Imperialismo
O imperialismo moderno é um sistema econômico mundial marcado por uma divisão internacional de trabalho, no qual certas nações impõem sua vontade e seus interesses sobre outras, com base não apenas na ocupação e pressão militar direta, que ocorre em alguns casos, mas principalmente por meio da dependência econômica das nações de desenvolvimento tardio por empréstimos, tecnologia e investimento por parte das grandes potências. Dessa forma, essas potências imperialistas conseguem impor sua hegemonia sobre o planeta, forçando as demais nações a se ajustar a normas internacionais pensadas por instituições supranacionais para favorecer os lucros de suas grandes corporações. “O capital financeiro é uma força tão considerável, pode dizer-se tão decisiva, em todas as relações econômicas e internacionais, que é capaz de subordinar, e subordina realmente, mesmo os Estados que gozam da independência política mais completa.” (Lenin). Tal sistema está longe de ser democrático ou estável.
No seu sentido moderno, relações de dependência imperialista se estabelecem entre os Estados tão logo um deles é capaz de exportar capital (na forma de investimentos) para outro num nível significativo, no contexto do mercado mundial, com base no oligopólio (domínio de um punhado de grandes empresas) e fusão do capital industrial com o bancário, gerando o capital financeiro e moldando o Estado para tais tarefas. Mas várias dessas características econômicas do imperialismo, que no início do século 20 eram próprias apenas das grandes potências, são hoje presentes em boa parte do mundo. Isso leva a que nações que não são potências imperialistas globais possam estabelecer relações de tipo imperialista com outras nações subalternas.
O Brasil, uma nação subjugada às potências imperialistas no contexto internacional, tem uma relação de tipo imperialista com o Paraguai e Angola, por meio de suas empresas transnacionais associadas ao capital imperialista (principalmente americano) instaladas nesses países. As empresas brasileiras abocanham uma fatia significativa dos mercados locais, exploram sua população e recursos. Foi buscando defender esse status que o Brasil ocupou o Haiti sob a influência e em defesa de interesses estadunidenses e hoje é um aliado potencial na ameaça de ataque à Venezuela. Isso, entretanto, não faz do Brasil uma potência imperialista global. A Rússia, embora tenha uma posição predatória com relação a alguns países do antigo bloco soviético e no Oriente Médio, não é também uma potência imperialista mundial, embora certamente seus oligarcas tenham esse desejo. É uma potência regional que, em termos relativos, está cercada e sofre pressão dos grandes imperialistas. Se considerássemos a Rússia e o Brasil “potências imperialistas”, teríamos que categorizá-los como de terceiro e quarto nível, respectivamente, e também considerar o fato de que são em grande medida penetrados e dependentes do capital oriundo das grandes potências.
A potência imperialista hegemônica no mundo desde o fim da Segunda Guerra Mundial é a dos Estados Unidos, que estabeleceu bases militares e presença econômica por meio de investimentos em praticamente todos os cantos do globo. Seu poderio não é igualável sequer com o das potências imperialistas da Europa (Alemanha, Reino Unido, França, Bélgica, Holanda, Espanha) e do Japão, que ainda assim retêm poderosas áreas de influência, mas aceitaram até o momento a supremacia americana. Isso impediu, por um lado, a ocorrência de uma terceira guerra mundial imperialista, assim como o receio de destruição total pela emergência do poder atômico. Os Estados Unidos conduzem uma série interminável de guerras e golpes contra nações subalternas e neocoloniais que tentam escapar, ainda que muito parcialmente, da ordem por eles imposta. Daí as intervenções no Iraque, Líbia, Síria, Ucrânia e Iêmen, apenas para mencionar as mais recentes.
A noção criada pelo imperialismo americano de um “eixo do mal” parte justamente de tal necessidade de impor seus desígnios e aprofundar seu controle sobre essas regiões. Nesse momento, seus olhos se voltam para a China, a Rússia, o Irã, Coreia do Norte, Cuba e Venezuela. Outras potências imperialistas, como a França, correm para não ficar atrás, e também realizam incursões armadas para garantir seus investimentos, controle de matérias primas e mercados em nações da África, continente em que os imperialistas europeus ainda são predadores diretos. A União Europeia é uma forma de as potências imperialistas dominantes desse continente (em especial a Alemanha e a França) fazerem frente aos Estados Unidos em sua relação de concorrência-colaboração em algumas disputas, enquanto melhor garantem o domínio e exploração de demais territórios europeus.
O imperialismo é hoje uma trama muito mais complexa do que há cem anos. Há várias formas de exploração conjunta ou partilhada das nações subalternas, assim como diferentes alinhamentos das potências em blocos. Potências imperialistas secundárias exploram suas “áreas de influência” de forma associada às potências globais, como é o caso da Austrália no Pacífico, que explora as nações neocoloniais da região de forma associada aos imperialistas britânicos e americanos. Apesar disso, não deixa de ser um sistema que leva à “recorrente disputa pela partilha do mundo”, onde acordos são sempre instáveis e temporários. A perda crescente de hegemonia do imperialismo americano, por exemplo, em disputas com potências continentais como a Rússia; o impressionante crescimento e expansão da presença da China no comércio mundial e no controle de certos ramos de alta tecnologia; e o enfraquecimento do parque produtivo dos EUA, criaram uma situação de profunda instabilidade e ameaça de guerras e invasões diante da corrida desesperada do imperialismo dos EUA para manter-se no topo.
Os marxistas reconhecem a situação de desigualdade entre as nações e defendem as nações oprimidas contra as opressoras. Isso significa expor e denunciar a exploração predatória das burguesias imperialistas e os seus interesses nas nações subalternas, inclusive a submissão de suas burguesias, e combater as investidas diplomáticas e materiais (como as sanções econômicas) contra as nações que rejeitam parcialmente os ditames imperialistas.
No caso de conflitos – guerras, invasões, golpes e guerras civis provocadas pelos imperialistas em nações oprimidas, os marxistas tomam sempre o lado contrário ao aprofundamento ou intensificação a exploração imperialista. Tal foi indiscutivelmente a tradição marxista clássica, que defendeu a China semicolonial contra a invasão japonesa, e a Etiópia contra a invasão italiana nos anos 1930. Foi também a postura dos marxistas na invasão contra o Iraque (2003) e a Líbia (2011) pelos Estados Unidos, por exemplo. A derrota tanto das tropas quanto das forças subordinadas aos imperialistas era também uma prioridade na guerra da Síria. O mesmo prognóstico se coloca de forma clara atualmente diante das ameaças americanas e de seus fantoches contra a Venezuela e o Irã. Essa é uma tarefa mesmo que o campo oposto seja dominado por frações burguesas. Os marxistas sempre devem atuar com seu próprio programa, denunciando todas as frações burguesas e sem lhes prestar qualquer apoio político. Mas a derrota da potência imperialista e dos seus capangas locais nesses conflitos é, nesses casos, o mal menor.