Eleições do DCE da UFRJ

Por um movimento estudantil classista na UFRJ: Nenhum 
apoio àqueles que capitulam a governos e reitorias!

Durante os dias 11, 12 e 13 de junho ocorrem na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) as eleições para a nova gestão do “Diretório Central de Estudantes Mário Prata”. Reproduzimos a seguir duas notas originalmente postadas em nossa página no Facebook sobre o tema.

As eleições para o DCE da UFRJ acontecem num momento em que é mais do que nunca necessário discutirmos, enquanto movimento estudantil, uma perspectiva de luta que possa realmente derrotar o projeto do governo Dilma/PT de uma educação superior a serviço dos grandes empresários. Esse governo quer uma educação cada vez mais privada (alimentando com altíssimas mensalidades e dinheiro público os empresários que fazem do direito que é educação uma mercadoria); cada vez mais precarizada (com muitos funcionários terceirizados, em sua maioria negros e mulheres, sem direitos ou voz na universidade); e em que as faculdades públicas são um privilégio para poucos, para dizer o mínimo. Nos últimos dez anos, vimos um aprofundamento de uma política capitalista para a educação. Os filhos dos trabalhadores ainda são uma pequenina minoria no ensino superior.


A grande greve da educação no ano passado mostrou que há muita disposição dos estudantes e trabalhadores em não aceitar de boca fechada essa situação. Mas se o movimento não estiver armado com um projeto político, vigor e determinação de uma liderança resoluta, muita luta pode acabar em pouco resultado. A greve conseguiu conquistas, mas ficou aquém das possibilidades precisamente porque lhe faltava uma estratégia para impor uma derrota, ainda que não definitiva, ao governo. Acreditamos que apenas através de uma estratégia claramente classista é que o movimento estudantil atingirá a vitória em torno de suas demandas mais centrais e será capaz de garantir de fato a tão alardeada educação pública, gratuita e de qualidade.

Ao escolher o nosso DCE, estamos escolhendo lideranças para as lutas que virão. Nosso critério de posicionamento nessas eleições não pode se pautar por posições isoladas aqui ou ali, ele deve ter como critério fundamental a presença de uma estratégia minimamente consistente de aliança com os trabalhadores dentro e fora da universidade. Entretanto, nenhuma das três chapas que se apresentaram contém tal estratégia. Isso se torna evidente, por exemplo, na sua incapacidade de levantar como princípio a oposição à participação, apoio ou voto nas reitorias e governos que nos reprimem e que nos atacam.

A Chapa 1, “Mãos à Obra”, fala muito de ação, e promete lutar por conquistas para os estudantes. Mas muitos desses senhores (dentre os quais se incluem líderes do PT e PCdoB/UJS) são defensores do governo Dilma, que realiza os maiores ataques contra os estudantes e trabalhadores, dentro e fora da UFRJ. É uma chapa comprometida com a defesa do plano de precarização do REUNI, uma chapa que considera que o PROUNI e o FIES (isenções fiscais milionárias para universidades privadas em troca de pouquíssimas vagas) é um bom projeto para a educação brasileira; se vitoriosa, essa chapa irá transformar o DCE em uma simples agência de propaganda do governo federal. Indivíduos comprometidos com a defesa do governo não são capazes de defender os estudantes e trabalhadores contra a EBSERH, medida do governo que avança a privatização dos Hospitais Universitários, nem contra os inúmeros cortes de verba da educação pública ou a transferência de recursos públicos para os conglomerados da educação privada. A Chapa 1 mente quando diz defender os estudantes e trabalhadores. Estão mesmo é do lado dos governos que atacam sem piedade os protestos operários e estudantis. Não passam de capachos do governo dentro do movimento estudantil e por isso merecem repúdio e nenhuma confiança de qualquer estudante que esteja preocupado com uma educação de qualidade.

Já as chapas 3, “Prepara, que agora é hora!” e 2, “De que lado você samba?”, apesar de não serem parte do governo federal e se declararem como oposição a ele e à reitoria da UFRJ, não foram capazes de se colocar enquanto uma alternativa consequente ao projeto governista-empresarial. Vamos a elas.

A Chapa 3 é composta por vários grupos políticos, dentre os quais um dos componentes da atual gestão do DCE, o coletivo “Nós não vamos pagar nada”. A chapa também inclui companheiros de diversas correntes do PSOL e independentes, a UJC/PCB e o Movimento Correnteza. Na sua composição, algumas coisas saltam aos olhos. O Movimento Correnteza, grupo impulsionado pelo PCR com independentes, prestou apoio ao reitor da UFRJ na “eleição” desproporcional que o elegeu: o mesmo reitor que reprime os estudantes do alojamento, implementa os ataques do governo na UFRJ e que quer a provação da EBSERH. Esses companheiros já falaram em diversas ocasiões que se deve disputar o uso de verbas do REUNI (num contexto de resignação ao mesmo), ao invés de buscar derrotar esse projeto nas lutas; os senhores do PCR também votaram no governo federal em 2010; um panfleto de sua autoria na época, dizia para votar em Dilma porque ela “luta com os trabalhadores” (!). O restante da Chapa 3, é claro, mantém absoluto silêncio sobre esse papel de um dos seus componentes principais. Alguns membros da chapa dizem que foi feita uma “autocrítica” dessas posições criminosas, mas onde? Em salas fechadas e reuniões de cúpula? Tendo em vista o histórico do Movimento Correnteza, não podemos acreditar nem um pouco em tal mea culpa.

Essa complacência dos outros grupos da Chapa 3 com as traições do Correnteza não surpreende. Todos os coletivos que compõe a chapa apoiaram a candidatura a prefeito de Marcelo Freixo/PSOL nas últimas eleições municipais. Mas quando Freixo buscava aliados patronais para formar uma candidatura (flertou com Fernando Gabeira e mesmo com o jogador/político Romário), não disseram uma vírgula. Quando Freixo falou em rede aberta de televisão que “dependendo da situação” poderia sim cortar ponto de trabalhadores públicos que estivessem em greve (um dos métodos preferidos de repressão da burguesia), todos esses coletivos da Chapa 3 fingiram que não tinham ouvido e continuaram a apoiá-lo sem ressalvas. Portanto, essa chapa já nasceu mostrando que não tem coerência para combater o governo, a reitoria e seus pelegos da Chapa 1, pois é incapaz de colocar a classe trabalhadora no centro de seu programa.

A Chapa 2 é outro dos fragmentos da atual gestão do DCE, que se dividiu. Ela é composta pela Juventude do PSTU e independentes (e às vezes se sente confortável em se considerar a “chapa da ANEL”, embora esta entidade inclua outras forças políticas minoritárias que não a integram). A Chapa 2 faz críticas acertadas tanto aos governistas traidores da Chapa 1 quanto à aliança do coletivo “Pagar nada” com o capitulador Movimento Correnteza.

Mas, apesar de ter sido abandonada pelos seus antigos companheiros de gestão, que preferiram uma aliança com os que votam no reitor e no governo, a Juventude do PSTU tentou ter uma plataforma conjunta com os grupos que formaram a Chapa 3. Primeiro tentaram isso através de uma negociação de cúpula sobre o número de cadeiras da futura gestão e depois pelo chamado a uma “convenção democrática”. Como eles mesmos puseram em seu material, “Até o último momento, nós da Chapa 2 – ‘De que lado você samba?’, propusemos uma chapa unitária da esquerda, através da realização de uma Convenção de Chapa Ampla e Democrática, mas infelizmente, o convite foi recusado”

Logo, o fato da Juventude do PSTU estar saindo em uma chapa própria não decorre de uma oposição visceral à alianças espúrias, como a Chapa 2 vem tentando fazer parecer. A Chapa 2 não é o fruto de um rompimento político consciente com aqueles que abrem mão da independência do movimento estudantil, por mais que ela tenha atraído alguns estudantes independentes através desse discurso. E não poderia ser de outra forma, pois nela também se faz ausente uma estratégia clara de independência de classe e um norte de aliança operário-estudandil.

Essa insuficiência da Chapa 2 fica mais clara se olharmos para o histórico do grupo que a impulsiona. Nas últimas eleições municipais, na cidade de Belém do Pará, a Juventude do PSTU compôs uma chapa para prefeito que incluía o PCdoB/UJS, que eles acusam (com razão) de serem os maiores coveiros do movimento estudantil brasileiro. Mas quando lhes convém, como nessa ocasião de Belém, eles participam da mesma campanha conjunta, deixando de lado a independência de classe! Não é à toa que a classe trabalhadora não figura como elemento central do programa da Chapa 2 (que praticamente nem fala de trabalhadores em seus materiais e campanhas).

Por esses motivos, o Reagrupamento Revolucionário não está apoiando nenhuma das chapas da atual eleição. Diferente de outras ocasiões, onde reivindicamos um voto crítico em chapas que, mesmo com um programa insuficiente, se baseavam em um marco de classe, vemos que no presente processo eleitoral nenhum dos setores chegou sequer perto de um programa centrado na classe trabalhadora, ficando todos eles limitados a demandas recuadas e circunscritos a um setorialismo estudantil.

Certamente estaremos lado a lado dos companheiros das chapas 2 e 3 nas lutas em curso (como a batalha contra o aumento das passagens dos transportes e contra a EBSERH) e nas que virão pela frente. Mas dizemos fraternalmente que nenhuma das duas levantou de forma consequente a bandeira da independência a governos e reitorias, o que passa por defender um programa que seja claramente classista. Por isso, para além das eleições, seguiremos no dia a dia defendendo um programa que inclua os seguintes eixos:
  • Por uma posição classista no movimento estudantil: defender uma aliança estratégica com os trabalhadores efetivos e terceirizados, dentro e fora da universidade, para derrotar os ataques do governo do PT e dos patrões!
  • Lutar levantando a perspectiva do fim do vestibular/ENEM para acabar com esse funil racial e social! Livre acesso já!
  • Estatizar as universidades privadas sem indenização, sob controle dos estudantes e trabalhadores! Chega de mensalidades!
  • Pela efetivação sem barreiras de todos os terceirizados, com igualdade de salários e direitos!
  • Formar comissões de estudantes e trabalhadores para defender os negros, mulheres e LGBT contra a opressão na universidade e arredores! Creches, bandejões e alojamentos gratuitos, sob demanda!
  • A educação só poderá ser realmente livre num mundo socialista!
(11 de junho de 2013)

Apêndice 
Nota de esclarecimento ao movimento estudantil da UFRJ

Por conta do processo eleitoral de nosso DCE, tem circulado boatos sobre o posicionamento do Reagrupamento Revolucionário frente as chapas dos setores de oposição ao governo (“2 – De que lado você samba?” e “3 – Prepara, que agora é hora”). Alguns desses boatos afirmam que o RR estaria chamando voto ou mesmo compondo a Chapa 3; outros, que estaria apoiando a Chapa 2.

Aqueles que nos conhecem, sabem que somos avessos à prática (infelizmente corriqueira na esquerda) de formar blocos oportunistas baseados em acordos programáticos que buscam um menor denominador comum. Nesse sentido, afirmações de que estaríamos COMPONDO uma chapa com grupos com os quais possuímos diferenças viscerais não passam de um mal entendido ou de uma difamação intencional.

Deixamos claro a tod@s @s militantes combativ@s da UFRJ que: não estamos compondo nenhuma das atuais chapa; nenhum militante ou simpatizante do RR entregou CRID para as chapas; ainda não definimos qual posição tomaremos em termos de votos (que, no caso de votarmos em alguma, seria certamente um voto crítico); assim que definirmos nossa posição em relação à atual eleição, ela será amplamente divulgada, tanto em nosso blog (http://reagrupamento-rr.blogspot.com.br), quanto no dia a dia por nossos militantes e simpatizantes.

Concluímos reiterando que repudiamos a disseminação de boatos e calúnias entre a esquerda e alertamos a tod@s @s companheir@s honest@s do movimento estudantil da UFRJ que não reproduzam informações duvidosas sem antes checá-las.

Saudações,

Reagrupamento Revolucionário.
(29 de maio de 2013)