Ensino à distância na educação básica significa exclusão e exploração – Diga não!

EM DEFESA DE NOSSAS VIDAS E DE UMA EDUCAÇÃO QUE SEJA PÚBLICA, UNIVERSAL E DE QUALIDADE!

Maio de 2020

Com a pandemia do novo coronavírus, muitas redes de ensino adotaram diferente formas de educação à distância: algumas ficaram no básico, as videoaulas (inclusive via televisão); outras adotaram ferramentas de EAD de fato, como, além dos vídeos, também fóruns de discussão, avaliações online etc.

Alunos de classe média podem até conseguir tirar bom proveito do ensino à distância, mas fato é que, nas redes públicas, uma grande parcela dos alunos não tem a menor condição de acessar tais ferramentas: falta internet de qualidade, computador, um local adequado no lar e uma rotina que permita o estudo. A grande maioria das famílias trabalhadoras brasileiras vive em casas pequenas, habitadas por quatro ou mais pessoas e muitas sequer têm saneamento básico, imagina internet de qualidade.

Já os educadores estão sendo jogados aos leões com a adoção do ensino à distância, pois não tiveram nenhuma qualificação prévia de como lidar com essas ferramentas e tem que se virar com seus próprios recursos para fazer as gravações, edições e colocar o conteúdo online, aumentando seus gastos com internet e energia sem nenhuma compensação. Para piorar, não há nenhuma garantia em torno do uso do conteúdo que estamos criando e que, com frequência, está sendo hospedado em serviços privados de mega-corporações estrangeiras, como Facebook, Google e Microsoft. Uma vez criados esses conteúdos, eles poderão ser facilmente usados por anos e anos pelas redes de ensino públicas e privadas sem que ganhemos absolutamente nada por eles, enquanto talvez até percamos o emprego.

Não se trata de alarmismo: no ensino superior privado as matrículas em modalidade EAD já eram maiores que as presenciais antes da pandemia, e muitos perderam o emprego, enquanto sistemas automatizados e professores superexplorados assumiram a frente de turmas virtuais com até centenas de alunos. Na “Deforma” do Ensino Médio do golpista Temer, o EAD foi permitido para até 40% da carga horária, o que é um alerta de que muitos governos e empresas já desejavam se livrar de parte dos professores e angariar muito mais matrículas, às custas da qualidade do ensino. O EAD em meio à pandemia pavimentará o caminho para esse desejo, se não resistirmos!

Ademais, o isolamento – cada aluno no seu computado ou celular – sem contato decente com colegas e professores, está longe de caracterizar ensino de qualidade: é no máximo uma versão “moderna” da velha educação bancária, baseada no decoreba de conteúdo. Ensino de qualidade envolve socialização, debate e formação de mente críticas, o que é quase impossível com meras videoaulas.

Para piorar, temos uma situação de mais de mil mortes por dia, de acordo com os números oficiais altamente sub-notificados – certamente os números reais são muito mais tenebrosos. Muitas famílias estão vivendo um verdadeiro pandemônio, com entes queridos infectados ou mesmo falecidos, com os demais tendo que se proteger e, com frequência, “vender o almoço para comprar a janta” – enquanto Bolsonaro joga com nossas vidas, criando cada vez mais dificuldades e barreiras para acesso aos míseros R$600 do auxílio emergencial.

Há possibilidade de educação de qualidade nessas condições? Que educador e que aluno estão com cabeça e tem recursos adequados para isso? Certamente não aqueles ligados à grande maioria da classe trabalhadora brasileira, cada vez mais empobrecida e precarizada. Por isso é preciso dizer em alto e bom som: ensino à distância na educação básica significa exclusão da grande maioria dos alunos e maior exploração dos educadores. E devemos dizer não a isso! O momento é de nos cuidarmos e cuidarmos do nossos, não de ficar jogando conteúdo no colo dos alunos! Também devemos ser radicalmente contra um retorno precoce às escolas, seja dos professores ou outros profissionais, como alguns governos já sinalizaram!

É urgente que os sindicatos da educação se mobilizem, convocando assembleias online para debater medidas de enfrentamento à essa situação e formando comissões de educadores, alunos e responsáveis para apresentar soluções e ações.

Onde os governos e patrões estejam implementado formas de EAD obrigatório, temos que dizem um claro NÃO! Se necessário, com greve, na forma de boicote coletivo e organizado às plataformas online, de preferência mobilizando também os alunos e seus familiares, contra essa precarização e superexploração. Temos que lutar pela suspensão imediata do ano letivo e dos calendários letivos! Quando houver condição de retorno às aulas, os educadores, alunos e responsáveis devem ter voz dominante na reorganização dos calendários, através de comissões de base.

Não devemos descartar a disponibilização de conteúdos para os alunos, de forma e online e necessariamente também impressa, mas estes não devem contar como dias letivos ou conteúdo dado, nem deve haver pressão sobre os alunos. Isso deve ser um complemento à formação, de acesso opcional! E os educadores devem ter total controle e direitos autorais sobre os conteúdos que criarem! Exigimos ainda que as redes de ensino criem canais de apoio psicológico a profissionais da educação, responsáveis e alunos, pois a prioridade nesse momento é a saúde de todos!

Onde governos e patrões quiserem demitir ou reduzir salários, temos que dizer um claro NÃO! Nenhuma família trabalhadora deve passar fome, ainda mais em meio a uma pandemia e quando o governo libera trilhões para os bancos e empresas privadas. Temos que lutar para impedir todas as demissões, dispensas e cortes de salários! Pela união dos educadores e demais profissionais! Pela integração com isonomia salarial e de direitos dos funcionários terceirizados nas redes públicas e privadas!

No caso do ensino superior, público e privado, essas mesmas demandas devem se fazer presentes. E também devemos lutar para que não haja nenhum corte de bolsa ou auxílio aos estudantes e professores, bem como que haja um maciço investimento em pesquisas sobre o novo coronavírus e produção de testes, respiradores e medicamentos necessários nesse momento. Uma forma de custear isso é tomando os lucros das mega-empresas, que são fruto do nosso trabalho e devem servir às nossas necessidades.

E não podemos nos esquecer do ENEM – diante das tentativas do governo federal de manter o exame em meio à pandemia, temos que dizer um claro NÃO! Devemos lutar pela suspensão por tempo indeterminado do ENEM, que acaba sendo um instrumento de pressão pela manutenção das aulas no Ensino Médio e cuja realização em meio a essa situação o tornará ainda mais excludente. O ENEM já é um gigantesco filtro social, pois há vagas apenas para 3% dos candidatos, que acabam sendo aqueles com melhores condições financeiras. No momento, apenas uma minoria tem condições de seguir estudando com qualidade, o que fará os filhos da classe trabalhadora terem ainda mais desvantagem. O adiamento do exame por 30 ou 60 dias anunciado pelo MEC não resolve nada!

Essas são medidas básicas em meio à pandemia, que devem ser abraçadas pelos nossos sindicatos e por todos nós. Mas nós do Reagrupamento Revolucionário defendemos que é necessário ir além, devemos ter como horizonte a universalização da educação pública, em todos os níveis, e com qualidade.

Para isso ser possível, é fundamental a estatização do sistema privado de ensino, sem compensação para as grandes redes, que tanto lucram em cima do suor de seus trabalhadores e, muitas vezes, usam grandes somas de verba pública. O mesmo deve ser feito no ensino superior, acabando com o grande filtro social que é o ENEM / vestibular. Apenas assim poderemos assegurar educação de qualidade à classe trabalhadora e seus filhos, bem como trabalho digno para os educadores e educadoras. Essa é uma medida fundamental para pavimentar o caminho a uma sociedade emancipada da exploração e opressão!

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Podcast Peão na Pandemia Episódio #4 – Pandemia sobre os educadores
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