos; 2) Melhoria da alimentação; 3)Comissões de orçamento do pessoal; 4)Abolição das penas disciplinares… ’ (O trabalho militar revolucionário sobre as forças armadas da burguesia, IOSSIF S. UNSCHLICHT).”
Não há a menor dúvida de que seja necessário dividir as forças armadas da burguesia. No entanto, nesse caso dividir significa desmobilizar, desarticular, com o objetivo de destruir tais forças. É esclarecedor perguntar: qual foi a política do PSTU para “dividir” as forças da burguesia no motim dos bombeiros e nas últimas greves policiais? Pelo contrário, a sua política tem sido de dar “total apoio” e de “unir” os trabalhadores e a polícia. O objetivo dos revolucionários deve ser de esfacelar as forças de repressão (inclusive ganhando setores das forças armadas, nos períodos de crise revolucionária, para lutar ao lado do proletariado) ao mesmo tempo em que as denuncia diante dos trabalhadores, não de “melhorar” a estrutura da polícia ou fazer dela equivalentes fardados dos trabalhadores.

O PSTU cita, inadvertidamente, um teórico da Terceira Internacional dizendo que é necessário levantar demandas pela melhoria das condições dos soldados. Em primeiro lugar, o documento a qual se refere o PSTU, do teórico militar Iossif Unszlicht, foi produzido pela Terceira Internacional já sob domínio stalinista, em 1928. Apesar disso, o texto contém uma série de aspectos corretos, que o PSTU ignora, ou melhor, esconde. As várias melhorias que o PSTU levanta estão alocadas como segundo ponto das reivindicações que, segundo Unszlicht, os revolucionários devem agitar nas forças armadas da burguesia. Elas podem ser úteis para desmobilizar os soldados recrutados por obrigação dependendo de outras demandas e, principalmente, do contexto. Ao ler o texto de Iossif, Eduardo Almeida parece ter “esquecido” o que diz o texto com respeito às tropas profissionais e voluntárias (como é o caso da polícia):
Reivindicações a serem levantadas no domínio da organização das forças armadas: (1) Dissolução das forças armadas mercenárias, tropas de quadros e comandos profissionais; (2) Desarmamento e dissolução da polícia civil, da polícia militar e de outras tropas especiais de guerra da burguesia (…)”

Já que o texto de Iossif parece ao PSTU uma boa inspiração, então ele pelo menos deveria ser mais honesto na hora de explicar as suas lições, e não esconder as partes que estão em total desacordo ao que o partido tem defendido. Depois dessa “manobra”, levantam-se algumas outras acusações contra a LER-QI:

“O outro equívoco completo é atribuir às polícias militares uma composição social diferente das Forças Armadas. A LER esboça uma avaliação de que se pode dividir o Exército porque inclui soldados não profissionais, pelo serviço militar obrigatório. Isso é um erro grave.”

Nisso só podemos congratular a LER-QI por ter sanidade o suficiente para perceber que o exército (sobretudo em períodos de crise revolucionária ou guerra) é composto por jovens recrutados da classe trabalhadora e outros setores oprimidos, sem treinamento militar ou lavagem cerebral ideológica e que são recrutados por obrigação (e não por escolha, como a polícia) para dar o sangue em troca dos interesses mesquinhos da burguesia. Se o PSTU ignora essa diferença e acredita que, numa situação propícia, o trabalho dos revolucionários pode acontecer igualmente na polícia como no exército ou marinha, então vamos torcer para nunca chegar o dia em que o PSTU fará esse tipo de trabalho, pois as suas consequências serão absolutamente desastrosas. Em História da Revolução Russa, Trotsky escreveu:

“Enquanto isso, o desarmamento dos “faraós” [apelido dos policiais russos] se tornou uma palavra de ordem universal. A polícia é o inimigo cruel, implacável, odiado e odiante. Ganhá-los está fora de questão. (…) É diferente com os soldados: a multidão faz todo o esforço para evitar encontros hostis com eles; pelo contrário, procura meios de dispô-los a seu favor, convencer, atrair, fraternizar e se fundir com eles”

História da Revolução Russa, Capítulo 7, 1930
Nos momentos de crise revolucionária, destruir as forças armadas da burguesia inclui rachar o exército para lutar ao lado dos proletários. Sem isso, dificilmente uma revolução poderá obter sucesso. Nessas situações, junto às demandas de destruição das forças armadas é correto chamar os soldados a combater do mesmo lado dos esquadrões operários, mas ao mesmo tempo em que o exército e a polícia são combatidos e não “apoiados” pelos trabalhadores. Os revolucionários devem ter em mente que isso exige uma situação de crise revolucionária, que isso não irá acontecer sem que os trabalhadores tomem a dianteira e formem a suas forças organizadas. Rachar um setor da polícia, que opta pela sua função e que é composto em absoluto por repressores profissionais, é uma tarefa que dificilmente será bem sucedida, mesmo em situações assim. As armas da burguesia não são iguais – e os revolucionários não devem ser indiferentes a isso em suas táticas.

Em nenhum momento esse é o conteúdo da política do PSTU. O partido acha que, em qualquer conjuntura, pode (dando “total apoio”) “dividir” a polícia. Quem protagonizaria esse racha, para nossa surpresa, não seriam os operários, demonstrando sua força através dos seus destacamentos, mas ele partiria, aparentemente, das próprias forças da burguesia. É cômico que o PSTU acuse a LER-QI de ter uma estratégia “esponteneísta” (por não apoiar a luta dos bombeiros) quando em nenhum momento esse partido levantou a demanda das autodefesas ou destacamentos de trabalhadores.Isso é espontaneísmo: esperar que sem o papel ativo e protagonista dos trabalhadores, a polícia se divida.

Se muitos dos argumentos da resposta da LER-QI ao PSTU foram corretos, a postura da primeira também conteve uma proposta bastante incoerente. Num outro texto sobre os bombeiros, ao mesmo tempo em que apontava a posição errada do PSTU, a LER-QI escreveu que:
O PSTU e a Conlutas devem tomar a dianteira para organizar a luta contra a exploração capitalista e a repressão estatal, o que exige não defender as instituições repressivas, mas combater pela dissolução de todos os órgãos de repressão, pois sua função essencial é defender a propriedade privada e eliminar a possibilidade de luta dos trabalhadores e das massas exploradas. Os militantes que se consideram combativos do PSOL devem dar um passo adiante para encarar essas tarefas, e isso exige romper com este partido que cada vez mais avança a passos largos para ser um partido da ordem.

Nenhum apoio ao repressor Sergio Cabral nem ao motim dos bombeiros, site da LER-QI, 5 de junho (ênfase nossa)
Por tudo que foi aqui demonstrado (e também pelo que a própria LER-QI argumentou), é no mínimo curioso que os representantes brasileiros da Fração Trotskista (organização internacional da LER-QI, liderada pelo PTS argentino) chamem o PSTU a liderar uma luta que vai no sentido oposto à própria política do partido. Talvez uma explicação das razões ocultas dessa determinação que a liderança da LER-QI tem para que o PSTU “tome a dianteira” fosse uma tentativa de ganhar os militantes honestos do PSTU contra a política da direção do mesmo partido. Mas isso não foi em momento algum colocado.

Os revolucionários não são indiferentes ao fato de que as organizações centristas (como o PSTU), e mesmo partidos reformistas, possuem contradições internas, muitas à esquerda, e que podem ser resolvidas ganhando largas frações de tais grupos para uma política revolucionária. Mas essa ruptura precisa se dar em algum momento e somente os revolucionários podem cumprir o papel de separar os militantes honestos que são atraídos inadvertidamente para organizações engessadas e aqueles que já estão conscientemente presos a políticas centristas ou ao aparato burocrático do partido. Esse trabalho sem dúvida alguma precisa ser realizado frente ao PSTU e pode ser consideravelmente importante nos primeiros passos da construção de um partido revolucionário, dado o peso e a sua pose aparentemente ortodoxa. Mas o PSTU em si, como partido que existe hoje, afasta os militantes honestos das concepções genuinamente revolucionárias, ao invés de aproximá-los delas. Estes militantes caem numa armadilha ao ver um partido que se diz trotskista e se veste de vermelho, mas cujas políticas são, por inúmeras vezes, descaradamente reformistas.

A liderança da LER-QI possui sérias ilusões no PSTU (e em sua direção) se compreende que esse partido pode ser influenciado por ela e simplesmente passar a cumprir um papel progressivo na luta pela construção da vanguarda comunista. Como em todas as épocas, os revolucionários devem saber separar os elementos mais avançados daqueles que simplesmente se adaptaram ao ritmo ou ao aparato conservador dos partidos centristas. Poderia-se argumentar que pode ser sectário chamar os membros do PSTU a romper com seu partido. Mas inegavelmente esse deve ser o objetivo dos trotskistas diante dos partidos centristas e é preciso explicar pacientemente, e em cada ocasião, o programa degenerado que domina esses grupos. Além do mais, a própria LER-QI chama, no trecho citado, os militantes combativos do PSOL a romperem, dizendo que, em seu caso, “é preciso dar um passo adiante”. Será que não é urgentemente necessário que os “militantes combativos” do PSTU também dêem “um passo adiante”?

Os revolucionários podem resumir em dois os seus ensinamentos. Eles confiam na capacidade da classe trabalhadora de derrubar o capitalismo e inaugurar uma nova etapa na história da humanidade (e, portanto, em sua capacidade de superar seu próprio atraso de consciência) e eles confiam a si próprios o papel de lutar ativamente para vencer a barreira da ideologia burguesa entre os trabalhadores, motivo pelo qual devem combater todos os “traidores da classe” na burocracia sindical governista, nos partidos reformistas e centristas do movimento operário. Numa definição brilhante sobre o revisionismo pablista, a Tendência Revolucionária (precursora da Liga Espartaquista dos EUA) afirmou:
“A ascensão do revisionismo pablista apontou para a raiz fundamental da crise do nosso movimento: o abandono de uma perspectiva revolucionária na classe trabalhadora. Sob a influência de uma relativa estabilização do capitalismo nos Estados industriais do Ocidente e de um sucesso parcial dos movimentos pequeno-burgueses ao derrubar o poder imperialista em alguns países periféricos, a tendência revisionista dentro do movimento trotskista desenvolveu uma orientação que se distanciava do proletariado e se dirigia às lideranças pequeno-burguesas.

Da mesma forma, os revolucionários hoje devem ter como sua audiência favorita a classe trabalhadora e os militantes honestos dentro e fora das organizações de esquerda que também tem essa perspectiva. Em nenhum momento devem se orientar para os aparatos de repressão da burguesia e nem para as lideranças conservadoras dos partidos pseudo-revolucionários que habitam a esquerda.

Notas

[1] Imediatamente após o fim do Estado Novo, através do Decreto de Lei 8660, de janeiro de 1946, os estados da federação receberam autonomia para organizar militarmente os bombeiros e de incorporá-los às suas forças policiais. Já na Ditadura Militar tal incorporação foi aprofundada através do Decreto Lei 667, de julho de 1969, cujo Artigo 26, Parágrafo Único, aplica aos bombeiros militares as mesmas disposições que aos policiais militares.

[2] Declaração feita por José Mariano Beltrame, Secretário Estadual de Segurança do Rio de Janeiro em Brasília em março de 2009, de acordo com o site G1.

[3] Para saber mais, leia nossa carta de ruptura O Coletivo Lenin é Destruído pelo Revisionismo.

[4] Como formulado por Nahuel Moreno, uma “revolução de fevereiro” seria uma revolução “socialista” onde as massas são lideradas por partidos não-revolucionários e não possuiriam consciência marxista. Para os morenistas, grande parte da sua tarefa é empurrar os partidos oportunistas para cumprirem tal função, ao invés de lutarem para desmascarar tais líderes traiçoeiros das massas e ganhar os trabalhadores para uma perspectiva revolucionária. Isso leva os morenistas a uma série de adaptações às lideranças existentes no movimento e a verem transformações “revolucionárias” onde elas não aconteceram. Entre algumas das “revoluções de fevereiro” supostamente vitoriosas no Brasil, o PSTU inclui o movimento “Diretas Já!” e o “Fora Collor”, que precisamente pelas suas direções adaptadas ao sistema, apesar das grandes radicalizações, mantiveram a estrutura estatal burguesa intacta. As obras de Nahuel Moreno Teses de Atualização do Programa de Transição e Revoluções do Século XX estão entre as que apresentam tal perspectiva estratégica.

[5] Na edição de 15 de fevereiro de 1971, o periódico da Workers League (Bulletin) escreveu sobre a “greve” policial na Cidade de Nova Iorque:
“O significado de tudo isso é a importância de localizar a recente greve policial de Nova Iorque dentro do panorama geral do movimento da classe trabalhadora e ao mesmo tempo buscar entender o que está por trás deste movimento da classe. Quando o próprio braço repressivo da classe dominante vai à greve, isso não é um fenômeno isolado, mas um reflexo de um movimento muito grande, geral e profundo da classe trabalhadora”
“Nós vamos ver apenas o lado da polícia como braço repressivo do Estado, mas ao mesmo tempo não compreender que os policiais também são empregados do Estado?”

Bulletin, 15 de fevereiro de 1971 (traduzido a partir da versão citada no artigo Police Militancy vs. Labor, da Liga Espartaquista)

LRP e ISL sobre a revolução na Palestina e em Israel

LRP e ISL Sobre a Revolução na Palestina e em Israel
Adoradores do Fato Consumado
Os apontamentos seguintes, reconstruídos a partir de notas, foram feitos para o público de uma reunião da Liga pelo Partido Revolucionário (LRP/EUA) em 18 de agosto de 2009 em Nova Iorque, intitulada “A Crise do Sionismo e as Possibilidades de Revolução no Oriente Médio” e que teve a presença de cerca de 40 pessoas. O palestrante da reunião foi Yossi Schwartz da Liga Socialista Internacional (ISL/Palestina Ocupada e Israel) com quem a LRP parece ter atingido acordo político comum. Os apontamentos e comentário posterior lidam primeiramente com o fato de os dois grupos descartarem a possibilidade de ganhar uma maioria dos trabalhadores israelitas judaicos para uma luta comum com as massas palestinas contra o Estado sionista de Israel. Nós esperamos postar no futuro polêmicas que lidem mais amplamente com outros pontos da posição da LRP e de seus colaboradores na questão do sionismo e da luta palestina. A versão para o português foi realizada pelo Reagrupamento Revolucionário em 2011.

Os revolucionários defendem os palestinos e obviamente se opuseram à fundação do Estado de Israel. Mas depois de seis décadas, seria preciso ser cego para não reconhecer que uma nação de origem israelita judaica (que no atual estágio não pode ser simplesmente classificada como uma ocupação colonizadora) passou a existir e cujos trabalhadores nós devemos ganhar como aliados dos palestinos para podermos travar qualquer luta bem sucedida para derrubar o Estado sionista. Isso só pode ser feito chamando os trabalhadores judaicos a superarem a sua consciência nacional em favor de seus interesses de classe comuns com os trabalhadores palestinos, e não negando os direitos nacionais daqueles. A LRP e a ISL parecem reconhecer isso implicitamente em muitos aspectos, mas a partir da sua insistência em negar esses direitos aos trabalhadores israelitas, eles são forçados a chegar a conclusões completamente derrotistas.

Nos anos 1960, sob circunstâncias nas quais a classe trabalhadora dos Estados Unidos parecia ser permanentemente conservadora, e quando, durante um breve momento, uma maioria dela parecia se opor aos direitos civis, aos movimentos de liberação da mulher e anti-guerra, a Nova Esquerda a descartou (assim como a classe trabalhadora nos países economicamente desenvolvidos como um todo) como permanentemente vendida. Eles chamavam uma minoria a “abandonar os seus privilégios de pele branca” e projetavam que a maioria se aliaria à reação. E hoje as coisas parecem similarmente sombrias, sem dúvida, com relação à classe trabalhadora israelita para a LRP e a ISL. Os partidários da Nova Esquerda na época abandonaram qualquer perspectiva de uma revolução socialista nativa e adotaram a visão utópica maoísta de que o imperialismo dos Estados Unidos seria derrubado externamente pelas lutas do Terceiro Mundo.


Nas palavras da LRP, ela defende na sua mais recente declaração “Após os Massacres de Gaza: O Futuro da Palestina”, de 2 de julho de 2009, que “mais provavelmente, infelizmente, uma minoria” dos trabalhadores israelitas judeus podem ser ganhos para a revolução já que “muitos israelitas judeus prefeririam lutar pela defesa de seus privilégios temporários” reconhecendo que “os palestinos sozinhos não tem sido e não serão capazes de derrotar Israel” e concluindo que “Nós não podemos prever exatamente que formas as lutas revolucionárias vão tomar no Oriente Médio”. Em outras ocasiões e contextos (talvez antes de ganhar colaboradores israelitas cuja existência eles precisariam justificar) a LRP foi menos ambígua ao declarar que o Estado sionista será derrubado externamente por uma ou várias revoluções socialistas regionais vitoriosas, provavelmente lideradas pela classe trabalhadora egípcia.

Enquanto uma revolução socialista nativa feita pelos trabalhadores israelitas e palestinos seja preferível, deve-se reconhecer que é uma possibilidade, de fato, que uma revolução socialista que derrube o Estado sionista tenha que ser, por fim, imposta de fora sem o apoio da maioria dos trabalhadores judaicos. Não devemos nos opor se for esta a saída no final.

Mas reconhecer que isso é uma possibilidade, ao mesmo tempo em que não diz aos revolucionários palestinos e israelitas o que eles devem fazer nesse meio tempo, a não ser talvez esperar passivamente que os trabalhadores árabes em seus países venham ao seu resgate? (E o chamado da LRP e da ISL por uma “Revolução dos Trabalhadores Árabes” deixa de fora não apenas os israelitas judeus, mas também os curdos, berberes, armênios e muitos outros grupos não-árabes na região). Está faltando nesse esquema qualquer tipo de estratégia revolucionária ativa.

Comentário Posterior

Desesperança sobre as capacidades revolucionárias da classe trabalhadora nos países capitalistas economicamente avançados foi a base política não apenas da Nova Esquerda, mas também do abandono stalinista da revolução mundial para construir o “socialismo num só país” e de todas as suas traições que daí partiram. Essa também foi a base política implícita do pablismo, que por vezes também descartou a classe trabalhadora dos países do Terceiro Mundo nesse processo, baseado em noções similares. Às vezes esse raciocínio se tornava mais explícito, como num artigo da Quarta Internacional de maio-junho de 1962, escrito por Michel Pablo, que cita Frantz Fanon de maneira aprovadora, dizendo que o proletariado do Terceiro Mundo

“‘(…) está entre as camadas mais protegidas do regime colonial. O proletariado embrionário das cidades é relativamente privilegiado. Ele representa uma fração do povo colonizado necessário e insubstituível para o funcionamento eficiente do aparato colonial – condutores de trens, motoristas de taxi, mineiros, estivadores, intérpretes, trabalhadores da saúde, etc. Esses são os elementos que constituem a camada mais leal dos partidos nacionalistas e que, do lugar privilegiado que ocupam no sistema colonial, constituem a fração ‘burguesa’ do povo colonizado.’”

Pablo comenta que

“A análise que Fanon faz do papel do proletariado urbano pode parecer exagerada para um marxista europeu; mas com restrições, ela se ‘encaixa’ bem àqueles países com um fraco desenvolvimento industrial.”

É claro que a LRP e a ISL argumentariam que se opõem ao stalinismo, à Nova Esquerda e ao pablismo. Eles argumentariam que não descartam a classe trabalhadora dos Estados Unidos ou a classe trabalhadora dos países capitalistas avançados, e que a sua análise é específica para a classe trabalhadora de Israel. Mas eles também tendem a resumir o que é, em última instância, um apoio autodestrutivo da classe trabalhadora israelita ao sionismo, a questões de privilégio econômico (sendo um tanto cegos com relação a outros fatores envolvidos, como o trauma histórico devido à opressão passada e os horrores do holocausto, o medo de uma represália nacionalista árabe, a desesperança a respeito da solidariedade internacionalista com base na história das traições stalinistas, etc.). Mas enquanto é verdade que a classe trabalhadora israelita é significativamente privilegiada em relação aos palestinos, a classe trabalhadora dos EUA é significativamente mais privilegiada do que a classe trabalhadora israelita, e do que a da maior parte dos países por sinal. No artigo escrito em uma das suas muitas encarnações políticas anteriores, o camarada Schwartz corretamente percebeu que:

“É possível, é claro, culpar a classe trabalhadora judaica, sustentar que é interesse dos trabalhadores servir ao sionismo. Mas nós dizemos que a classe trabalhadora judaica, assim como todas as outras frações da classe trabalhadora, tem apenas um interesse: revolução proletária.”

“Sobre a Primeira Guerra Árabe-Israelense”
Workers Vanguard (jornal da Liga Espartaquista), janeiro de 1974

Ao invés de resumir o apoio judeu ao sionismo a privilégios (que sem dúvida é um, mas apenas um dos fatores), o seu artigo ecoava a declaração de Trotsky, no Programa de Transição, de que em última análise “a crise histórica da humanidade se reduz à crise de liderança proletária”:

“A explicação para o controle sionista não está nos interesses da classe trabalhadora judaica, mas na sua posição organizativa, sua falta de qualquer preparação ou lutas independentes. E a responsabilidade por essa situação pertence ao Partido Comunista [stalinista].”

De um ponto de vista um pouco variado e em graus diferentes, é claro, a rejeição da ênfase de Lenin e Trotsky na centralidade da liderança revolucionária, a “questão do partido”, é de fato um dos elementos que a LRP e a ISL tem em comum com os pablistas. Ambas a LRP e a ISL rejeitam explicitamente o argumento de Lenin em “O que Fazer?” de que a consciência revolucionária/marxista deve se infiltrar através de uma luta para dentro da classe trabalhadora, contra a enorme quantidade de ideologias falsas/burguesas existentes, via um partido de vanguarda. Os neo-economicistas e movimentistas contemporâneos preferem embelezar a realidade em favor de uma imagem admitidamente mais consoladora e impaciente de uma classe trabalhadora espontaneamente revolucionária. Embelezar a trágica realidade da atual consciência atrasada dos trabalhadores israelitas judaicos é, obviamente, algo muito mais difícil de fazer (para não mencionar que atrapalha uma adaptação oportunista ao que é, atualmente, uma consciência árabe nacionalista, não marxista, ainda que certamente mais receptiva). Mas um dos fatores por trás da necessidade de um partido revolucionário é precisamente o fato de que as lutas das várias camadas das massas oprimidas tendem a ser setoriais (quer seja ao fazer uma greve contra um patrão em particular, ou se organizar contra a brutalidade racista da polícia numa comunidade específica, ou travando lutas contra um tipo imediato de opressão, etc.) e a sua consciência política e compreensão tendem, portanto, a ser setorialistas, refletindo os seus interesses mais imediatos, em oposição aos seus interesses históricos, internacionalistas e classistas.

Unir as lutas dos variados setores da classe trabalhadora e oprimidos (nacionalmente e internacionalmente) é o trabalho do partido revolucionário, infiltrando a compreensão de seu interesse comum em atacar a raiz capitalista da sua opressão. Essa compreensão teórica necessária sobre o funcionamento da sociedade capitalista (o tema central de “O que Fazer?” é que não pode haver movimento revolucionário sem teoria revolucionária, ou seja, marxista) e os meios necessários para derrubá-la, de fato, não surgem espontaneamente.

Mas se a classe trabalhadora não pode entrar numa batalha bem sucedida pelo poder espontaneamente, ela pode desde que exista uma liderança revolucionária. A rejeição desse entendimento só pode levar a um fatalismo objetivista, geralmente pessimista, embora às vezes de uma variante “otimista” baseada em seguir as massas. Ambas as atitudes impedem a possibilidade de uma luta bem sucedida da classe trabalhadora pelo poder.

Em A Revolução Traída, Trotsky descreveu aqueles com atitudes fatalistas como “adoradores do fato consumado”, notando que “quem quer que cultue o fato consumado é incapaz de se preparar para o futuro”. Tendo desesperança a respeito da atual consciência recuada dos trabalhadores israelitas judaicos, a LRP e a ISL se esquecem do bordão de Marx sobre a realidade, de que “a questão é transformá-la”.

Descartar efetivamente a possibilidade de liderar os trabalhadores palestinos e judaicos numa luta conjunta pelo poder de Estado põe grandes contradições para a ISL em relação ao seu propósito declarado de existência. James P. Cannon também descreveu o dilema da ISL em Os Primeiros Dez Anos do Comunismo Americano:

“A stalinização do partido foi na verdade o resultado final de um processo de degeneração que começou durante o longo boom dos anos 1920. A prosperidade prolongada daquele período, que foi tomada como se fosse permanente pela grande massa do povo norte-americano e todas as classes, não deixou de afetar o próprio Partido Comunista. Ela amaciou os quadros de liderança do partido e minou a sua confiança original nas perspectivas de uma revolução neste país. Isso os preparou, no fim, para uma aceitação fácil da teoria stalinista de ‘socialismo num só país’.”

“Para aqueles que aceitaram essa teoria, a Rússia, como o ‘país escolhido’ da revolução vitoriosa, se tornou um substituto para a revolução norte-americana”
(…)
“O que aconteceu com o Partido Comunista aconteceria sem dúvida a qualquer outro partido, incluindo o nosso próprio, se ele abandonasse sua luta por uma revolução social neste país como uma perspectiva realista para nossa época, e se degenerasse ao papel de um simpatizante de revoluções em outros países.”

A lógica de tal perspectiva pode levar a ISL a percorrer o caminho e se tornar uma versão israelita do lamentável e recentemente morto Movimento Internacionalista Maoísta (embora sem dúvida bem mais inteligente e menos psicótica), se não a categoria mais comum de ativista de solidariedade reformista ou economicista sindical como os Partidos Comunistas. Na palestra, os apoiadores da LRP e da ISL responderam que eles não defendiam construir o “socialismo em um só país”. De fato, ninguém pode construir o socialismo num só país, seja ele Israel ou qualquer outro. A vitória das lutas revolucionárias numa escala mundial é um pré-requisito para isso. Mas isso que faz a LRP é confundir a questão de construir o “socialismo num só país” com a necessidade de liderar a classe trabalhadora numa luta para tomar o poder de Estado em escala nacional, no contexto de um enfrentamento pela revolução mundial.

Trotsky resumiu o dilema da ISL bem ao resumir a perspectiva dos “adoradores do fato consumado” em A Revolução Traída:

“Na realidade, nossa disputa com os Webbs não é sobre a necessidade de construir fábricas na União Soviética e empregar fertilizadores minerais nas fazendas coletivas, mas se é ou não necessário preparar uma revolução na Grã-Bretanha e como isso deve ser feito. Sobre esse assunto, os experimentados sociólogos respondem: ‘Nós não sabemos’.”

Stop The Liquidation Of The Trade Union Work!

“…to demand from the trade union bureaucracy, which is hunting for Communists, that the latter be benevolently installed to work with the necessary comfort, threatening the bureaucrats, if they refuse, the Communists will ‘strike’, that is refuse to do revolutionary work—to demand that is manifest nonsense.”

    —Trade Union Problems in America, Leon Trotsky, September 23, 1933

Stop The Liquidation Of The Trade Union Work!

Break With The Robertson-Foster-Nelson Misleadership!

[Printed on June 25 1983. Copied form http://www.bolshevik.org/ETB/ET_1983_TU_doc.html ]

The resignation of the SL supported Militant Action Caucus stewards in Los Angeles and the Bay Area represents a qualitative shift away from the SLUS’ orientation towards the organized working class. There is a straight line from giving up on the fighting capacity of the organized workers, to flying during the PATCO strike despite the picket lines, to liquidating the trade union caucuses. The SL leadership is surrendering the Leninist/Trotskyist position of fighting within the reactionary-led trade unions for revolutionary leadership. The lessons of Left-Wing Communism, An Infantile Disorder are being thrown out the window. The union-centered caucuses, based on recruiting workers to build an alternative leadership in the unions, are being transformed. The primary orientation of the remaining shells will be directed away from the unions. Trade union work will be continued, but only to provide an economic base for the SL and an occasional orthodox veneer for its leadership.

The authority that the SL cadre in LI, T1, T2, II and BI accumulated through years of sweat, blood and persecution is being pissed away overnight; the SL leadership knows that the effects of this liquidation are nearly irreversible. The SL supported MAC stewards cannot walk back to their supporters some months from now and say ‘we made a mistake’ or ‘times have changed’, simply picking up at the point where they abandoned the workers. Union members have long memories. Just as bitter jokes and pointed questions followed Waters and Edwards out of the unions, the wholesale resignations of MAC stewards are already bringing them the reputation of being quitters. For example, talk about “…ritual suicide in front of 140 New Montgomery…”!! (If you don’t get the joke, read the Bay Area MAC’s April, 1983, convention election leaflet titled—ironically?—”Elect Fighters, Not Fakers.”).

Workers Don’t Trust Quitters

You don’t lead people into battle and then desert them. Yet that is just what MAC is doing. Having fought and won in Local 11502 to retain its stewardships, MAC thanked the many stewards and members who defended it…and quit. Also, in Local 9410, where just six months ago 1000 members rallied to Kathy’s defense, demanding an end to her trial and the recall of the bureaucrats, MAC is quitting. Stan, member of the SL-supported Militant Caucus, correctly put forward a motion, at a membership meeting, for a union stop work action to protest Nazi activities in Oroville. The motion passed. Then he was ordered to flip-flop, abjectly criticize himself, not go to Oroville, and attack those longshoremen who went and carried signs calling for Labor/Black defense guards to smash fascists. This abstentionism has fed into a pool of bureaucratically fanned resentment that made it easier for the leadership to discredit him.

Don’t kid yourselves, comrades. A MAC or MC member who stands on the sidelines criticizing, or who takes wildcat action to demonstrate militancy, will not possibly have the effectiveness or respect of a MAC or MC steward, who does daily battle with the company and the trade union bureaucrats.

Apparently, some MAC members realized this. In Los Angeles, one steward refused to resign from his position. MAC then demanded and received his resignation from the caucus. There continues to be opposition inside MAC to the liquidation.

Declare A Faction! Fight To Oust The Regime!

Comrades, the moment has come to act against the SL/iSt’s historic leadership before it totally destroys what it once built. It has gutted the Canadian, Australian, British and German sections. They have been reduced to mere satellites of the US, comparable to the relation between Healy’s SLL and the “sections” of its IC. Now Robertson & Co. are destroying the trade union work, completing the process of purging long term trade unionists, such as Waters, Edwards and Harlan. We urge the SL/iSt cadre to oust the present regime in order to return to the SL’s formerly correct orientation.

We urge those who still hold executive board and other official union positions, together with other SL cadre, to declare a faction. Refuse to resign your positions and demand that no more resignations be carried out until the upcoming National conference. This conference has the authority to halt the destruction of the trade union centered caucuses and international work. SL cadre must insist on their right to form a faction and their right to retain membership. If you are loyal to the traditional Spartacist program, it is time to stand up and fight, knowing full well that the SL leadership will immediately move to purge you.

Some of the leading cadre may have gone along with the leadership to this point hoping that the arbitrary organizational abuses would blow over. It is still possible for comrades to organize and fight for a return to the proletarian perspective to which so many were initially recruited.

Some long term unionists may believe that they can prove their loyalty and safeguard their SL membership by meekly following the leadership’s orders to discredit themselves in the unions. Comrades, don’t illude yourselves! Robertson & Co. have a great fear, as Foster has stated, that anyone who leaves the SL and remains in their union will be in opposition within a year. In the past this meant that they were first purged from the organization and then driven out of their union. However, this hasn’t always worked. In an effort to correct the shortcomings of this approach they are now ordering the trade unionists to discredit themselves in their unions before they are purged from the SL. Resist your political destruction while you still have a chance.

The critical task at hand, of putting the SL back on the correct political track and saving the trade unionists from extinction, cannot be done by passively acquiescing to the leadership—it must start with a conscious decision to fight. Comrades who may have wondered what it was like to have been in the SWP in the 1950s and early sixties as it incrementally slid away from Trotskyism are living through the beginning of the same process today in the SL. Sometimes it proceeds in ways that are hard to see when you are right up close, but the unmistakeable preparations for the complete liquidation of 15 years of LI work and 10 years of T2 work should set off bells in the heads of every cadre in the tendency, and should bring them out fighting against the liquidation of the trade union perspective.

There Is An Alternative To Suicide

Howard stood up to the leadership when it demanded that he commit political suicide in the union. He resigned from the Militant Caucus rather than quit the union Executive Board and throw away the authority and respect for the Trotskyist program that was gained over the years of work in the union. The MC’s purge of Howard marked its transformation from a transitional organization into a front group that is now largely abstentionist on union issues.

Howard began publishing the Militant Longshoreman and has twice been re-elected to the local Executive Board on a class struggle program, despite the fierce opposition from both the union bureaucracy and the SL. Today, he stands as a solitary but authoritative class struggle pole at a time when the union faces a critical test over the union-busting use of scab labor at Levin’s Richmond Paar 5.

In contrast, forced to perform flip-flops and to self-criticize his fighting instincts in print, Stan’s authority in the union has been eroded. Only those of us who value his nearly 25 years of committed work, time spent largely in defense of the revolutionary program, willingly and actively took up his defense in the union.

Stan’s Trial

Questions must be posed regarding the ineffectual wildcat picket line at berths H, I & J against the Lafayette which led to Stan’s trial. There are at least two interrelated factors that we can see having led to the wildcat. First, the SL’s developing political disorientation on the unions. Second, the SL’s view that union leadership positions are not worth the time and trouble they cost the organization. So they undertook an action which they knew from past experience might very well lead to just the type of charges that followed.

The SL leadership approached the El Salvador boycott from the premise that elected union bodies are just “dens of thieves”. In Stan’s last election leaflet, Longshore-Warehouse Militant No. 17, January 14, 1985, he says of the union conventions and caucuses:

“I’m running for those positions because the membership needs a voice in those dens of thieves and an honest set of eyes to report all their sellouts back to you.”

Thus Foster, Nelson & Co. gave up in advance the possibility of winning an officially sanctioned stop-work action. Additionally, they did not want an officially-led action because they believed it would simply have refurbished ILWU President Jimmy Herman’s credentials (an argument that Faber made to Edwards in an attempt to justify not fighting for the abortive Oroville-related work stoppage in December 1982). So they pushed Stan and the others to mount a wildcat which, even though destined to be ineffective, would still plant their banner firmly on the side of internationalism. Substituting a handful of MC-members for the union was a conscious act.

The SL leadership knows how to do these things right: several times the SL—after weeks of lining up support inside the union—has mounted large picket lines at piers, keeping its caucus supporters in the background, precisely to avoid victimization.

More important, the fraction has had significant success in organizing actual stop-work actions by the union on international issues. First, the 1974 Chile boycott and second, less directly, the 1977 boycott of South African cargo. The Chile stop-work action took months to pull off. This work included a carefully constructed united front committee, combined with a fortunate political conjuncture. At the time, the SL hailed it as an exemplar of militant working-class action and used it as a basis for recruitment throughout the world. As a result of this united front action Stan returned to Trotskyism after a six-year hiatus during which he consciously tried reformism; Howard was recruited and the Militant Caucus was born.

The SL leadership’s determination to root out its old trade union strategy and to prove that any further union-centered caucus building would be a waste of time, is evident in Workers Vanguard 331, 3 June, 1983, where they write the Chile boycott out of history. Only a political leadership which has either no confidence in its membership or utter contempt for them, changes course by falsifying the past, rather than openly debating the new turn.

There are several indications that, if properly prepared and organized, the El Salvador (or South African) boycott could have been—and still could be—pulled off: First, the 23 signatures that Stan originally collected on the call for a port shutdown; second, the final outcome of Stan’s trial, which shows at least passive support for his position. However, only the most token effort was made to build a picket line, as proven by the fact that not a single other member of Stan’s local was on the picket line when it was thrown up.

Stan’s defense was waged in the same sectarian, ineffective and politically treacherous way right up until the membership meeting, when a last minute change in tactics ensued. Stan refused to accept the offer of long-time Militant Caucus supporter Fred A., who is widely respected on the waterfront, to act as defense counsel. Is this because Fred collaborates closely with Howard? Then, at the constituting meeting of the trial committee, Stan stated that he did not picket the berth but only the ship. So what were he and the MC and the SL doing at the entrance of berths H, I & J? Telling workers at berths I & J to cross their picket line? Is that why one of Stan’s own hand-picked witnesses testified at the trial that it was only an “informational” picket line? Is the SL leadership’s PATCO position finally being brought into the open through the back door? Dismissing the unions as essentially agents of the bourgeois state logically leads to a position that “picket lines mean cross!”

At the trial itself, Stan took the line that the local and international union leadership equals the CIA and Ronald Reagan. He attacked the trial committee as agents of the enemy, and, with his supporters, acted in the most provocative and foolish manner. Had they waged a sensible and politically correct defense, perhaps the trial committee would have voted for an outright acquittal. After all, they did vote down the bureaucrats’ demand that Stan be barred from office.

Only at the membership meeting, where Stan was ultimately acquitted, did he shift his ground from the argument that the union equals Reagan/CIA to focus on the real issues. There is a definite possibility that, had he not changed course, he would have been convicted. His victory provides a breathing spell, but it should not be exaggerated or misinterpreted. In the months before the trial, Fred A. and Howard encountered widespread hostility and/or scepticism from those who had voted for and even worked with Stan just a few short months ago. The 72 signatures gathered for the united front leaflet “NO TRIAL AGAINST STAN GOW!”, that Fred and Howard initiated and distributed widely throughout the local, were hard to come by. Throughout the weeks leading up to the trial and membership vote, Fred and Howard persisted in Stan’s defense. They spoke at membership and Executive Board meetings. They talked to a large number of members about the real issues of the frame-up charges. They informed members that the international, embarrassed by the publicity about Stan’s trial in the bourgeois press, had disassociated itself from continuing the trial. At the membership meeting they played a significant role in turning the attack against Stan into an attack against the local leadership, charging them with “conduct unbecoming a member”.

But only Stan’s last minute change of tone and approach, intersecting the membership’s rage at the calling of the cops on Jackie, their mistrust of a leadership which is not defending their jobs, and their untapped opposition to the US’ support to the blood drenched El Salvadoran junta, snatched victory from the jaws of defeat.

The outcome of Stan’s trial should be used as a springboard to build properly organized and effective action against El Salvadoran cargo and/or South African cargo. We continue to stand ready to participate in either of these actions.

The “den of thieves” longshore caucus split. Workers Vanguard 331, 3 June, 1983—without acknowledging the Militant Caucus’ earlier position—says the longshore caucus only:

“…narrowly backed a move by the bureaucracy to table the shutdown resolution, 34 to 25. This strong show of support from a body that has the power to implement Gow’s class-struggle call threw a scare into the bureaucracy and the purge trial is an immediate and direct result.”

The “CIA/Reaganite” trial committee also split. These splits should cause the SL to correct its course, return to its Trotskyist analysis of the contradictory nature of the union bureaucracy, and get on with rebuilding the union-centered caucus. The first step should be waging a serious local-wide effort in defense of Jackie’s job and the principle “picket lines mean don’t cross!” However, judging from Los Angeles Militant Action Caucus, where, having defeated the bureaucracy, the stewards quit, no such correction will occur.

Has The Nature Of The Unions Changed?

This brings us to the “theoretical” justification for why the MAC stewards were ordered to resign. In Militant Longshoreman No. 5 (February 4, 1983), Howard said of the Militant Caucus and its co-thinkers in Workers Vanguard:

“Rather than openly stating their reorientation and defending it politically, they are trying to camouflage it by extending their correct historic opposition to the union bureaucracy into a blanket condemnation of the union.”

In a recent article accurately entitled “Doug Fraser: Company Cop” (Workers Vanguard 330, 20 May, 1983), the SL suggests that:

“One can compare Fraser’s joining the Chrysler board with the German Social Democrats’ voting for war credits on August 4, 1914. At that point the Social Democrats became not just sellouts but direct agents of the Kaiser…”

This is not the first time the August 4 analogy has been floated with reference to the UAW. Such a reference unmistakeably implies an assessment that there has been a fundamental shift in the character of the UAW.

As we have already mentioned, the Longshore-Warehouse Militant No. 17 (January 14, 1983) characterized the delegated ILWU bodies as simply “dens of thieves”.

In the Militant Action leaflet (May 16, 1983) to CWA Local 11502 explaining their resignations, Britton and Delgadillo say:

“Appointed stewards are expected to play the role of policemen on the shop floor, enforcing company policy and preventing union members from opposing these policies or even defending themselves when victimized.”

If Fraser joining the Chrysler board qualitatively changed the union, why did the SL leadership always aspire to build a Teamster fraction and caucus after Fitzsimmons (with the tacit support of the entire AFL-CIO bureaucracy) joined Nixon’s Wage Board? Why did SL supporters hold executive board slots and stewardships in the ILWU when Bridges was sitting on the Port Commission, planning and carrying out Mechanization and Modernization (M and M), developing the skilled steadymen system, and openly collaborating with the employers to destroy the union’s job base? It is ironic that the same longshore caucus that the Militant Caucus described as “dens of thieves” according to Workers Vanguard 331 (3 June, 1983) only “…narrowly backed a move by the bureaucracy…”. You cannot have it both ways. If you are just disoriented, then admit it and reopen your ranks to a faction of former members who will be glad to help straighten you out.

Did the CWA just yesterday donate its headquarters to the AIFLD-CIA? Were Jane, Gary, Kathy etc. really just cops for the company all along? What has changed? CWA stewards have always been appointed. For a decade, MAC members achieved de facto election through petitions circulated in their workplaces, signed by a significant number of their fellow workers, demanding their appointment as stewards. Or do you think that the union bureaucrats would have appointed militants voluntarily? Who are you trying to kid? Or have you forgotten the dual nature of the union bureaucracy? The brothers and sisters who insisted on MAC members as stewards constituted a base of support far stronger than many electoral bases, and the bureaucrats knew it.

If all an appointed steward can do is be a cop, why did CWA 11502 stewards and members force the reappointment of MACers who were”

“…attempting to defend members suspended by the company for failure to comply with the brutal speed up of the new productivity quotas”

Militant Action, May 16, 1983

Realizing that a blanket dismissal of appointed stewards as just cops would not wash, the SL leadership forced a shift in focus in the Bay Area MAC resignation leaflet. Suddenly it discovered that “factfinding” forced stewards to cross the class line. But factfinding has been in the contract for the last two and a half years while SL supporters served as stewards!

In Militant Action, San Francisco, 20 February, 1981, MAC stated:

“The new factfinding procedure guts what little protection our members had under the old contract. It strips union stewards of virtually any power to fight for the members”.

and further:

“No MAC steward will participate as a factfinder. We will not be parties to this class collaborationist scheme to screw the membership.”

MAC stewards have since February 1981 successfully refused to take part in factfinding. So we ask, what has changed?

What about the successful fight by a long time SL supporter, who now supports the External Tendency, to retain his stewardship in CWA Local 4304 last June? When the CWA district rep put out a bulletin announcing layoffs, this militant wrote on the bulletins “The Time to Act Is While We Still Have Jobs —For A Nationwide Strike to Stop Layoffs!—Dump the Democrats and Republicans—Build A Workers Party”. He was immediately suspended from his stewardship, but a mobilization of his local members and other stewards forced his reinstatement.

These incidents may not be formal elections but they are the next best thing. They are a hell of a lot more real than Britton and Delgadillo’s disingenuous claim that they”

“…look forward to standing for election by union members as a steward…”

Militant Action, May 16, 1983 

If the SL leadership can no longer tell the difference between a militant steward and a cop, the CWA membership certainly can and is willing to fight to keep the militants in their positions as stewards.

We wonder whether the basic surrender in the CWA explains the half-hearted defense of Kathy I. While the local campaign has been somewhat effective, there has been no serious effort to duplicate the successful, nationally organized defense campaign of Jane M. Where are the telegrams, petitions and resolutions in defense of Kathy from CWA stewards and members in Cleveland, New York, Chicago, Louisville, Portland, Los Angeles, Houston, and other locals where MAC still has union supporters, or who participated in Jane M.’s defense (UCASSH)? Certainly, if the SL leadership still believed that Kathy’s position on the executive board and the defense of MAC was really worth the effort, the support of more than one-fourth of the local membership for recalling the entire local CWA leadership could have been the springboard for a national campaign to drop the charges.

The SL leadership offers one other “proof” of the new role of the unions: concessions. But concessions are a linear outgrowth of simple trade unionism. If all you ask for is a bigger piece of the pie, when the pie gets smaller you ask for less. And when there is allegedly no pie at all, you pay to bake one.

In the caucuses on the West Coast, beginning with the wave of strikebreaking and scabherding in 1976, we always told the union membership that the logic of the bureaucrats’ position, “what’s good for the companies is good for the union” was to propose lower wages, no hiring hall, reduced benefits for pre-seniority workers, etc. Our predictions came true with a vengeance throughout the labor movement. But that is why we fought for leadership in the unions on the transitional program then and why we are—and you should be—fighting for it now.

It is hardly an accident that having given up on the capacity of the organized workers to transform their unions into fighting weapons, the SL leadership more openly bruits about the possibility of taking the unions to court, and not only to SL members.

“…in spite of the progressive degeneration of trade unions and their growing together with the imperialist state, the work within the trade unions not only does not lose any of its importance but remains as before and becomes in a certain sense even more important work than ever for every revolutionary party. The matter at issue is essentially the struggle for influence over the working class”.

—”Trade Unions In the Epoch of Imperialist Decay” by Leon Trotsky

Is the SL leadership arguing that quantity has turned into quality? Al Nelson’s statement to Jensen, that an entire ILWU local is racist, seems to indicate that the unions have changed so much that Trotsky’s description no longer applies. Does the SL believe that the ILWU, CWA, UAW (indeed, all US unions) have simply become company unions? If so, they have not proved their case.

In the McCarthy period, when the unions were infinitely more closed to reds than they are now, when Trotskyists and Stalinists were being beaten and physically thrown out of the plants if they showed up for work, the SWP leadership did everything possible to maintain its foothold in the unions. Yet today, when Trotskyist trade unionists fight local bureaucrats in Local 9410 to a virtual standoff, the SL abandons its positions. Robertson & Co. are committing a conscious betrayal.

We believe that the SL “reassessment” of the perspectives for building an alternative class struggle pole in the unions is at best impressionistic and ahistorical; at worst, it is a major departure from Leninism/Trotskyism in the direction of looking for a revolutionary vanguard other than in the working class. We believe that the observation in Marxist Bulletin No. 9, Part III, that:

“Any definition of ‘propaganda’ which excludes this element of seeking to offer real revolutionary leadership in a few key situations is mere pretense in favor of an alien appetite…”.

—”Memorandum on the Transformation of the Spartacist League”

is as true today as it was in 1969. Likewise the assertion in the same document that:

“For an organization of our size and tasks, we should seek to have 30 – 40% of our membership active in trade union work”.

—”Trade Union Memorandum”

The LBSL—No Replacement For Union Centered Caucuses!

Clearly the SL is putting its eggs in the basket of the Labor Black Struggle League (LBSL). It is no accident that the LBSLs are being announced at the very moment that the caucuses, as we know them, are being liquidated. The LBSLs are designated to replace the union-centered caucuses as the SLUS’ main transitional organizations. The tactic of the LBSL is fine; it is only wrong if it is counterposed to and built on the corpses of the union-centered caucuses.

Ever since the June 27 Chicago anti-Nazi mobilization, the SL has made a sharp turn toward black work. The results have been mixed. On the one hand, there was the overwhelming success November 27 in DC, where for the first time in decades, large numbers of blacks mobilized behind the banners of a red and predominantly Caucasian organization. On the other hand, recruitment to the SL has been negligible despite the original post-DC projections. Indeed, we wonder why the SL did not organize a contingent in Norfolk, the home of the labor-centered Nat Turner Brigade, around the slogan “For A One-Day General Strike to Defend Busing”.

There are at least two reasons for the failure to recruit and hold the new recruits in significant numbers. First, the continuing purges and the waves of fear accompanying them makes the organization unattractive to new recruits and even to old ones who rejoin and uproot themselves to move across the country in the cause of revolution. Imagine you thought you had joined the Nat Turner Brigade and you discovered you had joined the Yuri Andropov Battalion instead!

Second, the SL’s approach to the LBSLs smacks of a Trotskyist variant of the “community organizing” strategy of the Black Panther Party, PL, RU/RCP, etc. against which the SL so powerfully polemicized. Without the anchor of the trade unions and the nucleus of their leadership in the caucuses, the effect of anti-Nazi/KKK mobilizations, however powerful, will tend to be dissipated back into the amorphous community. This is an ABC lesson about work among the unemployed and the unorganized drawn by Cannon from the CLA’s experiences in the 1930s.

Diana derisively said to us, when we came to try to convince Kathy not to resign as steward, “Stewards aren’t where it’s at. You guys have the mentality of petty trade union bureaucrats.” There are times when a small propaganda group would legitimately decide to focus on an area other than trade union work to build its forces. But the SLUS is liquidating its caucuses at a time when there are no major regroupment possibilities that could conceivably be offered as justification. Leftward moving SDS, PL in its period of rejecting nationalism, the Black Panthers before they split—each reflected sectors of the student, left or black population in significant motion which a small Trotskyist organization could realistically attempt to regroup. Today, unfortunately, there are no parallels.

There are significant, comparable and interrelated stirrings in the black communities and the integrated industrial unions. In both cases, they have been primarily electoral and only occasionally have burst these bounds. Hungry, angry, desperate blacks register by the tens of 1000s in the Democratic Party under the aegis of hustler Jesse Jackson, rebel occasionally as in Miami or turn out for left-led anti-fascist mobilizations. Hundreds of 1000s of integrated workers in city after city turn out at the call of their unions in marches to demonstrate their anger at Reaganomics. Bureaucratic misleaders desperately seek to channel this anger back into the Democratic Party, and try to isolate the occasional militant strikes—that challenge their class collaboration—like Canadian Chrysler or the recently defeated seven month long UAW strike against Caterpillar.

Voluminous Workers Vanguard sales at the labor parades, and the union members many years of electoral support for and repeated defense of class-struggle militants (not to mention the steady if only linear recruitment of stable supporters to the caucuses) lack the dramatic quality and immediate political importance of the anti-fascist Labor/Black mobilizations. However, we as Marxists know that concentrated and socialized in the plants at the point of production, workers have power and the maximum ability to be brought to class consciousness.

At a time when the fascists are on the offensive, trying to polarize the US working class along race lines, it is critically important that revolutionaries remain in the integrated industrial unions and seek, by building alternative leaderships around the transitional program, to turn the unions into “instruments of the revolutionary movement of the proletariat” as Trotsky advocated in “Trade Unions in the Epoch of Imperialist Decay”.

As we said in the Declaration of an external tendency of the iSt:

“The long-awaited and inevitable upsurge of American workers will come and when it does it will be expressed through the only working-class organizations in the US, the trade unions. Without an early political and organizational corrective, the SL/US will be in no position to take advantage of it, thereby losing the opportunity to build the core of a Bolshevik workers party.”

Comrades, the SLUS is crossing the Rubicon. The time to act is now. In the ILWU, as Harry Bridges drove the union toward destruction, workers increasingly said he couldn’t stand to see the union outlive him. In a move to keep the lid on and preserve bureaucratic rule, Bridges lieutenants forcibly pensioned him off. If JR has the Harry Bridges syndrome and can’t stand to see the SL/iSt outlive its founder’s political life, then we propose to pension him off. But we don’t propose to let his lieutenants run and ruin the show. Throw them off the Central Committee, take the WV, the keys, the money and the building from their hands, and let them rejoin the ranks to rehabilitate themselves by putting in a few good years of yeoman’s service for the revolution.

EXTERNAL TENDENCY OF THE IST

P.O. Box 904 P.O. Box 332
Oakland, CA 94668

Adelaide Street Station
U.S.A. Toronto, Ontario
Canada

P.O. Box 14158
Cleveland., Ohio 44114

APPENDIX A

MILITANT ACTION

PUBLISHED BY THE MILITANT ACTION CAUCUS
THE CLASS STRUGGLE OPPOSITION IN THE CWA
P.O. BOX 27365 LOS ANGELES, CA 90027

The Militant Action Caucus would like to thank all the sisters and brothers of this local who came out to support us in our fight to be reinstated as stewards in this local. Upon reflection experience shows us that to be an appointed steward comes into conflict with a class-struggle perspective. With the coming contract fight and the local bureaucrats’ plans to shove the new sellout down our throats, the local misleaders find it necessary to tighten their grip on the stewards. Coming to the defense of the membership is to put your job as an appointed steward on the line. It is impossible to be an appointed steward and at the sane time uphold the program of the caucus. Therefore, with all this in mind, all caucus stewards will be submittingx the following letter of resignation to the union.

To: Chief Stewards Office

I hereby resign as a steward of CWA Local 11502.

Appointed stewards have proven to be a tool of the anti-worker pro-company union bureaucracy. Appointed stewards are expected to play the role of policeman on the shop floor, enforcing company policy and preventing union members from opposing these policies or even defending themselves when victimized.

That this is the case was clearly demonstrated when three appointed stewards—Manuel Delgadillo, Barbara Britton, and Manuel Morales—were de-certified by the Local 11502 officers for attempting to defend members suspended by the company for failure to comply with the brutal speed up of the new productivity quotas. For acting in the interests of the members against the company they were accused of operating outside of “normal union channels.”

I refuse to be reduced to the role of an appointed toady acting as an agent for the company. My loyalties lie with the workers and their struggles against the company.

I look forward to standing for elections by union members as a steward on a program of fighting speed up and all other company profit-mailing schemes and fighting against the social-democratic, pro-CIA, pro-company union bureaucracy that acts as labor lieutenants of the bosses to enforce this company’s anti-worker policies.

Barbara Britton
Manuel Delgadillo
For the Militant Action Caucus
labor donated 5-16-83
For information call: 664-9256, 698-4871

APPENDIX B

MILITANT ACTION

PUBLISHED BY THE MILITANT ACTION CAUCUS
THE CLASS STRUGGLE OPPOSITION IN THE CWA
P.O. BOX 6571 SAN FRANCISCO, CA 84101
P.O. BOX 24851 OAKLAND, CA 94823

We Won’t Be Flunkies For Imerzel & Co.
SHOVE IT, MR. SELLOUT!

The local union bureaucracy has drawn the line by demanding that all stewards must be factfinders or be fired as stewards. MAC stewards have refused to be factfinders since the inception of this class collaborationist procedure in 1981. Factfinding is a joint union/company scheme where the union acts in open collusion with the company on members’ grievances. Class collaboration is concrete—factfinding is like having your defense lawyer prepare your case jointly with the District Attorney who’s trying to hang you! We said we’d have no part of it when it started, we won’t have any part of it now. We militantly defy Imerzel’s pro-company edict and have resigned as stewards (see letter on back).

Both the company and the union bureaucracy love factfinding. For the union it’s the logical result of years of capitulation to the company. Union and company officials expect stewards to channel the justifiable outrage of members against increasing speedup, harassment, suspension and firings onto pieces of paper called “grievances”. So workers are told by both the company and the union to do what the company demands now and grieve it later. And months, sometimes years, later—where’s your grievance? It’s either sold out or dumped in the garbage. The red-tape grievance procedure is meant to keep the membership from taking immediate and effective action to stop company attacks. That’s why MAC has campaigned repeatedly for the local right to strike over grievances. The company only understands power, you won’t stop them with thousands of paper grievances.

Further, our members don’t even have the right to choose who will and who will not be their stewards. Stewards are appointed (and fired) by the bureaucracy. It’s no wonder that the majority of stewards aren’t trusted by the members. How many stewards use their appointed post as a stepping stone into management? How many act as cops on the shop floor, enforcing company policy and preventing members from fighting against victimization? How many act as company finks? How many are totally frustrated by the stacked deck grievance procedure or just quit in disgust after the majority of their grievances get no where? Look at what Imerzel, McKenna and Zupan did to MAC member Kat Burnham last August. In the service of the company, they set her up and finked on her to management—who then put her on indefinite suspension warning. Her grievance is still “pending”. In the Oakland local, an executive board member recently went into management and his successor got this turncoat’s endorsement for the executive board slot! Meanwhile, a petition signed by 19 out of 22 workers at 45th St. C.O. naming a MAC member as steward was dumped in the trash by the union officers.

The bureaucracy expects appointed stewards to be tools of their anti-worker, pro-company policies. Out of reach of any membership control, finks and traitors often further their little careers by stepping over the members they’re supposed to represent. MAC says—No officer or steward on the company “Ready Now” list! Dump factfinding! For the election of stewards by the members they represent!

MAC will continue the fight to win workers to our class struggle program. We are forging a new leadership to sweep out the rotten, pro-company bureaucrats. We are fighting for mass mobilizations of the working class and oppressed to smash racist cop violence and the rise of KKK/Nazi terror. We are for militant labor action to stop Reagan’s dirty war in Central America, the front line of the bipartisan anti-Soviet war drive that is leading straight to thermonuclear war. We are for breaking the workers movement from the Democrats and Republicans, the twin parties of the bosses. We need to build a workers party based on the unions which will throw out the capitalists and set up a workers government. Then we can establish a rational planned economy that can end unemployment, poverty, racism and imperialist war once and for all. JOIN MAC!

(We reprint below the letter submitted to the union 6-2-83)

June 1, 1983

TO: EXECUTIVE OFFICERS

CHIEF STEWARD

We hereby resign as stewards in the CWA. You have drawn the line by demanding that all stewards be factfinders or be fired. We defy your pro-company edict! We will have no part of the rotten, class collaborationist factfinding scheme which forces stewards to be cops for the company and screws the members.

Further, since stewards are appointed by you and not elected by the members, you expect slavish loyalty in return. We refuse to be reduced to the role of appointed toadies for flunkies of the company. This is further underlined by the experience of MACers who served as appointed stewards in the L.A. local. For fighting in the interests of the members and aggressively defending several suspended workers, they were fired as stewards by your cohorts in the L.A. bureaucracy.

From your order to factfind to your dumping of the recall petition to your ongoing purge trial against Kathy Ikegami—your policies are pro-company and anti-worker!

We look forward to running for elected steward on the MAC program. We will continue to wage an implacable fight against the pro-CIA, pro-company CWA bureaucracy that serves as labor lieutenants for the bosses and their government.

(signed)

Kathy Ikegami
Paul Costan
Steve Gonzalez
George Sonntag
Rosa Penate

For information: 821-9830/550-7518 Labor donated
6-2-83

Militant Longshoreman No. 6

Militant Longshoreman

No. #6 Dec. 3, 1983

[This issue was reprinted with a clarifying introduction ET Bulletin #2, January 1984. We are including that introduction. First posted online at http://www.bolshevik.org/ETB/ETB2/ETB2.htm#greyhound ]

Militant Longshoreman on Greyhound Strike

A Strategy to Win

15 December—We reprint below Militant Longshoreman No. 6 which was distributed both at the Greyhound strikers’ mass picket in San Francisco on 3 December and inside the ILWU. Due to a transcription error, “Prepare for a General Strike,” which was intended to be a superheadline, was made the main headline. This gives an incorrect emphasis in a leaflet whose text posed the issues and tactics correctly. The key now is to organize the continuing, random and largely leaderless participation of ATU and non-ATU union members on the picket lines to sustain mass picketing to shut down Greyhound. “If,” as the Militant Longshoreman notes correctly, “Feinstein’s cops attack the pickets, the whole city should be shut down. Nationally, a San Francisco general strike could spark a needed solidarity strike of all the transport unions to support the ATU.”

At the December 3rd events, the SL carried signs and led chants focussing primarily on “picket lines mean don’t cross.” While formally correct, in a situation where all the major unions involved are honoring the picket lines—with the disgusting exception of the UAW in Detroit—this represents a tactical skew. The real issue now is mass pickets to stop the scab buses. While ET supporters carried a sign at the mass pickets on 3 and 10 December saying “Anti-Soviet War Drive Abroad Means Union Busting at Home!,” the SL carried no such signs to our knowledge. This is noteworthy from an organization which accuses its critics of wanting to accommodate to the bureaucracy, in part by taking a dive on the Russian question. Another ET sign said “Prepare for a General Strike Against Feinstein’s Cops’ Strikebreaking” and “Break With Feinstein’s Democrats—Build a Workers Party” and the Militant Longshoremanemphasized her strikebreaking role in the ILWU as part of our active fight in longshore to mobilize support for the strike. But not one SL sign that we saw mentioned Feinstein’s strikebreaking! From an organization which once rightfully prided itself on its no-holds-barred opposition to her strikebreaking, this omission is noteworthy.

BUILD AFL-CIO, IBT, ILWU MASS PICKETS TO SHUT DOWN GREYHOUND!

PREPARE FOR A GENERAL STRIKE!

The Greyhound strike is now at a turning point. The ATU membership’s second massive rejection of the 25% takeaway contract means that Greyhound’s initial strategy failed. Greyhound expected that by hiring some scabs and getting 10% of the runs going, the union members would be scared into going back to work. Less than 2% have succumbed to the pressure. The strike remains strong.

Greyhound’s new announcement that it will attempt to resume full service can mean only one thing: it intends to break the strike physically, not only with scabs but with cops.

The only reason any buses are rolling in San Francisco now is because Feinstein’s cops attacked the picket line the first day of the strike. They made it clear that any further attempts to stop the buses would be met with more arrests and beatings. ILWU International President, Herman, together with the AFL-CIO Central Labor Council and the Teamsters’ leaders arranged a “truce” with Feinstein which was completely against the strikers: no cops will be around so long as the union doesn’t try to stop the buses! As Greyhound hires more scabs, this “truce” will mean that the trickle of scab buses will become a stream and then a river.

The holes in the picket lines must be plugged. The cops must be faced down and backed off. Labor has the power: there are tens of thousands of union members in San Francisco alone. Every day mass pickets, a thousand strong, should surround and shut down the Greyhound terminal. Members of all unions, particularly transport workers from AC Transit, Muni, BART, the Teamsters, longshoremen and the railroads, should organize to beef-up the ATU picket lines.

Every worker has a stake in the strike. It is the most important attack on labor nationally since Reagan busted PATCO. The destruction of PATCO was a big step in Reagan’s drive to force down the standard of living of U.S. workers in order to make them pay for his anti-Soviet war drive. Since PATCO’s defeat, the airlines have attacked the airline unions one by one, rolling back wages and benefits, and, at Continental, firing everyone. If the machinists, flight attendants, baggage handlers, teamsters, etc. had stuck together—if they had ignored and thrown out the union officers who ordered them to cross each others’ picket lines—PATCO would still exist today and the airline unions wouldn’t be in a mess.

Labor must not be divided—together, the unions have the power to defeat Feinstein and the other Democratic mayors and Republican governors who have ordered cop attacks on the strikers—from Boston to Philadelphia to Tucson. Feinstein is an enemy of labor. From PROP. L in 1974, to the defeated City Workers strike in 1976 and ever since, she has been in the forefront of anti-union attacks. But Feinstein has twice been beaten by forces with far less strength than the unions. When Dan White was let off with manslaughter in 1978, her cops stood by, vastly outnumbered by gays vividly demonstrating their anger. In 1980, when the Nazis tried to celebrate Hitler’s birthday at San Francisco city hall, a coalition of unionists, blacks, Latins, Jews, gays and socialists, initiated by the Spartacist League, announced that they would mobilize thousands strong to run the Nazis out—and Feinstein suddenly changed her mind about providing five hundred blue-uniformed stormtroopers to protect the Hitlerites. Feinstein, like most northern Democratic politicians, is dependent on working class and minority votes to keep in office and is therefore susceptible to mass pressure.

The ILWU, AFL-CIO and Teamster leaders won’t take the necessary action. Right now they are honoring each others’ picket lines. They realize that if too many more unions are smashed they won’t have the dues base to pay their businessmen’s salaries nor the political leverage to get themselves appointed to city and county jobs. But they’ll make a deal at the strikers’ expense at a moment’s notice. They caved into Moscone, Feinstein & Co. in ‘76. First, they threatened a general strike. Then they ran like scared rats. Now they are at it again. Two weeks ago—November 17—Jimmy Herman called longshore Local 10 officers to get their agreement to participate in a one-day general strike to support the Greyhound strikers. Armed with Local 10’s (and probably other unions’) agreement, Herman, the AFL-CIO and Teamster leaders marched into Feinstein’s office. They “won” a “truce” which keeps the scab buses going and they got the much-publicized Feinstein letter to Reaganite Deukmejian. The tokenism of this threat was proved when Addison and Keylor put a motion on the floor to mobilize longshoremen to the Greyhound picket lines and the Local 10 officers ruled it out of order. Had Herman & Co. forgotten where plumbers’ union leader Mazzola’s weakness ended him in 1976? Right smack in Feinstein’s jail!

The ILWU’S recent strike in Richmond shows there’s another way—the way to win. When Levin Terminals tried to bring in outside labor to steal our jobs; when the international officers ruled our strike illegal and our business—unionist local officers vacillated—we massed more than 1,200 strong in Richmond. Our union backed off the notorious Richmond killer cops. In solidarity, we shut down all Bay Area ports despite our contract which said we couldn’t. Our action beat the injunction, stopped the union-busting, won a union contract, and stopped Levin’s bid to take the auto work, container and break bulk cargo from longshoremen.

That’s what’s needed with Greyhound. If Feinstein’s cops attack the pickets, the whole city should be shut down. Nationally, a San Francisco general strike could spark a needed solidarity strike of all the transport unions to support the ATU.

The San Francisco general strike could bring the unemployed to our side by fighting for a shorter work week at no loss in pay to create jobs and by demanding full restoration of all cuts in city, county and state medical and welfare payments.

The way to maximize the chance of winning a general strike is to elect a strike committee representing all unions. This centralized strike committee would run the strike, oust the timid pro-capitalist labor bureaucrats and smash the alliance with the capitalist Democratic party.

Fred Addison
Howard Keylor

Sobre Marxismo e Feminismo

Sobre Marxismo e Feminismo
 

O seguinte artigo foi originalmente publicado pelo Reagrupamento Revolucionário em março de 2009, com o título Sobre Feminismo e “Feminismo”. Sua tradução para o português foi realizada por Marcio Torres e Icaro Kaleb em julho de 2011.

Introdução

Esse mês, enquanto adicionávamos materiais sobre opressão às mulheres na seção de Documentos Históricos de nosso site, vimos necessidade de escrever uma introdução para clarificar a confusão com a qual leitores desse tipo de artigo costumam se deparar no que diz respeito às críticas que eles contêm ao “feminismo”. Tais artigos não foram escritos por nós, mas pela Liga Espartaquista [SL/EUA] e pela Tendência Bolchevique Internacional [TBI] no tempo em que tais organizações, mesmo possuindo falhas, eram capazes de auxiliar no avanço do programa marxista. Enquanto os artigos como um todo defendem uma visão revolucionária sobre a opressão às mulheres, hoje em dia nós os teríamos escrito de forma diferente, ao menos quanto ao problema em questão.

Os artigos (e os grupos que os escreveram) visaram defender a causa da libertação feminina, apesar de muita confusão ter sido, e ainda ser, desnecessariamente causada pela rígida insistência deles em definir o feminismo de uma maneira que é diferente daquela da maior parte dos leitores de esquerda. Enquanto a maior parte das pessoas define feminismo como a simples afirmação da igualdade entre os sexos, sem necessariamente ligar a isso um programa mais elaborado ou uma análise de como atingir tal situação (“a teoria da igualdade política, econômica e social entre os sexos”, como descrito pelo Dicionário Online Merriam Webster), os artigos rigidamente insistiram que o termo designa um programa específico e uma teoria contraposta à luta pelo socialismo. Um artigo escrito por um militante da TBI em 1997, abordando a questão de forma estabanada, afirma:

“Feminismo e socialismo são coisas diferentes. Feminismo não pode ser simplesmente resumido à luta pelos direitos das mulheres. Ele invoca a ideologia nociva de que mulheres de classes diferentes podem lutar contra a opressão a partir de uma base comum – e, portanto, automaticamente confina a luta aos limites do capitalismo.”
 
Censura Sexual e Direitos Femininos
Boletim Marxista 4, outubro de 1997
 
Tradição marxista
 
Historicamente o movimento marxista desenvolveu o uso de uma terminologia extremamente específica para suas elaborações teóricas, mas que nem sempre esteve em sincronia com o desenvolvimento geral do resto da sociedade e seu entendimento acerca de tais termos. Mas, na busca por avançar (e desenvolver) as concepções e entendimentos políticos daqueles que vieram antes, cada geração de revolucionários é frequentemente forçada a adaptar suas convenções terminológicas (mantendo o sentido original subjacente), por necessidade de se dirigir a audiências contemporâneas mais largas, e com o propósito de se manter atualizado com as concepções populares por detrás de tais termos.
 
Nos EUA, marxistas frequentemente se deparam com confusões envolvendo as diferenças entre os termos “socialista” e “comunista” quando falando com grandes públicos. Apesar de trotskistas normalmente usarem tais termos de maneira alternada, enquanto sinônimos, a confusão tende a surgir do fato de existir um vago entendimento entre os leitores de que, em certos contextos, “Socialista” (especialmente com S maiúsculo) indica um reformista socialdemocrata, enquanto “Comunista” (especialmente com C maiúsculo) indica um stalinista.
 
Marx e Engels foram confrontados por um dilema semelhante, antes mesmo da ascensão do reformismo socialdemocrata e do stalinismo contemporâneos. Em sua introdução de 1890 à edição alemã do Manifesto Comunista, Engels comentou:
 
 em 1887 o socialismo continental era quase exclusivamente a teoria proclamada no Manifesto. Assim, até certo ponto, a história do Manifesto reflete a história do movimento operário moderno desde 1848. Atualmente, é sem dúvida o de maior circulação, o mais internacional produto de toda a literatura socialista, o programa comum de muitos milhões de trabalhadores de todos os países, da Sibéria à Califórnia.”
 
“Contudo, quando ele apareceu, não podíamos chamá-lo um manifesto socialista. Em 1847, dois tipos de pessoas eram considerados socialistas. De um lado estavam os adeptos de vários sistemas utópicos, notadamente os seguidores de Owen na Inglaterra e de Fourier na França, ambos os quais já haviam, à época, minguado a meras seitas, morrendo gradualmente. Já do outro lado, os mais variados charlatães sociais, que com as suas diversas panaceias e com toda a espécie de remendos queriam eliminar os males sociais sem ferir o capital e o lucro. Em ambos os casos: pessoas que estavam fora do movimento operário e que, ao invés, procuravam apoio junto das classes ‘cultas’. Em contrapartida, aquela parte dos operários que estava convencida da insuficiência de meras revoluções políticas, [e] exigia uma reconfiguração profunda da sociedade, essa parte chamava-se então comunista. Era um comunismo mal formado, instintivo, por vezes grosseiro; mas ainda assim era suficientemente poderoso para engendrar dois sistemas do comunismo utópico, na França o “icário” de Cabet, na Alemanha aquele de Weitling. Em 1847, socialismo significava um movimento burguês, comunismo um movimento operário. O socialismo, pelo menos no Continente, era algo respeitável, já o comunismo era precisamente o contrário. E como já nessa altura éramos muito decididamente da opinião de que ‘a emancipação dos operários tem de ser obra da própria classe operária’ [citado das Regras Gerais da Internacional], nem por um instante podíamos estar na dúvida sobre qual dos dois nomes escolher. E desde então nunca nos passou pela cabeça rejeitá-lo.”
  
Nas notas de rodapé de 1922 daquela que é tida por muitos como a edição definitiva do Manifesto Comunista, D. Ryazanoff também discutiu a evolução histórica de muito da terminologia utilizada nos escritos de Marx e Engels, por exemplo:
 
“’Proletário’ agora significa aquele cujo único meio de sobrevivência é a venda da sua força de trabalho. Seu significado original, na forma latina proletarius, significava aquele cujo único bem eram seus descendentes, sua cria (prole) (…) Há pouco em comum entre esses proletários romanos e os proletários europeus sem-terra e sem-teto de nossos próprios dias, salvo apenas o nome (…). A palavra proletariado para descrever a classe dos assalariados não entrou em uso corrente até a primeira metade do século dezenove (…).
 
Está claro que a principal preocupação de Marx e Engels era ter suas idéias entendidas corretamente pelos outros. Compreendendo que eles não poderiam arbitrariamente ditar a mudança no entendimento popular das palavras, eles não estavam inclinados (exceto às vezes em seus escritos mais estritamente científicos e teóricos, nos quais a precisão exata era necessária para clarificação) a teimosamente se dedicar a argumentações infrutíferas sobre definições ou significados inéditos se não fosse necessário à transmissão de suas idéias.
 
Em um âmbito um pouco diferente, quando membros negros do Partido dos Trabalhadores Socialistas (SWP dos Estados Unidos) nos anos 1940 protestaram contra o uso da palavra “niggardly” [avarento] na literatura do partido, ao invés de se apegar teimosamente ao dicionário e insistir que, formalmente, a palavra não possuia nenhuma relação com o epíteto racial [“nigga”, algo como o termo pejorativo “crioulo”], o movimento trotskista abandonou o uso da palavra para não causar nenhum tipo de desentendimento ou confusão desnecessários.
           
As Origens e Consequências do anti-“feminismo”
 
Um antigo texto espartaquista que postamos previamente argumenta:
 
“O existente movimento pela libertação feminina, tanto o liberal quanto o radical, tende a ver o sexo como a básica ‘divisão de classe’ na sociedade. Esse baixo nível de desenvolvimento teórico significa uma oportunidade para os marxistas intervirem com uma linha classista. Porém, nós tornaremos nossa intervenção inútil se nos apegarmos a uma análise muito simplificada de que a única forma de opressão é a opressão de classe, e confinarmos nosso interesse à super-exploração econômica das mulheres trabalhadoras.”
 
“A questão de classe é o ponto decisivo na sociedade de classes. Porém, outros tipos de opressão também existem – por exemplo, opressão racial, opressão nacional, opressão contra a mulher. Negar que os revolucionários marxistas não devem dar atenção a essas questões é sectarismo e flagrantemente anti-leninista. É vital que os revolucionários participem dessas lutas. A base dessa participação deve ser a compreensão de que a questão de classe é decisiva e, portanto, qualquer movimento que falhe em identificar-se com a luta da classe trabalhadora contra a classe capitalista está fadado a ser tomado por utopias, excentricidade, ilusões liberais e – em última instância – irrelevância.”
 
A Luta Pela Libertação das Mulheres (1969)
 
Enquanto apresentando essa compreensão política correta, o artigo em questão não possui nenhum ataque ou mesmo menção ao “feminismo”. A explicação para a subsequente mudança na política quanto a isso é apresentada em uma das primeiras edições de “Woman and Revolution” [periódico da Liga Espartaquista voltado para questões da luta das mulheres trabalhadoras]:
 
“A defesa do SWP-YSA [Socialist Workers Party – Young Socialist Alliance] contra as tentativas das feministas de atacá-los têm sido fracas. Eles tentam minimizar suas diferenças políticas com as feministas alegando serem feministas e socialistas. Feminista foi certa vez o termo que socialistas utilizaram para descrever mulheres que lutavam por sua libertação. Mas, por um período de 50 anos, o termo passou a designar aqueles para quem a divisão fundamental na sociedade é entre homens e mulheres, e que lutam pela supremacia das mulheres (…)”
 
“As visões socialista e feminista são claramente contrapostas. Assim como Lenin, que certa vez reivindicou orgulhosamente ser um Socialdemocrata se desagradaria de ser chamado assim após as traições da ‘Socialdemocracia’, também Clara Zetkin não se reivindicaria uma feminista hoje em dia.”
 
SWP-YSA ENTRA EM CENA, mesmos truques, novo território
Woman and Revolution 2, setembro/outubro de 1972
           
O líder espartaquista Jim Robertson reafirmou essa explicação alguns anos depois, em um discurso feito em 27 de agosto de 1974 sobre James P. Cannon:
 
“Aliás, Rose [Krasner, companheira de Cannon] era uma militante socialista feminista dos anos 1910 e 1920. ‘Feminista’ significava outra coisa naquela época – além de outros significados, que casamento era uma abominação: significava se ajoelhar e colocar correntes ante um homem e o Estado.”
 
“James P. Cannon”
Reimpresso em Spartacist, inverno de 1986
 
Se, teoricamente, à época o significado popular de “feminismo” realmente estivesse caminhando na direção alegada (e no momento não estamos convencidos de que estava), então a mudança de atitude teria feito sentido. Mas deixando de lado essa questão de análise histórica, é bem claro que hoje em dia o equivalente a gritar “Abaixo o feminismo!” é obviamente uma abordagem pobre, tido que a Liga Espartaquista e a Tenência Bolchevique Internacional estão usando uma dada definição de “feminismo”, e a maior parte da esquerda e da população vêem a palavra com um significado (mais geral e vago) diferente. Em vez de esclarecer, tal abordagem apenas gera ruído e deixa tais grupos abertos a suspeitas desnecessárias de que eles talvez sejam hostis ou indiferentes à libertação das mulheres (em alguns aspectos, similar à reação de muitos militantes negros do SWP ao uso da palavra “niggardly”), quando eles estão, na verdade, argumentando que a mesma só pode ser atingida em uma sociedade socialista.
 
Algumas vezes isso foi também desorientador para os próprios grupos em questão, tanto em sua compreensão histórica quanto em sua compreensão da realidade contemporânea. Assim, um panfleto (que no restante está correto) que postamos anteriormente da Tendência Bolchevique [predecessora da TBI] argumenta:
 
“Quer se apresente sobre o nome de feminismo ou ‘feminismo socialista’, a lógica dessa análise é guerra dos sexos tão certamente quanto a lógica do marxismo é guerra de classes.”
 
Chega de Cabides de Arame! (sem data, final dos anos 1980)
 
A não ser por uma minoria localizada nos extremos, a maioria das pessoas que se consideram “feministas” (e muito menos pessoas que se consideram “feministas socialistas”) não defendiam no passado e não defendem hoje a “guerra dos sexos”. Um antigo artigo histórico de Woman and Revolution notou que:
 
“Contrariamente a uma opinião ainda restrita a certos círculos, o feminismo moderno não nasceu inteiramente do fértil útero da Nova Esquerda, mas é de fato uma cria ideológica do igualitarismo utópico do início do século vinte, que por sua vez era fruto da revolução democrática da burguesia.”
 
“Feminismo vs. Marxismo: Origens do Conflito”
W&R número 5, outono de 1974
 
Verdade, porém os marxistas não renunciam alguns dos ainda progressivos ideais do Iluminismo, mas defendem que sua realização para a maioria da raça humana pode se dar apenas através da extinção da sociedade de classes. Assim, ao mesmo tempo em que não nos referimos a nós mesmos enquanto democratas, humanistas ou feministas, não denunciamos a democracia, o humanismo ou o “feminismo”. Ao invés disso, nos opomos à democracia burguesa, ao humanismo liberal, ao feminismo liberal e a todas as ideologias de aliança de classe, separatistas e setorialistas em geral.
 
No mesmo sentido, Leon Trotsky ficou bastante nervoso por seu livro Terrorismo e Comunismo ter recebido o título Ditadura versus Democracia na tradução em inglês, uma vez que isso poderia levar apenas à confusão entre vários leitores e distorceu a relação entre socialismo e democracia.
 
Indiferença Sectária
 
Tal crescente indiferença quanto a ser claramente entendido é geralmente um sinal de que um grupo está se transformando em uma seita despolitizada, dominada por uma liderança geriátrica e crescentemente longe do contato com a realidade política e social contemporânea. Tendo ficado muito limitados ao computador e à mesa de escritório ao longo de muitos anos de suas vidas políticas, se dedicando a questões internas de administração e trabalhando com literatura política, tais “líderes” permanentes têm poucos escrúpulos em mandar seus militantes de base mundo afora para fazerem papel de tolos em eventos políticos ao defenderem formulações estúpidas. A passividade dos militantes de base frente a tal realidade pode ser reflexo de insegurança, medo, indiferença política, e, para aqueles dedicados à adoração de sua liderança, uma genuína ausência de pensamento para com tal forma esclerótica de agir.
 
Em contraste com tais práticas, ao escrever sobre a necessidade de se diferenciar a posição marxista da stalinista na defesa da URSS, Trotsky comentou:
 
“Para que essas duas variantes de ‘defesa da URSS’ não se tornem confusas na consciência das massas é necessário saber de forma clara e precisa como formular palavras de ordem que correspondam à situação concreta.”
 
Em Defesa do Marxismo (1942)
 
Em seus melhores períodos, a SL e a TBI demonstraram uma atitude semelhante, ao menos em relação a outras questões. Em uma discussão sobre “Formalismo Sectário”, uma publicação da TBI afirmou:
 
“Por exemplo, nós acreditamos que a palavra de ordem ‘Libertem todos os presos políticos!’ é uma formulação muito ruim. Nós não queremos que bandidos fascistas ou assassinos em massa de campos de concentração sejam libertados. Mas seria tolo nos excluirmos de uma campanha que lute ostensivamente para ‘Libertar todos os presos políticos!’. Acontece que frequentemente o verdadeiro significado da campanha é, de fato, para libertar as vítimas do capitalismo. Nós desejaríamos aderir a uma campanha assim, ao mesmo tempo em que deixaríamos claras as nossas criticas quanto a inadequação dessa palavra de ordem. Nós racharíamos, é claro, se a campanha de fato tentasse mobilizar esforços para libertar Rudolph Hess [membro do alto escalão do Partido Nazista durante os primeiros anos do regime]. É uma questão de qual é o verdadeiro conteúdo do bloco de ação.”
 
Construindo o Partido Revolucionário e Táticas de Frente Única (1992)
 
Semelhante apreciação do “verdadeiro conteúdo” do que o “feminismo” significa para a maioria das pessoas parece ser necessária. A posição da TBI, que foi herdada de forma acrítica da SL, se encaixa muito bem na definição de “formalismo sectário”.
 
Em um discurso proferido em 11 de novembro de 1972, o líder espartaquista Jim Robertson explicou parte da motivação pro detrás de se levantar a palavra de ordem “Por um governo dos trabalhadores!” enquanto algo popular:
 
“Nós lutamos por um governo dos trabalhadores, nos sindicatos, nas fábricas, e em nossa educação e abordagem a estudantes com a concepção do poder proletário. A ditadura do proletariado é uma formulação que sofre de alguns problemas. Um entendimento popular da ditadura do proletariado é que os trabalhadores serão colocados em campos de concentração, vocês sabem, como na Rússia. Se você fala de algum tipo de socialismo, você se depara com a imagem da alegre Suécia mantendo seus altos indicies de alcoolismo e suicídios, se mantendo vitoriosamente fora de duas guerras mundiais. [Risos] Mas o que deveria ficar claro em todos os sentidos, sobre todos os tipos de questões, é que os trabalhadores precisam de um governo próprio (…)”
 
“Uma Conversa sobre a Questão do Partido Trabalhista”
Boletim Comunista Jovem, número 3
 
De forma semelhante, comentando no mesmo discurso sobre as razões por detrás da reformulação da tradicional defesa trotskista de um “Partido Trabalhista” nos Estados Unidos para a de um “Partido dos Trabalhadores”:
 
“Se alguém fala sobre um movimento trabalhista ou um Partido Trabalhista agora – há uma boa razão para entender isso no significado mais incrustado, aristocrático, racista, chauvinista ao estilo George Meany [líder sindical norte-americano, conservador e de grande projeção nacional entre os anos 1950 e 1980]. Isso é extremamente importante, e uma das razões para a palavra de ordem ‘Abaixo os burocratas! Por um Partido dos Trabalhadores.’ Não há nenhuma diferença de concepção entre um ‘Partido dos Trabalhadores baseado nos sindicatos’ e um ‘Partido Trabalhista baseado nos sindicatos’, exceto que a terminologia projeta uma concepção um pouco diferente.”
 
Se os revolucionários justamente não querem confundir as pessoas por projetarem-se incorretamente como defensores da criação de um Partido Trabalhista Britânico para os trabalhadores dos Estados Unidos, também estamos preocupados em não confundir as pessoas projetando-nos incorretamente como socialistas ao estilo Archie Bunker [personagem fictício do seriado dos anos 1970 “Tudo em Família” – extremamente reacionário e conservador] que são hostis à libertação da mulher.
 
O Reagrupamento Revolucionário se mantém firme quanto ao conteúdo dos documentos postados e continuará a postar sobre essa questão na seção Documentos Históricos do nosso site. Nós nos distanciamos de uma política falha, não estamos alterando o programa ou princípios fundamentais sobre a opressão às mulheres. Esta é uma mudança necessária na política, no entanto. Vamos no futuro criticar correntes políticas feministas específicas, ao contrário de denunciar o termo como tal.
 
De forma mais abrangente, como apontamos em nossa introdução aos Documentos Históricos como um todo:

“Enquanto buscamos dar continuidade ao trabalho e construir sobre as contribuições daqueles que vieram antes de nós, não defendemos dogmaticamente os erros do passado que possivelmente foram cometidos de forma inevitável. Portanto, nossa postagem desses documentos reflete uma concordância geral, e não uma adesão acrítica a cada argumento ou formulação secundária.”
 
30 de março de 2009
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