Raciocínio de Avestruz e Tentativa de Intimidação
A Tendência Bolchevique Internacional “Explica” sua Falência
Originalmente publicado em inglês em março de 2012
Três décadas desde a sua primeira declaração pública (From New York To Sri Lanka: It Is Desperately Necessary To Fight!, de outubro de 1982) o grupo que hoje é a Tendência Bolchevique Internacional está visivelmente menor do que nunca, mais isolado do que nunca, e mais envelhecido do que nunca. Também ela, assim como outros grupos que no passado lutaram para reconstruir o movimento revolucionário sob difíceis condições de muitas décadas sem sucesso, perdeu o seu propósito revolucionário e se degenerou. Mais especificamente, ela se transformou em uma organização qualitativamente similar ao grupo com o qual rompeu há todas essas décadas atrás, a atualmente corrupta e burocratizada organização conhecida como Liga Espartaquista (SL).
Aqueles que lutaram sem sucesso contra a degeneração do Partido dos Trabalhadores Socialistas (SWP) nos anos 1960 analisaram circunstâncias similares que hoje também afetam a TBI:
“O SWP se tornou uma organização muito envelhecida em sua liderança. De 1928 até o presente – 34 anos – ele tem sido liderado pelo mesmo grupo de pessoas contínuo e com poucas mudanças. Assim, ele é a organização mais velha que se reivindica revolucionária na história. O seu atual Comitê Nacional deve possuir uma das mais altas médias de idade na história do movimento comunista em todos os tempos.”
“Enquanto a liderança é velha, muitos dos quadros de liderança do partido no nível dos núcleos locais são de meia idade e são trabalhadores qualificados confortavelmente posicionados com muitos anos de estabilidade e casa própria.”
The Centrism of the SWP and the Tasks of the Minority
J. Robertson & L. Ireland, 6/9/1962.
“Contra este histórico de derrotas e de isolamento da luta de classes direta, a decadência política de uma liderança partidária que envelhecia, à qual faltava toda uma nova geração, era inevitável.”
“Não tendo experimentado, durante um período razoável, nem mesmo pequenas vitórias, vendo a classe rejeitá-los e girar rumo a uma relativa passividade ou mesmo reação, a velha liderança do Partido, apoiada por elementos mais jovens treinados em um ambiente político pequeno-burguês, perdeu a confiança na classe e na sua própria habilidade de atingir a vitória.”
The Tendency and the Party
Geoffrey White, 10/10/1962
A degeneração da TBI não é simplesmente devido a condições objetivas. As muitas políticas erradas da liderança também inevitavelmente tiveram um efeito negativo. Em particular muitas práticas organizativas que ela herdou da SL, mas falhou em superar, inevitavelmente criaram vida própria dentro da organização conforme a existência do grupo se separou cada vez mais do seu propósito revolucionário inicial, até ele se transformar em um fim em si mesmo. As pressões para burocratização sob tais circunstâncias são obviamente bastante fortes conforme a base e os quadros ficam cada vez mais passivos e despolitizados, enquanto o poder desmedido da liderança e seu controle sobre o grupo crescem aos saltos. Leon Trotsky se referiu a esse processo como uma “reação termidoriana”. James P. Cannon resumiu o fenômeno em todas as suas várias manifestações históricas desta forma:
“Não há nada revolucionário a respeito dos burocratas. Eles temem as massas e desconfiam delas e são sempre arrastados e postos de lado durante períodos de levante. Apenas quando as massas se aquietam é que os burocratas têm a sua vez — os homens cinzentos de uma maré-baixa. Você vê isso manifestar-se em todas as organizações dos trabalhadores, em todas as mutações da luta de classes, de greves a revoluções, e de sindicatos a órgãos do poder de Estado.”
The Road to Peace
James P. Cannon (1951)
Logo após uma série de dissidências e rompimentos públicos (e muitos não-públicos) e os resultantes rompimentos de relações com vários grupos e simpatizantes – para não mencionar a perda do seu núcleo de Ruhr, na Alemanha, a TBI, após um longo período de silêncio tumular sobre o assunto, decidiu usar o recém-publicado balanço da sua Conferência Internacional como uma oportunidade de reconhecer parcialmente e racionalizar a sua profunda crise para um público de esquerda agora já bastante ciente (junto a uma tentativa explícita de intimidar nossa organização ao silêncio). São poucos aqueles iludidos o suficiente na periferia do grupo que poderiam esperar qualquer tentativa honesta de analisar seriamente os problemas e as condições por trás deles (nós estimamos que desde nossa saída a TBI possua cerca de 20 pessoas, depois de perder cerca de um terço de seus membros). Ao invés disso, o “líder” absoluto da TBI (Tom Riley) e os capatazes sem caráter que protegem cada movimento que ele realiza, resolveram declarar o seguinte:
“Ao avaliar o nosso trabalho desde a nossa conferência de 2008, observamos que, apesar de alguns sucessos limitados (por exemplo, ganhamos adeptos na França e na Polônia), ainda temos de fazer grandes avanços a nível internacional e, de fato, sofremos alguns reveses. Em 2010, um companheiro recém-recrutado deixou a TBI para se tornar um anarquista em sequência aos protestos explosivos contra o G-20 em Toronto. Mais significativamente, não conseguimos ganhar os membros do Coletivo Lenin (CL), no Rio de Janeiro, alguns dos quais eventualmente se alinharam com Sam T., um talentoso, porém problemático, antigo membro da TBI, que partiu em setembro de 2008, após decidir que ele não estava mais preparado para seguir as diretrizes da organização. A nossa incapacidade para ganhar os camaradas brasileiros veio como o culminar decepcionante de vários anos de esforço e representou a perda do que parecia ser uma oportunidade promissora para começar trabalhos em uma parte extremamente importante do mundo.”
1917 nº34, 2012
E isto é tudo, já que a maior parte do resto do balanço da TBI consistia de alguns elogios muito pouco merecidos a ela própria.
Nós podemos comentar mais amplamente este “balanço” da conferência da TBI em um artigo futuro, mas por enquanto vamos nos limitar a discutir as explicações de avestruz (como quem se esconde enfiando a cabeça na areia) que ela ofereceu nesse trecho, ao tentar livrar a própria cara.
“Difamando Quem Faz as Críticas”
Em 25 de setembro de 2008, Samuel Trachtenberg rompeu com a Tendência Bolchevique Internacional com a sua carta de ruptura (A Estrada para Fora de Rileyville) que descreve alguns dos pontos chave na história da degeneração burocrática da TBI e anuncia a sua intenção de continuar lutando para reconstruir um grupo revolucionário que possa desempenhar um papel em ajudar na reconstrução da Quarta Internacional. Assim como admite o balanço da TBI, desmentindo as expectativas de tal grupo por um fracasso rápido, essa intenção de Samuel eventualmente conseguiu algum sucesso limitado, porém real, à custa da TBI. Essa expectativa inicial é a razão de a TBI ter decidido não informar a seus leitores sobre o rompimento público no balanço da sua Quinta Conferência Internacional, escrito pouco depois do racha.
Ao invés de reiterar cada argumento já exposto, nós convidamos o leitor a verificar por si próprio esta carta de ruptura e confirmar que não houve a menor tentativa por parte da TBI de lidar com as questões levantadas na descrição que ela fez dos eventos. A razão para isso é bastante simples. Uma tentativa de negar qualquer argumento levantado na carta de rompimento (ou em polêmicas subsequentes) nos forçaria a tomar o devido tempo para dar ainda mais provas e fortalecer nossas afirmações, indo cada vez mais fundo nos escandalosos e vergonhosos detalhes dos anos de abuso burocrático e manipulações desonestas com outras organizações de esquerda realizadas pelo “líder” absoluto da TBI, Tom Riley. Como Riley gosta de dizer, o silêncio às vezes é a melhor resposta.
Ao invés de tentar qualquer resposta, o balanço tenta continuar publicamente uma campanha interna de rotular as descrições feitas por Trachtenberg de corrupção burocrática na TBI como um mero produto de uma suposta condição “problemática”. A carta de rompimento de Trachtenberg apontou:
“No entanto, quando eu levantei essa questão (junto com várias outras similares), os camaradas deram a mesma resposta que Seymour, combinada com uma grosseira campanha para me convencer de que minhas críticas provinham de ‘problemas mentais’. Apesar de possuir um histórico de depressão, não sou insano e sou perfeitamente capaz de reconhecer a realidade e as tentativas da liderança de usar os mesmos mecanismos comigo que foram usados com outros críticos.”
“O termo para esse tipo de prática é ‘gaslighting’ (manipulação mental) e eu pediria aos camaradas que fizessem uma busca no Google sobre isso. O fato de que Bill Logan, um ‘profissional’ de saúde mental, usou suas credenciais para tais propósitos nojentos só aumenta a corrupção envolvida.”
A carta de rompimento também aponta que o uso de tais técnicas contra críticos internos também é feito por outras seitas burocráticas dominadas por líderes absolutos, tais quais a Revolutionary Workers League dos Estados Unidos (RWL). Jason Wright, o membro da TBI atualmente sendo cotado como eventual sucessor da coroa de lama de Riley, ele próprio um ex-membro da RWL, descreveu ter sofrido um tratamento semelhante como resposta às suas críticas políticas (veja Letter (circa 1998) by the IBT’s Jason Wright documenting his leaving the Revolutionary Workers League). Na época, Wright apontou que “esse tipo de coisa não corresponde ao funcionamento saudável de uma organização revolucionária e, por si só (sem nem mesmo entrar no leque de desvios programáticos da RWL) é suficiente para mostrar que ela não tem direito de reivindicar o legado do trotskismo”. Com isso, ao menos, nós estamos de pleno acordo.
É claro que a liderança da TBI, contra a sua vontade, já está queimada aos olhos do público em razão da forma como eles procuram lidar com aqueles que lhes fazem críticas: veja Abuso Burocrático na Tendência Bolchevique Internacional – que nós fortemente recomendamos aos leitores. Este documento, entre outras coisas, relata a tentativa de provocar, em um crítico interno da seção neozelandesa da TBI (o PRG), “a reação de violência física de um rato encurralado, que teria sido útil ao PRG para causar descrédito a Peter em sua provável futura carreira de ‘especialista’ anti-PRG”. Bill Logan (o segundo no comando da TBI) respondeu a alguns camaradas que não gostaram de suas tentativas de difamar e conspirar contra um membro crítico de seus métodos burocráticos dizendo que “Minha sensação pessoal é que os camaradas estão sendo um pouco críticos demais de mim, um pouco escrupulosos demais sobre a maneira apropriada com a qual a luta política deve ser conduzida”. Qualquer que seja a acusação que alguém possa fazer contra a TBI, certamente, ter escrúpulos demais não é uma delas.
Nenhuma destas práticas é nova. Em anos melhores, a TBI descreveu métodos similares utilizados pela Liga Espartaquista para não responder às suas críticas.
“Nós prevemos que vocês não irão publicar esta carta na sua totalidade. Fazer isto significaria confirmar ou negar por escrito as acusações acima; fazer qualquer uma das duas coisas iria ser igualmente desastroso para a reputação da liderança da SL. Negá-las iria contradizer a experiência de cada membro da SL ou simpatizante que viu a foto de Jaruzelski [chefe da burocracia stalinista na Polônia] (em exposição por meses no departamento de manutenção da sua sede nova-iorquina), que contribuíram para comprar a casa de Robertson, que perderam muitas horas construindo a sua sala de recreação ou instalando a sua banheira. Uma negação direta iria expor a sua liderança como mentirosos cínicos e sem escrúpulos diante de todos os membros e simpatizantes.”
“Se, por outro lado, vocês confirmarem essas alegações, e disserem que, como cabeça de uma suposta organização marxista, Robertson tem todo o direito de desfrutar de um estilo de vida com privilégios materiais à custa dos seus membros, e que Jaruzelski merece um lugar de honra nas suas paredes, vocês deixariam para sempre de poder ser levados a sério em sua reivindicação de ser uma organização trotskista, e revelariam a si próprios ao mundo como a seita personalista degenerada que se tornaram. Seria então bastante improvável que qualquer ser humano racional algum dia fosse querer apoiar a Liga Espartaquista.”
“Vocês, portanto, vão se esconder atrás da única brecha possível nesse momento: desviar a atenção das acusações criando confusão e difamando quem faz as críticas. Um gangster qualquer pode tentar impugnar a reputação de uma testemunha contrária a ele dizendo que é um estuprador ou viciado em drogas; vocês respondem ao testemunho da Tendência Bolchevique com uma bateria de epítetos especificamente elaborados para nos descreditar aos olhos de militantes da esquerda e dos trotskistas: renegados antissoviéticos, burocratas sindicais, racistas, agentes provocadores, etc. E somente para o caso de estes termos específicos não terem o efeito desejado, mais algumas acusações – por exemplo, ‘pequenos bandidos’ – a são lançadas para este propósito. Estas táticas – todas na pior tradição de Gerry Healy e David North – deveriam lavar os leitores mais atentos de Workers Vanguard [jornal da SL] a se perguntarem: ‘Por que alguém deveria acreditar em James Robertson?’”.
1917 nº8, 1990
Um documento ainda mais antigo descrevia uma tentativa da SL de conspirar contra um membro fundador da TBI para desacreditá-lo:
“O longo histórico de [Bob] Mandel como um proeminente militante de esquerda na Área da Baía de São Francisco foi um grande trunfo para a regional da SL por todos os anos em que ele foi apoiador do grupo. Hoje, entretanto, ele é uma ameaça para Robertson e companhia, e, portanto, se tornou um alvo de alguns ataques particularmente desagradáveis por parte da liderança da SL.”
“Na época, Mandel estava em meio a uma crise pessoal/financeira decorrente de seus longos anos na lista negra do ILWU [sindicato de trabalhadores do porto]. Ele também estava perturbado e bastante abalado pela perspectiva de sair da tendência política à qual havia devotado sua vida. Mandel fez tudo o que pôde para provar sua lealdade à organização. Foi-lhe apresentada uma declaração, escrita por Al Nelson. A declaração parecia com uma confissão estilo FBI. Ela começava dizendo ‘Eu, de livre e espontânea vontade, admito as seguintes declarações como sendo verdades e compreendo que elas serão arquivadas como declarações confidenciais pelo Comitê Central da Liga Espartaquista… ’. Essa ‘confissão’ ridícula era composta de algumas alegações bastante bizarras, assim como várias outras declarações, algumas das quais eram verdade, e foi feita com a intenção de ser usada para descreditar Mandel publicamente no futuro. Ao assiná-la, ele encontrou-se numa situação sem saída que desde então a liderança da SL tem buscado explorar. Mandel certamente cometeu um grande erro ao assinar cegamente tal ‘confissão’, mas o incidente como um todo lança uma luz desagradável sobre as práticas rotineiras da liderança da SL.”
Bulletin of the External Tendency of the iSt nº3, 3/5/1984
Sam quem?
De forma interessante, o balanço também prefere não mencionar nem o “Reagrupamento Revolucionário” e nem “Samuel Trachtenberg” pelos seus nomes, termos que iriam facilmente levar a respostas em sites de busca. Ao invés disso, o balanço só se refere a “Sam T.”.
Pelas circunstâncias, a TBI é forçada a reconhecer a nossa existência para aqueles que já nos conhecem, enquanto ao mesmo tempo tenta fazê-lo de uma maneira que obscurece a identidade de nosso grupo para os leitores, para o caso de estes serem curiosos o suficiente para desejar ler o que nós dizemos a respeito disso tudo. Essa é a compreensão que Tom Riley tem de “esperteza tática”. Um antigo associado da TBI notou que sem dúvida o gatuno multimilionário Bernie Maddoff caracterizou o que fez usando termos similares. Tais jogadas óbvias, combinadas com uma personalidade cínica exageradamente transparente, são indicações do porquê de o líder absoluto da TBI ter sido chamado, entre aqueles que o conheceram, de “vendedor de carros usados do trotskismo”.
Intimidação
O outro propósito da acusação de ser “problemático” é uma tentativa de fazer uma intimidação implícita para forçar o Reagrupamento Revolucionário ao silêncio a respeito da corrupção antisocialista da liderança da TBI, sob a pena de forçar a discussão de áreas sensíveis da vida pessoal de Trachtenberg. Isso foi previamente tentado em uma carta escrita em 9 de fevereiro de 2011 enviada ao Coletivo Lenin e a Trachtenberg logo após o CL romper relações com a Tendência Bolchevique Internacional e estabelecer relações com o Reagrupamento Revolucionário (veja a declaração de dezembro de 2010).
“Nós não havíamos informado anteriormente a vocês sobre a saída de Sam da TBI, ou da sua tentativa de projetar a si próprio como uma ‘organização adversária’ (através do seu website), porque nós consideramos isso praticamente um evento sem importância e buscamos evitar discussões públicas dos severos problemas pessoais que nós acreditamos que acompanham a trajetória política dele.”
“Nós não fazemos a menor ideia do que poderia levar vocês a imaginar que Sam foi ‘escorraçado’, ou que a sua condição de membro foi ‘transformada em uma ficção’. Nunca houve tentativas de explorar os problemas pessoais/psicológicos que tornam impossível para ele ter um emprego, sair de casa ou fazer várias outras coisas que são normais para pessoas com trinta e poucos anos. Nós tentamos ajuda-lo até onde pudemos, mas não há dúvida de que problemas de saúde/mentais impactavam o seu funcionamento no grupo, como ele próprio admitiu em várias ocasiões.”
“Sam nos apresentou o difícil problema de tentar lidar com um quadro talentoso que desenvolveu diferenças políticas/organizativas que são, ao menos em parte, um resultado de sua própria frágil condição mental/emocional.”
Nós acreditamos que isto deixa bem claro que tais tentativas de explorar esta questão realmente ocorreram, durante e depois. Isto seria especialmente escandaloso para a TBI, tendo em vista o bem conhecido histórico de Bill Logan como um ex-dirigente espartaquista que está repleto do uso exploratório de tais detalhes das vidas pessoais de camaradas – que incluíram levar um membro de base dos espartaquistas à tentativa de suicídio. Como demonstra um documento previamente citado (Abuso Burocrático na Tendência Bolchevique Internacional), nada disso mudou qualitativamente apesar das afirmações de Logan de ser uma pessoa diferente depois de entrar na TBI. Logan e seu ventríloquo Riley obviamente compartilham esse e muitos outros traços com burocratas corruptos de períodos passados.
Nós vamos esclarecer estas questões.
Como previamente notado, Sam Trachtenberg sofre de depressão há muitos anos. Isto não faz dele insano, “problemático”, nem incapaz de reconhecer a realidade e fazer julgamentos políticos racionais. A TBI não teria considerado ele um membro de alto nível, que também escreveu muitos dos seus documentos por vários anos, se isso fosse verdade. A liderança da TBI também não teria permitido que muitos membros da TBI, que também tem um histórico de depressão (e que já sabem o que esperar se algum dia no futuro levantarem divergências), permanecessem dentro da organização se ela realmente acreditasse nisso. A realidade é que eles não acreditam nessas acusações, mas estão simplesmente usando-as como uma ferramenta de intimidação e de guerra psicológica.
Há vários anos, Sam Trachtenberg também foi forçado a deixar seu trabalho e a abandonar a faculdade depois de ficar doente, ao adquirir uma condição médica rara e possivelmente fatal se não tratada e que não foi diagnosticada por muitos anos. Nós não acreditamos que uma condição de invalidez e de desemprego faça com que alguém não seja capaz de ser um revolucionário ou que não seja capaz de fazer escolhas políticas racionais e inteligentes. Nós acreditamos que o restante da esquerda também compartilhe de nossa opinião.
Sam Trachtenberg, como alguns que o conhecem na esquerda já sabem, também tem um progenitor que é severamente doente desde que ele era jovem.
Enquanto discutir forçosamente detalhes sensíveis da vida pessoal de alguém diante do público é desconfortável, nenhuma dessas coisas é, sob qualquer aspecto, escandalosa ou antiética, ao contrário de muitos aspectos da vida pessoal (para não mencionar política/organizativa) dos dirigentes da TBI.
Já que nós estamos no assunto, nós gostaríamos de perguntar qual tipo de emprego a liderança da TBI acha que Trachtenberg deveria ter ou ter tido (e antes de se tornar doente ele teve vários). Seria como o emprego que Jason Wright (nome de partido) teve por alguns anos trabalhando numa posição administrativa para o Departamento de Segurança Nacional no estado de Nova York? Aquele que ele foi encorajado por Riley a aceitar e que a liderança da TBI via como uma posição temporária útil para subir na escala do serviço público e que também deveria ser mantida em segredo do público de esquerda? Não, nem Sam Trachtenberg nem nenhum outro membro presente ou futuro do Reagrupamento Revolucionário nunca teve ou vai ter um emprego como esse.
As tentativas da TBI de nos silenciar não vão dar certo!
Crise em Toronto
O balanço da TBI faz menção a um proeminente camarada de Toronto que deixou o grupo para se tornar um ativista anarquista em um grupo plataformista local. Ele, entretanto, não faz nenhuma menção às razões por trás da sua decisão de deixar o grupo (veja “Brandon Gray’s Resignation Letter” 17/7/2010). Enquanto os pontos em cima do quais ele imediatamente rompeu eram relacionadas a questões táticas envolvendo os protestos contra o G-20 em 2010 (questões essas sobre as quais nós não estamos em posição de tomar partido devido à nossa distância) fica claro, através da sua carta de ruptura, que essas questões foram apenas o estopim relacionado a uma crítica mais ampla que se desenvolvia a respeito da degeneração da TBI. Isto inclui uma atitude aristocrática e esnobe de desprezo com relação a jovens militantes por parte da liderança da TBI, e que busca na Academia elementos mais respeitáveis (e também mais organizativamente passivos diante de intimidação burocrática). (Um bom exemplo disso é a Platypus Affiliated Society, pela qual a TBI recentemente cruzou os Estados Unidos para poder palestrar em seus painéis). Como muitos que testemunharam a corrupção burocrática em seitas pseudo-leninistas, Brandon Gray acabou concluindo incorretamente que as raízes da burocratização da TBI estão em sua reivindicação do bolchevismo.
Também está claro que a sua decisão de deixar a TBI foi provocada por testemunhar o tipo de corrupção que é descrita na carta de rompimento de Sam Trachtenberg. Aqui citaremos longamente trechos que descrevem a situação interna:
“Eu entrei formalmente na TBI na primavera de 2009, depois de ter sido um simpatizante e trabalhado com o grupo por dois anos em Toronto. O alto nível de formação programática ganhou minha confiança e respeito apesar do pequeno tamanho do grupo em comparação com outros. Entretanto, quando a carta de rompimento de Sam Trachtenberg em Nova Iorque chegou até mim, eu tomei algum tempo para investigar esse caso e atrasei minha decisão de me tornar um membro pleno. As críticas políticas levantadas por Sam nunca me foram explicadas. Ao invés disso, ataques pessoais foram feitos contra a credibilidade dele. A sua saúde pessoal foi brutalmente explorada e distorcida para poder descreditá-lo e para evitar responder qualquer uma de suas críticas. Incapaz de reconhecer estes ataques como o que eram na época, eu resolvi pedir para tornar-me membro e, depois de ser aceito, eu informei o fato de que tinha dado uma boa olhada no caso de Sam antes de tomar minha decisão de entrar. Disseram-me que ele era paranoico e delirante, e que tinha sido uma boa ideia ele ter saído, já que a liderança teria tido um trabalho muito maior tendo que pô-lo para fora. Eu lamento não ter decidido entrar em contato com Sam na época para ouvir o seu lado da história sobre o rompimento, mas, em minha defesa, meus laços pessoais com os camaradas mais jovens do TBT [núcleo de Toronto da TBI] me influenciaram a deixar esta questão para trás, apesar de eu manter minhas suspeitas no fundo da mente para um dia em que mais informações viessem a tona.”
“Em uma reunião do núcleo em 15 de abril de 2010, foi sugerido que um camarada mais ou menos com o meu perfil em termos de pouco relacionamento com Sam se tornasse ‘amigo’ dele em uma rede de relacionamento na internet, com o objetivo de monitorá-lo e repassar informação para a liderança. Eu fui a única pessoa a comentar sobre esse ponto, declarando que eu, de fato, fosse talvez o mais indicado para esse trabalho, mas que não me sentia confortável para tal; que isso soava como desonesto e errado. Riley meramente deu de ombros e descartou minhas objeções dizendo que não era algo tão ruim e que eu não deveria ter problemas com isso. Este foi outro lado estranho da organização ao qual eu respondi com receio. Poderia Samuel Trachtenberg estar descrevendo precisamente o funcionamento interno do meu grupo? O fundamento deste caso havia crescido com o tempo e agora um exemplo concreto de práticas de liderança pouco saudáveis me havia sido demonstrado. Eu devo hoje concluir que uma campanha nojenta de mentiras e calúnias foi usada contra Sam com o objetivo de jogá-lo para fora do grupo depois de ele ter feito várias críticas corretas à liderança. Eu hoje concordo com as críticas de Sam e estimulo aos camaradas para que olhem para estas críticas de olhos abertos.”
“Como todos na TBI sabem, a quantidade de membros tem caído continuamente desde que Sam, de Nova York, deixou o grupo. A saída de vários apoiadores de longa data, como L. em Nova York, e a rejeição da tentativa de W. de se transferir para o nosso núcleo, foram simplesmente ignoradas porque eles eram ‘velhos’ e ‘inúteis’. Uma explicação política apropriada não foi dada. Nosso núcleo de Londres é constantemente atacado por razões que não me parecem justas. Mais recentemente, foi-nos anunciado que nós deveríamos esperar a ‘provável’ perda de A. na Irlanda, que é uma camarada experiente do grupo e provavelmente um dos mais ativos em termos de se adaptar a realidades táticas e de funcionar de forma proativa. Eu reconheci na época que não era acidente que outro dos nossos camaradas mais ativos, engajados e menos abstencionistas, que estava operando longe da supervisão direta de Riley ou de Logan, havia se tornado um alvo para ser posto para fora. O único valor de deste camarada, de acordo com o nosso líder local e internacional, era que ele era um dos poucos camaradas que podiam manter o site, e portanto, ele seria mantido enquanto fosse conveniente. Também não é coincidência que ele foi o único que apoiou-me quando levantei minhas críticas.”
“Depois de recrutar um par de membros nos anos recentes, em grande parte devido a intervenções dos seus camaradas mais jovens, o núcleo de Toronto está agora regredindo em tamanho e em toda a parte nosso número de membros continua a diminuir sob o fardo de uma liderança burocrática. Inúmeras discussões com contatos cessaram depois de terem inicialmente se mostrado promissoras e parece haver pouca expectativa de ganhar militantes de esquerda em Toronto para o grupo num futuro previsível. Nossa performance durante os protestos do G-20 só tornaram nossas perspectivas ainda piores.”
“Algum tempo depois, quando foi indicado que discussões de fusão com um grupo de contatos na América Latina [o Coletivo Lenin] provavelmente não iriam dar certo porque os contatos haviam exigido que fizéssemos o que nossa liderança descreveu como ‘entrismo em organizações como a OCAP’ [organização assistencialista que atua em Toronto], eu tive minhas dúvidas se isso era inevitável. Como um membro de base da TBI, eu nunca tive acesso a discussões com estes camaradas, e novidades sobre o nosso progresso com eles só vinham através dos nossos membros mais velhos, que constantemente os descreviam menos como revolucionários dedicados e mais como crianças ingênuas com ideias bobas em suas cabeças, apesar do fato de que eles operavam sob condições muito mais difíceis que as nossas. Isso é uma repetição ainda mais burocrática da forma com a qual a nossa liderança estragou oportunidades de fusão como essa no passado.”
“É incrível o quanto da carta de rompimento com a Liga Espartaquista, de Howard K., um de nossos camaradas mais antigos, se aplica bem a essa situação:”
“‘Por quase um ano eu tenho me aproximado da conclusão de que distorções na liderança das seções, núcleos e colaterais se desenvolveram e amadureceram – ao menos em parte devido a uma vida interna caracterizada por um regime defensivo e hierárquico, combinado com um método personalista jesuítico, de discussão e debate interno. Esse processo foi elevado na SL/SYL [juventude da Liga Espartaquista] ao ponto em que os seus membros são ‘verdadeiros crentes’ ou cínicos. Eu suspeito que os incidentes de incompetência política e tática na SL estão conectados com essa deterioração da vida interna. Eu acredito que a liderança central conscientemente e cinicamente concluiu que os membros da SL são politicamente e pessoalmente fracos demais para permitir mesmo a menor discordância com a liderança. Há uma equação aritmética implícita: desacordo com a liderança é igual a hostilidade à liderança, que é igual a deslealdade, que é igual a traição. Se levada adiante, essas tendências farão a SL vir a se parecer menos com uma organização proletária principista e combativa, e mais uma seita política hierárquica e teocrática.’
‘Quando críticos internos, lutando para criticar construtivamente e para melhorar a organização, são marcados como traidores, e calúnias apolíticas são usadas para desacreditá-los, revolucionários honestos não podem permanecer em silêncio.’”
(…)
“Se a história se repete, na primeira vez como tragédia e na segunda como farsa, então o que podemos dizer da terceira ou quarta vez? No mínimo há um padrão nocivo ocorrendo que e se estende da TBI à SL. Líderes vitalícios e permanentes se elevam para dominar as organizações que eles criaram e às quais eles querem carregam com eles para o túmulo. Este é um problema que não pode ser simplesmente remediado criando uma nova cópia do velho grupo.”
“Tristemente, nosso desenvolvimento como uma organização saída da escola partidária de Robertson seguiu o mesmo trajeto conforme cada desafio potencial à liderança de Riley e Logan caiu nas últimas décadas. Enquanto Robertson tinha seu estilo, seus rebentos carregam a tradição de manipulação e manobras desleais com o seu próprio estilo pessoal de ‘sanções informais’ e armações por trás dos panos contra seus oponentes para manter o controle sobre o grupo. Enquanto o grupo de Robertson tentou parcialmente romper sua marginalização no início dos anos 1970, o nosso grupo em si não o fez e, depois de quase 3 décadas, as nossas publicações estão amaldiçoadas com o mesmo intervalo e atraso que eram comuns nos primeiros anos da Liga Espartaquista, conforme o controle e monopólio pela liderança até mesmo dos menores detalhes da vida organizativa sufocou e asfixiou a habilidade de novos camaradas de aprender e se desenvolver.”
“Já passou muito o tempo de cada camarada honesto levantar a voz contra essa degeneração organizativa dentro da Tendência Bolchevique Internacional. Eu espero que eu não seja o último a fazê-lo.”
Brincando de Espião
Um elemento da degeneração da TBI que é levado em consideração na carta de Brandon está enraizado na compreensão distorcida da Liga Espartaquista sobre reagrupamento revolucionário e a luta contra o revisionismo, baseada parcialmente em um entendimento distorcido e exagerado da experiência do “giro francês” (ou entrismo). Essa orientação se resume em uma política de guerra/espionagem com relação a todos os outros grupos na esquerda:
“Em uma reunião do núcleo em 15 de abril de 2010, foi sugerido que um camarada mais ou menos com o meu perfil em termos de pouco relacionamento com Sam se tornasse ‘amigo’ dele em uma rede de relacionamento na internet, com o objetivo de monitorá-lo e repassar informação para a liderança…”.
Nossa compreensão de reagrupamento revolucionário é que, junto com fusões, muitos elementos dele também irão incluir rachas baseados em lutas por clareza programática. No que diz respeito à SL e a TBI, entretanto, suas práticas foram descritas por outros, como o grupo Workers Power:
“Há duas distorções do conceito de grupo de propaganda combativo aqui. Primeiro, o grupo de propaganda é descrito como um estágio durante o qual a principal tarefa é ‘destruir’ outros grupos. Perceba a escolha de palavras. Os espartaquistas não buscam ganhar centristas girando à esquerda para o comunismo, mas destruí-los. Essa perspectiva leva caracteristicamente a manobras politicamente desleais e a provocações.”
As provocações desleais envolvem, dentre outras coisas, mandar agentes se infiltrarem em outras organizações (diferente de abertamente entrar em grupos que permitam várias tendências, como em um entrismo) e usar uma variedade de fraudes para arrancar informação ou confundir para rachar seus oponentes. Uma vez que, em períodos de isolamento, como descrito por Marx e Engels [1], infelizmente tais práticas tendem a florescer na esquerda, a TBI e a SL não são os únicos grupos a fazer esse tipo de coisas. Isso nos leva a desenvolver algumas demarcações em cima de linhas organizativas ao invés de programáticas, já que pessoas na esquerda se sentem incapazes de confiar umas nas outras e isso impede que discussões e debates aconteçam. Isso destrói, ao invés de ajudar a criar possibilidades de reagrupamento em torno de importantes questões programáticas. Isso faz com que surjam relações espetaculares entre grupos na esquerda, que se relacionam como na tirinha cômica “Espião contra espião” (“Spy vs. Spy”) da Mad Magazine. Isso também tende a se generalizar quando as lideranças desses grupos inevitavelmente usam os mesmos métodos internamente para manter o controle. Isso também aconteceu amplamente dentro da SL e da TBI.
Brandon teve princípios para rejeitar tal tipo de serviço sujo. Outros na TBI não tiveram. Um exemplo um pouco mais público disso na história da TBI se relaciona com o recrutamento do Grupo de Educação Marxista (MEG) de Albany, Estados Unidos, em 1998, e que foi descrito com grande alarde. O balanço da sua Segunda Conferência Internacional da TBI (em uma seção intitulada “Dois, Três, Muitos MEGs!”) descreveu o processo da seguinte forma:
“No começo de 1998 o MEG contatou ambos a TBI e o Grupo Internacionalista (liderado pelo antigo líder e editor da SL, Jan Norden). Isso levou a uma série de discussões com ambos os grupos de forma verbal e escrita, com foco na questão russa, a questão da greve geral, e a história da degeneração política da SL. No fim, os camaradas concluíram que a TBI era a mais consistente representante da herança programática revolucionária da TR e da antiga SL.”
1917 n°21, 1999
Também em um boletim especial dedicado ao Grupo Internacionalista [2]:
“Inicialmente os camaradas do MEG pensavam que a TBI e o IG discordavam meramente sobre a cronologia precisa da degeneração da SL, mas eles gradualmente passaram a ver que questões mais substanciais estavam envolvidas.”
Set. 1999
O problema com essa descrição aparentemente inocente é que ela é mentirosa. O que realmente aconteceu foi que o MEG foi primeiramente recrutado para a TBI e depois se aproximou do IG fingindo ser um grupo “independente” querendo investigar as diferenças entre a TBI e o IG. Durante todo o tempo, Riley estava vangloriando-se com bastante brilho sobre “enganar Norden como um patinho”. É duvidoso que o IG tenha sido ingênuo o bastante para não saber o que a TBI estava fazendo. Também está claro que quaisquer que fossem as possibilidades de fusão que existissem, foram destruídas por tais “táticas espertas”.
No fim, isso deu à TBI alguma publicidade fracional por ter um grupo de independentes escolhendo-a depois de investigar seriamente ela e o IG. Isso foi parcialmente verdade, exceto pelo fato de que o grupo fez essa investigação e escolheu a TBI antes de contatar o IG como agentes da TBI fingindo ser “independentes”.
Tais práticas foram anteriormente descritas pela SL enquanto discutia o grupo britânico de Gerry Healy, como uma forma de:
“usar a lealdade dos membros aos ideais professados de socialismo para torna-los cúmplices em crimes contra seus próprios camaradas e os camaradas de outros grupos.”
Aqueles que aceitam serem cúmplices se prendem muito mais firmemente àquele por quem se está cometendo o crime, na prática se queimando com os outros grupos na esquerda ao usar tais métodos. Não é acidental que o trotskismo jamais teve nada além de desprezo pelos infiltrados da GPU que os stalinistas usavam contra eles.
O Sr. “Esperteza Tática” ataca novamente
O balanço da TBI não dá a menor explicação sobre o porquê de ela ter perdido talvez a sua melhor oportunidade de reagrupamento em anos em um país importante como o Brasil, exceto por algum tipo de conexão com o fato de Samuel Trachtenberg ser “problemático”. Nós sugerimos aos leitores a declaração do Coletivo Leninà época para uma explicação profunda sobre como, depois de três anos de manobras e manipulações, o CL finalmente enxergou através da “esperteza tática” da TBI.
Tragicamente, após três anos tentando uma fusão com um grupo que eles tinham considerado ser sinceramente revolucionário, mas descobriram ser o contrário, alguns membros do CL deixaram o grupo enquanto outros que permaneceram se desmoralizaram e se deixaram levar com a conclusão de um membro antigo de que o burocratismo e desonestidade da TBI estavam enraizados na sua reivindicação de trotskismo. Um documento da fração majoritária que surgiu depois do racha com a TBI declarou:
“Nos próximos capítulos, mostraremos que é impossível formular uma estratégia certa para a revolução mundial sem uma análise correta da decadência do capitalismo, e que essa estratégia é bem diferente da concepção leninista-trotskista de pequeno grupo que se torna, combatendo o reformismo das direções traidoras, um partido de quadros que mobiliza as massas através de reivindicações transitórias rumo ao poder. Ao mesmo tempo, veremos como a Quarta Internacional foi destruída, não pelo revisionismo pablista, mas sim pela sua incapacidade de superar a herança da estratégia leninista e sua visão sobre a revolução mundial iminente.”
Mais uma vez a TBI conseguiu ajudar a desacreditar o trotskismo com as suas práticas.
Aqueles membros do CL que foram primariamente responsáveis pela declaração estabelecendo relações fraternais com o Reagrupamento Revolucionário lutaram contra esta degeneração e são hoje o grupo do Reagrupamento Revolucionário no Brasil.
O que a não-explicação do balanço trás à mente é a última vez em que a TBI destruiu as suas oportunidades de reagrupamento na América Latina, mais uma vez devido à incontrolável inclinação do líder absoluto da TBI, Tom Riley, de exercitar a sua “esperteza tática”. Uma não-explicação de avestruz semelhante foi dada quando o balanço da Quarta Conferência Internacional da TBI relatou o fracasso em recrutar um grupo de promissores camaradas argentinos:
“Um recuo menos público, porém mais significativo, foi nossa falha em conseguir fundir com um grupo de camaradas argentinos que aparentaram estar programaticamente muito próximos de nós. Isso se deveu parcialmente a dificuldades linguísticas, mas um fator mais importante era a distância em termos de cultura política expressa por eles acerca das tarefas e prioridades de um microgrupo de propaganda. Em retrospectiva, nós concluímos: ‘Dadas as nossas capacidades e recursos muito limitados não há, obviamente, muito mais que nós pudéssemos ter feito para avançar com essa colaboração, mas ela representa uma oportunidade perdida’.”
1917 nº28, 2006
Na realidade, não houve diferenças “acerca das tarefas e prioridades de um microgrupo de propaganda”. Já que o grupo argentino por essa época já havia deixado de existir, a TBI se sentiu segura na sua mentira descarada, esperando que ninguém fosse contradizê-la. As verdadeiras questões envolvidas eram menos “políticas”.
Os camaradas argentinos que estabeleceram relações com a TBI (e traduziram a maior parte dos documentos da TBI disponíveis em espanhol) foram formalmente convidados a participar da vida interna da TBI através da participação na sua lista de discussão interna. Isso foi concebido como uma forma de acelerar o processo de fusão. O que os gênios táticos da TBI decidiram nunca informar aos argentinos foi que todos os membros da TBI foram postos sob disciplina para não responderem a nada que eles escrevessem, e que, ao invés disso, a liderança iria responder depois de se reunirem coletivamente. Supostamente estes camaradas seriam estúpidos o bastante e não perceberiam que, enquanto as postagens de membros da TBI rapidamente recebiam comentários de resposta, ninguém respondia aos posts deles a não ser Bill Logan muitos dias depois, depois de consultar o restante da liderança e dando o que parecia muito mais uma declaração formal do que uma resposta informal como todos os outros na lista recebiam. Aqueles, como Sam Trachtenberg, que perceberam a crescente insatisfação dos argentinos, foram repreendidos por responder aos seus postse a liderança insistiu que eles não tinham a menor ideia do que estava acontecendo, apesar das suas exigências de que ou recebessem acesso pleno à sua vida interna, como prometido, ou ao menos lhes dissessem a verdade sobre a situação. Como previsto, os camaradas decidiram anunciar abruptamente a sua decisão de romper todas as relações com a TBI sem apresentar nenhuma razão. O que eles poderiam dizer afinal? Se eles apresentassem suas razões, as respostas não iriam dizer nada sobre o que acontecia de fato e sim que eles estavam sendo paranoicos. Isso teria simplesmente tornado o racha mais feio e raivoso depois de os argentinos terem tido as suas inteligências insultadas. Eles preferiram deixar a situação com alguma dignidade.
Nós queremos indicar aos poucos elementos subjetivamente revolucionários na TBI que este recente histórico aponta que, ao invés de serem gênios de “esperteza tática”, os líderes da TBI são na verdade imbecis táticos. Que os seus métodos burocráticos de brincar de espião efetivamente transformaram o que foi certa vez um grupo promissor, em uma seita burocratizada, organizada desta vez em torno de Tom Riley ao invés de Jim Robertson, Gerry Healy, Jack Barnes ou Bob Avakian, etc. Uma liderança com tal criminosa ficha organizativa merece ser expulsa e repudiada ao invés de ser ostentada acriticamente (ou sequer tolerada de má vontade, por sinal). Se na realidade não existe nenhum mecanismo (quaisquer que sejam as formalidades) entre o que hoje são os quadros mais velhos, passivos e despolitizados para expulsar essa liderança, então chegou a hora de reconstruir. O Reagrupamento Revolucionário está determinado a fazer precisamente isso.
Apêndice: James Cannon sobre Jay Lovestone
[Nota do RR — Jay Lovestone foi um dirigente do Partido Comunista dos Estados Unidos. Alinhado com a oposição de direita de Bukharin (então associada a Stalin) na Internacional Comunista, Lovestone esteve à frente das expulsões dos trotskistas nos anos 1920, inclusive de James Cannon. Posteriormente, com a virada do “Terceiro Período” stalinista e a perseguição à oposição de direita, os apoiadores de Lovestone também sofreram as perseguições burocráticas que haviam inaugurado no PC/EUA. A tradução foi realizada a partir da versão disponível em inglês em http://www.marxists.org]
Era opinião de todos que Lovestone era inescrupuloso em suas maquinações e intrigas sem fim; e em minha opinião todos estavam certos nesse ponto, embora a palavra “inescrupuloso” pareça de alguma forma um pouco branda para descrever as operações dele. Lovestone era completamente desonesto – como Foster, mas de um jeito diferente. Foster era parte do movimento dos trabalhadores e tinha uma noção de responsabilidade para com ele; e ele podia ser moderadamente honesto quando não havia necessidade de enganar ou mentir. A desonestidade de Foster era propositiva e utilitária, da qual uma pitada era acionada sem preocupação para atingir um objetivo. Lovestone, o sinistro estranho em nosso meio, parecia praticar maliciosamente fraudes para o seu próprio prazer.
Foi uma estranha virada do destino que trouxe esse personagem perverso para o nosso movimento dedicado ao serviço do nobre ideal das relações humanas. Nunca houve um homem mais destrutivamente estranho à nossa causa, na qual ele buscava uma carreira; ele era como uma célula anárquica de câncer penetrando no organismo do partido. O partido tem significado e justificação somente como a expressão consciente do austero processo da história, na qual a classe trabalhadora luta por sua emancipação, com todas as severas obrigações morais que tal missão impõe a seus membros. Mas Lovestone parecia ver o partido como um objeto de manipulação em um jogo pessoal que ele estava jogando, com um instinto não-natural para estragar as coisas.
Nesse jogo, que ele jogava com um frenesi quase patológico, ele não era impedido por nenhuma norma reconhecida de conduta das relações humanas, para não mencionar os efeitos que os seus métodos poderiam ter na moral e na solidariedade do movimento dos trabalhadores. Para ele a luta de classes dos trabalhadores, com seu incrível significado para o futuro da espécie humana, era na melhor das hipóteses um conceito intelectual; a luta fracional pelo “controle” do partido era a verdadeira questão, as verdadeiras razões da vida. O seu inimigo principal era sempre seu oponente fracional no partido ao invés de a classe capitalista e o sistema de exploração que ela representava.
O método fracional e a prática de Lovestone eram a sistemática deseducação do partido; cochichos de fofoca para colocar camaradas uns contra os outros; falsa interpretação e distorção das posições dos oponentes; demagogia desenfreada e incitação dos apoiadores fracionais até estes não saberem se estavam indo ou vindo. Ele tinha outros truques, mas eles eram todos da mesma ordem.
As opiniões dos líderes do partido uns sobre os outros naqueles dias variavam amplamente e nem sempre eram complementares, mas no fundo, apesar da dureza dos conflitos, eu acho que eles respeitavam uns aos outros como camaradas em uma causa comum, apesar de tudo. Lovestone, entretanto, não era confiável para ninguém e sua devoção à causa era amplamente posta em dúvida. Em círculos mais fechados, Foster apontou mais de uma vez que se Lovestone não fosse judeu, ele era o candidato mais provável para liderança de um movimento fascista. Essa era uma opinião bastante comum.
NOTAS
[1] “Peço-lhe ainda para ter algum cuidado com todas as pessoas que estão em ligação com Bakunin. É uma propriedade de todas as seitas manterem-se firmemente unidas e intrigarem: pode estar certo de que tudo o que v. lhes comunicar segue imediatamente para Bakunin. Um dos seus princípios fundamentais é que cumprir promessas e outras coisas do gênero são preconceitos puramente burgueses que o verdadeiro revolucionário tem de tratar sempre com desprezo no interesse da causa. Na Rússia, ele diz isto abertamente, na Europa ocidental é uma doutrina secreta.” (Carta de Engels a Theodor Cuno, 24 de Janeiro de 1872).
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