Organizar a resistência contra Bolsonaro: por uma frente de lutas e uma greve geral para barrar os ataques! (panfleto)

[Reproduzimos aqui panfleto que temos distribuído em diferentes locais desde o fim das eleições. Diante da paralisia da burocracia sindical para barrar a reforma da previdência e seu foco em negociar um ataque “menor pior”, reafirmamos a urgência de construção de comitês de mobilização pela base e a necessidade de uma greve geral para derrubar esse e outros ataques! para uma análise mais detalhada da conjuntura nacional, sugerimos o artigo O que esperar do governo Bolsonaro e como organizar a resistência aos ataques à classe trabalhadora, mulheres, negros e LGBTs?]

As eleições foram uma vitória para os grandes empresários, banqueiros e latifundiários. Sua agenda já vinha sendo aplicada por Temer, como a reforma trabalhista e do ensino, mas esse governo já estava exausto e odiado, sobrevivendo só graças ao imobilismo das burocracias sindicais e da oposição “comportada” do PT e PSOL. Com Bolsonaro, apesar dos discursos demagógicos de “mudança” e “renovação”, os grandes capitalistas terão um governo ainda mais comprometido com os ataques aos direitos e condições de vida dos trabalhadores, em prol do aumento dos lucros, mas com certo apoio popular. Mas Haddad não era o “oposto”: seu projeto econômico era comprometido com a “austeridade” exigida pelos empresários e quase neoliberal, não merecendo apoio do povo trabalhador.

Com um discurso ultraliberal na economia e baseando-se nos mais atrasados preconceitos, Bolsonaro e seu “super-ministro da economia” Paulo Guedes pretendem aprovar um ataque ainda mais duro à previdência pública, praticamente acabando com ela, além de cortar programas sociais que hoje são direitos básicos, vender o máximo de empresas estatais que conseguir, afrouxar ainda mais as leis trabalhistas, aumentar a entrega de recursos naturais para empresas estrangeiras (principalmente dos Estados Unidos) e prosseguir o desmonte da educação e saúde públicas que Temer vinha fazendo.

A hipocrisia do discurso de “corte de gastos” fica clara diante da ampliação dos gastos estatais com os setores-chave do Estado capitalista, como os aumentos salariais exorbitantes para parlamentares e judiciário e a exclusão dos militares e policiais dos ataques à previdência. E mais claro ainda diante das bilionárias isenções fiscais e perdão de dívidas para setores do grande empresariado. Medidas que certamente serão mantidas pelo novo congresso, que conseguiu ser ainda mais atrelado aos interesses das elites do que o anterior e que tem ainda mais parlamentares reacionários, eleitos na esteira da popularidade de Bolsonaro.

É uma ilusão esperar qualquer medida institucional para frear esses ataques e a piora das condições de vida da classe trabalhadora. O legislativo e o executivo estão na mão de reacionários capachos dos grandes patrões, e o judiciário mostra cada vez mais seu comprometimento com a agenda neoliberal e seu autoritarismo para defende-la. Apenas a organização e luta poderão alterar o futuro sombrio que se avizinha. Sabendo disso, o novo governo já trabalha com a possibilidade de um aprofundamento da lei “antiterrorismo” de Dilma, para criminalizar os movimentos sociais e as mobilizações de resistência.

Mas para que haja resistência, é preciso que os trabalhadores tomem consciência de sua condição e do que está por vir. Ao contrário de Haddad (PT), Boulos (PSOL) e de burocratas sindicais como o presidente da CUT, nós não consideramos Bolsonaro um governo “legitimamente eleito” (como estes afirmaram). As eleições envolveram enormes fraudes (prisão de Lula para ficar de fora da disputa, universidades e sindicatos invadidos pela justiça eleitoral e materiais de campanha apreendidos, 12 milhões em financiamento ilegal para campanha via Whatsapp). Mesmo os que votaram no novo governo (menos de 40% do eleitorado) foram, em sua maioria, enganados por um estelionato eleitoral e por campanhas de mentiras. PT, PSOL e os burocratas acomodados à frente de boa parte dos sindicatos serão uma “oposição comportada”, por dentro das instituições da “democracia” dos patrões e apostando nas próximas eleições.

Não bastasse isso tudo, a chegada de Bolsonaro ao poder reforça os setores as extrema-direita, que durante as eleições já realizaram ataques violentos a negros, LGBTs e opositores em geral. Mas Bolsonaro não pode ser considerado um fascista –fascismo significa um movimento de massas com braços paramilitares paraaniquilar as organizações da classe trabalhadora e instaurar um comando diretodo grande capital, por cima das instituições. Tudo indica que viveremos umfechamento parcial do regime para viabilizar os ataques aos direitos e condições de vida dos trabalhadores, mas por hora Bolsonaro joga o jogo da falsa “democracia” capitalista, negociando com o congresso, o judiciário e as forças armadas.

Existem, portanto, três tarefas fundamentais: a luta contra os ataques aos direitos dos trabalhadores (“reformas”); o combate ao crescente autoritarismo judiciário e policial, especialmente na repressão de greves e movimentos sociais; e barrar o crescimento da extrema-direita truculenta. Para encaminhar tais tarefas, se faz urgente que os setores mais politicamente conscientes da classe trabalhadora construam comitês de mobilização em seus locais de trabalho, estudo ou moradia, articulando a formação de uma frente nacional de lutas que mobilize cada vez mais trabalhadores (com ou sem suas lideranças pelegas), rumo à uma greve geral por tempo indeterminado que derrube as “reformas” e force a burguesia a recuar. Uma vez na ofensiva, os trabalhadores devem lutar pela estatização das grandes empresas e bancos, para que sejam os patrões que paguem pela crise criada por sua própria ganância!

Mas nem uma frente de lutas e nem uma greve geral são suficientes em si. Enquanto durar o capitalismo, continuarão a existir crises econômicas, miséria, guerras e reacionarismo. No Brasil, os ataques ao povo e aos trabalhadores vão continuar enquanto os lucros não retomarem o patamar anterior. Só o socialismo – um governo direto dos trabalhadores, baseado na socialização das riquezas – é uma alternativa real e duradoura. Porém os grupos socialistas brasileiros (PCB, “esquerda do PSOL”) passaram os últimos anos dando cobertura “pela esquerda” à conciliação de classes defendida pelo PT, PCdoB, e pela ala majoritária do PSOL, ou propondo falsas soluções que não rompem com o capitalismo e a “democracia” dos ricos, como “Assembleia Constituinte” (MRT-Esquerda Diário) ou ainda realizando ziguezagues entre o sectarismo e o oportunismo (PSTU, hora pedindo “fora todos”, hora “eleições gerais”, hora votando em Haddad). É fundamental a construção de um partido socialista revolucionário, a partir de um novo núcleo marxista baseado em princípios sólidos. Se você concorda com essa perspectiva, venha conversar e se organizar com o Reagrupamento Revolucionário!