Lenga-lenga em Honduras e a volta De Zelaya
Lenga-lenga em Honduras e a volta De Zelaya
Por Paulo Araújo – Setembro de 2009, pelo extinto Coletivo Lenin
Publicado no Jornal Hora de Lutar nº11, de novembro de 2010.
O golpe militar ocorrido em Honduras gerou uma jornada ininterrupta de lutas por parte dos trabalhadores daquele país. Manuel Zelaya, o “Mel”, tentava convocar um referendo que poderia aprovar a convocação de uma assembleia para reformar a constituição de Honduras. A ultra direita não aceitou a possibilidade de reforma em sua constituição, que é uma das mais retrógradas da América Latina, e orquestrou o golpe levado a cabo em 28 de junho de 2009. Porém, essa não é a única questão envolvida. A aproximação de Zelaya com os governos de Chaves e Morales causava um grande mau estar entre a ultra direita hondurenha. Isso explica a posição pouco incisiva dos Estados Unidos no repúdio ao golpe militar, pois este favorece seus interesses no continente além de servir de exemplo para que outros governos não se alinhem ao chamado “eixo do mal”. Acredita-se, inclusive, que os Estados Unidos tenham ajudado, de forma clandestina, a organizar e a realizar o golpe.
A resistência hondurenha
Porém, o que os golpistas não esperavam era a grande disposição de luta demonstrada por parte das massas de Honduras. Desde o dia do golpe, os trabalhadores têm derrotado o toque de recolher e feito diversas manifestações radicalizadas. A reação dos militares foi violenta e já produziu suas primeiras vítimas fatais. Por causa disso, defendemos o direito de os trabalhadores de Honduras organizarem autodefesas armadas para resistir à repressão.
Nenhuma confiança em Zelaya
Manuel Zelaya é um mega burguês da indústria madeireira que jamais apoiou a organização autônoma dos trabalhadores. E agora, no momento em que as massas estão nas ruas, “Mel” pede para que todos tenham “calma” e voltem para suas casas. Ao mesmo tempo, aposta em uma saída para a crise através de um acordo negociado com os golpistas e os Estados Unidos. É a mesma posição de outros governos que sofreram golpes, como Jango, no Brasil, e Allende, no Chile. Esses governos, assim como Zelaya, tentaram desmontar a mobilização das massas para que a luta não evoluísse para uma revolução. A consequência foi o mergulho desses países em anos de ditaduras sanguinárias.
O golpe em Honduras, porém, reforçou a confiança das massas em Zelaya e, a principal palavra de ordem defendida por elas é sua volta ao poder. O caminho para a revolução hondurenha passa por fazer as massas superarem essas ilusões. Por isso, uma corrente revolucionária não pode se limitar a defender as mesmas coisas que Zelaya: sua volta ao poder e a convocação de uma constituinte. Defender essas bandeiras significa reforçar as ilusões que já existem em Zelaya além de construir novas ilusões no regime burguês. Infelizmente, não é isso o que pensam outras correntes. O PSTU, por exemplo, defende como saída para a crise hondurenha a mesma coisa que Zelaya: assembleia constituinte. A diferença é que o PSTU defende que essa constituinte e a volta de “Mel” ao poder não sejam construídas pela via da negociação. Isso é uma grande contradição pois a volta de Zelaya e a convocação de uma constituinte, como deseja o PSTU, não entram em choque com a estrutura de exploração e podem ser arranjadas através do diálogo. Assim, o PSTU apresenta uma saída para a crise que difere da de Zelaya apenas na forma, mas não no conteúdo. Além disso, o PSTU comete mais um grave erro político. Defende que países, como Estados Unidos, realizem um bloqueio econômico a Honduras até a volta de Zelaya ao poder. Defender isso é o mesmo que lutar para que os trabalhadores hondurenhos morram de fome. Os bloqueios econômicos não atingem as burguesias dos países afetados da mesma forma como atingem os trabalhadores. O Iraque passou anos sob bloqueio econômico e o resultado foi a desnutrição de sua classe trabalhadora enquanto os barões do petróleo continuavam com seus luxos intocados. Nós, ao contrário, dizemos que bloqueio econômico não é método de luta da classe trabalhadora e denunciamos a tentativa de acordo entre Mel e os golpistas porque queremos construir uma saída muito diferente do que defendem esses dois setores.
Defendemos que as mobilizações para derrotar o golpe se transformem em uma luta dos trabalhadores de Honduras pela construção de assembleias populares que serão os embriões de um Governo Direto dos Trabalhadores Hondurenhos. Agitar essa bandeira significa disputar o ascenso que ocorre em Honduras para um consciência revolucionária e abre caminho para a construção de um Partido Revolucionário de trabalhadores hondurenhos.
Rede Globo apoia o golpe
A Rede Globo, seguindo sua tradição de subserviência a regimes autoritários pró-imperialistas, insiste em dizer que em Honduras não ocorreu um golpe, mas sim uma transição pelas vias legais. A hipocrisia dessa emissora chegou ao cúmulo de levá-la a afirmar que quem tinha pretensões ditatoriais era Zelaya, por querer aprovar a reeleição. Entretanto, quando FCH aprovou a reeleição no Brasil através da compra de votos no Congresso e, assim, conseguiu ficar oito anos no poder, a Rede Globo defendeu essa medida da mesma forma como defendeu a ditadura militar no Brasil. Ditadura esta que criou e fez crescer essa emissora.
O cerco à embaixada e o governo Lula
A volta de Zelaya a Honduras e seu refúgio na embaixada brasileira colocou o governo Lula no epicentro da crise política. Lula tem se recusado a reconhecer o governo golpista e exige a volta de “Mel” à presidência do país. Isso é uma grande contradição com o que o próprio Lula tem feito no Haiti, para onde enviou tropas militares que defenderam o golpe que derrubou o presidente Bertrand Aristid. As tropas brasileiras permanecem no Haiti e, até hoje, tentam esmagar a resistência naquele país. Se Lula realmente é contra golpes militares, deve promover a retirada imediata das tropas brasileiras no Haiti. Além, disso, não se vê do governo Lula nenhuma declaração apoiando as mobilizações dos trabalhadores hondurenhos. Isso porque, assim como Zelaya, Lula defende para a crise uma saída que mantenha as estruturas de exploração existentes antes da derrubada de Zelaya. Por isso, não apoia as mobilizações das massas hondurenhas, pois estas podem evoluir para uma situação revolucionária.
Nós, ao contrário, dizemos que a saída para a crise política de Honduras deve ser a construção de um Partido Revolucionário de trabalhadores hondurenhos e de um governo direto dos trabalhadores, exercido através das assembleias populares, que avance para o socialismo e se espalhe para o resto do mundo através da reconstrução da IV Internacional.
- Pelo direito das massas Hondurenhas de organizarem sua autodefesa contra os militares!
- Pela formação de assembleias populares para lutar contra o golpe!
- Não depositamos nenhuma confiança em Zelaya, mas exigimos sua liberdade!
- Pela construção de um Partido Revolucionário de trabalhadores hondurenhos e a formação de um Governo Direto dos Trabalhadores!