Declaração Sobre o Bombardeio Terrorista ao World Trade Center

Bombardeio Terrorista ao World Trade Center

Imperialismo dos EUA: um Terror Interminável

[A seguinte declaração foi publicada em 18 de setembro de 2001, pela então revolucionária Tendência Bolchevique Internacional, após os ataques contra o World Trade Center e o Pentágono. Reimpresso em “1917” nº 21(2002) e no Boletim Trotskista Nº 8 – “Afeganistão e a Esquerda”. Sua tradução foi realizada pelo Reagrupamento Revolucionário em janeiro de 2013, a partir da versão disponível no site de TBI.]

A destruição do World Trade Center em 11 de setembro foi um ato terrível, que a Tendência Bolchevique Internacional condena inequivocamente. Centenas de milhares de novaiorquinos tinham amigos ou familiares que viviam, faziam compras ou trabalhavam na área. Ao contrário dos profissionais no Pentágono (o comando central do exército dos EUA), as milhares de vítimas atingidas nas torres gêmeas do World Trade Center e as centenas de passageiros e tripulação a bordo dos quatro aviões sequestrados eram civis, cujas mortes nós lamentamos. Como socialistas revolucionários, nós abominamos ataques terroristas que identificam cidadãos comuns com os seus dominadores imperialistas.

O histórico da classe dominante dos EUA inclui muitas instâncias de assassinato em massa, incluindo o bombardeio de Dresden e Hamburgo, a aniquilação nuclear de Hiroshima e Nagasaki, e o massacre de mais de um milhão de civis vietnamitas nos anos 1960 e 70. O atual embargo dos EUA contra o Iraque resultou na morte de pelo menos um milhão de crianças iraquianas. Entretanto, a destruição do World Trade Center está sendo tratada pela mídia imperialista como um “ataque contra a civilização”, porque desta vez vidas norte-americanas foram perdidas.

A sede de sangue patriótica lançada nos EUA ao longo da semana passada já resultou em dois assassinatos e centenas de ataques racistas contra muçulmanos, árabes-americanos, sikhes e outros rotulados como “estrangeiros”. Ela favoreceu a propaganda pró-Israel nos Estados Unidos e fez diminuir a simpatia pelas vítimas palestinas do racista Estado sionista.

Ao declarar “guerra” contra alvos ainda não especificados, os governantes dos Estados Unidos esperam atingir vários objetivos. Primeiro, eles desejam demonstrar que, em um mundo de apenas uma “superpotência”, outros países devem aprender quem é que manda:

O ataque [previsto contra o regime Talibã do Afeganistão] teria a intenção de não apenas destruir as bases terroristas no Afeganistão, mas também demonstrar a outras nações que há um custo alto a ser pago para aqueles que abriguem inimigos dos Estados Unidos.”

New York Times, 17 de setembro.

A administração de Cheney/Bush está abertamente procurando canalizar o choque da população em apoio para uma grande intervenção militar no Oriente Médio (e potencialmente sem previsão de término), que iria apertar as garras dos EUA sobre esta região estratégica. Os aliados imperialistas mais subservientes aos EUA – Grã-Bretanha, Austrália e Canadá – deram seu apoio ilimitado ao que quer que Washington decida. O apoio da Alemanha, França e outros imperialistas da União Europeia foi mais qualificado, enquanto os russos se opuseram a qualquer passagem militar pelas fronteiras das antigas repúblicas soviéticas, como o Afeganistão.

Nos EUA, a psicose sobre a “guerra” provê um pretexto útil para expandir os poderes policiais, para realizar revistas, controlar a movimentação e interferir com as comunicações privadas. Sob a guisa de combater o terrorismo, serão feitas tentativas de limitar o direito de expressão, livre reunião e outros direitos civis. Um sinal da direção da nova política é a declaração pública do governo dos EUA de que o assassinato será considerado novamente uma ferramenta legítima de política externa.

O verdadeiro inimigo está em casa

O verdadeiro inimigo dos trabalhadores, negros e outras minorias nos EUA não é algum obscuro fanático islâmico no Afeganistão, mas a sua própria classe dominante. Embora a política externa dos EUA no Oriente Médio tenha sido apoiada passivamente (e algumas vezes ativamente) pela maioria da população, os interesses objetivos da população trabalhadora nos EUA são opostos aos de Bush e Cia. Isso talvez venha à tona mais claramente conforme as implicações de pilhagem da previdência social e do seguro saúde para financiar a expedição militar futura (e subsidiar os acionistas das companhias aéreas e de seguros) fiquem claros.

O movimento dos trabalhadores nos EUA deveria estar montando autodefesas, baseadas nos sindicatos, para proteger os bairros muçulmanos, as mesquitas e as lojas contra os ataques dos vândalos racistas e patriotas que estão sendo alimentados pela retórica chauvinista da mídia corporativa. Mas a atual liderança pró-capitalista dos sindicatos está pulando no vagão da ladainha imperialista. Em uma declaração publicada no dia após o ataque, o presidente da AFL-CIO [Federação Americana do Trabalho – Congresso das Organizações Industriais], John Sweeney, bradou:

Eu telefonei ao Presidente Bush para expressar o total apoio da AFL-CIO para ele nesse momento de crise e lhe oferecer toda e qualquer assistência do movimento dos trabalhadores”

Uma liderança sindical com consciência de classe estaria fazendo preparações para lançar greves políticas em resposta às agressões militares contra o Afeganistão, Iraque ou qualquer outra neocolônia. Como passo na luta para romper o punho da burocracia sindical pró-imperialista sobre os sindicatos, os revolucionários devem ganhar os elementos mais avançados da classe trabalhadora norte-americana para o reconhecimento de que os seus interesses estão em oposição às aventuras militares sanguinolentas dos seus governantes.

Uma perspectiva socialista revolucionária para o Oriente Médio deve combinar uma luta implacável contra a opressão sionista com uma exposição das pretensões “anti-imperialistas” da liderança pequeno-burguesa da Organização para a Liberação da Palestina, e oposição clara ao misóginos e reacionários fanáticos islâmicos. Se as oprimidas massas árabes igualarem os trabalhadores norte-americanos com os governantes dos Estados Unidos (ou os trabalhadores judeus com os seus chefes sionistas), isso só ajudaria a aproximar os trabalhadores norte-americanos e judeus dos seus carrascos. Ao mesmo tempo, enquanto os trabalhadores norte-americanos e israelitas se identificam com os seus “próprios” exploradores, eles ajudam a cimentar o controle dos xeques, generais e aiatolás sobre as massas muçulmanas.

Marxistas se opõem ao terrorismo como estratégia para a libertação dos oprimidos porque, mesmo no melhor dos casos, ele substitui a atividade consciente da classe trabalhadora pelos atos de um pequeno punhado. Mas os marxistas revolucionários diferenciam entre atos lançados contra alvos militares imperialistas e aqueles lançados contra civis inocentes. Por exemplo, nós reconhecemos que a destruição dos quartéis norte-americanos e franceses no Líbano em 1983, pelo “Jihad Islâmico”, foi um ataque defensivo contra as tentativas dos imperialistas de estabelecer uma base militar no Oriente Médio. Algumas organizações supostamente marxistas recuaram, incluindo a Liga Espartaquista, que lançou um chamado socialpatriótico para salvar as vidas dos fuzileiros navais dos EUA.

Mujahedin afegãos: de “guerreiros da liberdade” a “terroristas”

Osama Bin Laden, a figura esquiva que os EUA estão culpando pelos ataques do 11 de setembro, era um agente de longa data da CIA nos anos 1980, quando os mujahedin islâmicos fundamentalistas lançaram uma “guerra santa” contra o Exército Soviético e os seus aliados afegãos nacionalistas de esquerda. A rebelião dos mujahedin começou quando o modernizador governo pró-soviético encorajou as mulheres a irem à escola. Os “guerreiros da liberdade” afegãos foram não apenas apoiados pelo imperialismo, mas também por um amplo espectro da falsa esquerda, incluindo os aderentes à Tendência Socialista Internacional de Tony Cliff.

Em agosto de 1998, depois do bombardeio de duas embaixadas norte-americanas na África, Bill Clinton ordenou ataques aéreos contra as bases afegãs de Bin Laden (as quais os EUA tinham financiado e construído uma década antes):

A resistência afegã foi apoiada pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos e da Arábia Saudita com aproximadamente $6 bilhões em armas. E o território visado semana passada, um grupo de seis acampamentos perto de Khost, onde o exilado saudita Osama Bin Laden tem financiado um tipo de ‘universidade de terrorismo’, nas palavras de um oficial sênior de inteligência dos Estados Unidos, é bem conhecido da Agência Central de Inteligência.”

O apoio militar e financeiro da CIA para os rebeldes afegãos ajudou indiretamente a construir os acampamentos que os EUA atacaram. E alguns dos mesmos guerreiros que combateram os soviéticos com a ajuda da CIA estão agora lutando sob a bandeira do sr. Bin Laden.”

New York Times, 24 de agosto de 1998

O fato de que Bin Laden e seus amigos mujahedin foram treinados pela CIA não tem aparecido muito na mídia capitalista nesta última semana. Mas isso é evidência de que o ataque ao World Trade Center é apenas um link em uma longa cadeia de eventos. Um ataque imperialista massivo contra o Afeganistão ou Iraque seria uma catástrofe que produziria muitos milhares de vítimas inocentes adicionais e, em última instância, fortaleceria as forças da reação islâmica na região.

Pelo socialismo mundial!

Revolucionários devem tomar a posição de defesa militar incondicional de qualquer neocolônia alvo de um ataque imperialista. É o dever dos trabalhadores norte-americanos com consciência de classe se colocar contra a enorme onda de ódio chauvinista e não perder de vista os interesses históricos da população trabalhadora dos EUA. A verdadeira ameaça aos trabalhadores no ocidente imperialista não vem de Bin Laden, Saddam Hussein ou do Talibã, mas sim dos cínicos racistas imperialistas cuja ordem econômica mundial os criou e nutriu.

Como bolcheviques, nós estamos comprometidos com a luta para criar um partido mundial internacionalista capaz de organizar a classe trabalhadora para derrubar todo o sistema de pilhagem imperialista organizada. O único caminho para um futuro no qual cada membro da humanidade possa desfrutar de uma vida pacífica, segura e produtiva está em substituir o voraz sistema capitalista do vale tudo por uma economia socialista planejada, na qual a produção seja voltada para as necessidades humanas.