EXPULSÕES NO SWP (Revista Spartacist 1)
O Comitê Nacional do Socialist Workers Party expulsou cinco membros da ala esquerda minoritária do partido em uma plenária em Nova York no fim de dezembro. Os cinco militantes expulsos da Tendência Revolucionária do SWP foram Shane Mage, James Robertson, Geoffrey White, Laurence Ireland e Lynne Harper. O Comitê Político do partido tinha suspendido-os dois meses antes sob o argumento de que uma investigação da Comissão de Controle havia revelado que Robertson, Ireland e Harper haviam expressado opiniões “desleais” por escrito de forma privada dentro da sua própria tendência. Os acusados havia escrito que o SWP havia deixado de ser um partido revolucionário e se tornado centrista, e que uma luta irreconciliável nos limites da disciplina partidária era, portanto, necessária contra a linha e a liderança da maioria. Mage e White foram acusados também de liderarem uma tendência que mantinha ou permitia tais posições. Ao se recusarem a voltar atrás ou se desassociarem uns dos outros, todos os cinco foram sumariamente expulsos.
Aceitação da disciplina
Essas expulsões marcam uma nova fase na história de trinta e cinco anos do trotskismo nos Estados Unidos. A degeneração do partido nos anos recentes atingiu tal ponto que, pela primeira vez em toda a experiência do SWP, a liderança usou expulsões para livrar o partido de uma oposição interna que cumpria as condições bolcheviques para serem membros do partido – aceitação disciplinada das políticas impostas pela maioria.
Amplo apoio
Dentro do partido, todas as tendências de oposição, dissidentes e críticos, totalizando mais de um quarto de todos os membros, saíram em defesa dos camaradas expulsos após as suspensões preliminares. Entre aqueles que se opuseram e protestaram contra a ação do CP estiveram: Myra Tanner Weiss, por várias vezes candidata a vice-presidente do partido; Arne Swabeck, líder fundador do trotskismo americano, assim como muitos membros de sua tendência pelo país; membros proeminentes do partido, tais como Jack Wright de Seattle e Wendell Phillips do Sul da Califórnia; o grupo Wohlforth-Philips; várias regionais do partido, incluindo as de New Haven e Seattle.
Comissão de controle
Duas fortes reações sentidas no partido são responsáveis por essa enxurrada de apoio dos mais diversos e antagônicos setores do partido. Uma reação foi indignação diante da expulsão de camaradas acusados de terem “atitudes desleais”. Intensificou esse sentimento o desgosto com relação aos meios que foram e que geralmente são usados em uma caça às bruxas como essa. Os líderes do partido se recusaram conceder mesmo a formalidade de um julgamento. As expulsões ocorreram após uma sórdida investigação dirigida pelo membro da Comissão de Controle Anna Chester, esposa de um membro da maioria do CP e notória por sua fé fanática na liderança do partido. Os investigadores primeiro exigiram acesso a rascunhos de documentos e correspondência privados da minoria. Sob extremo protesto, os militantes da TR aceitaram essas exigências. Aparentemente insatisfeitos com os resultados, a Comissão de Controle procedeu convocando camaradas jovens e novos para interrogatórios a serem gravados em salas do escritório nacional do partido. Foi pedido aos jovens para confessarem que eles próprios e a tendência eram culpados de indisciplina, deslealdade e menchevismo. Ao fracassar em conseguir tais confissões, os investigadores então passaram a um questionário que era grosseiramente projetado para faze os jovens se confundirem em confissões involuntárias de culpa!
A segunda maior razão para a saída em defesa da Tendência Revolucionária foi o medo do precedente estabelecido por tais expulsões. As exclusões vieram como o clímax de uma crescente série de provocações e repressões nos últimos anos contra os opositores do que agora se transformou no regime de Dobbs. O golpe contra a TR foi ampla e claramente dirigido contra o direito de qualquer grupo organizado, que não seja a fração da Maioria, de continuar a existir fora dos períodos de convenção. Assim, todos os elementos de oposição sabem que estão ameaçados com um tratamento semelhante.
A lógica política por trás das expulsões é uma simples extensão da noção de que a perda de uma perspectiva operária revolucionária pela Maioria fez da democracia partidária supérflua, do seu ponto de vista. Combinando suas características com a presença de uma oposição interna bastante difundida, a Maioria descobriu que o luxo de uma prática democrática, acima de tudo o direito a tendências, se torna intolerável. Hoje, ao enfrentar seus críticos internos, a liderança de Dobbs defende abertamente o slogan “A Maioria é o partido!”.
Base política
A Tendência Revolucionária se formou inicialmente como minoria partidária em 1961, em resposta à linha da Maioria sobre a questão cubana. A Maioria foi além do apoio acrítico ao governo Castro; a liderança do partido acabou colocando a revolução cubana no mesmo patamar que o Outubro Russo como modelo histórico para ser emulado.
A Minoria acusou essa resposta de ser uma abdicação impressionista das posições leninistas e trotskistas fundamentais sob vários aspectos. A Maioria zombou da Revolução Permanente ao se livrar do seu aspecto essencial – a luta para alcançar o poder operário para consumar a revolução colonial. A Maioria rasgou o cerne da nossa compreensão da democracia proletária como uma condição vital para abrir caminho ao socialismo. A Maioria foi levada necessariamente a negar a necessidade de um partido de vanguarda consciente da classe trabalhadora. Similarmente, ao reduzir a luta internacional pelo socialismo a incidentes nacionais autônomos, separados, a Maioria enfraqueceu a luta pela construção do partido mundial da revolução socialista, a Quarta Internacional.
A Tendência Revolucionária opôs à linha específica da Maioria do SWP sobre Cuba, um ponto de vista que evoluiu até a posição de que Cuba havia se tornado um Estado operário deformado similar ao resultado das revoluções Iugoslava e Chinesa.
Seguindo a revisão do marxismo sobre Cuba, os líderes da Maioria procederam para aprofundar e estender sua nova visão da realidade. Assim, foi descoberto que Ben Bella, na Argélia, estabeleceria a base para um socialismo agrícola. E quanto aos regimes burocráticos do bloco soviético, ocorreram todos os tipos de embelezamento e acomodação. Como passo adiante, o SWP preparou um reagrupamento internacional de forças, rompendo a sua associação de dez anos com os revolucionários marxistas do Comitê Internacional da Quarta Internacional, para se aliar com os pablistas que haviam, por anos, sido agentes de imprensa para os estratos burocráticos mais radicais nos movimentos operários e de libertação colonial.
Conforme o SWP se tornou mais profundamente enredado vicariamente nas aspirações externas de movimentos impressionantemente maiores, apareceu uma nova deterioração. O próprio partido ficou preso, por escolha própria, em um padrão de grosseira abstenção das lutas, conjuntamente com uma hostilidade sectária a forças genuínas se movendo para a esquerda, e portanto potencialmente competitivas.
O ano de 1963 viu o SWP demonstrar a mais central capitulação de todas – perda de confiança na sua própria concepção e papel na futura revolução americana. O partido tomou o crescimento do Muçulmanos Negros como substituto para o objetivo de construir nos Estados Unidos um partido de vanguarda unificado com base no programa leninista, não na cor da pele. Em vez disso, a resolução da Maioria à Convenção Nacional projetou um esquema de um Movimento Negro pela Libertação Imediata paralelo à luta pelo socialismo, separada, branca e operária, liderada pelo SWP. A resolução sugeria esperançosamente que os dois movimentos poderiam um dia colaborar por meio de uma unidade entre as duas vanguardas. Que o SWP tivesse o objetivo de não ser mais do que um partido branco nos EUA é o mesmo que descartar qualquer perspectiva revolucionária. L. D. Trotsky notou, em 1939, que:
“Se acontecer de nós no SWP não encontrarmos o caminho para esse setor [os negros], então nós seremos um desperdício completo. A revolução permanente e todo o resto seriam somente uma mentira.”
Em novembro de 1963, a liderança de Dobbs no partido fez a primeira grande transição clara de uma acomodação revisionista com relação às formações pequeno-burguesas para a velha capitulação reformista à sua “própria” classe dominante em um momento de crise. Como mostrado extensamente em outras partes dessa edição de SPARTACIST, a resposta da liderança do SWP ao assassinato de Kennedy não foi diferente daquela dos Partidos Comunista e Socialista. A plenária do SWP que aprovou essa ação dos líderes do partido foi a mesma que nos expulsou.
NOVA EXPULSÃO!
Roger Abrams, apoiador da Tendência Revolucionária, foi expulso do Socialist Workers Party em 13 de fevereiro pela filial de Nova York por 28 votos contra 11. O camarada Abrams, um estudante de 22 anos, tinha participado em um piquete convocado precipitadamente em 22 de janeiro, na Universidade de Columbia, para protestar contra concessão de um título honorário à rainha grega Frederica. Abrams apareceu proeminentemente na cobertura televisiva do protesto quando foi carregado por guardas que objetaram ao seu cartaz, “Liberdade aos presos políticos gregos!”.
O camarada Abrams foi acusado pela Maioria do SWP de ter se unido a um piquete “sem consulta ou aprovação prévia da filial ou da liderança da filial”. Quando Abrams declarou que ele não conhecia dessa nova política e que passaria a segui-la, ele também foi acusado de deslealdade interna e expulso.