Assassinos do povo não são nossos heróis: Pela anulação do Inquérito e de quaisquer punições no caso da estátua de Borba Gato!
ADENDO: Pouco antes da publicação desta nota, no dia 28/07/2021, Paulo Galo Lima, liderança dos Entregadores Antifascistas, e sua esposa, Gessica, foram presos após se apresentarem voluntariamente no 11º Distrito de Polícia de Santo Amaro, São Paulo, para depor sobre o incêndio à estátua de Borba Gato. Nos colocamos em defesa de Galo e Gessica! Lutar não é crime! Pela liberdade imediata de todos os lutadores!
A Polícia paulista pode ser acusada de tudo, menos de negligenciar os interesses de seus donos. Menos de 12 horas após a ação ocorrida em Santo Amaro, que envolveu em chamas a estátua de um dos símbolos do genocídio indígena no Brasil, o bandeirante Borba Gato, a polícia realizou buscas e prendeu o suposto motorista da van que transportou pneus para o local.
Thiago Zen foi preso em flagrante em Ferraz de Vasconcellos, muito distante do local e depois do ocorrido, o que demonstra como as leis e procedimentos são interpretados ao bel prazer dos interesses e prioridades dos patrões e de sua justiça.
Acusado de 4 crimes, como associação criminosa, incêndio, dano ao patrimônio público e adulteração de dados públicos (foi acusado de adulterar sua placa), o motorista, contra o qual não existe nenhuma prova pública de ter atuado diretamente na ação específica, claramente está sendo feito de exemplo para amedrontar quaisquer novos atos radicalizados, dentro e fora das manifestações contra Bolsonaro.
Foi com esse intuito que, para o último ato do dia 24 de julho, a justiça patronal e a Polícia Militar convocaram organizações sindicais e partidos de esquerda para “organizar” e, assim, determinar a hora de início, de término, localização e práticas a serem adotadas na manifestação, estipulando em ata punições de mil a 5 mil por pessoa física e 200 mil reais por organização que “desrespeitasse o acordado”.
Em mais um chocante exemplo de submissão ao Estado burguês, PCB, CUT, PCO, UNE e, inclusive, a CSP CONLUTAS, ligada ao PSTU, participaram desse acordo e assinaram essa ata, cometendo um crime contra qualquer ativista, organizado ou não, ao legitimar a repressão que, sem dúvida, viria.
É do interesse de João Dória, seu PSDB e sua camarilha organizada no estado paulista que as manifestações e quaisquer ações contra Bolsonaro sejam ao máximo domesticadas e “pacíficas” (melhor dizendo, pacificadas), servindo para a desidratação de sua base social e parlamentar de apoio. É um objetivo compartilhado com a esquerda liberal com a qual se unem, na atual frente ampla oportunista, para sugar o capital político que escorre de Bolsonaro, deixando-o sangrar até 2022, sem agir de nenhuma maneira por sua queda imediata.
O tempo recorde para achar e prender o suposto acusado é elucidativo sobre o que é a Polícia. Num país em que morrem todos os meses líderes camponeses em disputas de terras com grandes latifundiários; no qual lideranças indígenas são assassinadas aos montes por grileiros e garimpeiros, muitas vezes com apoio e acobertamento direto das polícias; em que ocorrem chacinas como de Paraisópolis ou do Jacarezinho, sem que se apure nenhum responsável dentro das forças policiais acusadas; em que vamos para o 4º ano do assassinato de Anderson e Marielle, fuzilados por assassinos a mando da milícia com ligações com o governo; em que entre rachadinhas e aviões da FAB cheios de cocaína, nunca se acha um responsável nos altos escalões; aqui vemos a enorme agilidade policial para perseguir, acusar e punir quem supostamente teria cometido o crime bárbaro de… incendiar uma estátua de um estuprador, genocida e senhor de escravos, um verdadeiro monumento da dominação colonial erguido diante dos pobres para que saibam “quem manda”.
Sabemos que esta agilidade é facilmente compreensível quando se compreende que a Polícia e a Justiça são apenas isto: o grupo de homens armados e o corpo de funcionários responsáveis pela defesa da propriedade e interesses da classe burguesa e do controle social dos dominados, pelos métodos do terror, da perseguição e violência.
Por isso, sabemos que esta caçada irá continuar e que novos “capítulos” serão divulgados nos próximos meses, ao que se torna uma obrigação por princípio que nos posicionemos contra esta farsa e perseguição hipócritas.
Nós do Reagrupamento Revolucionário somos pela imediata anulação de todo inquérito de investigação e do processo armado contra Thiago Zen e chamamos a todas as organizações a que façam o mesmo.
Para a direita tudo bem destruir monumentos, desde que estes homenageiem a luta do povo pobre e da classe trabalhadora. Como no caso do Monumento 9 de Novembro, feito por Oscar Niemeyer em 1988 na cidade de Volta Redonda em homenagem aos três operários assassinados pelo exército de Sarney durante a greve e ocupação de fábrica da Companhia Siderúrgica Nacional no mesmo ano. O monumento foi derrubado por tratores do próprio governo no dia seguinte de sua inauguração.
O Monumento Eldorado, feito também por Oscar Niemeyer em memória dos sem-terra mortos no massacre de Eldorado dos Carajás, foi construído na cidade de Marabá. No dia 22 de agosto de 1996, fazendeiros latifundiários anunciaram sua destruição e assim o fizeram. Não houve presença da polícia e nenhum preso. Muito diferente da ação da polícia para proteger a imagem de Borba Gato e incriminar ativistas de esquerda.
Exaltar a estátua em chamas como uma ação símbolo (ainda que pequena) da luta antirracista e dos trabalhadores, se não é apenas mero gesto de marketing performático e oportunista, deve ser acompanhado de solidariedade e ação ativa em defesa dos perseguidos. De todos os grupos que possuem advogados e parlamentares, o mínimo é que ofereçam a ajuda e erguam a voz de seus mandatos para barrar imediatamente a onda persecutória. Defender os lutadores é um princípio e uma condição para a confiança entre os que lutam.
Por fim, publicamos abaixo a ata da reunião dos grupos oportunistas anteriormente citados com a PMSP. Fazemos isso por que acreditamos que esse ato vergonhoso por parte desses grupos precisa ser devidamente divulgado e lembrado por todos os militantes combativos da nossa classe.