Os Revolucionários e a Perspectiva de Propaganda

Os Revolucionários e a Perspectiva de Propaganda

O texto a seguir é uma polêmica de 2003 entre um apoiador do Grupo Internacionalista (IG) e Samuel Trachtenberg, então membro da Tendência Bolchevique Internacional (TBI), sobre a questão da política de imprensa revolucionária. A polêmica ocorreu em uma lista de discussão da internet. A questão foi levantada pela reação do companheiro do IG à postagem de um artigo histórico da TBI sobre a Guerra da Coreia, e foi seguido de dois e-mails de resposta. A tradução para o português foi feita pelo Reagrupamento Revolucionário em janeiro de 2013, a partir da versão disponível em  http://www.bolshevik.org/Leaflets/IG_list.html.

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Data: Segunda, 20 Jan 2003
Uma questão levantada pelas postagens recentes de S [Samuel Trachtenberg]:
Por que a organização dele, a “Tendência Bolchevique Internacional”, aparentemente não publicou nenhum artigo, panfleto ou declaração sobre duas das mais recentes e cruciais batalhas da luta de classes: o locaute contra os estivadores da Costa Oeste e a luta dos trabalhadores rodoviários de Nova Iorque?
Ambos são exemplos chave de como uma guerra imperialista no estrangeiro significa repressão contra a classe trabalhadora, os negros e todos os oprimidos nos Estados Unidos. Ambas são arenas nas quais uma organização que estivesse lutando genuinamente por uma política bolchevique buscaria intervir. Em ambos os casos, o Grupo Internacionalista interviu ativamente, lutando pelo programa do trotskismo revolucionário. Mas da TBI, nada. (E eu não vi ninguém deles quando eu estive na Costa Oeste recentemente, para uma conferência contra Taft-Hartley [lei que restringe as atividades sindicais], apesar de um dos mais antigos apoiadores deles ter comparecido à reunião do ILWU [Sindicato Internacional dos Estivadores e Estocadores]).
Eu acho que isso é mais uma confirmação de que a TBI não é mais do que uma sociedade literária a caminho da socialdemocracia aberta.
— Abram
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Primeira resposta de nosso camarada
Data: Sexta, 24 Jan 2003
Eu percebi que o companheiro Abram não teve críticas à linha política do artigo histórico realmente importante que eu postei sobre a Guerra da Coreia, mas existe uma implicação no comentário dele que dá a entender que esse tipo de artigo é de alguma forma menos útil do que panfletos agitativos sobre questões mais atuais. Eu acho que é um erro contrapor os dois, e eu acho que tanto a disputa dos trabalhadores rodoviários de Nova Iorque, quanto os locautes do ILWU levantam questões importantes para a classe trabalhadora atualmente. Se o meu grupo tivesse mais capacidade, ele certamente teria produzido declarações sobre estas e uma variedade de outras lutas atuais.
Nesse momento, dados os nossos recursos, nós decidimos que a nossa orientação principal como uma organização muito pequena deve ser clarificar grandes questões programáticas, frequentemente através de disputas polêmicas com outros grupos que se reivindicam revolucionários, para poder ajudar no reagrupamento de pessoas que já são de alguma forma radicalizadas e politicamente ativas. É claro que nós apreciamos oportunidades de recrutar diretamente dentre trabalhadores sem experiência política prévia, mas para grupos de propaganda muito pequenos, essa não pode ser a estratégia principal. Primeiro, deve-se construir um núcleo de quadros e isso só pode ser feito com base em uma luta por um programa político.
A questão da política de imprensa revolucionária e da “orientação de massas” já foi foco de muitos debates políticos no movimento marxista, como na polêmica de Lenin com os economicistas em Que Fazer?, na crítica de James P. Cannon a Albert Weisbord, e nos escritos de Trotsky em A Crise da Seção Francesa. A Liga Espartaquista em seus primórdios teve debates paralelos com os grupos de Healy-Wohlforth [Comitê Internacional] e Ellens-Turner [associado ao grupo francês Lutte Ouvrière] sobre questões da política de imprensa e falsas pretensões de massa.
Essa é, eu acho, uma parte valiosa da nossa herança revolucionária e merece alguma atenção. Eu acho que nós podemos partir do reconhecimento de que tanto o IG como a TBI são organizações muito pequenas (“subgrupos de propaganda”) que aspiram ajudar na construção de um núcleo para um futuro partido revolucionário de massas. O trabalho de um grupo de propaganda é disseminar a propaganda marxista, como apontou James P. Cannon na sua História do Trotskismo Norte-americano:
“… essas circunstâncias fizeram com que obrigatoriamente nosso trabalho primário fosse a propaganda antes que a agitação de massas. Como já havia assinalado, na terminologia marxista há uma aguda distinção entre propaganda e agitação, uma distinção que não é tal na linguagem popular. As pessoas comumente descrevem como propaganda algum tipo de publicidade, agitação, ensinamentos, propagação de princípios, etc. Na terminologia do movimento marxista, como foi definida mais precisamente por Plekhanov, agitação e propaganda são duas formas distintas de atividade. Ele define a propaganda como a difusão de muitas ideias fundamentais a umas poucas pessoas, o que nós possivelmente nos Estado Unidos estamos acostumados a chamar de formação (“educação” no original em inglês). Define agitação como a difusão de umas poucas ideias, ou de uma só ideia a muita gente. A propaganda se dirige a vanguarda; a agitação para as massas.”
As citações a seguir são de duas fontes que tanto a TBI quanto o IG consideram como parte da tradição política do trotskismo autêntico: James P. Cannon nos anos 1940 e a Liga Espartaquista dos anos 1970:
Da História do Trotskismo Norte-americano:
“Nossa imprensa apontava diretamente para os membros do PC. Não tentávamos convencer o mundo inteiro. Dirigimos nossa mensagem primeiro para aqueles que consideramos a vanguarda, aqueles que se viam mais interessados em nossas ideias. Nós sabíamos que tínhamos de recrutar ao menos os primeiros destacamentos de suas fileiras.”
“O destino de todo o grupo político — se vai servir ou degenerar e morrer — se decide em suas primeiras experiências pelo modo a que responde a duas questões decisivas.”
“A primeira é a adoção de um programa político correto. Contudo, isso só não garante a vitória. A segunda é que o grupo decida corretamente qual será a natureza de suas atividades, e que tarefas se deverá fixar, dado o tamanho e a capacidade do grupo, o período do desenvolvimento da luta de classes, a relação de forças no movimento político, e assim em diante.”
“… se o grupo interpreta mal as tarefas fixadas para ele pelas condições da época, se não sabe como responder à mais importante das questões políticas, quer dizer, a questão do que fazer, então o grupo, não importa qual tenham sido seus méritos, pode cair em esforços  mal dirigidos e atividades fúteis, e passar muito mal.”
“… A conferência [de fundação] não levou em consideração todas as questões propostas pelas condições políticas do momento. Adotou somente as mais importantes, ou seja, aquelas que deviam ser respondidas primeiro.”
“O problema era entender a atual situação, o grau de desenvolvimento até o momento. Por certo, se deve encontrar um caminho até as massas para criar um partido que possa dirigir a revolução. Contudo, o caminho para as massas passa através de sua vanguarda, e não sobre sua cabeça. Isto não era entendido por muita gente. Pensavam que podiam saltar pelos operários comunistas, colocar-se dentro, no meio do movimento, e encontrar ali aos melhores candidatos para o grupo mais avançado, mais desenvolvido teoricamente do mundo, quer dizer, a Oposição de Esquerda, que era a vanguarda da vanguarda. Essa concepção era errônea, produto da impaciência e do fracasso para pensar as coisas. Em vez disto, nós fixamos como principal tarefa a propaganda e não a agitação.”
“Nós dissemos: nossa primeira tarefa é tornar conhecidos os princípios da Oposição de Esquerda na vanguarda. Não deixar-nos diluir pela ideia de que podemos ir agora até a grande massa deseducada.”
“Neste momento apareceria no horizonte uma figura que provavelmente também seja estranha para muitos de vocês, porém que naqueles dias fez uma tremendo barulho. Albert Weisbord havia sido um membro do PC e havia sido expulso por volta de 1929 por críticas, ou por outra razão qualquer — nunca ficou bastante claro. Depois de sua expulsão resolveu fazer alguns estudos. Frequentemente ocorre, vocês sabem, que quando alguém recebe um duro golpe começa a perguntar a causa do mesmo. Weisbord emergiu de imediato de seus estudos para anunciar-se como trotskista; não 50% trotskista como dizia que nós éramos, e sim um real, genuíno, 100% trotskista, cuja missão na vida era dirigir-nos corretamente.”
“Sua revelação foi: os trotskistas não devem ser um círculo de propaganda, mas devem ir diretamente à ‘massa trabalhadora’. Esta concepção devia levá-lo logicamente à proposta de formar um partido novo, porém não podia fazer isso convenientemente porque não tinha nenhum membro. Devia aplicar a tática de ir primeiro à vanguarda — quer dizer, sobre nós. Com uns poucos amigos pessoais e outros, começou uma enérgica campanha de ‘sondar’ por dentro e ‘golpear por fora’ o pequeno grupo de 25 ou 30 pessoas que tínhamos organizado naquele momento na cidade de Nova Iorque. Enquanto nós proclamávamos a necessidade de propagandear aos membros e simpatizantes do PC como um caminho em direção ao movimento de massas, Weisbord proclamava um programa de atividades de massa não a estas, nem sequer ao PC, senão a nosso pequeno grupo trotskista. Ele estava em desacordo conosco em todas as questões e nos denunciava como falsos  representantes do trotskismo. Quando dizíamos apenas sim, ele dizia positivamente sim. Quando dizíamos 75 ele elevava a oferta. Quando dizíamos ‘Liga Comunista da América’, ele chamava a seu grupo ‘Liga Comunista de Combate’, para fazer soar mais forte. O coração e o centro da disputa com Weisbord era a questão da natureza de nossa atividade. Ele estava impaciente por saltar dentro da massa trabalhadora, por cima da cabeça do PC. Nós rechaçamos este programa e ele nos denunciou com um denso boletim mimeografado, um atrás do outro.”
“Havia gente impaciente entre nossos quadros que pensou que a prescrição de Weisbord podia ser um bom intento, um caminho para um pobre pequeno grupo para fazer-se rico rapidamente. É muito fácil isolar as pessoas reunidas juntas numa pequena casa, a menos que conservem o sentido da proporção, da saúde e do realismo. Alguns de nossos camaradas, inconformados com nosso lento crescimento, foram atraídos pela ideia de que necessitávamos só de um programa para o trabalho entre as massas, para ir até elas e ganhá-las.”
“Nós, com nossas críticas e explicações teóricas, aparecíamos ante os olhos de todos como um grupo sem sentido, impertinente e teimoso. Nós seguíamos cuidando de fazer-lhes entender que a teoria do socialismo em um só país é fatal para o movimento revolucionário; que devíamos esclarecer esta questão da teoria a qualquer custo. Enamorados pelos primeiros resultados do Plano Quinquenal, só faltava que nos procurassem para dizer ‘Esta gente está louca, não vivem neste mundo’. Ao tempo em que dezenas e centenas de milhares de novos elementos começavam a olhar para a União Soviética, saindo adiante com o Plano Quinquenal, e o capitalismo parecia entrar pelo cano, aqui estão os trotskistas, com seus documentos debaixo do braço, exigindo que vocês leiam seus livros, estudem, discutam, etc. Ninguém queria escutar-nos.”
“Decidimos que a coisa mais revolucionária que podíamos fazer não era sair por aí a fora a proclamar a revolução na Union Square, tampouco tratar de nos pôr à cabeça de dezenas de milhares de operários que não nos conheciam, nem saltar sobre nossas próprias cabeças.”
“Nossa tarefa, nossa obrigação revolucionária, era imprimir, fazer propaganda no sentido mais estrito e concentrado, ou seja, publicação e distribuição de literatura teórica.”
Da introdução aos Documentos do Coletivo Marxista de Buffalo (Young Communist Bulletin No. 1):
“Dada a ausência de um partido de massa da classe trabalhadora dos Estados Unidos, a tarefa principal da SL/RCY [Liga Espartaquista/Juventude Comunista Revolucionária] é acumular uma coluna de quadros e atingir os trabalhadores e estudantes politicamente mais avançados para a política revolucionária. Esse é um ponto profundamente mal-entendido pela Nova Esquerda, membros do PL, maoístas e ‘radicais’ de todos os tipos cheios de esquemas utópicos sobre como conquistar as massas ‘agora’”.
“Enquanto os antigos membros da Nova Esquerda com o seu recém-achado ‘leninismo’ se iludem ao achar que um grupo de poucas centenas ou mesmo de poucos milhares, com um programa mínimo, mas cheio de boas intenções, pode organizar ‘a classe trabalhadora como um todo’, a SL/RCY está acumulando uma coluna de quadros que lhe tornará capaz de intervir de uma forma efetiva e principista no movimento da classe trabalhadora. Esses membros da Nova Esquerda, ignorando as tarefas preparatórias e propagandísticas necessárias para a construção de um partido revolucionário de massas, veem incorretamente a ênfase da SL/RCY em polêmicas públicas e reagrupamento como algum tipo de sectarismo insano.”
“A SL/RCY sempre argumentou que todos os esquemas para crescer rápido que ignoram a necessidade de desenvolver quadros coerentes e conscientes só pode levar às piores políticas oportunistas. O oportunismo flui de uma incompreensão da relação entre o partido e a classe. Um grupo pequeno que espera ‘liderar as massas’ sem o necessário trabalho preparatório, inevitavelmente se verá seguindo o atual nível de consciência da classe trabalhadora com a adição de alguns floreios ‘socialistas’”.
“Enquanto o reagrupamento hoje não pode levar imediatamente ao tipo de partido de massa como os que se afiliaram à Internacional Comunista (em razão do tamanho relativamente pequeno da esquerda e da sua falta de uma base real na classe trabalhadora), a SL/RCY busca atrair todos os militantes que vão ajudar na preparação de tal partido de massas. Ao fazer isso, nós temos intervido ativamente nos movimentos que se reivindicam revolucionários como um rígido núcleo de atração comunista. Os quadros que nós buscamos recrutar não são apenas os radicais ‘puros do movimento’, sobre os quais o PL tanto se anima, mas também de forma igualmente importante, aqueles que têm experiência organizativa e teórica em outras organizações de esquerda”.
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A segunda resposta de nosso camarada
Data: Sexta, 24 Jan 2003
Na minha postagem anterior, eu tentei explicar o que a TBI vê como a principal responsabilidade de uma pequena organização de propaganda. O que é essencial é produzir material marxista de primeira qualidade, que seja bem escrito e, ainda mais importante, programaticamente correto. “Melhor menos, desde que melhor”, para pegar uma frase emprestada de Lenin. É claro que também é bom comentar sobre tantas questões quanto possível.
Infelizmente nós não fomos capazes de produzir um panfleto sobre a recente negociação dos rodoviários, mas nas manifestações do sindicato, nós nos concentramos em distribuir nossa declaração sobre a iminente guerra contra o Iraque que eu anteriormente postei nessa lista, e em vender a edição atual do nosso jornal 1917, junto com uma edição anterior que contém um longo artigo de capa intitulado “Movimento Sindical Norte-americano Sitiado”, que discute o desenvolvimento histórico do movimento sindical norte-americano e o seu atual estado político devido às traições dos burocratas sindicais. Nós também vendemos a nossa edição do Programa de Transição, de Trotsky, que inclui uma longa introdução sobre a sua relevância nos dias de hoje e uma coleção de documentos sobre a história do trabalho comunista e trotskista nos sindicatos. Nós acreditamos que os trabalhadores rodoviários mais conscientes que possam ser recrutados diretamente para uma organização revolucionária estarão interessados em questões políticas mais amplas, além da sua atual disputa salarial.
Mesmo com uma declaração sobre a atual situação nos rodoviários, sem apoiadores no sindicato teria sido virtualmente impossível para nós ou para o IG lutar pela liderança da força de trabalho. Nós queremos evitar a megalomaníaca falsa postura de massa do tipo que a [então degenerada] Liga Espartaquista adotou com a sua afirmação de que o seu pequeno grupo estava próximo de desempenhar um papel de liderança revolucionária para os trabalhadores da RDA [Alemanha Oriental] em 1989-90.
O primeiro volume das edições de Spartacist, que ao longo dos anos 1960, junto com alguns panfletos, era a única publicação da então revolucionária Liga Espartaquista, lançou as bases para o reagrupamento com uma camada significativa de membros da Nova Esquerda no começo dos anos 1970, que a transformou qualitativamente como organização e expandiu vastamente a sua capacidade de propaganda. Isso também proveu o material humano necessário para iniciar a construção de colaterais comunistas ativas nos sindicatos, como o companheiro Abram irá confirmar. Essa história é resumida em nossa edição do Programa de Transição. Conforme a SL se degenerou, a sua liderança tomou uma decisão consciente de desmantelar todas as suas colaterais sindicais, algo contra o que os fundadores da TBI lutaram.
Faltava à SL revolucionária dos anos 1960 a capacidade de realizar intervenções de massa sérias e o seu jornal saía na melhor das hipóteses duas vezes por ano, e por vezes tinha apenas oito páginas. Isso significava que ela perdia a oportunidade de comentar sobre algumas coisas muito importantes. Por exemplo, a SL não foi capaz de publicar um artigo sobre a intervenção soviética na Tchecoslováquia em 1968, nem publicou nenhuma análise significativa dos Panteras Negras até 1972, quando eles já estavam em um estado avançado de declínio político. Também havia muitas lutas sindicais que a SL era incapaz de cobrir nesse período. Isso não se devia à indiferença política, mas sim a uma capacidade limitada.
Ao contrário da imprensa irregular, mas programaticamente superior da SL, a Workers League [Liga dos Trabalhadores, seção norte-americana do Comitê Internacional] de Tim Wohlforth produzia um jornal regular com pretensões de massa, que cobria uma variedade muito maior de assuntos. Os seguidores de Wohlforth ridicularizavam a SL e afirmavam que ela não estava interessada nas lutas de massa. O Coletivo Marxista de Buffalo (BMC), um dos coletivos maoístas de esquerda que a SL recrutou de forma bem sucedida no início dos anos 1970, explicou porque eles foram ganhos para a SL, e não para a WL:
“Enquanto, a princípio, nós éramos hostis à Liga Espartaquista com base nas declarações da WL sobre o ‘abstencionismo’ da SL na luta de classes, nós descobrimos que nós não poderíamos defender as posições políticas que nós percebemos na perspectiva da WL. Isso foi trazido à tona com a ‘imprensa de massa’ da WL. A RCY [então juventude da Liga Espartaquista] argumentou que o Bulletin[jornal da WL] não refletia a realidade limitada do trabalho da WL nos sindicatos, que estava confinado primariamente a um sindicato de trabalhadores de escritório. A maior parte dos artigos é escrita de fora, muitos reescritos com base na imprensa burguesa, enquanto as páginas de centro, destinadas a se tornar parte da série de livros do Bulletin, são reservadas para o aprofundamento metodológico. Ante essa concepção de imprensa ‘bolchevique’, a SL contrapôs a sua: eles demonstraram a forma como Workers Vanguard era uma ferramenta organizadora, diretamente relacionada à tática de se posicionarem enquanto um polo de atração comunista nos sindicatos, com base em um programa completo. Workers Vanguard não fingia ser um órgão de massa de um partido de massa. As coisas devem ser chamadas pelos seus nomes. Por isso, Workers Vanguard se direcionava principalmente aos trabalhadores politicamente mais avançados com os quais a SL tinha contato através de sua implantação nos sindicatos, às organizações que se reivindicam revolucionárias, aos estudantes e intelectuais. Polêmicas são dirigidas contra outras tendências com as quais a SL interage nos seu trabalho sindical real, no seu trabalho universitário e em eventos políticos de esquerda, e por isso estava conectado com a perspectiva leninista da SL de rachas e fusões para gerar um partido revolucionário. A SL comparou o Bulletin da WL ao Challenge do [maoísta] PL, apontando que um verdadeiro trabalho de massas era a penetração na classe trabalhadora através das suas camadas politicamente mais avançadas, e não seguir a classe em seu atual nível de consciência”.
O BMC citou o artigo de Trotsky O que é um “Jornal de Massas”?:
“O que é um ‘jornal de massas’? A pergunta não é nova. Pode-se dizer que toda a história do movimento revolucionário tem sido perpassada por discussões sobre o ‘jornal de massas’. É o dever elementar de uma organização revolucionária tornar o seu jornal político o mais acessível possível para as massas. Essa tarefa não pode ser efetivamente resolvida exceto em função do crescimento da organização e de seus quadros, que devem pavimentar o caminho para as massas pelo jornal – já que não basta, é claro, chamar uma publicação de ‘jornal de massas’ para que as massas realmente o aceitem.”
O descendente político da WL, o Socialist Equality Party [Partido da Igualdade Socialista], tem uma imprensa ainda mais frequente, já que o seu website recebe atualizações diárias com muitos artigos. No entanto, a sua política permanece revisionista e eles conscientemente tentam encobrir a sua história enquanto fingem ser uma força social muito mais significante do que realmente são.
Enquanto Wohlforth é corretamente lembrado como um desprezível bajulador de Gerry Healy, houve uma época em que ele desempenhou um papel positivo e, como James Robertson certa vez afirmou, foi uma pena que ele não tenha tido força de caráter, pois seus talentos literários teriam sido muito úteis para o movimento trotskista.
Eu acho que os companheiros do IG também poderiam fazer uma contribuição valiosa para a construção de uma genuína organização trotskista se eles fossem capazes de examinar criticamente as suas próprias histórias políticas e avaliar a prolongada degeneração da SL que precedeu a sua expulsão. Essa é uma história que deve ser cuidadosamente estudada, e da qual as lições políticas essenciais devem ser aprendidas, assim como foram aprendidas as lições da degeneração pablista da liderança da Quarta Internacional, e subsequentemente da queda do SWP de Cannon no revisionismo. Nós buscamos travar uma discussão com o IG sobre a nossa história comum em uma longa carta lidando com a degeneração da SL há muitos anos atrás (reimpressa no Boletim Trotskista No. 6).
Usar esta lista para postar uma análise séria de uma importante questão histórica como a Guerra da Coreia (que claramente é relevante de forma direta para os acontecimentos de hoje em dia) não qualifica alguém, eu acho, como membro de uma “sociedade literária”. Porque, se nós não formos capazes de aprender do passado, então nós estamos condenados a repeti-lo.
Saudações Bolcheviques